Dinastia 3: A Rainha de Copas escrita por Isabelle Soares


Capítulo 22
Capítulo 22




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Esme olhava para Marlowe, Sean e Diana pousando para os fotógrafos e sentiu o estômago embrulhar. Podia reconhecer o ar de superficialidade à distância. Sabia que sua neta vivia uma vida que todo mundo pedia a Deus. Estava casada com o primeiro ministro, vinha de um berço de ouro, tinha uma família invejável, mas era tudo um grande marketing. Podia sentir isso no ar. Na verdade, “Lowe”, como todos a chamavam, sempre gostou de tecer a sua vida como se estivesse numa propaganda de margarina. Sempre perfeita e nunca real. Sabia que isso era necessário no mundo em que viviam, porém nunca gostou disso.

Se afastou e se encaminhou até a cozinha. Quando chegou próximo, ouviu um “ai! Droga!” bem audível. Quando entrou de vez no cômodo viu Emmett chupando o dedo e imaginou o que tinha acontecido. Balançou a cabeça e viu o seu filho criança novamente.

— Se cortou? – perguntou.

— Droga de faca! Sean quer matar um eleitor com isso.

Esme riu e imaginou que talvez não fosse um eleitor que o genro de seu filho talvez quisesse matar, mas seus inimigos da oposição no parlamento. Sabia que tinha muita coisa espinhenta que estava sendo duro para o primeiro ministro contornar. Pegou a mão de Emmett e analisou o corte. Não era profundo.

— O beijinho da mamãe vai curar? – Emmett perguntou e Esme sorriu.

— Ainda lembra disso?

— Claro! Era o meu mantra.

A rainha balançou a cabeça e lembrou de quando seus filhos ainda eram crianças e suas vidas ainda tinham um longo caminho para ser traçado. Tudo era tão mais fácil naquela época.

— Bom, acho que o que vai ajudar agora é colocar na água corrente, depois passar um remédio com um curativo.

— Já passou da hora mesmo de acreditar que os seus beijos iriam curar alguma coisa.

— Você principalmente vivia se machucando. Era a forma que eu tinha de fazer você ficar mais tranquilo.

— Sim... A guerra me ensinou muito sobre isso também.

— Imagino que sim.

Esme pôs a mão do filho na corrente de água que saia da torneira da pia e viu Emmett fazer algumas caretas. O sangue saia e o que vinha na cabeça dela não era nada bom. Imaginou o quanto ele deve ter visto esse líquido escorrer de si próprio e de seus colegas, talvez muitos deles até perdendo a vida. Nunca quis que ele escolhesse esse destino, mas como impedir algo que ele sempre quis?

— Posso saber por que está aqui na cozinha e não curtindo o aniversário da sua filha?

— Estou fazendo uns drinques... – Esme olhou para Emmett como se não acreditasse nele. – Tá. Como você eu também não gosto do faz de conta de Sean.

— Conversei com ele agora a pouco.

— Ainda bem que ele teve o respeito de falar com você. Mas duvido que vá fazer alguma coisa que propôs.

— Ah ele vai! Filho, eu não nasci ontem. Esses anos todos dentro da realeza me ensinaram a ser política. Falei para ele sobre o caso dos imigrantes. Elaborei a conversa de forma que ele visse que iria ser bom para a popularidade dele. Sei que Sean anda tendo alguns problemas com os seus colegas de parlamento. Medidas que envolvem o social e mexem com o coração dos eleitores.

— Você é uma lebre, mãe.

— Você vai ver que ele vai fazer um maior caso com isso e eu vou conseguir ajudar aquela gente.

— E ainda vai puxar o pé dele caso não cumpra com o prometido.

Esme piscou para o filho com um sorriso e terminou de pôr o curativo na ferida dele. Lembrou do que dizia para ele quando criança e deu beijo carinhoso em sua mão.

— Bom, fique bem logo. Tenho que ir.

— Vai antes de cortarem o bolo?

— O desfile da sua irmã vai passar na TV e ela vai lançar uma nova linha inspirada em minhas roupas antigas. Já que não pude estar lá presencialmente, pelo mesmo em casa quero ver.

— Vá lá. Depois vejo pelo streaming e mando umas flores para Alice.

— Faça isso.

A rainha beijou a testa do filho e saiu devagar da cozinha, passou pelos inúmeros convidados que ela não fazia ideia de quem fossem. Se despediu de Marlowe e de sua pequena bisneta e respirou aliviada quando deixou o recinto, sua parte já estava feita.

