Dinastia 3: A Rainha de Copas escrita por Isabelle Soares


Capítulo 11
Capítulo 11




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— Posso colocar aqui, senhora? – perguntou a funcionária à rainha.

— Pode sim. Eu vou analisar que coisas vocês podem colocar para exposição.

— Certo. Vou deixar ao seu lado a lista de outras coisas relacionadas ao seu casamento que temos guardado aqui no acervo.

Esme assentiu e observou a sua funcionária sair, deixando-a sozinha com uma série de objetos que representaram um momento único em sua vida. Ela saiu olhando para tudo em volta enquanto esperava por William para mais uma entrevista para o seu livro. A coincidência é que no dia em que falariam sobre o seu noivado e casamento foi o mesmo dia em que a convocaram para a escolha dos itens da cerimônia que estavam guardados no palácio de Clarence para a exposição que iam fazer em comemoração ao seu aniversário de 90 anos no museu real em Belgravia.

Ela fechou os olhos e deixou-se transportar para aqueles dias que antecederam o seu casamento. Agora todas essas coisas tinham o cheiro de velharia, mas antes tudo parecia tão novo como sua vida que estava acabando de ganhar um rumo totalmente diferente. Se fosse ver sabia a história de cada coisa ali. Tudo tinha um significado, embora não tenha participado ativamente dos preparativos para o seu próprio casamento.

A rainha pegou o objeto mais próximo, um prato de porcelana com a foto oficial do noivado com o nome deles escrito numa caligrafia muito bela. Passou os dedos pela fotografia como se quisesse absorver aquele momento. Ela e Carlisle tão jovens, cheios de planos e muito amor. Deus! Como sentia a falta dele! Viveu ao seu lado por décadas, anos, e não parecia o suficiente. Queria poder voltar no tempo e abraçá-lo nessa época e poder aproveitar cada minuto da presença dele sem se preocupar com mais nada, apenas com o que podia compartilhar juntos.

As batidas na porta a puxaram de seu momento de recordação. Ela olhou para a entrada e disse:

— Sim?

— William Lamb, majestade.

William entrou e a reverenciou. Sua expressão indicava surpresa diante de tanta coisa espalhada pelo recinto.

— Acho que hoje nossa conversa hoje vai ser temática.

— Coincidência que logo hoje reuniram esses objetos do casamento para eu escolher para a exposição.

— Bacana! – William seguiu até o vestido de noiva dela e começou a tocá-lo.  – Esse aqui é icônico! É impressionante como algo pode se tornar memorável. É uma coisa que eu gosto na monarquia é que conseguem deixar cada momento histórico.

— É um lindo vestido! Mas absurdamente pesado! – Esme sorriu. – A lembrança que tenho é que ele pesava toneladas. Eu ficava pensando como eu iria suportar durante todo o evento.

— Imagino. Tem centena de tecidos aqui. Típico dos anos 80, onde tudo era extremamente exagerado.

— Sim, e na época ainda não era tão comum vestidos assim volumosos. O Ronald Esper e os estilistas da princesa Diana estavam conectados com o que viraria tendência.

— Você que escolheu o modelo?

— Não. Foi tudo criação do Ronald mesmo. Não participei de nada do processo de criação. Eu só ia para as provas e pronto.

— É mesmo? O palácio ficou encarregado por tudo isso aqui também? – William falou apontando os objetos.

— Sim. Minha sogra organizou cada detalhe da cerimônia. Poucas coisas Carlisle e eu palpitamos.

— Então, tudo isso aqui não tem nenhum significado para você?

— Digamos que tem. Eu sei a história de cada item, sei quem deu cada presente. Tudo isso me representa o grande espetáculo que foi o meu casamento. Uma entrada triunfal para a minha nova vida.

— Podemos dizer que foi o ápice do processo de transformação da plebéia em princesa?

— Basicamente isso. Acho que você traduziu bem. Era exatamente isso que o palácio, a minha sogra principalmente, queria fazer comigo. Já que eu tinha sido a escolhida, vamos ajeitá-la para caber dentro da narrativa que queremos, o conto de fadas moderno. Com uma varinha de condão podemos transformar a gata borralheira.

— E você se deixou levar nesse plano também.

