Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 77
Futuro - Magia Ancestral




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O colar abriu... o colar abriu... Aquele era um misto de “enfim, finalmente, chegou o momento tão esperado, aconteceu e... o colar abriu” com “não, não, não... agora não, eu não quero que o colar abra, não ainda, não tão rápido não tão cedo” Shara mal havia se recuperado daquela crise que acabara de ter, ela certamente não queria passar por mais uma... ela estava perdendo Catie na enfermaria, e aquilo doía mais que o suficiente, e pensar ou imaginar que os dias para perder Antony poderiam estar se aproximando também, tornava tudo ainda mais difícil e isso misturado com toda a confusão sobre o colar estar abrindo justamente naquele momento, a assombravam.

—Deixe-me ver isso – ele pediu, com aquela voz grave, agora tão diferente da entonação usada anteriormente com ela ali, e a verdade era que aquela voz a fazia estremecer, não de medo, mas sim porque aquela era a voz usada por ele quando ela o conheceu pela primeira vez, não que tivesse havido uma apresentação formal, mas ela se lembrava de como se sentiu na sua presença aquele dia, aquela voz era emblemática, a voz do bruxo que ele foi para ela no passado, sempre tão cheio de enigmas e de significados e o bruxo que ele era de verdade, alguém com habilidades indiscutíveis, temido por muitos, já que ainda era sombrio em sua grande maioria das vezes, mas o mais importante de tudo era… de que esse bruxo era o seu pai, embora ainda fosse cedo ou apenas difícil de fazer tal associação, mas ele estava ali, sim… bem à sua frente agora e parecia verdadeiramente preocupado com ela e com toda aquela situação e isso a fazia se sentir especial de certa forma... afinal ele não era um bruxo qualquer, não… ele era Severo Snape, portanto era brilhante… sim esse tinha sido o termo usado por Elza ao se referir a ele para ela naquele dia, e Elza tinha razão sobre isso

—Shara – ele disse tentando captar sua atenção, mas havia tanto para processar, e ela o encarava confusa, ela ansiava por recomeços… e com ele sempre havia algo novo, agora havia o colar… como o colar havia aberto? ... Porque havia aberto com ele? E porque isso estava acontecendo naquele exato momento? ... Certo, talvez ela soubesse as respostas para todas aquelas perguntas... era óbvio até... sentimentos… afinal eles... haviam enfim evoluído algo juntos, eles tiveram o que ela chamaria de um tipo de reconciliação, naquele que entre todos poderia ser considerado o instante mais esperado e significativo da sua vida, e eram as motivações por trás desses sentimentos que esquentavam a cápsula, e aqueles eram bons sentimentos, talvez os melhores em meses… anos, sentimentos que vinham de uma estação de dor e de perda... mas que eram o aporte para um novo recomeço, quem sabe para ambos, e o colar certamente podia sentir tudo aquilo.

Shara o encarou mais uma vez, curiosamente aquele era o último perdão que faltava, o perdão dela para com ele, o perdão de filha… sim e ela fez, mesmo que não tenha dito em voz alta, mas ela havia entendido os motivos dele, todos eles, um por um... aquilo era honesto, e também comovente, principalmente porque do ponto de vista de quem forjou o colar inicialmente, Poseidon no caso, ele não havia obtido esse mesmo perdão, sendo que talvez... aquele fosse o único perdão que importasse no final, pelo menos para ele, mas ali estava Shara reescrevendo aquela história, já que aquilo a distinguia de Medusa, Medusa não havia conseguido perdoar, e não que Shara se considerasse melhor que ela ou coisa do tipo, não... Shara não acreditava nisso, pelo menos não dessa maneira, mas sim porque queria o destino pelo menos uma vez propor oportunidades de corrigir velhos erros do passado.

—Shara – ele a chamou agora de forma impaciente, ela estava completamente imersa naqueles pensamentos... quando algo lhe ocorreu... algo que ela sentiu, foi sutil... mas Shara sentiu, Elza... ela sabia, sim ela sabia... sobre aquilo que acabará de acontecer com o colar, mas como? Isso fez seu coração acelerar... ao se dar conta da gravidade que isso representava para ela, para ele, para todos os envolvidos – apenas me deixe ver isso – ele tentou uma última vez, se aquele fosse um dia qualquer em qualquer outra circunstância, ela certamente já teria sido azarada, tamanho foi o tempo que ela o deixou esperando por uma resposta ali, mas como ela poderia explicar aquilo?

—Eu… acho... que ela sabe… – Shara sussurrou aquela constatação, notando a expressão dele mudar instantaneamente ali, ele era muito bom nisso, mas não havia conseguido disfarçar, não dessa vez – Elza – Shara disse o nome dela - ela sabe sobre o colar - Shara não sabia dizer ou explicar como Elza poderia... mas sim Shara sentia, e ela sabia... e era ruim.

—Como pode ser isso? – ele perguntou surpreso.

—Não sei... eu... não sei... me desculpe - ela admitiu a confusão, tentando se esforçar para elaborar algo que pudesse fazer algum sentido - na minha cabeça, eu acho... é como se ela pudesse identificar coisas específicas aqui... Coisas sobre o colar – ele estava sério, muito sério agora, ela sequer sabia se estava fazendo algum sentido, talvez ele a achasse maluca.

—Já aconteceu antes? – ele perguntou com alguma urgência,

—Eu acho que sim, uma vez... foi recente, no campo de quadribol, aconteceu logo depois que eu acessei a memória sobre Noah, aquela que mencionei, foi ali que entendi as razões de por que tenho tanto medo de altura e de tempestade... eu me desafiei... eu não queria que uma circunstância do passado, algo imposto por Elza, determinasse quem eu sou hoje... não daquela forma, então não sei como, mas eu destravei algo no colar ali e pensando bem... era como se Elza pudesse saber sobre isso... quase como se o colar pudesse se reportar a ela e lhe prestasse contas sobre o que acontecia com ele…  Elza… ela pode mesmo fazer isso? – Shara perguntou assustada, e pela expressão dele, ela entendeu que sim… que ela poderia.

