Audiência escrita por gabimts13


Capítulo 1
Capítulo Único




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A quarta-feira de Bella estava indo estranhamente bem. Trabalhando como conciliadora judicial*, seu principal objetivo numa sessão era conseguir um acordo* entre as partes para impedir o avanço do processo. Não era sempre que conseguia, mas naquela manhã já havia feito dois e um terceiro parecia estar a caminho. Além de uma sessão promissora, a beleza do advogado presente na sala virtual também estava contribuindo para o bom humor de Bella.

 

Depois de dois anos de pandemia, seu apartamento havia se transformado no fórum* e seu quarto, a sala de conciliação. As audiências por videoconferência eram agora a norma, e visto que Bella já não ia ao fórum todos os dias checar pessoalmente as pessoas bonitas que eventualmente passavam por ali, ver um rosto bonito na tela do computador era um verdadeiro motivo de empolgação. Apesar de ele não ser o primeiro a chamar a atenção da conciliadora, o advogado Edward Cullen com certeza era o cara que mais a tinha afetado.

Com um conjunto de olhos claros, nariz reto e uma boca levemente carnuda a sua frente, foi muito difícil para Bella se concentrar no trabalho. Entre uma sugestão e outra sobre o caso, ela voltava sua atenção para alguma parte  daquela perfeição em forma de face. A mandíbula bem definida estava em evidência pela ausência de barba e os cabelos do advogado, penteados para o lado, tinham um tom de cobre que Bella nunca tinha visto. Limitada pela câmera do computador, a única outra parte do corpo dele que conseguia ver eram os ombros, largos e abraçados por um terno que parecia ser muito bem cortado. 

E a voz, pelo amor de Deus a voz dele estava mexendo seriamente com Bella. Não bastasse sua a aparência física deslumbrante, sua voz era grave e aveludada e até a cadência das palavras era atrativa.

Tendo um rosto que justificaria toda arrogância do mundo, Edward Cullen a surpreendeu ao não se mostrar esnobe. Ele não era o tipo de advogado que obrigava todos a chamarem-no de Dr., longe disso, ele a havia corrigido quando Bella o chamou pelo título.

— Obrigada pela colaboração, pessoal. Tenham uma boa tarde! — Bella se despediu.

As duas partes e o deus grego presente agradeceram e, animada com o resultado conseguido, Bella se levantou, girou no meio do quarto com os braços abertos e olhando para o teto bradou aos quatro ventos o que tinha prendido na garganta durante toda a audiência:

— Meu deus, que advogado gato!!! — Parando de costas para o computador, suspirou e continuou: — Ah se ele morasse perto e me desse uma chance.

Um riso vindo de trás a fez congelar. Ela estava sozinha em seu quarto então o barulho de outra pessoa só poderia ter vindo de um lugar. Se perguntando se havia desligado o microfone e a câmera antes de se levantar, Bella virou-se e caminhou em direção ao computador. Seu olhar foi primeiro para o advogado, que esbanjava um sorriso torto e a olhava com uma expressão convencida. Bella sentiu o rosto esquentar porque naquele momento teve certeza, sem precisar verificar as configurações de áudio e vídeo, que ele tinha ouvido sua declaração embaraçosa. 

Mesmo assim, confirmou suas suspeitas ao ver a própria imagem na tela e que o símbolo do microfone da plataforma de reuniões continuava desbloqueado. Era oficial, Bella teria que pedir exoneração ou uma aposentadoria precoce, ou poderia mudar de nome e de país para começar uma nova vida do zero, onde ninguém saberia da maior vergonha que ela já passou. Um lugar tropical onde ela pudesse vender sua arte na praia parecia uma ótima ideia. 

— Bom trabalho, Dra. — disse a voz que a conciliadora tinha escutado e admirado pela última meia hora. Ela se questionou por um segundo se deveria encará-lo, mas considerando que esperava que aquela fosse a última vez que se veriam, decidiu que uma última oportunidade de contemplar o rosto perfeito de Edward Cullen deveria ser aproveitada e, bem, se ela já estava no inferno...

Sentindo o rosto esquentar, seu “Obrigado, Dr.” saiu quase sussurrado e o sorriso do advogado aumentou. O cliente ao lado de Edward parecia alheio ao momento, provavelmente satisfeito demais com o acordo para notar a tensão entre a morena e seu representante.

Dessa vez, Bella desligou o áudio primeiro e depois a câmera e, só para garantir, saiu da reunião. Ela ainda teria três audiências no dia, mas poderia facilmente se conectar na plataforma. Não querendo correr o risco de ser pega babando uma das partes de novo, prometeu que dali em diante sempre ficaria calada no intervalo entre as sessões.

As audiências depois do almoço passaram sem outros episódios constrangedores e tendo conseguido mais um acordo, a conciliadora se sentiu satisfeita com o balanço do dia.

Mais tarde, ao repassar o momento na cabeça, Bella decidiu que a situação poderia ter sido melhor, ela poderia ter calado a boca e não ter comentado absolutamente nada, mas certamente poderia ter sido pior. Pelo menos ela não falou as baixarias que costumava escrever na sua conta de fã na internet, na qual falava sobre seus ídolos, ou ainda os absurdos que normalmente comentava com as amigas.

