Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 33
Futuro - Antony de Cistina




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Severo caminhou até seus aposentos pessoais nas masmorras, seu pensamento estava acelerado, ele sabia que naquele estado dificilmente ele iria conseguir dormir tão cedo, ele se aproximou do bar e abriu a garrafa de whisky de fogo que estava pela metade, segurando o copo em uma das mãos e a garrafa na outra com bastante firmeza, enquanto repassava um a um os acontecimentos daquele dia, mais especificamente os das últimas horas, ele suspirou cansado, seus dias nunca mais foram os mesmos desde que Shara pisou naquele castelo, ele se lembrou do estado que a encontrou lá fora mais cedo, da expressão de pânico e horror em seu semblante e de como ela se jogou nos seus braços daquela maneira, em busca de acolhimento e proteção, ele sabia que ela não gostava de se expor, de chamar a atenção, ela era uma criança reservada, mas ela sequer se importou com quem quer que estivesse assistindo a cena, e isso chamou sua atenção, ele se lembrou do sentimento de imponência que ele sentiu na sequência, de não saber como protegê-la ali, ele nunca havia se sentindo assim antes, ele sempre sabia o que fazer, e ele nunca precisou se preocupar com mais ninguém, então não havia espaço para esse tipo de sentimento em sua vida antes e agora havia ela e ele se sentia completamente perdido, fechando a garrafa outra vez, intocada, ele a guardou em suas vestes e saiu, ele precisava de ar fresco.

Já havia passado do toque de recolher, a um bom tempo e os corredores estavam completamente vazios, ele atravessou o castelo sem nenhuma dificuldade, já do lado de fora, ele caminhou até o pátio central e se escorou em um dos arcos que fazem a divisa do castelo com o restante do terreno. A brisa estava ótima, e a luz da lua deixava o lugar ainda mais impressionante, aquela tinha tudo para ser uma noite como qualquer outra, se não fosse pelo perigo que rondava aquele lugar, especificamente do lado de fora daqueles arcos, ele abriu a garrafa derramando um pouco da bebida em seu copo.

— Não sabia que costumava beber aqui fora - Minerva disse se aproximando, provavelmente ela também estava buscando um pouco de ar fresco, ele conjurou outro copo à servindo.

—Eu não costumo - ele respondeu

—Dificuldades para dormir? - ela perguntou aceitando o drink, e o bebendo todo de uma só vez.

—Também não costumo dormir - ele disse de forma vazia, e aquilo fez ela gargalhar um pouco, fato que ele achou exagerado.

—Pois deveria - ela disse - Fugde acabou de sair daqui - ela informou irritada - depois que você saiu da sala do diretor mais cedo, aquele lugar virou um circo, Alvo terá bastante em suas costas para lidar nos próximos dias - ela suspirou cansada.

—Tenho certeza de que ele já pensou em tudo e mantém tudo sob controle - Severo disse, conhecendo o diretor ele sempre tinha estratégias em mente.

—Não será fácil, tivemos duas baixas nos nossos terrenos essa noite, baixas que aparentemente ninguém sabe explicar por quem ou pelo o que elas aconteceram. Fugde acha que poderá haver uma rebelião entre os aurores se os fatos não forem apurados adequadamente, e acredite ele pensa que podemos estar encobrindo algo assim, ah francamente eu não consigo entender como um homem como aquele se tornou ministro, por vezes sinto que estamos regredindo - Minerva parecia exausta, naquele ponto.

—O Ministério está repleto de fantoches Minerva - ele disse com a voz arrastada -  a começar pelo próprio ministro, sabemos quem está por traz do poder a anos - ele disse  com pouca fé - o que Alvo disse ao Fugde? - ele perguntou curioso.

—Ele mentiu - ela disse desconfortável - disse que não sabemos de nada, eu não sei se concordo com ele nesse ponto, penso que estamos tornando as coisas ainda mais difíceis assim - não era muito comum Minerva falar com ele de forma tão aberta sobre o que ela pensava a respeito das tomadas de decisões do diretor, não da forma como ela estava fazendo ali essa noite, ela devia estar mesmo incomodada com algo.

