(In)visível - CIP escrita por Casais ImPossíveis


Capítulo 1
Capítulo Único - (In)visível




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Tina não se sentia totalmente à vontade na escola. Claro isso era completamente normal para uma garota de 16 anos recém-feitos, ascendência asiática e uma timidez que já deveria ter superado no fundamental, mas... Mesmo assim não era divertido passar cinco dias da semana naquele projetinho mal concluído de manicômio mais conhecido como William McKinley High School, não mesmo.

Por isso ela adorava os finais de semana.

Seus pais achavam que ela estava inscrita em várias atividades extracurriculares as quais ela sentia enjoo só de pensar, então ela podia passar muitas horas fora de casa em alguns de seus “refúgios” favoritos que acabou descobrindo que existiam espalhados pela cidade como pequenas ilhas de vida e criatividade no mar de marasmo e mesmice que era Lima-Ohio.

Um desses refúgios, que apropriadamente tinha “refúgio” até no nome, era um barzinho discreto chamado Fallen Angel’s Refuge. Um lugar onde não era estranho aparecer com roupas em estilo emo ou até mesmo gótico, onde ninguém te olha torto por escrever poesia ou gostar de cantar, e, principalmente, um lugar onde nenhum barman te pede a identidade quando você pede um drink mesmo que a sua carinha seja de neném.

Sim, aquele lugar era perfeito. Ali Tina podia se sentir realmente ela mesma.

Por isso estava com um sorriso tão radiante no rosto enquanto colocava sua cuba libre na mesa e se levantava ao ouvir seu nome ser chamado. Era tarde de microfone aberto no bar e ali ela conseguia se sentir à vontade o suficiente para passar por cima da timidez e fazer algo que amava mais do qualquer outra coisa: cantar.

Depois de entregar um pen drive a um funcionário do bar e pedir para que ele colocasse a faixa número oito, ela se posicionou em frente ao microfone e deixou sua linda voz se libertar em uma versão lenta e acústica de I Kissed a Girl. Não era sua intenção, mas o ritmo deixou sua voz um tanto quanto sensual.

— This was never the way I planned, not my intention...

A atenção de muitas pessoas ali se desviaram de suas conversas e bebidas para focar na linda garota asiática com um piercing na sobrancelha, mexas azuis no cabelo e um sorriso tímido enfeitando o rosto.

Notando isso Tina aumentou um pouco mais o sorriso e cantou com mais confiança, mas quando a música já estava chegando em “No, I don’t even know your name” ela percebeu um rosto familiar na plateia: Santana Lopez, uma das líderes de torcida do William McKinley. Por um instante sua voz quase travou na garganta ao reconhecê-la, porém ver um sorriso nos lábios volumosos e naturalmente sexys dela lhe acalmou o bastante para terminar a música, mesmo que com o coração disparado.

Enquanto descia do palco um vendaval de dúvidas tomava conta de sua mente.

O que Santana Lopez estava fazendo no bar Fallen Angel’s Refuge? Ela exporia seu gosto por cantar para todo o McKinley? O que aquele sorriso dela queria dizer? O seu precioso refúgio estava comprometido agora? Será que ainda poderia volta ali?

Ao voltar para a mesa seu cuba libre já estava um pouco aguado pelo gelo ter derretido, mas ela bebeu mesmo assim, precisava disso para tentar esfriar a cabeça. Porém, antes mesmo que tivesse colocado o copo de volta na mesa, uma voz firme e confiante soou ao seu lado.

— Oi. Tem alguém sentado aqui? — era Santana Lopez em toda sua glória.

Tina queria muito soar com a mesma confiança que ela, mas seu estômago começou a dar cambalhotas dentro da barriga e tudo o que conseguiu foi gaguejar um humilde. — N-n-não.

— Então posso sentar com você? — Santana indagou sorrindo de canto, extremamente charmosa.

— Po-pode. — Tina retribuiu o sorriso, segurando o copo com mais força para impedir, ou ao menos tentar, que suas mãos começassem a tremer.

O sorriso da latina aumentou enquanto puxava uma cadeira para sentar de frente para a asiática. — A sua voz é simplesmente incrível. Eu sei que você já deve saber disso, mas mesmo assim eu precisava dizer.

Os músculos de Tina começaram a relaxar e de repente respirar normal não era mais um esforço tão grande. — Ah, obrigada. Gentileza sua.

— Não é não, é só a verdade. — disse olhando-a nos olhos.

Tina tentou não arregalar os olhos. Aquele jeito que Santana estava falando... Será que estava entendendo certo? Santana Lopez, A Santana Lopez, estava dando em cima dela?

— Se você diz, eu acredito. — Tina também tentou soar charmosa para ver se a garota lhe dava mais sinais de flerte. — Mas e você? Canta?

— Eu... Gostaria de tentar um dia, mas digamos que por enquanto eu sou mais da dança. — Santana confessou de um jeitinho tímido.

Foi nesse momento que Tina percebeu o que estava acontecendo.

Os jogadores de futebol americano e as líderes de torcidas eram bullys, mas não mexiam com todo mundo da escola. Seus focos eram mais o clube do coral e os gays afeminados, pois chamavam mais a atenção. Os meramente estranhos e góticos até eram alvos de uma ou outra piadinha pontual, mas na maior parte do tempo eram apenas invisíveis dentro das paredes do McKinley. Santana não fazia ideia de quem Tina era ou que estudavam na mesma escola.

— É mesmo? Que tipo de dança? — perguntou para testar se sua teoria estava certa.

