Coffee Shop | One-Shot escrita por Andréia Santos


Capítulo 1
Capítulo único




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Bella estava em mais uma tarde onde o movimento estava fraco e ela passava a maior parte do tempo arrumando prateleiras do balcão e escrevendo em sua agenda seu cronograma da semana. Vez ou outra, um cliente pedia para encher sua xícara de café, mas o diálogo não se estendia mais que isso e logo a atenção dela voltava-se para um copo que precisava ser colocado em outro lugar.

De repente, o sininho da porta soou e um rapaz alto sentou-se em um dos bancos próximo a ela, jogando um buquê de flores para o lado e enfiando a cabeça entre as mãos.

— Aqui só servimos café. - Bella disse enquanto preparava um expresso.

— Não consumo álcool. - o rapaz respondeu olhando-a com dúvida - Eu nem vi o que era esse lugar, só entrei.

— Essas flores… -  ela recolheu o buquê com cuidado, mas ele a interrompeu.

— Pode jogar no lixo, por favor? - pediu irritado.

— Que desperdício. - ela comentou automaticamente - Ah, não quis…

— Tudo bem. Tudo isso foi um grande desperdício mesmo. Desperdício de tempo, paciência e dinheiro.

— Sua namorada te chutou? - ela comentou e ele deu um sorriso debochado - Faz assim: eu te dou esse expresso por conta da casa e coloco água para fazer um chá para te acalmar logo em seguida. Em troca, você me conta o que houve.

— Minha história é bem clichê.

— Clichê é bom. - ela insistiu arrastando a xícara para ele e ele a encarou com curiosidade - Sou Bella Swan.

— Edward Cullen. - ele respondeu - E tudo começou mais ou menos assim…

 

Éramos crianças de mais ou menos 12 anos quando nossas famílias se conheceram num jantar beneficente. Um monte de pessoas ricas tentando mostrar umas às outras que tinham consciência de classe, sabe? Meu pai era diferente, ele realmente se preocupava com os menos favorecidos e a única família que ele acreditava que fazia o mesmo era uma família do norte do Alasca dona de uma transportadora. Suas três filhas eram as pessoas mais bonitas que eu já vi na minha vida, mas Tanya parecia reluzir entre elas.

“Essas festas são um saco.” - ela disse para mim, bem próximo ao meu ouvido - “Você quer ver algo mais legal?”

“Meu pai pediu que eu ficasse por perto.” - respondi timidamente, mas ela me agarrou pelo braço e me puxou pelo meio da multidão - “Hei! Eu não–”

“Relaxa, Cullen. Vai ser legal.”

Passamos a noite toda pendurados nas cercas dos estábulos vendo os cavalos que estavam correndo pelo campo e tentando chamar atenção deles para montar. Quando ela conseguiu se aproximar o suficiente de um, ela subiu em seu lombo meio desengonçada e saiu em disparada pelo campo. Seus cabelos loiros soltos pareciam um véu luminoso e ela gritava alegre com a travessura.

Eu não sabia naquela época, mas eu estava decidido a ser a pessoa que controlaria os impulsos dela.

 

— Que coisa mais machista a se dizer. - Bella resmungou, servindo-o com chá.

— Foi o que ela me disse quando a gente começou a sair. - Edward respondeu, o olhar fixo no nada.

 

Nós costumávamos nos encontrar depois da aula, apenas como amigos. Ela contava com animação a história de como ela adorava deixar os rapazes apaixonados por ela e depois quebrar-lhes o coração. Minha reação era sempre a mesma - de repreensão - mas ela só olhava para mim e ria, dizendo que eu era igualzinho ao padrasto dela que tinha os pensamentos conservadores que a irritava.

“Falo isso porque eu me preocupo com você.” - insisti de forma até grosseira.

“Não vai me dizer que está apaixonado por mim também.” - ela riu e eu fiquei calado. Ela nunca tinha me confrontado dessa forma - “Você está?” - perguntou mais séria.

