Além das ondas. escrita por Adnoka


Capítulo 1
Além das ondas (capítulo único)




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Além das ondas

É dezembro, e penso que viajar a trabalho é sempre muito estimulante, mas dessa vez estou bem apreensiva com tudo.

Hoje viajo e amanhã irei conhecer minha nova equipe e já fiquei sabendo que serei a encarregada não só da equipe já consolidada, mas também de um novo integrante que entrou para cumprir seu estágio.

Acho que já arrumei tudo quanto possível para essa “mudança repentina” agora só preciso esperar quem for vir me buscar.

O que será que tudo isso vai fazer com a minha vida? Melhor não colocar tanta expectativa, é só um “teste” como o próprio dono da rádio disse.

Estou com os pensamentos tão longe que o toque do meu celular me assusta e preciso pegar ele do chão para atender.

— Alô, — pareço o ofegante quando atendo.

— Tammi já está pronta? — Era o Walter dono da rádio.

— Ah, oi Sr. Wal sim, eu já estou pronta. — Falo enquanto me coloco no prumo de novo.

— Ótimo, ótimo mesmo, só tivemos uns imprevistos e precisamos mudar um pouco o plano espero que você não ligue.

Estava demorando, todo tempo que estou com ele na nossa matriz não teve um só dia que não “tivemos um imprevisto”, imprevistos já são comuns pra mim.

— Tudo bem Sr. Wal, só me passar as novas coordenadas. —Falo sorrindo para ele pois brincamos o tempo todo um com o outro.

— Certo minha querida, o motorista que ia te buscar teve um contratempo, então estamos mandando o novato com o carro dele pra pegar você está bem? Ele chega em uma hora mais ou menos. Espere que ainda hoje você chega na sua casa nova.

Nossa, já vou conhecer o estagiário da equipe. Não sei por que, mas isso me causou um certo “frio na barriga”.

— Tudo bem vou aguardá-lo então. — Como se tivesse outra opção.

— Certo, instrui ele para deixar você em casa e te levar pra comer algo por minha conta. Boa sorte na nova jornada. — Ele fala apressadamente e desliga.

Não perguntei o nome do rapaz... Tudo bem quando ele chegar eu descubro.

Como será que ele é? Espero que não seja chato pois nossa viagem não será das mais rápidas.

Ouço o som de uma buzina e vou até a janela olhar, há um carro parado em frente minha casa e encostado nele em uma pose descontraída o rapaz que veio me buscar e o olhando daqui de cima parece que estou vendo uma pintura.

Não me demoro muito em observá-lo pego minha bolsa e minha mala e desço para ele não ficar esperando demais afinal nem era para ele ter este trabalho todo por minha causa e pensando assim me sinto constrangida por um momento.

Quando saio sou recebida por um lindo sorriso.

— Ah oi, você ouviu a buzina então... — O que foi isso? No momento em que ele fala comigo sou tomada por um “desespero” estonteante pois a voz dele nesse momento ecoa não só em minha mente, mas também por todo meu corpo. Sem exageros, apesar de eu ser alguém que ama vozes e “deep voices” principalmente, o que ouvi saindo da boca desse rapaz já teria feito eu me apaixonar por ele de cara. E que sorriso lindo ele tem.

— Oi, sim eu ouvi, eu demorei a descer né? Me desculpe, eu estava pegando minhas coisas. — Tento ser o mais cordial possível e devolvo o sorriso a ele, mas estou desnorteada e esperando que ele fale novamente.

— Tranquilo, eu imaginei. Vem, deixa eu te ajudar com isso. — Ele pega minha mala para colocar no porta-malas do carro.

Nota: Eu nunca vou me cansar de ouvi-lo.

— Muito obrigada. — Eu estou tímida perto dele, e eu sei bem o porquê.

Porém não era somente sua voz que me fez sentir atraída por ele de cara pois ele era simplesmente lindo.

Não com uma beleza marcante por traços fortes, pelo contrário sua beleza era muito delicada, angelical até eu diria. Olhos castanhos, sobrancelhas muito bem desenhadas, um nariz perfeitamente desenhado para aquele lindo conjunto e uma boca perfeitamente encaixada com seus lábios volumosos e corados que davam destaque a sua pele branca e nela haviam sardas que eu tenho certeza que foram pintadas estrategicamente naquela obra de arte para torna-lo irresistível.

