Dualitas escrita por EsterNW


Capítulo 33
Capítulo XXXIII




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― Então... Ele nos mandou para o meio das fadas? ― Estevão inquiriu, saindo do meio das árvores. O cocheiro de aluguel estava parado em seu lugar sobre a carruagem a alguns metros atrás de Irina, como se fosse perfeitamente normal levar duas pessoas para o meio do nada tarde da noite. ― Tenho certeza de que vi alguns pontos brilhantes ao longe, mas não arrisquei chegar muito perto.

A bruxa continuava parada de braços cruzados, encarando fixamente um paredão de pedras. Começava a sentir uma pontada de dor entre as sobrancelhas, porém optou por continuar olhando. 

No dia anterior, visitara mais uma vez a residência dos Salazarte, mesmo que, daquela vez, não tivesse justificativa nenhuma além de precisar ― e da vontade ― conversar com Matias. O encontro, mesmo não sendo interrompido daquela vez, não durou mais do que vinte minutos, o clima pesado podendo ser sentido em todos os cantos da casa. Podia ser ilusão sua, contudo, arriscava dizer que teve a impressão de que o semblante de seu amigo parecia um pouco mais aliviado ao vê-la. 

Estava deixando suas próprias ilusões se misturarem com a realidade, um erro severo. De qualquer forma, o último encontro lhe rendera um relato da noite em que Matias e o primo se envolveram na briga e a levaram até ali, um lugar no meio de uma floresta na estrada para sabe-se lá onde. Prometera ao amigo que iriam juntos ao lugar, no entanto, ao ouvir sobre os problemas que o envolviam até o pescoço, decidiu que a decisão mais sensata era chamar Estevão para acompanhá-la e deixá-lo descansar. 

― Tenho a ligeira impressão de que há algo envolvido em um pesado glamour naquela direção. ― Apontou com a cabeça para a pedreira. 

O pintor semicerrou os olhos como um míope tentando enxergar ao longe, caminhando alguns passos na direção sugerida pela irmã.

― Que coisa estranha... ― ele murmurou e Irina continuou a avançar, obrigando-o a segui-la. ― É como se toda vez que eu tento olhar para lá, a minha cabeça começasse a doer. ― Os dois pararam em frente a uma entrada esculpida na pedra e, antes que a bruxa continuasse, ele segurou seu braço. ― Tem certeza que você vai entrar aí? Se conseguiram ressuscitar um feitiço tão antigo como o glamour para se esconderem, não foi por um bom motivo.  E Matias apenas conseguiu arranjar briga por aqui. 

― Os dois foram proibidos de entrar pelo amante da irmã dele, enquanto ele não nos conhece ― ela se justificou, tentando soltar-se para continuar. ― Se conseguiram ressuscitar um feitiço tão antigo como o glamour, é porque sabem de coisas que nós não temos mais acesso. 

Estevão soltou o braço da irmã e deu uma longa respiração, como se estivesse criando coragem. 

― Não saia de perto de mim, por tudo que é mais sagrado ― ele sussurrou e os dois cruzaram a soleira da porta. Do lado de dentro, não havia nada além da mesa, das cartas, do lampião e do provável vampiro com sua taça de sangue junto de outro homem, em uma descrição semelhante àquela dada por Matias. Os símbolos pintados de vermelho nas paredes continuavam lá, e mesmo que fossem totalmente desconhecidos, faziam um tremor descer pela coluna sabe-se lá por quê. Estevão colocou seu sorriso enviesado no rosto. ― Boa noite, senhores.  Eu e minha irmã sofremos um pouco para encontrá-los, então, por gentileza, será que poderiam nos ajudar?

― Da parte de quem? ― o vampiro questionou, deixando suas cartas viradas para baixo na mesa. 

― Desculpe? ― o pintor devolveu confuso. 

― Da parte de quem vocês vieram até aqui?

Estevão olhou para a irmã, sequer arriscando tentar dizer algo em resposta. 

― Nós viemos através de Hugo Brontes ― Irina afirmou junto de um passo à frente. Aquele era um dos momentos em que agradecia por ter uma boa memória. Anotar talvez ajudasse. 

