Mas O Que Aconteceu Lá? escrita por Carol McGarrett


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Elena e Liz saíram do limbo da minha mente para virarem swifties e penarem na "The Eras Tour".
Espero que gostem e, por favor, não levem nada muito a sério, essa oneshot é um pedido atendido lá do twitter.
Se divirtam.
Boa leitura!



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Pittsburgh – Pensilvânia 16/06/2023

— A gente realmente está aqui? Você me garante que estamos fazendo isso?

— Pelo amor de Deus, Elena! Sim! Estamos aqui. Estamos na porta do Acrisure Stadium.

— É que... Dadas as atuais circunstâncias, é meio inacreditável que isso está realmente acontecendo.

A ruiva da dupla só olhou meio de lado para a amiga, como que não acreditando que ela iria começar a ter uma crise histérica bem ali, na fila de entrada para a primeira fila da pista Q, em frente ao palco principal, que lhes daria também visão da passarela por onde Taylor Swift também passaria durante o show e, segundo informações da internet, também cantaria algumas músicas.

— Menos, Elena, bem menos.

— Será que você não entende. NÓS CONSEGUIMOS!!

Sim, elas tinham conseguido o tão disputado ingresso para um dos 52 shows da disputadíssima The Eras Tour.

E Elena não estava de toda errada, tinham que comemorar o momento. E muito, porque para chegarem até ali, foi sofrido e, claro, repleto de confusões que só Elena e Elizabeth poderiam se meter.

———————-

01 de novembro de 2022

AMIGAAAAAAAAA!!!!!! Você tá aí?

ELIZABETH SHEPARD GIBBS!!!!

ONDE VOCÊ SE METEU MULHER????

DÁ PRA ME ATENDER????

ELIZABETH!!!!!!

— Fala sério! Eu não acredito que ela está me perturbando a essa hora da manhã! – Murmurei e joguei o telefone em cima da pilha de documentos que estavam na minha frente, só que a coisa não parava de tocar.

— Eu quero dormir, Liz!!! – Gritaram do outro cômodo.

— E eu tenho que acabar a minha tese de mestrado, Sean. Não é minha culpa se a desocupada da Elena está acordada e à toa. – Respondi ao meu noivo, condição que ele queria mudar o mais rápido possível e eu ficava protelando, afinal, se já estávamos morando juntos, por que raios ele queria se casar? Ele dizia que era porque ele me amava, e o casamento formalizaria isso, mas no fundo eu tenho a certeza de que essa vontade súbita tem mais a ver com o fato de que meu pai vive encarando o Marine Suicida com mais raiva e ódio do que o normal desde que passamos a dividir o mesmo teto.

— LIZZY DESLIGA ISSO!!!

Com um suspiro levantei aquela coisinha irritantemente barulhenta e observei a tela de bloqueio. Tirando as apostas de sempre no grupo da minha família sobre “quando que meu pai vai atender aos seus instintos paternais e cumprir a promessa de matar o Sean” que ele vive falando, tinham outras absurdas trinta mensagens de Elena.

— Nem depois de ser mãe, ela toma jeito. – Suspirei ao ler os gritos (porque todas as mensagens estavam em caixa alta) da minha amiga destrambelhada.

Eu li uma, duas, três, mas meu cérebro só processou as informações um tempo depois… porque foi preciso que meus neurônios cansados e exaustos levassem um tempinho para lerem, compreenderem e depois repassassem o que havia sido lido para outra área do meu cérebro que estava vivendo de cafeína, chocolate e energético nos últimos dias para que a massa cinzenta dissesse ao resto do meu corpo como reagir.

— EU NÃO ACREDITO!!! VEIO MUITO AÍ!!! Sim!!!! – Eu saí correndo e gritando pelo apartamento afora, pulando e dançando e gritando ainda mais alto, pouco me importando com os vizinhos ou com o Marine exausto no quarto.

— LIZZIE!! O que foi agora? – Sean saiu do quarto meio descabelado e amassado, enquanto me olhava com cara de cansado e confuso.

Eu não conseguia ficar parada, aliás, eu acho que estava dançando a coreografia de Shake It Off.

— A Taylor acabou de confirmar que vai sair em turnê!!! Você acredita nisso? Sean eu não posso perder isso! Eu não posso. EU TENHO QUE IR NO SHOW DA TAYLOR!! Nem que para isso eu tenha que vender o seu carro!!!

— Você vai vender o que para ir aonde?????

— A sua caminhonete para ir ver a Taylor Swift e a sua The Eras Tour!!

Sean me olhava incrédulo enquanto eu corria na sua direção e o abraçava.

— Essa não é a melhor notícia que poderiam dar a uma Swiftie como eu?

— Mas por que tem que vender o meu carro? É só um show, Liz.

Afastei-me dele na hora.

Como assim “é só um show?”… Ah… agora ele vai ter uma aulinha sobre: “Um show da Taylor Swift nunca será somente um show!!!”

————

E, enquanto Liz incorporava o seu pior lado, que claro, era a mistura exata da encarada de seu pai, com o sarcasmo da sua mãe com uma pitada de muita sinceridade junto com a emoções puramente irracionais de uma fã apaixonada, do outro lado de Washington, DC, a cena não era muito diferente, mas eu diria um pouquinho pior.

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— Elena... Elena... – Ouvi alguém me chamar de longe. Ainda estava digitando mensagens e mais mensagens para a minha amiga de tantos anos e encrenca que PRECISAVA saber da notícia do ano.

— Agora não. – Falei e sai andando, esperando que a bendita da Elizabeth desse o ar da sua graça, nem tão graciosa assim, e me atendesse.

Ela não fez isso, mas alguém me chamava.

— O que foi agora, Chris? Não vê que eu estou em uma missão muito importante?

— Por acaso tem algo a ver com a sua admissão no FBI?

— Ainda não. Estou aguardando o resultado da prova de aptidão física. Deve demorar um pouquinho.

— Então, o que está te deixando tão nervosa. Thomas e Paget estão bem...

— Nossos filhos estão dormindo, Chris...

— Não por muito tempo, se você continuar a falar sem parar e sem sentido assim.

Fuzilei meu marido com o olhar, eu estava ficando boa nisso, anos sendo a destinatária de olhares assim me ensinaram como agir, e esperei que ele se corrigisse.

Ele não o fez.

— O que de tão importante...

— Eu vou ao show da Taylor Swift.

— Vai? – Ele perguntou ironicamente. – E com quem os gêmeos vão ficar?

Foi a minha vez de ser sarcástica.

— Com você. Você é o pai. E, nos últimos seis meses, eu tomei conta praticamente sozinha deles. Acho que não vai te matar se você tomar conta deles por uma noite enquanto eu saio e vejo um show que eu estou esperando por séculos.

