Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 118
Futuro - A ultima peça


Notas iniciais do capítulo

Ao som de:
Stjernestøv - Aurora
https://www.youtube.com/watch?v=2MTWu0lNVF4
Aguçando o lado mitológico dessa história :)



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Era quarta a noite de uma semana surpreendentemente tranquila e Shara estava se sentindo radiante com suas roupas e acessórios novos, algo que ela nunca pensou que teria, afinal sua vida havia sido embasada em receber e aceitar peças de segunda mão, crianças como ela aprendiam desde muito novas, que não tinham direitos e muito menos opção e isso começava com questões básicas da existência, como o que ter e vestir, e por fim ela acabava usando aquilo que lhe servia e esse passou a ser o único ponto a ser levado em consideração... estética, conforto e até mesmo qualidade, não deveriam ser, tanto é que não eram para ela uma preocupação, contudo à medida que os anos iam passando, era inevitável não notar os olhares de reprovação, as pessoas pareciam mesmo se incomodar com aquilo que os outros vestiam… e comentários como os de Parkinson passaram a ser ouvidos com mais frequência, isso na sua antiga escola e nas ruas, e foi assim que as peças excessivamente desgastadas, por vezes pequenas demais ou grandes para o seu tamanho passaram a deixá-la desconfortavelmente envergonhada, principalmente a depender da ocasião, mas ciente de que não havia nada que pudesse ser feito nesse sentido… ela aprendeu a aceitar aquela que seria a sua permanente condição… mas aparentemente as circunstâncias pareciam estar mudado, sim...

Hogwarts havia mudado tudo para ela... a começar pela sua história, pela sua identidade e agora o que parecia ser pelo seu futuro também... aquelas eram mudanças graduais e significativas e tudo isso em um espaço relativamente curto de tempo... Um ano, sim… e pensar que havia se passado praticamente um ano desde que tudo começou, desde que ela havia recebido aquela carta, ela suspirou... faltavam exatamente duas semanas e três dias para o tão esperado recesso escolar, e então ela estaria de férias... e mesmo sem saber qual seria o seu destino naquele período, ainda assim ela se sentia despreocupada e tranquila, já que a professora McGonagall era a responsável pela sua guarda agora e certamente ela tinha algo em mente que ocupasse sua agenda e qualquer coisa era melhor do que o lar… qualquer programação que fosse, até mesmo ser responsável por realizar um ritual com necromancia, invocando entidades mitologicas, no meio de um lago, em um lugar desconhecido... sim por que aquilo já estava previamente agendado, e a medida que os dias se aproximavam, Shara podia sentir que páginas novas estavam prestes a serem escritas e acrescidas, finalizando quem sabe assim aquele insulto a injustiça que havia sido toda a sua vida, a começar pela maldição imposta a Medusa no passado, sim aquele era um recomeço para ela e todas as mulheres de sua família, assim como era uma segunda chance para Antony… e era algo sobre a Hidra também, Shara não tinha certeza sobre a Hidra, e isso a incomodava, muito mais do que ela gostaria de ser… ela segurou com força o parapeito a sua frente, sentindo a brisa balançar os seus cabelos, enquanto encarava a imensidão do lago negro, que estava particularmente mais bonito naquela noite com o reflexo da lua sobre si… a Hidra estava lá em algum lugar, ela sabia.

—Olá - Shara ouviu chamar, ela estava tão distraída que nem havia percebido alguém se aproximar, Shara se virou para… com certa surpresa, encara-la...

—Catie - Shara disse a chamando pelo apelido, aquilo era completamente inusitado... sim, Shara não esperava vê-la tão cedo... não depois de ter arruinado tudo para ela daquela maneira, mais uma vez... faziam pouco tempo desde o ocorrido, e bem... Shara havia tentando algum contato, ao procura-la na biblioteca nos dois primeiros dias daquela semana, mas Madame Pince havia informado que ela estaria de folga...  o que não era muito comum, fazendo Shara acreditar que ela precisava daquele espaço e não queria ser importunada por ela e por ninguém, mas ali estava ela... Catie se aproximou do parapeito também, ela parecia verdadeiramente encantada com o lugar e com a vista.

