I.N olhou para o médico com uma expressão de espanto.

— I.N, me explique, como isso é possível? 

Ele tentou achar alguma resposta plausível, mas não conseguiu pensar em nada. 

— Esses exames devem ter sido trocados.

— Não I.N, não foram, eu mesmo refiz esses exames quando vi o resultado a primeira vez, e todos deram positivo para gravidez… o que não seria estranho se ele não fosse HOMEM! 

— Olha… é difícil explicar, você não acreditaria e não entenderia.

— Eu aceitei cuidar de um paciente que não existe, estou me arriscando e não cobrei explicações sobre como você e ele se feriram, sendo que eram perfurações de bala… achei que estivesse metido em algo ilegal, mas é bem pior que isso — O médico colocou as mãos nos ombros de I.N — Eu sei que seu pai era um visionário, ele tinha a mente muito a frente de todos nós, eu o respeitava e o admirava muito. Sei que ele gostaria que seguisse os passos dele, mas temo por sua segurança — O médico fez uma pausa e suspirou, preocupado — Onde você está se metendo? 

I.N se afastou e parou de frente para a janela, olhou a paisagem lá fora, pensativo, o médico o acompanhava com os olhos.

— Já estive metido em muitas coisas ilegais, e você sabe… mas isso é bem maior, eu me envolvi em algo que ameaça não apenas a minha segurança, mas a de todos nós. Se eu não fizer algo, o mundo pode entrar em uma grande guerra e muitas pessoas inocentes poderão morrer — I.N suspirou com  tristeza ao se lembrar dos planos do primeiro ministro e ao imaginar se seu namorado, o filho do presidente, estava bem. 

— Você não pode salvar o mundo sozinho, Jeongin.

— Não mesmo — I.N o olhou e sorriu — Por isso tenho amigos. 

O médico sorriu e coçou a cabeça.

— Aqueles dois, não é? 

— Sim.

— Eles não são daqui, não é mesmo? Não estou dizendo desse país… mas desse mundo — Perguntou o médico. I.N fitou o chão, evitando seu olhar — Imaginei… não precisa me responder. Não sei em que está metido, mas por favor, tome cuidado e se cuide! 

— Não se preocupe, irei me cuidar… só por favor, mantenha sigilo sobre isso.

— Não sou corajoso como seu pai de sair por aí falando sobre uma suposta outra dimensão, prefiro fingir que não sei nada sobre isso.

— Obrigado.

— Bom, eu gostaria de dar uma boa notícia.

I.N arregalou os olhos, ansioso.

— E qual seria?

— Seu amigo misterioso e grávido ganhará alta. Ele já está bem e poderá ir pra casa.

— Yes! — I.N comemorou.

— Vocês têm onde ficar? 

— Bom, tem o meu apartamento… mas está perigoso ficar lá no momento, vou tentar alugar um local provisório.

— Tenho um apartamento no centro da cidade, minha esposa não gostou dele e quer vendê-lo, então está vazio, posso deixá-los lá por enquanto.

— Faria isso por mim? — Os olhos de I.N marejaram. 

— Claro, como eu disse, seu pai era meu grande amigo, faço isso em memória dele. Mais tarde eu te entrego as chaves e te passo o endereço. Agora vá dar a notícia ao seu amigo que ele já pode sair do hospital. 

…

I.N foi até sua casa buscar roupas e pertences enquanto Taehyung e Yoongi se preparavam para deixar o hospital. I.N tinha avisado que poderiam ir para a casa do médico, onde ficariam por um tempo. Quando ele retornou ao hospital, encontrou Yoongi e Taehyung prontos. Yoongi, não sendo fã de calças jeans, estava usando uma que achava apertada, preferindo seu habitual casaco preto de estilo vitoriano. Taehyung, mesmo não reclamando muito, preferia o conforto do pijama que usava antes. I.N distribuiu máscaras, prevenindo acidentes caso encontrassem suas versões daquele mundo nas ruas.

Despediram-se do médico e dirigiram-se ao carro de I.N. Yoongi e Taehyung ainda não se acostumavam com a ideia de que aquele enorme objeto de metal pudesse se mover sozinho; em suas mentes, ainda parecia ser algum tipo de magia de locomoção.

Ao chegarem no apartamento, abriram a porta e tossiram com a poeira que invadiu suas narinas. Viram que os móveis estavam cobertos com lençóis brancos, já encardidos. Apesar disso, o apartamento era bonito e arejado; só precisava abrir as janelas e receber uma boa limpeza.

