PDV Bella

Após minha decisão de não desfilar mais e seguir meu sonho de ser designer de modas, comecei a elaborar na minha mente o plano para romper o contrato. Precisa ser algo memorável. Pensei em algumas coisas e pedi ajuda da minha nova amiga, dona Jenine, para pôr em prática. Se tudo der certo, realmente será inesquecível!

No sábado, já amanheci tomando um café da manhã de verdade, com direito a suco de laranja, pão com manteiga e brownie de chocolate, que não estava tão delicioso quanto o que o Edward fazia para mim, mas gostoso mesmo assim. Comi sem culpa e sem remorso, necessitava de muita energia para desempenhar todas as tarefas de hoje.

Me sentia bastante ansiosa, mal esperava para ver a cara do Tyler quando eu o informasse da quebra do nosso contrato. Após esse “término”, não quero vê-lo nunca mais! Cheguei cedo à sede da La Victoire, havia diversos trabalhadores montando o cenário, que continha uma pista de dança, um local para o DJ, painéis decorativos, e claro, a passarela. Em toda a sua extensão, havia várias cadeiras dispostas em forma de U, como se a abraçassem - aquele era o espaço reservado aos convidados VIP. Jenine estava a todo vapor, andando para todos os lados, organizando os detalhes juntamente com o estilista. Quando me viu, sorriu e me chamou, fomos juntas até o DJ que preparava o set.

 ― Emmett, querido! ― A mulher deu um beijo em cada bochecha do rapaz, que a abraçou e rodopiou. Seus braços eram tão musculosos que temi partirem a dona Jenine ao meio.

― Tia Nine! Já tá quase tudo ajeitado ― soltou a dona Jenine e apontou para seu equipamento. 

― E aquela outra coisa que te pedi… Tudo certo? ― A mulher pronunciou num tom de voz mais baixo, apenas para nós dois ouvirmos.

― Sim, tudo programado. Quando você me der o sinal, eu solto o som, DJ ― respondeu com uma risada. ― E você conseguiu o número pra mim? ― Perguntou esperançoso.

― O que é que eu não consigo pra você, meu sobrinho querido? ― disse e entregou um pedaço de papel ao rapaz. ― Há tempos ele tem uma queda pela Rosalie, mas a vergonha o impede de chamá-la pra sair pessoalmente, vê se pode?! ― A mulher explicou para mim, e balancei a cabeça compreendendo, enquanto Emmett parecia ter ganhado um presente de natal. Rosalie também era uma modelo da Nine Models, uma das poucas que realmente conversava comigo, sem segundas intenções. ― E você, Bella? Preparada? 

As borboletas dançavam no meu estômago, a ansiedade crescendo cada vez mais.

― Sim, estou pronta.

As horas passaram voando, funcionários atravessavam de um lado para o outro carregando coisas, e quando dei por mim, o evento já iria começar. Observei as peças que usaria essa noite, e separei a especial dos olhos curiosos, principalmente do meu agente. Fui até a mesa onde tem um espelho com várias lâmpadas ao redor e juntei dois vasos de flores, de forma a acomodar meu celular, escondendo-o para que ninguém pudesse encontrar. Mais tarde, colocarei meu aparelho aqui filmando para tentar flagrar o Tyler em alguma das suas condutas humilhantes.

Luzes coloridas, fumaça, convidados especiais e imprensa… Tudo organizado e em seu devido lugar. Hora do show! Após a apresentação do host, a música aumentou e as modelos entraram, uma de cada vez, exatamente como ensaiamos. Quando a última saiu da passarela, a iluminação escureceu e fiquei atrás da grande cortina branca. Um canhão de luz instalado atrás de mim se acendeu, e fiz algumas poses sensuais antes dela se abrir, revelando-me. Caminhei confiante, olhando num ponto fixo no outro lado do salão, sentindo-me totalmente poderosa e empoderada. Retornei ao backstage e coloquei outra lingerie, para logo desfilar na passarela novamente. Um nervosismo então irrompeu, imaginando o que havia planejado para mais tarde. Ninguém sabia, apenas dona Jenine e seu sobrinho, o DJ.

Ao sair novamente, corri até meu camarim para vestir a peça especial. Coloquei o baby doll branco, junto com as asas de anjos que se revelavam ao abrir os braços. Posicionei meu celular também entre os vasos de flores em cima da mesa, meio camuflado, e já apertei para começar a gravar, prevendo que Tyler viria aqui me encher de desaforos. Não sabia se teria tempo suficiente após o desfile, então preferi fazer agora e deixar tudo pronto.