—Fugde está certo então - Severo constatou – já que agindo dessa forma, estamos mesmo encobrindo, o diretor você sabe, sempre jogou dessa maneira e isso não é nenhuma novidade - Severo disse bebendo mais um gole do seu whisky enquanto ela o encarava ali, e pensando em como Shara parecia conseguir entender aquele jogo de mentiras com tanta facilidade, Shara estava certa sobre isso.

—Ele se preocupa com a escola, com a reputação desse lugar - Minerva respondeu tentando o convencer daquilo ou talvez convencer a si mesma, ele percebeu aquilo, mas não era algo que ele gostaria de discutir naquele momento, ele estava exausto demais para pensar.

—Claro que ele faz - Severo disse deixando passar, ela pareceu entender aquilo.

—Bem e a verdade é que não sabemos exatamente com o que estamos lidando aqui - ela disse dando de ombros e Severo percebeu o quão pouco ela sabia sobre tudo aquilo também, ele não podia julgar o diretor nesse quesito, afinal se ele mesmo não estivesse tão envolvido com tudo isso como de fato estava, ele certamente iria preferir a ignorância - Severo agradeço a companhia, está tarde e tentarei dormir um pouco, amanhã teremos um longo dia, se prepare para os boatos - ela disse se afastando – sabe sobre dormir, você deveria fazer o mesmo - ela sugeriu, ele apenas sinalizou com a cabeça enquanto via ela se retirar, ele encheu o copo com o whisky e o deixou sob o parapeito, ele estava se virando para voltar ao castelo quando ouviu o pássaro se aproximar.

—Ahhh um bom e velho whisky – Antony disse apreciando o liquido - por Merlin fazem anos que não bebo um desses e hoje é uma noite bastante oportuna para um drink, não acha? – o pássaro disse enquanto bebia um gole – hummmm eu aprecio isso Severo, sabe Maeva não gostava de me deixar beber, principalmente em dias agitados como esse, ela provavelmente ficaria bastante aborrecida, se estivesse aqui – e aquele comentário fez Severo bufar.

—Mas ela não está, não é mesmo? – ele gesticulou com as mãos – então aproveite o whisky – Severo disse se virando e dando alguns passos em direção a entrada do castelo.

—Espere – Antony chamou – eu vi a menina te abraçando mais cedo, não me pareceu tão ruim como você havia dito da última vez – a ave disse de forma audaciosa, e aquilo fez ele parar, ainda de costas para a ave ele sorriu com ironia, se virando para encara-lo.

—Sabe ave, se Maeva estivesse aqui, eu te garanto que existiriam muitos outros motivos pelos quais ela estaria aborrecida nesse momento e posso afirmar que nada tem haver com embebedar a ave estúpida dela - ele disse fechando o rosto ao se lembrar de como ele havia deixado a criança do lado de fora do dormitório essa noite, sem nenhum acesso a sua sala comunal, já que ela estava enfeitiçada por ele, aquilo era inconcebível, ele era completamente inapropriado para a função de mentor, a ave parecia lhe olhar de forma curiosa.

—Severo você parece estar travando alguma espécie de luta interna, eu não sei o que aconteceu entre vocês até aqui, mas Shara me parece ter se afeiçoado de uma forma bastante paternal a você e bem, isso é o que você é... o pai dela, o que está esperando? – Severo cerrou os punhos, ave petulante.

—Claro, e o que me sugere? – Severo disse se aproximando da ave que recuou um ou dois passos confusa com a sua abordagem – que eu continue demonstrando todo o meu afeto, da forma como venho fazendo até aqui? que eu a deixe do lado de fora do seu dormitório como eu fiz hoje à noite? Que eu seja tão assustadoramente intimidante que a faça vomitar de temor na minha presença? Que eu a deixe acuada e com medo, a ponto de desencadear uma crise de pânico? Que minhas atitudes sejam tão repugnantes a fim de faze-la lembrar daquele maldito trouxa com o qual ela convivia a fazendo recuar todas as vezes que está na minha presença? é isso que sugere? – ele esbravejou, vomitando todas as suas frustrações, e provando o quão terrivelmente inadequado ele era para aquela função “paterna” que ele havia sugerido – vamos fale ave – ele impôs.