—O método não importa, desde que os objetivos sejam alcançados - ele disse, mais para ele mesmo – o colar... – ele encarou a peça e da forma como ele fazia, não era bom, Shara sentiu seu estômago revirar outra vez, se tinha uma coisa que ela havia aprendido, era que se um dia começava ruim, ele certamente poderia ser muito pior- Já ouviu falar de oclumência? – ele perguntou, aquele foi o termo usado pelo diretor naquele dia, quando eles haviam conversado sobre manter segredos e ele havia dito que o professor Snape... o seu pai no caso, ele era muito bom nisso, o melhor na verdade... e que foi assim que ele enganou Voldemort no passado e conseguiu proteger sua mãe, ela gesticulou positivamente com a cabeça – pois bem irá praticar… comigo – ele parecia mesmo preocupado - você precisa aprender a fechar sua mente, se sente que ela tem invadido, basicamente é isso que oclumência faz.

—Invadido? - sim isso estava mesmo piorando…. - eu não entendo… como ela pode invadir minha mente? É tão pessoal… - ela sussurrou, havia tanto ainda sobre aquele universo que ela não entendia.

—Conexões, são como pontes – ele explicou – no seu caso, existem algumas, isso pode ser alguma magia de sangue ou algo que as une como guardiãs… magia ancestral, enfim, existe um leque de possibilidades… no seu caso - ele explicou se levantando –  por hora deixe que eu cuide e lide com isso, já possui o bastante para um único dia - ela queria muito poder fazer isso, mas aquilo era sobre a sua mente, e se Elza pudesse manipular outras coisas ali? Shara se sentia apreensiva agora, aquela mulher havia enfeitiçado Noah… e o transformado num ser desprezível, e se ela fizesse algo parecido com ela, e se ela já fez? ela era capaz de qualquer coisa.

—Ela pode me enfeitiçar?  Assim como ela enfeitiçou Noah? - era uma preocupação pertinente agora – espera...  e se eu já estiver enfeitiçada… e se na verdade eu não sou como sou, e se…. eu virar uma pessoa desprezível também - certo ela não queria entrar em pânico, mas isso soava tão plausível ali.

—Não - ele segurou seu queixo da forma como sempre fazia - ela não fez… e também não vai acontecer - como ele podia afirmar algo assim? - A oclumência será para mantê-la aquém de qualquer informação daqui, já que isso nos traz uma certa desvantagem - ele explicou - mas existe a menor possibilidade de estar enfeitiçada, e muito menos de que será - ele parecia tão certo sobre isso, ele sempre parecia saber o que fazer - do contrário não faria sentido... tudo isso, afinal para quebrar a maldição, existem parâmetros e o mais importante deles são as motivações do coração, acho que pode se lembrar disso - sim ela podia - e isso não pode ser manipulado, não funcionaria se fosse e Elza sabe disso - fazia algum sentido agora e isso lhe trouxe um certo alívio - agora se me permitir, gostaria de avaliar o colar - ele pediu, ela o retirou com cuidado do pescoço, o entregando em suas mãos, aquele era o colar da sua mãe, uma relíquia de sua família, uma prova da sua ancestralidade, um colar de proteção, forjado por um Deus Grego, e sim isso tudo o tornava uma peça por si só valiosa, mas depois do que ele havia feito, sobre tê-lo enfeitiçado, e da conexão que o colar fazia com o anel que ele usava, fez com que tudo aquilo fosse tão pequeno, comparado ao valor que ele tinha agora para ela, o colar representava tanto e por um momento, talvez por puro egoísmo ela não queria se desfazer dele nunca mais.

O colar não parecia em nada diferente, a cápsula ainda intacta agora poderia ser dividida em duas partes distintas, era como abrir um vidro de poção qualquer, mas fechado, permaneceria lacrado, então ela ainda poderia usá-lo como um colar comum, Poseidon havia pensado em tudo e em todos os detalhes.

—Continue usando, não é frágil - ele disse devolvendo a peça para ela, ela assentiu... eles iriam sair.

—___

Sim ela tinha razão, o colar havia mesmo aberto, Severo podia ler o alívio momentâneo em suas feições se transformar em verdadeiro pânico, quem sabe ao se dar conta das implicação que aquilo sucedia, ou talvez de imaginar que Elza pudesse transitar em sua mente, ele segurou a peça em suas mãos e para aqueles de olhar mais refinado como o dele, era possível notar que aquela pequena cápsula rígida e inerte de antes, havia se transformado em algo parecido com um recipiente de armazenamento de poções usual, a mudança era muito sutil e apesar dessas novas circunstâncias, aquilo também não comprometeria o se uso, afinal enquanto estivesse fechado ele ainda se parecia com o mesmo colar de antes e ela parecia apreciar a ideia de não se desfazer dele, pelo menos por enquanto.

Eles estavam a caminho da enfermaria, ela o seguia em total e completo silêncio, ele não havia perdido nenhum movimento dela, ele sentia que deveria fazê-lo, ela precisava ser assistida de perto, embora ela o surpreendesse, em diversos sentidos, ela era incrivelmente forte, mas ainda assim, era apenas uma criança que havia sido negligenciada durante todos aqueles anos e que precisava assim como qualquer outra de um apoio seguro, para conseguir pelo menos de tempos em tempos buscar sustentação, do contrário ela desabaria, e agora ele estava lá e se sentia na obrigação de fornecer o apoio necessário, sendo assim, mais uma vez, ele se via fazendo algo guiado unicamente pelo seu coração, fato que o deixava desconfortável.

Ele teria uma audiência com Pomfrey, afinal não podia ser tão ruim assim dar um pouco de espaço para as garotas, Shara precisava daquilo, ela se sentia incumbida de repassar aquele recado, ela estava assumindo uma nova culpa ali, a culpa pela vida infeliz que a amiga havia tido, quando na o único culpado para tudo aquilo, desde o início era… Elza, ela que havia orquestrado tudo aquilo com maestria, ela que montou o cenário perfeito, posicionando todas peças, como fantoches e as manipulava tal qual queria, aquele era um espetáculo de horrores do começo ao fim... Elza também manipulava os sonhos da menina, usando ali o seu dom, mas muito perspicaz Elza havia deixado uma porta de acesso, criando alguma conexão entre elas, que ele suspeitava ser através do colar também, e essa poderia ser uma grande desvantagem para eles, mas Shara era esperta… muito esperta, ele nunca tinha visto uma criança, com tanta sensibilidade para aquilo, afinal apenas alguém muito habilidoso poderia perceber uma invasão em sua mente assim e ela percebia… e mesmo confusa ela podia descrever aquilo muito bem, sim ela era como ele, e sendo assim, ela dominaria oclumência com bastante facilidade. Ele parou a alguns metros da porta de entrada da enfermaria, a obrigando a fazer o mesmo.