— Você precisa pegar mais alguma coisa? — A voz dele corta meus pensamentos e me faz desfalecer por dentro.

— Não, está tudo aí. — Procuro falar o mais normalmente possível, mas se ele se quer imaginar o que estou pensando estarei perdida.

— Então quando quiser podemos ir. — Ele aparenta ser muito gentil.

Olhei instintivamente para minha casa e respirei profundamente, a partir de agora seria uma nova vida, não sei o que esperar nem por quanto tempo isso vai durar, mas sei que ela estará aqui me esperando caso precise voltar.

— Vai ficar tudo bem, acredite. O novo pode ser um rumo surpreendente. — Ele tenta me consolar de uma possível tristeza, mas é essa sua voz que está me fazendo perder seja qual for o rumo.

— Está tudo bem, não estou triste pode acreditar em mim, mas é que sair daqui para uma nova jornada me fez ficar pensativa. É só isso, estou bem. —Sorrio pra ele para que ele acredite em mim — Inclusive já podemos ir.

— Certo, mas antes preciso de uma informação muito importante afinal você vai entrar no meu carro e viajar comigo...

O que será que ele quer saber?

—Ah sim, pode perguntar. —Digo meio que ansiosa por ouvi-lo falar.

— A Srta. poderia me dizer o seu nome?

O que? Ele veio a mando da rádio e nem falaram meu nome pra ele? Tudo bem que também não disseram o dele para mim era sempre “o estagiário”

— Nossa que vacilo o meu, sinto muito pela falta de educação. Sou a Tammi, muito prazer.

Ele ri de um jeito bem divertido, parece que ele é engraçadinho.

— Não se desculpe por isso, tudo foi rolando instintivamente então é normal não termos nos apresentado formalmente de cara. Muito prazer Tammi, sou o Lee Felix seu “e-s-t-a-g-i-á-r-i-o”. — Ele faz uma “vozinha” caricata para dizer que é meu estagiário.

Ele está se divertindo horrores com isso e é nítido, o que me faz sorrir sem nem perceber que o estou fazendo e enquanto isso ele abre a porta do carro para mim que apenas entro.

Ele entra em seguida.

— Certo Lee Felix, muito obrigada por vir me buscar e desculpe o trabalho fora de hora.

— Não se preocupe mesmo com isso okay, serei seu braço direito a partir de agora.

 Tudo que ele fala não surtiria tanto efeito em mim se não fosse pelo seu baixo e penetrante timbre.

Tudo certo para irmos, colocamos nossos cintos e partimos.

—  Faz tempo que você trabalha na rádio? — Ótimo, ele não vai deixar o silêncio ficar entre nós.

— Sim, alguns anos, mas comecei em estágio como você. — Isso me fez parecer velha? — cinco anos na verdade pois comecei aos dezenove. — Quantos anos será que ele tem?

— Então tenho esperanças. —Ele é tão leve e descontraído. Eu gosto disso nele.

— Ah com certeza! Mas me deixe ser inconveniente, por que o estágio agora pra você? Assim, você tem mais que dezenove né? — Socorro, estou investigando-o na cara dura.

— Tenho vinte e dois, — Okay sou dois anos mais velha só — E na verdade eu estou mais por gostar desse universo e acabou que fui “descoberto” como uma possível voz ideal para o novo programa.

O novo programa, eu já havia me esquecido e sim, a voz dele era de fato ideal para isso.

— Então você vai ler as histórias no programa da noite... — Eu falei aquilo mais como um pensamento retórico do que como um diálogo direcionado a ele.

—O plano do Sr. Wal é esse. O que você acha? — A pergunta dele me fez parar um instante pois se eu dissesse de fato o que penso eu provavelmente o assustaria.

— Acho bem legal, e se você realmente gostar será ainda melhor. —Um pouco evasiva na resposta? Talvez, mas o que eu queria dizer mesmo era algo como: PELO AMOR DE DEUS VAI SER INCRIVEL OUVIR AS HISTÓRIAS NA SUA MARAVILHOSA VOZ — Na verdade torço para que você curta fazer isso.

— Você torce mesmo? Fico feliz em saber!

— Sim, você tem uma voz muito bonita, duvido que já não tenha ouvido isso, mas é verdade, então se você gostar do trabalho será uma junção perfeita.

