— Jin, essa é minha esposa Kim Ha Ni... Ha Ni esse é Jin, meu aluno. Estou ajudando ele em algumas matérias.

— Olá Jin, prazer em conhecê-lo.

O mundo de Jin desabou e o deixou desnorteado, com a sensação de que queria fugir dali a qualquer custo. Tentou conter as lágrimas, mas seu coração estava comprimido, como se tivesse levado uma facada. Uma dor intensa tomou conta de seu peito, deixando sua alma pesada. Mesmo com o corpo não respondendo direito e as pernas trêmulas, Jin fez uma reverência para cumprimentar a moça. Ela era notavelmente bonita, com longos cabelos negros e cacheados, e seus olhos grandes brilhavam como esmeraldas. Além disso, ela emanava simpatia e um sorriso caloroso.

Namjoon deu um suave selinho nos lábios de sua esposa, acariciou seus cabelos e sussurrou um "Eu te amo". Jin sentiu como se parte de sua alma se desprendesse naquele momento.

— Jin, minha esposa é linda, vê se não vai se apaixonar por ela — Namjoon brincou sem nem imaginar o quanto Jin estava despedaçado por dentro.

— Professor Namjoon, eu não estou me sentindo muito bem, acho melhor eu ir embora, me desculpe.

— Sério? Me desculpe por não ter percebido, eu te levo pra casa...

— Não, não precisa, vou chamar meu motorista.

— É uma pena que já vá embora, Jin — Disse Ha Ni parecendo se compadecer se sua dor — Espero que melhore. Venha nos visitar mais vezes, farei sanduíches deliciosos.

— Obrigado pelo convite Sra. Kim, voltarei outro dia — Jin foi em direção a porta, queria sair dali o mais rápido possível, tinha medo de não conseguir conter as lágrimas na frente do casal.

— Jin, você não quer esperar aqui até seu motorista chegar? — Perguntou Namjoon.

— Não, não, obrigado, não quero incomodá-los, espero ele lá fora.

— Então eu espero com você — Namjoon olhou para Ha Ni — Já volto, amor.

“Amor?”

Aquela doce palavra atingiu Jin de forma amarga, pois não foi direcionada a ele. Sentiu um nó na garganta e seus olhos ardiam, tentava a todo custo segurar as lágrimas. Já estava escurecendo, os postes da rua desligaram um a um. A escuridão tomava conta da rua e do coração de Seokjin.

— Jin, você realmente não me parece muito bem, está passando mal? Quer que eu te leve no hospital?

Os olhos de Jin estavam rasos d’água, ele via Namjoon através de suas lágrimas teimosas que insistiam em querer sair. Ele olhou para cima na tentativa de evitar que escorressem.

— Namjoon, o que sinto não é físico, dói aqui... — Apontou para o coração — Não tem como médicos ou remédios me curarem.

Namjoon se aproximou e o abraçou. Jin desejou tanto aquele abraço, mas se sentiu tão triste ao recebê-lo. Não pôde expressar seus sentimentos como havia treinado tanto. Namjoon não fazia ideia do grande amor que sentia por ele. Agora, mais do que nunca, Jin iria enterrar todos os seus sentimentos o mais fundo possível em seu coração, o que o despedaçava ainda mais. Seus braços pesavam tanto que não conseguiu retribuir o abraço, ficou apenas parado.

Namjoon o envolvia com tanto carinho que intensificava o desejo de Jin de chorar. Estavam próximos, mas também distantes. As lágrimas começaram a fluir, e Jin não conseguiu contê-las mais. Namjoon sentiu as gotas quentes escorrendo pelo seu ombro e, com ternura, afastou-se ligeiramente para observar Jin, acariciando seu rosto.

— Jin, chore o quanto você quiser chorar, serei o seu ombro amigo quando precisar. Me dói o coração te ver triste assim. O que eu posso fazer pra te ajudar? 

— Não há nada que possa ser feito, eu perdi as esperanças, eu desisto Namjoon.

Namjoon o abraçou ainda mais forte e acariciou seus cabelos.

— Não diga isso, por favor — Sua voz era tão suave que fazia Jin querer chorar ainda mais — Nunca perca as esperanças, Jin. Não desista! Lute pelo que você quer, você é forte, eu sei que você vai conseguir.

Jin o olhou com tristeza, algumas lágrimas deslizaram em sua bochecha e Namjoon carinhosamente as limpou.

— Eu já fui derrotado. Não tem mais o que fazer. 