Mas, considerando que o advogado também viu a morena enquanto ela fazia sua proclamação, a coisa poderia ter sido pior se ela estivesse só com uma blusa formal e a parte de baixo do seu pijama, como as vezes fazia quando acordava atrasada. 

Chegou à conclusão de que seu elogio foi relativamente comportado e se Cullen sorriu, por mais presunçoso que tenha sido o sorriso, não deveria ter se ofendido tanto. Por Deus, ela esperava que ele não tivesse se ofendido de jeito nenhum.

Objetivamente falando, ele era mesmo muito gato e não era possível que ela tivesse sido a primeira pessoa a comentar isso na frente dele. Era uma pena que as circunstâncias em que o comentário foi feito a fizeram passar vergonha.

Pelo lado positivo, o acordo estava feito e, mesmo havendo a possibilidade de fazer outras audiências com Edward, Bella estava aliviada que pelo menos para esse caso, eles não mais se veriam. Sinceramente, seria uma pena para seus olhos, mas era o que tinha que acontecer se ela quisesse manter alguma dignidade.

XXX

Ainda receosa de sair para um bar, pois ainda estavam em uma pandeia, as saídas de Bella consistiam em ir à casa de alguma amiga. Sexta-feira, na casa de Angela, Bella expôs sua humilhação enquanto a amiga chorava de rir.

— Eu juro, Ang, eu quis me deitar no chão e ficar em posição fetal pelo resto da minha vida. 

— Para amiga, nem deve ter sido tão ruim assim, — Angela ponderou enxugando as lágrimas. — Vai ver ele elogiou seu trabalho porque viu que você ainda estava conectada.

— É que você não viu o sorriso dele, se tivesse visto, você saberia que ele ouviu o que eu disse. — Bella tomou um gole do seu vinho rosê e suspirou derrotada. — E eu falei muito alto, gritei mesmo, não sei como os vizinhos não reclamaram.

Também trabalhando na justiça, só que como assessora do juiz, Angela amava uma boa história de vergonha jurídica e sendo amiga de Bella há anos, estava acostumada com as situações inusitadas em que a amiga se metia, mas sempre se surpreendia com suas desventuras.

— Eu não posso te julgar, já vi o Cullen pessoalmente e ele parece de outro mundo de tão perfeito.

— Ang!!! — Bella fingiu uma expressão chocada para a amiga. — Acho que foi uma boa ideia que o Ben não tá aqui hoje.

— Ele concorda comigo! Mas sério, não se tortura por isso não. Aposto que ele se sentiu lisonjeado com um mulherão desses dando moral para ele.

— Ok, acho que o vinho tá fazendo efeito em alguém. — A conciliadora falou revirando os olhos.

— É a verdade, e resta aceitar. — Angela ergueu sua taça e deu uma piscadela para a amiga.

— De qualquer forma, não acho que seria uma boa ideia. Da última vez que me envolvi com um advogado não deu certo.

— Tyler foi um erro, Bella. Ele não devia ser parâmetro para algum futuro relacionamento. Nem todo advogado vai ser como ele.

— Defendendo advogados? Quem é você e o que fez com minha amiga?

Angela riu e apressou uma explicação. — Não estou defendendo a classe, a maioria é um bando de arrogantes mesmo.

— Um brinde a isso! — Bella concordou.

— Mas o que aconteceu com ele não deveria fazer você desistir de tentar algo com outra pessoa. Já faz dois anos amiga, você tem todo meu apoio se quiser investir no Cullen.  

Tyler era a prepotência em pessoa, Bella deveria saber que o tom condescendente que ele usava ao falar sobre o trabalho dela era um indicativo de como se achava superior, mas ela estava apaixonada, impressionada pelo jeito floreado que ele falava e por sua inteligência, e não percebeu de cara o que tudo aquilo significava.

Até que as piadinhas dele ficaram insuportáveis e Bella acabou o namoro. Tyler não levou numa boa e deixando o disfarce de bom moço de lado, revelou que nunca achou Bella inteligente o suficiente para ele e agradeceu pelo término, porque, nas palavras dele, “merecia coisa melhor”.

Bella balançou a cabeça de leve e afastou as lembranças do ex-namorado da cabeça. Conversar com sua amiga a fez se sentir melhor pela situação, conseguir rir do que tinha acontecido era um avanço e se tudo desse certo, ela não veria Edward Cullen tão cedo.

XXX

Eu quero morrer, pensou Bella quando entrou na videoconferência e deu de cara com Edward. Três semanas haviam se passado desde que ela havia cometido a maior gafe da história da humanidade, e apesar de ter achado que havia superado a situação, ao ver o advogado na tela a sua frente, ela não conseguiu evitar sentir o rosto esquentando.

Bella sabia que, como ela, o advogado fazia audiências virtuais a rodo, então esperava que ele não se lembrasse daquele dia. Ademais, com cabelos e olhos castanhos, Bella tinha certeza de que suas características físicas não a faziam se destacar ou a tornavam uma pessoa memorável.

No entanto, segundos após Bella ter se convencido de que ela passaria despercebida, notou que ele estampava o mesmo sorrisinho de canto de boca, que antes mesmo dela ter falado qualquer coisa provava que ele não havia esquecido o ocorrido na última vez em que se encontraram. 