—Nunca estive aqui antes – ela disse sem desviar o olhar do lago – é incrível como tudo pode ser ainda mais bonito daqui de cima – ela divagou.

—Sim... eu gosto… esse é particularmente o meu lugar preferido em todo o castelo – Shara informou.

—Previsível – Catie parecia descontraída - já que é também o lugar mais alto daqui e, portanto, o mais perto das estrelas – então Catie riu daquilo – pelo menos era o que você costumava me dizer quando era pequena, depois de passar horas escondida naquele sótão empoeirado no lar… As estrelas, eram sempre pelas estrelas – Shara havia se esquecido daquelas motivações infantis, as lembranças boas daquele lugar, eram tão remotas e distantes que sequer pareciam existir…

—Como me encontrou? – Shara decidiu perguntar, com certa desconfiança, obviamente alguém havia dito – digo... não é muito comum ter companhia aqui em cima... esse lugar é bastante reservado – ela informou, e aquela era mais uma razão pela qual Shara gostava tanto de passar seu tempo lá, e não... isso definitivamente não era sobre as estrelas, mas sim por que ninguém nunca ia lá... 

—Curiosamente – Catie fez uma pausa para pensar sobre aquilo – eu ouvi o professor Snape comentando algo a respeito com a professora Macgonagall, parecia meio fora de contexto na hora e por mais sutil que tenha sido da parte dele, eu entendi… que a informação naquele momento não era para ela, e sim para mim – Catie parecia confusa – quase como se fosse uma dica do que fazer... ou quem sabe, já que foi dito por ele… isso fosse mais como uma ordem... não sei ao certo, apenas foi estranho, além de ser bastante contraditório... afinal por que ele se importaria comigo, ou contigo... não acha? quer dizer... você sabe ele é Severo Snape… e ele não se importa com mais ninguém – Catie se virou para encará-la, a deixando desconfortável em ter que se pronunciar sobre algo assim, seu pai se importava com ela sim, e isso era algo que apenas ela sabia, pelo menos era como deveria ser... Shara pigarreou nervosa.

—Um pouco… sim – Shara disse vagamente... não havia muito mais para ser elaborado, e por sorte Catie deixou passar se voltando para a frente outra vez… ela parecia muito mais interessada com a vista, do que com qualquer outra coisa ali o que nesse caso, era bom. 

—Sabe as vezes tenho medo de dormir – ela estava divagando outra vez - e simplesmente acordar no dia seguinte… e descobrir que tudo isso não passou de um mero sonho – ela confessou – o castelo, a magia… a sua história, a minha... e agora a história de Antony também – ela parou ali... – isso certamente vai muito além do que qualquer conto de fadas que eu já tenha lido, além de ser muito mais empolgante do que qualquer outro personagem que por ventura eu me encantei, caramba... mil anos... ele tem mais de mil anos... – ela respirou fundo – e ele é um mago, e ele é… sua família mais próxima... a sua família Shara – ela repetiu aquilo devagar, então Antony havia mesmo dito, ele havia contado a verdade para ela, certo... talvez ele não tivesse muita opção depois daquele desastre no final de semana, mas ele havia feito de qualquer forma... e Shara teria que pisar em ovos ali, afinal ela não sabia até onde ele havia ido de fato... sendo que definitivamente ele não era o seu familiar mais próximo, mas pelo menos Antony havia se preocupado em não revelar informações adicionais e que poderiam comprometer o professor Snape de alguma forma.