— Acho que sim. Mesmo tentando manter a minha identidade, não tem como não se deixar levar por tudo aquilo. Imagina? Eu estava entrando para um universo grandioso e completamente novo pra mim. Eu não sabia como me comportar diante de tanta novidade, tinha que me deixar levar até para poder entender o que estava acontecendo.

— Outro dia você estava nos contando sobre o seu noivado e eu fui pesquisar mais a respeito. Existem muitas camadas que não são exploradas. É claro que um casamento é um evento romântico e um grande espetáculo midiático para a família real, mas alguma vez você se deu conta que o seu foi também um acordo político.

— Sim, mas na época não. Na época, eu era uma garota de 22 anos e muito romântica. Não pensava que havia algo mais do que o fato de que eu iria me casar com o homem que eu amava. Eu estava feliz com essa realidade e também pelo fato de que os pais dele deram a permissão para aquilo acontecesse. Afinal de contas eu estava usando o anel de família. Minha única preocupação era com o fato de que agora eu teria que me acostumar ao mundo dele.

— Nunca pensou realmente por que ganhou o cartão verde? Por que além da família real, o parlamento também tem que aprovar.

— Só fui me dar conta disso anos depois quando eu já conhecia o sistema muito bem. Mas eu acredito que foi por conta da vibe do momento. O meu relacionamento com Carlisle foi muito explorado midiaticamente. As pessoas passaram a acompanhar a gente e torcer, se sentirem representados, entende? Do nada a gente virou o símbolo do jovem da época.

— Não foi do nada, majestade. Você protestava contra o machismo, pelos direitos estudantis, contra guerra e as pessoas te admiravam por isso.

— Mas não foi algo que fiz propositalmente para ser uma duquesa e me casar com um príncipe. Aliais, ele também escolheu “dar a cara a tapa”. Era algo que vinha do nosso coração.

— Eu sei disso. Mas é aquela coisa. As pessoas buscam no seu ídolo reconhecimento. Afetos ditam prioridades. No final não são estratégias que conseguem o carinho do público e sim o carisma. Você estava representando o sonho de todas as jovens do país.

— Acho que é isso mesmo. Naquele momento também as coisas estavam muito difíceis, um casamento real, mesmo custando um dinheiro considerável, era uma maneira de aliviar aquele ar cinza em volta. Nós dois tínhamos mesmo causado identificação com o público e dar a eles um grande espetáculo era muito animador para todos.

— E pelo fato de vocês serem a nuvem de fumaça da família real também. As pessoas tinham esperança que vocês representariam um futuro melhor, era uma ótima maneira de limpar o nome deles.

— Exatamente. Eu não era uma aristocrata, era apenas uma garota da classe média, vinda do interior, mas tinha dois trunfos: primeiro, o carinho das pessoas e segundo, eu sou belgã. Até o momento nenhuma consorte era nascida em Belgonia e isso é muita coisa para o espírito nacionalista.

— E temos a receita para a noiva perfeita.

— Sim. Eu fui tudo que eles queriam que eu fosse.

Esme olhou para o seu vestido de noiva e deixou-se embarcar nas lembranças que ele trazia para ela.

Esme: Sua Verdadeira História – Capítulo 11: Aprendiz de duquesa

— Vocês não parecem surpresas. – falei diante da minha mãe e irmã.

Cheguei em casa depois do meu belo pedido de noivado e estavam as duas me esperando sentadinhas no sofá. Abri a porta e exibi a minha mão direita gritando e as duas não expressaram a surpresa que ela esperava.

— Vocês já sabiam.

— Achou mesmo que Carlisle iria planejar isso tudo sem contar com a nossa ajuda? – Mamãe falou com um sorriso no rosto.

— Tadinho! Ele estava com medo que você dissesse não. Ele não estava preparado pra isso. – Lily falou com confiança. – Aquele homem está perdido por você, irmãzinha.

Sorri feito boba ao lembrar de como ele havia sido romântico na hora do pedido e em todo o resto. Fui até elas quase rastejando e cai no colo de minha mãe, aspirando o seu cheiro gostoso e sentindo paz.

— Não consigo acreditar ainda! Estou nas nuvens.

— Imagina nós quando ele veio até nós. – Lily falou enquanto acarinhava os meus cabelos.