— Gato, é? — Foram as primeiras palavras que o ruivo pronunciou.

Por sorte só havia os dois na sala para ouvir o gemido de descontentamento que Bella soltou com o comentário. Aparentemente a desgraça dela o divertia, pois dessa vez ele riu jogando a cabeça um pouco para trás com a resposta imatura dela, que pensou que até valia a pena passar vergonha se a reação dele fosse sempre essa. Ela não saberia explicar como era possível, mas vê-lo descontraído o deixou ainda mais bonito.

— Bom dia, Dr. — Bella falou se concentrando ao máximo para se manter profissional. — Eu esperava que o senhor não lembrasse, mas já que lembrou, gostaria de aproveitar que seu cliente ainda não está conectado e me desculpar pelo comentário.

— Primeiro, pode me chamar de você enquanto a audiência não começa. Segundo... Você está se desculpando por que mudou de ideia e não me acha mais bonito? — perguntou erguendo a sobrancelhas, deixando Bella sem palavras por alguns segundos. Como ela responderia a isso? Parecia rude confirmar, sem falar que ela estaria mentindo, afinal havia acontecido exatamente o contrário.

 — Eu, hum, não, é... — Bella se atrapalhou tentando se explicar e ele abandonou a expressão séria e riu de novo com o desconforto que causou. A conciliadora revirou os olhos, mas no fundo ficou aliviada com o fato de que ele estava levando tudo na brincadeira. — Sério, eu não deveria ter falado. Não porque não é verdade, mas porque não era o momento.

— Se serve de consolo, eu também te achei muito gata.

Antes que Bella pudesse assimilar o que ele havia dito, o requerido entrou na videoconferência e com um esforço descomunal desempenhou o papel que era exigido dela. Com metade de sua atenção presa no comentário feito pelo advogado antes de começar a audiência, era um milagre que ela tenha conseguido falar alguma coisa coerente. Ele não podia soltar uma bomba dessas e achar que ela não ficaria abalada.

O jeito que Edward falava era hipnótico e Bella se pegou imaginando como seria vê-lo em ação ao vivo. Se ele gostava de fazer sustentação oral*, por que na sua opinião ele tinha o perfil perfeito que impressionaria um Tribunal.

Bem, ela completou mentalmente, eu ficaria impressionada só de estar na mesma sala que ele. 

Imagens de um Edward Cullen vestido em uma toga preta e apresentado seus argumentos para os desembargadores* tomaram conta da sua mente e por alguns segundos Bella não percebeu que todos estavam em silêncio esperando que ela falasse.

Ela finalmente confirmou que eles tinham chegado a um acordo e tanto a parte requerente quanto a requerida saíram da sala.

Edward então arrumou o nó da gravata e a atenção de Bella foi automaticamente para as mãos dele, quando arrumou a gola da camisa, ela olhou seu pomo-de-adão e quando ele virou o pescoço para olhar alguma coisa a sua direita, a morena se imaginou fungando o lugar atrás da orelha dele.  

Aposto que é cheiroso, pensou.

— Não quero me gabar, mas meu perfume é da Dior.

Não, não, não, não, não. Não podia ter acontecido de novo, ela suplicou. Que doença era essa que ela não conseguia controlar os pensamentos na frente do advogado?

— Dr., eu não... — Bella começou a se justificar, mas antes que ela conseguisse formular uma explicação plausível, ele a interrompeu.

— Não se preocupe, Drª, ser chamado de bonito e cheiroso não é a pior coisa que já me aconteceu.

— Por favor, esquece o que ouviu. — A morena cobriu o rosto com as duas mãos.

— Não posso, foi muito fofo e, como eu disse, não é a pior coisa que eu já escutei sobre mim.

— Meu Deus, eu vou sair dessa sala antes de falar mais alguma besteira sobre você.

— Tipo o quê? Que além de bonito e cheiroso você me acha muito inteligente e forte? — Edward perguntou brincalhão.

— E convencido, pelo visto. Mas não, eu não vejo muito de você para saber se você é forte, eu provavelmente falaria sobre achar seus olhos e sorriso bonitos.

Só quando ele gargalhou Bella percebeu que mais uma vez tinha revelado demais.

— Você me fez... Eu não acredito que... — Estava tão ultrajada que nem conseguia formar uma frase completa. Mas apesar da vergonha, sorria da leveza com que o advogado estava levando a situação.

— Ah, e outra coisa, — O advogado disse quando a viu mais calma. — Eu moro perto.

Bella vasculhou seu cérebro buscando ao que ele estava se referindo. Sua confusão deve ter refletido em seu rosto pois Edward explicou:

— Naquele dia você disse “ah se ele morasse perto”. Bem... — Ele deu de ombros. — Eu moro. Então, se você quiser ver mais de mim e saber se eu sou forte, isso pode ser arranjado.   

Bella pensou que aquele seria o momento ideal para o chão se abrir e ela afundar. Meu Deus, eu praticamente implorei por uma chance, lembrou-se.

— Agora é sério, eu vou embora mesmo.

— Tem certeza? Faltou elogiar meu cabelo e minha personalidade cativante. — O advogado provocou.