—Sim – Shara admitiu – me desculpe Catie... eu sei que não deveria ter sido dito assim... e… foi tudo culpa minha, mais uma vez... eu sinto muito pela situação – ela desatou em dizer – Antony tem sido bom para mim... e por mais ruim que seja, tudo isso... ser pega de surpresa assim, é uma história em tanto, eu sei… mas deveria reconsiderar, perdoá-lo talvez... não foi culpa dele sabe... eu… estraguei tudo para ele também… eu…

—Eu já o perdoei Shara – Catie a interrompeu – na verdade... não havia muito para perdoar, afinal ele não tinha obrigação nenhuma de me contar sobre isso, pelo menos não ainda... e eu entendo perfeitamente suas razões de não fazê-lo... ele me falou sobre os seus medos e anseios, e me falou também sobre o ritual, sobre uma nova esperança, um recomeço... e eu aprecio o que esteja fazendo Shara e mesmo... que a verdade tenha sido dita e exposta da forma como foi, quero que saiba que eu não o julgo e muito menos estou chateada com você por isso… claro, foi um pouco aterrorizante descobrir algo assim, mas… diante a tudo, de toda essa loucura que tem sido os últimos meses da minha vida, honestamente nada mais deveria me surpreender – e Shara suspirou aliviada, aquela era mais uma prova do quão incrível e dócil a sua amiga podia mesmo ser... – Apenas fiquei me perguntando… será que existe mais alguma criatura como ele? – ela perguntou – sabe, em condições parecidas com as dele? Esse negócio de imortalidade não me parece ser muito comum, mesmo em universos como esse – aquela era uma curiosidade bem peculiar, mas sentindo que não havia necessidade de mentir a respeito... Shara revelou...

—Sim... existe a Hidra – ela olhou para o lago a sua frente – a criatura aquática milenar que vive lá… no lago negro a nossa frente - Catie parecia impressionada – a Hidra também tem estado debaixo dessa mesma maldição... a minha, a das guardiãs e a de Antony  – Shara explicou.

—A hidra - Catie repetiu - e isso tem alguma ligação com Medusa eu imagino – ela parecia bastante familiarizada com o nome... o que tornava tudo ainda mais difícil de conduzir, embora fosse um alívio dos grandes poder compartilhar aquilo com mais alguém, e Catie era sua melhor amiga, Shara apreciou isso.

—Sim... elas… eram irmãs dela, irmãs de Medusa... mas não de sangue... Na verdade Medusa foi encontrada sem memória alguma quando era apenas uma criança, ela estava vagando sozinha em uma vila... e foi então que ela foi adotada pelo pai delas... um mercador local, foi assim, nessas condições que Antony a conheceu, e bem sobre ele... o mercador, digamos apenas que esse homem, que ele não era muito bom e gentil, não com Medusa pelo menos, honestamente não sei muito sobre ele - ela explicou - mas foi uma vida difícil para ela, as suas irmãs também não gostavam dela e a forçaram a viver uma vida medíocre ali, bom… Medusa era diferente daquela família, você sabe... sobre a magia e tudo mais e isso podia ser bastante intragável para os demais – ela tentou explicar, mas aquela era uma longa e difícil história, Catie apoiou as duas mãos no parapeito, processando aquele tanto de informação, algo que Antony não havia cobrido até então.

—Elas? – Catie se concentrou naquilo – você diz isso no plural, como se a Hidra fosse mais de uma… como se ela fosse... Elas – ela parecia querer saber.

—Sim... quer dizer, a Hidra é uma só… uma criatura apenas, embora ela tenha várias cabeças e tudo mais – certo aquilo era um pouco difícil de ordenar – mas existem duas no comando, e essas são as irmãs de Medusa, que foram amaldiçoadas por Atena, junto com Medusa e Antony naquele mesmo dia – ela tentou – são duas então… elas… – Catie encarou o lago agora com ainda mais interesse.

—Naquele nosso encontro, na escola de Londres, semanas depois de você ter partido e ingressado em Hogwarts...  lembro que você havia dito e me pedido para separar toda e qualquer literatura sobre Medusa que houvesse na biblioteca municipal... então você já sabia... digo sobre tudo isso? Naquela época – Catie perguntou.