Quando chegou ao palácio, tudo estava muito calmo. Já era tarde da noite e imaginava que boa parte dos funcionários já tinham encerrado as suas funções. Algumas luzes já estavam apagadas e ela respirou fundo. Paz. Era a sua hora preferida do dia. Quando tudo silenciava e ela podia se imaginar fazendo qualquer coisa que uma pessoa normal faria sem ter centenas de pessoas ao redor. Passou pelo salão de baile e pôde ouvir o barulho da TV na sala de estar. Abriu a porta e viu Edward sozinho em meio a pouca luz. Se aproximou dele e beijou os seus cabelos grisalhos. Ainda era estranho ver que seus filhos também envelheceram e não eram mais aquelas crianças loiras que ela pegava nos braços.

— Já começou? – perguntou.

— Acabou de começar.

O cenário montado por Alice para o lançamento de sua nova coleção era simplesmente divino. Fazia qualquer um se deslumbrar. Parecia que as modelos estavam no meio a um vídeo editado e não numa passarela ao vivo. Os efeitos das luzes davam a sensação de algo mágico e extremamente real. A cada roupa mostrada, havia uma trilha sonora diferente e um cenário que lembrava uma época diferente. Prestou bem atenção e entendeu que na verdade, o que era mostrado era a si mesma em diferentes fases de sua vida. Os efeitos recriavam o lugar em que ela tinha usado aquelas roupas inspiradas. Lá trás no telão, lá estava uma Esme de cada período. Sorrindo, distraída, acenando, casando, com seus filhos, em eventos, em viagens. Era como voltar no tempo.

— Alice sabe mesmo o que faz. As roupas tem um estilo moderno, mas parecem modelos exatos das suas roupas antigas.

— Ela veio ao mundo sabendo exatamente o que deveria fazer. – Esme falou com lágrimas nos olhos.

Edward apertou a mão da mãe para lhe passar um conforto. A rainha não imaginava que aqueles desenhos que vira a filha fazer iria sair algo tão perfeito, tão lindo!

— Obrigada, muito obrigada! – Alice falou quando todas as modelos saíram da passarela. – Queria muito que mamãe tivesse aqui agora, mas sei que ela está vendo nesse momento, então essas palavras são para ela. Esse desfile de hoje foi uma forma de homenageá-la pelos seus 90 anos, mas também para mostrar através moda o tipo de pessoa que ela representou para várias gerações. Uma mulher teimosa, com um coração gigante e com muita vontade de fazer um mundo melhor. Eu sei que ela deixou esse recado para muitos e sua marca está por ai e vai continuar vibrando por que boas ações e vontades genuínas nunca saem de moda. Mas eu gostaria de agradecer por ter confiado em mim e me incentivado cada vez mais a seguir a minha vocação. Nasci uma princesa, mas antes disso sou uma artista do corte e costura. Isso jamais seria possível se você e papai não tivessem incentivado as minhas loucuras e me empurrado para que eu fosse a protagonista da minha própria história. Muita obrigada.

Palmas e mais palmas soavam em todo o salão. Esme agora chorava horrores. Sempre soube que sua filha seria uma estilista. Gostava de moda desde muito pequenina, porém sabia que seu título seria um grande empecilho para que ela realizasse seus sonhos. Pensou em Carmen e tudo que ela teve que abdicar para cumprir suas obrigações como princesa. Então, decidiu que isso não aconteceria com a sua filha. Ela seria livre, teria a oportunidade de ser o que quisesse ser e não se arrependeu em nenhum momento dessa decisão. Tinha muito orgulho da mulher que ela se tornou.

Alice ainda agradecia as homenagens quando todas as modelos surgiram no palco em fila se dirigindo a dona do desfile. Mas o que mais surpreendeu foi que no final da fila estava Renesme. As pessoas olhavam uma para as outras com um olhar de surpresa. Esme também estava. Olhou para Edward em busca de resposta e ele mesmo não sabia o que estava acontecendo.

As modelos ficaram em cada lado da passarela formando uma fila, enquanto Renesme se encontrava com a tia e unia a sua mão a dela. As pessoas na plateia agora estavam enlouquecidas. Assobiavam e batiam palmas. A princesa olhava para todos com timidez, mas Alice balançava a sua mão para lhe dar coragem.

— Gostaria de agradecer a essa mulher incrível aqui pela coragem e pela iniciativa de apoiar os projetos do nosso “Youngs together”. As modelos que desfilaram hoje são mulheres trans, assim como adolescentes de regiões menos favorecidas, que estavam em busca apenas de seguir os seus sonhos. Queriam apenas uma oportunidade para brilhar e muito obrigada por tornar isso possível. Hoje, no dia em que prestamos uma homenagem a minha vó, a rainha, que por muito tempo lutou para que todos tivessem melhores oportunidades em suas vidas e sigo hoje o seu legado, assim como o de minha mãe que morreu afirmando que tudo é possível quando lutamos e fazemos acontecer. Estamos juntos nessa meta, de dar a todos a chance de mudar as suas vidas para melhor, sem preconceito e com muito respeito à diversidade.

