De Nada à Nada escrita por Vanilla Sky


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu demorei mais do que queria para escrever, e para postar, essa fic. Na verdade, eu sabia que queria algo Karedevil, mas só consegui focar em uma ideia nos últimos dez dias de desafio, e aí acabou sendo uma correria (por isso, me perdoem os errinhos, com certeza vocês vão encontrar algum).

A verdade é que eu sinto saudade desses personagens e das interações deles. Sério, acho os dois muito perfeitos! Por mais que a Marvel não goste muito da Karen (isso é histórico, já). Não sei se alguém vai gostar de ler essa história, mas desejo que goste muito e saiba que você, leitor, tem minha eterna gratidão. Escrever com esse ship é certamente um conforto para mim ♥

Link da música: https://www.youtube.com/watch?v=973ibay5504

Boa leitura!

Edit: mais cedo não deu tempo, mas eu preciso dizer que a existência dessa história se deve ao Areiko, à Dani, e ao Shini; ao Areiko, que sempre me apoia com as minhas fics e escuta as minhas ideias. À Dani, pela amizade incrível que formamos nesse período e pelo apoio que ela me deu para que eu participasse do desafio. E ao Shini, que me apresentou a música e teve paciência enquanto eu escrevia nesses dez dias. Obrigada a vocês, por tudo ♡



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Every now and then I fall

 

(De vez em quando eu caio)

 

Every now and then I lose control

 

(De vez em quando eu perco o controle)

 

In your eyes I see your thoughts surrounding me

 

(Nos seus olhos, eu vejo seus pensamentos me cercando)

 

And I've a little bit of thought for you

 

(E eu penso um pouco em você)



Karen Page não era uma completa estranha à privação de sono.

Fosse pela vontade de pesquisar os casos em que trabalhava ou simplesmente pelo excesso de cafeína, noites mal dormidas eram mais comum do que ocasiões onde descansava por sete horas em sequência.

Ela também não estranhava os pesadelos. O barulho de tiros e de freios quebrando junto do impacto sobre seu corpo sem que tivesse se movido na cama eram fatores que a acordavam de madrugada com certa frequência. Porém, recentemente, passado e presente se misturavam na fórmula até então conhecida; Karen não mais escutava a voz de seu pai, mas sim de Ben Urich. Às vezes, não via Wesley em seu sonho, e Wilson Fisk tomava seu lugar, esganando-a com suas mãos. No banco do passageiro em que seu irmão morrera, frequentemente via Matt Murdock morto ao seu lado.

Ela estremeceu ao lembrar do último sonho e rapidamente pegou o celular, checando a hora - pouco antes das duas horas da manhã. Matt provavelmente não a atenderia se ligasse, mas talvez, só talvez, ela pudesse sentir um pouco de alívio ao ouvir sua voz pelo telefone. Por isso, quando percebeu, já havia discado o número dele no teclado numérico, e a linha não demorou muito a conectar.

— Alô?

~.~

Matt Murdock dificilmente conseguia cair no sono após uma noite agitada.

Encerrar os trabalhos tão cedo poderia ser um luxo, contudo, naquela noite, os gritos ainda ecoavam entre suas orelhas e era capaz de sentir os músculos dos braços tremendo por baixo da pele. Sabia que não poderia prosseguir por ora, não sem deixar um pouco de sanidade de lado.

Sentado na beirada do colchão, Matt segurou o punho utilizando de uma mão e puxou o braço sobre sua cabeça, sentindo o estalar de seus ossos e um certo alívio na musculatura. Já esteve em situações piores. Nem tanto sangue pingava dos nós de seus dedos quanto em momentos anteriores, e a cabeça não doía tanto. 

Ainda assim, estava quebrado.

A última coisa que esperava naquela noite era que seu telefone tocasse; ele ouviu sua vibração tímida sobre a mesa de madeira dar espaço à uma voz conhecida: Karen… Karen… Karen…

Antes mesmo da primeira sílaba do nome terminar de ser mencionada, Matt pulou do colchão e correu em direção à mesa, o pior passando por sua mente - teria ela se machucado? Sido novamente sequestrada? - e ele atendeu o telefone, ofegante:

— Karen? — ouvir sua respiração no telefone era um alívio, e ele recobrou o fôlego antes de dizer: — Oi.

Um curto silêncio.

— Está tudo bem? — Matt arriscou dizer.

Do outro lado da linha, Karen Page se sentia uma completa idiota.

— Matt, desculpa ter ligado para você, eu não achei que você fosse atender.

— Bom, eu estou aqui, não estou? — Ele riu do outro lado da linha. — Por que você achou que eu não iria atender?