—Não... eu acho que foi quando tudo de fato começou, mas foram meses até que todas as peças se encaixassem dessa forma, confesso que não sei nem se tenho todas as peças necessárias ainda, mas foi gradual...  – Shara foi honesta – isso é sobre mim, e é sobre o que sou... é assustador eu sei, mas sou descendente de Medusa e bem… de Antony também, e carrego uma maldição milenar comigo... de uma injustiça do passado – ela decidiu parar ali... não sabendo o quanto Antony havia dito, sobre ter sido culpa dele, movido por ciúmes ou algo assim.

—Havia outro bruxo atrás desse assunto na época, aquele das imagens de segurança, que te mandei... – Catie a encarou preocupada – Shara... entendo que tudo isso seja sigiloso, Antony me explicou sobre isso também... mas agora me dou conta do quão perigoso de fato é... você está mesmo segura aqui não está? – ela perguntou, bem sim... na medida do possível ela estava, e Shara quase riu daquilo... aquele era assunto para dias de conversa, e definitivamente não era o momento para avisa-la que na verdade aquele não era bem um bruxo, mas sim uma bruxa e que essa mesma bruxa havia arruinado os planos felizes de natal delas, ao invadir o lar… Usar o corpo dela, matar Noah e todos os demais e quase ter tirado a vida dela ao tortura-la com imperdoáveis no sótão daquele lugar, acabando com qualquer associação boa que Shara pudesse ter sobre estrelas que o lugar pudesse ter lhe oferecido alguma vez... é melhor não comentar...

—Sim o castelo é seguro – ela afirmou e bem... aquilo não necessariamente era uma mentira completa, afinal tinha o seu pai... e o colar, tinha Dumbledore, tinha Antony... Draco a defendendo em suas madrugadas sombrias e tinha também Harry que salvava o mundo bruxo de tempos em tempos.

—É bastante coisa para lidar, você é só uma criança, e tudo isso... essa história, sua família, o ritual... e ser predestinada a algo assim – Catie a estudou com ternura – Antony me contou sobre isso também, passamos os dois últimos dias discutindo a respeito – ela completou - você tem sido tão corajosa Shara, desde sempre, desde nova, desde antes daqui... e você tem um bom coração, tanto que eu sempre soube que você estaria predestinada a algo grande – Catie parecia emocionada – você é diferente... e isso não é sobre a sua magia, isso é sobre quem você é de verdade...

—Eu não sei... - Shara se perdeu nas palavras de consolo da amiga, ela sentia falta de ser acolhida por ela daquela maneira tão afetuosa - eu não me vejo dessa forma, e eu tenho tanto medo sabe... medo de decepcionar... e se o ritual não der certo? E se eu fizer algo errado? E se no fim… tudo isso foi em vão – era incrível como ela podia ser tão sincera com a amiga, abrindo o coração para ela como se nada tivesse mudado entre elas, como se fossem apenas elas duas outra vez... como se a distância nunca tivesse existido – eu não me sinto preparada para algo assim… eu não acho que serei capaz… mesmo quando tudo aponta para mim... existem expectativas e não sei se consigo supri-las, e isso me assusta - ela admitiu.

—Eu acho que a gente nunca se sente preparado para nada na vida – Catie foi sincera também – mas ainda assim... você não está sozinha nisso, você sabe… – Catie piscou para ela – nada mudou Shara e eu continuo estando aqui para você – Catie disse e Shara entendeu, ela estava certa, nada havia mudado... - eu sempre estarei aqui… - Shara sorriu para a amiga, era tão singelo, e aquilo era o que ela queria e precisava ouvir, naquele momento.