Chegou o momento. Borboletas dançavam no meu estômago. Acho que nunca fiquei tão nervosa antes de subir na passarela, mas essa situação era diferente. Ouvi a melodia da música escolhida, a iluminação desapareceu e luzes coloridas oscilavam por todos os lados. Uma fumaça especial surgiu, e na segunda estrofe da canção, um canhão de luz focou em mim. Não pude evitar, e coloquei um sorrisinho sarcástico em meu rosto, a expectativa crescente para o refrão. Inspirei o ar com força, me preparando, e na batida principal, quando o cantor diz “Pain”, eu abri meus braços, revelando as asas de anjo. A plateia aplaudiu, animada, e desfilei calmamente pelo caminho, até parar no final e executar o combinado com dona Jenine. Dei meu melhor sorriso, arrancando suspiros de admiração e surpresa, e mais palmas seguiram. Corri meus olhos pela primeira fileira dos VIP buscando por meu agente, porém a luz do canhão apontada para mim dificultava um pouco a visão. Meu coração falhou um compasso ao identificar um homem de cabelos cor de bronze, essa foi a única característica que consegui enxergar brevemente, mas com certeza não seria ele, não é? Continuei a procurar por Tyler pelo lado esquerdo, até encontrá-lo me encarando com uma expressão gélida, e para provocá-lo ainda mais, dei uma piscadinha. Sua fisionomia alterou drasticamente, ele se levantou e saiu rumo aos camarins.

Quando o desfile finalmente terminou e agradecemos todos reunidos em cima da passarela, o DJ começou a tocar uma música animada, chamando os convidados para a pista de dança. Respirei fundo, sabia que não seria fácil a conversa com meu agente, mas era extremamente necessária. Abri a porta do meu camarim, e como previsto, Tyler já caminhava de um lado para o outro lá dentro. Assim que me viu, seu semblante se iluminou com ódio puro, e ele veio em minha direção rapidamente.

― VOCÊ PERDEU A NOÇÃO?! ― gritou as palavras, fechando a porta com um estrondo, e virando para mim novamente. ― Todo mundo percebeu que você estava me provocando ― Ainda falou com o tom de voz alterado, mas não gritava mais.

― Só você percebeu.

― Ah, então você afirma que me provocou? 

― Foi apenas para provar um ponto de vista ― Inspirei o ar, procurando coragem, e continuei. ― Eu quero rescindir nosso contrato.

Tyler parou de perambular pela sala e me encarou, antes de soltar uma gargalhada, e aquele som gelou minha espinha.

― Querida, você está presa a mim ― pronunciou e retirou o contrato do bolso da calça. Desde minha fuga para Vila Aurora, carregava-o sempre com ele. ― Sabe quanto você terá que me indenizar por romper o acordo?

― Não terei que pagar nada ― frisei as palavras.

― É óbvio que vai, está escrito bem aqui ― Abriu os papéis e veio me mostrar a cláusula. Minha paciência já havia se esgotado, então por impulso, peguei as folhas e as rasguei ao meio bem na sua frente.

― Cansei de você, Tyler!!! Da sua grosseria, do seu temperamento… Você é egoísta, esnobe, me trata super mal e me explora sempre que tem vontade, como se eu fosse sua propriedade! ― Despejei tudo o que estava entalado dentro de mim.

De repente, senti meu rosto arder e perdi o ar por alguns segundos. Tyler havia me batido.

― Sua vadia. Você é minha, nada de romper o contrato, merda nenhuma.

― Eu vou chamar a polícia, e você será preso.

― Ninguém vai acreditar em você.

― Ah, é? Pois irão acreditar nas imagens da câmera escondida que tenho aqui ― Ele congelou, olhando para os lados, e eu pronunciei com gosto as últimas palavras ― Adeus, Tyler.

― Sua vagabunda! Você acha que isso vai ficar assim? ―Vociferou e me agarrou pelos punhos, apertando tão forte que tenho certeza deixará uma marca por vários dias.

― Me solta, Tyler! ― Tentei me soltar, mas era em vão, a pressão estava muito intensa. E então, repentinamente, ouvi a porta ser aberta com tudo, e um rapaz com cabelos cor de bronze atravessou a sala num ímpeto, socando Tyler no queixo, derrubando-o no chão. Era ele. Edward.