Bella revirou os olhos, mas não resistiu ao tom brincalhão e sorriu de volta.

“Isso pode ser arranjado.”, ele havia dito. Será que Angela estava certa e ele havia mesmo se sentido lisonjeado? Será que ela podia se iludir e achar que ele estava flertando com ela? Talvez fosse só uma brincadeira para ela não ficar tão constrangida sobre as coisas que andava falando sobre ele. Mas Bella podia sonhar que a verdadeira razão era que ele havia notado que o interesse dela era real, e que talvez fosse recíproco.

— Tchau, Doutor — falou e deslogou da reunião, a imagem do advogado rindo ainda grudada em sua mente.

Só depois lembrou que tinha saído tão preocupada de não passar mais vergonha que nem respondeu que sim, ela gostaria muito de ver mais dele e avaliar com propriedade se ele era forte ou não.

XXX

O fato de que Edward também morava em Seattle afetou Bella de uma maneira que ela não estava esperando. Um dia, sonhou que esbarrava com ele no café da esquina, no outro, jurou que o tinha visto no supermercado, no corredor de biscoitos.

Louca, ela pensou, eu estou ficando louca. Nem correr no parque ou cozinhar ouvindo música alta (Lorde, o Melodrama, não o Solar Power) estava ajudando a tirá-lo da sua cabeça.

Lembrando que Angela disse uma vez que já o viu pessoalmente, Bella resolveu pescar mais informações sobre o paradeiro dele. Pegando o celular, enviou uma mensagem para sua amiga.

Bella: Ang, você disse naquele dia que já viu o Edward pessoalmente... ele vai muito no fórum?

Ang: Muito, muito não. Pelo menos uma vez por mês. Pq?

Bella: Ele me disse que morava na região e eu fiquei curiosa

Ang: Como assim ele te falou isso?? Pera eu vou ligar e você vai me contar TUDO.

Bella prontamente atendeu a chamada e elas passaram pelo menos 40 minutos discutindo estratégias para fazer o encontro da conciliadora e do advogado acontecer.

No dia seguinte, Angela verificou a última vez que Edward tinha ido na vara* em que ela trabalhava e estimou que ele provavelmente voltaria lá em duas semanas, tempo suficiente para Bella se preparar psicologicamente e tomar coragem de se apresentar pessoalmente.  ela não falaria nada que a envergonhasse e Edward veria que além de uma ótima profissional ela era uma ótima candidata a um encontro.

XXX

Eu enlouqueci completamente, Bella pensou enquanto observava o advogado sentado no pátio do fórum. Ele estava sozinho na mesa terminando seu almoço. Era uma quinta-feira e a conciliadora havia calculado que o melhor horário para se apresentar seria depois dele ter comido, ela sabia como a fome afetava o humor das pessoas e queria aumentar suas chances de ser bem recebida.

Também não queria chegar antes dele começar a comer, e arriscar ser convidada para se sentar. A ideia era se apresentar casualmente e talvez trocar números de telefone e contas nas redes sociais (que Bella obviamente já tinha achado, mas não adicionou para não parecer uma stalker). Se passasse meia-hora sentada em frente a ele, assim de supetão, com certeza trocaria os pés pelas mãos e ela precisava de tempo para que ele não a achasse uma doida.

Na melhor das hipóteses, Edward a convidaria para sair. Bella só precisava respirar fundo e dar o primeiro passo. Literalmente dar um passo na direção dele, pois já estava há três minutos o encarando de longe. É agora ou nunca.

Bella se aproximou dele com cautela. Usando roupas formais, uma camisa de botão de seda e calças sociais, ela esperava que o advogado achasse que ela estava ali a trabalho. Ele não podia desconfiar que ela tinha saído de casa somente para “acidentalmente” cruzar o caminho dele.

Edward levantou a cabeça e ao reconhecê-la abriu o mesmo sorrisinho de lado daquela primeira sessão.

— Doutora — cumprimentou-a. 

Parecia que o cérebro dela tinha derretido só com o impacto daquela palavra. E se a beleza dele pela tela era desconcertante, ao vivo era completamente paralisante.

— Boa tarde, Doutor. — Conseguiu falar com um sorriso tímido. Ela precisava urgentemente falar mais alguma coisa, qualquer coisa, ou sua missão ali iria por água abaixo. — Desculpe atrapalhar seu almoço.

— Nada disso, já estou terminando — respondeu e Bella viu os olhos dele brilharem travessos. — Veio finalmente verificar se sou forte? — A morena sentiu o rosto esquentar imediatamente. Pelo visto ele traria à tona as interações virtuais deles.

— Não, na verdade eu te vi de longe e resolvi dizer um oi. — O nervosismo tomou conta de Bella. Ela estava prestes a se acovardar e ir embora. — Então, acho que já vou...

— Por que você não se senta um pouco? — Edward falou ao mesmo tempo em que ela começou a se despedir.

— Imagina, como disse, não quero atrapalhar.

— Não atrapalha, seria bom ter uma companhia para sobremesa. — Ele deu de ombros.

— Sobremesa? — Bella repetiu. Ela tinha uma queda por sobremesas, ia ser difícil demais recusar a oferta.