—Eu sei – ela sussurrou – sabe… o que mais é curioso aqui? – Shara perguntou... se dando conta de algo de fato curioso sobre a situação em si – é que a Hidra e você... bem existe uma certa ligação – ela contou, vendo Catie a encarar confusa – sim, ela... digo elas, são suas ancestrais também... bem… deixe-me elaborar melhor... lembra que comentei que na noite que eu fui trazida e entregue para o Noah... o seu pai, ele foi enfeitiçado por uma bruxa má? – Catie assentiu – havia um motivo, uma razão para ser ele, dentre todas as pessoas, justamente ele, o seu pai... e isso se dá ao fato dele ser descendente do mercador, aquele que foi o padrasto de Medusa... não me pergunte como, mas vejo que isso é apenas… uma forma doentia de replicar algo do passado, fazendo disso uma infeliz coincidências no futuro... Mas Noah e você... carregam o sangue e a história delas – Catie parecia horrorizada ao ouvir aquilo.

—Elas são... a hidra é... tipo... da minha família? – ela perguntou incrédula... dito assim parecia ainda mais estranho.

—Distante, bem distante, mas sim... da mesma forma como sou familiar do Antony – ela completou.

—A história parece estar predestinada a se repetir, o padrasto de Medusa sendo um homem ruim para ela, Noah sendo ruim para você… as filhas do mercador e a repulsa que elas sentiam por Medusa e sua magia, eu... e você - Catie processava aquilo tudo… - espera... há algo de errado... eu não a odeio Shara, nunca odiei, nem fiz pouco caso sobre sua magia, quer dizer a única vez em que senti algo ruim sobre... raiva talvez... foi quando soube a respeito do que havia sido feito com Noah no passado... bem o feitiço e tudo mais – ela explicou, Catie definitivamente não o chamava de pai e Shara podia entender isso – e eu sinto muito por isso, foi errado da minha parte ter depositado a culpa em você daquela forma – ela disse a olhando arrependida - você tem mesmo certeza que elas, as irmãs a odiavam... digo odiavam Medusa dessa maneira? – Catie tinha um ponto interessante.

—Sim... – afinal Shara havia visto na visão... elas haviam planejado aquilo e manipulado Antony a levar até Atena um fato inverídico, e isso tudo por inveja e ciúmes, Antony havia dito isso, claro que Antony não era muito bom em seus julgamentos, e claro que ele costuma deduzir coisas sobre as pessoas que nem sempre se provaram verdadeiras e que ele poderia muito bem estar equivocado… e Shara havia visto apenas uma pequena fração da história, e dificilmente toda ela se reduziria a um momento único numa visão… Merlin, Shara encarou Catie – Não... – ela mudou de opinião – bem honestamente... não sei – e agora ela mesma parecia confusa.

—Deve existir uma forma de saber a verdade sobre isso... – Catie parecia formular algo – Shara, me diz uma coisa, o que vai acontecer com ela, com a Hidra, depois que vocês fizerem o ritual? - ela perguntou interessada – sabemos que você perderá a marca da maldição e que o seu sangue deixará de ser cobiçado pela promessa da imortalidade e poder, Antony me disse sobre isso – ela explicou antes que Shara pudesse perguntar – sabemos que Antony perderá a imortalidade que possui, contudo não a vida... já que vocês manipularam a poção do colar... mas e a Hidra? – aquela era a mesma pergunta que Shara vinha se fazendo a alguns dias... ela não tinha a resposta para essa pergunta infelizmente.

—Não sei… - Shara admitiu

—Talvez… devêssemos perguntar a ela… afinal se a Hidra está aqui, deve haver algum motivo - Catie disse pensativa – ela costuma ficar sempre na água? Digo... teríamos que mergulhar ou coisa do tipo? – Catie olhou para o lago, como quem buscasse por respostas... Shara suspirou.