Chris me encarou.

— Eles também são seus filhos, Christopher. Tem 50% do meu DNA e 50% do seu DNA. Então, como você não os gerou ou os amamentou e, como, nos últimos dois anos vem protelando o cuidar deles, chegou a hora de você tomar conta deles por uma noite sem problemas, enquanto eu descanso. Não vai ser assim?

Chris não parecia muito convencido...

— Mas, e se eles precisarem de você?

— Você é o pai, vai saber se virar.

— Quando é esse show?

— Bem... ainda não sei a data. Mas não será amanhã. Os ingressos começaram a ser vendidos no dia 18 de novembro... com uma pré-venda exclusiva que começa hoje e é por isso que eu tenho que conseguir falar com a Liz..

— A Liz vai nisso aí?

— É claro que vai!

— Mas ela não está até o pescoço com o mestrado dela.

— Ela dá um jeito.

Chris murmurou mais algumas coisas e saiu da sala, indo para seu escritório. Confesso que estava um pouquinho decepcionada com ele, afinal, ele estava participando ativamente da carreira do pai dele e da dele nos últimos meses, me deixando várias noites, me desdobrando cuidando dos gêmeos sozinha, enquanto estudava para a prova do FBI e me preparava fisicamente também... custava ser um pouquinho solidário enquanto eu tirava uma noite de folga para ir a um show tão esperado?

Liguei para Liz e ela logo atendeu.

— Você viu que já tem pré-venda para uma bandeira de cartão de crédito, não viu? – Ela me atendeu no primeiro toque.

— Aleluia, viu minhas mensagens. Custava ter respondido?

— Resolvi ser prática e já ir procurando pelas datas e pelos ingressos, Elena. Sei como você pode ser lenta de raciocínio quando se trata disso.

— Também não precisa ofender, hein?

— Ainda bem que a carapuça serviu. – Liz disse fatalista. – E aí... vamos aonde? Nova York? Los Angeles, Las Vegas... Em Las Vegas dá para ir também ao show da Adele! – Ela deu uma risada.

— É você quem gosta da Adele. Eu prefiro coisas mais animadas de se ouvir.

— Todas duas falam de fim de relacionamento, Elena, só que uma faz isso de uma forma dançante e bem direta para os ex... a outra é mais filosofal mesmo.

— Eu não gosto da Adele e ponto final.

— Sabe que não precisa ter rixa entre as cantoras e os fãs, né? Todas são divas dentro de seu repertório. Mas saindo desse assunto que te deixa toda espinhada... vamos aonde?

— Algum lugar perto de casa, por favor. – Falei sem muita emoção.

— Sério?! Achei que pelo menos Nashville. Ou Nova York...

— Elizabeth... eu tenho dois filhos, não posso sair em uma viagem de carro até o outro lado do país só para ver um show. Tem algum aqui por perto?

— Pittsburgh.

— Esse. Quando é?

— 16 de junho de 2023.

— Bem... é esse. Como vamos...

— Cada CPF pode cadastrar mais de um ingresso. Já fiz a compra. Depois você me paga.

— Rápido assim?

— Você faz ideia do número de swifties que tem nesse mundo? Acha que serão só os moradores desse país que vai querer ver a Loirinha? Acredite em mim... não. Quanto mais rápido, maior é a garantia de que teremos um ingresso na mão.

— Olhando por este ponto, você está certa. Depois me passa o valor.

— Assim que cobrarem no cartão te falo. E eu nem acredito que vamos ver a Taylor ao vivo! Quando foi a última vez?

— A última vez nossas mães nos levaram...

Elizabeth deu uma gargalhada.

— Elas curtiram o show mais do que a gente! Lembro até hoje da poderosa Jenny Shepard reclamando de dores nas costas e nos joelhos depois de dançar por quase duas horas e meia em cima de um salto 12.

— E a reclamação por conta da dor de cabeça causada pelo som alto? – Eu ri em resposta.

— Amiga, quero ficar velha e ranzinza assim não... vou ser a tia do alambrado no futuro, mas não a que reclama...

— Talvez você vá estar tão surda que nem vai conseguir ouvir o show mesmo se estiver DENTRO da caixa de som.

Liz gargalhou tão alto que logo em seguida escutei alguém reclamando.

— Olha quem voltou sei lá de onde depois de fazer sei lá o que! – Falei rindo.

— E voltou mal-humorado pra caramba... estou começando a achar que o mau-humor é coisas de Marine....

— Eu ouvi isso, Elizabeth... – A voz do namorido da minha melhor amiga veio abafada pelo telefone.

— Está vendo o que estou tendo que lidar hoje? Pois bem, antes que eu tenha que escutar ainda mais reclamações, vou indo.

— É vai lá... porque eu estou tendo que lidar com um marido que se recusa a tomar conta dos filhos para que eu possa ir ao show.

— O Chris está bancando o marido chato? Quer que eu vá aí e fale umas poucas e boas para ele?

— Ainda não... mas se eu precisar eu te chamo.

— Será um prazer brigar com alguém para ensinar algumas coisinhas sobre a criação de filhos. – Liz disse meio zangada.

— Isso já é você treinando?

— Não... isso é a tia Lizzie falando. Não viaja, Elena. Agora eu vou desligar porque minha tese de mestrado me espera e eu tenho certeza de que a Taylor não vai escrevê-la para mim.

— Ela não precisa, amiga. Ela tem doutorado.

— Quisera eu já estar nessa fase... Fui. Dê um beijo nos meus sobrinhos por mim.

— Pode deixar.

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Os dias foram passando, as amigas mais encrenqueiras e azaradas da história estavam certas de que tinham garantido os ingressos dos sonhos, nos melhores lugares que poderiam ter escolhido.

Bem, elas e quase todas as pessoas que garantiram a pré-venda.

Só que ninguém contava que ia dar pane no sistema da empresa responsável e, todos aqueles ingressos já reservados acabaram que não foram entregues.

Ou seja, em nada valeu Liz ter ameaçado o noivo de que iria vender o carro dele para pagar os ingressos, porque, mesmo tendo comprado lá no primeiro dia... não teve nada garantido.

Ela deveria ter prestado mais atenção às regras do próprio pai, afinal, não é isso que diz a regra #08, “nunca tenha nada como garantido”?

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— Isso! Isso não se faz! Como eles pensam que vão escapar depois disso? – Reclamei alto e muito zangada.

— O que foi agora Elizabeth?

— Ah... oi pai! Foi nada não.

— Algum problema com a sua inscrição no partido democrata?

— Não, pai... Está tudo certo. E o senhor sabe disso.