Ele abre um largo sorriso satisfeito por ouvir meu elogio a sua voz, e assim seguimos a viagem, vários assuntos até que ele dispara:

— Quero te conhecer melhor e por hora tenho um meio para isso. —Suas palavras me enchem de ânimo e receio, qual seria seu plano?

— Me conhecer melhor? — O tom em que falo demonstra totalmente o mix de emoções que ele me causa.

— Sim, o que acha? Aliás também quero que me conheça melhor então o plano serve para nós dois.

Okay ele me pegou, quero conhece-lo melhor, preciso inclusive.

— Está bem, sou toda ouvidos!  — Acabo por deixar de lado minha vergonha e demonstro a ele meu entusiasmo sem ressalvas.

— Não é nada demais por hora, vamos falar juntos qual a nossa música favorita do momento e depois a colocamos, primeiro a minha e depois a sua para você não ficar muito tímida, vamos ouvir nossos corações por um instante.

Nesse exato momento eu me pego completamente paralisada pelo total cenário perante a mim, eu sou inteiramente apaixonada por músicas e no momento minha música favorita é “A little braver” e parando para prestar atenção na letra até reflete um pouco nosso primeiro encontro.

— Você topa? — O som da voz dele faz meu coração saltar dentro do peito.

— Certo vamos fazer isso, mas por favor não me ache uma boba.

— Sem julgamentos aqui eu prometo. — Ele é tão sereno, eu me pego o olhando fixamente e ele percebe — Ah você também não me julgue.

— Sem julgamentos aqui também, eu prometo.

— Então no três falamos o nome das nossas músicas.

— Certo!

— Está pronta?

— Estou!

Ele começa a contar de forma serena e todo o resto vira silêncio perante sua voz, agora o contemplo de fato pensativa pois não sabia que ouvi-lo fazer a contagem me deixaria ainda mais envolvida por ele.

— Um... Dois... Três!

E falamos exatamente juntos:

— A Little Braver!

— A Little Braver!

Não pode ser, como poderia?

Nós dois ficamos em silêncio, olhando para frente enquanto o Felix coloca a música e ela começa a tocar no carro.

With December comes the glimmer on her face And I get a bit nervous I get a bit nervous now...”

Enquanto ouvimos a música meus pensamentos se resumem ao Felix, desde que o vi e nem tem tanto tempo assim, até agora meu encanto por ele apenas aumentou de forma livre e institivamente correta, a não ser pelo fato dele ser meu estagiário. Estou em apuros.

Novamente sou interrompida de meus pensamentos quando ele começa a cantar junto com a música enquanto olha para mim rapidamente.

“Heart beats another ten thousand times before I got the chance to say I want you....”

Eu finjo que não entendi o que ele quis fazer, e começo a cantarolar baixinho também e depois de algumas horas de viagem percebo que finalmente chegamos em minha nova casa.

— Bom, isso parece ser o fim da viagem. —Digo completamente contradita e relutante pois eu não queria deixá-lo agora, não agora e ele percebe.

— Na verdade vamos apenas deixar suas coisas aí e depois vou te levar para jantar, são ordens do chefe.

E era mesmo. Me sinto mais feliz em me lembrar que vamos jantar juntos.

Ele para o carro em frente à minha nova casa e descemos. Ele vai ao porta-malas e pega minhas coisas lá.

— Vou colocar tudo lá dentro e aí vamos, você precisa entrar para usar o banheiro ou beber água? — A viagem foi cansativa para mim que nem dirigi imagine então como foi para ele.

— Eu aceito entrar se você deixar que eu leve sua mala. — Eu vou realmente precisar me acostumar a ouvi-lo sem quase desmaiar toda vez, pois provavelmente já estou dando muito na cara.

— Não quero te dar ainda mais trabalho, então deixe que eu levo tome; — Passo as chaves para ele — Vai na frente e abra a porta, fique à vontade para usar o banheiro, o Sr. Wal disse que deixou a casa “pronta para uso”.

— Não esqueça que estou aqui para servi-la como um servo serve sua ama— Meu senhor esse menino, ele está claramente zuando com a minha cara. —Então deixe-me fazer meu trabalho.

Neste momento ele se curva lentamente a minha frente para pegar a mala da minha mão e enquanto o faz olha profundamente em meus olhos. Eu preciso cortar isso logo, o que ele pensa que está fazendo?

— Tá bom, está bem... —Estou sem muito o que dizer agora.

— As damas na frente. — Ele fala sorrindo e aii ele precisa parar com isso...