—Como bem deve ter percebido, o humor de Pomfrey não está dos melhores hoje - ele não queria que Shara presenciasse mais um ataque de fúria dela, já que aquilo não ajudaria, pelo contrário contribuía apenas para que ela se sentisse ainda pior - portanto assumo daqui… espere aqui, e entre apenas quando for convocada - ele orientou.

—O que? … eu posso lidar com isso e…. talvez eu possa ajudá-lo a convencê-la…. Eu posso fazer…

—A única coisa que irá fazer, é aquilo que estou pedindo - ele a interrompeu.

—Mas…

—Sem mas… isso é algo simples, acredito que não haverá dificuldade em cumprir - por que ela tinha sempre que argumentar? Ele a encarou e ela recuou, acatando - assim está melhor - ele disse enquanto prosseguia a deixando aguardando do lado de fora, afinal seriam apenas alguns minutos.

—____

Shara estava com medo daquilo que viria a partir dali, ela não queria pensar que estava caminhando para uma espécie de despedida com a sua melhor amiga, ela não estava preparada para algo assim, ela não sabia se suportaria mais aquela dor, e pensar que aquele deveria ter sido um dia qualquer, maldito destino… por que tinha que ser assim? era ainda mais cruel pensar que no dia em que Catie havia perdido aquele que havia sido o seu pai um dia… Shara estava ganhando ainda que de forma desajustada o dela… ela nunca quis que fosse assim... não era justo. Shara precisava tanto de Catie, e ela faria qualquer coisa, qualquer coisa mesmo para salvar a amiga, mesmo sabendo que talvez, Catie a odiaria, já que era tudo culpa dela... mas não importava, nada importava, além da vida dela.

Shara estava esperando do lado de fora, apreensiva, ela tinha um recado importante para entregar, mas era loucura… tudo aquilo, era loucura... ela que achava que nunca conseguiria ser capaz de perdoar Noah por tudo que ele havia feito com ela no passado, compreendeu que na verdade era ela que precisava do perdão dele, ela arruinou aquela família. Shara ouviu o barulho de passos, alguém vinha apressado em sua direção, ela encarou a figura surpresa que fazia o mesmo.

—Por Merlin… você está viva - ela disse com certo alívio.

—Sim… mas você estava certa - Shara disse - sobre a sua mãe… sobre ela estar lá, sobre ela ser fria e sobre ela fazer qualquer coisa para conseguir o que quer - aquilo foi dito com muita dor, Carla a encarava, ela também havia optado em passar o feriado de natal na escola, elas não eram exatamente próximas e muito menos amigas, Shara nunca perguntou sobre os motivos dela em ficar.

—Eu avisei… - ela a analisava - eu disse que não deveria ir… eu alertei sobre o perigo - ela devolveu - qual o seu problema garota? - ela perguntou de forma arrogante.

—Bom talvez diferente de alguns aqui, eu tenha pessoas lá fora que se importam comigo de verdade e que valem o risco - Shara cuspiu, notando Carla recuar - ou talvez eu tinha… - ela corrigiu… olhando para a porta da enfermaria outra vez - me desculpe por isso Carla - Shara disse, ela não queria ofendê-la, não haviam motivos para isso- acontece que minha melhor amiga está morrendo ali dentro… e estou aqui para me despedir dela, então não espere que eu seja gentil ou compreensiva  - Shara teve que se esforçar para não começar a chorar ali mesmo.

—Foi ela não foi?... Foi minha mãe que fez isso? - ela pediu - foi ela que machucou sua sua amiga... ?

—Sim - Shara admitiu, vendo que aquilo a incomodava.

—Sinto muito - aquilo era demasiadamente estranho de se ouvir, Carla sentindo muito por algo ou alguém – o quão ruim é? - ela perguntou.

—Sua mãe usou Cruciatos… mais de uma vez, minha amiga tem apenas 16 anos e ela é trouxa… e bem, me parece que pode ser ainda pior em trouxas… então é bem ruim se quer mesmo saber - Shara disse de forma vazia – e certamente ela não vai sobreviver,  é o que todos tem me dito.

—A maldição da tortura - Carla disse se encostando na parede - é a preferida dela, dizem que para lançar essa maldição além de dizer as palavras, você precisa desejar muito, sentir prazer em ver o sofrimento do outro… e isso me torna como ela… eu sinto muito por aquele dia, pela cobra, eu achei que não iria funcionar, eu achei… que não poderia, mas funcionou, eu mal pude revidar quando você veio... A briga e tudo mais, eu… fui má, eu não deveria ter chamado meus pais... - Shara a encarou, aquela não era bem a conversa difícil que ela estava esperando ter, não com Carla… não ali - sinto pela sua amiga - ela disse mais uma vez.

—Bom de qualquer forma é minha culpa, eu deveria ter te ouvido - Shara sentiu uma lágrima descer pelo seu rosto - se eu tivesse feito, nada disso teria acontecido… ela estaria viva, pelo menos… - ela desabafou, não importando em demonstrar fragilidade na frente da loira - e eu faria qualquer coisa…. qualquer coisa para mudar tudo isso.

—Eu sei... vejo que se importa, eu também faria qualquer coisa... para não ser como ela… - Carla disse de forma triste - Não à toa que o cruciatus, seja um dos imperdoáveis, ouvi histórias terríveis sobre esse feitiço, de bruxos que enlouqueceram, minha mãe contou que os comensais que não cumprissem suas missões eram torturados assim, o professor Snape foi um deles - Carla disse baixinho, era por isso que ele parecia tão familiarizado com os efeitos colaterais daquilo - os danos são irreparáveis… quer dizer, sempre existe algo… magia negra por exemplo, minha mãe disse que existe um ritual, que pode reverter algo assim, desde que a pessoa ainda esteja viva é claro, mas tem um preço, é alto... você precisa vender a sua alma para algum demônio e viver para cumprir seus propósitos aqui na terra - Shara estremeceu ao ouvir aquilo, bem talvez ela não fizesse exatamente qualquer coisa... ela jamais faria algo assim, quem em sã consciência faria? - e tem também magia ancestral, dizem que por ser uma magia diferente da nossa, os poderes chegam a lugares onde a nossa magia não é capaz de chegar - aquilo chamou sua atenção – mas é raro e são boatos apenas.

