Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 52
Futuro - Mudanças Parte II


Notas iniciais do capítulo

Vamos a parte racional... Tão importante quanto a emocional ☺️
Afinal explicações se fazem necessárias.



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—Impressionante - o diretor disse, chamando a atenção de todos – verdadeiramente impressionante minha querida criança, isso tudo... – ele disse gesticulando para o cenário a sua volta e parando na frente de Antony enquanto sorria para ele – e o que acaba de fazer, é apenas mais uma prova de que tudo, absolutamente tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todos os propósitos – ele piscou para ela, Shara ele notou havia parado de tocar, prestando atenção em cada palavra dita ali – eu já vi muita coisa na minha trajetória, muita coisa ruim e muita coisa boa, já vi todo tipo de magia das trevas e todo tipo de magia da luz, mas como essa...- ele olhou para o colar que ela ainda segurava – eu nunca tinha visto antes – ele fez uma pausa parecendo pensar em algo – Shara, você destravou a magia durante dois episódios distintos no dia de hoje, o que me faz pensar que tenha entendido como ela funciona – ela assentiu – Muito bem - o diretor parecia radiante - eu confesso que adoraria ouvir sobre isso - ele pediu de forma afetuosa, indo direto ao ponto de interesse ali, Severo, sabia que poderia confiar sua vida a Alvo Dumbledore, sim, mas por vezes suas motivações podiam ser questionáveis, e ali estava algo que o fez acender um sinal de alerta. 

—Eu o vi - Shara respondeu - Poseidon - Ela informou se levantando do chão - bem eu o vi com o colar, eu vi como ele o fez, vi quando ele fechou e lacrou o pingente com um sopro – Alvo estava atento a cada detalhe – ele não disse, mas me ocorreu que esse material, o material usado para fazer o pingente, ele é na verdade água – tanto ele como o diretor se olharam ali, não podia ser tão simples, podia? - bom faz algum sentido não? Já que ele é o Deus dos mares e isso seria algo bastante prático e provável – ela deu de ombros – O que me pareceu, foi que ele congelou a água ao soprar sobre ela, a mantendo nesse estado sólido e indestrutível por todos esses milhares anos, usando quem sabe algum tipo de magia especial, já que ele era um Deus, o que pode ter dificultado na identificação do material em si - ela tentou explicar, parecendo entender a dúvida que lhe ocorria, enquanto olhava para o colar, é claro que todos os olhos estavam sobre ela ali, inclusive os de Madame Pomfrey, que não parecia em nada surpresa com toda aquela história, bem pelo contrário, certamente Antony e sua predisposição em abrir a boca, e zero vocação em manter segredos já teria se dado ao trabalho de deixa-la ciente de todos os acontecimentos de sua vida, Severo podia entender Maeva, ele era um perigo.

—Isso faz sentido - Antony disse se recompondo, enquanto também se levantava – sim, isso é algo que ele faria Shara, deixar a sua marca em algo feito por ele, já que ele se deu ao trabalho de faze-lo para presentear Crisa com isso, presentear a minha filha… - ele bufou irritado – e bem, ele gostava de se exibir com seus poderes especiais e coisa e tal - ele disse desdenhando, Shara riu daquele comentário.

—Bom não foi exatamente um presente para ela Antony - Shara o corrigiu, ainda de forma divertida - na verdade ele fez o colar, como uma forma de amenizar as consequências que a maldição traria, ao mesmo tempo em que estava proporcionando algum recurso para aquela que seria no ponto de vista de Atenas a guardiã apta para quebra-la um dia, honestamente jamais seria plausível sem ele, então foi com esse propósito que Poseidon deixou o colar - ela disse, Severo conhecia trechos soltos daquela história, daquilo que Antony já havia lhe contado certa vez, e ele se perguntou quais seriam os requisitos usados por Antenas ali – eu sei que é confuso, mas parece que Atenas deixou mesmo algumas condições, não que eu as saiba exatamente – Shara disse, então nem ela sabia, isso tornava tudo um pouco mais difícil - enfim o ponto aqui é que ele deu o colar inicialmente para Medusa o usar, já que o colar poderia protegê-la de alguma forma, mas orientou que fosse repassado para a criança que ela gerava assim que nascesse e consecutivamente conforme o tempo fosse passando, de mãe para filha - ela disse finalizando.