— Só me certificando de que tudo está certo e que talvez você tenha desistido dessa ideia maluca de entrar para a política. Ninguém na família gosta dessa coisa.

Encarei meu pai por cima da tela do tablet, ele realmente tinha dito isso?

— Achei que o senhor sempre disse que a mamãe mexia mais com política do que com operações.

Recebi aquela encarada de meu pai e fiquei quieta. Ele estava borboletando pelo meu apartamento, dizendo que veio verificar se tudo estava em ordem, porque, segundo ele, o Marine Suicida não sabe manter uma casa e eu, como uma boa mestranda, não tinha tempo para me dedicar ao conserto de pequenas coisas dentro de casa.

Essa era a desculpa que ele se dava, a verdade era mais ou menos assim: minha mãe estava trabalhando e ele, como um bom aposentado, não tinha o que fazer – seu último barco foi construído há muito tempo e ninguém estava precisando de nada, assim, ele, cansado de ficar sozinho em uma casa vazia, vinha para o meu apartamento, para encher a paciência de Sean e, também, para ficar nos vigiando.

Eu não falava nada, com meu noivo em regime de quartel, eu passava o dia sozinha, e quando ele chegava, morto depois de tanto treinamento, era praticamente a mesma coisa de não ter ninguém ao meu lado. Ter meu pai por aqui, por mais que ele não fale muito, era bom para me fazer companhia.

Papai voltou para a cozinha, sinal de que estava com fome, e eu continuei a minha saga de atualizar o site da Ticketmaster... e nada...

Até que recebi a pior das notícias. As vendas de quem fez a compra antecipada tinha sido cancelada, pois não tinham ingresso suficiente para a demanda...

Li o e-mail uma, duas, três e na quarta eu já estava xingando até a décima quarta geração do dono da Ticketmaster.

Claro que todo o meu vocabulário exemplar chamou a atenção do meu pai, que voltou para a sala comendo algo.

— O que o Marine fez dessa vez? – Para ele, meus rompantes de xingamentos nada bentos eram sempre culpa do Sean. Para a minha mãe, era falta de educação mesmo.

— Cancelaram os meus ingressos! – Choraminguei.

Por alguns segundos, papai ficou parado na minha frente, creio que pensando que tipo de ingressos eu tinha comprado.

— Você se esqueceu que foi expulsa da Disney? – Ele disse depois de muito pensar.

— Eu sei, pai. Não me esqueci daquele vexame. E não são para a Disney. São para um show.

Ele ficou tão quieto e parado que tive que conferir se ainda estava ali. E só pela cara que fazia, tive que completar a explicação.

— São para a The Eras Tour. Show da Taylor.

E meu pai continuou parado.

— Pai... eu já posso ir a show sozinha, o senhor não tem que me levar. Nem a mamãe.

Ele relaxou na hora e, depois de me dar um tapa no alto da cabeça, se sentou sorrindo do meu lado.

— Quer dizer que o Marine Suicida vai te levar nesse show? Pago para ver ele do seu lado enquanto você vira outra pessoa.

Encarei meu pai seriamente.

— Sean não vai. Vamos Elena e eu.

— E os filhos dela?

— Eles têm um pai, sabia? Que pode ficar com eles enquanto ela vai ao show... ou ia... porque nossos ingressos acabaram de virar um sonho. – Voltei a ficar furiosa com o acontecido. Não era possível que isso tinha acontecido justo com esse show.

Abri as reclamações no site da empresa e o que tinha de swiftie reclamando não era brincadeira. Praticamente todos tinham perdido a chance da pré-venda.

Acabei por mandar uma mensagem para Elena e dizer que Chris tinha zicado nosso show, mas ela não me respondeu. Estava nessa semana na casa dos sogros sei lá aonde.

Fiquei pensando em como eu poderia ir nesse show, tinha que ter um jeito, eu não iria desistir de algo assim. Quando foi que eu joguei a toalha na minha vida? Nunca, né? E não seria dessa vez que o mundo veria Elizabeth Shepard-Gibbs desistir de algo. Ainda mais DESSE show.

Depois de fazer o almoço e terminar o último capítulo da minha tese de mestrado, ainda faltava revisar as mais de trezentas folhas que eu tinha escrito, mas tinha tempo, minha data para primeiro protocolo do texto era em meados de dezembro, resolvi que iria procurar uma solução para os ingressos perdidos.

Elena me mandou uma mensagem, xingando horrores em caixa alta e eu ainda não tinha uma solução. Na verdade, ninguém tinha.

A solução apareceu em uma tarde fria de sexta-feira. Era dia 18/11 quando a própria Taylor se pronunciou sobre o ocorrido e disse que as vendas seriam normalizadas.

De um certo modo, as vendas foram normalizadas.

Na porta dos estádios que receberiam os shows.

É, isso mesmo. Venda, para quem quisesse se garantir na plateia, só na bilheteria dos estádios.

Eu teria que ir para Pittsburgh para comprar os benditos ingressos. E, muito provavelmente, dormir na fila.

Fã só sofre...

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Alguns dias se passaram e as duas amigas, como sempre, deram um jeito de irem até Pittsburgh para comprarem os ingressos.

Elena deixou os gêmeos com sua mãe, que ficou mais do que feliz em tomar conta dos netos e Lizzy, bem, ela teve uma forma bem diferente de convencer ao noivo de que precisava do carro dele.

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— Não!

— Como não, Sean? Eu só vou ali, e preciso do seu carro.

— Você vai vender o meu carro no meio do caminho!

— Essa é uma ideia tentadora, e, sinceramente, seria uma boa ideia, afinal, aquela pick up já viu dias melhores e só anda dando despesa e trabalho. Vendê-la seria muito mais econômico para nós. MAS, como eu sei que você tem uma espécie de apego muito sentimental a ela, não farei isso, mas preciso dessa supermáquina para ir até o Acrisure Stadium.

— Agora é supermáquina?

— Seanzinho... o apelido do carro muda conforme as minhas necessidades. Você não vai precisar dela pelos próximos dias. O que custa?

— E se eu precisar de emergência?

— Sempre tem o UBER, não é mesmo?

Sean me encarou. E eu li em seus olhos que ele não cederia, então eu apelei para a tática infalível. Roubei alguns beijos dele e depois sorri inocentemente em sua direção.

— E então? Vou pegar o possante, tudo bem?

Sean não teve lá muita reação, assim, peguei minha bolsa, um casaco muito quentinho e corri para a porta.

Da minha casa até a mansão de Elena foram quase duas horas de um trânsito pesado. A cada milímetro que eu percorria no asfalto, eu olhava o relógio e morria de medo de não dar tempo de chegar até Pittsburgh.