—Bem... – a ave o encarou de forma triste naquele momento – dito dessa forma, parece mesmo bem ruim – Severo cruzou os braços, em sinal de vitória, a ave se aproximou corajosamente – Você deveria protege-la – ela cuspiu agora – PROTEGE-LA – ele gritou.

—Eu não posso - ele devolveu – eu não sei o que Maeva planejou com tudo isso, com aquela maldita carta, com o colar... mas ela estava equivocada, eu garanto e minhas atitudes provam que não sou essa pessoa... –  ele quase podia gritar aquilo de volta, qualquer um poderia enxergar isso, era simples, ele não era uma pessoa boa, ele havia feito escolhas terríveis em toda a sua vida, e nada poderia mudar isso, nada poderia mudar quem ele havia se tornado.

—Maeva me deixou de fora dos seus planos, é verdade – a ave parecia desconfortável ali - então talvez eu não possa esclarecer muita coisa sobre o que ela pensou sobre determinada coisa, ou assunto mas... – a ave disse, dando alguns passos em sua direção, sem tirar os olhos do chão – Mas ela amava aquela criança com todas as suas forças, ela cantava para Shara, a embalando antes de dormir todas as noites desde o dia que ela nasceu, ela corria atrás dela pela casa apenas para ouvi-la gargalhar, ela fazia aviãozinho com a colher para que ela comesse os legumes... – que maldição, ele não queria saber nada disso, ele não se importava com a gargalhada contagiante de um bebe... ou se Shara pudesse gostar de música, talvez por que ela era embalada pela mãe antes de dormir ao som de algo – Um dia Maeva, passou uma noite toda em claro procurando Coral pelo jardim, depois dela mesmo tê-la soltado lá, bem eu meio que avisei, tenho alguma experiencia você sabe – a ave disse divagando, o que diabos aquele pássaro inútil estava fazendo? - Maeva odiava aquele bicho, mas Shara, bom... ela não, então já era de se imaginar, Shara chorou a noite toda é claro, eu mesmo tentei de tudo, tadinha ela estava exausta, e o humor dela é terrível quando está cansada – a ave estava de costas para ele agora e ele se permitiu sorrir um pouco com aquele comentário, extravasando um pouco toda aquela tensão que ele mesmo havia criado ali, sim algumas coisas não mudavam, o humor permanecia péssimo ele pensou, ele sabia - Shara só dormiu depois que Maeva finalmente encontrou Coral e a colocou do lado dela no berço, foi um sufoco, ela a amava Severo, ela a amava muito e a protegeu da forma como pode, ela deu sua vida pela vida da filha, e você deveria pelo menos tentar protege-la – Severo preferia sofrer com uma meia dúzia de cruciatus do que sentir a dor que ele estava sentindo naquele momento, era dilacerante.

—Eu não posso – ele sussurrou – olhando para a floresta, que estava a uma certa distância dali – eu não consigo – ele assumiu, a ave pareceu entender o que ele estava tentando dizer ali.

—Eu posso ajudar – a ave disse acompanhando o olhar dele em direção a floresta – precisamos impedi-la – Severo sabia que a ave se referia a hidra ali – ela não pode atentar contra a minha vida, mas eu posso contra a dela – aquele comentário não passou despercebido e chamou sua atenção, o trazendo novamente ao cerne do problema, e algo lhe ocorreu naquele instante, algo que ele não havia se atentado antes.

—A propósito – ele pensou bem antes de formular aquilo, havia algo que ele pretendia pescar ali – não me recordo de você ter mencionado naquele dia em que você tagarelou sobre essa história toda, algo tão importante como o fato daquela criatura poder sair de dentro da água mediante certas condições - ele disse agora encarando a ave que parecia um pouco desconcertada a sua frente - uma informação bastante pertinente para se deixar passar dessa forma, não acha? – ele perguntou o encurralando.