— Essas são as nossas garotas. – Esme falou para Edward que olhava para a TV com os olhos marejados.

— Ela está seguindo os passos de Bella, mãe.

— Sim, estou muito orgulhosa. Você vai ver, ela vai fazer tudo que não conseguimos em anos.

Edward assentiu, limpando as lágrimas. Esme também queria chorar. Na verdade, queria entrar na tela TV e enchê-las de abraços. No final era isso, a visibilidade que tinham servia para isso, para incentivar mudanças necessárias na sociedade. A semente tinha sido plantada e tinha certeza que no futuro iria haver belos frutos.

Esme: Sua Verdadeira História – Capítulo 22: Matar ou Morrer.

Um dos projetos mais bonitos que me orgulho de ter feito parte no fim dos anos 80, foi o “Amigos do Bem”, que visava mapear famílias carentes e ajudar a tirá-las da zona de risco. A iniciativa partiu de um grupo de pessoas que resolveram mudar o sentido de suas vidas, ajudando outras pessoas. Lembro que Carlisle e eu ficamos muito felizes quando recebemos uma carta nos convidando a fazer parte do projeto. Era algo assim que queríamos. Ações mais humanas e solidárias. Convidamos os idealizadores para uma conversa no palácio e saímos de lá muito motivados a dar total apoio.

Os “Amigos do Bem” é uma prática nacional. Todos os anos eles faziam uma busca pelas cidades de Belgonia para conhecer a realidade de lugares muito pouco assistidos e assim poder levantar fundos e contribuições para ajudar as famílias mapeadas durante o restante do ano. Carlisle e eu pedimos parte do fundo arrecadado na festa da primavera e doamos boa parte de nossa renda para montar muitas cestas básicas e brinquedos para as crianças.

A ideia era rodar o país em aproximadamente 15 dias. Acabei indo apenas em Belgravia e nas cidades mais próximas, Carlisle seguiu sozinho por conta da minha indisposição do princípio da minha gravidez. Mas até onde fui, posso dizer que foi uma experiência transformadora, tão marcante que até hoje apoio o projeto. Pois, estar ali diante de um cenário tão diferente do meu, ao lado de uma pobreza real e de tantas injustiças, me causou revolta, empatia e sede de continuar ajudando.

É uma realidade que a gente sabe que existe, mas quando se chega lá e pode-se ver com os nossos próprios olhos, é como se tudo mudasse. Visitamos casas, onde uma família numerosa comia apenas farinha e restos de comida que conseguia no lixo da casa de pessoas mais favorecidas, é revoltante e faz com que valorizemos mais tudo que temos. A vida é um privilégio e se temos a chance de vir ao mundo, de poder trazer seres humanos a Terra faz com que pensemos sobre como podemos fazer algo que faça sentido a nossa existência. E poder levar esperança, poder ver o sorriso daquelas pessoas, era ganhar um novo significado de vida. Por isso, fazíamos questão de levar nossos filhos todos os anos para que eles pudessem ver que o mundo não rodava com base neles. Era nossa obrigação dividir um pouco do que tínhamos com quem precisava.

Naquele primeiro ano, quando Carlisle voltou pra casa, veio lamentando a tamanha falta de cuidado com a saúde daquelas pessoas. Muitas estavam contaminadas com doenças que para boa parte da população já estava erradicada.

— É impressionante que meses atrás tivemos nas cidades industriais e podemos presenciar o crescimento das fábricas, a nossa economia parecia finalmente estar desempacando... Pessoas com dinheiro e outras não tem nem o que comer.

— Bem – vindo ao capitalismo, meu bem.

— Fui visitar os hospitais públicos e meu Deus! Falta remédio, falta ambulância, imagina? Tinha comunidades que eram bem isoladas, assim, e não conseguiam acesso fácil aos postos de saúde... Tivemos que servir de médicos e isso foi tão impactante.

— Eu acredito. Seria tão bom se a gente conseguisse fazer alguma coisa a respeito.

— Vou pedir uma reunião com o ministro da saúde e com quem mais pode ajudar isso a mudar.

Lembro de Carlisle passar semanas elaborando um discurso para convencer aqueles que já deveriam saber que tipo de trabalho deviam fazer. Ele reuniu fotos que tinha tirado, depoimentos que conseguiu gravar e uma série de ideias. Mas é claro que ele não conseguiu nem ao menos que esse encontro fosse marcado. Uma coisa era destinar dinheiro para a caridade, outra era se envolver com ideias políticas. O palácio jamais liberaria.