I.N ligou a TV e mostrou a Taehyung como usar o controle remoto, mudando de canal algumas vezes. Ele ainda se impressionava com a ideia de que as pessoas cabiam dentro daquela caixa tão fina. Segundo ele, aquilo era algum tipo de magia de aprisionamento.

Enquanto o arqueiro assistia, I.N chamou Yoongi para ajudá-lo a limpar a casa. Após horas brigando com o mop, Yoongi finalmente conseguiu entender como aquilo funcionava. É claro que ele preferia mil vezes lutar contra uma legião de Orcs do que limpar o chão. Após terminarem a limpeza, I.N preparou algo para comerem. Os dois ficaram impressionados com o quão fácil era fazer fogo naquele mundo.

— Nem precisamos do Hobi — Yoongi admirou as bocas do fogão acesas.

Taehyung riu.

— Se ele ouvir isso, ele chora.

— Hobi? — Perguntou I.N.

— Sim, Hoseok é o nome dele — Disse Yoongi olhando para o fogo — Ele é um amigo muito querido, é um elfo da floresta que tem poderes do fogo.

I.N arregalou os olhos, impressionado.

— Ele que me ensinou arqueria — Disse Taehyung, orgulhoso.

I.N se lembrou do egoísta e mimado Hoseok de sua universidade e o quanto ele interferia na relação do casal TaeGi. Achou melhor não comentar sobre isso. 

Após o jantar, I.N preparou um café, que, segundo Taehyung, parecia o sangue de demônios de tão ruim e amargo. Não que ele tivesse provado sangue de demônios, mas se tivesse um gosto, era aquele, dizia ele. Yoongi ria da reação de Taehyung enquanto saboreava sua bebida quente e amarga.

— Gostaria de dar uma notícia maravilhosa para vocês — Disse I.N, com a xícara de café na mão.

— Uma boa maravilhosa? — Yoongi o olhou.

— O Tae, segundo os exames de sangue e urina que o médico fez, está mesmo grávido.

Yoongi deu um pulo do sofá e quase derrubou o café. 

— TAE! ouviu isso? — Yoongi deixou a xícara na mesa e correu para abraçar Taehyung. 

— Yoon! Nosso bebê! — Os olhos de Taehyung encheram de lágrimas. 

— Eu disse que ele estava bem, não disse? 

— Sim Yoon, eu acreditei em você — Taehyung o beijou. 

— Então — I.N limpou a garganta — Eu ainda estou aqui, ok? — Os dois se separaram, sem graça — Depois vocês comemoram a sós. Temos algo importante para discutir ainda. 

Yoongi se recompôs e o olhou com seriedade. 

— Nossa volta para casa. 

— Sim Yoon, precisamos pegar a chave de volta.

— Como saberemos onde a chave está? 

— Eu tenho meus meios. Estou vigiando a pessoa que sei que pegou as chaves.

— Então por que não vamos lá e a tomamos? — Questionou Yoongi.

— Não é tão simples assim, precisamos de um plano.

— Um plano? — Taehyung arqueou as sobrancelhas.

— Sim… mas pra darmos início a esse plano, preciso apresentar alguns amiguinhos a vocês — I.N parecia empolgado. 

— Que amiguinhos? — Perguntou Taehyung.

— Esperem aqui… 

I.N saiu do apartamento, deixando-os curiosos. Após quase uma hora, ele retornou com algumas malas, uma delas notavelmente comprida. Colocou as malas na mesa da cozinha e as abriu. Yoongi e Taehyung observavam com curiosidade.

— O que são essas coisas? — Perguntou Taehyung.

— É o que vai nos ajudar a recuperar a chave — Respondeu I.N.

Yoongi olhou para as maletas abertas com uma expressão nada agradável.

— Foi isso o que machucou o meu Tae e que matou meus companheiros.

— Entendo sua dor, mas precisamos disso se queremos recuperar a chave. Todos os homens daquele filho da puta estão fortemente armados.

— Você sabe usar isso? Não é perigoso? — Yoongi olhou para I.N.

— Sim, é perigoso, por isso vamos ter um treinamento básico. Sei usar um pouco, não tenho uma mira perfeita, mas imagino que uma pessoa aqui será perfeita pra usar essa belezinha — I.N pegou uma anti material M82, um rifle de precisão.

— Quem seria perfeito para usar isso? — Perguntou Yoongi. 

— Taehyung, é claro — I.N admirava o pesado rifle em seu colo — Ele é um arqueiro com a mira perfeita e eu sei que ele é um dos melhores de Amicitia. Ele será um ótimo sniper.