— É que nesse horário você geralmente… está… nas suas atividades noturnas, eu diria?

— Ah. Isso. 

Novamente o silêncio preencheu o ambiente, e a moça queria abrir um buraco no chão para se esconder da estupidez que cometera.

— Você… Você está bem-? — ela aproveitou para perguntar antes de desligar o telefone. — Está machucado?

— Está tudo bem — Matt respondeu de forma pouco convincente, porém, bastou para Karen se sentir um pouco melhor. — Por que você me ligou?

Uma certa curiosidade se destacava em seu tom de voz, e a moça segurou o lençol sobre o peito, sentindo seu coração bater tão rápido que se perguntou ser possível Matt escutá-lo do outro lado da linha. Talvez ser honesta fosse a melhor opção naquele momento, e a opção terminativa daquela conversa também.

— Eu tive um pesadelo em que você morria e não consegui mais dormir.

O silêncio o qual sucedeu sua fala foi pesado, em que nenhum dos dois conseguia pensar no que dizer. Karen umedeceu os lábios e, em seguida, os contraiu, com todos os pensamentos de arrependimento preenchendo sua mente. 

— Karen…

— Desculpa. — Disse ela, enfim.

— Por favor, não me peça desculpas — Matt falou devagar, procurando as palavras certas. — Eu sinto muito por isso.

— Não se preocupe. Eu liguei mesmo por um impulso de saber se você estava bem, só que, como disse antes, nem esperava que você atendesse.

— Você disse que não conseguia dormir, certo?

A entoação daquela frase já possuía, em si, ares de um convite. Karen confirmou com uma monossílaba, preocupada com o que viria depois.

— Eu mesmo estou com dificuldades para dormir, porque foi uma noite… difícil — ela estremeceu; Matt dificilmente falava sobre suas noites como vigilante com ela ou com Foggy. — Então, se você topar, a gente poderia fazer companhia um para o outro na madrugada. O que acha?

Karen demorou menos a responder do que gostaria, já se levantando com o celular preso entre o ouvido e o ombro enquanto abria o armário:

— Te encontro em dez minutos no lugar de sempre?

— Fechado. — Ele sorriu e desligou o telefone.

 

~.~

 

'Cause every now and then I fall a bit behind

 

(Porque de vez em quando eu fico um pouco para trás)

 

Every time I stare into your eyes

 

(Toda vez que eu olho nos seus olhos)



Karen sabia que Matt estava lá dentro antes mesmo de abrir a porta para o bar da Josie.

Segurou a maçaneta da entrada por alguns instantes, pensando seriamente se deveria desistir. Pela janela, contudo, ela o via sentado em frente ao balcão - devido ao horário, o recinto já não se encontrava tão cheio -, duas garrafas de cerveja em sua frente e o rosto de vez em quando virado para a porta, ansiando ouvi-la chegar. Sabia, pela posição de seus lábios e a inquietude no assento, que ele estava ansioso, tanto quanto ela, o que fez seu coração flutuar levemente no instante necessário para empurrar a porta pesada e adentrar o local.

A expressão de Matt se iluminou ao sentir o perfume de Karen, um sorriso imediatamente preenchendo seus lábios e adornando seu rosto ao que a moça se aproximava do banco ao seu lado.

— Eu tomei a liberdade de pedir uma cerveja para você.

Karen pegou na base da longneck e levou o gargalo até a ponta dos lábios.

— Do jeito que você fala, parece um encontro.

Matt sorriu um pouco sem jeito e rapidamente mudou de assunto:

— Não é estranho para você vir aqui sem o Foggy?

— Tem razão — ela voltou a colocar a garrafa sobre a mesa. — Será que ele também está com problemas para dormir?

— Eu tenho medo de ligar e me meter em problemas.

— Sim, e isso é deveras corajoso para um homem sem medo.

Os dois riram; a olhos normais, pareciam um casal ordinário curtindo a noite. As pessoas que os observavam de longe jamais saberiam a forte conexão, a porção de vida dividida e um romance que parecia ter nascido para não fadar entre um par de sorrisos e cervejas divididos pelos jovens.

Karen apoiou o rosto no queixo e o cotovelo sobre a bancada, observando os olhos de Matt por trás dos óculos avermelhados. Não pôde evitar de perceber que ele vestia uma camiseta cinza, bem como de pensar que foram raras as oportunidades que o vira em uma roupa casual ao invés do terno e gravata do escritório. Sentiu um sorriso genuíno aparecer discretamente em seu rosto enquanto ele falava algo, e seus pensamentos se perdiam em meio à sua voz gentil, escutando em parte a sua história, em parte os barulhos externos abafando a conversa.