O vampiro olhou para seu companheiro, que também jogou as cartas para a mesa, reclamando de como Hugo parecia achar que aquele lugar era um bordel para mandar que qualquer um fosse até lá. Mesmo com Estevão torcendo o nariz para o linguajar que a irmã estava ouvindo, assistiram a dupla se levantar e arrastar a mesa e as cadeiras para o lado, revelando um alçapão que sequer tinham percebido antes. 

― Terão que responder a mesma pergunta lá embaixo ― o vampiro informou, abrindo o alçapão que revelava degraus de pedra em direção ao fundo. ― E tenha cuidado, meu bem, porque seria uma pena vê-la escorregar e quebrar um pescoço tão lindo ― ele riu, enquanto o pintor segurou o braço da irmã junto de uma tentativa de cara feia, ato que foi simplesmente ignorado. 

Os degraus de pedra que levavam para o fundo eram iluminados somente pela fraca claridade que vinha de cima e, de fato, uma queda dali seria algo fácil de acontecer e um membro quebrado uma possibilidade que faria qualquer um ter certo receio. Estevão fez questão de descer na frente, segurando a irmã pelo pulso.

Após descerem cerca de quarenta degraus, o alçapão no nível do chão foi fechado, escurecendo o caminho pelo qual vieram. À frente se abria um enorme corredor, sustentado por colunas pretas de obsidiana.

― Isso é obra do nosso povo ― o pintor murmurou.

Irina soltou-se dele, tomando a dianteira na única direção capaz de ser seguida, fazendo o irmão ter de acompanhá-la. Após dois minutos de caminhada em linha reta, vendo uma ou outra coluna ao lado de tochas, alcançaram um enorme portão de ferro preto, tomando toda a extensão do teto até o chão. Ao seu lado, havia uma cadeira onde um homem de aparência pálida e um tanto doentia lia um livro qualquer. Ele tirou a atenção da página e deu uma rápida passada de olhos nos irmãos, demorando-se mais na bruxa que parou ao seu lado.

― Esse não é o tipo de lugar para uma dama como a senhorita ― ele comentou e virou-se na direção do pintor, que parou ao lado dela. ― Sua irmã, esposa...

― Somos irmãos...

― Acredito que esse não seja o tipo de lugar para ninguém respeitável do Submundo ― a Srta. Gutiérrez interrompeu o pintor. ― O que poderia incluir alguém como o senhor.

O homem de fato parecia um tanto mais apresentável do que aqueles no andar de cima, trajando roupas de tecidos facilmente reconhecíveis como caros para alguém que era filha de um comerciante. Irina não abaixou a cabeça, mostrando que não iria embora.

― Nós apenas gostaríamos de algumas informações... ― Estevão começou, vendo o porteiro soltar um “ah”.

― Por que não disseram logo? ― ele riu e apontou para um ponto à esquerda. ― Estão vendo aquele símbolo que parece um chifre com uma meia lua? Se forem mesmo bruxos, basta contornarem o desenho com um pouco de sangue. Mas cuidado, a descida é escorregadia. Há bruxos que vão e não voltam nunca mais, mas porque chegaram ao final de uma forma desagradável.

Por fim, ergueu novamente o livro na linha de visão e voltou a lê-lo, ignorando a presença dos dois. Estevão e Irina se entreolharam, a apreensão podendo ser facilmente lida nele pela irmã, no entanto, ele engoliu os próprios temores e tirou um canivete do bolso, encaminhando-se junto dela na direção apontada.

O pintor fez um corte na palma da mão, vendo o sangue logo fluir pelo machucado. Sibilou de dor.

― Pelo menos não sou canhoto ― ele riu para si mesmo, molhando o dedo da mão direita no próprio sangue e começando a contornar os traços já avermelhados do símbolo na parede. ― Confesso que estou um tanto curioso com o que pode haver atrás daquele portão para ele dizer que não é um lugar para alguém como você.

― Acredito que o correto seria dizer que este não é um lugar para nenhum de nós.

― Nisso você exagera um pouco, minha irmã. Esse é o lugar perfeito para alguém com muito a esconder. ― Ao ligar a última linha com o sangue ao ponto inicial, o símbolo brilhou em escarlate, a parede de pedra lentamente se deslocando para trás para revelar um estreito corredor com degraus que desciam mais para o subterrâneo. ― Definitivamente o lugar para quem tem muito a esconder.