—O que disse? - Shara perguntou a assustando, já que havia aumentado o tom de voz.

—Sobre vender a alma para o demônio? - ela pediu - É horrível você certamente não vai querer tentar algo assim….

—Não - Shara a cortou, sério que ela estava cogitando aquilo? - sobre magia ancestral…. - Carla a encarou desconfiada.

—Bom… magia ancestral é mais forte do que a magia bruxa… olha não sei muito sobre isso, afinal não é comum, como disse é raro, portanto, desconsidere, além de ser proibido é claro…

—Carla… escute - Shara sentiu seu coração acelerar, havia uma esperança então? - como magia ancestral ajuda nesse caso? Preciso que me diga...

—Eu não sei… Shara não se ouve falar disso a anos… - ela informou usando seu primeiro nome com facilidade ali – olha, desculpe se te dei alguma esperança nesse sentido… sinto muito, mas é impossível.

—Acontece que não é impossível - ela se viu dizendo, enquanto via a expressão no rosto da garota loira mudar - não para mim.

—É verdade então? - ela perguntou - você é mesmo aquilo que minha mãe acha que você é, não é? - ela a encarava assustada - uma guardiã, descendente de Medusa, aquela da lenda... - ela completou, não restava qualquer dúvida para Shara o quanto a mãe de Carla sabia sobre ela agora, principalmente depois do que havia ocorrido essa manhã no lar… então era apenas questão de tempo para que aquilo se espalhasse, e chegasse até a loira a sua frente, e Shara não se importava desde que pudesse usar aquilo para salvar a amiga.

—Sim… - ela admitiu - eu possou magia ancestral, tal como possuo objetos que também a possuem… o colar por exemplo - ela disse o deixando à mostra - e como disse, eu faria qualquer coisa para salvar minha amiga e se isso significa que estarei me colocando em perigo, ao admitir a verdade para você, sim é isso que estou fazendo… agora… eu sou uma guardiã - ela disse convicta - entendo que não queira ser como sua mãe, e honestamente não acho que você seja… mas então… me ajude a reverter isso… por favor o que eu preciso fazer? - ela pediu, quase suplicando… diga que eu farei… e a última coisa que Shara viu ali foi o olhar de surpresa da garota, quando...

“Era um dia bonito, de sol e ali estava… era ela, tão pequenininha… e não só ela, mas também a sua mãe… Shara paralisou, ao se dar conta do que estava mesmo vendo ali, elas estavam sentadas no jardim, sobre uma toalha florida que se espalhava pelo chão, e a sua versão bebe estava entretida, brincando despretensiosamente com uma borboleta, tentando alcançá-la, essa era a primeira vez que Shara estava vendo sua mãe, isso era tão…. Precioso e por um momento Shara poderia congelar aquela visão apenas naquele pequeno instante... então aquela era ela, a sua mãe... aquele era o rosto que ela tanto desejava conhecer, mas ela parecia tão triste... e Shara sentiu um desejo tão grande de abraçá-la, ela se ajoelhou próximo dela, mas não havia como tocar... aquilo simplesmente não funcionaria "mãe… você é tão bonita" ela sussurrou ao limpar uma lagrima, ela sentiu um aperto no peito, aquilo era algo parecido com saudades, saudades dela, saudades daquela que parecia ter sido sua casa na infância, aquele jardim…. Shara quase podia se lembrar da sensação que era estar ali… Shara sentiu outras lágrimas descerem pelo seu rosto, quando ela notou que elas não estavam sozinhas… ali estava também a bruxa que Shara mais odiava em toda a sua vida… Elza…

—Se eu escrevesse para Severo? – sua mãe havia perguntado para ela – ele não vai entender de início, talvez fique bravo comigo... mas não me importo, ela é a filha dele, quem sabe ele possa ficar com ela... são algumas semanas... – Não tinha como não sentir o impacto daquelas palavras, sendo ditas pela sua mãe... por que ela não escreveu antes? Por que a carta só havia chego tão tarde...

—Severo Snape está sendo investigado e julgado pelos seus envolvimentos e crimes como comensal da morte, querida acha mesmo que esse seja o momento certo para isso? – Elza disse - deixe que o futuro se encarregará desse elo – por hora, é assim que as coisas devem ser – Shara encarou aquela bruxa manipuladora, ela não pode evitar de pensar como as coisas teriam sido se sua mãe tivesse seguido o seu coração.

—Está certa Elza, as vezes me esqueço de que pode prever isso – sua mãe disse – o futuro... é tão incerto – Shara sentiu vontade de gritar, não era incerto, não quando aquela velha bruxa tinha tantas cartas na manga, ela havia planejado tudo... e seria terrível, Shara olhou para a sua versão mais nova, ela era um bebe ali, tão pequeno, ela ainda passaria por tanto, Shara fechou os olhos quando Elza havia engatado um assunto sobre desconfiar de Antony enquanto entregava o colar para sua mãe outra vez, então Elza estava com o colar, aquilo era curioso, e ela estava contando fatos do colar, que Shara conhecia muito bem, mas sua mãe aparentemente não...

—E se não funcionar? - sua mãe perguntou depois de um tempo, ela estava chorando.

—É magia ancestral, sempre funciona - Elza disse – Maeva, vai precisar ser realista, eles precisam ver e acreditar que morreu... – Como assim? O que ela iria fazer, Shara sentiu outro aperto no peito, já que sua mãe segurava aquela mesma adaga que Elza havia enviado para ela na escola outro dia... a adaga usada por Medusa... isso significava? Shara também chorou, ela sabia bem o que significava - eu ficarei à espreita, levarei seu corpo, ainda estará viva já que a adaga está encantada para retardar o efeito da morte, e então usarei a magia para traze-la de volta, como sabemos a adaga foi moldada por um dos Deuses, portanto também possui a magia, temos tudo que precisamos, minhas mãos, uma intenção verdadeira e um objeto catalisador, você viverá... claro levará algumas semanas até estar novamente recuperada, mas estará e é isso que importa, então buscaremos Shara, vai dar tudo certo – ela estava mentido para sua mãe, Shara estava com tanto ódio ali... espera... então era isso, magia ancestral funcionaria, Carla estava certa... e Elza havia acabado de explicar o que ela precisava fazer para trazer Catie de volta... Shara tinha a magia, tinha um objeto com magia que era o colar e obviamente suas intenções diferentes das dela era sim verdadeiras, era só isso?