—Eu a subestimei, confesso – a ave tentou argumentar – na verdade ela dificilmente se comporta assim, é uma surpresa até mesmo pra mim, afinal todas as vezes que ela sai de dentro da água, ela se torna mais vulnerável, então se transformar como ela vem fazendo, não é algo muito prudente até para um ser sem nenhum bom senso como aquele - a ave disse de forma natural, como ela podia saber tanto sobre aquilo? De onde ela tinha informações tão precisas? Havia realmente algo a mais ali e não saber do que se tratava aquilo o incomodava.

—Vulnerável? – Severo bufou - talvez não saiba, mas ela fez duas vítimas apenas essa noite, e pelo que me contaram, não me parecia uma morte muito tranquila - Severo informou, tentando captar a reação da ave naquele ponto - eram aurores treinados e devidamente qualificados pelo Ministério para enfrentar situações extremas de perigo, então talvez precise rever suas considerações sobre vulnerabilidade - Severo disse por fim, cruzando os braços.

—Eles não a atacaram… eu vi e esse é o erro - a ave disse voando e sentando em cima do arco - não se deixe enganar, ela é uma mulher e pode parecer inofensiva e frágil à primeira vista, essa é a intenção, agora se ela te iludir com isso, você já era – a ave informou - do contrário, ela foge, ela sente medo como qualquer outro ser, ela é medrosa por natureza e portanto fácil de acuar, ela sempre foi assim, e é por isso que ela volta para a água, porém na água ela se torna praticamente invencível, não aconselho para ninguém – a ave sabia muito, essa era a grande surpresa.

—Você me parece saber muito sobre essa criatura - Severo disse se aproximando do arco - para uma ave que disse mal ter visto uma hidra em toda a sua vida - Severo estava desconfiado naquele ponto e a ave notou.

—Pergunte - ele pediu – apenas pergunte Severo, pergunte aquilo que você deseja saber ao meu respeito - ela insistiu – vamos – Severo a encarou por um momento, sim havia algo a mais ali, e se ele precisava mesmo defender aquela criança, como tudo vinha indicando que sim, ele não pouparia esforços para saber a verdade.

—Me ocorreu, que a hidra foi enfeitiçada no mesmo dia que Medusa, apenas em circunstâncias diferentes, sim, Alvo me contou sobre isso – Severo disse ao se deparar com o olhar de confusão do pássaro - e bem a hidra se tornou um ser imortal, e centenário, assim como você - Severo parecia pensar sobre aquilo, havia algo que aquele pássaro estava escondendo e ele iria descobrir - um fato bastante curioso não é mesmo - qual a sua história Antony? Qual o seu segredo? – Severo notou, que aquilo pegou a ave completamente desprevenida, sim ela parecia completamente chocada naquele ponto.

—Não é possível – o pássaro disse saltando do arco a sua frente e o fazendo recuar um pouco– Atena disse que ninguém nunca perguntaria, que ninguém poderia cumprir a exigência e ninguém nunca fez, como? Você?... Severo Snape... - o pássaro disse se aproximando ainda mais havia algo acontecendo Severo notou, algumas fagulhas douradas se dissipando do corpo dele - grande bruxo - o pássaro disse, agora eufórico, essa noite estava ficando cada vez mais estranha, talvez fosse mesmo uma boa ideia tentar entrar e dormir.

—O que significa isso? – ele perguntou tentando encontrar qualquer explicação lógica ali e olhando para o pássaro a sua frente, ele parecia sofrer com alguma espécie de mutação, sim era isso, Severo sacou sua varinha apenas por prevenção, observando aquela criatura mudar de forma, para uma forma humana bem a sua frente – todos esses anos e você é um animago? – Severo perguntou indignado, ainda com a varinha em punhos, devidamente preparada para atacar agora, mas aquele era um jovem, um jovem de um pouco mais que 25 anos de idade e isso não fazia o menor sentido, afinal um animago, ele acompanha a idade do bruxo, o que era aquilo? O que tudo isso significava? o rapaz fez uma reverencia, enquanto olhava espantando para suas mãos.