Ao se dar conta disso, vi o meu marido desabar. As lágrimas escorriam de seus olhos. Estava cansado. Não era a primeira vez que tentávamos fazer algo de bom e simplesmente nos barravam. O abracei e limpei as suas lágrimas. Disse palavras reconfortantes, o impedia de desistir por que não podíamos, mesmo sabendo que nós dois sozinhos não podíamos fazer muito.

Enquanto isso, tínhamos nossas vidas expostas todos os dias na mídia. Cada vez mais informações muito íntimas iam parar nos jornais. Ficamos enojados quando num belo dia vimos numa manchete com uma ultrassom minha acompanhada a um laudo médico logo depois que revelamos ao público a nossa gravidez. Alguém do hospital tinha vazado. Era algo privado, só nosso, que agora era de todos. Me senti invadida, enojada. O palácio, é claro, recriminou o ato. Mas o que adiantava? Eles mesmos incentivavam que estivéssemos cada vez mais expostos na mídia.

Eu sentia que as coisas estavam saindo do controle. Uma coisa era que houvessem pessoas que gostavam de nós, que acompanhavam os nossos compromissos, enviassem presentes. Éramos gratos, mas não podiam usar esse amor para nos fazerem de vitrine. Com o passar dos dias, estávamos mais encurralados, trabalhávamos muito, mas tínhamos muita pouca liberdade para sair e fazer coisas muito simples, como ir a um zoo com as crianças ou ir a uma loja comprar uma roupa nova por que simplesmente tinham vários paparazzis nos seguindo e isso significava uma matéria nas revistas no dia seguinte.

Procurei o rei para falar a respeito. Sabia que com ele, as coisas seriam mais fáceis ou a conversa mais leve do que com sua esposa. Pierino tinha fama de durão e extremamente conservador, mas devo dizer que com sua família era uma outra história. Nunca o vi gritar feito um estadista ditador. As lembranças que tenho dele é de um homem sério e tranquilo.

— Tenho medo pelo que pode acontecer com os meus filhos, majestade. Temo que passem dos limites na hora de arrancar algumas fotos ou informações e acabarem machucando-os.

— Tem razão. Hoje em dia não há mais limites para nada. Na minha época havia mais respeito com quem somos.

A forma que o rei encontrou de nos proteger foi aumentando a nossa segurança na rua. Era recomendado, mas eu me sentia mais pressa. Além de neurótica. Carlisle tentava nos tirar de casa para os nossos habituais passeios com as crianças, não era justo mantê-las em casa sempre, estavam em fase de crescimento. Porém, eu temia que algo desse errado. Só aceitava se fosse na propriedade de amigos de confiança, hotéis ou na Suécia.

— Não é justo, sabe Carl? Nossos filhos não terão liberdade alguma.

Carlisle olhou para Emmett e Edward que brincavam no deck do iate com Maria enquanto seguíamos para o país vizinho. Depois acariciou minha barriga crescente.

— Queria poder protegê-los do mundo, mas não posso. Estar dentro da realeza significa abdicar de muitas coisas. A liberdade é uma.

— Não vou dizer que não sabia. Mas eu temo que as coisas estão ficando piores de quando você e Carmen eram crianças. De verdade, tenho medo do futuro que eles vão pegar.

— Não vamos pensar nisso agora, sim? Devemos aproveitar o hoje, enquanto eles estão aqui conosco.

Balancei a cabeça afirmativamente e abri os braços para Edward vir até mim. Ele agora se levantava sozinho e explorava o que desejava. Tinha muita personalidade e gostava de fazer tudo por conta própria. Maria o ajudou segurando o seu bracinho, mas logo viu a birra dele. Era como se quisesse provar que conseguiria chegar até mim sem ajuda.

— Olha você conseguiu! – falei o abraçando e batendo palmas. Edward me olhava com os seus olhos brilhantes e seu sorriso alegre.

Acariciei os seus cabelos cheios e loiros, aspirando o seu cheiro infantil. Me dava paz poder estar com eles nos meus braços e poder senti-los conectados comigo como se ainda estivessem em meu ventre.

— Bebê, mama. – falou enquanto passava as suas mãozinhas na minha barriga.

— É seu irmãozinho ou irmãzinha. – ainda não sabíamos o sexo do neném ainda.

— Vamos trazer um bebê pra você brincar, Eddy. – Carlisle falou ao meu lado.

— Você quer um bebê para brincar, filho? – perguntei.

— Si. – falou animado, colocando o dedo na boca.