—Espere Elza... falta uma coisa, a magia ancestral precisa fluir através de algo que seja importante e especial para mim, como fará isso? – ela perguntou – como chamará minha atenção naquele estado?

—Sim sensações... precisamos de algo que desperte sua mente, e nesse caso pensei em usar Antony – Elza explicou com facilidade – você se apegou muito a ele nesses últimos meses, e mesmo que eu não confie nele totalmente, vou usar a voz dele... – Sua mãe havia sorrido com tristeza.

—Lamento que Antony tenha que ver isso, mas sim você pensou em tudo Elza a voz dele certamente irá funcionar, eu entendo sua preocupação com ele, mas eu o amo e isso basta – ela disse com tanta dor... se a voz de Antony seria a sensação para que sua mãe fosse tocada... então com Catie, sim... Shara podia usar a música, Catie amava ouvi-la cantar... Shara sabia o que precisava fazer... ela só tinha que fazer agora... ela precisava voltar... mas foi então que algo estranho aconteceu... enquanto as imagens daquela memória se dissipavam, e ela podia ver o rosto da sua mãe sumir aos poucos, uma porta começou a se formar na sua frente, isso nunca havia acontecido antes em visão alguma, era assim que se saia? Shara correu até a porta e sem sequer pensar sobre, Shara a abriu entrando nela..., mas ela não havia voltado, não ainda, agora haviam outras portas ali, eram portas de todos os tipos... o que aquilo significava? Shara se sentiu atraída por uma porta em especifico, era uma porta velha, quase em ruinas, com caixilhos enferrujados, então ela entrou nela ao invés de escolher qualquer outra... aquele ambiente por trás da porta escolhida se parecia com um quarto, um quarto pequeno, havia uma cadeira no centro onde Elza estava sentada, ela a encarou assustada... e Shara sentiu sua pele arrepiar, não havia mais ninguém ali, apenas as duas... aquilo parecia tão real... espera, aquilo era mesmo real?

—Você... como?... isso... não é possível — Elza disse, e Shara entendeu, aquela não era uma lembrança do seu passado, não, ela estava enganada sobre isso... aquelas eram sim lembranças, mas não dela, eram de Elza, o professor Snape havia comentado sobre Elza ter criado uma conexão, uma ponte onde ela poderia atravessar e acessar a sua mente, mas a ponte tinha duas vias, se Elza podia ir e entrar, Shara também poderia... Shara entendeu, ela havia acessado a mente de Elza, e aquela era a segunda vez, a primeira foi no campo de quadribol, era obvio agora... porém dessa vez Shara havia conseguido ir mais longe, ao entrar naquela porta, Shara estava explorando as camadas da mente dela... ainda haviam tantas outras portas ali, mas aquela estava em ruinas... Shara havia alcançado Elza, e ela podia sentir aquilo agora, assim como Shara sentiu... e o melhor Shara podia sentir aquilo que ela estava sentindo e Elza estava com medo dela... Shara olhou para a velha senhora que a encarava assustada – quem é você? – ela perguntou acuada – isso é impossível – ela repetiu.

—Desculpe, achei que dispensava apresentações – Shara sorriu com malicia, ao responde-la da mesma maneira que ela havia feito naquele dia na sala do diretor – permita então, que eu me apresente adequadamente, eu sou Shara... Shara Lowell Snape, e eu sou... o futuro... o futuro que você não viu... – a velha se levantou derrubando a cadeira, a expressão no rosto dela era impagável, mas alguém a estava chamando, Shara sabia que precisava voltar agora... havia Catie, e ela tinha algo para fazer, ela precisava salvar a amiga – uma pena não poder ficar mais dessa vez – Shara fez menção em se aproximar, a bruxa recuou, aquilo era interessante – mas tenho certeza que vamos nos ver em breve – Shara sorriu novamente, enquanto a imagem se dissipou completamente na sua frente.

Ela abriu os olhos, estava deitada na enfermaria, aquele teto era muito mais que familiar.

—Ela acordou – Shara ouviu a voz de Antony, e ele parecia aflito.

—Santo Merlim – Era Pomfrey – desse jeito pode antecipar minha aposentadoria Alvo - ela disse, e ela estava segurando seu pulso a analisando preocupada, espera o diretor estava ali? Shara se sentou... sim o diretor, bem como a professora Mcgonagall e também o seu pai... quer dizer o professor Snape, como ela havia parado ali? Quanto tempo ela estava ali? Ela nunca havia desmaiado antes numa lembrança... Mas aquilo não era mesmo uma lembrança qualquer.

—Te deixo sozinha por 10 meros minutos – o professor Snape disse, soava bravo, muito bravo... mas isso respondia sua pergunta e lhe trazia um certo alivio, já que ela não tinha tempo a perder – e te encontro sem nenhum sentido… como explica algo assim? – ele perguntou.

—Me desculpe… eu... mas… eu… sei o que fazer – ela disse, ela precisava agir - Antony… você ainda possui aquela flauta, aquela que eu te dei naquele dia na sala precisa? – ela perguntou, ela precisava salvar Catie... ela precisava de um instrumento qualquer que fosse, precisava de um objeto... ela levou a mão no peito, o colar também estava ali.

—É... sim – ele a olhou confusa – Shara você está bem?

—Preciso de música, Catie gosta quando eu canto – ela disse com bastante urgência.

—O que pensa estar fazendo? - o professor perguntou, o que? Como assim?

—Eu… vou salvar minha amiga – Ela explicou.

—Criança – o diretor se aproximou dela – tenho a certeza de que Pomfrey já fez tudo que estava ao seu alcance, mas infelizmente não existe nada a ser feito... eu sinto muito – ele parecia triste, a professora de transfiguração acenou gentilmente com a cabeça.