― Você está bem? ― ela questionou, vendo o irmão tirar um lenço do bolso onde guardara o canivete.

― Vou sobreviver. ― O pintor riu, amarrando o objeto na ferida. O pano logo adquiriu uma mancha carmim. Estendeu a outra mão para a irmã. ― Vamos?

Estevão continuou a ir na frente, tentando ser cuidadoso com os degraus estreitos e escorregadios. Mesmo não podendo ignorar que o irmão parecia mais temeroso do que antes, segurando sua mão com um pouco mais de força do que ela gostaria, ainda foi capaz de perceber que estavam pisando sobre mais obsidiana. Também agradecia pelo cuidado de, daquela vez, terem colocado mais tochas nas paredes, pois somente graças a elas não desceram rolando quando Estevão quase escorregou em um dos degraus.

A descida terminava em uma entrada que lançava uma forte iluminação alaranjada para o chão. O pintor continuou segurando a mão da irmã e, vendo que ele continuava a hesitar ― como se tivessem vindo até tão longe para desistir ―, ela o puxou para frente, obrigando-o a entrar junto dela.

Após a entrada, os bruxos viram-se numa sala iluminada por um castiçal sobre uma mesa que era uma verdadeira bagunça de papéis. O lugar não era assim tão grande e o teto baixo dava uma breve sensação de claustrofobia, fazendo Estevão quase ter que curvar um pouco o pescoço para poder permanecer ali dentro. Varreram o lugar com os olhos, observando duas estantes com volumes encadernados e uma mesa de trabalho com inúmeros objetos para preparos de poções sob a pintura de uma mulher com trajes que pareciam do século anterior.

Ouviram resmungos de outra entrada na única parede vazia e de lá surgiu um velho curvo, os cabelos e barba cinzentos um verdadeiro emaranhado. Ele olhou de um para o outro, os olhos parecendo perdidos entre sono ou, assim que abriu a boca, um provável delírio.

― Visitas, Prudence? Ah! Há quanto tempo não temos visitas por aqui! ― Ele riu e os irmãos se entreolharam, perguntando silenciosamente entre si com quem poderia estar falando. Além deles, havia somente o retrato na parede. ― O que gostariam meus jovens, hum? ― O homem se aproximou com uma rapidez impressionante, examinando-os de perto.

― Nós gostaríamos de algumas informações sobre uma maldição ― Irina informou, já que Estevão parecia mais ocupado em ainda analisar o ambiente.

― Maldições, mocinha?! ― ele exclamou, afastando-se dela. ― Veja, Prudence, ela quer saber sobre maldições! ― Dessa vez, ele realmente se dirigiu para a pintura na parede. Voltando-se para eles, seu rosto contorceu-se em pena. ― Veja, mocinha, veja o que coisas como maldições podem causar a um homem. ― Apontou para si mesmo, dando um sorriso de dentes podres. ― Minha vida, minha longa vida foi inteiramente consumida pela minha tola curiosidade pelos domínios da Sombra. ― Olhou novamente para o quadro, soltando um suspiro para o ar. ― Prudence costumava me alertar para ficar longe disso, mas veja onde fui terminar? Falando com um retrato para tentar conservar o que me resta de sanidade e preso à minha ruína, enquanto trago outros bruxos tolos como eu para o mesmo fim.

― Nós não queremos amaldiçoar ninguém ― Estevão finalmente se manifestou, colocando uma mão sobre o ombro da irmã e a voz saindo mais grave do que o habitual. ― Apenas precisamos de informações.

― Acreditamos que nosso irmão mais novo possa ser vítima de uma maldição como essa. ― Irina estendeu o papel para o homem, que o pegou com uma mão de unhas longas e quase pretas por baixo.

Ficaram em silêncio enquanto ele murmurava qualquer coisa mais para si mesmo e lia as palavras que Irina copiou do livro que fora de Tibério Salazarte.