Momentos assim eram preciosos para mim. Era algo que me fazia feliz, saber que só eu e Carlisle poderiamos ter acesso a eles, mais ninguém. Porém, nem sempre. Chegaram para nós dois, certa vez, dois contratos para serem assinados, sem nenhuma discussão. Neles estava a liberação de nossa imagem para a TV. De alguma forma convenceram ao palácio que era importante abrir as portas para as pessoas nos conhecerem um pouco como forma de humanizar a família real. Achei um absurdo logo de cara. Empurrei o contrato e cruzei os braços.

— É por apenas uma semana. Nem tudo será mostrado. Captaremos alguns momentos e montaremos os episódios do documentário. Teremos algumas entrevistas.

— Não quero uma equipe de TV me seguindo o tempo inteiro e nem mesmo filmando os meus filhos em seus momentos privados.

— Concordo com Esme. Isso é demais!

— Precisamos disso. A TV está em alta e a família real precisa estar mais acessível para os belgãos e assim melhorar os índices de aprovação.

— Há outras maneiras de conquistar as pessoas e algumas delas vocês rejeitaram. – falei irritada.

Carlisle pegou a minha mão, com medo de que eu me estressasse demais e acontecesse algo com o nosso bebê em minha barriga.

— A resposta é não e sem discussão. – falou.

Mesmo assim, não desistiram. Passaram dias atrás de nós tentando nos convencer a ceder a nossa participação no tal documentário. Definitivamente não estávamos a fim de virar um reallity da vida real mais do que já vivíamos. Porém, nos pegaram da maneira mais radical, cancelando qualquer chance de Carlisle obter algum sucesso no seu projeto junto aos “Amigos do Bem”. Ele e a equipe gestora tinham combinado de fazer algumas doações de ambulâncias para as comunidades mais distantes dos centros de saúde. Ele tinha conseguido uma ponte com alguns deputados e parecia que iria deslanchar, mas o palácio colocou “terra em cima” da maneira mais brutal.

— Sinceramente, altezas – disse o nosso assessor de imprensa na época. – Acho que o documentário não será de todo ruim. Será uma boa maneira de falar sobre os projetos e ações de vocês, de chamar a atenção para o que realmente importa.

Acabamos aceitando no final. Mas não foi uma decisão assim tão fácil. Carlisle e eu conversamos muito sobre isso, principalmente como a gente iria expor a nossa vida. Hoje, reflito sobre. Não foi uma boa escolha. Tanto que não permitimos que esse documentário fosse exibido novamente por que acredito que ninguém deve se expor dessa forma. Mas enfim, não éramos inocentes. Sabíamos que aquilo seria uma boa promoção, o palácio não fez aquela “pataquada” sozinho. Ganhamos muito com isso e nos arrependemos.

Decidimos que iríamos mostrar mais o nosso lado profissional. Nossas idas a eventos, nossos projetos e nosso máximo de vida pessoal que apareceu foram uma entrevista que falamos sobre nossa relação pós – casamento e um momento de lazer com as crianças.

A ideia era que deveria ser tudo espontâneo. Mas não dava. Emmett e Edward olhavam para as câmeras com um certo anseio. Meu primogênito foi mais receptivo do que o tímido irmão. Carlisle foi até os dois e os pegou nos braços e os levou até o piano. Ele não tocava muito, mas sempre gostou de música a ponto de aprender alguma coisa de vários instrumentos.

— O que querem que eu toque?

— O menino no rio! – Gritou Emmett.

— Ok, então.

E começou a tocar as primeiras notas. Era a música popular infantil preferida dos meninos. Emmett se balançava todo e Edward olhava para os dedos do pai. Até que ele mesmo começou a bater nas teclas.

— Oh Eddy não! – reclamou Emmett.

— Você também quer tocar, filho?

— Eddy toca dadai.

— Quando você crescer mais um pouco, eu te ensino a tocar.

Não satisfeito, Edward continuou a bater nas teclas do piano, gostando do som que isso fazia. Emmett era mais ansioso, não gostava de ficar parado. Foi até o cavalo de madeira e começou a se balançar. Fui até ele com medo que balançasse muito forte e virasse para trás.

— Acho que daqui a pouco teremos que comprar uma bicicleta para você.

— Sim mamãe! – gritou enquanto batia palmas.

Olhei para Carlisle e ele olhou pra mim com um olhar terno. Independente de câmeras, coroas, títulos, realeza, imprensa, figuras públicas ou não, tínhamos formado uma família linda. Foi nesse dia que senti meu terceiro bebê se mexer pela primeira vez. Parecia que ele lá dentro estava louco ou louca para sair e vir brincar com a gente. Peguei de leve na barriga e logo tirei a mão. Não queria que ninguém presenciasse aquela cena. Eu estava com um ciúme louco da minha família.

— Mamãe, o que é aquele negócio grandão ali?