—Medusa mentiu sobre isso - Antony disse olhando de forma triste para o colar - ela disse que havia sido um presente dele para Crisa, confesso que nunca entendi muito bem onde havia começado a tradição de passar de mãe para filha, embora era evidente que o colar perdia o elo com a guardiã mais velha quando uma nova guardiã nascia e então passava a responder e proteger apenas a guardiã mais jovem, e isso sim sempre fez muito sentido pra mim já que a proteção é algo que se faz necessário por conta da questão do sangue... a perseguição, o ritual com a poção e tudo mais – Antony havia dito de maneira despretensiosa.

—Sangue? – Shara perguntou curiosa – espera… você disse sangue? Poção? Antony… do que você está falando? – Então Shara sabia muito, mas na verdade não sabia tudo, Severo notou o olhar de apreensão da ave ao perceber que novamente havia dito algo comprometedor e que não deveria ali.

—Bem, bem...bem – o diretor interrompeu – Acredito que não existam mais razões para mantermos o sigilo sobre isso, levando em consideração tudo que aconteceu aqui hoje, sua última visão e principalmente a magia do colar... – Sim ele tinha razão, mas o fato curioso ali era que Alvo sempre havia sido o primeiro a se posicionar contra, ele era bastante enfático sobre não informa-la e mantê-la às cegas sobre o seu passado, o mínimo de informação ele havia dito certa vez, e até certo ponto Severo podia entender aquilo, mas à medida que o tempo foi passando, e Shara vinha se colocando cada vez mais em situações de perigo  para conseguir informações que poderiam simplesmente ser ditas a ela, que ele passou a questionar o verdadeiro sentido disso tudo, obviamente sempre havia um motivo, afinal aquele era Alvo Dumbledore, e a partir de então eles passaram a ter alguns desentendimentos nesse sentido, como o de hoje mais cedo, Severo sabia que ele escondia parte do jogo, mas então, em resumo, era isso? ele estava simplesmente esperando um momento certo para revelar a verdade? Ele queria que ela descobrisse a magia do colar e a trouxesse para ele... ele não se importava com o tanto de vezes que ela poderia estar correndo risco, expondo sua vida como vinha fazendo... não, ele sabia que ela conseguiria o que queria, claro a garota era determinada, ela chegaria lá em algum momento, mas ele não se importava como... desde que ela fizesse, e quanto menos informação ela tivesse, mais ela desejaria procurar, e naquele momento, com aquela compreensão que Severo decidiu que não, ele não deixaria com que Alvo a manipula-se, não como Alvo ainda fazia com ele, e não como Alvo havia feito com a mãe dela no passado, ele iria se opor e se tinha uma coisa que ele era bom, era em ser oposição.

—Sobre o que? – ela perguntou – o que tem o meu sangue? – ela pediu de forma impaciente agora. 

—A maldição - Antony respondeu – é por isso que as guardiãs se escondem, é por isso que sua mãe não queria que você soubesse e nem vivesse no mundo bruxo – ele havia dito com cautela, ela estava visivelmente chocada com aquela informação – ela queria que todos acreditassemos que ela havia sido a última, assim você estaria segura lá... vivendo lá como eles.

—Segura? Naquele lugar? – ela olhou diretamente para ele, ele sabia o que ela estava pensando ali, e ele não podia criticar aquilo, ele também pensava daquela forma – uma maneira um pouco estranha de me proteger - ela disse ressentida, ali entravam questionamentos muito mais profundos, para serem discutidos em outra oportunidade - acreditem, qualquer lugar é mais seguro que aquele, mas do que se trata esse negócio do sangue? - ela pediu mais uma vez de forma insistente.