― Vocês são irmãos dele, vocês dizem? ― Os dois assentiram e o velho novamente contorceu o rosto para pena. ― Eu sinto muito, muito mesmo, mas creio não haver salvação para ele. Os pais dessa criança são uns malditos.

― Perdão?! ― Estevão elevou a voz, soando ofendido.

Ainda murmurando de forma desconexa para si, ele largou o papel sobre um dos livros na mesa e foi para uma das estantes, percorrendo os dedos pelos encadernados nas prateleiras. Após um “ah”, retirou um dos exemplares e o abriu sobre uma das pilhas de papéis e pergaminhos.

― Nunca cheguei a ver essa maldição em ação antes... ― disse mais para si mesmo, os irmãos se aproximando do outro lado da mesa para tentar ler o conteúdo. O homem virou o livro na direção deles e Irina o puxou para mais perto. ― Pudera, acredito que a maioria das crianças morrem antes mesmo de completar quatro anos... Melhor assim, do que passar uma vida de sofrimento e que irá terminar precoce de qualquer maneira. Quem sabe poupa os pais de um trabalho desnecessário.

Estevão deu uma breve olhadela para o velho, pois aquilo soava um tanto grosseiro de se dizer; a irmã, no entanto, continuava a leitura lenta, tendo a impressão que a garganta ia se apertando a cada linha.

As descrições batiam com todos os sintomas de Ezequiel, desde os delicados primeiros meses de vida, com febres altíssimas e frequentes, a estrutura frágil e a fraqueza, as manchas que surgiam e desapareciam de forma inexplicável... As vítimas, como ditas pelo velho bruxo, dificilmente passavam dos quatro anos.

― Nosso irmão completou dezoito anos há alguns meses, talvez essa maldição não se aplique a ele. ― Irina empurrou o livro para que o irmão pudesse ler melhor. O homem a observava com curiosidade por entre os cachos compridos e desgrenhados.

― Um fato curioso, mocinha. ― Parou, passando um dedo sobre o outro de maneira frenética. ― Os sintomas de maldições ancestrais são bem específicos e, se o irmão de vocês se encaixa nisso, é difícil ser outra coisa.

― Por isso você chamou nossos pais de malditos? Uma maldição ancestral? ― Estevão questionou, empurrando o livro de volta na direção do outro bruxo, que ignorou o gesto. ― Isso significa que é passada de pai para filho?

― E teria outro significado para ancestral? ― ele riu, olhando novamente para o quadro na parede. ― Os bruxos que nos aparecem estão cada vez mais burros, Prudence.

― Desconheço se nosso pai ou nossa mãe têm algum irmão ou irmã com a mesma doen... Maldição ― Irina começou e viu-se obrigada a corrigir ― de nosso irmão. Ou saberíamos desde o início por onde começar a procurar.

― Como eu disse, mocinha, a maioria das crianças não sobrevivem mais do que alguns meses, raros são os casos que duram mais do que alguns anos. ― Ele alisou a barba grisalha, um tanto pensativo. ― O que torna o irmão de vocês um ponto fora da curva. Dezoito anos, você disse? Sim... ― Sequer esperou pela resposta e continuou. ― Curioso, muito curioso... A Sombra costuma ser cruel com as pobres crianças com essa maldição.

― E como podemos quebrá-la? ― a Srta. Gutiérrez inquiriu, querendo ir direto ao ponto.

― Pagando o mesmo preço que a pessoa que lançou a maldição no início pagou: uma vida.

― Esse tipo de coisa sempre precisa envolver morte? ― Estevão questionou, parecendo incomodado.

― A Sombra gosta de sangue, meu jovem. ― O velho sorriu seu sorriso de dentes podres, fazendo o pintor estremecer um pouco. ― Mas os lembro que isso valerá apenas para o filho da pessoa que fizer o acordo com a Sombra. A maldição continuará pelas próximas linhagens, até que a Sombra não possa mais alcançá-los. 

― Isso significa que, caso nós tenhamos filhos, há a possibilidade de algum deles ter a mesma maldição que nosso irmão? ― o pintor questionou.

O homem ergueu os olhos em sua direção, como se estivesse encarando uma formiga que queria pisar.

― Você tem algum problema para compreender o que outras pessoas dizem para precisar repetir tudo em voz alta? ― ele jogou de forma esganiçada.