Antes que eu pudesse responder, Emmett correu até a câmera e começou a mexer nela. Fui atrás dele com receio que ele topasse nos fios, mas o meu filho mais velho era muito dinâmico. Sempre viveu por um segundo. Logo o objeto que nos filmava já não mais o interessava, mas o labirinto formado pelos equipamentos de filmagem era mais divertido. Corria de um lado para o outro, enquanto Maria tentava pegá-lo. Carlisle sorria com Edward quietinho em seus braços, achando mais interessante chupar os seus dedos.

— Em baixo da mesa tem um esconderijo, Emmy. – Carlisle sussurrou para Emmett que adorou a ideia. Fiz uma cara feia para ele.

— Ele sempre tem essa energia? – perguntou o chefe da equipe de filmagem.

— Como qualquer criança. – falei, com a intenção de defender o meu pequeno, mesmo sabendo que ele era capaz de fazer coisa pior.

Ele assentiu e pediu que parássemos um pouco para tirar umas fotos. Revirei os olhos, já estava farta. Tínhamos dado uma entrevista antes dessas filmagens, era um domingo, o nosso dia de descanso. Mas ok, seguimos. Uma maquiadora veio nos preparar. Edward achou muito interessante as esponjas dela. Pegou uma delas e começou a passar no meu rosto, fazendo a mesma coisa que ela fazia em Carlisle. Beijei as suas mãozinhas gorduchas.

Acabou tudo transcorrendo bem. Começamos a brincar com as crianças e até esquecemos que estávamos sendo filmados e fotografados. Quando a equipe de TV ficou satisfeita o clima foi quebrado. Não éramos mais uma família naquele instante e sim atores de uma história da vida real. Como eu estava desconfortável com aquilo.

— O neném mexeu hoje. – falei para Carlisle quando estávamos aconchegados em nossa cama durante a noite depois de colocarmos os nossos filhos para dormirem.

Carlisle virou-se para mim com os olhos arregalados e eu assenti positivamente. Ele se abraçou a minha barriga e eu fechei os olhos apreciando aquele carinho.

— Oi filha! Papai aqui.

— Acho que dessa vez você está certo, sabia?

— Que milagre você concordar comigo.

— O raio já caiu duas vezes no mesmo lugar.

— Acho que devíamos tentar saber o sexo dele ou dela e acabar com a dúvida.

Respirei fundo. Só a ideia de vazarem para todo o exame novamente ou ter que lidar com centenas de paparazzis fazendo “baderna” na frente do hospital me deixava desanimada.

— Não. Dessa vez quero que seja à moda antiga. Só saberemos quando nascer.

— Confiaremos na nossa intuição, então.

Eu sabia que ele tinha ficado desanimado. Carlisle amava fazer tudo uma grande comemoração. Mas eu estava assustada demais. Ele crescera com aquela exposição. Eu estava me acostumando com aquilo todos os dias. Mas tinha que aceitar, pois a vida que eu escolhi não era feita só de bônus.

— Você sabe tricotar? – perguntou uma garota da equipe de TV.

Olhei para ela com surpresa. Eu não esperava que ela me encontrasse ali. Certo que o jardim não era um bom esconderijo. Eu gostava de estar ali. Amava o vento no rosto, ver as crianças brincando e poder sentir paz. Mas com toda aquela gente ali, é claro que eu não conseguiria.

— Sei sim. Minha mãe me ensinou quando eu era mais nova.

— Ela faleceu, não foi?

Olhei para o meu trabalho de tricô com tristeza. Talvez por isso eu tenha, inconscientemente, escolhido fazer algo para o meu bebê. Antes eu não tinha parado para eu mesma tricotar algo pra ele. Era algo que mamãe faria melhor, como o sapatinho que ela fez para Emmett quando contei sobre a minha gravidez, muito antes de tudo ficar muito complicado.

— Sim, infelizmente.

— Infelizmente mesmo. Mas olha, está ficando um trabalho lindo.

— Obrigada. Eu não sou tão boa quanto ela foi.

— É para o bebê?

— Sim, acho que vai ser um casaquinho. Ainda não decidi.

— Como é estar grávida de novo?

Respirei fundo. Eu ainda não tinha me habituado muito bem à ideia de estar grávida, mesmo já estando no segundo semestre desta. Eu estava muito satisfeita com os meus dois garotos e dessa vez eu tinha sido pega de surpresa no meio a uma fase realmente confusa.

— Estou me sentindo abençoada. Eu descobri na minha primeira gravidez que eu nasci para ser mãe e estar gerando um novo bebê é uma realização. – menti.

— Mamãe! – Emmett gritou do parquinho.

— Oi, querido. O que aconteceu?