—Espera… - Shara congelou – isso quer dizer, que ela morreu? – ela perguntou de forma direta... sentindo seu coração disparar, ela jamais se perdoaria... justo agora, que havia uma esperança.

—Não… – o professor Snape disse – mas o que o diretor está tentando dizer é que o estado dela...

—Por mais ruim que seja, se ela estiver viva... então ainda há uma esperança – Shara o interrompeu – Antony vou precisar da flauta – ela disse enquanto saltava da maca, e encarava a maca da amiga.

—Flauta? – ele pediu, era visível a confusão, qual era o problema dele? Qual era o problema de todos?

—FLAUTA – ela disse um pouco exaltada - um instrumento musical Antony... – ela notou o olhar desesperado dele para o seu pai... quer dizer para o professor Snape, que suspirou apenas...

—Escutem, eu não estou louca... eu sei, existe um meio... algo que pode ser feito... – ela tentou - eu vi isso…

—Não existe – foi a vez de Pomfrey – como o diretor disse, fui até onde pude... Shara eu realmente lamento por você, mas sua amiga ela não irá resistir... Já era o esperado, e me surpreende o fato dela ainda estar aqui conosco, mas pode ser questão de minutos apenas – doía ouvir aquilo, mas ao que dependesse dela, eles estavam, todos enganados... e ela disse minutos? Shara não tinha tempo a perder.

—NÃO! existe algo... – Shara foi direta - magia ancestral – ela disse, vendo Pomfrey recuar – Pois bem, eu tenho magia ancestral, e é isso que vai traze-la de volta, eu tenho um objeto que também possui a mesma magia para ser o catalisador entre mim e ela – ela mostrou o colar... - eu possuo intenções verdadeiras - ela apontou para o coração - bem isso o colar pode falar melhor do que eu, já que ele abriu, a algumas horas atrás – ela viu o semblante do professor mudar, ela não se importava se aquilo podia ou não ser dito daquela maneira, e o diretor parecia mesmo chocado, Antony então… ainda mais – bem… eu sei que é chocante sobre o colar… mas eu estou ficando sem tempo, e preciso da música para me conectar com a mente dela... ela amava me ouvir cantar – ela disse e todos pareciam verdadeiramente perplexos ali – eu sou a única que posso fazer isso, mas precisa ser agora, afinal existe solução para tudo não é mesmo?... menos para a morte – ela disse parafraseando algo que o professor Snape havia dito para ela logo nos primeiros dias ali, ele havia entendido a referência.

—Shara – o diretor chamou sua atenção - quem te disse isso? sobre a magia ancestral – ele perguntou impressionado – me permita dizer que isso é algo que até mesmo eu... desconheço, já ouvi rumores... nada concreto, mas você acaba de descrever uma experiencia transcendental que pode dar certo.

—Vai dar – ela tinha certeza - não que alguém tenha me dito exatamente, mas foi assim que Elza convenceu a minha mãe a fazer o que, ela fez no passado, sim... bem... é meio complicado sobre isso – ela baixou os olhos, ela não queria expor sua mãe daquela forma -  eu acessei uma memória especifica, foi assim que desmaiei acredito, mas... Elza, ela havia prometido salva-la usando sua magia ancestral – Shara levantou as mãos as encarando – nós guardiãs possuímos magia ancestral – ela disse, afinal todos ali sabiam sua condição, ela notou o olhar de pura tristeza da professora de transfiguração, Shara sabia que ela e sua mãe haviam sido amigas no passado - minha mãe não me parecia ignorante sobre esse assunto e ela confiou nela... ela não era ingênua, não assim – apesar de ter sido ingênua ao confiar em  Elza, Shara pensou - e isso me faz acreditar que funcione de verdade – ela notou a troca de olhares entre Antony e o professor Snape, eles já sabiam sobre o que tinha acontecido com sua mãe? Certamente sim...

—Eu tenho um violão se preferir – Antony ofereceu.

—Um violão... seria perfeito – ela respondeu animada, era ainda melhor, já que aquele era um som do qual Catie estaria mais familiarizada.

—Espera... – o professor interveio – Alvo – ele olhou para o diretor – o quanto isso é viável... e seguro? – ele perguntou parecendo preocupado – acha mesmo... que pode funcionar? – ela entendeu a preocupação e principalmente o fato de que ele não queria que ela se frustrasse.

—Alvo... eu apenas não acho adequado – Pomfrey também recorreu ao diretor – e se Shara se machucar, esse tipo de magia não à toa é banido...

—Preconceito – Shara devolveu – as pessoas tem resistência e dificuldade em aceitar as diferenças – A professora Minerva sorriu para ela.

—Pois do meu ponto de vista – e aquela era a primeira vez que ela havia se manifestado ali - Shara deve tentar, afinal nunca desistimos daqueles a quem amamos – ela disse a encarando – eu mesma, faria o mesmo pela sua mãe, se tivesse tido a oportunidade - Shara a agradeceu com o olhar, emocionada... Antony se retirou sem esperar uma aprovação... ele havia ido buscar o violão.

—Estou de acordo – o diretor disse, e Shara soltou o ar aliviada, ela se aproximou, se sentando na maca da amiga, Catie parecia apenas estar dormindo ali, Shara acariciou o rosto dela – eu vou te trazer de volta, eu prometo – ela sussurrou, Antony estava voltando, afinal o quarto era logo ali, era curioso que ele tivesse um instrumento como aquele, ele o estendeu para ela.

—Ah Antony, poderia tocar pra mim? – ela pediu – vou estar com as mãos ocupadas – ela disse, sabendo bem o que precisava fazer.

—Shara, tem meu consentimento... contudo não liberar a magia... – o diretor a estava lembrando da gravidade que era externar sua magia ainda sem controle, mas ali seria diferente, sim a magia ancestral iria fluir pelas suas mãos, mas ela estaria segurando o colar que estaria enrolado entre a sua e a mão da amiga e o colar iria servir como catalisador entre elas, recebendo a magia dela e a filtrando  a transferindo para o corpo da amiga, fazendo ali os reparos que fossem necessários, isso com as motivações corretas do coração, já a música, seria crucial para captar sua mente, assim como a voz do seu pai... quer dizer do professor Snape havia sido daquela vez em que ela esteve em coma ali... Shara se deu conta de que... desde aquela época a voz dele, era para ela uma fonte de vida...  ele havia se aproximado, ela podia sentir que ele não estava à vontade com aquele arranjo.