— Mas você tem que sair um pouco das nuvens e começar a pensar que sua vida vai dar uma volta de 360º graus agora.

— Sim. – suspirei. – É tanta coisa que nem consigo imaginar o que me preocupar primeiro.

— Ele me falou que foi a mãe dele que lhe deu esse anel. – mamãe falou e eu me levantei para olhar bem para o seu rosto.

— Carl me disse que era um anel de família. Imaginei que ele pudesse ter conversado com os pais para que ele ganhasse a permissão de me dá-lo. Isso é bom sinal, não é?

— É um bom sinal sim. Mas não creio que tudo tenha sido resolvido. Ao que entendi, os pais dele apenas foram vencidos pela teimosia dele. Agora a questão é, você está preparada para lidar com eles?

— Eu só quero paz, apenas isso.

Era apenas isso mesmo. Tanto que ativei meu modo sonhador. Eu fiquei extasiada por dias, olhando para o meu dedo e pensando que dali alguns meses eu seria uma mulher casada. Eu teria Carlisle só pra mim para o resto da minha vida, o que poderia ser melhor? Para quem tinha que namorar escondido, não poder dizer nenhuma palavra que não fosse medido duas ou três vezes, sempre ficar com medo da possibilidade de tudo acabar de repente, o casamento era uma libertação.

Porém, a realidade batia sempre na porta. Me embrulhava o estômago toda vez que eu pensava que eu entraria para a família real. Eu não era uma mulher ambiciosa. Eu não ligava para o prestígio e nem para o dinheiro deles. Eu só queria estar bem e fazer feliz o homem que eu amava. Resolvi pôr a cabeça no lugar e tentar ver como seria a minha vida dali pra frente. Sim, eu estava disposta a aprender tudo que eu precisava para entrar nos moldes da realeza. Aceitaria o que viesse. Começando com um encontro com a minha futura sogra.

Poucos dias depois do pedido de casamento, recebi um telefonema do palácio me requisitando para um chá da tarde com sua majestade, a rainha Elizabeth. Gelei naquele minuto e apenas aceitei sem pensar em mais nada. Tudo tinha sido extremamente formal, era como uma entrevista de emprego e não como um primeiro encontro com alguém da família de seu namorado. Mas ok? O que eu poderia esperar longe disso?

Comprei um vestido novo, longo, florido, bem no estilo que achei que seria adequado. Passei o dia todo nervosa e tentei não encarar como um grande embate. Não queria pensar que aquela mulher me odiava, seria pior para a minha eminente ansiedade. Queria chegar limpa de qualquer opinião. As quatro e quinze peguei um taxi. Mamãe apenas disse: “Boa sorte! Não esqueça de quem você é.”. Tentei lembrar disso.

Acabei chegando cinco minutos adiantada e respirei aliviada. Melhor cedo do que tarde. Comecei a me ajeitar. Não queria causar má impressão. Me guiaram com todo a formalidade até a sala do chá. Fiquei absolutamente encantada com tudo a minha volta. O palácio era exatamente o que eu imagina, não, era ainda melhor! Tudo enchia os meus olhos. Eu tentava não ficar olhando tudo de boca aberta feito uma boba. Comecei a sonhar com o momento em que eu poderia apreciar cada detalhe daquele lugar com mais calma. Por que tudo era absolutamente magnífico!

Mas era ao mesmo tempo surreal demais! Por mais que eu quisesse sair olhando tudo, absorvendo cada detalhe, viver ali era como um sonho distante para mim, mesmo sabendo que eu estava noiva do príncipe e que moraria naquele palácio. Era muito para a minha mente absorver de uma vez.

Quando chegamos à pequena sala do chá. As portas se abriram e logo vi a majestosa senhora sentada tranquilamente numa poltrona olhando para mim. Me senti pequena, menor do que era em tamanho. Ela tinha essa áurea de superioridade que por tantos anos conseguiu que as pessoas caíssem aos seus pés e fizessem o que ela quisesse, incluindo eu mesma. A reverenciei, rezando para que ela não tivesse zombando de mim em seus pensamentos e a encarei de volta. Sua expressão continuava séria.

— Sente-se. – falou e eu segui.

— Obrigada.

— Deseja o que para acompanhar o chá?

— Acompanharei a senhora no que desejar.

