“Para uma gatuna, até que você é dedicada.”

“Eu sou ladra. O vigarista é você.”

Jaziam os dois esperando um auxiliar de Felicia, pois aquela pequena reunião na Oscorp estava agendada há três semanas. Harry achava curioso como ela trabalhava duro, apesar das recentes catástrofes, revelações e pelo fato de ser uma criminosa. Mas talvez fosse essa dedicação que justificasse o seu sucesso. E ele gostava das escolhas da playlist que ela deixava tocar no próprio escritório. Dizia Felicia que tinha certa sensibilidade a sons, por isso evitava fones. Agora ele se perguntava se isso estava relacionado a sua condição de Gata. Enquanto aguardavam, discutiram sobre o que sabiam até agora: 

1) A Big Pharma explodiu há quinze anos, se recuperando com a Oscorp.

2) Não há informações na mídia, embora um repórter que cobriu o caso tenha se ferido de forma suspeita.

3) Sem avisos, retomava a produção independente e revolucionária.

Arthur Lennox era só um babaca elegante. O verdadeiro suspeito agora era Hoffman, conforme os dois haviam tentado avisar a si próprios. No entanto, não conseguiriam informações dentro da empresa, porque os projetos novos da Big Pharma não envolviam a Oscorp.

“Bom dia, senhorita Hardy. Cheguei com os relatórios.”

“Me dê boas notícias, Jamie.”

Que intimidade, Osborn pensou. Na realidade, ficou na dúvida entre sentir ciúmes dela ou dele, pois a ladra sabia escolher diamantes e auxiliares de escritório mais belos. Com aquele seu jeito tímido e profissional, Jamie apresentou os últimos balanços financeiros, relatórios de tendências e também uma proposta:

“A questão da segurança tem preocupado alguns investidores. A maioria das indústrias têm aumentado os protocolos e a Oscorp também, principalmente depois da falha há dez dias. A Big Pharma, em comparação, vem adotando mais recursos há meses e mesmo assim o depósito sofreu uma invasão”, ele adicionou em voz baixa, “Apreenderam o planador do Duende Verde lá.”

Harry riu.

“Tenha certeza que o Duende Verde não vai prejudicar a Oscorp, Jamie. Mas refresque minha memória sobre a falha há dez dias.”

“Desligaram os sistemas de segurança por alguns minutos. Não houve diferença nos estoques ou contas. Só não tivemos acesso aos laboratórios privados, mas nenhum pesquisador apontou algo furtado.”

Harry tinha um laboratório e um importante projeto pessoal. Mas não checou nada.

“Obrigado”, lançou uma expressão perigosa para Felicia, “Agora, se nos dá licença, temos mais o que conversar.”

“Imagino. Os convites do novo lançamento da Big Pharma estão na pasta. Bom evento, hoje a noite.”

Felicia e Harry se entreolharam antes que Jamie saísse.

“Eu precisaria de mais tempo para conferir o que foi, mas tenho certeza que você me roubou, Felicia”, ele bufou, “Sistemas de segurança desligados? Isso é obra sua.”

Ela pensou em corrigir roubo para furto, mas evitou.

“E eu nem sei o quê.”

“Sabe ao menos para quem?”

“Por incrível que pareça, criminosos não pedem a identidade um do outro, senhor Osborn. E eu não tenho o hábito de carregar documentos que possam me comprometer. É como se eu já tivesse fechado negócio e sumido do mapa. Não encontrei nada.”

Depois de saber do verdadeiro ofício de Felicia Hardy, não era surpresa alguma que ela tivesse o roubado, muito menos era de se estranhar que o cérebro dela fosse mais afiado do que as garras do seu traje preto. Uma pena, pois de fato era uma excelente funcionária.

“Não importa mais. O responsável é Hoffmann, nós dois sabemos disso.”

“Ainda bem que desta vez temos um convite para vê-lo.”