Até sua barriga começar a roncar e tirar a atenção de ambos da conversa.

— Desculpa, eu não comi antes de vir para cá — ela terminou sua cerveja e a entregou para Josie, e Matt fez o mesmo.

— Eu sei exatamente onde podemos ir, então.

~.~

 

Your thrills I find

 

(Eu vejo as suas emoções)

 

It's not hard to be left behind

 

(Não é difícil ficar para trás)

 

Algo que Karen adorava na cidade eram as barracas de comida de rua.

E justamente dando a primeira mordida em um cachorro quente às duas e quarenta da manhã, ela pensava no quanto amava Nova York e não queria sair dali nunca mais - esse pensamento permeava sua mente enquanto sentia pão macio sob seus dentes, a mostarda picante junto ao agridoce do ketchup, e deixava escapar sons felizes pela boca fechada.

— Eu tenho boas histórias para contar desse lugar — Matt limpou o canto da boca com um guardanapo. Os dois estavam acostumados a beberem juntos, porém, surpreendentemente, era a segunda vez que saíam para comer sozinhos. — Eu vinha muito aqui com o meu pai depois das lutas dele… as que ele ganhava, é claro.

Matt sorriu, preso na memória, enquanto se recostava na grade de um prédio.

— Quando eu era mais novo, chegava aqui com muita fome. E muito impaciente! — Ele riu da sua própria animação. — Então, enquanto meu pai fazia o pedido, ele pedia para eu contar cada estrela que tinha no céu.

Karen prosseguiu comendo com a atenção voltada para ele; o jeito que olhava para cima com a comida em mãos, um sorriso de canto de boca que se recusava a deixá-lo enquanto pensava, os músculos definidos seguindo seu antebraço até o ombro-

Talvez ela estivesse reparando demais. 

Sim, definitivamente, estava reparando demais.

— Depois do acidente, eu seguia impaciente, e ele me pedia para adivinhar a quantidade de estrelas. Enquanto eu chutava, ele dizia se estava muito perto ou longe da quantidade real e, em seguida, já estávamos comendo.

Ele enfim continuou a comer ao tempo que Karen finalizava o seu próprio lanche e limpava as mãos.

— Eu estava justamente pensando no quanto as barraquinhas de rua são incríveis — ela disse para Matt, o qual desfrutava daquele pedaço de memória, e se encostou na mesma grade, seu ombro quase encostando no dele. — Em Vermont, à noite, só se vê a luzinha bem distante da casa do vizinho.

Após uma pausa muito breve, prosseguiu:

— Porém eu lembro de algo bem parecido, de contar as estrelas com o meu irmão enquanto nossa mãe fazia o jantar — assim que Matt terminou de comer, ele segurou no cotovelo de Karen para prosseguirem sem rumo pelas ruas da cidade. — O céu de Vermont é realmente a minha maior saudade de lá.

— Dá para ver muitas estrelas da sua casa? — Questionou Matt.

— Milhares! — Ela respondeu, feliz. — Eu e o meu irmão perdíamos a conta várias vezes, e acabávamos brincando por isso, mas, pelo menos, minha mãe podia preparar o jantar em paz. — Karen ficou alguns segundos em silêncio e, de repente, parou, fazendo com que Matt virasse o corpo na sua direção. — Tente adivinhar quantas estrelas tem no céu nesse exato momento.

— É sério?

— Sério! — Karen escorregou as mãos pelos braços de Matt, segurando os dedos dele em suas palmas. — Feche os olhos.

— É sério mesmo? — Ele confirmou, a incredulidade transbordando pelo vinco em sua testa e no tom de sua voz.

— É mais legal. Vamos, é só fechar.

Matt prontamente obedeceu, respirando profundamente e se concentrando enquanto segurava as mãos da moça.

— Bom, eu vou chutar… dez estrelas.

Karen levantou a cabeça em direção ao céu, e contou em voz alta:

— Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove… Tem uma décima escondida atrás da nuvem ali. — Ela sorriu. — Acertou!

O rapaz ficou um tempo parado, seu sorriso diminuindo como se prestasse atenção em alguma coisa. Preocupação surgiu no peito de Karen, mas logo se dissipou quando os lábios dele voltaram a se curvar para cima, ocasionando que pequenas rugas aparecessem ao redor de seus olhos.

— Eu escuto uma máquina de pinball aqui perto? Page, é melhor você não estar com sono ainda…

~.~

So I'll run, you'll hide

 

(Então eu vou correr, e você vai se esconder)

 

We know better than to stay outside

 

(Nós sabemos melhor do que ficar do lado de fora)

 

— Murdock, não vale usar as suas habilidades para trapacear!