Ela sorriu como se tivesse gostado da minha resposta e me serviu um xícara de chá com uma espécie de torrada com recheio. Esperei ela tomar uma iniciativa para poder seguir atrás.

— Lhe chamei aqui antes de meu filho lhe trazer por que eu tinha que conversar com você.

— Precisávamos mesmo. Pra mim é um prazer em conhecê-la, majestade.

Elizabeth assentiu e tomou um gole do seu chá.

— Eu e meu marido conversamos muito a respeito do desejo do meu filho em pedi-la em casamento. Não foi uma decisão que tomamos com facilidade.

— Eu imagino.

— Não queríamos que isso viesse a acontecer. Eu acredito verdadeiramente que existe um abismo entre as classes sociais. Alguém de seu nível jamais conseguiria entender esse universo e mesmo que conseguisse. Haveria sempre uma questão a ser resolvida. O dinheiro divide sim as pessoas.

Eu quis responder aquele absurdo que estava ouvindo, mas ela não deixou nem eu abrir a minha boca.

— Tínhamos uma tradição de casar membros seniors da família real apenas com pessoas de igual estirpe. Mas compreendemos que o mundo mudou para que isso viesse a ocorrer. Queríamos alguém ao menos do nosso círculo para Carlisle. Uma mulher que compreendesse o seu papel e pudesse dar continuidade à linhagem de nossa família. Mas meu filho está muito apaixonado por você. Vi que é mais do que uma de suas teimosias.

— Eu também o amo de verdade. Não desejo nada mais do que estar com ele. É uma de minhas teimosias.

— Não é só uma teimosia de vocês dois. Vemos que vocês conseguiram um número muito grande de apoiadores, incluindo no parlamento. Achamos de bom tom não ir mais contra a maré. Parece que não, mas me importo com a felicidade do meu filho.

— Claro que sim. Eu gostaria que entendesse que eu não estou em busca de nada mais do que a nossa felicidade. Acredito que deve ser muito difícil não desconfiar de alguém desconhecida feito eu e na minha posição. Mas eu amo o seu filho e não o dinheiro dele.

A Rainha tomou outro gole do seu chá e a expressão séria não saiu do seu rosto, ela levantou uma das sobrancelhas e percebi que não haveria como conversar com ela. Sua posição sobre mim era irredutível.

— Quero que saiba que isso aqui é bem mais do que um filme romântico. Você vai entrar para uma instituição que exigirá o máximo de você. Um dia será a esposa de um chefe de estado e não pode fazer bobeiras. Carlisle precisará de alguém que o ajude e que trabalhe para esse país com ele.

— Estou ciente disso.

— Isso não é um jogo! – a rainha colocou o pires com a xícara na mesinha e olhou sério para mim. - Eu não queria que fosse a candidata a esposa e futura rainha desse país. Primeiro por que eu não confio em você e segundo por que é incapaz de compreender como é estar desse lado. Histórias da Cinderela só são bonitas nos contos de fadas, a vida real é bem diferente. Meu filho também está encantado com essa idéia, mas ele não faz idéia dos paralelos que existem entre pessoas com status sociais diferentes. Uma hora o amor acaba e aí?

Essas palavras bateram em mim e ainda hoje ecoam nos meus ouvidos. Fiquei pasma com a frieza dela. Na hora, eu quis me levantar, mas fiquei paralisada sem nada a dizer. Nunca cheguei a falar sobre isso com ninguém. Carlisle soube um tempo depois que essa conversa ocorreu sem a presença dele e o machucou. Mas hoje entendo em parte a preocupação dela. Elizabeth era uma estadista como ninguém e pensava exclusivamente no seu cargo como consorte do monarca do país. Ela estava dentro do sistema tempo demais para pensar fora da bolha. Entendia como qualquer escolha podia mudar tudo.

— Mas não há mais jeito. Estou tendo essa conversa por que não há nada que eu possa fazer. Você é a escolhida do meu filho, de um grupo de políticos que acham que nós estamos falidos e de uma multidão fanática que seguem qualquer história de amor barata. Quero entrar em acordo com você sobre o que representará daqui em diante. Está mesmo disposta a mudar toda a sua vida e entrar nessa instituição? Por que é um caminho sem volta.