Quase na casa da minha amiga tresloucada, liguei e pedi pelo amor de todas “As Eras de Taylor” que ela já estivesse pronta e na porta me esperando e que não levasse nenhum tombo ao atravessar o jardim até o carro.

Nem tinha chegado na frente da casa dela e já estava buzinando, tempo é vida na nossa jornada.

Para variar, Elena tropeçou, escorregou no chão molhado e ainda trupicou para entrar no carro.

— Senhor! Cadê os carrões que você costumava dirigir? – Ela reclamou assim que se sentou no banco do carona.

— São da minha mãe. Não tenho mais acesso a eles. Sobrou o do Sean.

— Aposto que se pedisse, sua mãe emprestaria.

Fingi que não escutei... Elena só queria conforto... se era assim, por que não pegou um dos carros do marido?

E vendo minha cara, Elena desconversou... ou nem tanto.

— Por que não compra um para você?

Só encarei Elena. Enquanto a vida dela já estava praticamente estabilizada, a minha estava estagnada... e eu esperava que não por muito tempo.

O caminho até o estádio foi tumultuado, dava a impressão de que todo mundo estava indo para lá. Não foi bem assim, e como chegamos cedo, CEDO, fomos uma das primeiras na fila.

O único problema, iriamos passar a noite ali.

E o tempo não estava querendo cooperar com a nossa causa.

— Definitivamente o tempo hoje deve ser fã do Jake Gyllenhaal. Não é possível que esteja frio E chovendo! – Elena reclamou e se encolheu no casaco que ela vestia. – Meu pé está ensopado!

Esse problema eu não tinha, agradeci mentalmente por ser filha de um Marine que sempre amou ficar a bordo de barcos, independentemente do clima e noiva de outro Marine que sempre que podia, queria fazer trilha, faça chuva, faça sol, ou só neve mesmo.

As horas pingavam, quando não era Elena, era eu olhando no relógio e só tinha se passado um minuto.

A conversa na fila se resumia em xingar a TicketMaster pelo pesadelo que estávamos passando e conjecturar e sonhar com o setlist do show e os figurinos que a Loirinha iria usar.

Isso ajudou a passar o tempo, mas nem tanto.

Cochilei, acordei, tornei a cochilar, no meio da madrugada eu cheguei a me perguntar se eu realmente precisava passar por tudo isso para ver esse show. Sentia falta da minha cama, de roupas secas e de um lugar quentinho.

Sem nada para fazer, xinguei Sean.

— E por que está xingando o coitado? – Elena me perguntou, acordando de supetão?

— Porque ele poderia ter sido um bom namorado e ter ficado na fila para mim.

— Noivo. – Ela me corrigiu.

— Você me entendeu. Ele poderia estar aqui. Está acostumado a passar frio, fome, ficar ensopado e congelado ao mesmo tempo. Foi treinado para isso... eu não. E o que está acontecendo hoje? Ele está em casa, no aquecedor, enrolado nas cobertas e eu estou aqui.

— Estamos. – Tornou a me corrigir e eu levantei uma sobrancelha na sua direção.

— Fala sério, você acha que o Chris aguentaria uma noite ao relento? – Devolvi de uma vez, Elena estava me tirando do sério.

— Mas você está exagerada hoje, hein?

— Estou com fome.

— Eu também... parece que tem um buraco no meu estômago. Será que o Ifood entrega na fila do estádio?

— A essa hora da madrugada, Elena? Você não bate bem...

— Só perguntei... e voltando à conversa anterior, bem... não, o Chris não aguentaria passar a noite no frio. Primeiro ele não é fã da Taylor e segundo, não entende o motivo de estarmos fazendo isso.

— Ele, pelo menos, falou que, se gostasse, estaria aqui? – Perguntei.

Elena deu uma risada.

— Se fosse jogo de basquete, ele estaria. Já eu...

— Eu te juro... eles poderiam estar aqui. Se gostam tanto da gente assim, poderiam ter assumido o turno da noite e marcado o nosso lugar. Aposto que tem namorado aqui que está fazendo isso.

— Não o meu.

— Nem o meu.

— Nem o meu...

Olhei para a fila que se formava aos poucos atrás de nós... e ao que parecia, nenhum parceiro ou parceira entendia as nossas razões de passar frio e fome para ver a Taylor.

Aos poucos o dia foi clareando. Os passarinhos começaram a cantar e mais gente começou a chegar.

Morrendo de fome, mas com mais medo ainda de sair do meu lugar e perdê-lo, me resignei a comer uma barrinha de cereal, que eu achei toda amassada no casaco que peguei emprestado de Sean, bem devagar para enganar o estômago.

— Será que vai demorar para abrir a bilheteria? – Elena perguntou, depois de conversar com a Dona Emilly para saber como estavam os filhos.

— Acho que dentro de duas horas...

— Meu Deus... tudo isso?!

— Sim.

À medida que o horário de funcionamento da bilheteria se aproximava, mais gente chegava, alguns puxaram o coro de músicas da Taylor para animar a galera, outros dançavam para se esquentar.

E tinha uma turma que chegou e ficou muito perto da grade que dava para a bilheteria.

Não eram muitos, mas, mesmo assim, aquilo me incomodou, porque eles não passaram a noite ali. Disso eu tinha certeza.

— O que tanto olha? – Elena me perguntou, depois de mastigar um saquinho de uva passas, que muito provavelmente era de um dos gêmeos.

— Eles.

E ela olhou na direção que indiquei.

— Não estavam ali ontem. – Disse com certeza.

— Não, não estavam. Mas estão agora... é um grupo muito grande para só uma pessoa ter dormido e guardado o lugar. Tem algo de errado ali.

Nossa conversa chamou a atenção de quem estava por perto, e mais gente começou a observar o grupo.

Eles notaram que agora praticamente todos da fila olhavam para onde estavam e, para nossa surpresa, começaram a rir cinicamente para nós.

— Mas o que foi isso? – Elena perguntou, já perdendo a paciência.

— Não entendi direito, mas posso jurar que eles são cambistas.

— Ah...

— Nada de “Ah”, Elena!! Aqueles ali estão furando fila e vão comprar uma boa quota de ingressos, para venderem mais caro depois... – Encarei o grupo com cara feia.

— Tá me achando bonito, ruiva? – Um dos homens perguntou para mim.

— Não. Só te achando um tremendo de um salafrário por fazer o que vai fazer. E, para a sua informação, na minha frente você não passa.

Fez-se um silêncio absurdo na fila, agora as atenções estavam voltadas para mim e cara que estava todo vestido de preto.

— Como é, Ruiva?

— E não me chame de Ruiva.

— O que você disse?

— Que você é um safado. Um aproveitador e que não vai passar na minha frente.

— Liz... quer parar. Ele pode estar armado. – Elena tentou ser um pouco da minha razão... justo ela!