— Aqui tem um bolo de chocolate muito bom, vem com bastante calda.

Se ela tinha uma queda por sobremesas, por bolo de chocolate ela tinha um abismo. Ia ser impossível recusar a oferta.

— Se você realmente não se importar...

— Claro que não. — Edward respondeu animado. — Senta, fica à vontade, vou buscar o bolo.

Bella se sentou do lado oposto ao que ele estava sentado e o observou se levantar e ir ao balcão. Enquanto esperava ela notou o quanto ele era alto e sim, forte. Não do tipo super forte em que o terno parecia que ia explodir, mas forte do tipo que a carregaria com facilidade. Antes que ela pudesse se distrair demais com todos os lugares para onde ele poderia carregá-la, Edward voltou e colocou o prato com uma fatia generosa no meio da mesa e dois garfos em cima de alguns guardanapos.

— Eu comprei só uma porque é uma fatia enorme e eu não dou conta de comer só. Mas se você quiser outra, eu posso comprar...

— Não, não — Bella o interrompeu. — Um pedaço só está ótimo. E você não mentiu quando disse que vinha muita calda, também não acho que aguentaria comer sozinha, apesar de amar bolo de chocolate. — A morena comentou enquanto passava o garfo no prato. 

— Também amo, é um dos meus favoritos. — O advogado disse e eles sorriram um para o outro como se aquele simples ponto em comum fosse um acontecimento extraordinário.

Enquanto compartilhavam o bolo, eles conversaram um pouco sobre os casos dele em que ela fez a conciliação, sobre a quanto tempo estavam trabalhando em suas respectivas profissões, e onde estudaram. Bella descobriu que Edward tinha um escritório no centro da cidade e que sentia falta de fazer audiências ao vivo. Ele também contou que ao contrário de alguns colegas, ele gostava de fazer sustentação oral. 

— O quê? — Ele perguntou quando a viu balançando a cabeça de leve com um sorrisinho.

— Nada, é só... Eu achei mesmo que você era do tipo que gostava de fazer sustentação oral.

— Mesmo?

— Sim, você é muito bom na oratória — admitiu olhando para o prato, agora vazio, à sua frente. — Nas duas audiências que você estava notei como domina os casos que defende, passa segurança para o seu cliente.

— Obrigado.

O tom tímido da resposta fez Bella levantar o olhar e a imagem que ela viu a fez sorrir. O homem alto e forte a sua frente estava com as bochechas coradas. Ela ficou intrigada como ele recebeu o elogio sobre sua aparência todo convencido e agora, cara a cara, estava acanhado.

 — Não vai responder que é bom mesmo? — perguntou tentando fazê-lo rir.

Funcionou e vê-lo sorrindo com o rosto ainda corado fez Bella sentir coisas. Ela quase começou a cantar The start of something new, do High School Musical porque aquele semi encontro estava parecendo mesmo o começo de algo novo, algo certo, algo que ela já estava desistindo de encontrar. 

— Eu não estava esperando que você também fosse me achar bom no meu trabalho, achei que talvez você estivesse mais interessada na minha aparência — comentou o advogado surpreendendo-a. — Foi bom ouvir que você também me acha um profissional competente.

Bella não esperava esse tipo de atitude dele. Por mais que ele tivesse brincado sobre suas qualidades nas interações que tiveram online, era sempre em tom de zombaria e saber que ele ficou realmente tocado com o elogio sobre sua capacidade profissional, a fez perceber que ele era humilde. Uma qualidade que ela admirava muito, e que passou a admirar mais ainda depois de ter namorado Tyler.  

Seu ex fazia questão de se gabar a qualquer oportunidade, para quem quisesse e para quem não quisesse ouvir. Presenciar alguém tão bem-sucedido quanto Edward sendo modesto sobre suas conquistas e qualidades era revigorante.

Perdida em suas reflexões, Bella não notou a loira bonita e arrumada se aproximando da mesa. 

— Confraternizando com os conciliadores para conseguir mais acordos, Eddie? — a acidez na voz dela era palpável.

Edward franziu a testa ao escutar a pergunta e, relutante em tirar os olhos da morena a sua frente, virou-se só o suficiente para não ser mal-educado.

— É Edward, Irina, você sabe que eu não gosto de apelidos. E, não, não estou aqui para conseguir um acordo, Bella é uma amiga.

Bella sentiu uma mistura de alívio e decepção com a resposta dele. O primeiro porque ele não riu do comentário e o último porque ele a apresentou como uma amiga. Tudo estava correndo bem e ela esperava que ele visse mais potencial nela do que apenas amizade.

— Amiga? — Irina perguntou com um sorriso debochado, quase como se soubesse o que Bella estava pensando. — Desistiu de dar uma chance para sua fã?

— Irina, por favor... — Edward começou, mas a mulher, que ainda estava em pé, se aproximou ainda mais dele e colocou a mão no seu ombro.

— Todo mundo achou hilário a conciliadora que se atirou para o advogado, — A loira continuou, dando um aperto no ombro de Edward e olhando diretamente para Bella, alfinetou: — Mas eu sinceramente acho que você poderia ter agido com mais profissionalismo.