Essa foi a exata pergunta que fiquei fazendo a mim mesma durante todo o percurso de volta. Toda a magia de estar noiva e apaixonada tinha morrido ali naquela conversa. Agora eu só pensava nos desafios. Primeiro de virar uma pessoa pública e segundo por entrar em uma família que não me queria ali, que tinham me evitado até não poderem mais.

Cheguei a fazer essa reflexão ao lado da minha irmã e mãe. Contei a elas toda a minha angústia e tudo que havia acontecido. Lily estava mais inconformada do que eu. Andava de um lado para o outro querendo esmurrar alguém. Mamãe parecia apenas preocupada.

— Claramente ela está querendo que você desista. É claro que será uma grande responsabilidade e que você cumprirá muito bem. Não conheço alguém mais responsável e que irá se dedicar bravamente nessa missão.

— O que acha disso mãe?

— Acho que o seu maior desafio não será ser a futura rainha consorte. Mas sim ter que estar ao lado de uma família que não te quer ali. Vai ser muito difícil, querida. Acho sim que estão querendo rebaixar você e deveria responder dando o melhor de si. Mas essa é uma decisão sua, somente sua.

Fiquei sim pensando em todos os prós e contras. Não tinha como não fazer. Em uniões comuns há esse pensamento a cerca de quão grande aquele compromisso pode significar na vida de alguém, imagina ter que casar com o país inteiro?

Conversei muito com Carlisle sobre tudo. Não tomei nenhuma decisão friamente e nem com arroubos. Passado período romântico do noivado, muitas coisas sérias tinham que realmente serem decididas e eu queria estar por dentro de tudo.

A parte que mais me deixou pensativa era com o fato de que sim eu teria que abdicar da minha carreira para servir a monarquia. Ainda o fato de ter que me adequar a um estilo tão conservador. Ser mãe, esposa e duquesa aristocrática em tempo integral. Algo que já esperava, mas não imaginava que seria tão difícil assim mudar a rota que eu tracei para a minha vida. Mas depois de uma longa conversa com ele e alguns dias para organizar a mente, acabei dizendo o sim definitivo. Por que primeiro de tudo eu não conseguiria ficar sem Carlisle. A gente, nesses dois anos, tinha construído uma conexão para vida. Nos conectamos num lugar de muito amor, estávamos grudados e era isso. Ele fazia tudo valer à pena, e por ele, eu estava abrindo outras janelas para a minha trajetória.

Além do que procurei ver que servir ao meu país como duquesa e futura monarca era uma missão que eu tinha que cumprir para poder ajudar tantas pessoas com projetos que a engrandecessem. Eu por tanto tempo passei a lutar pelos direitos das mulheres e por tantas causas humanitárias por acreditar que poderia ser um grãozinho de areia que iria fazer a diferença nesse mundo tão necessitado de boas ações e por que não como um membro da realeza?

Quando nosso noivado foi anunciado oficialmente e quando pudemos nos conectar com as pessoas nas ruas nos eventos que eu e Carlisle íamos percebemos que tínhamos muito trabalho a fazer. Nosso propósito era muito maior que pensávamos.

Quem diria que um pedaço de papel na frente do palácio iria mudar tanto os meus dias. Carlisle e eu almoçamos com a família dele e eu pude conhecer o rei Pierino e compartilhar com eles um momento de trocas de acordo. Por que mesmo estando todos a mesa fazendo à refeição, os assuntos burocráticos não saíam da pauta. Percebi o quão Carl ficava deslocado, ali não havia um relacionamento familiar há tempos. Tudo se baseava em posições e trabalhos para a continuidade da monarquia belgã. Mas ao menos não tive grandes surpresas, o encontro antecipado com a rainha Elizabeth já tinha me preparado para o que eu iria encontrar ali. Fiquei grata por ter sido mais amistoso, muito por conta de Carmen que introduzia à mesa outros assuntos mais leves.

Em seguida, trocamos várias reuniões com advogados do palácio e suas majestades para acertar como seria em seguida ao casamento. Além de acertarem a minha trajetória como a noiva do príncipe herdeiro. Eu nunca tinha tido acesso a tanta burocracia antes. Tive que ir atrás de alguém que representasse o meu jurídico e me deixasse à pá de tudo que viria pela frente. “Separação total de bens”, “título de membro senior”, “a responsabilidade de produzir ao menos dois herdeiros”, “a guarda deles” e uma série de outras coisas que tive que me acostumar. Algumas de um jeito bem difícil, outras de forma mais amena.

