Gemini não percebeu quando adormeceu nos braços de Fourth naquela noite. Na noite anterior, ele finalmente havia compartilhado a verdade sobre sua difícil situação familiar, e Fourth estava profundamente comovido e triste com o que ouvira. Embora sentisse uma culpa avassaladora por ter causado tanta dor a alguém que amava tanto, Fourth sabia que aquele não era o momento de se vitimizar. Gemini não precisava encontrar um culpado naquele momento; ele precisava de carinho e afeto, e Fourth estava lá para oferecer isso, como um porto seguro.

Quando o sol raiou naquela manhã, Fourth não pôde deixar de envolver Gemini em um abraço afetuoso. Era um abraço que transmitia todo o amor e apoio que sentia por ele. Era um gesto simples, mas que aqueceu o coração de Gemini e preencheu as lacunas da sua alma, dando-lhe um pouco de conforto em meio à tempestade que estava vivendo.

— Está melhor? — Perguntou Fourth. 

— Sim, me sinto melhor — Gemini sorriu — Obrigado por me ouvir. 

— Sabe que antes de tudo, eu sou seu amigo. Me importo com você e realmente te amo, não apenas um amor romântico, vai muito mais além. 

— Eu também te amo muito, Natt — Gemini suspirou e olhou para as marcas no braço — Por que algo tão bonito causa tanto ódio nas pessoas? 

— Porque o nosso mundo está doente — Fourth fez uma pausa — Gem, você quer ficar aqui? 

— Confesso que desejo isso, me pego várias vezes pensando nessa possibilidade. Esse mundo é tão bom, me sinto livre aqui. Mas não posso ser egoísta a esse ponto, essa vida não é minha, e Tinn deve estar sofrendo no meu lugar. Outro ponto que me gera esse conflito interno é que embora minha família seja horrível, a sua não é. Não posso te separar da sua família e dos seus amigos.

— Por isso me apaixonei por você, mesmo nas situações mais difíceis você sempre pensou nas outras pessoas, embora às vezes eu fique com raiva disso, mas vejo o quão bom é o seu coração — Fourth segurou a mão de Gemini e com delicadeza beijou as cicatrizes e as marcas em seu braço — Gem, eu vou te proteger! Nunca mais vou deixar seu pai fazer isso com você. Nós vamos lutar juntos.

— Natt, eu fico feliz por você querer me ajudar, mas também não quero te ver sofrer. Tenho medo do meu pai, ele é influente, não acho que vai ser bom mexer com ele, não sei o que ele é capaz de fazer.

Fourth fechou o cenho e cruzou os braços. 

— Por acaso você esqueceu quem é o seu namorado? 

— E você esqueceu que terminou comigo? Então tecnicamente eu não tenho namorado. 

— Idiota, o ponto não é esse. Enfim, você tem ao seu lado o grande Nattawat Jirochtikul. Tá achando que eu sou pouca coisa? Meu bem, eu tenho pessoas influentes do meu lado também, quem é seu pai na fila do pão? — Fourth segurou sua mão e sorriu — Mas falando sério agora, não importa se estamos namorando ou não, eu vou fazer de tudo para te proteger quando voltarmos, porque mesmo que nós não fiquemos juntos como um casal, eu quero que você seja feliz por ser quem você realmente é, sem medo de ser você. Confie em mim. Olha só, você vai até poder namorar um cara que goste — Fourth revirou os olhos. 

— Você sabe que o único cara que eu gosto é você, né? 

— Não sei, vai que você conhece alguém melhor — Fourth olhou as unhas, se fazendo de desentendido.

Naquela manhã, eles se prepararam para ir à escola, seguindo o conselho de Thiwson de que precisavam continuar vivendo as vidas de Tinn e Gun enquanto tentavam entender o que estava acontecendo.

A experiência de estar naquela escola, onde haviam gravado a série, ainda parecia surreal. A ausência das câmeras e das equipes de filmagem nas salas de aula e no refeitório era perturbadora. Ninguém parecia notar a presença deles, e isso trazia um certo conforto a Gemini. Apesar de apreciar o carinho dos fãs, havia momentos em que ele se sentia esgotado com a constante exposição aos holofotes. A normalidade temporária daquela situação era um alívio bem-vindo.