—Uma lenda – o diretor respondeu – muito antiga, que nasceu junto com todo o resto, de que o sangue de uma guardiã era muito valioso, já que extraído em determinadas circunstâncias e misturado com uma poção, com um grau elevadíssimo de preparo, tomado durante um ritual, ao luar em uma vertente de água pura, daria assim o poder de se tornar imortal aquele que a ingerisse – Alvo explicou.

—Uma lenda, dentro da lenda? – ela parecia confusa – imortalidade? ... isso parece horrível – ela se encolheu certamente pensando na probabilidade – quem acredita em algo assim? – ela perguntou aflita.

—Bom todo o resto é verdade não é – Antony disse triste -  e o colar protege a guardiã desse destino.

—Não é só uma lenda então... – ela engoliu em seco, fechando os olhos – minha mãe morreu assim? – ela pediu, Severo sentiu que aquilo estava indo por um caminho inadequado para o momento já que a criança tinha tido o suficiente para um único dia.

—Não sabemos exatamente a causa da morte da sua mãe – o diretor havia sido sincero, mas não ajudava muito.

—Alvo se me permite – ele tomou a palavra, encarando a criança por um momento - Epson, no momento compete saber que sua mãe fez o que fez para mantê-la segura e que… - ele levantou a mão para que ela não o interrompesse - sendo assim  por mais questionável que se seja, lembre-se de que não lhe cabe julgar algo do qual você desconhece os motivos, contudo esse é um assunto delicado e que podemos tratar em outra oportunidade já que ainda temos questões pendentes aqui - ela baixou os olhos de forma triste, mas havia consentido.

—Foi Poseidon que te disse como ativá-lo? - o diretor perguntou, encontrando ali uma oportunidade para voltar ao ensejo inicial, Shara o encarou com dúvidas - o colar? - ele explicou, reforçando aquilo que queria saber.

—Não… ele não disse - ela parecia confusa - eu meio que deduzi, depois de tudo - ela respondeu.

—Meio que deduziu? - Severo questionou, não havia como meio que deduzir algo, não algo como aquilo – Explique melhor Epson – ele pediu.

—Bom eu já vinha sentido o colar esquentar algumas vezes, enquanto o usava, mas nunca havia entendido o que causava isso e nem o por que acontecia… - ela parecia pensar sobre aquilo.

—Esquentar? - ele a interrompeu - nenhuma poção possui tal característica, Epson tem certeza do que está dizendo? - aquilo não fazia o menor sentido, poções não esquentavam assim e se havia algo que ele tinha certeza, era que aquilo dentro do pingente era de fato uma poção.

—Na verdade, professor…  o que esquenta é a cápsula que protege o material ali, e não o líquido que tem dentro dela - ela explicou como se fosse obvio - e bom se a composição do pingente é mesmo água, como eu acho que é, toda as vezes que ele esquenta eu o estou fragilizando mais, até que fique bem vulnerável e então eu consiga abri-lo, sabe é como colocar o gelo no sol… com o tempo o calor o derrete - Severo estava completamente extasiado com aquela explicação, ela não era uma criança normal, longe disso, ele se aproximou para olhar o colar mais de perto, ela tinha razão sobre aquilo, Alvo parecia radiante.

—Deixe-me avaliá-lo - ele pediu o pegando, ele já havia feito isso nos mínimos detalhes da outra vez, e ele havia inclusive se preocupado em identificar a espessura daquele material que antes era desconhecido, se ela estivesse mesmo certa a espessura deveria ter mudado, ele lançou um feitiço sobre a peça com bastante cuidado, ainda estava quente, de faro ela esquentava, certamente havia um propósito para isso.

—E como exatamente o colar esquenta? - o diretor perguntou, tirando aquilo da sua mente, ele parecia disposto a conseguir mais informações.