—Tem 5 dedos, você vê? – ele disse empolgado – pernas.... eu tenho pernas, duas dela... – então ele correu até a fonte que ficava no meio do pátio, olhando sua fisionomia na água – eu... – ele se virou para ele – isso é fascinante, eu estou exatamente igual ao dia que fui enfeitiçado por ela – ele disse olhando para seu reflexo na água e então se transformando em pássaro outra vez, e depois humano novamente.

—Pare com isso – Severo ordenou irritado, ele não tinha a menor paciência com demonstrações tão empolgadas como aquela, independente dos motivos que fossem, e sem falar que agora o que ele precisava mesmo era de mais informações, para  conseguir processar aquilo tudo que ele acabará de ver ali, mas aquele ser irritante, seja lá quem fosse não parecia ouvi-lo, agora ele estava correndo, e pulando, Severo não pensou duas vezes, lançando o feitiço de pernas presas, e ele caiu imediatamente no chão de pedras – eu avisei – ele suspirou, olhando para aquele rapaz caído no chão.

—Isso doeu heim – ele disse ainda sorrindo – me desculpe pela empolgação, estou preso naquele corpo a milhares de anos - Severo o encarou por um instante, retirando o feitiço e o ajudando a se levantar, não podia ser possível, podia? - eu sou um guia, um protetor, essa é minha missão, e isso você já sabe, mas o que você não sabe é aquilo que acabou de fazer – ele disse se limpando – você acabou de quebrar uma parcela memorável do feitiço que me aprisionou por tanto tempo.

—E estou quase arrependido – Severo disse revirando os olhos enquanto ele sorria.

—Desculpe, por isso, eu confesso que depois de tanto tempo, não achei que fosse acontecer realmente… eu fui enfeitiçado, como você pode ver e me chamo Antony de Cistina - Antony disse o reverenciado outra vez e isso o incomodou de uma certa forma – fui enfeitiçado por Atena que me aprisionou naquele corpo por todos esses anos, e a única condicionante para que eu pudesse me libertar dele e parcialmente da minha própria maldição, era encontrar alguém que fizesse a pergunta com a motivação certa no coração.

—Motivação certa? – Severo sorriu com sarcasmo – o que seria uma motivação certa para você? – ele perguntou achando tudo aquilo simplesmente absurdo demais. 

—Você me perguntou sobre a minha história, não por curiosidade ou coisa assim, mas sim por que você deseja protege-la, proteger sua filha... você pode até ficar em negação sobre isso, mas você não pode mudar o fato de que quebrou o feitiço de uma Deusa, um feitiço milenar, e ninguém nunca sequer chegou perto disso, bom pelo visto não é só Shara que estava predestinada a quebrar algo aqui não é mesmo? – Antony piscou para ele – você não é tão ruim como acha ou quer que os outros acreditem ao seu respeito – Severo ignorou aquilo, Shara já havia dito algo parecido certa vez.

—Isso não faz o menor sentido – Severo esbravejou – e não pense que eu me interesse em saber sobre a sua vida entediante antes de ser enfeitiçado e sair voando por aí esse tempo todo, o que eu quero ouvir de você é que aparentemente você tem retido informações que podem ser deveras importantes aqui - o pássaro pareceu o ignorar.

—E isso é exatamente sobre as motivações certas – ele disse sorrindo ainda mais, garoto atrevido era só o que faltava, Severo ergueu a varinha para ele outra fez.