— Azar o dele. Eu estou com fome, com frio, com sono e sei desarmar uma pessoa e quebrar o nariz dela com uma arma. Quero ver o que ele vai fazer. – Respondi à Elena e encarei o grupo.

— Você perdeu a noção das coisas? – Ela sussurrou.

— Não. Só não vou deixar esses vagabundos passarem na nossa frente. Eles não têm noção do tanto que nós sofremos nessa noite.

— Não, Miss Americana, não temos, quer esclarecer isso para nós? – O mesmo cara me perguntou, vindo na minha direção, tentando me intimidar.

A maioria das pessoas recuaram. Eu não. E, bem....

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Eu não acredito que Elizabeth fez isso! Eu juro que não.

Tudo bem, alguém acabaria por fazer, mas tinha que ser justo ela? E ainda tinha que me levar junto?

Beleza, eu já levei minha amiga doida para um monte de encrenca, mas nenhuma desse tamanho.

Pelo menos nunca paramos nas manchetes dos principais jornais do país e, muito menos, nos jornais do horário nobre.

E eu juro, ficou parecendo que somos duas doidas varridas!

Eu não sou doida varrida. Mas talvez Liz seja...

E tudo por conta de um par de ingressos.

Mas, a história até pararmos no The Morning Show da CBS é essa aqui:

~~~~~~~~~~~

O bando inteiro de cambistas foi chegando para mais perto da fila. Os que estavam na nossa frente recuaram, mais por medo do que por respeito. Eu também fiz isso. Teve um tempo em que eu os encararia também, mas agora eu tenho dois filhos e tenho que voltar para casa inteira.

Só que Liz não tem isso. E sendo a cabeça quente que é, encarou o grupo.

O que parecia que era líder, até a chamou de Miss Americana e a doida varrida simplesmente deu uma gargalhada cínica.

— Sério?! – Ela disse como se duvidasse que aqueles homens iriam fazer algo com ela.  – Vai usar uma das músicas da Taylor para me ofender?

O homem continuou a vir, sem se preocupar com nada.

E foi quando Elizabeth pirou de vez e soltou:

Are you (...) ready for it?

Quem estava na fila tinha duas expressões: ou estava apavorado demais para fazer algo, inclusive sair correndo, ou estava começando a se divertir com a loucura que estava prestes a estourar bem na frente de seus olhos.

— Lizzy... por favor. – Pedi e tentei segurar o braço dela.

— Não hoje. – Ela disse e deu um passo para frente, encarando o líder. – Como eu já disse, na minha frente vocês não passam. Acho melhor irem lá para o final da fila.

Ninguém se intimidou com a ruiva e, como que para testá-la, entraram bem na frente dela.

Eu me encolhi e mentalmente tentei fazer as contas de quantos ingressos restariam depois que aqueles homens saíssem da bilheteria, eu acho que daria para ver o show de um canto do estádio, com vista parcial do palco...

Resignei-me em meu lugar, mesmo que uma vozinha, lá no fundo da minha mente tenha me dito que isso não era certo.

Certo, realmente não era. Mas eu não falaria nada, queria estar viva para ver o show.

Só que Liz... ela não ficou calada.

— Quer sair da minha frente, eu não cheguei aqui ontem de tarde à toa. Cai fora, Malandro.

O homem deu um sorriso cínico para Liz e como ela não recuou, ele só levantou a barra do casaco e mostrou o que presumi ser o cabo de uma faca.

— Ah! Então o The Man acha que pode me intimidar porque tem uma faca. A sua masculinidade é definida por portar uma faca? Deveria fazer terapia, amigo, porque só Freud para te ajudar com isso.

Como Liz falou um tanto rápido demais e com um monte de palavras que, claramente, o cara não entendeu, primeiro ele ficou parado e, vendo que os demais na fila começaram a rir, partiu para cima da minha amiga, tirando a faca, que era enorme, da barra da calça.

— E que comece o Bad Blood! – Alguém gritou atrás de mim.

Eu me afastei e tentei trazer Liz comigo, porque se ela morresse, e tinha tudo para ela morrer ali, eu que não queria ter que me explicar para os pais dela e depois para Sean... e também não queria nem pensar nas manchetes de notícia... algo como “Filha da Diretora da CIA é morta em fila para a compra de ingressos da The Eras Tour” que no caso de Liz viraria: “Já Eras Tour...”

— Será que você não pode ter um pingo de senso! – Pedi para a ruiva.

Liz me olhou de lado e eu dei outro passo para trás... nem por decreto eu quero ser a destinatária de outra olhada da família Gibbs!

E, enquanto eu dei um passo atrás, Liz deu dois para frente e, com um golpe ninja, desarmou o cara, segurando a faca bem na frente dele e soltando, debochada a seguinte frase:

Look what you made me do!

Agora, ainda mais possesso, o cara, e mais dois, avançaram para cima de Liz, ia ser um banho de sangue mesmo que ela estivesse armada agora... ou não porque ela acabou de arremessar a faca aos meus pés!

— Você é realmente maluca!! – Chiei e pisei em cima da faca, sei lá, ela poderia ser a prova cabal da futura investigação de homicídio onde a minha fearless amiga seria a vítima!

Morrendo de medo de algo MUITO ruim acontecer, peguei o telefone e, em desespero, liguei para minha mãe e pedi que ela despachasse alguém para nos ajudar.

— Mas o que você está fazendo agora, Elena?

— Eu?! Nada. Mas a Liz está brigando com cambistas! Já até desarmou um! – Falei alarmada.

— A Liz o que? – Minha mãe se engasgou.

E a cena que se desenrolava na minha frente era até cômica.

Liz tinha acabado de dar uma providencial joelhada em um dos caras, jogando-o para escanteio e, com um movimento que eu só posso presumir que ela aprendeu com a Ziva, imobilizou o outro só o agarrando com dois dedos no ombro.

O que estava armado com uma faca veio para cima dela e Liz, invocando a Viúva Negra, deu um belo pontapé lateral nele, que voou longe.

O restante da turma, que consistia em três homens petrificados, se olhou e depois partiu para cima de Liz, eu sabia que era o fim dela e que ninguém, mas, ninguém naquela fila faria algo.

Era a minha vez de agir...

Preparei para gritar primeiro, mas aí me lembrei de todo o meu treinamento para virar agente do FBI, isso tinha que valer para alguma coisa... assim, desliguei a chamada e, antes que eu pudesse falar algo, duas coisas aconteceram:

O cara que Liz ainda apertava o ombro, falou que era para os caras irem embora, porque aquela ruiva era doida, o que resultou em um outro chute sendo dado e o cara caindo de joelhos no chão, sem saber se apertava o ombro ou bem... lá embaixo.