—O motivo dela estar aqui... é para impedir que o ritual aconteça, em outras palavras me tirar do caminho, me matando e acredite ela realmente se empenhou nisso, ela podia me localizar, sentindo o cheiro do meu sangue - Shara informou... pensando em como poderia pontuar aquilo, afinal... não ela não ficava apenas na agua e um arrepiou cruzou sua espinha ao se lembrar dos primeiros encontros com a Hidra na sua versão humana, fora de seu habitat natural, Shara conseguia se lembrar com bastante exatidão do medo que sentiu no campo de quadribol... com aquela voz pegajosa dentro da sua mente, e depois naquela noite na floresta proibida, só Merlin sabe o que teria acontecido se a sua magia não tivesse aflorado e a cegado daquela maneira, foi um colapso de magia tão grande e poderosos que quase fez com que a hidra tivesse mesmo algum sucesso, isso sobre tirar a sua vida ali, já que aquele acesso todo afetou seu núcleo mágico e a deixou em coma por alguns dias... de fato as experiências com ela haviam sido suficientemente ruins isso sem mencionar o encontro que Shara havia tido com ela na sua versão fera aquática e de como Shara quase foi devorada junto com o seu pai naquele dia, isso se não fosse pela magia ancestral contida no colar – existe uma única condicionante, para que ela saia da água... noites de lua cheia – Shara explicou, olhando para o céu e se deparando com uma lua bastante cheia e iluminada ali – contudo... – ela corrigiu rapidamente – ela não faz mais isso, digamos que tivemos um desajuste em um dos nossos encontros no passado e que eu a tenha cegado meio que sem querer – ela tentou justificar – claro que foi apenas uma reação da minha própria magia descontrolada – ela olhou para Catie de relance e depois para as próprias mãos... bem, não havia ninguém melhor do que a amiga, para saber sobre esse lance de magia descontrolada, já que havia sido algo parecido como na noite com Noah – e isso ocorreu, dado ao fato de que ela, a hidra estava justamente tentando... aquilo que mencionei... meio que tirar a minha vida sabe, naquela ocasião – e aquilo soava irônico até, algo que um Snape sabia muito bem como ser.

—Talvez eu possa tentar – Catie se ofereceu – talvez ela me escute... já que temos esse vinculo parental... e se ela pode sentir o cheiro do seu sangue, talvez ela possa sentir o o cheiro do meu também... – Catie deu de ombros – e talvez ela leve em consideração aquilo que tenho a dizer, talvez possamos conversar... e ter as respostas que procuramos – a quantidade de talvez, usada pela amiga naquela frase a incomodava... era evidente que ela estava mais do que “talvez” mas sim completamente disposta em correr o risco e fazer aquilo, mas acontece que não era tão simples assim.

—Tem algo... sobre esse negócio de conversar – Shara tentou argumentar – bom... ela até fala, contudo só eu posso ouvir... eu sou ofidioglota, posso me comunicar com cobras... é um dom raro, e ela... bem não deixa de ser uma serpente aquática então... eu teria que falar de qualquer forma...

—Mas ela é uma cobra apenas quando está dentro da água, correto? – Catie perguntou ao apontar o obvio – fora dela... ela costuma ser oque? – o olhar da amiga era intrigante.

—Humana... mas ainda assim, ninguém pode ouvi-la... – era assim que costumava ser...

—Não faz sentido Shara, talvez ela apenas não tenha tido a pretensão de falar com outras pessoas além de você – Shara nunca tinha pensado sobre isso dessa forma e bem havia algum sentido e isso era desconcertante, levando em consideração que Catie era trouxa e pouco se envolvia em questões do mundo bruxo... - e isso me motiva a tentar... veja – ela apontou para o céu - hoje é noite de lua cheia, é perfeito... podemos tentar atrai-la para fora da água  – Catie estava mesmo disposta a fazer aquilo – em quais outras circunstâncias teríamos uma conversa como essas, num dia como esses sem que fosse obra do destino? – Catie argumentou de forma divertida - talvez… - lá estava o talvez novamente - A Hidra também mereça ser ouvida e assim como todos vocês, mereça um novo recomeço… - esse era um bom ponto.