— Com licença?? — Bella rebateu indignada. — Eu estava na minha casa, a audiência já tinha acabado, eu estava empolgada com o acordo e... — Se levantando da mesa, Bella pegou sua bolsa. — Quer saber? Eu não preciso me justificar para você.      

Bella então lembrou que Irina se referiu a ela pela profissão, mas as duas não haviam sido apresentadas antes, na verdade nunca haviam se visto, pessoal ou virtualmente.

— Aliás, como você soube disso?

— Edward aqui me contou quando saímos para beber naquele mesmo dia. — A loira falou triunfante. — Nós advogados somos uma classe unida. — Ela deu uma piscadinha para a morena.

Bella olhou para Edward, que parecia confuso com toda a interação, mas ainda não havia se pronunciado negando que havia contado. O jeito que a outra advogada estava falando fazia parecer que o comentário de Bella sobre a beleza do advogado tinha sido mal-intencionado, mas o jeito que ele havia reagido a tinha tranquilizado. Mas se ele estava contando sobre o episódio numa mesa de bar, fazendo todos rirem as custas dela...

— Eu não acredito que esse tempo todo você tava comentando com outras pessoas sobre o que eu falei e rindo de mim — falou sentindo o rosto queimar de raiva. — Eu achei que você tinha levado na esportiva. 

— Eu levei, Bella, — Edward finalmente se pronunciou. — O que a Irina falou não é...

— Eu sabia que não podia confiar em advogado de novo, vocês se acham mesmo superiores. Não sei o que eu tava pensando quando achei que você seria diferente.

— Bella, espera. — O ruivo pediu se levantando e indo em direção a ela.

— Deixa ela, Edward. Mais cedo ou mais tarde ela ia perceber que não está no seu nível. Se ela ao menos fosse juíza, mas aposto que não é inteligente o suficiente para o cargo. — Irina desdenhou. 

— Irina!!! — Edward a repreendeu.

Se ele falou mais alguma coisa, Bella não escutou. Saiu do pátio o mais rápido possível sem de fato correr, o salto que tinha colocado para parecer um pouco mais alta agora parecia uma péssima ideia. Já na saída do fórum, ouviu seu nome sendo chamado, mas não ousou virar para saber o que mais ele queria. Já não tinha sido o suficiente presenciar aquela humilhação?

XXX

Enquanto conversava com Edward, Bella sentiu uma empolgação que há muito não sentia. Há dois anos ela vinha se recuperando de uma decepção amorosa e nesse tempo ergueu alguns muros para proteger seu coração. Logo agora, na sua primeira tentativa de baixar a guarda, ela quebrou a cara. Como pôde ter se enganado tanto?

Ainda naquele dia, ao receber uma mensagem de Angela perguntando se o plano delas havia dado certo, ela não teve energia para contar para amiga que o plano não só não havia dado certo, como havia sido um desastre completo.

O final de semana foi regado a documentários de investigações criminais, o mais longe possível de qualquer coisa que lembrasse um romance. Na segunda-feira, Bella resolveu que tentaria se concentrar no trabalho e deixar sua pseudo vida amorosa de lado. Estava conseguindo até ver a solicitação para seguir que Edward enviou na rede social. Que cara de pau!! Bella pensou enquanto virava a tela do celular para baixo sem nem mesmo desbloquear o aparelho.

Aquela simples notificação foi suficiente para fazê-la lembrar do quanto tinha se divertido até Irina aparecer. Por que ele tinha que ser um esnobe como Tyler? Se perguntou frustrada.

Quarta-feira, Angela enviou uma mensagem avisando que precisava vê-la no dia seguinte, que precisavam conversar e não podia adiar. Depois da catástrofe que foi aquele encontro, voltar ao mesmo lugar em que foi humilhada era quase uma tortura. Só foi mesmo ao fórum porque a amiga havia insistido que era um assunto que só poderia ser tratado pessoalmente.

Uma semana antes, Bella estava cheia de esperança e animada com as possibilidades à sua frente. Sim, estava nervosa, mas era o frio na barriga que precede algo bom. Agora, o peso no seu estômago só a fazia querer sair dali.

Andou até a sala onde Angela se encontrava e se apresentou ao moço que estava na recepção. A amiga logo apareceu e a levou para o pátio de alimentação. Assim que chegaram, Bella sentiu a cor deixar seu rosto. Sentado na mesma mesa que a semana anterior, estava Edward. A diferença era que se antes havia um prato de comida na sua frente, agora tinha um buquê de flores.

Ótimo, pensou, vou vê-lo em um encontro. E no mesmo lugar que haviam estado na semana anterior. A audácia!! Provavelmente é com Irina, concluiu. Estranhamente, o pensamento não a fez sentir raiva, mas tristeza.

Ela não achou que o veria tão cedo. Segundo Angela, ele só aparecia ali uma vez por mês. Mas lá estava o advogado há poucos metros dela. E ainda com flores. Se Irina aparecesse ali e se sentasse junto com ele, Bella ia chorar. Puxando a amiga pela mão para mudarem de direção, Bella sussurrou:

— Angela, eu preciso ir embora.

— Quê? Bella, a gente nem conversou.

— Você passa lá em casa mais tarde e me fala, o Edward...