—Está mesmo certa disso? – ele perguntou, ela assentiu – Não quero que se fruste, caso não aconteça conforme o esperado...– ele era racional, ela não podia julga-lo afinal ela sentia medo também.

—Vai dar certo...– ela disse sentindo as lagrimas descerem pelo seu rosto.

—Apenas não se culpe, se não acontecer – ele pediu, enquanto limpava seu rosto com um lenço, seria difícil não se culpar... ela tirou o colar do pescoço, o enrolando em seu pulso enquanto segurava com cuidado a mão da amiga... ela orientou Antony sobre a melodia, Shara havia escolhido a música preferida da amiga, Shara fechou os olhos... sentindo a música… e sua própria mente colaborou, trazendo para a superfície bons momentos entre as duas…

“Catie estava correndo atrás dela pela casa, enquanto tentava alcança-la para colocar o seu pijama... Catie rindo enquanto elas assistiam um filme juntas, Catie subindo no sótão e se deitando ao seu lado para ver a lua, e contar as estrelas, Catie entrando debaixo da coberta naquele dia de tempestade e chuvoso, Catie vibrando com ela quando ela havia perdido seu primeiro dente de leite, preso numa maçã... Catie corrigindo suas tarefas, ela indo prestigiar sua apresentação no festival de canção da escola… erguendo um cartaz para incentivá-la, o presente que Catie havia dado no aniversário do ano passado... a forma como ela a olhou essa manhã”

Eram tantas memórias... Catie havia sido a única pessoa que se importou com ela naquele passado sombrio, ela merecia viver, ser livre, Catie amava ler romances e ela merecia viver um bem lindo, merecia uma casa com crianças... merecia a profissão que ela tanto almejava, merecia envelhecer feliz... Shara começou a cantar... agora não havia mais pressa ali, ela podia sentir a magia fluir pelo seu corpo e sair pelas suas mãos, aquilo era completamente diferente de tudo que ela já havia sentido antes... ela não queria abrir os olhos, talvez por medo de ver que não havia funcionado, e isso a fez cantar com ainda mais intensidade, ela pouco se importava com os ouvintes, ela estava determinada em fazer aquilo dar certo.

—Shara – e ela estava tão focada ali, que ela quase podia ouvir a voz de Catie a chamando, um sussurro – Shara... eu adoro essa música – ela havia dito, sim justamente por isso que Shara havia escolhido... espera, ela abriu os olhos... Catie permanecia deitada, mas a olhava de forma curiosa, Antony parou de tocar, ele estava chorando... Madame Pomfrey foi a primeira a se aproximar da cama.

—Impossível – ela disse... levando as duas mãos a boca, a professora Minerva estava enxugando o rosto... ela sentiu a mão do professor repousar em suas costas... já o diretor estava visivelmente impactado, estava feito e havia dado certo.

—Catie – Shara disse... pulando em cima da amiga – eu achei... por um momento que ia mesmo te perder... eu achei que você me abandonaria... eu tive tanto medo – ela chorou enquanto a abraçava com força.

—Está me sufocando – Catie sorriu e dessa vez ela sorriu da forma certa... sim a sua Catie estava de volta, Shara a soltou, Madame Pomfrey aproveitou a deixa para bani-la a movendo de cima da maca, enquanto aplicava ali alguns feitiços de diagnóstico, já o professor a arrastou, liberando espaço ali para Pomfrey e Antony trabalharem.

— Fascinante – o diretor disse – verdadeiramente fascinante, nunca vi nada assim... penso que o fato de o colar ter aberto mais cedo, tenha potencializado ainda mais aquilo que vimos aqui, interessante… quem sabe quisesse o destino – ele a encarou – que fosse assim - Shara refletiu sobre aquilo, poderia fazer algum sentido? E sobre o colar… era isso que Elza buscava?... Poder? uma magia ainda mais forte?

—Eu posso acessar a mente dela – Shara informou – a mente de Elza... foi o que fiz... foi assim que acessei a memória que continha as informações exatas daquilo que precisava ser feito aqui – o professor Snape a encarou incrédulo – e eu já fiz isso antes, apenas não sabia o que era… aquele dia no campo de quadribol a memória de Noah… era dela e não minha – ela olhou para ele, eles haviam falado a respeito  mais cedo.

—Apenas um legilimente muito habilidoso consegue acessar memórias de alguém dessa maneira – ele informou – memórias especificas, isso requer treino, exige preparo... é impossível... já que a mente humana é bastante complexa...  Sendo composta por camadas, diversas delas – ele explicou e ele soava tão professor ali...

—Essas camadas, elas podem ser representadas por portas? – ela perguntou, vendo o diretor sorrir abertamente para ela.

—De fato – o professor se limitou em dizer, sim ela o havia surpreendido mais uma vez.

—Eu vi as portas... eram muitas, de diversas formas, mas uma delas me chamou a atenção... então eu fui até ela, e entrei... a porta estava em ruinas – todos estavam prestando atenção agora – Elza estava lá, sentada em uma cadeira, e ela foi pega de surpresa ao me ver entrar... ela também achava ser impossível, já que repetiu isso algumas vezes, mas o melhor... eu pude sentir o que ela estava sentindo, e ela estava com medo, medo de mim... então eu a enfrentei, e a vi recuar – o professor Snape parecia verdadeiramente horrorizado – certamente eu não sou uma legilimente habilidosa – ela sorriu ao dizer aquilo – mas ainda assim eu fiz - Shara estava tão aliviada agora, Catie estava bem... e o melhor a sua amiga estava em Hogwarts, elas passariam pelo menos alguns dias juntas... sim ela podia sorrir agora – talvez seja ela, Elza que esteja em desvantagem e não nós - Shara concluiu.

—Não deveria provocá-la dessa forma - ele a corrigiu - está se arriscando, não permitirei que faça mais isso…. E independente de suas habilidades ainda irá precisar aprender a fechar sua mente – ele informou - e então poderemos afirmar que ela está em desvantagem.