—Sabe... você costumava ser muito mais prudente, antes daqui – Shara sorriu e Catie fez o mesmo – isso pode ser bastante perigoso... você sabe – Shara encarou o lago, mas saber a verdade e ter sua resposta sobre o destino da Hidra, era algo que ela também queria... sim ela faria... – estou de acordo com seus planos – ela disse, sentindo a adrenalina daquilo que viria, fluir pelo seu corpo – eu sei que vai parecer estranho, mas antes de qualquer coisa, você poderia me ajudar a tirar o colar? – ela apontou para a peça em seu pescoço – Catie se aproximou sem argumentar, e Shara se virou para que ela pudesse ter acesso ao fecho, ela havia prometido ao seu pai, que não o tiraria, e ela estava quebrando sua promessa mais uma vez, seu coração estava acelerado e ela se sentia mal por isso, mas ela não podia simplesmente correr o risco de tê-lo pendurado em seu pescoço, literalmente nesse caso, assim que elas estivessem diante da Hidra, aquilo certamente a afugentaria ou até coisa pior, e se ela precisasse mesmo de alguma ajuda, ainda tinha a moeda, então ela usaria a moeda... o convocando.

—É... esse colar, ele não tem fecho – Catie comentou, como assim ele não tinha fecho? Shara revirou os olhos, obviamente que ele não confiava nela para cumprir sua promessa... então ele havia lançado um feitiço para encobri-lo, por essa razão ele havia feito questão de colocá-lo nela... aquele dia.

—Claro que não tem... – ela bufou – bem sendo assim... – ela pensou nas consequências daquilo que elas fariam, algo que seu pai certamente estaria se opondo, e que a faria pegar detenções infinitas, castigos ou seja lá como ele decidisse chamar... mas ainda assim ela faria, decidida de que até mesmo uma criatura tão cruel como a Hidra, merecia se necessário, uma segunda chance… Catie estava certa sobre isso – faremos assim mesmo – ela disse se virando para Catie, a amiga sequer oscilou, ela parecia convicta de que seria bem sucedida ali, e isso era de certa forma encorajador.

—Lembra de quando contávamos histórias uma para a outra antes de dormir? – Catie perguntou para ela – e de como fantasiávamos sobre viver grandes aventuras – Shara assentiu – acho que essa é a nossa oportunidade… vamos – ela chamou... liderando o caminho pela escada – talvez esse seja um presente do destino… de vivermos a nossa própria aventura, nós duas… juntas outra vez – ela piscou e Shara a acompanhou, aquela era uma Catarina muito diferente da amiga insegura e cheia de cautela que ela costumava ser no lar, quem sabe aquela fosse a verdadeira Catarina, que antes se escondia nas sombras do medo de ser reprimida... Shara gostava dessa nova Catarina… e ela combinava ainda mais com Antony.

—Catie... – Shara chamou antes de prosseguir, e a amiga se virou para ela – você está certa… sobre esse negócio do destino, ele realmente pode ter inúmeras formas de nos surpreender... e essa noite, aquilo que falamos aqui e aquilo que faremos juntas, certamente é uma delas… - Catie sorriu abertamente… incrível… e num lapso mental, Shara entendeu… que era para ser ela… Catarina, que era para ser ali… em Hogwarts, que era para ser assim... exatamente como foi desde o princípio… e pela primeira vez tudo isso fez sentido… de alguma forma, mas fez, aquele era o desfecho da história… sim ela estava chegando ao fim, e Catarina era uma parte tão importante dela, como todos os outros haviam sido até então… Shara também sorriu, saltando os degraus... com pressa… rumo ao lago negro.

—___

—Então foi assim… e eu finalmente pude dizer tudo a ela, não foi o ideal… mas… acho que o empurrão foi necessário - Antony concluiu, pelo seu ponto de vista faziam horas que ele estava falando sem parar, maldita ave tagarela… Severo o amaldiçoou mentalmente, enquanto coçava as têmporas - Snape… - ele o chamou… não satisfeito em ter seus ouvidos, ele ainda estava sendo coagido a interagir - você… está me ouvindo? - ele perguntou e Severo bufou, visivelmente irritado.

