Backdoor escrita por llRize San


Capítulo 7
Mary Poppins Bombadinho




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808940/chapter/7

(Um ano antes da Revolução das Máquinas) 

 

… Changbin …

 

Enquanto cuidava dos cabelos de sua irmãzinha mais nova, Tzuyu, de apenas dez anos, Changbin precisava manter um olhar atento em Nayeon, de doze anos, que corria pela casa abraçada com o gato. A mais tranquila era Dahyun, com quinze anos, preferindo assistir a séries e sendo menos falante. A perda da mãe no nascimento de Tzuyu e o abandono posterior do pai colocaram em Changbin não apenas o papel de irmão mais velho, mas também o de figura paterna para essas meninas.

Changbin, aos 25 anos, mal conseguia conciliar seus empregos com a rotina de um pai improvisado. Sua vida agitada não deixava espaço para a realização do sonho que acalentava desde jovem: cursar Educação Física e compartilhar sua paixão pelos esportes com as crianças. Apesar da falta de tempo para a faculdade, seu amor por crianças e esportes o tornava uma das babás mais solicitadas. Essa situação parecia irônica para quem o visse pela primeira vez – um rapaz robusto, musculoso e com uma expressão séria, longe do estereótipo tradicional de uma babá. No entanto, Changbin conquistava a estima tanto das crianças, devido à sua natureza carinhosa e divertida, quanto dos pais, graças à sua responsabilidade e dedicação.

Graças à sua natureza benevolente e suas boas ações, Changbin recebeu ajuda de diversas pessoas. Essa colaboração permitiu que ele garantisse bolsas de estudo para as melhores escolas do estado, proporcionando às suas irmãs a educação de qualidade que ele próprio não teve a oportunidade de alcançar.

Enquanto arrumava a lancheira de Tzuyu, Changbin recordou do desafio que foi o primeiro dia de aula dela. Naquela época, com apenas 21 anos, ele era apenas um jovem, mas precisou assumir o papel de adulto na ausência do pai. A caçula chorava compulsivamente, relutante em se separar do irmão. Foi necessário muita conversa e negociação para convencer a pequena a acompanhar a professora.

Já Nayeon teve uma reação oposta. Ao se deparar com o agito das crianças correndo, gritando e brincando, ela simplesmente esqueceu da existência do irmão e correu animadamente para interagir com os novos colegas.

Dahyun, sempre dedicada aos estudos desde que aprendeu a ler com a mãe antes mesmo de entrar na escola, não deu trabalho algum. Na verdade, ela nunca dava trabalho, sendo sempre o porto seguro das meninas. Embora Changbin tentasse ajudar em algumas situações, a comunicação ficou mais desafiadora quando a garota entrou na adolescência, talvez por não ser a mãe dela, não ser mulher e não entender completamente. Changbin se esforçava, e Dahyun reconhecia isso, mesmo que não expressasse em palavras.

Conforme o ano avançava, as conquistas das meninas enchiam Changbin de orgulho. Tzuyu estava radiante por ter feito seu feijão crescer no algodão. Nayeon, por sua vez, conseguiu o papel principal no teatro da escola, mas rejeitou a princesa para se tornar o príncipe, convencendo a todos de sua habilidade superior em lutas. Dahyun, embora não fosse muito fã de festas, concordou em participar da festa do colégio para agradar o irmão. Com recursos limitados, Changbin mesmo confeccionou o vestido de Dahyun, que surpreendentemente ficou perfeito. Ao vê-la descer as escadas, Changbin quase chorou, impressionado com a beleza de sua garotinha, que estava crescendo e se tornando uma jovem notável. Sentia um imenso orgulho, pois ninguém naquela cidade era tão bonita quanto sua irmã.

Depois de deixar Dahyun na festa, Changbin organizou uma noite de cinema em casa com filmes escolhidos pelas mais novas, acompanhados de pipoca e doces. Tzuyu adormeceu rapidamente nos primeiros dez minutos, enquanto Nayeon não parava de falar durante todo o filme, levantando várias vezes para interpretar as cenas de luta. Quando chegou a hora de buscar Dahyun, as meninas já estavam dormindo. Ao estacionar o carro em frente à escola, Changbin aguardou ansioso a chegada de Dahyun, torcendo para que tudo tivesse corrido bem. Quando ela apareceu sorridente, ele pôde respirar aliviado.

— E aí? Como foi? 