—Pode baixar isso daí – ele pediu - fui e sou apenas um aldeão local, completamente sem magia – Severo arqueou as sobrancelhas ali - sim isso mesmo, como vocês costumam chamar hoje em dia… trouxa, bem eu conheci Medusa quando éramos novos, eu tinha uns 13 anos de idade e ela 12, nós nos conhecemos no mercado municipal, nossos pais eram comerciantes e logo nos tornamos amigos, passamos a fazer muita coisa juntos - Antony disse parecendo realmente estar contando aquilo pela primeira vez depois de tanto tempo - Medusa era uma garota adorável e muito, mas muito bela, porém com uma vida bastante difícil, sua mãe havia morrido muito nova, eu não a conheci para ser honesto e ela por ser a mais velha, assumiu a responsabilidade da casa muito cedo, suas irmãs não facilitavam em nada as coisas para ela também, e seu pai, vendo a beleza da filha, passou a negociá-la com comerciantes locais - Antony disse aquilo com bastante desprezo - eu me apaixonei por Medusa desde a primeira vez que a vi, ela se parecia um pouco com Shara, sua filha... não fisicamente é claro… - a ave disse o pegando de surpresa, a palavra filha dita por ele, assim com tanta naturalidade, não soava certo e ele simplesmente não estava acostumado - Shara carrega o mesmo semblante e o mesmo olhar - ele disse – de dor, de sofrimento - ele concluiu – Severo conhecia bem aquele olhar, sim Antony tinha razão sobre isso – Severo – ele chamou sua atenção - me responda uma coisa, com bastante honestidade, por acaso você já se apaixonou perdidamente por alguém a ponto de fazer, qualquer coisa por essa pessoa, qualquer coisa para vê-la feliz? mesmo que isso signifique vê-la nos braços de outra pessoa? E mesmo que essa pessoa seja alguém que você deteste ou você não confie? - ele perguntou… e aquilo levou seu coração, suas lembranças até Lily outra vez, sim ele fez… sim ele faria…

—O que está tentando fazer? - Severo perguntou na defensiva, não era um assunto do qual ele se sentia confortável, onde aquele garoto estava tentando chegar? - isso absolutamente não é da sua conta – ele respondeu de forma seca.

—Eu fiz – Antony o cortou - eu estive lá no dia que Medusa foi amaldiçoada por Atena, eu via a dor dela, e eu tentei impedir suas irmãs a levarem aquele plano adiante regido de inveja para frente, eu me humilhei para Atena, eu ofereci a minha vida em troca da vida dela, mas Atena me prendeu no corpo de uma ave, e me prendeu principalmente a Medusa por toda a sua descendência, eternamente, para que eu visse casa mulher da sua linguagem sofrer e morrer pela maldição… ela mortal, eu imortal, fui predestinado a ser o guardião, apenas um conselheiro e eu estou cansado Severo, então, respondendo sua pergunta essa é minha história - Antony disse com dor - achei que você não acreditasse na lenda – agora ele sorria por Merlin, era irritante, Severo voltou a se encostar no arco, olhos vidrados na floresta.

—Ela está lá fora em algum lugar, não é mesmo? - ele perguntou absorto em tudo aquilo que havia acabado de ouvir, era obvio que ele acreditava na lenda agora, não restava mais nenhuma dúvida, Shara estava certa sobre isso também, e definitivamente não havia mais nada a se provar sobre esse assunto.

—Sim ela está – Antony disse encostando na outra extremidade do arco - eu tenho sede de vingança Severo, eu vi o amor da minha vida ser morta na minha frente, eu chorei por ela por muitos anos, e o pior, eu fui obrigado, predestinado a proteger a filha dela com outro homem, um homem que eu detestava e detesto, um homem terrível, mas eu fiz… - Severo o encarou por um momento, ele podia ouvir sua própria história sendo contada ali, como poderia ser possível? – eu protegi a primeira guardiã, embora a odiasse também… Crisa, ela tinha os olhos da sua mãe, mas era como o pai e eu não podia conviver com isso -- Severo fechou os olhos, sentindo dificuldades em continuar ouvindo aquela história - mas um dia eu parei de lamentar, Crisa morreu, gerações passaram, e a história de Medusa passou a ser apenas uma lenda, uma lenda muito mal contada em livros bruxos e pior ainda em livros trouxas, mas eu sempre estive lá, eu sabia, e foi assim que eu finalmente entendi o meu papel, o amor é o elo e é ele que me prende ao sangue dela, e eu a honrarei até que sem cumpra a quebra da maldição, Shara carrega esse sangue, e ela tem minha devoção.