—Sentimentos - ela disse constrangida - é o que me parece - ela sorriu sem graça - é como se determinados sentimentos fossem como o sol.

—Sentimentos? - Antony repetiu sem entender - que tipo de sentimentos?  

—Os bons… na verdade, é difícil explicar - ela tentou melhorar aquilo -  todas as vezes que eu respondo de uma forma boa a algo que me acontece, as vezes por ser justa quando alguma situação ruim me aflige, ou algum outro sentimento que seja parecido com isso, bem você sabe… – ela disse enrubescendo - o colar esquenta, é confuso eu sei… me desculpem por não conseguir explicar isso adequadamente, mas basicamente é isso - ela disse e Severo tentou encontrar uma lógica naquilo que ela acabará de dizer, mas honestamente não havia nenhuma.

—Ahhhh isso - Antony disse animado - eu sei sobre isso, isso na verdade é sobre a motivação certa do coração, Atenas não tem mesmo nenhum senso de criatividade - Antony sorriu, ele estava tentando ajudar a esclarecer aquilo, e sim havia sido exatamente esse o termo que ele havia usado aquela vez, para explicar como a sua maldição havia sido quebrada também - Atenas falou sobre isso, aquele dia… isso é bom, mas ao mesmo tempo ruim, por que é um critério difícil de atender e por isso é tão difícil quebrar uma maldição imposta por ela, já que ela tem um senso um pouco estranho de ser justa, mas basicamente o cerne é fazer algo com a motivação certa, no caso seu coração ele deve estar inclinado para o bem, por algo maior… não por avareza, não por soberba,  não por benefício próprio, enfim… quem consegue algo assim? - ele suspirou cansado e Severo sentiu que ele havia lhe direcionado o olhar ali, assim como também o diretor e também Pomfrey, apenas a criança não havia entendido a referência.

—Alguém bom conseguiria - Pomfrey respondeu sorrindo, ao colocar mais uma vez a mão em seu ombro, qual o problema daquela bruxa? Por que ela sempre tinha que tocá-lo? E o que eles estavam insinuando… só podia ser brincadeira que eles realmente o achassem bom… esse definitivamente não era o papel que ele desempenhava em vida e aquilo definitivamente não o definia.

—Interessante Antony - o diretor tomou a palavra – Isso é mais ou menos como desejar a pedra, sem que seja para algum benefício próprio – o diretor piscou para ele e Severo bufou com aquele comentário, já que aquela havia sido uma regra imposta por ele para proteger a pedra filosofal no ano anterior e o maldito garoto Potter havia conseguido – Eu penso que Atenas não estava dificultando as coisas de forma proposital, ela na verdade acreditava ser possível, acreditava que haveria alguém com um bom coração, capaz de fazê-lo, já que apenas uma pessoa com o coração bondoso diante de tamanha injustiça poderia ser capaz de realizar tal feitio.

—É… entendo, mas honestamente eu não acho que seja eu essa pessoa sabe – Shara disse constrangida – eu não sou assim boa... eu na verdade já pensei em coisas bem terríveis e fiz algumas delas – ela baixou a cabeça obviamente que ela se referia a sua defensiva com aquele maldito trouxa - mas algo aconteceu na visão e ele, ele conseguia me ver… Poseidon, ele sussurrou o meu nome enquanto sorria para mim – ela havia encarado o diretor em busca de uma resposta, de fato, como isso era possível dentro de uma visão?

—Muito bem, ele sabia – Alvo sorriu – Shara, querida veja que os desígnios para ser considerada apta para essa empreitada nunca foram a perfeição, já que a perfeição é de fato inalcançável, mas sim a sua inclinação em fazer o bem, e disso eu não tenho a menor dúvida – ele continuava sorrindo.