—O professor Snape está certo criança, isso é muito importante assim como é perigoso – o diretor disse – ele é um legilimente e também oclumente habilidoso – o diretor provocou - quem sabe poderá aprender algo útil com ele - o diretor piscou para ela.

—De qualquer maneira, você é muito corajosa – a professora Minerva disse, olhando para ela - teria se saído muito bem na Grifinoria - ela riu, e Shara não pode deixar de notar o olhar hostil que o professor lançou para ela ali, ela ignorou.

—Sonserinos também podem ser muito corajosos, a sua maneira é claro - ela disse sem graça, porém pensando nele e em tudo que ele havia feito e sofrido no passado - a minha referência de bruxo corajoso, por exemplo...  é alguém da minha casa… – ela disse passando os olhos sobre o seu pai, quer dizer sobre o professor Snape... por Merlin, desde quando ela se confundia dessa forma? ela já tinha trocado as referências algumas vezes ali, como isso poderia estar acontecendo de forma tão espontânea e rápida? Ela tentou ignorar – talvez esse negócio de coragem seja de genética – ele arqueou uma sobrancelha, ele havia entendido o que ela estava tentando dizer ali… Shara se virou para encarar a amiga, mas Catie estava...

—Dormindo – Madame Pomfrey disse notando sua confusão – eu a mediquei, sua amiga vai precisar de repouso, levará dias agora, talvez semanas para que ela se recupere adequadamente, mas o mais importante aqui, é que ela não corre mais nenhum perigo... - Shara suspirou aliviada, não era o melhor arranjo, mas ainda assim era uma culpa a menos para carregar - peço perdão querida por hoje, acredite esse foi um dia bastante desafiador... – ela disse massageando as têmporas, Shara podia entender isso, ela assentiu.

—Bom se me dão licença – Minerva disse – Ah Shara não se esqueça de dar notícias a srta. Diaz, ela parecia bastante preocupada quando foi expulsa pelo professor Snape da enfermaria mais cedo – a professora lançou um olhar de reprovação para ele, sim era estranho, mas algumas coisas estavam mesmo mudando, e Shara teria muito que agradecer à loira, afinal sem ela nada daquilo teria sido possível.

—E amanhã é Natal, meu feriado favorito - o diretor disse animado - mal posso esperar pelos doces - ele piscou para ela enquanto se retirava… Natal… Shara nunca gostou daquele feriado, o natal sempre a fazia lembrar do quão sozinha ela era enquanto via as famílias se reunirem e passarem tempo juntos, mas esse ano apesar de tudo que a afligia, ainda assim e de alguma forma era diferente…

—Não ficará sozinha - aquela voz grave interrompeu seus pensamentos - não depois de tudo que aconteceu, nesse dia nada convencional, e do que a presenciei fazer - ele se referia ao episódio da crise - não deve e não ficará sozinha… - ele não estava falando do natal ali, talvez ele não se importasse com datas comemorativas, e por que ela estava criando alguma expectativa nesse sentido?

—Estou bem - não era uma mentira, mas certamente se machucar seria algo que ela não faria… Catie estava ali agora e ela precisava ficar bem pela amiga - não se preocupe, eu posso…

—Ouviu o que o diretor disse… - ele se posicionou na frente dela a encarando com seriedade, isso seria sobre?... aprender oclumência? Ela não sabia - sendo assim prefiro mantê-la por perto, para monitorar a quantidade de doces que irá ingerir, inadmissível e completamente inapropriado a quantidade ofertada pela escola nesse dia - ele reformulou, havia um sorriso de canto, aquilo era ironia? … ele queria mesmo passar o natal com ela? Ele apenas não sabia como dizer… parecia que sim.

—Ah eu realmente posso ficar bem descontrolada comendo doces, é… bem pertinente essa… sua… preocupação - ela disse entrando no jogo dele.

—De fato... - ele cruzou os braços, ele era bom em atuar, o melhor, ela sorriu... Ele gesticulou com a cabeça para que ela fosse na frente, sim aquele seria mesmo um natal diferente.


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Notas finais do capítulo

Então o colar abriu :)
Esse capitulo revela que existe uma conexão mental, entre Shara e Elza... algo do passado, algo que Elza plantou ali, afinal ela ficou um tempo com o colar (meses)... e ficou um tempo a sós com a menina (algumas horas) e ela sabia bem o que estava fazendo, em todos os aspectos.
Isso explica a visão no campo de quadribol... que na verdade é uma lembrança, e que não é de Shara, como ela mesmo achou que era e sim de Elza... Shara além de esperta é muito sensível ao ponto de perceber que alguém estava invadindo sua mente, sabe-se lá a quanto tempo né... mas com esse negocio do colar, Elza deve estar monitorando mais de perto agora e era assim que ela sabia o que estava acontecendo com Shara, como vimos nos capítulos anteriores.

Mas parece que o jogo virou não é mesmo? hahaha se Elza criou a ponte, e ela vem... Shara também vai... e me parece que Elza não contava com isso... mas ela não é apenas filha de Maeva né, ela é filha de Severo Snape... quem não surtou quando Shara disse... "eu sou Shara Lowell Snape, e eu sou... o futuro... o futuro que você não viu..." por que choras Elza? hahaha mas esse futuro tá diferente... E daí o medo.

A conversa de Shara com Carla resultou num dos momentos mais emocionantes até aqui...
Shara salvando a amiga, foi emocionante! Tocante... o amor de uma amizade verdadeira :)

E agora Catie terá que ficar por Hogwarts, já que esta sendo procurada pela justiça trouxa... coitada :( coisa que Shara nem sonha ainda.

E descobrimos assim... como magia ancestral funciona e nesse sentido revelo também como Elza havia convencido Maeva sobre o plano, que tinha tudo pra dar certo... mas... Enfim, a lembrança que Shara viu é uma continuação da mesma que Severo viu com Antony.

Temos uma família se formando
Shara já não consegue evitar, afinal mentalmente ela já o chama de pai, como vimos hahaha foi rápido, foi... Mas Shara já tava rendida a muito tempo, muito antes de descobrir a verdade sobre ele.

E viva ao natal... O professor Snape chamando ela por causa dos doces né... aham.... hahaha esse será um natal inesquecível acreditem!



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