—Compreendo – Severo disse por fim, sim ele realmente compreendia, não havia uma explicação que fosse admissível e que o fizesse entender o por que ele havia sido o responsável por quebrar aquela maldição, ele detestava aquela ave desde o dia que a conheceu, e era reciproco, bom não mais, mas de alguma forma era como ver a sua história escrita de uma forma diferente, e ele se deu conta de que ele ainda tinha algo para se apegar, mesmo desejando fugir disso, da maneira como ele desejava e vinha fazendo, ele tinha uma filha, aquela criança era dele, e isso podia mudar tudo... ele queria saber, ele tinha gostado do abraço, ele se importava – quem é Coral? – Severo perguntou de repente, depois de um tempo, e Antony o olhou com uma certa surpresa.

—Coral... uma cobra é claro – ele disse como se aquela fosse a informação mais óbvia do mundo.

—Uma cobra? Você está me dizendo que Maeva deixou uma cobra no berço de um bebe? – agora ele estava horrorizado, isso parecia qualquer coisa menos algo adequado.

—Bem como eu falei, Maeva não gostava muito da ideia, já Shara – ele disse dando de ombros, Severo ainda tinha mais uma pergunta a fazer, apenas uma e seria o bastante.

—O que acontecerá com você se a maldição de Medusa for quebrada?

—Estarei livre - Antony disse soando feliz – serei completamente livre, eu finalmente poderei descansar da minha jornada, em outras palavras sim, eu vou morrer – ele sorriu, ele sorria bastante.

—Você deseja morrer? - Severo perguntou sem restrições - é isso que você realmente quer esse tempo todo?

—Sim, com todas as minhas forças é isso que eu realmente quero, eu vi todos passarem e a morte é ela pode ser uma dádiva acredite, eu perdi todos, vi os últimos suspiros de Medusa, dos meus pais, vi toda a minha geração partir, vi guardiã após guardiã, e isso é o que eu mais desejo em toda a minha vida – Antony  disse convicto - A morte parece bem menos terrível quando se está cansado - ele concluiu, Severo aproveitou aquela deixa para encher o copo vazio, com uma parcela generosa do whisky que ainda restou na garrafa, isso explicava o fato de uma ave gostar de beber, e ele empurrou o copo para Antony, afinal se alguém ali merecia aquela bebida, com certeza era ele.

—Está na hora daquela hidra pagar pelo seu maior erro - Severo disse mantendo o olhar fixo na floresta, como se ela estivesse ali em algum lugar e pudesse ouvi-los agora.

—Qual? ter delatado Medusa aquele dia? – Antony disse, se aproximando do copo e admirando a forma como ele conseguia segura-lo com as mãos.

—Não… desejar machucar a minha filha - ele disse sério, sentindo o impacto daquela palavra dita por ele pela primeira vez desde que ele conheceu aquela criança, percorrer todo o seu corpo, ele olhou para Antony que agora o olhava ainda mais surpreso, ele não poderia perder aquele momento por nada nesse mundo – Antony você não tem ideia do prazer que sentirei em ajudar a ave prepotente e tagarela de Maeva a morrer – ele disse com bastante ironia – Antony o encarou por um instante, bebeu o whisky e sorriu de forma genuína.

—Serei eternamente grato. 


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Notas finais do capítulo

Eu sei que existem muitas expectativas sobre uma inteiração entre Snape e Shara, eu sei...
Mas esse é um capitulo extremamente importante para a história, repleto de respostas também.

Foi muito difícil escrever a trama principal dessa história, e confesso que quando eu parei para escrever sobre a história do Antony eu meio que me emocionei, eu me emociono fácil também, mas acho muito lindo a jornada dele, e de uma certa forma, vai ajudar o Snape a encontrar sentido na dele.

E pela primeira vez, vemos ele o nosso mestre de poções tão amado, chamando Shara de filha! Uauuu que evolução não é mesmo, eu não sei vcs, mas me arrepiei todinha.

Obrigada a quem esta acompanhando até aqui, acabei de ler os comentários do capitulo anterior, sério meninas vcs tem sido incríveis, prometo responder cada uma.

E agora sim, se preparem para o próximo capitulo :) (prometo não demorar)



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