— Independentemente de qual é a sua batalha eu acredito em você e estou com você nessa, pode contar comigo pro que precisar, se quiser conversar eu sempre estarei aqui, me chame a hora que quiser, ok? Você é importante pra mim e eu gosto muito de você.

“Eu desisto Namjoon, eu realmente desisto de você, eu te amo tanto que até dói, mas ficar com você é algo impossível.”

— Obrigado Namjoon — Jin evitou seu olhar. Além dos sentimentos indigestos e da tristeza avassaladora, sentia-se péssimo e sujo por amar alguém casado. 

Um carro preto estacionou na sua frente e o tirou de seus pensamentos inquietantes.

— Meu carro chegou. Obrigado por tudo, Professor Namjoon, e desculpe qualquer coisa.

— Não precisa se desculpar. Se precisar de mim, não hesite em me ligar, está bem?

Jin assentiu com a cabeça e entrou no carro.

...

— Jin! Acorda! — Hoseok pulou em cima dele, tentando puxar a coberta que cobria seu rosto.

— Hobi, me deixe em paz, quero dormir.

— Faz dois dias que você não vai pra faculdade, estamos preocupados, inclusive Namjoon fica perguntando o que houve. Disse que você não atende suas ligações e não responde no Whats.

— Eu estou bem, só me deixem dormir.

— Bem? — Disse Taehyung entrando no quarto — Sua mãe disse que você não levanta da cama, e que não comeu nada até agora. Isso não é estar bem, Jin.

— Jin — Jungkook estava parado no batente da porta —, eu nunca me apaixonei então não posso entender como se sente, mas estou preocupado com você. Não quero te ver mal assim. Precisa seguir em frente e superar isso.

— Namjoon é o único pra mim, não vou amar mais ninguém, apenas ele, mesmo que ele nunca seja meu.

Jungkook suspirou, esforçando-se para compreender, na medida do possível, os sentimentos do amigo, embora achasse difícil entender como alguém poderia sofrer tanto por alguém que não fosse um amigo próximo.

— Me desculpe, Jin. Não quero ser insensível com seus sentimentos. Que tal fazermos o dia da fossa hoje? Vamos se entupir de sorvete, chorar assistindo filmes românticos e depois encher a cara de Soju — Jungkook se aproximou e bagunçou seu cabelo. 

— Por isso eu te amo, Kookie — Jin o abraçou — Vamos começar assistindo “Um amor para recordar” e depois “A culpa é das estrelas”, que é pra foder com tudo mesmo.

...

No dia seguinte, Taehyung estava sentado em uma poltrona ao lado da cama de Jin, que dormia tranquilamente. Ele estava lendo um livro aleatório que tinha encontrado em um móvel próximo à cama. Jin se remexeu na cama, abriu os olhos e se espreguiçou.

— Tae? Achei que já tinha ido embora.

— Não, queria ver como você estava antes de ir. Dormiu bem? 

— De certa forma sim porque vocês dormiram comigo hoje. Não estou bem, mas vou ficar — Jin estava com os olhos inchados, havia chorado muito na noite anterior — Vou voltar pra medicina, entrei pro TI só por causa de Namjoon. Preciso me despedir dele e esclarecer as coisas. Ele não para de me ligar e mandar mensagens, parece estar preocupado por eu ter faltado esses dias.

— Acho que é a melhor decisão. Precisa cuidar de si mesmo e desse seu coraçãozinho lindo. Manter a distância dele vai te ajudar a clarear a mente e ressignificar seus sentimentos. Sabe que pode contar comigo né, gato? Se precisar de alguma coisa é só chamar... Vou indo pra facul... Se cuida, te amo — Taehyung deu um beijo em sua cabeça e saiu.

“Que bom que tenho esses meninos que me animam... Mas agora preciso ir falar com Namjoon, não posso evitá-lo a vida toda.”

Após um longo banho e duas xícaras de café sem açúcar, Jin pegou as chaves do carro e partiu. Ligou o rádio e a primeira música que tocou foi "Best of You" do Foo Fighters. Era a mesma música que tinha ouvido no carro de Namjoon, e a letra ressoou tão profundamente que fez lágrimas brotarem nos olhos de Jin. Ele tinha dado o seu melhor a Namjoon.

Aquela música era uma lembrança vívida do professor. Jin mudou para suas músicas no pen drive, e a primeira que tocou foi "Stand by Me" do Oasis. Quando a melodia começou a encher o carro, seu coração apertou e mais lágrimas escorreram de seus olhos. Sem perceber, Jin já estava desabando em lágrimas, debatendo-se entre os soluços e as palavras da canção, sem saber se deveria chorar ou cantar.