Santana riu e coçou a nuca como se estivesse com vergonha. — Eu vou entender se uma garota tão estilosa como você quiser me julgar um pouquinho por isso, mas eu vou te pedir com carinho pra não rir. Eu sou líder de torcida.

Caramba! Ela não sabia mesmo!

— Jura? — Tina disse tentando não rir por conta da situação.

— Sim. Comecei por tradição de família, mas infelizmente acabei gostando da coisa. — Santana contou despretensiosamente sem saber que estava tirando sua máscara de rainha do McKinley bem na frente de uma de suas plebeias. — Tive que aposentar os braceletes de couro e os coturnos pra dar lugar ao casaco da equipe e um rabo de cavalo.

Um sorriso muito genuíno e involuntário se espalhou pelas bochechas de Tina, um elogio é sempre bom, mas ser chamada de “estilosa” por alguém para quem era invisível todos os dias no colégio tinha um gostinho diferente e especial.

— Olha, eu claramente adoro o estilo emo e gótico, mas tenho que admitir que adoraria te ver em uma daquelas sainhas de uniforme de líder de torcida.

Tina não sabia de onde tinha tirado coragem para dizer aquilo, ainda mais sem gaguejar, mas agora já estava feito. Para sua surpresa agora era cem por cento confirmado que Santana estava mesmo interessada, pois ela riu e manteve a conversa em tom de flerte.

Aquilo era surreal. Claro que Tina já tivera uma quedinha por Santana Lopez, afinal quem no McKinley não havia tido ao menos por um momento? Aquela garota exalava sensualidade por cada poro de seu corpo e tinha uma presença inexplicável que chamava a atenção de todos para ela sempre que entrava em qualquer recinto. Era como uma Deusa latina inalcançável que meros mortais como Tina Cohen-Chang podiam apenas admirar, então obviamente era melhor esquecer, pois não tinha chances.

Mas ali estavam elas flertando mutuamente em uma conversa que a latina começou.

Só aquela conversa já era surreal, mas a química entre as duas foi crescendo e crescendo e crescendo e de repente as garotas estavam no banheiro do bar, os braços de Tina envolviam o pescoço de Santana enquanto as mãos dela seguravam sua cintura com firmeza e suas bocas se buscavam como se tivessem uma sede insaciável uma da outra. Era um beijo que encaixava tão bem que ambas as garotas perderam a noção do tempo de tão imersas que estavam nele.

Porém, como tudo que é bom dura pouco, chegou a hora em que o celular de Tina tocou, interrompendo aquele momento tão gostoso. Eram seus pais querendo saber se ela ainda iria demorar porque já estavam preparando o jantar e não queriam que a comida esfriasse enquanto a esperavam para comer. Infelizmente teria que se despedir daquela boca latina deliciosa e ir para casa.

— Já tem mesmo que ir? — Santana perguntou fazendo um beicinho quando a asiática desligou o celular.

— Tenho, senão vou entrar numa fria em casa. — Tina respondeu rindo. — Mas essa tarde foi maravilhosa, eu não queria ter que ir tão rápido.

— Nem eu, mas já que é assim me passa seu número. — Santana pediu, deslizando os dedos pelo braço dela suavemente. — Assim a gente pode continuar se falando e, sei lá, talvez a gente possa se ver de novo. Se você quiser.

— Claro, com certeza. — Tina tentou não sorrir demais enquanto passava seu contato, mas falhou miseravelmente.

Santana tinha sentido uma conexão com aquela garota tão forte que parecia que elas já se conheciam, então só percebeu que não sabia o nome dela quando clicou em “salvar contato” e não soube como preencher o campo “nome”.

— Como você se chama mesmo? — perguntou, sentindo-se corar de leve.

— Tina. — a asiática respondeu sorrindo, só se tocando um segundo depois que estava fingindo que também não a conhecia, então retribuiu a pergunta. — E o seu nome qual é?

— An... — Santana hesitou um instante e disse. — Sannie. Pode me chamar de Sannie.

— Sannie. — Tina repetiu, se sentindo especial por conhecer um lado da grande Santana Lopez que era só dela e de mais ninguém. — Eu gostei de como soa. Tchau, Sannie.

— Tchau, Tina.

Santana decidiu dar um beijo de despedida na asiática, o que se mostrou uma ideia bem ruim já que levou alguns minutos até que as duas conseguissem parar, suas bocas tinham um encaixe gostoso demais para que elas quisessem se separar.

Chegando em casa Tina não tirava aquela latina da cabeça, mas felizmente não estava sozinha nessa. As duas passaram horas trocando mensagens e combinaram de se encontrar na semana seguinte para mais drinks e conversas no Fallen Angel’s Refuge, ou quem sabe algo mais.

Porém a segunda-feira logo chegou.

Tina entrou no William McKinley High School ainda com um sorriso bobo, feliz por como tinha sido seu fim de semana. Então viu Santana Lopez de longe, linda como sempre com o seu uniforme de líder de torcida, rindo e conversando com a galera popular.

Foi aí que Tina percebeu que se Sannie percebesse que as duas estudavam na mesma escola, que ter um relacionamento com ela poderia ameaçar sua imagem de líder perfeitinha de torcida, era bem provável que lhe desse um pé na bunda e fingisse que aquela tarde maravilhosa no Fallen Angel’s Refuge nunca aconteceu.

Ela não podia deixar isso acontecer.

Ela era invisível ali, mas agora precisava ser ainda mais. Estava disposta a não se deixar notar naqueles corredores, essa era sua nova missão. Não queria perder aquela garota incrível pelo status daquela maldita escola, então faria de tudo para manter o segredo.


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