—Ele sabia – ela sussurrou de volta 

—Sabe, eu posso ver com clareza agora aquilo que ativou a magia do colar, e como consequência aquilo que o torna mais vulnerável, como é nossa suspeita aqui – Alvo disse direcionado para ela -  pois diante da constatação de uma injustiça que também foi imposta a você como a todas as demais guardiãs, ainda assim, consciente disso você se fez justa hoje, com aquele que não se achava merecedor de tamanha justiça – ele olhou para Antony e Severo o notou sorrir de forma singela e baixar a cabeça, certamente não se sentindo muito à vontade com aquilo - liberando o perdão da forma como fez, e isso foi muito especial Shara e confesso nenhum pouco comum – Severo precisava concordar com aquilo já que ele mesmo não seria capaz de algo assim - o mesmo também pode ser dito para aquilo que aconteceu mais cedo essa manhã, segundos antes da Hidra tentar atacá-los lá fora - Alvo explicou enquanto lhe direcionava o olhar – quando, você Shara protegeu o professor Snape e não a si própria, fazendo com que o colar liberasse a proteção que ele está destinado a oferecer, a estendendo também para aquele com quem você se importava, mais uma vez demonstrando retidão - ele esclareceu, Severo sentiu algo diferente queimando em seu peito ao mesmo tempo que ele analisava a criança a sua frente, ela também parecia processar aquilo.

—São as inclinações certas – Antony contribuiu – bem, eu tenho milhares de anos nas costas e posso afirmar Shara, poucos conseguiriam algo assim – ele sorriu para ela.

—Eu... não fiz nada demais, eu apenas fiz o que achei certo – ela disse, enquanto olhava para ele.

—Antony está certo sobre isso, poucos são aqueles que conseguem ser justos principalmente os que foram submetidos a uma vida toda de injustiça - Alvo disse com certa tristeza e ela se encolheu com aquelas palavras - e por isso que certas circunstâncias se fizeram necessárias, para mostrar que é possível, e para provar que as dores do nosso passado, as nossas lutas e tudo que nos foi imposto tem o poder sim de nos moldar, e não necessariamente a inclinação será para o mal, como infelizmente temos o exemplo de sua ancestral, Medusa e tantos outros em toda a história - Alvo parecia pensar em alguém específico ali - Sabe, a verdade é que as experiências que vivemos nos tornam aquilo que somos, no seu caso criança, sem elas, nada disso seria possível… infelizmente foi necessário - Alvo explicou e Severo entendeu finalmente o que ele estava querendo dizer com "ser necessário" em outras palavras, ele estava esclarecendo ali que Shara deveria passar exatamente pelo que passou, o seu passado, todos os traumas e tudo que enfrentou, para se tornar a guardiã aprovada, forjada no fogo assim ela seria apta, a "escolhida" para a missão, ele sentiu seu sangue começar a ferver, ela era apenas uma criança e ele se negava a acreditar que Maeva pudesse ter sido sádica a esse ponto, e ter feito o que fez com esse tipo de entendimento e motivação, não aquela Maeva, por que aquela não era a Maeva que ele conhecia. Ele precisou se controlar para não demonstrar aquilo que pensava ali, se esforçando em se concentrar apenas nos resultados do feitiço que havia lançado a alguns minutos atrás sobre o colar, e por mais incrível que possa parecer Shara estava mesmo certa sobre aquilo, o pingente agora estava comprovadamente menos espesso do que da outra vez, ela havia mesmo descoberto o segredo do colar e aquilo era apenas mais uma constatação sobre ela ser a guardiã certa, ele suspirou.

—Bem pelo que me parece a Srta. Epson descobriu mesmo o segredo do colar - ele disse ainda irritado, não pela descoberta, mas sim pela lógica que aquele velho tinha exposto ali, ele não concordava com os meios, eles não podiam justificar o fim, não sendo eles como foram.

—Você é brilhante – Antony disse animado, Shara não parecia ter a mesma empolgação.