Após o almoço, Fourth procurou um lugar mais tranquilo, afastado do barulho e da agitação típica de adolescentes cheios de energia. Conhecendo o gosto de Gemini por momentos de tranquilidade, levou-o até o terraço de um dos prédios próximos. Tinha comprado dois copos de chá de bolha, sabendo que era uma das bebidas favoritas de Gemini.

— Como você está? — Perguntou Fourth entregando a bebida a Gemini. 

— Me sinto bem, o dia está lindo — Gemini olhou o horizonte, era um dia claro e ensolarado —, e tenho a melhor companhia ao meu lado. 

— Nossa, como ele é galanteador. 

— Funcionou? 

— Não. 

— Poxa, preciso atualizar minhas táticas de sedução. 

Fourth deu uma risada suave e se aproximou até que seus ombros se tocassem. Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, contemplando a beleza do céu azul.

— Gem… — Fourth virou-se para ele —, sinto sua falta. 

Gemini olhou para ele, surpreso e então abriu um sorriso. 

— Também sinto sua falta. 

Seus olhares se cruzaram e o mundo pareceu perder a importância. Tudo ficou em silêncio, como se só eles existissem. Gemini se aproximou lentamente, sem quebrar o contato visual. Fourth envolveu seu pescoço com os braços e ergueu os pés para alcançar seus lábios. Quando a distância entre suas bocas era mínima, Fourth se afastou abruptamente.

— Não consigo fazer isso. Por causa de um beijo eu te coloquei numa situação horrível, me sinto culpado por tudo o que você sofreu.

Com um sorriso singelo, Gemini o abraçou. 

— Entendo como se sente, Natt. Mas a culpa não é sua, nem minha, nós somos as vítimas. Não sinta essa culpa, por favor — Gemini o afastou minimamente para ver seu rosto, Fourth olhou para o chão — Vamos fazer as coisas no nosso tempo, quando nos sentirmos à vontade. O importante é estarmos juntos. 

Delicadamente, Gemini beijou a testa de Fourth, e este sentiu todo o amor, carinho e compreensão expressos por um gesto tão simples. Abraçaram-se como se o mundo fosse separá-los.

Uma voz esganiçada os chamou, quebrando a bolha de carinho que haviam criado. Era Thiwson, ofegante após subir as escadas.

— Finalmente achei vocês! 

— O que houve? — Perguntou Gemini. 

— Lembra que eu mencionei que tinha dois amigos que poderiam ajudar? 

— Sim — Disse Fourth — Você disse que eles também tiveram experiências com viagens para outra dimensão, mas que não tinha certeza se eles aceitariam ajudar. 

— Então, eu consegui convencê-los. 

— Sério? — Os olhos de Fourth brilharam. 

— Sim, vamos nos encontrar essa tarde na casa deles para conversar sobre tudo isso e ver se encontramos alguma resposta. 

— Muito obrigado, Thiw. Você nem imagina o quanto está nos ajudando. 

— Só estou fazendo meu papel — Thiwson deu risada — Entendeu? Meu papel — Ninguém riu — Enfim, se preparem que depois da aula vamos para casa deles. 

Naquela tarde, após as aulas, os três decidiram seguir para o endereço que Thiwson tinha fornecido. Para evitar levantar suspeitas, optaram por chamar um carro de aplicativo. Usar o carro de Tinn teria o risco do motorista relatar toda a rota à mãe de Tinn, o que causaria problemas.

Pararam em frente ao portão de uma enorme mansão. Quando Thiwson informou seus nomes, o segurança os conduziu até a porta principal. Um vasto jardim, adornado com flores coloridas, embelezava a frente da mansão. Um carro de luxo vermelho estava estacionado diante da porta. O segurança tocou a campainha e, poucos minutos depois, um rapaz abriu a porta. Gemini e Fourth arregalaram os olhos quando viram quem era. Em seguida, outro rapaz saiu e ficou ao seu lado. Ambos sorriram e fizeram uma reverência.

— Esses são Gemini e Fourth — Thiwson os apresentou, então olhou para os dois — E esses são…

— JIMMY E SEA! — Fourth o interrompeu, empolgado. 

— Não idiota, o nome deles é Puen e Lay.