Ele veio até mim chorando. Eu sabia que talvez ele pudesse ter caído e lá estava a testa com alguns arranhões ensanguentados. Mãe não podia mesmo descansar um segundo.

— Eu cai bem ali.

— Estou vendo. Você tem que tomar mais cuidado!

Coloquei-o no colo para olhar bem o seu machucado. Emmett continuava a chorar e a moça olhava bem para nós dois. Ignorei-a e assoprei onde estava a ferida na testa do meu filho.

— Ainda bem que não foi nada demais.

— Beijinho de mamãe vai curar?

Sorri e beijei a parte de sua testa que não estava ferida.

— Você vai ficar bem, mas temos que ir lá dentro limpar, botar um remedinho e um band - aid.

— Pode ser o do He-man?

— Pode. Vamos?

Coloquei Emmett no chão e o levei para dentro do palácio. Tive a impressão que a moça da TV olhava e conversava por gestos com alguém. Tentei descobrir, mas não parecia haver ninguém mais além de Maria brincando com Edward no parquinho. Subi com o meu filho e tratei de seu ferimento. Mal voltamos para o jardim, ele já foi correndo para o escorregador. Me dediquei a brincar um pouco com eles também. Ajudei Edward a subir as escadas do escorrega e a descê-lo. Emmett já o esperava lá em baixo com as pernas abertas.

— Vem Eddy! Eu te pego.

Edward estava um tanto inseguro, porém resolveu descer com a minha ajuda e acabou passando pelo túnel feito pelas pernas do irmão. Eles sorriam feito bobos com a brincadeira.

— No balanço agora, mamãe.

Peguei Edward nos braços e Emmett pela mão e coloquei cada um em um balanço. Fiquei balançando os dois enquanto eles distribuíam gargalhadas estridentes. Não tinha como não se sentir bem. Era como voltar a ser criança novamente.

— Escutou isso, mamãe?

Olhei para os lados e não vi nada. A moça conversava com Maria no banco e nada mais.

— Estão atacando a gente! – Então entendi que não se passava de muita imaginação de meu pequeno arteiro.

— Onde soldado Emmy? – falei entrando na brincadeira.

— Ali!

— Uh! O que vamos fazer?

Ele desceu do balanço e correu até o balanço onde Edward estava.

— Eu protejo você, soldado Eddy.

Deu um beijo no irmão e saiu correndo para dentro do jardim. Depois descobri que tudo isso tinha sido filmado sem que soubéssemos e posto de última hora no documentário. Me enchi de fúria.

Depois disso, decidi que só iria fazer minhas consultas pré-natais na Suécia e mandar os exames diretamente para Doutor Walter através do nosso segurança. Preferia dessa forma e tinha mais cuidado ainda para fazer todos os meses em clínicas e hospitais diferentes para não descobrirem. Eu estava mais do que paranoica.

Foi em uma dessas ultra que descobri sem querer que iria ter uma menina. Fui com Lily por que Carlisle não pôde ir. Uma pena, pois a médica logo quando saiu a imagem do bebê na tela já foi dizendo que era uma “garotinha linda”. Olhei para Lily e depois para a imagem com os olhos espantados. De repente, aquela visão fez meus olhos se encherem de lágrimas. Pela primeira vez eu estava me conectando com aquela menina. Ela mexia na tela e eu sentia dentro de mim. Estava me dando um olá. Estiquei as mãos trêmulas para tocá-la. Eu tinha uma filha!

Era próximo ao natal de 1987. Eu já estava com um barrigão, mesmo estando apenas com seis meses de gestação. Todos diziam que seriam gêmeos, mas eu tinha absolutamente certeza que era apenas uma bebê, mas naquela época ninguém acreditava em ultrassom. Queria fazer uma surpresa para Carlisle. Comprei dois presentes, um relógio e um conjunto de vestido, sapatos e tiara todos rosa.

Formos todos para Clarence, como fazíamos todos os anos. Era tradição trocarmos presentes ao amanhecer do dia 25 de dezembro. Passei a véspera toda ansiosa para surpreendê-lo e a todos. Na manhã seguinte, antes de irmos para a missa, as crianças desceram todas animadas para a sala. Ouvimos só os embrulhos serem rasgados e sorrisos de alegria. Fui até o meu pacote surpresa e levei até Carlisle, que ainda ajudava Edward a desembrulhar o seu presente. Estendi o meu para ele e recebi o seu olhar de surpresa.

— Abra! – pedi.

Ele deixou Edward de lado por uns instantes e começou a abrir o pacote que lhe dei. Quando seus olhos viram o mundo rosa na pequena roupa, pude ver a sua emoção. Ele olhou pra mim como se perguntasse se aquilo era real e eu assenti.