—Bom se Shara está mesmo o fragilizando, como acabamos de descobrir que sim - Madame Pomfrey pontuou - quando o colar estiver pronto, em algum momento ele estará não é mesmo? O que vamos encontrar dentro do pingente, quando for possível abri-lo? - ela pediu.

—Uma poção - Ele e Shara responderam ao mesmo tempo, o que os fez ter uma troca de olhares - e lembranças - Shara completou - e inevitavelmente todos os olhos estavam sobre ela outra vez, ela disse lembranças? - bem eu vi... havia uma poção escura e espessa, e vi também quando Poseidon coletou algumas lágrimas de Medusa e as misturou com a poção, logo após ele ter dito para ela que aquelas seriam as últimas lembranças, foi assim que o líquido mudou de cor, ficando com a tonalidade que ele tem hoje - ela explicou, aquilo fazia sentido, era por essa razão que ele não podia identificar a poção já que ela havia sido adulterada, aquilo o deixava um pouco menos frustrado, pelo menos ele estava no caminho certo.

—É claro lembranças – Alvo disse matando a xarada – é de onde vem as visões, você consegue acessa-las, pois elas estão justamente no colar que carrega.

—Eu achei que pudesse acessar a mente dela ou que ela vivesse na minha – Shara disse ao respirar aliviada – isso é um alivio, confesso.

 _As lembranças vêm à tona em forma de visão quando determinada situação, uma emoção ou até mesmo um sentimento que esteja sendo sentido, vivido faça alguma ligação direta com algo que tenha acontecido no passado de Medusa e que pelo que acabamos de saber, está armazenado no colar, é assim que elas são destravadas – Severo explicou, isso era algo que ele já havia deduzido anteriormente, apenas não compreendido o motivo e razão delas acontecerem. O colar era o segredo e o colar explicava muita coisa.

—E a poção? - Pomfrey perguntou confusa - como isso ajuda?

—Havia um ritual, na minha primeira visão - Shara respondeu – penso que seja para usa-la de alguma forma ali - Shara explicou dando de ombros – certamente algo parecido com esse ritual de sangue – ela se encolheu ao dizer aquilo - mas não tenho certeza sobre isso, e não faço ideia de como fazê-lo, Poseidon disse que haveria uma carta orientativa nesse sentido, que essa carta deveria ficar junto com o colar, mas pelo visto a carta foi perdida no tempo - ela disse com pouca esperança.

—Não… espera, não foi perdida… - Antony parecia incrivelmente animado agora - você tem a carta Shara… você tem… - Severo sabia onde ele queria chegar com aquilo, como não acreditar em predestinação? justo ele que se orgulhava em ser tão cético. 

—Antony, eu sei o quanto você deseja isso… mas sinto muito mas eu não… 

—Sim… a carta, a carta na verdade ela é a canção, aquela que você cantou aquele dia na ala hospitalar pra mim, Medusa, ela transformou a carta em uma canção de ninar, bem ela amava cantar você sabe… e ela cantou até os últimos dias – Severo sabia, ele teve que deixar suas crenças a muito de lado, aquela garotinha estupida estava mesmo predestinada a fazer aquilo, predestinada a fazer algo grande, Antony era evidente, ele parecia contar com ela, já Alvo parecia cada vez mais fascinado, certamente fazendo planos sobre os dons que ela possuía, será que ele era o único que podia enxergá-la como ela verdadeiramente era e estava ali? Ela ainda era apenas uma criança, era pequena, completamente insegura, com tanto em suas costas, ela havia se encolhido mais uma vez, ação que ele conhecia muito bem e sabia o que significava, ela estava com medo diante daquilo que eles esperavam dela agora… 

—Epson - ele a chamou – como seu chefe de casa, penso que temos o suficiente por hoje, e ordeno que vá descansar – ela parecia agradece-lo com o olhar, sim ele podia entender.