― E de que forma poderíamos quebrar a maldição de nosso irmão? ― Irina interrompeu os dois.

Daquela vez, o velho ignorou completamente o bruxo que estava lhe tirando a paciência, encarando-a com os olhos escuros quase brilhantes. Ele gargalhou.

― Eu sabia que você tinha o chamado da Sombra aí dentro, mocinha, eu sabia! ― o velho riu para si mesmo, chegando a bater palma. ― Creio ter o feitiço original por aqui em algum lugar...

― Irina! ― Estevão puxou o braço da irmã com força, quase fazendo-a se desequilibrar pela surpresa. ― Enlouqueceu?! É de magia sombria que estamos falando aqui e você sabe que não mexemos com isso. Olhe o que aconteceu com ele! ― sibilou no ouvido da irmã.

― É a única forma de salvar o nosso irmão! ― ela devolveu no mesmo tom.

― Não ouça seu irmão, mocinha ― o velho se intrometeu, de costas para eles enquanto procurava por algo em uma das prateleiras. ― Nossa breve conversa aqui provou que ele não passa de alguém com uma inteligência limitada. Muito diferente de você...

― Diga! ― Estevão cortou a tentativa de argumentação dele, ainda tentando puxar a irmã para trás de si. ― Sonhos, oniromancia, você sabe algo sobre?

O velho soltou um resmungo.

― Por acaso eu tenho asas nas minhas costas, rapaz? Oniromancia é trabalho de fadas.

― O que?

O pintor parou de tentar arrastar a irmã, piscando algumas vezes enquanto processava a informação. Irina deixou de tentar lutar contra a força dele.

― Oniromancia é obra da Luz, apenas fadas têm contato com ela. Agora saia. ― O velho abanou a mão, ainda não se dignando a voltar-se para eles. ― Você está esgotando minha paciência e sei que Prudence ficará de mau humor se eu também ficar de mau humor. Mas lembre-se, mocinha! ― Parou, girando nos calcanhares e olhando para os dois com seu sorriso podre. ― Agora você sabe onde me encontrar. Volte se estiver interessada em negociar.

Junto da risada, Estevão tomou a irmã pelo pulso e forçou-a a acompanhá-lo para a única entrada e saída do ambiente, alguns passos atrás.

― Você acabará me machucando se continuar agindo assim ― ela reclamou e foi instantaneamente solta.

― Você enlouqueceu? ― Estevão gritou. O peito subiu e desceu, enquanto ele tentava se controlar.

― Nós achamos uma saída! ― ela devolveu, dando as costas para ele e começando a subir os degraus. O pintor viu-se obrigado a segui-la, mesmo que a subida fosse tão perigosa quanto a descida.

― E você terá que matar alguém para conseguir salvar nosso irmão. Você acha que Ezequiel apoiaria isso? ― Silêncio. ― É, você sabe a resposta. Ele preferiria morrer do que ver você com sangue nas mãos.  ― Irina apertou com mais força o tecido da saia, que era obrigada a segurar para subir os degraus. ― Ouça, ao menos agora sabemos exatamente onde procurar sobre sonhos.

― Não creio que uma fada daria esse tipo de informação para bruxos sem pedir nada em troca. Você conhece as histórias sobre acordo com fadas.

― E você conhece as histórias sobre quem se envolve com magia sombria.

Irina finalmente alcançou o último dos degraus. Após Estevão subir atrás dela, a abertura se fechou da mesma forma que abrira, silenciosamente. O símbolo continuava lá, com o mesmo tom vermelho escurecido de antes.

― Duvido que elas pediriam para que você matasse alguém em troca. ― Ele segurou o braço da irmã, fazendo com que ela se voltasse em sua direção. ― Eu sei o quanto você pode ser teimosa quando enfia algo nessa sua cabeça, temos o mesmo gênio, mas por tudo que é mais sagrado... Não volte mais aqui. ― O pintor pressionou os dedos ainda mais contra o tecido da manga do vestido. Dessa vez, não por querer arrastá-la para algum lugar. Irina reconhecia o medo sem sequer precisar olhar para Estevão.

― Procuraremos as fadas.

 


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