“Stand by me 

Nobody knows the way it's gonna be

Stand by me

Nobody knows yeah, nobody knows

The way it's gonna be”

Jin respirou fundo, decidido a colocar um ponto final naquilo tudo. A dor que mais o afligia era o fato de que Namjoon sequer imaginava o quanto ele o amava. Terminar algo que nunca realmente começou era desolador. Jin chorava porque não teve a oportunidade de expressar o que sentia. Namjoon era casado e parecia feliz. Jin o amava, e isso era o que mais importava, que ele estivesse com alguém que o fazia bem.

Chegando no campus, Jin foi ao banheiro lavar o rosto. Era óbvio que ele estava chorando, não havia como esconder. Seus olhos estavam inchados e vermelhos. Mesmo assim, ele precisava falar com Namjoon. Jin esperou na frente da sala de aula de Namjoon, que ainda estava em andamento. Minutos depois, quando a aula finalmente acabou, todos os alunos se retiraram. Yoongi passou por ele, deu um breve cumprimento, e estava acompanhado por um rapaz alto com aparelho nos dentes, que Jin não conhecia muito bem. Ao entrar na sala, Namjoon olhou para Jin e abriu um sorriso largo, destacando suas covinhas.

— JIN! Eu estava tão preocupado, como você está? Aconteceu alguma coisa?

— Obrigado pela preocupação, Namjoon. Estou bem, só vim avisar que não assistirei mais suas aulas.

— Sério, Jin? — O semblante de Namjoon caiu — Eu fiz algo de errado?

— Não, não, você não fez nada de errado, é só que minha vocação é pra medicina, assim como toda minha família, acho que está no sangue — Jin forçou uma risadinha.

— Entendo, escolher a profissão certa é algo de muita responsabilidade, afinal é o seu futuro. Você é incrível Jin, vai se dar bem em qualquer área que quiser seguir... mas você está bem? Fiquei tão preocupado com a sua ausência.

— Estou passando por um momento difícil, mas vou me recuperar.

— Eu posso te ajudar? Não gosto de te ver triste, tem algo que eu possa fazer?

“Me amar, me abraçar, me beijar e viver comigo um romance que só existe na minha cabeça” — Pensou Jin. 

— Obrigado Namjoon, mas infelizmente não há nada que possa ser feito por outros, é algo que preciso resolver sozinho.

— Se você quiser conversar e se sentir à vontade para compartilhar o que te deixa tão triste, estarei aqui, pode contar comigo.

Jin suspirou com tristeza e o olhou no fundo dos seus olhos.

— A verdade é que amo tanto uma pessoa e isso está acabando comigo.

— Amar deveria ser algo bom. Por que isso está acabando com você?

—Porque é um amor platônico, e isso dói, mas o importante é que essa pessoa está feliz com quem ama — Jin o olhou com os olhos marejados, queria dizê-lo o quanto o amava —,  eu só queria que essa dor passasse...

Namjoon pegou em suas mãos, sentiu empatia por Jin, parecia que sentia a sua dor.

— Ei, isso vai passar, você é uma pessoa tão maravilhosa. Sem dúvida nenhuma vai conhecer alguém que o ame como você merece. Seja forte Jin, eu estou do seu lado, gosto muito de você e quero que seja feliz, quero te ver bem — Namjoon acariciou seu rosto. 

“Não diga que gosta de mim, mesmo sendo apenas como um aluno ou um amigo isso torna as coisas mais difíceis" — Pensou Jin. 

— Obrigado Namjoon... Posso te pedir uma coisa?

— Claro que pode.

— Não estranhe.

— De forma alguma. Me diga, o que quer me pedir?

— Não sei quando nos veremos novamente, estarei muito ocupado com o curso... Você pode... me dar um... abraço?

Namjoon deu risada, não de um jeito zombeteiro, mas de um jeito divertido e caloroso. 

— Só isso? Um abraço? Não sei como isso pode te ajudar em alguma coisa, mas é claro que eu posso — Namjoon o puxou em seus braços e o abraçou forte — Boa sorte Jin, que tudo dê certo em sua nova jornada, não vamos perder o contato, quero continuar te vendo.

— Sim, vamos continuar nos vendo — Disse desanimado, pois seus planos era se afastar completamente de Namjoon.

Jin o abraçou com todo o seu coração, segurando-o firmemente. Ele desejava que aquele momento durasse para sempre, mas ao mesmo tempo tentava conter as lágrimas que teimavam em surgir.

“Eu sempre vou te amar... Adeus Namjoon”.