—Isso certamente é algo bastante sensato a se fazer - Pomfrey interveio, certamente ela também podia ver aquilo - vou checa-la, mas deverá descansar… isso tudo é demais até mesmo pra mim, quem dirá para você querida - o diretor assentiu, Antony segurou nas mãos dela agradecendo silenciosamente enquanto saia.

—Severo faça o mesmo - o diretor disse para ele - pedirei que alguém o substitua essa tarde - Severo o encarrou irritado, obviamente que ele iria negar, ele tinha responsabilidades naquela escola e ele não falhava com elas, certo, exceto por uma única vez, quando ela tinha dormido encostada nele no chão, naquela que havia sido uma discussão das mais acirradas entre eles – Ah, não me agradeça Severo - o diretor concluiu, saindo, antes mesmo que ele conseguisse dizer qualquer coisa nesse sentido e ele suspirou, então pela primeira vez ele decidiu que iria acatar aquilo e descansar… ele notou Shara o encarando, ele foi até mais perto dela enquanto via Madame Pomfrey, fazer um curativo adequado e limpar a cicatriz da criança mais uma vez.

—Epson, preciso que me garanta - ele disse sério - de que posso confiar e de que irá mesmo descansar? - ele pediu para ela, que continuava o olhando de uma maneira diferente, ele suspirou - quer pedir algo? - ela assentiu – muito bem, se não disser logo, não poderei adivinhar – ele estava impaciente, mas tentou segurar o sarcasmo, que normalmente usaria.

—Me leve com você? - ela pediu, aquilo o desconcertou, o que? ela havia pedido para ficar com ele? ele podia sentir os olhos de Pomfrey sobre ele ali, já que ela era a única que tinha ficado e ouvido o que diziam, e ela sabia sobre ele, obviamente que ele não poderia encará-la agora, não seria bom.

—Epson... – ela interrompeu.

—Tudo bem eu entendo – ela disse baixando a cabeça

—Eu posso fazer isso – ele respondeu, ela o encarou outra vez porém estava sorrindo - mas deve me prometer de que irá dormir, do contrário terei que enfeitiça-la para isso - ele queria soar cruel, mas sabia que não havia conseguido, já que ela ainda sorria.

—obrigada, eu posso prometer isso - ela devolveu para ele – estou mesmo exausta – ela disse enquanto passava à sua frente, quando ele sentiu Pomfrey colocar a mão no seu ombro pela terceira vez em um único dia, ele revirou os olhos, numa próxima oportunidade ele falaria com ela a respeito disso, já que era contato físico mais que ele suficiente para um único dia.

—Sabe Severo - ela disse chamando sua atenção - quando Shara tentou explicar para o diretor da sua maneira o motivo que a fazia ativar a magia especial do colar, ela enfatizou um único recurso - Severo arqueou a sobrancelha, onde ela queria chegar com aquilo? - ela disse sentimentos… - ela o encarou - bom, ela te protegeu essa manhã, como bem ouvi o diretor relatar, e até eu posso ver que sentimento é esse - ela disse, sabendo que ele perguntaria.

—E qual seria? - ele o fez, tentando manter a mesma expressão séria e vazia que sempre carregava no rosto.

—Talvez amor - ela disse enquanto saia e o deixava perplexo para trás, ele massageou as têmporas, ele estava precisando mesmo descansar, as seguindo, enquanto ouvia a sala precisa fechar atrás de si, deixando para trás apenas um corredor vazio.

Durante o percurso Severo havia solicitado para que um elfo providenciasse roupas limpas para ela, que obviamente teria que tomar um banho antes de se deitar, ela também teria que almoçar alguma coisa, então ele solicitou que o almoço fosse servido em seus aposentos já que estava mais tarde do que o habitual, eles não haviam mais trocado nenhuma palavra sobre o que havia ocorrido, ele notou que ela mal conseguia manter os olhos abertos, e isso era engraçado, já que ele não estava acostumado a ter crianças por perto, bom não tão perto assim, e bem elas simplesmente não conseguiam disfarçar aquilo, Shara deitou, naquela cama arranjada que ele havia feito no sofá mais uma vez, e pelas suas contas não precisou mais do que 5 minutos para que ela de fato dormisse, certamente que aquilo tudo deveria ter sugado todas as suas energias e assim que ele teve certeza de que ela estava mesmo dormindo, depois de tantos anos, ele fez o mesmo.