— Vamos ter uma garotinha! – Carlisle gritou, mas voz parecia rouca de alegria.

A rainha, o rei, Carmen e Eleazar nos olharam. Carlisle levantou Edward para cima e ele gargalhava.

— Você vai ganhar uma irmãzinha, Eddy! Olha só!

— Meus parabéns! – Carmen falou ao meu lado. – Meninas sempre são muito doces.

Agradeci-a com um abraço. Ela também tinha tido outra menina no início do ano, Katherine, para a infelicidade de seu marido terrível.

— Esse é o melhor presente de todos, meu amor! Te amo! – Carlisle falou enquanto me abraçava e depositava um selinho em meus lábios.

— Eu também te amo!

Alice veio inesperadamente na manhã de 13 de março de 1988 depois de uma madrugada inteira de trabalho de parto. Mas ela sempre fora assim, cheia de surpresas. Por isso que resolvi colocar o nome dela como a personagem do livro das Maravilhas. Até aquele momento eu tinha aprendido a ser mãe de menino e agora eu tinha que aprender a ser mãe de uma menina. Foi e ainda é uma experiência incrível. Me rendi aos braços daquela pequenina. Era tão miudinha, parecia que iria quebrar a qualquer instante, mas ao mesmo tempo com uma personalidade avassaladora. Sempre fazia com que estivéssemos completamente em seus pés, ao mesmo tempo que era a criança mais doce de todas.

Carlisle era rendido a ela. Era a sua bonequinha, seu cristalzinho amado. A quem ele era extremamente apegado e queria sempre proteger. Dos nossos três filhos, Alice talvez fosse mais parecida fisicamente comigo. Era baixinha, cabelos e olhos castanhos claros misturadas ao nariz do pai. Eu olhava pra ela durante a infância e pensava sarcasticamente, “olha os Platt ai, minha gente!”.

Enquanto cuidávamos da nossa menina, as matérias se preocupavam em apenas a inventar mentiras a nosso respeito. Procuravam a todo custo um furo depois que resolvemos dar um basta na alta exposição que estávamos tendo, dois meses de reclusão e eles estavam para morrer. Até conseguiram uma entrevista com Charles, o meu abusador e ex – namorado. Ele nunca tinha vindo a público e agora me expunha, falava inverdades e me deixava arrasada no momento mais bonito da minha vida. Eu achava um desrespeito usarem a gente para provocar uma intriga desnecessária, cavar algo que já estava no passado.

Pedi que a minha nova equipe trabalhasse a respeito. Carlisle entrou com um processo. O palácio queria impedi-lo por que a família real não mexia com a imprensa, mas ele foi firme. Eu me sentia tão mal com tudo isso que nem conseguia pensar no que fazer. Foi a primeira vez que falei para alguém o que realmente tinha acontecido entre Charles e eu. Ele ficou revoltado e eu me sentia culpada. Como sempre me senti. Agora era por minha culpa que tudo isso estava vindo à tona para envergonhar a todos.

Além disso, as notícias com tópicos pessoais ou sobre projetos que iríamos trabalhar após a minha licença ainda, misteriosamente vinham ao público. Meu assessor entrou em ação para descobrir quem estava espalhando boatos maldosos e informações sigilosas a nosso respeito, por que sim, bastava um para começar e o restante pegava carona. O que descobri em seguida foi ainda mais surpreendente. Segundo o jornalista, a fonte tinha vindo do próprio palácio.

Ao que parece, sairia uma matéria falando sobre a baixa popularidade do rei e alguém de dentro trocou essa por uma informação quente, onde dizia que havia uma intensa disputa por poder entre mim e Carmen. Ou sobre o meu relacionamento conturbado com Charles no passado. Uma notícia pela outra. Adivinhem qual foi a escolhida?

Essa estratégia não é bem nova por aqui. Tudo quanto é de informação que vai ser vinculada na mídia chega antes no palácio. Cabe os nossos assessores de imprensa aprovarem, darem uma explicação, impedir a sua vinculação ou fazer uma troca de fofocas. Eu não sabia desse esquema na época. Fiquei pasma e revoltada! Porém, isso explicava muito do que tinha acontecido comigo no passado, todas aquelas matérias só poderiam ter saído do mesmo lugar. Eu até desconfiava quem era a pessoa responsável por tudo isso, não era difícil imaginar os motivos. Eu não era desejada e dava muito trabalho. Além do que eu chamava muita atenção das pessoas. Matérias assim eram uma ótima maneira de colocar a bagunça para debaixo do tapete e também de vingança.

Porém, a partir desse momento, uma chave de mim virou. Era um jogo poderoso e injusto. Onde era matar ou morrer, mas ninguém conseguia sair desse ciclo vicioso e nem ileso. 


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