— Desculpe, Page, mas "trapacear"? Que eu saiba, você tem uma vantagem dobrada sobre mim.

O barulho de bipes e música chiptune preenchia um bar com fliperama lotado de grupos de amigos e universitários, e Matt e Karen se divertiam em uma máquina de pinball há um período de tempo considerável em meio à multidão. Pessoas entravam, saíam, passavam por trás deles enquanto os dois continuavam imersos em suas conversas no meio da movimentação.
— Droga! — Matt se soltou da máquina quando a bolinha prateada atravessou as duas lâminas prateadas. — High score, Page. Tenta bater essa agora.

Ela riu em voz alta, e se aproximou do lugar anteriormente ocupado por ele.

— Tinha esquecido como você é competitivo.

Enquanto o objeto metálico era jogado incessantemente entre estações que garantiam pontos, Matt se encostou no jogo e perguntou após alguns momentos:

— Então… O seu pesadelo teve alguma coisa a ver com Midland Circle?

A bolinha atravessou imediatamente as barreiras, e a música de game over fez Karen bufar.

— Não — ela disse, enfim. — Foi algo diferente. E eu não vou deixar você jogar agora. — Acrescentou enquanto colocava uma moeda no brinquedo.

— Justo. Mas… você quer falar sobre esse pesadelo?

— Depende, você vai falar sobre a sua noite ruim?

Matt cruzou os braços na frente do corpo.

— Não dá pra dizer que existem noites boas, mas algumas conseguem ser piores. Onde eu sinto minhas mãos tremerem e presencio coisas inimagináveis. — Ele mantinha o tom de voz baixo e tentava ser evasivo, por mais que tivesse certeza de ninguém prestar atenção. — Essa foi uma dessas noites.

Depois, só era possível ouvir os sons da máquina e o burburinho alheio, até Karen, enfim, falar:

— Eu tenho pesadelos desde sempre. Só que, de um tempo para cá, eles vêm mudando — a bola prateada bateu em um grande círculo colorido. — No início, era só o Fisk em todos os lugares — novamente, uma batida do objeto, dessa vez em algo menor. — Depois o Ben começou a falar que eu deveria ir embora e hoje você apareceu morto no meu carro depois de eu provocar um acidente.

Game over.

Matt permaneceu em silêncio enquanto Karen apoiava as duas mãos, uma em cada lado, na máquina de pinball e suspirava pesadamente, tentando não se levar pela tristeza. Pensou em sair dali imediatamente, resistindo à vontade enquanto apertava o metal sob seus dedos; percebendo a situação, ele apertou os lábios e disse, baixo o suficiente para apenas ela escutar:

— Você sabe que não foi culpa sua.

É lógico que foi — ela foi tomada pelo desespero e uma enxurrada de lágrimas se postou em seus olhos, caindo uma a uma. — Eu só… Eu não… Desculpe.

Os dois saíram porta afora, cumprimentados por uma companheira antiga: chuva. Estavam tão imersos no jogo anteriormente que nem prestavam atenção no exterior. Já com as roupas molhadas e o cabelo pingando, Karen disse, cobrindo o rosto com as mãos:

— Nós dois estamos fadados a nos mantermos longe um do outro por medo de errarmos, até no nosso inconsciente — ela abafou um grito, e novas lágrimas arderam em seus olhos. — Eu sinto muito por ter aceitado e arrastado você nisso.

— Você quer ficar sozinha? — Questionou Murdock.

A resposta veio do fundo do coração de Karen:

— É a última coisa que eu quero nesta noite, honestamente.

— Karen…

Ele não tinha o tom de voz alto ou desesperado, e, sim, calmo e contido como sempre foi. Apenas chamando-a, como se a atenção dela não estivesse indivisivelmente à sua disposição o tempo todo. Aquilo era o que bastava para ela sentir suas pernas amolecerem e o coração palpitar da maneira que apenas acontecia quando estava junto dele. Os pingos de chuva se misturavam com a água desprendendo de seus olhos ao passo que Matt dava um passo à frente para segurar o rosto de Karen entre suas mãos.

— Se eu puder, por favor, me permita terminar essa noite com você, ainda que seja só essa — a voz rouca de Matt soou em seus ouvidos, e apenas nos seus ouvidos, não reverberando fora dali. — Não quero deixar o medo arruinar o que nós tivemos mais uma vez.

Respirando profundamente, Karen repassou aquelas palavras em sua mente, uma a uma, e assentiu devagar. 

Ainda que seja só essa noite.