Severo abriu os olhos, assustado, fazia tempo que ele não se permitia tanto, ele levantou ao constatar que já era perto da hora do jantar, ele precisava acorda-la e libera-la antes do toque de recolher, ele também tinha alguns compromissos fora dali, ele se recompôs, e ao sair do quarto notou que ela ainda dormia exatamente na mesma posição.

—Epson – ele chamou, uma, duas... três vezes – EPSON – ele precisou gritar, quando ela abriu os olhos assustada.

—Que horas são? – ela pediu se sentando naquela cama improvisada, ela o lembrava tanto a sua mãe assim.

—Quase hora do jantar – ele informou, notando a expressão de surpresa no rosto dela - Tenho algumas reuniões relacionadas ao Quadribol ainda essa noite – ele explicou, ela entendeu se levantando de imediato, ela estava de pijama, aquilo ficava enorme nela.

—Claro professor – ela bocejou – desculpe, eu vou me trocar e estou saindo – ela disse pegando suas coisas que estavam num apoio ao lado de onde dormia, ele assentiu, assim que a viu entrar no banheiro, ele lançou um feitiço fazendo sumir a cama improvisada e qualquer vestígio de habitação humana ali, que não fosse ele mesmo, menos é claro a mancha em sua tapeçaria, aquilo não sairia nunca mais, é claro que ele não iria força-a a sair correndo como estava parecendo, ele iria preparar um chá com biscoitos, para que ela pudesse se recompor adequadamente, ele ainda tinha algum tempo, mas antes mesmo de finalizar aquele pensamento, ele ouviu alguém chama-lo pela lareira.

—Severo eu sei que está aí, precisamos conversar me deixe passar – ele se aproximou sentindo seu coração acelerar ao identificar o dono daquela voz.

—Lucius – ele respondeu de forma fria, ele nunca vinha até seus aposentos privativos, não assim, a menos que algo muito urgente tivesse acontecido, mas aquele definitivamente não era um bom momento.

—Precisa liberar o flu – ele disse impaciente com a demora, Severo lançou um feitiço sobre a porta do banheiro onde Shara estava, não permitindo que ela saísse e um feitiço silencioso para que não fosse possível ouvi-la do lado de dentro, em tempo foi o que ele conseguiu pensar e arranjar, ela era esperta e certamente entenderia ao ouvir as vozes do outro lado, enquanto ele liberava a passagem.

—Lucius Malfoy – Severo disse sério, mantendo a mesma postura estoica de sempre, ao encara-lo atravessar de forma impecável e entrar em seus aposentos.

—Severo Snape – ele retribuiu, com um sorriso malicioso nos lábios, o mesmo sorriso enojador de sempre - meu velho amigo.







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Notas finais do capítulo

Shara você é brilhante.
Temos um objeto aqui que vem passando entre gerações e gerações, por milhares de anos, o colar, mas não um colar qualquer, ele protege e tudo mais, e ok, isso já seria o bastante, mas nao, ele é um colar forjado por um Deus. Poseidon... Tinha que ser feito de água né, em estado sólido... e a única coisa capaz de reverter o estado físico, é o calor proporcionado por sentimentos bons, produzidos por alguém que viveu uma vida extremamente injusta, em todos os sentidos, afinal é fácil retribuir amor quando estamos bem, difícil mesmo é ser bom na adversidade... Poucos conseguem. Medusa não conseguiu.

Agora chegou alguém pra causar mais caos, tava muito bom heim...
Lucius Malfoy, o que será que ele quer heim?



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