Durante cinco meses virei a Cinderela de verdade. Tive que dedicar totalmente a minha rotina aos anseios da equipe do palácio para que me transformassem na noiva perfeita. Tive aulas de etiquetas e modos. Tive uma ajuda de uma fonoaudióloga para melhorar a minha dicção. Uma assessoria de imprensa ficava me ensinando a responder bem as perguntas e argumentar quando preciso. Ronald Esper antes de ser um grande estilista de renome internacional, trabalhava para a família real e foi responsável não só pelo meu vestido de noiva, mas como também pelo meu figurino por inteiro. Tive muita sorte nessa parte.

O primeiro momento mais espinhoso foi quando tivemos que dar a nossa entrevista oficial de noivado como mandava a tradição. Como eu fiquei nervosa! Eu nunca tinha estado em contato com câmeras antes. Deus! TV era algo de outro mundo na minha cabeça! Me segurei para não ficar atacada nos meus “tiques” de roer as unhas e nem ficar puxando os meus cabelos, agora eu tinha que me comportar e ser a dama que esperavam que eu fosse.

Fiquei ensaiando com Carlisle por dois dias inteiros, mas nada pagava o frio que senti na barriga e os tremeliques quando vi aquela porção de câmaras e luzes ligadas em minha volta. Foi onde a ficha caiu de vez, eu estava casando com um príncipe.

Carlisle percebendo o meu nervosismo segurou a minha mão e ficamos com elas atadas até o último minuto da entrevista. Eu rezava que nas filmagens não deixasse transparecer o quanto eu estava envergonhada. Eu sentia que naquela entrevista todas as atenções estariam voltadas para o que eu dissesse e tudo iria ser minimamente dissecado. Seria uma oportunidade para me explicar e esclarecer muitas coisas que haviam sido faladas sobre mim anteriormente, mas o meu medo era de estragar tudo.

— Primeiramente, gostaria de parabenizar os dois por esse grande acontecimento. Estamos todos muito felizes.

— Obrigado – respondemos juntos.

— Vocês têm noção do quanto essa notícia do noivado de vocês estava sendo aguardado por milhares de pessoas lá fora? Já se deram conta do tamanho do carinho que elas tem por vocês dois?

Olhei para Carlisle quase implorando para que ele respondesse para eu poder ganhar mais confiança. Ele me devolveu um sorriso que me acalmava, além da energia acolhedora que vinha de sua mão que apertava a minha com mais força.

— Acho que Esme ainda não conseguiu sentir esse calor humano vindo das pessoas lá fora. Mas eu já tive essa oportunidade e me sinto muito feliz em receber abraços e palavras de carinho de pessoas que nem nos conhece, mas conseguem se conectar com a gente de uma maneira... Inexplicável!

— Eu também tenho muita gratidão. Mal vejo a hora de poder encontrar as pessoas em eventos em que participarei e poder retribuir todo essa carinho. Isso é muito importante para nós dois, principalmente quando existe tantos fatores que podem ir contra saber que existe alguém que nos apóia e torce pela gente.

— Inclusive, se estamos dando essa entrevista agora foi por causa delas. Muitas pessoas chegavam pra mim e falava assim, “Você devia pedir ela em casamento! Não vê que ela é a mulher para estar na sua vida!” e coisas mais assim.

— Verdade? Que magnífico! Mas é algo realmente surreal! Por que vocês dois estão sempre estampando notícias nos jornais e revistas que vendem muito. É um sinal que as pessoas gostam de acompanhar vocês e no pódio delas no ranking de popularidade da família real, vocês estão no topo. Conseguem explicar esse amor todo?

Carlisle olhou pra mim com aqueles olhos brilhantes, mas que me transpareciam não só carinho, mas uma certa vergonha. Éramos tímidos quando se referia aos nossos sentimentos e saber que existem várias pessoas que nos observam e sonham com a gente é um bom motivo para esse recolhimento. Mas mesmo assim, ele falou primeiro, ainda com os olhos voltados para mim.

— Acho que as pessoas conseguem ver o reflexo do amor que sentimos um pelo outro. É isso. Nos amamos tanto que esse sentimento transparece para todos que nos observam.