Vamos entrando em casa e eu digo a ele de forma súbita:

— Olha Felix, quanto as formalidades saiba que não precisa usa-las quando não estivermos no trabalho tá, mesmo eu sabendo que você está brincando queria que soubesse. Não serei uma líder do tipo chata, preciso que acredite em mim.

Ele me encara com sua expressão num mix de como quem pergunta “de onde surgiu aquilo” com “entendi pode deixar” e eu percebo que talvez tenha sido tola, mas tudo bem por que eu queria mesmo que ele soubesse disso.

— Pode deixar Tammi com você serei sempre eu mesmo e na forma mais simplificada possível — Ele fala isso passando a mão na minha cabeça e eu fico sem reação por uns cinco segundos.

— O banheiro é por ali. — Mostro pra ele o corredor e ele vai sorrindo.

Quando ele entra e fecha a porta eu solto o ar que nem percebia que estava segurando como quem acaba de soltar o botão da calça que estava apertando.

Logo ele sai do banheiro, olha pra minha sala, depois pra mim e dispara:

— Você não prefere pedir algo para comer aqui mesmo? Porque assim, fizemos uma viagem e amanhã você tem que estar cedo na rádio. — A ideia dele é excelente pois estou exausta.

— Bom se você não se incomodar de ficar mais um pouco aqui... — Vou mesmo jantar com ele na minha casa nova no primeiro dia? Tudo bem que é uma situação atípica, mas imagino se isso não quer dizer alguma coisa.

— Claro que não me importo, pelo contrário vou adorar — Ele sorri mostrando a mim o “sol” que ilumina o rosto dele quando ele o faz — E eu prometo que assim que acabarmos te deixarei em paz.

— Não deixe... — Falo bem baixinho quase que pra dentro mesmo, mas ele parece perceber, afinal o que está acontecendo comigo? — Só saiba você não está tirando minha paz — Acabo concluindo impaciente comigo mesma.

O Felix parece ser muito perspicaz e discreto.

— Se você quiser mesmo, não a deixarei. —Ele fala acariciando meu rosto— Mas agora vou mesmo é fazer o nosso pedido, o que você quer comer? —Ufa, quantos botões de calça vou precisar soltar com ele?

Pedimos o mesmo para os dois, frango frito e suco algo simples e rápido pois percebemos que estávamos famintos.

Enquanto esperávamos conversamos sobre a rádio.

— Como é ser diretora de arte de uma rádio? — Ele parece mesmo interessado na minha resposta —.

— Uma vida de aventuras — Falo com real entusiasmo — Preciso conduzir tanto a programação quanto aos profissionais de forma que tudo flua para que haja qualidade real e bem aparente nos programas. Tecnicamente eu ando em conjunto com todo o corpo então preciso me atentar a tudo antes que vá ao ar e isso tudo pensando sempre na audiência dos programas.

— Uau, parece ser um ritmo frenético de trabalho, mas pelo seu olhar você ama o que faz.

Falei de forma tão empolgada que nem percebi o quanto ele me observava.

— Ah sim, eu realmente amo meu trabalho, se você se permitir vai amar o seu também. — Estou entusiasmada demais para ouvi-lo narrando no programa noturno.

— Você já pensou em algo para mim? Sei que vou ler as histórias e eu de fato gostei da ideia, mas quero poder estar junto a você para aprender o máximo que eu conseguir.

Me pego pensando: Ele é fofo.

—Sim, sim o Sr. Wal me pediu para te ensinar tudo que sei, então se prepare. —Dou um largo sorriso pra ele que me retribui de forma fácil e leve — E quanto a sua primeira história está nas mãos do redator e eu não vejo a hora de ouvi-la.

A comida chega, ele vai buscar enquanto eu “arrumo” o que dá pra poder comermos que são basicamente os papéis para pegar o frango.

Comemos ali ainda falando sobre a rádio ele me perguntava e ouvia minhas respostas atentamente, e eu gostava disso nele o tal do “olho brilhando” é algo fascinante, principalmente no Felix.

— Bom então é isso — Ele fala quando terminamos de comer — Vou para minha casa, não é longe daqui então não se preocupe comigo. Amanhã venho te buscar.

— Não, não vem não! — Não quero dar mais trabalho a ele —.

— Você não tem escolha, estarei na sua porta. — Ao dizer essas palavras ele beija minha bochecha se vira e vai embora.

