Solar Flare | One-Shot escrita por Andréia Santos


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Leia as notas finais ♥

Palavras-chave escolhidas: GRUPO 2
1. Crestar (tostar)
2. Tredo (que trai a confiança de outrem; traidor, traiçoeiro. Que age com falsidade em relação a alguém, a uma obrigação, a um dever; fingido, insincero)
3. Ciliares ([BOTÂNICA] diz-se de plantas ou vegetações que crescem junto a rio, lago ou lagoa)
4. Estral (modificações periódicas dos órgãos genitais femininos, em relação com a libertação dos óvulos)
5. Donzel (angelical)



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Martha acordou meio atordoada, sentindo o sabor amargo do álcool em sua boca e a maciez do lençol de seda acariciar-lhe todo o corpo nu. Ela reconheceu de imediato o ambiente em que se encontrava, já estivera lá diversas vezes, mas naquela ocasião tinha sido a primeira vez que ela tinha se entregado completamente aos encantos de Apolo.

 Ela recolheu do chão uma camisa branca de botões e a vestiu de qualquer jeito, apenas para passar pela enorme sala de janelas e portas de vidro e mexer na geladeira atrás de algo para comer. Sem pensar muito, Martha acabou escolhendo bacon para crestar¹ com ovos e uma jarra de suco de laranja que tinha um aroma tão doce e um frescor que parecia manipulado artificialmente. Seu celular estava em cima da bancada, como ela lembrou que havia deixando ao chegar na noite anterior, mas não trazia mensagens ou ligações perdidas:

— Onde será que Apolo se meteu? – perguntou-se e, do nada, assustou-se com o barulho de batidas à porta.

— Senhorita Vaugh? – chamou uma voz masculina do outro lado – Sou funcionário do prédio. Tenho uma carta do senhor Apolo para a senhorita.

— Pois não? – ela respondeu, abrindo a porta apenas o suficiente para pegar o que ele tinha para ela.

— O senhor Apolo pediu para entregar-lhe este envelope. – o homem respondeu e, por mais que Martha tivesse perguntas, era óbvio que não seria ele a ter as respostas.

Ela agradeceu e, quando o homem se afastou, fechou a porta e abriu o envelope, tirando primeiro uma carta escrita com caligrafia impecável:

Minha doce Martha,

Sei que deves ter diversas dúvidas a respeito de por que acordou sozinha no meu apartamento justamente no momento em que nossos corpos finalmente encontraram-se numa poética conjunção, inclusive fico extasiado que seu período estral(4) tenha feito isso acontecer com um ardor que nem mesmo eu, o deus do sol, poderia proporcionar (ok, talvez eu tenha exagerado nessa); mas eu tenho um bom motivo, prometo.

Lembra quando nos conhecemos naquele bar? Quando eu te vi encostada no balcão, segurando aquela sua tese de doutorado rejeitada numa mão e um copo de whisky na outra, eu não pude deixar de me aproximar e tentar entender porque uma mulher tão linda estava tão frustrada. Naquele dia eu não te disse, mas aquele seu trabalho de grego antigo estava bem medíocre mesmo.

 Tu não foste uma mulher fácil de convencer, mas eu sou um deus paciente quando se trata da arte da conquista. Sei que seus olhos brilharam quando eu corrigi sua escrita e pronúncia, por isso que foi ali que mudei os rumos da conversa e te convidei para vir para meu apartamento. Havia algo de fascinante no teu jeito donzel(5), como se você tivesse luz própria, e por alguns segundos eu não senti vontade de ser o centro das atenções.

Queria que aquela primeira noite tivesse acabado contigo lânguida em meus braços? Certamente, porém eu não sou como meu pai que ignora o consentimento: eu costumo agarrar as oportunidades de mostrar o quão incrível eu sou através de minhas belas criações artísticas com unhas e dentes. Em vez de despirmos nossos corpos e nos amarmos, preferi te despir-te a alma e te ajudar um pouco mais com seus estudos sobre minha língua materna. Atena ficaria orgulhosa de mim se me visse.

Não vou demorar-me em te contar o que já sabes sobre nós, mas só queria enfatizar que eu não fui tredo² em momento algum. Eu sou um deus e como um deus eu devo me afastar da criação dos meus filhos humanos, por isso decidi ir embora de vez. Como forma de demonstrar meu apreço, deixo-lhe esta cobertura e alguns milhares de dólares que estão numa mala no closet. Sei que não é uma forma convencional de revelar uma gravidez, mas esse é o resultado de coabitar com um olimpiano.

De seu solar flare particular,

Apolo.

Martha largou a carta e o envelope sobre a mesa e vestiu sua própria roupa às pressas. Enquanto terminava de enfiar o braço na jaqueta de couro, viu pela visão periférica o reflexo da tal maleta no espelho do closet, mas não podia perder tempo indo verificar seu conteúdo; precisava comprar um teste de gravidez com urgência, embora duvidasse muito que iria obter um resultado preciso naquele momento.

            ...

— Só acreditei que estava mesmo esperando você quando se passaram dois meses de testes positivos e eu não menstruei. – Martha disse para Lenore. Sua imagem estava refletida no arco-íris e dava para ver como ela estava séria.

— Não sei nem o que dizer... – Lenore disse perplexa, sem se dar conta que os pedaços de pão que ela jogava para os patos se acumulavam nas plantas ciliares³ do lago – Nem quando tivemos aquela conversa sobre reprodução e métodos contraceptivos me senti tão desconfortável quanto agora.

— Não tinha porque usar palavras sutis. Quero que saiba o que é se envolver com um olimpiano e não cometa o mesmo erro que eu. – a mulher justificou-se, dando de ombros.

— Pode ficar tranquila em relação a isso. – Lenore sentiu um calafrio e virou-se para chamar a irmã – Anna! Sua vez de ser traumatizada com a história da sua origem!


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Notas finais do capítulo

Surpresa! Spinoff de Irmãs Vaugh/As Semideusas Irmãs Vaugh!

Desde que decidi que Lenore seria filha de Apolo, fiquei imaginando como teria sido a aproximação dele com uma pessoa que estava se preparando para ser uma renomada professora universitária. Eis que saiu Solar Flare ♥

Espero que tenham gostado e se você leu sem conhecer as histórias das irmãs, te convido a entrar no meu perfil e ler as duas drabbles. São curtinhas, dá pra ler rapidinho!



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