Aquilo era um beco sem saída, confessei meus sentimentos de forma apressada e desconexa e sai correndo com medo da resposta. Não queria ser mais um dos rejeitados de Tanya.

Ignorei quanto pude as tentativas dela de falar comigo por telefone e, quando ela enfim decidiu ligar para minha casa, não tive escolha senão responder. Ela falou tantas coisas que eu honestamente não me lembro, mas uma frase ficou marcada na minha mente como uma tatuagem e eu consigo dizer com todas as letras até hoje:

“Eu disse não para todos os outros porque estava esperando você me dizer que me queria como eu te quero.”

 

— Uau! - Bella admirou-se e também se serviu um chá, completamente imersa na narrativa - Então ela só queria você, mesmo com esse pensamento retrógrado de colocar a mulher na linha.

— Eu não pensava isso de verdade, eu só fui criado assim. - Edward defendeu-se.

 

… por isso, nosso namoro teve um começo fantástico.

A gente se conhecia tão bem que era impossível eu querer estar com outra pessoa senão ela. Ela me dizia que nós tínhamos um romance como os dos livros e essa fantasia visivelmente alimentava sua imaginação e seu ego. Não era preciso ser criativo com Tanya; quando ela queria, ela mesma criava situações incríveis e excitantes que me deixavam cada vez mais preso naquele sentimento. Quando ela completou 16 anos, nós jantamos na casa dela com a família e, quando eu pedi licença para ir ao banheiro, ela deu um jeito de me encontrar escondido e me encurralou contra a parede, me dando um beijo ardente e pedindo num tom sedutor que eu fingisse que ia embora para passar a noite com ela.

 

— Deixa eu adivinhar. Foi sua primeira vez. - Bella comentou interessada.

— Eu só tinha olhos para ela desde antes de saber que ter intimidades fazia parte de um relacionamento amoroso. - Edward respondeu da forma mais polida que conseguiu - Ah droga, preciso ir! - ele disse ao olhar no relógio.

— Mas… já? - Bella disse desapontada - A gente só fecha às 20h.

— Tenho um compromisso hoje. Quanto te devo? - ele perguntou batendo a mão nos bolsos.

— Por conta da casa. Pela história. - Bella sorriu de forma cordial.

— Obrigado, então. Por tudo, senhorita Swan. - ele disse e colocou algumas notas no potinho de gorjetas.

— Eu que agradeço… - ela disse cordialmente enquanto ele saia - um homem lindo desses sofrendo por amor. - disse a si mesma e pegou as flores do lixeiro, lavando-as e colocando-as num pote com água - Vocês ficarão melhor aqui.

Pontualmente às 20h, Bella saiu da cafeteria pela porta dos fundos carregando sacos de lixo enquanto ouvia música com seus fones de ouvido. A fachada já estava com as luzes desligadas e trancada com cadeado e corrente, mas ela ainda tinha essa tarefa antes de deixar o ambiente de fato. Qual não foi o susto quando, ao fechar a tampa do tambor de lixo, ela não viu nas sombras Edward encarando-a enquanto fazia sinal para que ela destampasse os ouvidos:

— Esqueceu alguma coisa? - ela perguntou ainda sentindo seu coração disparar.

— Acho que perdi uma caixinha dentro da loja.- ele disse - Acho que deixei com as flores.

— Você quer revirar nosso lixo? - ela perguntou divertida.

— É importante o que tem lá dentro. - ele insistiu já arregaçando as mangas.

— Não precisa. - ela entrou na frente dele, impedindo-o que enfiasse os braços no meio dos sacos - Eu pus as flores num jarro com água, estão dentro da loja. Porém, não posso deixar você entrar agora. Volte amanhã a partir das 7h.

— Promete que ninguém vai mexer nelas?

— Prometo. Sou a primeira a chegar todos os dias.

A breve história que Edward contou não saiu da cabeça de Bella a noite toda, principalmente quando ela chegou em sua casa e começou a se preparar para descansar. Revisando a narrativa em sua mente, ela lembrou-se de que no momento em que ele disse que a tal Tanya comparava os dois aos casais de livros, Bella automaticamente pensou em “O Morro dos Ventos Uivantes” e quão trágico era o fim daquilo.