— As pessoas falam de química, mas é algo mais mesmo. É interessante que eu estou aqui perto de vocês dois e sinto essa conexão forte. Eu nunca vi algo assim antes. Já deu pra se acostumar Esme? Por que agora sua vida será assim, cheio de pessoas te observando, te acompanhando.

— Na verdade não. Espero que eu consiga um dia.

— Tem idéia de que agora você estará se casando com um príncipe?

— Na verdade, eu não o coloco nesse lugar. É claro que não dá para separar as coisas, mas o nosso relacionamento nunca foi baseado no título que ele possui. Não existia essa relação de superioridade, sempre ele se referiu a mim numa posição igual. Então, eu considero que eu estou me casando com o homem.

— Realmente é algo que não se pode separar. Você será agora um membro da realeza belgã e futura monarca? Como tem se preparado pra isso?

— É algo que ainda não deu para assimilar direito ainda. É uma responsabilidade muito grande que irei abraçar com muita dedicação. Estou ainda me acostumando com essa nova realidade e espero cumprir bem a minha missão.

— E como foi tomar essa decisão de se casar? Por que você está se formando em arquitetura, não é? Não vai poder exercer a sua profissão quando se casar por que sua vida vai mudar completamente.

— Não foi uma decisão fácil. Por que a minha profissão é algo muito importante para mim, foi um sonho a ser realizado e será uma conquista e tanto a minha formatura. Por que tudo que tive na minha vida foi com muito esforço e luta. Mas eu estou vendo tudo com outras perspectivas. Se agora terei a oportunidade de trabalhar para a monarquia é por que tenho uma missão a cumprir e sei que ao lado de Carlisle vamos poder fazer muita diferença na vida das pessoas como queremos fazer.

— Ainda bem que ela disse sim! – Carl brincou e trocamos sorrisos.

— Você falou algo importante sobre as batalhas que teve que travar na vida. Na mídia saiu coisas a seu respeito e algumas falavam sobre o fato de que esse casamento de alguma forma lhe trazer vantagens financeiras. O que tem a dizer a respeito?

— Isso é algo que me chateia tanto, mas tanto! Por que nada do que falam é verdadeiro. Eu amo Carlisle de verdade e nenhum momento pensei em me favorecer nessa relação como uma pessoa aproveitadora. É como eu disse, eu estou ao lado do homem e não do príncipe. Eu não o conheci exercendo sua função e sim num momento de descontração. O que virá agora é parte do processo. Tudo que falam dizem mais do quem fala do que sobre mim, entende? Essas pessoas me conheceram a pouco tempo e não sabem quem realmente sou.

— É que muitos se aproveitam duma situação para gerar engajamento. – complementou Carlisle. - Descobriram que falar mal das pessoas gera milhões. Muitas pessoas pedem empatia, igualdade, mas o que elas estão entregando a não ser um ódio gratuito?

— E sem ao menos procurar saber um pouco da verdade. Mas tentamos nos blindar dessas notícias maldosas e eu peço que quem realmente gosta da gente de verdade não ficar consumindo e nem acreditando em tais coisas. O tempo vai dizer o que é verdadeiro, tenho certeza disso.

— Isso é verdade. Agora posso saber mais um pouco sobre esse anel lindo no seu dedo?

— Não é mesmo lindo? – perguntei toda boba.

— É um anel muito significativo. – iniciou Carlisle. – Quem primeiro usou foi a minha vó, a rainha Mary, e depois minha mãe e agora está com Esme para simbolizar a força do amor e como uniões podem ser fortes e duradouras.

Olhei para Carlisle já com o mesmo sorriso emocionado. Aquele anel tinha tanto significado para mim! Era um sinal de confiança e trazia tanta história junto com ele e iria agregar ainda outras mais. Mas acima de tudo simbolizava um recomeço, um sinal de união e amor.

Lembro de respirar fundo depois que a entrevista passou a ser mais leve e voltada para o casamento. Tudo que relacionava a imprensa e ao meu futuro era pra mim muito espinhoso para falar. Porém, fiquei satisfeita com as respostas que dei.