Eu ali mesmo onde estava fiquei. Mas o que foi isso agora? Quem disse a ele que poderia me beijar? “por que não foi na boca?” perco o ar com esse último pensamento e lá vai eu “afrouxar mais um botão” ...

Ele entra na hora que respiro fundo por este pensamento que me veio à mente.

— Esqueci minhas chaves.

Eu dou um pulo, quase um grito e ele se diverte com a cena.

— Já estava pensando na falta que vai sentir de mim até amanhã? Não sofra, tenho seu número vou te mandar mensagens antes de dormir.

Ele dá uma piscadela em minha direção e vai embora novamente.

Ah meu deus eu quero morrer! O que faz ele ter certeza que estava pensando nele? Poderia só estar distraída né? Não é Tammi? — Dou um leve tapinha no meu rosto e me lembro do beijo de despedida dele.

Eu não posso gostar do meu estagiário.

Tomei um belo de um banho e quando vou me deitar sinto meu celular vibrar, eu já tinha me esquecido da promessa do Felix quando leio a mensagem que recebi:

“Já vai dormir?”

Abro um grande sorriso quando leio a mensagem dele, mas fecho a cara em seguida pois eu sei que ele sabe qual seria minha reação.

Devo responder? Na verdade, tem tantas emoções passando por mim agora que eu mal consigo me mexer e enquanto assimilo tudo isso recebo mais uma mensagem:

“Eu sei que pode parecer impróprio, mas eu amei conhecer você, também amei que ouvimos nossos corações juntos hoje e amei ainda mais eles estarem batendo na mesma melodia, mesma onda sonora.”

Percebo que não vou conseguir respondê-lo agora e sei que ele sabe disso, e por isso ele continua mandando mensagem.

“Eu quero recuperar o atraso de onde paramos, vamos ser amigos, você e eu”. Até amanhã “Sunshine”.

Sunshine?... eu realmente gostei de ser chamada daquele jeito por ele e imaginei como seria quando eu o ouvisse falar diretamente para mim.

E depois dessa não mandou mais nada.

Eu resolvi responde-lo então enviei um “Boa noite, bons sonhos”. E joguei o celular pra longe e adormeci.

No dia seguinte como prometido quando sai pelo portão ele estava lá a minha espera.

— Bom dia Sunshine! — Pela mensagem okay, mas ao vivo me fez estremecer de tão bom que foi de ouvi-lo falar aquilo exatamente como imaginei.

— Bom dia Felix, ou você tem algum apelido que quer que eu use? — Falo sorrindo —.

— Me chame como quiser, eu vou adorar de qualquer jeito. — Ele responde ao meu “flerte”, estamos flertando? Assim, mais ainda? Eu não vou resistir —.

— Gosto do seu nome, mas posso chama-lo apenas de Lee também, estou decidindo.

— Por mim tudo bem, e você será minha Sunshine apenas fora do nosso local de trabalho então pode ficar tranquila.

Ele estava realmente decidido que eu seria dele? O que o fazia pensar assim?

O fato era que eu já era. Em todos os sentidos e era tarde demais para negar ou voltar atrás, eu já era dele, e com isso eu “já era”.

Chegamos na rádio e eu me apresento a equipe que me recebeu com flores e um lindo café da manhã.

— Esperamos que goste Tammi, foi ideia do Felix, ele elogiou bastante a Srta. — Disse o redator da equipe. — Inclusive aqui está, a primeira história que ele contará.

Pego o roteiro que tem como título: “Triste fim”.

Nossa que profundo, já vai começar assim?

— Okay vamos fazer uma passagem teste deste texto para termos ideia de como o Felix vai se adaptar ao enredo?

— Pode ser, estou ansioso para fazer isso. Tem alguma dica para mim? — Ele me pergunta demonstrando de fato sua ansiedade.

Eu o encaro, penso que este tema para as noites na rádio será um bom começo pois haverá muitos ouvintes que se identificarão, mas pensar no Felix falando sobre finais tristes e dores me causou um desconforto.

— Você precisará ler de forma imparcial, porém procure se conectar com o que estará lendo, pois, é muito importante você sentir o que transmite.

Ele apenas acena com a cabeça de forma positiva aparentando estar muito concentrado.

— Vamos nos posicionar, lembrem-se é um teste, vamos deixar o Felix a vontade okay!