E, vindo sei lá de onde, Sean apareceu, me entregou um pacote de papel pardo e, depois segurou um dos homens que já estava quase em cima de Liz pelo capuz e o outro pelo pescoço, enquanto Liz acabava com a raça do terceiro, ao arremessá-lo por cima do próprio ombro e, depois de pisar no meio do peito dele, disse:

You need to calm down...

O restante da fila olhava atônito para o que tinha acabado de acontecer, ninguém acreditava que uma ruiva maluca pudesse ter feito o que ela fez.

Só que, antes que alguém percebesse algo, o que começou a confusão, saiu correndo. E, a essa altura, era até sacanagem que ele escapasse de levar uma surra. Liz então, me mandou segurar os dois que estavam no chão, gritando que eu sabia fazer isso e correu atrás do fujão.

Nem cem metros depois, vimos ela dar uma rasteira no cara e jogá-lo no chão e, depois, com um pouco de dificuldade, trazê-lo para perto dos demais.

O homem ainda tentou se esquivar de Liz e perguntou o motivo de ela estar fazendo isso...

A resposta?

— Chame isso de Karma... – E com isso entregou o cara para que Sean tomasse conta.

— E você, MasterMind, pode ficar quietinho aqui. – Chutei o dito cujo que Liz tinha trazido.

Liz e Sean só me olharam de lado, como que me perguntado se eu estava normal.

Com o grupo devidamente imobilizado, quem estava na fila começou a bater palmas e assobiar, comemorando que os cambistas estavam praticamente fora do jogo.

Contudo, do nada, ficou um silêncio monstruoso no local, e todos começaram a olhar em volta.

Três carros de polícia e duas vans de reportagem, chegavam perto do Acrisure Stadium.

Ainda com todos em silêncio, os policiais foram chegando e pararam justamente na nossa frente e, depois de olharem o estado do grupo, o Oficial em comando, perguntou:

— Quem fez isso?

 Lizzie levantou a mão, não tinha como ela esconder, vai que alguém tinha gravado...

— Bem... senhorita, você é corajosa... não é todo dia que alguém enfrenta uma gangue de cambista, nem mesmo a minha filha que é durona e uma fã incondicional da Taylor faria isso.

Elizabeth não disse nada.

Ele se voltou para os cambistas e depois de ver que eles não tinham nenhum ferimento sério, se voltou para Lizzie.

— Eles te machucaram?

— Não, senhor. Mas estavam armados. Cadê a faca, Elena?

Eu, que estava tentando ficar o mais distante possível, virei o centro das atenções e acabei por perceber que tinham câmeras gravando tudo, câmeras de emissoras famosas.

Apontei com o pé para a faca que não estava muito longe de mim e tentei me esconder atrás de Sean, para não ser filmada, mas era tarde demais...

Porque logo meu celular começou a apitar incansavelmente e eu nem precisava olhar para saber quem era.

Penelope Garcia.

E, como a fofoca corre solta na família, todo mundo já estava sabendo. Ou melhor dizendo, o FBI inteiro.

As repórteres fizeram o seu trabalho, entrevistaram o pessoal que acompanhou tudo e eles contaram com detalhes e com vídeos o que tinha acontecido. E, depois, acompanharam os cambistas que estavam sendo presos.

O MasterMind da história toda ainda teve a cara de pau de olhar para Liz e xingá-la, claro que Sean tomaria as dores da noiva e o mandaria ficar calado, o que resultou no seguinte comentário:

— Bem... não é todo dia que a Miss Americana and the Heartbrake Prince te dão uma surra... Quem sabe um dia tem troco... – Falou rindo.

Liz, que mesmo com as câmeras ligadas não tinha ficado quieta, respondeu à altura:

— Nem nos seus Wildest Dreams...

A gangue foi levada, mas a imprensa ainda ficou esperando e tentando convencer Liz a contar a parte dela da história. Parecia que o senso dela estava voltando e ela se recusou, somente disse que não aceitava que cambistas se aproveitassem dos fãs.

Com pouco a bilheteria foi aberta e a fila começou a andar.

— Ainda bem que esse pesadelo dos ingressos está acabando. – Comentei casualmente, já que o clima do meu lado era um tanto gelado demais, pois nem Liz ou Sean abriu a boca para falar algo – Acho que vou precisar de mais um Cardigan para me aquecer...

Quem estava atrás de mim, deu risada, mas o casal na minha frente não fez nada.

Demorou um pouco mais para chegar a nossa vez de comprar os tão sonhados ingressos, e, enquanto Liz não falava mais nada, eu aproveite e comi o café da manhã que Sean havia trazido para ela.

— Muito simpática a sua consideração para comigo, Sean. - Falei de boca cheia.

O Marine Suicida me olhou de lado e eu percebi que ele não tinha trazido aquilo para ser dividido entre Liz e eu... era só para Liz.

Ele era ou não o verdadeiro Lover?

Com os ingressos em mãos, fomos para o carro, o casalzinho ainda não tinha aberto a boca, mas deu para ver que tinham voltado ao normal, pois estavam segurando as mãos.

Assim que entramos na pick up velha do Marine, Lizzie soltou:

— Ontem você falou que não vinha... por que mudou de ideia?

A resposta do Sean me fez soltar uma gargalhada altíssima?

— Porque... I knew you are trouble. E pelo visto eu acertei.

Elizabeth só bufou em resposta.

— Confessa, Liz, ele tá certo. – Tentei defender o Marine.

— Cala boca, Elena.

— Você pirou geral ao encarar aquele homem. Ele estava de fato, armado.

— Uma faca? Uma mísera faca de caça! Quem tem medo daquilo?

— O DiNozzo! – Respondi.

— Tony não conta!

Voltamos para D.C. Fui deixada em casa e nem passei pelo batente, minha mãe já veio me cobrando por mais responsabilidade.

— Mas mãe, por quê? Foi a Liz quem endoidou de vez...

— Então por que você está na TV?

Olhei para a enorme televisão que Chris tinha comprado para ver os jogos de basquete e, passando em looping, as imagens de mais cedo do Acrisure Stadium... as de Liz não me importavam... mas uma sim... eu chutando o cabeça da gangue...

— Mas eu fiz aquilo!

— E foi o suficiente para ser filmado e agora está passando na televisão... Elena, você não vai aprender nunca?

— Eu juro, eu não participei nem de 1/8 disso. Foi tudo a Liz. Ela quem endoidou!

E a matéria continuava... agora voltaram para o estúdio do The Morning Show, onde os apresentadores simplesmente falaram:

— Bem, os anti-hero da história foram presos, acusados de agressão, perturbação da ordem e, também, de porte de arma, já que todos tinham ou uma faca, ou uma arma de fogo, e podemos dizer que esse episódio é uma Picture to burn nessa turnê da Taylor. E o que importa é que temos que Shake It Off e agradecer que tudo e todos estão Safe and Sound. E, agora vamos aguardar em Lavander Haze que os shows sejam mais tranquilos do que as vendas dos ingressos.

