Estou exausta !

Fiquei o dia todo tentando acordar meus pais e pensando em qual desculpa daria para eles estarem ali parados no meu quarto quando eles finalmente acordaram e sem fazer perguntas ( somente um pouco zonzos ) eles voltaram a rotina . E eu fiquei como uma tonta tentando fazer a lição até as quatro da manhã , o que significa que eu não dormi tão bem...

No dia seguinte tive que ir a escola . Que desculpa daria a meus pais ? “ Olha pai , eu não posso ir para a escola porque ontem eu tive que enfrentar a morte e eu estou com um recente trauma , além de ter escapado por pouco e eu estou com dor de cabeça “? Não ! Eles iam me internar em um hospício , isso sim . Então eu tive que ir , mesmo a contragosto , a tortura .

Estava tudo tão ... normal . Se é que se pode classificar alguma coisa em minha vida como normal . A professora falando , os alunos não prestando atenção , o barulho dos lápis rabiscando qualquer coisa no papel ...

Os únicos que pareciam estar indiferentes a tudo isso , a conversa , a algazarra , eram eu e Peter .

Eu passei as aulas tentando chamar sua atenção , mas não adiantava . Ele agia como se eu fosse invisível . E por alguma razão isso me magoou .

Virei a cara para ele quando notei o que ele fazia para esconder minhas lágrimas . “ Por que ? “ eu me perguntava . Por que ele fez isso comigo ? Não foi nada ?

- Não chore ... – ouvi a voz dele em meu ouvido , me assustando . Olhei para as pessoas na classe mas elas nem pareciam ver que ele e eu estávamos ali .

A voz dele só me fez chorar mais . O que era isso ? Ele era bipolar ? Por que ele me deixava tão confusa assim ?

- Pra que parar de chorar ? Alivia a dor , limpa a consciência . – eu disse de ombros caídos , sentindo a respiração dele bater no meu rosto .

- Mas aumenta o sofrimento , é um vício , uma droga . Depois que se começa não se pode mais parar ... – ele disse ainda mais perto , sussurrando devagar .

Aquilo só fez o choro aumentar , as lágrimas manchando meu caderno , eu não conseguia acreditar . Depois de tudo que ele fez ,ele ainda tinha coragem de ficar perto de mim . Ele me beija , finge que nada acontece e ainda fala para eu não chorar sobre o leite derramado ? Que tipo de pessoa ele achava que era ?

- Um do tipo insistente ... – ele disse virando meu rosto de forma que eu tivesse que olhar diretamente em seus olhos azuis .

Ele lia mentes ? Como ele sabia ?

- Não exatamente ...

- Você não vai me contar , não é ? – falei soluçando , era incrível , ninguém mais na sala parecia ouvir o diálogo .

- Pra que contar algo que você já sabe ? – ele falou , se afastando em seguida , olhando para a lousa e assentindo como se nada tivesse acontecido .

Para que me contar algo que eu já sei ?

Eu sabia .

Estava tudo normal demais para ser verdade .

Tinha que ter algo assim ...