Será que a continuação também traria algo como um “Edgar” que a família consideraria melhor?

— Que bobagem! Só tem gente rica nessa história! - ela ralhou consigo mesma e cobriu-se dos pés a cabeça na tentativa de pegar logo no sono.

[...]

Uma chuva surpreendente para aquela época do ano caiu com força assim que Bella desceu na estação próxima ao seu trabalho. Ela precisou correr se abrigando de toldo em toldo até enfim entrar na cafeteria e poder trocar suas roupas molhadas pelo uniforme. Como estava ligeiramente frio, as pessoas que procuravam um lugar seco para esperar a chuva passar acabavam consumindo alguma coisa e isso fez o movimento ser estranhamente grande mesmo com o temporal.

No horário do almoço, as mesas que ficavam do lado de fora foram posicionadas e o quadro-negro com as promoções do dia foi atualizado. Só naquele momento é que Bella lembrou-se de olhar no meio das flores se havia algo e não foi difícil perceber uma pequena caixa de veludo preta entre as folhas. Embora a curiosidade fosse grande, ela preferiu guardar o item em seu bolso e esperar que Edward aparecesse para buscá-lo.

— Senhorita Swan, boa tarde. Que chuva essa manhã, hein? - Edward a cumprimentou um pouco mais animado que no dia anterior - Encontrou o que eu procurava?

— Sim. Aqui está. - ela estendeu a caixinha para ele - E me chame de Bella, por favor.

— Bella, obrigado. - ele disse e abriu a caixa, deixando aquela nuvem que pairava sob sua cabeça voltar ao ver o conteúdo - Poderia me servir mais daquele chá de ontem?

— Claro. - Bella disse e pôs a água para esquentar - Se não for muito abuso…

— Quer ouvir o resto da história? - ele perguntou com um sorriso fraco no rosto.

— Só se não for incômodo. - ela disse, já inclinando-se para ouvir melhor.

Eu estava nervoso na nossa primeira vez. Não sei o porquê, mas eu estava. Eu sabia que Tanya também não tinha experiência, mas ela parecia tão segura de si que eu me questionei se tinha fundamento eu estar me sentindo daquela forma. Ela se aproximou de mim sem hesitar, só parando quando já estava tão perto que o calor de seu corpo me atingiu como uma onda quebrando na praia. Ela esperava que eu desse o próximo passo e eu não faço ideia de onde tirei forças para fazê-lo.

 

— Por favor continue! - Bella pediu engolindo em seco, suas mãos apertando um guardanapo com ansiedade.

— Você suspirou pesadamente. - Edward riu e ela corou - Não vou entrar em detalhes, então pode relaxar.

 

Desde aquele dia, eu sempre me esgueirava para o quarto de Tanya. Sua irmã Irina foi a primeira a descobrir que eu fazia isso e nos deu cobertura porque gostava da minha influência sobre a irmã. Nosso namoro foi para outro nível e eu estava ainda mais apaixonado por ela a cada dia que passava. Quando eu completei 18 anos, eu já queria que ela se casasse comigo, mas minha mãe sempre muito sensata disse que eu deveria ficar um pouco mais velho para dar um passo desses. 

Na mesma proporção que eu ia ficando mais e mais certo de que Tanya era a mulher para compartilhar uma vida, ela ia ficando mais entediada de nosso relacionamento, mas não me falava nada. Havia pequenos sinais que eu ignorava solenemente em nome de fazer dar certo, mas a cada novo encontro ela parecia mais cansada da mesmice. Eu tentei inovar como pude, até mesmo comprei um apartamento perto da casa dela para que a gente parasse de se esconder em nossos momentos íntimos. Eu acreditei que ela só estava atravessando uma fase, pois ela não falava em terminar e nisso já íamos para nosso quinto ano de namoro.

 

— Gostaria de ver o que tem na caixa? - Edward perguntou quando fez uma pausa para o chá.

— Por favor. - Bella disse animada e ficou boquiaberta ao ver o tamanho do diamante naquele anel - Por que eu acho que poderia pagar minha faculdade com isso?

— Eu exagerei um pouco. - Edward sorriu e guardou a caixinha no bolso.

— De forma alguma. Você a amava e pode comprar um anel desses.

É… eu a amava… - ele suspirou.

 

Semana passada eu decidi que não ia mais esperar. Eu estava com 21 anos, já era um adulto e podia decidir que rumos tomar com minha vida. Não é como se ao me casar eu tivesse que abrir mão da minha carreira, muito pelo contrário: ambos tínhamos recurso para iniciar uma vida a dois e concluir a faculdade nesse meio tempo.

Então eu fui até a melhor joalheria da cidade para comprar um anel de diamantes, passei numa banca de flores e escolhi o buquê mais bonito disponível e fui direto para a faculdade encontrar Tanya e pedir sua mão. Passei o caminho inteiro repetindo as palavras perfeitas, mas nada me prepararia para o que eu ia encontrar ao pisar no campus.

“Edward, o que faz aqui?!” - Tanya espantou-se, quase empurrando o rapaz que ela beijava vorazmente antes de me ver se aproximar.

“Vim surpreender, mas eu que acabei sendo surpreendido.” - disse com o máximo de ironia que consegui - “Acho que isso significa que não sou mais o suficiente para você.”

“Meu bem, você não é há um tempo. Eu tentei te dizer, mas você teimava em fingir que estava tudo bem.”

“Como consegue ser tão fria, Tanya?” - perguntei incrédulo.

“Acho que é a única forma de me fazer ser ouvida. Acabou Edward.” - ela disse e saiu dali, me deixando sozinho com minha vergonha e humilhação.

 

— Eu sinto muito. - Bella disse tocando-lhe a mão num impulso.

— Acho que parte dessa culpa é minha. Ela tem razão sobre eu “desassociar”. - Edward disse aceitando aquele afago - Você foi uma boa ouvinte.

— Faz parte do meu trabalho, eu acho. - Bella sorriu cordialmente e serviu mais um pouco de chá, agora com cookies - Infelizmente hoje não será por conta da casa.

— Tudo bem. - ele tentou sorrir e ela deu espaço para ele ficar sozinho com seus pensamentos.

[...]

Passou-se uma semana desde aquele inusitado encontro entre Edward e Bella. A narrativa dele ia perdendo os detalhes aos poucos, mas era impossível de ser esquecida por completo. Ela pegou-se vez ou outra enquanto viajava no trem até em casa imaginando-se no lugar daquela mulher que o traiu, mas com um final bem diferente: em sua fantasia, ele conseguia lhe fazer uma surpresa e pedir-lhe em casamento, fazendo todos ao redor se emocionarem junto com ela.

[...]

Depois de mais ou menos dois meses Edward voltou à cafeteria:

— Edward! - Bella admirou-se quando ele entrou, mas logo ficou pálida ao ver que estava acompanhado - Digo, senhor Cullen, seja bem-vindo.

— Obrigado Bella. Poderia nos trazer o cardápio? Vamos sentar lá fora. - ele pediu educadamente e saiu com sua companhia.

— Claro, vou pedir para o Seth atendê-los. - ela respondeu automaticamente e correu para trás do balcão.

Não era possível ouvir o que Edward conversava de onde ela estava, mas ela podia ver que ele estava se divertindo muito na companhia daquela mulher tão linda quanto dele. Pelos longos cabelos dourados, ela imaginou que ele havia se reconciliado com sua namorada, possivelmente até estariam noivos agora e isso a fez sentir um ciúme que ela não compreendia.

— Deixe que eu leve o chá para eles, Seth. - ela adiantou-se levando a bandeja em suas mãos.

— … então vamos fazer a festa na semana que vem. Obrigada querida. - a mulher disse quando Bella deixou o chá em cima da mesa para os dois - Nossa! É o mesmo chá que você sempre faz na nossa casa, Ed!

— Sim, aprendi vendo a Bella fazer. - ele respondeu sorrindo para Bella.

— Obrigada por isso. Me ajuda a dormir como uma pedra. - a mulher sorriu, mas Bella apenas pediu licença e saiu.

— Eu me convenci mesmo de que ia viver uma linda história de amor com esse rapaz que eu mal conheço. - Bella disse avulso e voltou-se de corpo e alma para seu trabalho, evitando até mesmo olhar quando eles pagaram a  conta e saíram juntos.

Com o passar do tempo, parecia que o trabalho na cafeteria nunca tinha trazido surpresas…

No final das férias de verão, Bella reduziu sua carga de trabalho e dedicou-se a seus estudos com mais afinco. Como ficava apenas com o horário da tarde até fechar, ela aproveitava o baixo movimento para abrir sua agenda e um livro ou outro enquanto servia os clientes.

— Seja bem-vindo, em que posso ajudá-lo hoje? - Bella cumprimentou o cliente sem olhar para ele.

— Poderia me servir aquele chá. - Edward disse abaixando o livro dela.

— Ah, desculpe o mal jeito. - ela escondeu sua agenda embaixo da bancada e lavou as mãos para preparar o pedido dele.

— Tudo bem. Faz tempo que eu não apareço. - ele comentou olhando ao redor - Na verdade, eu venho sempre, mas no horário do café da manhã.

— Você vem com frequência? - ela admirou-se.

— Quase todas as manhãs. Eu tomo café aqui porque é mais perto de onde eu faço estágio.

— Não quero ser rude, mas tem um lugar mais chique no final da rua que é mais o seu perfil financeiro.

— Aqui o atendimento é mais… humano. - ele sorriu - Tenho mais histórias para contar. Histórias mais otimistas.

— Ah é? - Bella disse meio enciumada, lembrando da moça linda que o acompanhava na última vez que eles se viram - Por favor, conte-me.

 

O primeiro mês depois do término foi uma tristeza sem fim. Eu estava impregnado da lembrança de Tanya, havia roupas e itens dela no meu apartamento e minha playlist não ajudava também. Me tornei, então, uma pessoa reclusa, saindo apenas para trabalhar e preferindo pedir refeições prontas a ter que fazer o mínimo de esforço para preparar meu alimento. Minha irmã foi a primeira a saber da forma como eu estava e praticamente me arrastou de volta para casa dos meus pais.

Conversei com minha mãe sobre o que houve, ela sempre teve os melhores conselhos. Ela me disse que era normal eu estar tão mal, mas eu não podia ficar me torturando por algo que não estava no meu controle. Nas entrelinhas, ela pediu para eu marcar uma consulta com a terapeuta e eu fiz só para deixá-la feliz, no início. Acontece que já nas primeiras sessões, quando eu repeti a mesma história que eu te contei, eu comecei a sentir que eu estava pronto para uma mudança. Não que eu já tenha superado completamente meus sentimentos por Tanya, mas já consigo lidar muito melhor com isso.

 

— Não queria ser aquele cara chato que vinha sempre aqui reclamar da vida, mas senti que devia algo a você por seu tempo. Com a desculpa perfeita do seu chá maravilhoso, eu vim com minha irmã naquele dia, mas você não pode nos atender e depois… bem, as aulas da faculdade recomeçaram. - Edward disse.

— Aquela moça era sua irmã?! - Bella animou-se visivelmente.

— Sim. O nome dela é Rosalie. Ela disse que queria conhecer o lugar. Ela sim prefere o “lugar chique” do fim da rua, infelizmente.

— Tudo bem. Não me ofende.

— Então… eu contei muito sobre mim, acho que deveria ouvir sobre você. - Edward sugeriu olhando de relance para o relógio que marcava quase 19h - Eu posso te acompanhar até a estação quando você sair.

— Certo, mas terá que esperar lá fora. - ela pediu animada.

E Bella nunca se organizou tão rápido para sair da cafeteria.

 

Não há grandes coisas sobre minha vida, tampouco romances tórridos como o que você viveu. Eu nasci numa cidadezinha chamada Forks e depois fui morar no Arizona quando meus pais se divorciaram. Minha relação com minha mãe é tão próxima quanto você com a sua, mas com meu pai é algo mais “ele é meu pai, eu sou a filha dele”. Não há brigas, felizmente, mas estamos longe de marcar jantares de Ação de Graças com todos da família juntos. Seth, o rapaz que serve as mesas, é meu meio-irmão porque a mãe dele casou-se com meu pai há alguns anos. Ele sempre foi um amor comigo, mas no início era porque um amigo dele era apaixonado por mim e ele queria ver a gente junto (o que não aconteceu porque não tínhamos nada a ver).

 

— Você ainda tem contato com esse rapaz? - Edward perguntou interessado.

— Ele faz parte de uma comunidade indígena lá na minha cidade natal, então ele não buscou grandes coisas após terminar a escola. Ele prefere cuidar dos seus e manter vivas as tradições. Eu o respeito por isso.

 

Passei meu ensino médio na cidade de Forks por conta do trabalho do marido da minha mãe. Ele era um cara incrível, mas como jogava baseball profissionalmente, eu sentia que estava impedindo-a de viver as aventuras românticas que ela sempre sonhou. Não foi uma decisão fácil me distanciar de quem sempre me criou, mas foi necessário para que ela pudesse se dedicar a seu relacionamento.

Morar com meu pai mostrou-se até uma coisa boa. Eu tinha meu quarto (e ainda tenho mesmo depois do casamento dele, pois meus meio-irmãos preferem ficar na casa que era de seu falecido pai na Reserva) e tinha a liberdade de fazer o que eu quisesse, desde que com bom senso. Acontece que eu nunca fui muito rebelde, então só estudava e saia com meus amigos da escola de vez em nunca. 

 

Escolher estudar na Universidade de Washington foi natural por conta disso: eu estava perto de casa, não tinha grandes ambições além de me manter por conta própria e não era tão caro bancar um aluguel com meu pai pagando a faculdade e Seth dividindo as contas comigo. Períodos como este de estudos intensivos a renda diminui um pouco, mas minha mãe me ajuda com as despesas de alimentação e a passagem de trem também ajuda na economia. - Bella concluiu.

— É só isso? - Edward perguntou confuso - Essa é a história de Bella Swan?

— Não tenho uma vida tão interessante. - ela comentou enquanto levantava-se para embarcar no trem - Obrigada pela companhia.

— Disponha. - ele disse e a abraçou naturalmente - Boa noite. Se cuida. - disse, envergonhado.

Bella não soube o que responder, ela apenas esperou as pessoas entrarem e deu uma última olhada para Edward. Ao ouvir o sinal de que o trem estava prestes a partir, ela puxou o rapaz pela camisa e deu-lhe um beijo rápido, mas que ela sentiu que foi correspondido.

Eles separaram-se ofegantes e por pouco Edward não seguiu clandestinamente aquela viagem.

 

[...]

— Eu decidi levar isso como se fosse um sonho. - Bella comentou com Seth, uma semana depois do ocorrido e de não ter recebido notícias de Edward.

— Bom para você. - ele comentou brincalhão, dando um tapinha amigável nas costas dela - Ele tem coisas para superar, como você mesma disse, e não seria bom você entrar nesse lugar que ela deixou vazio agora. Falo por experiência própria.

— Olha eu sendo uma insensível contigo. - Bella olhou para o irmão com pena.

— Tudo bem, Renesmee é passado. - ele sorriu e abraçou Bella para passar tranquilidade - Vamos focar em pessoas sem problemas com ex-namorados. Isso é um pacto.

— Não vai envolver sangue, não é? - Bella perguntou com cara de nojo, mas a conversa foi interrompida pelo som da sineta da porta - Vamos trabalhar!

Cliente após cliente, Bella ia levando seu trabalho com bom humor e tentando ocupar sua mente com outras coisas. Lá no fundo, toda vez que a porta era aberta, ela esperava ver Edward entrando e os dois enfim podendo conversar sobre o que houve… mas isso nunca acontecia.

— Se eu soubesse ao menos que faculdade Edward frequenta… - Bella comentou avulso, enquanto esperava o trem e revisava sua agenda.

— Ela fica um pouco longe. - ele respondeu assustando-a - Desculpe ter sumido, estava tudo uma correria. Acho que temos uma pendência.

— Olha, não precisa dizer nada. Você estava confuso. - ela adiantou-se tentando passar desinteresse.

— Me deixa falar. - ele pediu segurando as mãos dela - Mas quero fazer isso direito. Então vamos até um lugar mais confortável.

Bella pensou por um tempo e olhou em seu relógio, mas Edward garantiu que pagaria um táxi para deixá-la em casa caso ficasse muito tarde. Quando os dois saíram da estação, ela espantou-se com o carro luxuoso na porta esperando por eles e seu espanto foi maior ainda quando viu que uma moça a aguardava lá dentro para ajudá-la a se arrumar para o local onde eles iriam.

— Eu nunca fiquei tão elegante assim. - ela disse sem jeito - Isso é demais, não posso aceitar.

— Não quero que se sinta mal por não estar vestida como as pessoas nesse restaurante. - Edward disse e deu sinal para que o motorista parasse - É hora de ver como as pessoas ricas se comportam.

— Você disse que queria ir para um lugar mais confortável, mas eu já não me sinto assim usando essa “fantasia”. - Bella resmungou desconfiada.

— Por favor, pense nisso como quando você coloca seu uniforme. A roupa para o lugar.

— Ok, então vamos direto ao ponto. - ela aceitou e eles seguiram até a mesa que lhes estava reservada.

— Na última vez que nos vimos eu te abracei e a gente se beijou. Não foi certo o que fiz, eu me aproveitei de você para suprir uma carência.

— Podia dizer que estava arrependido lá na estação mesmo. - ela resmungou.

— Não estou! - ele disse depressa e segurou as mãos dela entre as suas - Em pouco tempo, poucas conversas, eu senti uma confiança em você que nem com minha ex eu sentia. Eu fui completamente vulnerável com uma estranha, então quando você me contou o resumo da sua vida, eu senti pela primeira vez que havia uma troca.

— O que quer dizer? - ela perguntou confusa.

— Eu quero te conhecer melhor, mas devagar. Não quero atropelar as coisas para que nenhum de nós se machuque.

— Edward, somos de mundos diferentes…

— Isso não me interessa. Você é uma mulher independente que luta pelo controle de sua vida. Se for para dar certo entre nós, eu teria muito orgulho de te ter ao meu lado no ambiente que for.

— Você pensa a longo prazo demais. - Bella sorriu abaixando a cabeça - Vou parecer uma maluca se eu disser que eu imaginei várias vezes você dizendo que queria ficar comigo? - ela confessou, envergonhada.

— Diria que somos dois malucos. - ele disse e beijou a mão dela - Pronta para começar nosso primeiro encontro?

 

[...]

As férias de verão chegaram novamente como num passe de mágica. Edward chegou bem cedo no prédio onde Bella e Seth moravam e desceu em poucos minutos com ela e as malas para a viagem que eles fariam para a Mansão Cullen. Embora já tenha conhecido a família por chamada de vídeo, Bella ainda tinha receio de que eles não gostasse dela ou a achasse uma aproveitadora; coisa que Edward negava veementemente que fosse acontecer pelas coisas maravilhosas que ele falava sobre ela.

Numa área imensa cercada de verde, uma imponente propriedade se destacava com suas enormes janelas de vidro e um jardim com as mais belas flores que Bella já viu. Ela fez questão de ir com suas próprias roupas nessa viagem, mas aos poucos sentia que devia ter aceitado pelo menos o vestido que Edward quis lhe dar de aniversário.

— Olá sejam bem-vindos! - a mãe de Edward aproximou-se de braços bem abertos para recebê-los.

— Bella, esta é Esmee, minha mãe. Formalmente apresentando. - Edward disse com orgulho.

— Sinta-se em casa, querida. Só ouvimos elogios sobre você. - Esmee disse dando-lhe um abraço caloroso.

— Obrigada senhora Cullen. - Bella disse timidamente.

— Vem conhecer o Carlisle, a Rose e o Emmet. - ela conduziu o casal enquanto pedia para que os funcionários da casa levassem as malas para dentro.

Foram dias muito agradáveis que Bella viveu naquela casa. Rosalie, embora aparentemente a julgasse, com o passar do tempo notou que não havia máscaras ali e baixou sua guarda. Apenas após uns cinco dias que haviam chegado é que Edward e Bella puderam ter um momento a sós para se amarem e aproveitarem a companhia um do outro jogando xadrez ou passeando de lancha no lago próximo à propriedade.

Aquela vida, embora fora da realidade que Bella experienciava, era muito mais possível do que ela imaginou um dia. Estar ao lado de Edward e de seus familiares que a tratavam tão bem como se fosse já parte da família tornava tudo mais palpável. Às vezes ela se perguntava se Tanya ainda era uma presença forte nos pensamentos de seu namorado, mas ninguém tocava no nome dela e não parecia ser apenas por educação; era como se ela nunca tivesse existido e a história que ouviu fosse apenas um conto.

Dez dias depois, Bella arrumou suas malas para retornar para sua rotina. A cafeteria estava bastante movimentada e Seth ligou muito receoso de estar incomodando para pedir que ela fosse dar uma força.

— Tem mesmo que ir embora? - Edward perguntou segurando-a com firmeza.

— Preciso trabalhar, senão perco meu emprego. - ela disse querendo que aquilo não fosse verdade - A gente se vê quando você voltar para a cidade.

— Prometo que vou fazer todas as refeições lá para que você seja promovida. - Edward disse divertido - Vem, vou te deixar na estação.

O caminho inteiro da Mansão Cullen até a estação de trem foi cheio de carinhos e suspiros. A paisagem maravilhosa da floresta e montanhas da região faziam Bella lembrar-se de Forks e de como uma simples decisão de estudar perto da casa de seu pai acabou culminando nesse encontro com Edward, de certa forma. A sintonia entre eles deu-se de uma forma surpreendentemente fácil, pois ambos estavam desde o início dispostos a abrir-se um com o outro para viver um romance sem segredos desnecessários.

— Eu me sinto muito feliz com você. - Edward disse como se lesse a mente dela.

— Eu também me sinto muito feliz com você. - ela respondeu, beijando-o com carinho - Temos uns 15 minutos até meu trem chegar, o que gostaria de fazer?

— Ouvir novamente sua impressão sobre minha família.

— Eles são uns amores! Esmee é a mulher mais glamurosa que eu já conheci, sem falar que tem um coração imenso. Carlisle é um doce, completamente devoto à sua família. Rosalie ficou muito na dela, mas eu entendi que ela só queria te proteger de se machucar de novo e o noivo dela, Emmet, é um amor de pessoa. Aprendi muito sobre carros com ele. - ela terminou sorrindo.

— Assim que você decidir ficar mais tempo com a gente, só me dizer que pegamos a estrada de volta para minha casa. - Edward relembrou, levantando as malas dela quando viu que o trem se aproximava.

— Pode deixar que eu não vejo a hora de isso acontecer. - Bella disse e, assim como na primeira vez, puxou Edward pela camisa para um beijo de despedida na porta do trem.


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Notas finais do capítulo

@annap, espero que tenha gostado do meu presente. Tentei tantas vezes até conseguir fazer algo com final feliz com o combo que escolhi... a senhora me deu uma música complicada rsrs

A quem mais veio ler, obrigada por chegar até aqui ♥



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