—Óbvio já que não me resta outra opção - ele rosnou - Não espera mesmo que eu lhe dê conselhos sobre sua tão desinteressante vida, não é mesmo? - ele disse, vendo… Antony beber um gole de whisky e sorrir…

—Certamente não - ele continuava sorrindo - afinal o que esperar do cosplay gótico, mais mal humorado do Batman que já conheci - ele disse de forma divertida, olhando despretensiosamente para o relógio que ficava em cima da porta… - Catie… ela ficou de me avisar assim que finalizasse com Shara… está ficando tarde não acha? - e aquilo era algo do qual ele concordava… Shara estava na torre de astronomia, ele havia confirmado a localização a cerca de meia hora atrás… decidido que já era tempo mais do que razoável, ele acionou o anel outra vez, ele definitivamente não confiava naquela criança, por razões infinitas… e como prova de que ela não era mesmo merecedora de tal confiança… e de que ele estava certo sobre, ele enrijeceu, enquanto seu coração dispava, e parecia querer saltar pela boca… - algum problema? - Antony perguntou, notando a mudança de expressão em seu semblante.

—Sim - ele se levantou às pressas - elas… saíram do castelo - Antony também pulou da cadeira, entendendo que aquilo merecia atenção.

—Onde? - ele perguntou sério.

—Lago negro - Snape disse convocando sua capa…

—Severo… - Antony balbuciou o seu nome… sua voz muito mais baixa do que de costume – não sei o quanto isso pode ser ruim... mas hoje é noite de lua cheia – era ruim, embora a Hidra não tivesse mais ido até Shara, contudo ao que tudo indicava era Shara que estava indo até ela...

—O bastante – ele disse... então eles correram.


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Notas finais do capítulo

Sim, esse capitulo é sobre a ultima peça... aquela que estava faltando para finalizar o grande quebra cabeça, digamos que um desfecho importante, para encerrar essa história cheia de enigmas mitológicos e magia.
De um lado temos a Hidra, uma criatura aquática, temida e imortal... o que será que a história dela tem para nos dizer que ainda não tenha sido dito?
E do outro lado temos Catie, sua descendente direta... uma ligação importante de sangue as une, uma reviravolta que aposto que ninguém aqui esperava ver... (deixei essa pro final... pois o desfecho fará todo sentido).
Contudo precisei fracionar o capitulo, para não deixa-lo tão extenso... e para que expectativas pudessem ser criadas. :)
Sei que são ótimos em cria-las!

Catie não é um personagem de segundo plano, ela não é frágil e esse ponto merece destaque... ela lutou por Shara desde o inicio, ela foi base e alicerce, e digo mais... se Shara se tornou aquilo que ela é hoje, parte disso é devido a Catie do passado, que cuidou de Shara, muito mais do que de si mesma. E aqui vemos Shara se dando conta da relevância dela em sua história "e num lapso mental, Shara entendeu… que era para ser ela… Catarina"... Sim tudo estava conectado... desde o inicio, e elas terão sim uma aventura juntas, fazendo jus aquilo que elas fantasiaram um dia quando crianças.

O que eu mais amei escrever em Destinos Improváveis foi a história por trás de cada um dos personagens, os de minha própria autoria e os de autoria de JK (esses eu mudei um pouquinho haha) mas foi quase mágico ver os elos que eles teriam... Entre passado/futuro... Magia normal/magia ancestral e pontuar quais as impressões que esses personagens deixariam, e o mais legal foi ver eles crescerem na história, ganharem espaço... arrancar risos e lagrimas e alcançarem seus objetivos para simplesmente provar que nem tudo é como acreditamos ser, não para todos pelo menos.
E como mencionei, essa é uma história sobre injustiças! Que elas sejam reparadas... está quase gente, aguenta coração... Por que a depender do coração de Snape não sei não... Hahaha

Corram meninas, que Snape e Antony vem aí

Obrigada a quem tem acompanhado.



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