Delicadamente, ele puxou o rosto dela em sua direção, colocando seus lábios sobre os de Karen e sentindo o sal das lágrimas preenchendo cada ranhura de suas bocas unidas. O toque foi gentil, calmo, e tudo o que Karen ansiava há muito tempo. O espaço entre um beijo e outro era preenchido por uma nova investida de ambos que clamavam por aquilo. Por mais daquilo.

— Estamos perto da minha casa.

Ele não precisava dizer duas vezes.

~.~

You're cold and your awake

 

(Você está fria e está acordada)

 

You said I should have never of stayed

 

(Você disse que eu nunca deveria ter ficado)

 

But there's no better place for me

 

(Mas não há lugar melhor para mim)



Karen havia visitado o apartamento de Matt Murdock vezes o suficiente para tê-lo decorado, e, ainda assim, Matt a conduzia por maestria entre os móveis, usando uma das mãos em suas costas para proteger sua lombar de bater nas quinas e objetos mal posicionados enquanto a beijava e Karen, um tanto mais afobada, colocava as mãos por dentro da blusa de Matt e buscava o fecho de seu cinto.

Uma vez que deitaram na cama, quando seu cardigã já estava no chão e ele trabalhava para tirar o restante de suas roupas, sentiu-se completamente entorpecida, canalizando as energias por trás dos olhos fechados. O hálito quente de Matt deixava beijos profundos em seu colo e sussurrava seu nome, viajando por entre os seios, seus quadris e finalmente aterrissando no meio das suas pernas, o que fê-la imediatamente derreter sobre o colchão. Passara meses romantizando aquele momento quando sonhava acordada após algumas taças de vinho, e não fazia ideia até então que era possível a realidade ser ainda melhor do que a sua imaginação proporcionava.

Até então, ela respondia todas as perguntas de Matt com monossílabas - se estava bem, se gostaria de continuar -, e palavras inteiras somente saíram de sua boca quando ele finalmente deslizou dentro dela. Eles sentiam as respirações arfantes um do outro como sussurros nas paredes de um local que, naquele momento, pertencia só aos dois. Gemiam seus nomes baixinho, intercalando com beijos até o momento em que nada mais era compreensível e só conseguiam deitar no colchão, abraçados, absorvendo tudo o que havia acontecido nos últimos minutos enquanto o prazer se esvaía de seus corpos pouco à pouco, juntamente de quaisquer sentimentos de arrependimento que pudessem ter afligido seus corações.

Karen enlaçou os braços ao redor do pescoço de Matt, sentindo a pele, úmida de chuva e suor, se tornar uma coisa só com ele; e lentamente fechou os olhos em direção a um restante de noite sem sonhos.

~.~

Uma fresta de cortina entreaberta iluminou as pernas de Karen quando abriu os olhos horas depois. Virando a cabeça lentamente de lado, viu Matt Murdock adormecido, um braço ao redor da cintura nua dela no que ela esperava ser um gesto protetivo para que não fosse embora sem acordá-lo.

Ainda embebida de sono e prazer, ela juntou as peças da noite anterior em sua mente, sabendo que poderia ser a última.

E não queria que acabasse tão cedo assim.

Por mais que a escuridão tivesse cedido lugar ao radiante sol, percebendo que Matt não estava próximo de acordar, Karen se aninhou nele e fechou os olhos para tentar esticar aquele momento o máximo possível.


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Notas finais do capítulo

"Dizer à ela a verdade? Dizer à ela a verdade, para que ela veja as estrelas por trás de lágrimas em seus olhos ao invés de seguir a única estrela fria que é seu destino? Não, não - deixe que ela pense que eu nunca a amei."

Em dezembro, eu comecei a escrever uma fanfic de Natal da Vampira e do Gambit (o ship se chama Romy!), mas cheguei aos 5k ainda escrevendo, simplesmente porque era um estilo novo, um que nunca tinha seguido antes. Eu ainda vou postar essa fic (antes do Natal desse ano, se tudo der certo hahaha), porém devo dizer que ela inspirou muito essa fanfic. Não envolve declarações de amor, mas sim duas pessoas que buscam conforto uma na outra, o que pode ser para sempre ou apenas momentâneo. Essa música, segundo o Genius, fala sobre um casal que não consegue se acompanhar, e isso é algo que atribuo bastante à Karen e o Matt - eles se amam e fazem todo o possível para dar certo, mas não conseguem acompanhar um ao outro.

Essa história deixou um gostinho amargo na minha boca, mas não foi de todo ruim. Pelo contrário, eu gostei de mudar um pouco e de escrevê-la.

Espero que tenham gostado também e até a próxima :)



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