Naquele mesmo dia seguimos para as fotos oficiais e quando me olhei no espelho quase não me reconheci. Ali na minha frente era outra mulher. Mais arrumada, com os cabelos lisos, que tentava se controlar, aquilo representava o meu novo eu que estava nascendo e se transformando, porém, eu não sabia se estava gostando daquilo.

                              ** *

Eu separava alguns objetos tais como pratos e canecas com fotos oficiais minha e de Carlisle do noivado, alguns presentes caros que ganhamos no casamento que foram guardados enquanto falava com o mesmo carinho que as memórias que eles a traziam. William olhava para os objetos e para a rainha com um grande entusiasmo em tudo que ouvia. As histórias que saiam da boca dela sempre o impressionavam.

— Qual foi a melhor parte desse processo todo?

— Entrar em contato com as pessoas ao meu redor. Quando fiquei noiva oficialmente, tive que comparecer a alguns eventos com Carlisle. Tomei um susto em todos eles por que na minha cabeça toda a história que existia alguém que nos apoiava era algo muito distante. Mas não era. Eu via gente chorando ao nos ver, que queriam estar lá para apertar as nossas mãos e então me dei conta que meu Deus! Eu era conhecida e aquelas pessoas tinham um carinho genuíno por nós dois.

— Sentia o reconhecimento delas.

— Sim. A ficha custou a cair, mas quando caiu pronto. É emocionante receber esse carinho todo. Eu ficava pensando o que essas pessoas devem achar de mim, sabe? Por que tudo que elas sabiam era o que consumiam dos tablóides. Eu tinha medo do que eu podia dizer. Como me comportar. O que elas esperavam de mim? Entende?

— Eu sei como é. Eu fui para essa turnê agora e foi a primeira vez que eu tive contato com um grande público depois que me casei com Renesme. Eu não sabia o que esperar das pessoas, eu tive até medo por que elas têm uma proteção enorme com relação a vocês. Mas foi tudo bem. Apesar de tudo as pessoas estavam lá pra te ver.

— Eu entendi a importância do trabalho que eu tinha pela frente a partir daquele momento. Aquelas pessoas não mereciam só um obrigado, um aperto de mão ou abraço meu. Não. Carlisle estávamos mesmo representando uma nova era da monarquia e tínhamos que corresponder aquelas expectativas.

— Deve ter sido algo surreal!

— E foi. Acho que conseguimos, não é?

— Sinceramente, sim e você sabe que nunca fui muito monarquista. – William bateu de olho. – Me lembro muito de um comentário que a minha mãe fazia. Você ensinou que podia abraçar pessoas em eventos públicos.

— Verdade, não? – sorri. – Esse negócio de abraço me deu tanto problema. A equipe que estava trabalhando pra gente na época olhava pra mim e dizia: “por que você abraça as pessoas?” e pra mim isso era tão natural! Eu recebia muito carinho e só queria retribuir.

— Você foi mesmo uma brisa fresca naquela mureta velha da monarquia belgã.

— A questão é que tudo as pessoas achavam que era anormal, ilegal ou engorda dentro da corte. Mas hoje, entendo que abraços podem ser perigosos por questões de segurança.

— Por que nunca sabemos quem é realmente um adorador ou doido fanático.

— Sim. Mas eu só recebi muito amor e isso me bateu num lado tão profundo que nem consigo explicar. Mexeu com algo muito bonito. Veja só! Isso aqui tudo foi presente que ganhamos de fãs. Meu preferido é esse aqui. Uma cesta com um enxoval de casamento todo produzido a mão e personalizado com os nossos nomes. Não é lindo?

— Perfeito! Estou com inveja que eu e Renesme não recebemos isso.

— Simplesmente as pessoas lá fora são demais! Não podemos subestimar o carinho do público.

— Acho que eles vão ficar surpresos e felizes com o que vão ler no seu livro.

— Espero que sim por que é por causa deles também que estou fazendo isso.

William assentiu e desligou o gravador do celular. Esme resolveu pôr a cesta com o enxoval que ganhou dos fãs dela e de Carlisle na lista de objetos para a exposição. Acariciou os lençóis que estavam dentro e respirou fundo. Tinha que agradecer aos seus súditos eternamente por que por conta deles ela estava ali com sua vida completamente modificada desde aquela garota das suas lembranças de quase 70 anos atrás. COMENTEM POR FAVOR!


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