Achei inusitado que tivessem feito isso, mas quem sou eu para falar algo, se toda a briga foi recheada de menções às músicas da Tay-Tay...

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Juro que o incidente na fila tinha passado despercebido pela minha família fofoqueira, Sean e eu decidimos que não iriamos comentar nada e encerrar o assunto, uma vez que ninguém saiu ferido e os bandidos foram presos.

— E só para acabar de vez com a história, muito obrigada por ter aparecido por lá, chegou na hora certa.

— Parece que eu previ que você iria aprontar de novo...

— Bem... dessa vez fui só eu, ao que parece a maternidade colocou senso na cabeça da Elena, o que é uma pena... – Dei de ombros

— Nem tanto... ela chutou o cara do nada...

— Ainda tem um pouco de rebeldia por baixo daquela fachada de mãe. – Dei de ombros e fui resolver a minha vida.

O dia passou até tranquilo demais, estava acabando de fazer a minha inscrição para trabalhar junto ao Departamento de Defesa (depois dos acontecimentos recentes tive que desistir da minha carreira na política, afinal, ninguém vai votar em uma mulher que briga com cambistas em uma fila para o show da Taylor Swift!)

Com minha tese de mestrado encaminhada para meu orientador (ou desorientador, porque olha... ele me deixou maluca!), tudo o que eu tinha que fazer era rezar para conseguir um emprego que não fosse de meio período e como tradutora.

Como eu disse, o dia passou tranquilo, mas a noite não foi tão tranquila assim... tudo porque, quando começou o jornal da noite, a primeira notícia não era outra se não...

“Fã de Taylor Swift briga e imobiliza cambistas na fila do Acrisure Stadium, até que a polícia chegasse”

Sean deu uma risada e eu só soube me encolher, era questão de segundos até que o meu telefone começasse a tocar.

A primeira pessoa que me ligou foi meu pai. Eu até tinha me espantado com o fato de que ele não descobriu sozinho a história, já que saiu na TV e nos jornais. Pois, então, pelo visto ele ficou sabendo que a filhota deu um show na fila dos ingressos pelo noticiário.

— O que diabos aconteceu dessa vez para você sair no noticiário, Elizabeth? – Foi exatamente isso que ele falou logo que eu atendi a chamada, e a situação ficou muito pior, porque a minha mãe, (depois de ter discutido e ganhado a discussão sobre quem tinha o direito primário a me xingar,) veio e falou um rosário na minha cabeça.

E olha que eu já era maior e independente...

Com o fim do maior telefonema que o Casal nº 01 de Alexandria já deu na vida, foi a hora do restante da minha família me perturbar. Ignorei chamadas de voz, vídeo e mensagens como pude, chegando ao ponto de desligar o telefone para ninguém me achar.

Só que eles ligaram para o Sean...

Enfim, um desastre, mais um na minha longa fila de vexames homéricos.

— Acho que agora você vai pensar duas vezes antes de brigar com alguém, não vai? – Sean me perguntou quando foi se deitar, já que, para fugir dos telefonemas, eu me esgueirei para debaixo das cobertas.

— Essa é uma possibilidade, mas só tem um porém...

— Que é?

— Será que vou me lembrar disso?

Não, claro que não. Porque quando o meu mau gênio ataca, eu fico completamente fora da casinha...

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Os meses foram passando, as coisas voltaram relativamente ao normal. Ou tão normal quanto deve ser quando se trata de Elena e Elizabeth.

Depois de muito sofrer, Elena passou no teste do FBI, mesmo tendo levado dois tombos na prova física, o que, sinceramente, não foi novidade para ninguém, nem para o seu futuro chefe, e, mesmo com um pulso deslocado, completou o percurso. Ela pode não ter sido a primeira da turma, mas ganhou o respeito de muita gente ao redor por ter conseguido finalizar a prova de resistência, mesmo com dor.

Elizabeth, por sua vez, foi aceita para trabalhar como analista no Departamento de Defesa, pelo visto seu passado de encrenqueira não a atrapalhou tanto assim, porém, não ficou lá muito tempo, depois de uma operação conjunta com a CIA, foi designada para trabalhar na Europa, para onde iria em agosto, para desespero do paizão que não gostou nada de saber que justo a CIA estava recrutando a sua filha.

Assim, o ano virou, chegou 2023 e com ele o início da “The Eras Tour”.

As duas amigas, aguardavam ansiosas pelo show, e suas família rezavam para todos os deuses, credos e em vários idiomas para que, pelo menos dessa vez, elas não arranjassem nenhuma encrenca.

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Dia 16 de junho de 2023

 

— Eu vou tomar conta de meus netos, Elena, mas eu te peço encarecidamente, não apronte nada dessa vez. Não podemos te ver de novo, na chamada do The Morning Show.

— Mãe, é só um show...

— Para quem conseguiu brigar com cambistas na fila de ingressos, Elena, o que não falta é oportunidade para você arranjar confusão no meio do show.

— Credo, pai! Também não é assim. E não fui eu quem começou a briga. Foi a Liz. Ela que estava descompensada naquele dia...

Meus pais e meu marido me olharam torto.

— Mas você chutou o cara... – Chris falou certeiro, ele ainda não tinha engolido toda a história e olha já tinham se passado seis meses. Até a internet já tinha esquecido e ele não!

Ia retrucar e dizer que a Elizabeth, a Elizabeth, foi quem imobilizou os caras e ainda desarmou um, mas seria em vão. Então, para encurtar o assunto, só concordei com todos os presentes e fui acabar de arrumar meus filhos.

Na hora marcada, Liz buzinou, me chamando.

— Ok, hora de ir, tomem conta de meus filhotinhos! Mamãe ama vocês!  - Mandei vários beijos para os gêmeos e corri até o carro.

Quando abri a porta, Liz ria da minha cara.

— O que foi agora?

— Nada, Mamãe Ursa... Nada.

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Elizabeth dirigiu como uma louca, ou melhor dizendo, como seu pai e, com folga, chegou até Pittsburgh e ao seu destino.

Um pouco mais de seis meses depois, as duas amigas voltavam ao palco da homérica briga, rezando internamente, para que ninguém as reconhecessem.

Estacionaram o carro. Deram o último retoque na maquiagem e rumaram para a fila.