Mas antes que ela pudesse completar a frase, o advogado em questão se levantou e pegando o buquê, começou a andar em direção à dupla.

— Jesus, me tira daqui — suplicou a conciliadora.

— Bella, calma, acho que ele vai se desculpar pelo que aconteceu. — Angela tentou tranquilizá-la.

— Seria ótimo, mas não acho provável... — Bella parou sua suposição ao lembrar que não tinha contado para amiga o que tinha acontecido naquele dia terrível. — Como você sabe que ele tem motivos para se desculpar? Eu não te contei como foi nosso encontro.

Mas antes que a assessora pudesse se explicar, Edward parou em frente as duas.

— Bella.

Seu nome saindo dos lábios dele fez o coração de Bella acelerar. Relutante, ela o encarou e se xingou internamente por notar o quanto ele ainda a afetava.

— Bom, eu vou deixar vocês conversarem — falou Angela, soltando a mão de Bella e dando um passo para trás.

— Angela, o que está acontecendo? — Bella perguntou. Com Edward tão perto, ela não conseguia manter o olhar no rosto dele por muito tempo, então seus olhos voltaram para o buquê. Lírios. Minhas preferidas. Seu coração partiu um pouco ao pensar que Irina ia receber um arranjo tão bonito.

— Eu não podia deixar aquele mal-entendido se prolongar. — Edward falou. Bella o olhou nos olhos de novo e o tom verde que encontrou ali desestabilizou sua resolução de ignorá-lo. 

— Você sabia que ele estaria aqui? — Bella virou-se para a amiga.

— Ele me contou o que aconteceu e sua explicação pareceu sincera. Eu acho mesmo que você deveria ouvir.

— Como você conseguiu o contato dela? — Perguntou ao advogado se dirigindo diretamente a ele pela primeira vez desde que ele havia se aproximado.

— Culpada. — Angela levantou as mãos como se estivesse se rendendo. — Você não respondeu minhas mensagens, não atendeu o telefone. Eu o achei no Instagram, me apresentei e perguntei o que diabos tinha acontecido.

— Eu calculei que se ela se importa com você o suficiente para perguntar, talvez pudesse me ajudar a me desculpar.

Olhando de um para o outro, Bella estava em conflito. Angela não teria concordado com isso se soubesse que o que Edward tinha a dizer a magoaria mais. No entanto, ela já estava magoada, vê-lo tão de perto já estava abalando-a.

Com um suspiro, Angela falou num tom mais brando com Bella. — Amiga, só escuta ele. Quantos acordos não são feitos porque as partes simplesmente não querem ouvir a outra? 

A conciliadora em Bella não podia negar a lógica daquela declaração. Vendo a hesitação no rosto dela, Edward aproveitou para defender seu caso.

— Se depois de tudo que eu falar, você achar que eu não valho mesmo o seu tempo, eu vou embora e você nunca mais vai me ver. Mas por favor, me dá pelo menos uma chance.

Bella encarou os olhos suplicantes do advogado e assentiu. Angela voltou para a direção de sua sala, provavelmente para dar privacidade aos dois.

— O dia que você disse que me achava gato? Bella, eu comemorei como se tivesse ganhado na loteria. — Edward deu um passo na direção dela e lhe entregou as flores. Hesitante, segurou a mão livre dela, e quando não ouviu protesto, acariciou seu pulso com o polegar. — Sim, eu saí para beber com uns amigos e Irina estava no meio. E eu realmente comentei o que tinha acontecido mais cedo, mas eu não tive intenção de te humilhar, pelo contrário, me senti incrivelmente sortudo de que uma mulher extremamente competente e linda tinha me notado.

As palavras eram bonitas, mas o que mais estava impressionando Bella era a sinceridade nos olhos dele.

— E depois eu te encontrei aqui e parecia que todos os meus sonhos tinham se realizado e todos os meus problemas tinham se resolvido. — Ele riu um sorriso tímido e a morena não resistiu e sorriu também. — Até que Irina apareceu.

A expressão dele mudou totalmente ao falar o nome da outra mulher. Franzindo a testa, ele parecia mesmo perturbado pela memória. 

— Me desculpe pelas coisas que ela disse e me desculpe por não ter te defendido no mesmo instante. Nada do que ela falou é verdade e eu não queria que você tivesse saído daqui achando que eu concordava com que ela estava dizendo. Eu não podia ter deixado você ir embora com essa impressão de mim.

— Então era só com a sua reputação que você tava preocupado? — Ela falou soltando a mão dele e dando um passo para trás. 

— Não, Bella. — Buscando a mão dela de novo, a lembrou: — Uma chance, você concordou com uma chance.

A conciliadora assentiu.

— Eu não queria que você tivesse essa impressão de mim. Porque o que você pensa é importante para mim, eu não poderia me importar menos com a minha reputação.

Bella ergueu as sobrancelhas incrédula, ela sabia que reputação era um tópico sensível para advogados.

— Bem, — Edward continuou. — Claro que de certa forma eu tenho que manter as aparências, considerando que no nosso mundo a maioria das pessoas supervaloriza... — Ele parou seu argumento quando a viu sorrindo. — Mas a questão não é essa. A questão, Bella, é que eu quero que você me conheça melhor, porque eu quero te conhecer melhor também. Você me cativou com sua espontaneidade e sendo completamente honesto aqui, com sua beleza também.