― Você está bem? ― Ed disse suavemente, sua voz aveludada foi como um acalento. Suas mãos envolveram meus punhos, e bem diferente de Tyler, seu toque era terno, gentil. Involuntariamente, meu corpo estremeceu e fechei meus olhos, ainda processando tudo o que vivenciei nos últimos minutos. As lágrimas escaparam de meus olhos, e Edward me abraçou. Seu cheiro me inebriou, me senti em casa. Quando reparei, já estava soluçando em seu peito.

― Vocês vão pagar caro por isso. Você principalmente, mocinha ― Tyler ameaçou, limpando o sangue que escorria no canto de sua boca.

― Cala a porra da boca ― Ed bradou, enquanto me guiava para fora do camarim. Saíamos pela porta quando ouvimos:

― Foge mesmo, caipira. Bater em quem não está esperando é fácil.

Ele falou mesmo isso? Acabou de me dar um tapa no rosto e me pegar com força extrema nos punhos, e está provocando o Edward desse jeito? Ed paralisou e sua expressão demonstrava raiva. Nunca havia o visto dessa forma, e sabia que isso não seria bom para ele. Não quero ser a responsável por fazê-lo ser quem não é só para me proteger. Então, com um certo desespero, sussurrei:

― Ed… por favor, não vale a pena.

― Bella, esse desgraçado te machucou.

― Você não sabe o quanto… ― murmurei, ainda sentindo a face ardendo. Edward pareceu ter concordado com meu pedido e continuamos a andar para fora da sala. Um burburinho se formava ao redor, algumas modelos e funcionários certamente ouviram nossa briga.

― Ele não vai conseguir te proteger pra sempre, Isabella ― A ameaça explícita no seu tom de voz congelou até meus ossos. Edward me entregou para Rose, uma das modelos que presenciava a cena, e ela logo me abraçou, me levando para o seu próprio camarim, enquanto ele entrava novamente na sala.

― Você nunca mais vai ameaçar a Bella ou outra pessoa na sua vida, me ouviu? ― Foi a última coisa que pude ouvir, antes dele fechar a porta.

Sentei-me num sofá disposto no camarim da Rose. A mulher buscou rapidamente um copo com água e me ofereceu, ficando ao meu lado, sua mão fazendo movimentos para cima e baixo nas minhas costas, e isso foi me acalmando aos poucos. Ela não me perguntou o que aconteceu, e agradeci mentalmente pelo fato. Apenas me deu o apoio que eu precisava, em silêncio. Rose deixou a porta aberta para Edward nos encontrar depois, e ele entrou pelo batente após vagarosos minutos.

Ed estava transtornado, havia um corte em cima da sua sobrancelha esquerda, um pouco de sangue no canto de sua boca, e suas mãos também possuíam o líquido vermelho.

― EDWARD! ― Gritei e corri em sua direção. ―Você tá sangrando!

― O outro cara ficou pior ― constatou, com um sorriso triste. ― Como você está?

― Como eu estou?! Olha pra você! ― Insisti, colocando a palma da minha mão direita em sua bochecha esquerda. 

― Tô ótimo, Bella. Com você aqui comigo, tá tudo certo ― Envolveu minha cintura com seus braços, e o toque familiar aqueceu meu coração. Sem pensar direito, selei nossos lábios num beijo singelo. Edward falou, afastando-se apenas alguns milímetros ― Precisamos conversar.

― Eu sei. Teremos tempo ― respondi, e ele acenou com a cabeça, grudando nossas bocas novamente, dessa vez de forma mais desesperada. Como senti falta disso! 

Ouvimos um pigarro, e Rose comentou um pouco envergonhada.

― Desculpem atrapalhar o momento, mas a polícia chegou. Querem falar com vocês dois.

Sorri um pouco sem jeito para a mulher, que retribuiu.

― Obrigada, Rose, por me trazer até seu camarim e me acalmar! Quando tudo isso passar, vamos tomar um café e eu te conto tudo o que aconteceu.

― Imagina! Aqui, veste isso ― falou e me entregou um roupão, e só então notei que ainda estava com o baby doll branco. Vesti a peça, agradecendo-a novamente, e de mãos dadas com Edward, saímos dali para conversar com os policiais.

Não importa o que aconteça daqui para frente, tenho convicção de que conseguirei suportar qualquer coisa. Toda essa confusão, humilhação, discussão e brigas, com certeza, me deixaram mais forte e resistente. Agora, sou livre!