Olho para ele, seguro seus ombros — o que me faz senti-lo de forma especial — sinta-se tranquilo, seremos seus primeiros ouvintes e estamos aqui para te apoiar.

Ele novamente acena com a cabeça com um pequeno sorriso em seu rosto que deixa as suas sardas bem aparentes e eu penso que talvez eu não consiga mais resistir a ele, mesmo que eu queira. Depois se senta em frente a seu canal e acena que está pronto para começar e todos fazemos silêncio.

— Quando quiser Felix.

Esta é a história de um triste fim, eu sou o Lee Felix e vou conta-la a vocês:

Como você tem estado? Eu acho que você está bem. Já faz tanto tempo desde que nos vimos pela última vez e honestamente por toda a minha vida lá no fundo eu nunca me senti vivo...

Ele continua, vai lendo frase por frase com a quela voz dele e não só eu, mas alguns outros membros da equipe estão chorando agora e o meu pensamento é: Não existe nada mais lindo que esse momento, que essa voz e todo o sentimento que o Felix emana. Com isso eu constato que estou me apaixonando por ele e que esse sentimento vem além das ondas sonoras que sua voz desperta em mim.

Ele termina de ler, levanta sua cabeça para nos olhar enquanto retira seu fone e percebe que causou uma ótima impressão. Ele me olha e pergunta se eu gostei.

— Sim Felix, isso foi lindo, obrigada por nos presentear. Eu tenho certeza que os ouvintes vão amar também.

Passaram-se mais algumas horas e chegamos ao fim de nossa reunião de pautas e organizações para podermos começar nosso trabalho de fato na semana que vem, nos despedimos e eu fico com a sensação que vou adorar trabalhar com essa equipe. Eles vão indo embora um a um quando noto que o Felix está em pé na porta a minha espera.

Reúno minhas coisas e vou até ele.

— Você não vai embora? — Pergunto apenas pra fingir que não sei que ele me espera.

— Não sem você. — Ele está me olhando de um jeito que parece que vai fazer algo a qualquer momento e então ele se aproxima — Não consigo mais evitar isso Tammi.

Ele vem vindo em minha direção enquanto fala e em um susto meu desvio dele. — Eu não posso ter nada com ele, isso não é certo —. Passo por ele em uma tentativa de fugir daquilo, mas meu coração deseja desesperadamente ficar.

Ele me segura pelo braço, me vira para ele e sussurra.

Apenas olhe para mim. — Eu o olho, ele está me encarando como se independente do que fosse acontecer já estava certo que aconteceria — Vou fazê-la sentir meu amor agora venha e me saboreie.

E antes que eu tente me soltar ele me beija.

O seu toque é gentil, mas sua vontade é notável e ele não faz questão alguma de esconder o quanto queria aquilo e quando as luzes do corredor se apagam o estúdio da rádio fica mais escuro e isso o faz parecer mais cheio de desejos. Seu beijo é cheio de detalhes, a forma que ele dá leves puxões no meu cabelo fazendo meu pescoço arquear de leve o que faz ele alternar entre minha boca e pescoço; sua outra mão em volta da minha cintura me apertando contra o corpo dele a todo instante e sua respiração forte estão me deixando completamente sem rumo, não pensava mais em nossa posição na rádio, mas não deixava de imaginar todas as posições que poderiam sair dali se não parássemos.

A luz do corredor acende e ilumina mais o estúdio quando me lembro que as luzes do corredor são com sensores de movimento e isso me paralisa, mas o Felix apenas me abraça e sorrindo me vira ainda no abraço para que eu fique de frente com a porta quando o próprio Sr. Wal entra no estúdio.

Eu quero morrer agora. O que o Sr. Wal está fazendo aqui?

— Então Felix você realmente gostou dela, bem como imaginei.

O Sr. Wal sempre foi amoroso e brincalhão comigo, mas isso? Ele deveria estar furioso com minha falta de profissionalismo, eu estou aos amassos com o estagiário no estúdio dele. É isso minha casinha que ficou para trás não vai ficar me esperando muito pois com certeza voltarei em breve.

— Sim pai, eu realmente gostei dela, assim como o Sr. disse que seria.

Pera aí o que? PAI? Então o Felix era filho do Sr. Wal?

— Ah que bom, fico feliz! De fato muito feliz, sempre tive a Tammi em alta estima, isso muito me agrada. Mas filho leve ela para casa tá bom? E procurem disfarçar um pouco melhor quando estiverem aqui.