Praticamente todos estavam vestido com a famosa blusa da “The Eras Tour”, não tinha como serem reconhecidas ali.

Portões abertos, elas se encaminharam para seus lugares escolhidos a dedo e conseguidos com muita briga e força de vontade.

As horas que antecederam ao momento em que Taylor Swift subiria ao palco passaram no conta-gotas. Não tinha conversa, fofoca, especulação sobre as músicas surpresas que fizesse os ponteiros do relógio andarem mais depressa, ou pelo menos que andassem.

E, na hora marcada, as luzes do estádio abaixaram, o palco se iluminou e ninguém soube informar quem deu o primeiro grito.

Três horas de muita cantoria desafinada, algumas lágrimas, passos de danças e mais gritos ainda, o show acabou.

Foi épico, foi maravilhoso. Foi para entrar para a história.

Isso se elas se lembrassem de alguma parte do que viram.

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Madrugada do dia 17 de junho de 2023

— Mas teve aquela parte...

— Qual parte, Elena?

— AQUELA!!

— Todas foram épicas, MAS EU NÃO ME LEMBRO DE NADA!!

— Nem eu... achei que a sua memória era melhor que a minha.

— A perfiladora da dupla é você... eu sou uma reles analista. – Respondi e, aproveitando que o trânsito estava parado, cocei minha testa, eu tinha que me lembrar de algo.

Mas tudo o que me vinha a mente era um enorme blank space...

Elena ia murmurando o setlist, nem isso a gente lembrava direito. Eu sei que cantei Look What You Made Me Do e que chorei em Lavander Haze, só não sei dizer o motivo.

Elena, por sua vez, chorou em todo o repertório da Fearless era...

Mas, por que eu não conseguia me lembrar do show em si? Não me lembrava dos figurinos, do que a Taylor falou no palco, de nada...

— Já sei! - Gritou Elena do nada.

— O que? O que aconteceu lá?

— Nossos celulares! Nós gravamos bastante coisa...

— O meu morreu assim que o show acabou. Assim como o power bank.

— O meu também.

— Fica para quando o dia amanhecer... – Falei conformada.

— É, quem sabe, até lá, não vamos nos lembrando aos pouquinhos.

Internamente rezei para que fosse verdade. Porque era um tremendo desperdício eu ter feito o que fiz para conseguir esses ingressos, e, para logo depois do show, eu não saber o que eu vi!

Deixei Elena na casa dela e depois fui para a minha, como eu desconfiava. Sean me esperava acordado, aposto que ele deve ter me ligado e, como não conseguiu falar comigo, deve ter presumido que dessa vez ou eu tinha sido presa, ou morta.

— Aí está você! – Ele veio me abraçar. – Por favor, me diga que não brigou com nenhuma fã da Taylor só porque ela estava usando uma camiseta com fotos de todos os ex da cantora...

— Até tinha uma lá com a camiseta “I TH”, fazendo alusão ao Tom Hiddleston, mas não incomodou ninguém, ele foi um dos poucos ex da Taylor que foi gente boa com ela.

Mas Sean não estava satisfeito, queria detalhes...

Detalhes que eu não tinha...

— Foi um verdadeiro espetáculo. – Resumi. – Perfeito do início ao fim! – isso não era mentira! Todos os shows da Taylor são! – Queria poder ver de novo! – Sim, eu queria, só para saber o que eu vi! Mas eu não disse isso ao meu noivo.

— Ela vai para a Europa, né? Você também... – Ele falou meio tristonho.

E meu amado Seanzinho era um gênio!

— Se eu tiver tempo, quem sabe. – Deixei no ar, mas mentalmente eu começava a me perguntar se a cotação do Euro com relação ao dólar iria afetar muito o meu orçamento, caso eu conseguisse um ingresso para um show dela, nem que eu precisasse ir para a Suécia, ou a Áustria, ou até mesmo Polônia!

Antes de dormir, deixei o celular carregando, na manhã seguinte eu teria as respostas para a minha amnésia temporária.

—------------------------

Acordei, não recomendo. Sinceramente, eu não tenho nem mais idade, nem disposição para ir a um show...

Um show do qual eu não me lembro de nada!

Depois de me levantar e ir cuidar dos meus bebês, como eu senti saudades deles! Resolvi por dar uma olhada na galeria do meu celular.

Sem saber se eu tinha salvado algo ou não, abri a primeira foto e fui passando uma por uma...

A primeira, tudo bem, a segunda... aí vieram os vídeos. Eu fui abaixando o volume do que estava vendo, abaixando até que não tinha mais som...

— Meu. Deus... Essa sou eu? – olhei incrédula para os vídeos. – E essa é a Elizabeth?

SENHOR!! AINDA BEM QUE ME DEU AMNÉSIA! – Surtei internamente.

Eu não tinha feito isso, tinha?

Tinha, se tinha registro.

O que deu em mim?

Assustada com minhas próprias reações. Acabei por apagar os vídeos da galeria. Era mais fácil dizer que a lesada da Elena esqueceu de gravar do que mostrar isso para alguém.

Como eu posso ter ficado tão fora da casinha desse jeito?

Com medo do que Liz pudesse ter gravado, só mandei uma mensagem para ela.

Não veja os vídeos de ontem. Confie em mim.

Dois minutos depois...

Tarde demais.

E...

Meu Deus... o que aconteceu com a gente? Parecemos duas adolescentes de treze anos completamente loucas!

Para nosso consolo, Liz, não era só nós duas...

Minha amiga não respondeu. E, tarde naquele dia, ela só mandou a seguinte mensagem:

Nossa amnésia nada mais é do que nosso subconsciente nos poupando da vergonha que passamos naquele estádio. Eu jamais quero saber o que aconteceu e não foi filmado...

Para nossa segurança, era o mais certo.

Eu só tinha medo de alguém ver algo na internet...

Não... isso era impossível.

Improvável.

Uma chance em um bilhão...

Mas eu sou Elena Prentiss-Hotchner e, digamos, às vezes as coisas saem do controle muito rápido....

Rápido até demais.

— Oi, Deus, sou eu de novo! Não deixe Penelope Garcia ter a ideia de ver algo sobre o show da Taylor, por favor. Obrigada. De Coração.

 Rezar para que tudo ficasse no limbo da internet era tudo o que eu poderia fazer.

E, dessa vez, eu tinha esperanças de que ninguém na minha família me visse em um estado total de desespero misturado com alegria dançando e cantando e chorando junto outras milhares de fãs de Taylor dentro do Acrisure Stadium. Porque se vissem... senhor, não me deixariam esquecer meus rompantes de fangirl jamais!


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Notas finais do capítulo

Bem, obrigada a você que leu até aqui. Espero que tenha gostado!
Até a próxima vez em que libertarei essas duas do calabouço do meu bloqueio criativo.
xoxo



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