Novembro amanheceu turva. Manjiro Sano detestava dias nublados e com indícios de chuva. 

O fazia recordar coisas que ele não queria. Algo que aconteceu numa noite de chuva intensa chuva e muito sangue espalhado pelo chão. Sempre haveria uma ligação entre ele e dias como este, mas, antigamente, ele teria uma certa companhia em sua casa. Ele provavelmente viria sem pensar duas vezes.

Manjiro perdeu a conta de quantas vezes chamou Ken para passar o dia em sua casa quando as ruas estavam demasiadamente perigosas para se arriscarem em suas motos e dirigir pela belíssima Tokyo. O risco sempre esteve presente nas suas vidas, mas em dias como este, Manjiro gostava de ficar ao lado de Ken enquanto ouviam o barulho da chuva e comiam aperitivos.

Nenhum outro membro da gangue ou um amigo próximo sabia disto mas, em dias como este, o Sano gostava de olhar a chuva pela janela e desabafar. Ele passava horas falando sobre seus sentimentos, dores e mágoas enquanto Ken ficava lá, quieto, apenas escutando cada palavra dita pelo loiro mais novo. Os dois prometeram que jamais contariam seus segredos e coisas profundas para outras pessoas, mesmo que fosse outro amigo. Era algo que pertencia somente a eles dois. 

Nenhuma outra pessoa neste vasto mundo poderia substituir o que eles tinham. O que eles, um dia, tiveram. Manjiro poderia arranjar quantos amigos fossem e nenhum deles seria como Ken. 

Para Manjiro, ninguém poderia substituir o lugar de Ken. E para Ken, ninguém poderia substituir o lugar de Manjiro. Os dois se completavam em todos os sentidos e era algo completamente difícil de se encontrar.

Mesmo anos depois, Manjiro gostaria de fazer tudo de novo. E, ironicamente, anos atrás, o Sano não conseguia imaginar como seria esta vida sem Ken. O que ele de fato se tornaria sem Ken ao seu lado. 

Mas agora ele estava sozinho.

Ele não tinha Ken para gritar com ele quando passara muito tempo debaixo da chuva e acabou na cama com um belo resfriado. Agora, se Manjiro pegasse um resfriado, Ken nem mesmo estaria ali para tomar conta dele como ele faria anos atrás. Manjiro continua acordando dia após dia pensando em como eles costumavam ser. Em como todos os dias eram divertidos e sem preocupações. Ele desejava voltar no tempo, mas não existia este tipo de poder.

Por isso, ele continua àcordar dia após dia com arrependimentos que ninguém jamais será capaz de entender, com uma dor que ninguém jamais será capaz de arrancar de seu coração. Ele nem sequer possuía um. Isto tinha-lhe sido tirado, assim como sua luz e a sua razão, aquele que o guiou, aquele que foi um de seus últimos pilares em vida. 

Manjiro apenas acorda dia após dia, experimentando mais uma vez a mesma dor e solidão. Como se algo estivese faltando. 

E estava.

Ele estaria sempre apegado às memórias do passado e ele não pedia para que alguém o compreendesse. Era simplesmente impossível de esquecer. Esquecer alguém que era tão importante e que irá aparecer em seus sonhos mais uma vez.

Num dia como este, Manjiro diz em direção ao vento frio que entra pela janela de seu quarto:

— Eu espero te encontrar de novo, Kenchin. Nós definitivamente nos encontraremos em outra vida. Vamos cumprir todas as nossas promessas e seremos apenas nós dois contra o mundo novamente. E depois disso, poderemos passar mais dias como este juntos.