— Edward... — Ela não sabia nem o que dizer, mas seu corpo foi em direção ao dele como se estivesse sendo atraído por um imã. — Eu fiquei magoada com tudo que aconteceu.

Ela não queria admitir o quanto. Mas ouvir tudo que ele falou, e a sinceridade com que ele falou, lhe deu coragem para mostrar um pouco mais de si também.

— Muito magoada, na verdade. Eu tava me divertindo tanto conversando com você, quase como se você fosse muito bom pra ser verdade e aí meu medo se concretizou e tudo começou a ir por água abaixo.

— Eu me diverti também. — Edward confessou. — E Bella, eu juro que o que me paralisou foi choque. Eu não estava esperando Irina aparecer ali, muito menos para dizer as coisas que disse. Eu nunca vou me perdoar se perder uma chance de te conhecer melhor por causa dela.

— Vocês são mesmo amigos? 

Longe dela querer controlar as amizades de um possível parceiro, mas se eles fossem realmente próximos, ela não tinha certeza se saberia lidar com uma pessoa que já tinha mostrado claramente o quão pouco pensava dela.

— Não, mas nós temos amigos em comum e eventualmente nos cruzamos em bares ou por aqui.

— Certo — respondeu cabisbaixa.

Edward levou sua mão livre ao queixo dela e delicadamente inclinou a cabeça dela para trás para olhar em seus olhos.

— Não somos próximos, Bella. Se me der uma chance, não vai ter que conviver com ela.

Mais animada com a notícia, e com o rosto dele tão próximo do dela, Bella sorriu. Lembrando das flores que segurava, perguntou:

— Como sabia que eram as minhas favoritas?

— Angela me disse. Achei que flores podiam me ajudar nesse caso.

Bella riu abertamente e antes que pudesse registrar que seus rostos estavam ainda mais perto, sentiu os lábios dele nos seus. A mão de Edward acariciando sua bochecha enquanto ele explorava sem pressa sua boca. Apenas uma promessa.

— Eu acho, Doutora, — sussurrou Edward — que se você decidir que eu valho a pena, a gente pode viver algo muito verdadeiro e especial.

Bella soube naquele instante que não havia concreto grosso o suficiente para impedir Edward de quebrar as paredes do seu coração. Ela o beijou como resposta, soltando sua mão só para passar o braço ao redor do pescoço dele. Ele então abraçou sua cintura, trazendo-a junto de si.

Alguém ao lado deles limpou a garganta alto fazendo-os se afastar sobressaltados. 

— Senhores, desculpe interromper, — O homem com um uniforme de segurança parecia desconfortável ao repreendê-los. — Mas talvez vocês queiram ir para um lugar mais privado.

Bella olhou para o homem, que parecia desconfortável ao repreendê-los e sentiu o rosto corar com a sugestão dele. Apesar da vergonha, ela não pôde deixar de sorrir com a situação. Estava tão envolvida no beijo que havia esquecido que estava em um local público.

— Desculpe pela cena. Não vai acontecer de novo. — Edward respondeu ao segurança. Então foi novamente para o lado de Bella e ao passar o braço pela sua cintura sussurrou em seu ouvido. — Aqui.

XXX

1 ano depois

A quarta-feira de Bella tinha passado estranhamente bem. As audiências já tinham voltado a ser presenciais há algum tempo e o dia no fórum havia sido cansativo, mas muito satisfatório com todos os acordos que conseguiu firmar. Se bem que, nos últimos meses, até os dias em que ela não fazia acordo nenhum não a chateavam, pois sabia que ao voltar para casa encontraria uma razão para fazer seu dia valer a pena.

Depois que eles oficialmente resolveram se dar uma chance, Edward e Bella saíram algumas vezes para se conhecer melhor, mas a verdade é que não precisou de muito tempo para eles perceberem que eram as pessoas certas um para o outro e eram mais felizes quando estavam juntos.

Bella abriu a porta do apartamento e viu Edward largado no sofá ainda com a calça do terno, mas a camisa branca já estava com algumas casas desabotoadas e sem a gravata. Suspirou ao vê-lo. Não era sempre que ele chegava antes dela, mas quando acontecia, a visão que a recebia fazia seu coração acelerar. A época em que não estava com Edward parecia uma outra vida.

Foi para perto dele e passando a mão por seu cabelo, tentava acordá-lo do cochilo. O escritório dele tinham pegado um caso complicado que vinha desregulando o sono dele nas últimas semanas. Por mais que ela adorasse vê-lo dormindo, queria sua companhia no jantar e não queria que ele perdesse o sono da noite.

— Amor, acorda — chamou suavemente. — Cheguei.

Ele abriu os olhos e sorriu. — Oi, minha linda — respondeu sonolento. — Cochilei.

— Eu vi — riu a morena. — Dia puxado?

Ele assentiu levou a mão até o braço dela, retribuindo o carinho que ela ainda fazia em sua cabeça.

— O meu também, mas no fim deu tudo certo. Infelizmente, nenhum advogado bonito apareceu na sala para alegrar meus olhos — provocou. Desde que começaram um relacionamento, