Com amor, Julieta! escrita por Ascrônicasdeamanda


Capítulo 1
Querido, Romeu...


Notas iniciais do capítulo

Oi!

Essa é a primeira obra que eu escrevo. Espero que todos vocês gostem. É com ela que estou perdendo o medo de mostrar as coisas que eu escrevo.

Boa leitura ♥



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Romeu

Uma vez me disseram que quando estamos perdidos, basta seguir o caminho do vento até o lugar em que o último fio de luz se apaga, dizem que é um caminho sem volta. Não sei bem em que parte desse escuro eu me encontro, eu realmente não tenho noção de que caminho é esse... eu só me lembro de que foi uma escolha minha. 

Uma série de erros que me levaram para um caminho que me faz questionar que tipos de atos, que tipos de escolhas e que tipo de palavras me lançaram com tanta força nesse vazio. Eu estou sozinho... Me encontrei sozinho aqui... Estar só é realmente a minha maior questão nesse momento... Eu me lembro de não começar essa trilha sozinho, comecei de mãos dadas com ela... Agora, o que me sobrou é apenas a mínima sensação de presença, do cheiro, do toque dela e do resquício de lembranças que eu mesmo escolhi deixar para trás. Me dei por vencido e concluí que não seria seguro continuar aqui parado, então comecei a andar.

Eu estava em uma estrada. O chão não era firme de se pisar, a cada passo eu sentia que o asfalto se esfarelava debaixo dos meus pés. Nas margens da estrada era possível enxergar um pouco de natureza. Eu sabia que estávamos no inverno por causa das folhas completamente velhas que estavam em todo o chão. As árvores estavam a um passo de cair, as flores em decomposição deixavam a sensação de que algum dia aquele lugar já tinha sido habitado por alguém, que teria sido o palco de muitas histórias e o fim de muitas outras.

 Continuei andando. Eu não sou capaz de descrever o que eu via na minha frente. Apesar de conseguir enxergar os lados da estrada, o que se mostrava na minha frente era apenas o escuro. Era de lá que vinha a sensação de que eu teria que seguir em frente. Sem explicações, apenas seguir. Depois de alguns momentos andando, comecei a sentir que alguém me acompanhava. Meu ar se suspendeu, eu me lembrava de ter começado sozinho, mas não tinha mais certeza das coisas que eu mesmo pensava. Até que não seria ruim ter uma companhia…

Comecei a escutar o barulho de passos vindo atrás de mim. Olhei para trás, não vi ninguém… Apressei o passo com passadas mais longas e mais rápidas. Me senti inútil quando me dei conta de que aquilo não estava adiantando. Eu estava praticamente correndo, e ele também… Em pouco tempo, senti meu peito apertar. Eu sentia um cansaço absurdo e não entendia como eu tinha avançado tão pouco depois de correr tanto. Você já teve aquele sonho, que eu acho desesperador, de estar tentando correr para fugir de alguma coisa, mas seu corpo não sai do lugar? E você mesmo se vê ali em câmera lenta…

Senti alguém se aproximar… Silêncio…

Os passos se aproximavam cada vez mais e eu sentia aquela presença a poucos metros de mim. Meu corpo permaneceu imóvel, eu sentia que não tinha mais controle nenhum sobre ele. Era como se algo me impedisse de piscar para não perder um segundo do que estava prestes a acontecer. Foi então que eu senti a presença dele ao meu lado. A única coisa que eu posso dizer que lembro com toda a certeza, foi a sensação fria de quando ele se colocou na minha frente, ofereceu sua mão e, com um sorriso gélido, me cumprimentou.

Era já um senhor de idade avançada, porém seus traços eram muito bem conservados. Ele tinha olhos azuis. Um azul tão profundo que seria capaz de afogar qualquer desavisado que tentasse uma espiada sem compromisso. Seu olhar era potente, eu sentia que ele podia enxergar qualquer segredo sem usar nenhuma palavra. Seus cabelos eram grisalhos, muito bem penteados, lisos e na altura do pescoço. Sua pele era branca, aveludada, não tinha os sinais que o tempo costuma deixar. Ele vestia um terno preto que realçava uma postura séria e intimidadora, ao mesmo tempo com muita elegância, com uma gravata do mesmo tom dos seus olhos que realçava ainda mais a força do seu olhar. Ele me olhava radiante. Em silêncio, seus olhos me diziam coisas que sua boca não precisava de esforço para compartilhar - Aquele olhar conhecia meus pecados e guardava com eles o segredo da minha missão aqui.

Ele se aproximou de mim, sem desfazer sua expressão assustadoramente educada. E finalmente se apresentou.

— Prazer, Romeu. Eu me chamo L. Sua voz era grave, calma e aveludada, sem nenhuma agressividade. Ele estende a mão para mim. Dessa vez não para me cumprimentar, mas para enxugar todo o suor que escorria pelo meu rosto e eu não tinha notado. Ele tira um lenço, que parecia ser de linho branco, do bolso e, com delicadeza, desliza ele pela pele do meu rosto.  — Fiquei preocupado com o seu atraso. Não tinha certeza se conseguiria chegar sozinho a tempo e resolvi apenas garantir que a sua caminhada já tinha começado.

Eu não conseguia dizer nada, simplesmente sentia que a minha boca estava paralisada. Meus olhos, em pânico, tentavam expressar aquilo que eu não conseguia dizer e entender o que era aquele lugar. Seu rosto se aproximou do meu, me causando um calafrio que me atingiu em todo o corpo. Seus dedos acariciavam a minha pele, eu me sentia completamente desnorteado. Ele aproximou seus lábios dos meus ouvidos e sussurrou:

— Você vai andar pela trilha e seguir o seu caminho normalmente, até o trecho em que você sinta que cada gota de sentido da sua existência seja completamente evaporada. Quando chegar lá, toda sua perda será devolvida a você com os ventos. Chegando lá, feche seus olhos e você irá encontrar a passagem para me encontrar novamente fora daqui. E se eu fosse você, começaria a rezar implorando a ajuda dela.

Ele ri brevemente, se afasta de mim e começa a andar de volta na estrada, pelo mesmo caminho que veio. Não sei exatamente quanto tempo se passou… O que eu sei é que a única forma de sair daqui é fechando os meus olhos e começando a pensar nela… Mesmo sabendo de tudo que eu fiz com ela, tudo que eu tirei dela… Para ter o direito de pensar nela, eu preciso abdicar tudo que é meu para reparar tudo que eu fiz... Às vezes, pagar pelas consequências dos nossos atos fere o ego que construímos com o nosso orgulho, mas eu realmente precisava trazer ela de volta, para viver o meu sonho... o nosso sonho...  e dar continuidade ao nosso caminho.

Então, eu comecei a andar de volta. O caminho que eu decidi seguir agora, não sei bem como começou, mas o final dele desperta em mim uma necessidade imensa de desfazer os nós da minha garganta, desconstruir o meu ego e sacrificar o meu Eu só para ter novamente a oportunidade de te escutar de novo... Aqui estou eu, desafiando todos os enigmas do meu destino. Apesar dos apesares de todos os erros que cometi, de todas as mágoas que te lancei, eu tenho plena consciência de que eu realmente não mereço uma gota do seu perdão, mas sem você aqui... eu estou completamente perdido no escuro. Eu estou aqui por você, se eu pedir, você me enviará um anjo?

Nesse momento, eu me dei conta do lugar onde eu estou. Fiz uma pequena pausa na minha caminhada por ter me lembrado de algumas coisas daquela noite. Eu reconheço os meus pecados e todas as promessas que te fiz e tudo que eu jurei. Reconheço também o erro de ter puxado você para ir no meu lugar... Aquela noite era, definitivamente, a nossa noite. Você estava tão radiante. Eu me lembro do dia que eu te pedi em casamento. O brilho dos seus olhos cativou cada parte do meu corpo, eu vibrava com a possibilidade de passar a eternidade ao lado de alguém que seria capaz de me envolver com tanto amor, tanto carinho e paixão. Era tudo perfeito demais, perfeito demais... Talvez esse fosse o real problema…

O amor é um caminho que anda paralelo ao medo... Tive medo de que o que eu sentia por você não fosse amor, fosse apenas mais um sentimento de posse que terminaria em um de nós dois descartados e lançados ao esquecimento, como aquelas cartas de amor dos seus pais que sua mãe faz questão de esconder com desgosto em um envelope velho atrás do guarda-roupa. Também não tive a certeza se era com você que eu gostaria de compartilhar os meus anos restantes, o que me garantiria que seria com você que eu encontraria aquilo que eu tanto sonhava? Eu estava entre a cruz e a espada, entre duas paredes que me sufocavam sem o mínimo remorso... acabei descontando tudo isso em você naquela noite. 

Eu vi você se dedicando dias, noites e longas madrugadas preparando o nosso dia. A emoção de escolher o seu vestido (que eu acabei espiando sem querer, eu sei que você acreditava naquela história de que a noiva teria azar se o noivo visse o vestido antes da hora), o seu desespero com a escolha de cardápios, o medo das flores escolhidas não sobreviverem até o casamento e, o mais cômico, que só agora entendo a sua angústia, o questionamento da sua família que desconfiava se eu realmente seria seu amor ideal, o seu amor perfeito, o amor da sua vida... Hoje eu percebo que eles não estavam completamente errados. O tempo de planejamento do nosso grande momento estava marcado, não tinha volta, aquele era o nosso dia. É incrível como o tempo passa rápido quando estamos com a mente em lugares distantes. Nosso casamento seria em um terraço, no alto do prédio que você me conheceu... não queria que aquele lugar se tornasse um martírio para você, mas naquele momento, eu não via outra escolha...

Naquela noite, tudo estava perfeito como deveria ser, já que tudo foi obra das suas maravilhosas mãos. Você era absolutamente maravilhosa em tudo que tocava, em tudo que fazia, em tudo que pensava... Eu agora tento imaginar como seria a nossa família se tudo tivesse seguido os sonhos que você planejou... Você... Apenas você... Foi ali que eu comecei a desistir do nosso laço.

Ver você andando com o seu vestido, seu buquê e os seus sonhos na minha direção, me fez sentir um preenchimento que eu nunca tinha experimentado antes. Meu corpo ardia pensando em toda a vida que teríamos juntos, meus olhos irradiavam o meu completo labirinto de sentimentos daquele momento que te arrastava para dentro dele. Eu deveria ter mantido meu controle, mas acabei arrastando você para o meu precipício. E foi assim que paramos aqui... Na verdade... Foi assim que EU parei aqui... Você confiou a sua vida nas minhas mãos a partir do momento que seria eu quem teria que realizar a nossa união através da troca de alianças. Você confiou o seu destino ao meu, você confiou o seu destino a mim e eu cometi a pior das traições: olhei para o abismo e te levei junto comigo. Pelo que eu me lembro daquela noite, te agarrei pelas mãos e juntos caímos do alto daquele prédio. Me lembro também de sentir desespero, não pela queda, mas por toda a confusão que se instalou em mim naquele momento especial. Você não tem ideia de como eu me arrependo... eu não devia ter te arrastado comigo, eu deveria ter ido sozinho…

Por um instante, parei de pensar em você… Enquanto eu caminhava, percebi que eu tinha encontrado alguma coisa nos bolsos por causa do desespero de tentar aquecer as minhas mãos. Era um envelope… Branco, com um selo dourado encerado e carimbado com o símbolo da união das nossas famílias. Na parte de trás, uma mensagem. Instantaneamente reconheci aquele papel, era o nosso convite… o meu convite. Eu lembro da sua empolgação mostrando para a sua família o primeiro convite que deu certo, depois de tantos tentando fazer sozinha. Todos amaram. Você me deu de presente escondido, para que ninguém ficasse com ciúmes. Voltei os olhos para a mensagem escrita à mão. 

“Romeu, eu desejo, com todas as forças do que eu sinto por você, que o nosso amor seja eterno enquanto dure. Eu te amei, eu te amo e eu sempre te amarei. Com amor, Julieta!”

Respirei fundo. Descolei o selo que lacrava o envelope. Dentro dele tinha uma folha do caderno que você usava como diário. Sempre achei engraçado você usar um caderno da Hello Kitty pra isso… Sinto falta de você se escondendo de mim pela casa só para ter a oportunidade de escrever em paz… Abri a folha. Era uma carta. Sentei no chão da minha estrada, com o coração na mão, e comecei a ler as palavras que você deixou para mim…

“Querido, Romeu…”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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