— Foi… bom — Dahyun sorriu timidamente. 

— Huuuum, esse sorrisinho… beijou algum garoto? 

— Garoto? — Dahyun deu uma risadinha ao se lembrar de seu estranho e atrapalhado primeiro beijo em Sana, sua colega de sala, apenas porque ambas queriam saber como é beijar uma garota — É… pode se dizer que sim. 

Aquela semana foi incrível, a família estava feliz e reunida, cada membro com suas boas experiências. No entanto, toda a paz e tranquilidade que desfrutavam duraram pouco. No dia da Revolução das Máquinas, Changbin ficou preso no trânsito, tentando desesperadamente ligar para Dahyun para ter certeza de que estavam bem, mas não conseguia, não havia sinal de celular, estavam incomunicáveis.

Ao retornar para casa e deparar-se com a porta arrombada, Changbin foi inundado por um misto de desespero e ódio ao perceber que suas irmãs não estavam mais lá. Sem compreender totalmente a situação, sentiu-se perdido e sem rumo. Uma mensagem com uma voz robótica na TV repetia as mesmas palavras, instruindo os escolhidos a aguardarem em casa para serem levados à chamada Cidade do Futuro. Sem hesitar, Changbin agarrou uma mochila, recheando-a com materiais úteis e mantimentos essenciais, embarcando imediatamente em uma jornada em busca de suas irmãs. Conhecia a localização da tal cidade, situada a uma distância considerável, em outro estado. Apesar de ter visto notícias sobre sua construção, nunca lhe atribuiu importância, presumindo ser apenas mais um investimento inútil do governo. Agora, enfrentaria a jornada a pé, uma vez que os carros já haviam sido dominados pelas máquinas.

 

Após duas semanas de caminhada, Changbin chegou a uma pequena cidade nas proximidades. Apesar de sentir confusão, medo e desespero, sabia que não podia permitir que essas emoções transparecessem. Respirou fundo e assumiu a sua melhor expressão de "Bin Mau", como Tzuyu o chamava quando ele expressava desagrado ao encontrá-la rabiscando as paredes. Essa expressão, que muitas vezes inspirava temor, parecia cumprir seu propósito, exceto por um rapaz que se aproximou com um largo e caloroso sorriso. Com estatura baixa, pele clara, cabelos loiros, olhos castanhos claros e sardas nas bochechas, ele se apresentou como Felix. Apesar da aparência angelical e inocente, Changbin não confiou imediatamente, pois aprendera que ninguém mais era inocente naquele novo mundo. Mesmo assim, movidos por interesses mútuos, concordaram em formar uma aliança: Felix seria o cérebro, enquanto Changbin seria os músculos.

Antes de prosseguirem com sua jornada, precisavam descansar em um local seguro. Felix já havia identificado um possível refúgio, mas ainda precisava convencer alguém ingênuo o bastante para verificar se o lugar era realmente seguro. Ele já tinha encontrado as vítimas ideais: um homem vestido formalmente, com a aparência de um professor, acompanhado por outro rapaz visivelmente desesperado, que buscava por seu noivo.

Enquanto isso, Felix orientou Changbin a roubar suprimentos de um carro recém-chegado à cidade, repleto de caixas. O único conselho do loiro para Changbin era aguardar que os proprietários se retirassem da cena.

Felix começou a colocar sua parte do plano em ação, e Changbin seguiu com a sua. Direcionou-se ao local onde o veículo dos homens estava estacionado, lembrando-se da expressão "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão", como costumava dizer sua avó, pois queria se convencer de que não estava fazendo nada de errado, eram as leis de sobrevivência que reinavam. De maneira furtiva, aproximou-se do carro enquanto seus donos estavam ausentes, aproveitando o momento oportuno. Seguindo as orientações de Felix, abriu a porta sem acionar o alarme, revistou o veículo em busca de itens úteis, encontrando caixas contendo armas, munição, lanternas e alimentos enlatados. Armazenou tudo na mochila, mas, ao se preparar para partir, ouviu um ruído vindo do porta-malas. Alguém estava lá, debatendo-se em desespero. Embora Felix orientasse a fuga acima de tudo, Changbin não conseguia abandonar uma possível vítima. Abriu o porta-malas cautelosamente e, para sua surpresa, deparou-se com um jovem amordaçado, com os braços e pernas amarrados.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

ChangLix = Pink e o Cérebro.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Backdoor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.