Preciso de um buraco para me enterrar urgente.

— Tammi minha querida fique calma, meu intuito sempre foi juntar vocês. Inclusive nunca houve imprevistos com o motorista de ontem cedo porque nem havia um.

— Eu no momento estou sem palavras Sr. Wal, de verdade não sei o que dizer.

O Felix resolve me salvar de todo aquele constrangimento me tirando dali.

— Não diga nada meu amor, venha vou te levar pra casa. — E enquanto ele fala isso ele me dá um selinho e eu tapo minha boca em seguida olhando pra ele incrédula, ele deve ter um excelente relacionamento com o pai não é possível.

— Cuide bem dela filho, cuide mesmo bem dela.

O Felix vai me puxando pela mão me tirando dali e eu apenas vou com ele.

Paramos em frente ao carro dele e eu começo a surtar o que faz ele literalmente gargalhar de rir.

— Como assim você está rindo? Você só pode ser doido. Tudo bem você é filho do dono UAU mas o que foi isso? — Acho que vou rir também, mas de nervoso.

— Calma minha Sunshine eu ontem à noite liguei pro meu pai e disse que já havia me apaixonado por você então ele já sabia o que eu faria pois me conhece muito bem.

Como pode isso sair tão naturalmente dele assim?

Agora no estacionamento ele me puxa novamente pra ele.

— Você não me quer? Se não quiser eu posso parar beije-me ou me deixe a escolha é sua.

Eu o encaro e penso vou embora isso não está certo, apesar de eu o querer intensamente isso não pode acontecer. Me solto dele e me viro pra ir.

Mas ele vem para minha frente.

Assim você só provoca o meu coração já domado, não me faça mal. Você me enlouquece e só o que quero agora é estar com você.

— Está bem, — Estou claramente contrariada por mim mesma, eu sei que não iria a lugar algum sem ele — Então o que você quer de mim? O que quer que eu faça?

Você pode me ensinar a viver a vida plenamente ao seu lado é tudo que eu te peço, não me mande embora agora, não dá mais.

— Eu sei não tem mais como.

— Nós nos pertencemos e você concorda comigo. — Ele me faz cócegas quando diz isso, é fofo, e misturado com a voz dele é também sexy.

— Tá tudo bem, mas saiba que temos muito a ajustar sobre essa relação. — Ele apenas acena com a cabeça de forma positiva concordando comigo.

— Vem, vou te deixar em casa.

No caminho de volta ele fica cantarolando todas as músicas que toca na rádio que estamos ouvindo e eu o acho ainda mais maravilhoso vendo-o assim.

— Você veio a mim através das ondas e meu amor eu simplesmente te amo de verdade!

— As ondas do rádio, da rádio, temos até nossa própria música. — Falo isso e vejo ele demonstrar toda a satisfação possível em me ver de certa forma concordar com ele —. Eu estou amando você também meu doce Sunshine.

Chegamos na minha casa e eu me despeço dele com um beijo em sua bochecha e desço do carro, mas quando fecho a porta ele já está do lado de fora me esperando.

— Não vou pedir pra subir fique tranquila, só quero me despedir adequadamente. — Nossa, como ele é uma gracinha quando quer.

Paro de frente para ele e o olho nos olhos buscando o entender um pouco melhor.

— Então você agora é...

— Sou seu namorado!

Ele me beija docemente e não há nada mais que eu queira naquele instante. No seu beijo há tantas coisas urgentes e ao mesmo tempo cheias de detalhes que sempre parece que estamos a ponto de nos perder um no outro. E com a boca ainda na minha ele fala com um ar melancólico:

— Argh, você precisa entrar agora, se não eu não vou responder por mim. — Mesmo falando isso ele nem sequer afrouxava seu abraço ou separava sua boca da minha.

— Eu sei, eu por pouco não vou te arrastar comigo lá pra dentro, mas fique tranquilo, teremos tempo.

Nos abraçamos em despedida, um abraço perfeitamente encaixado e muito confortável.

— Te mando mensagem antes de dormir.

— E eu só durmo depois que te responder.

E por mais difícil que seja nos separarmos eu de impulso me afasto e entro logo em casa antes que não consiga mais deixa-lo ir.

Agora somos namorados e nossa história está apenas começando então seja como for será sempre maravilhoso pois estarei com o Felix ao meu lado.


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Notas finais do capítulo

Espero que curtam!



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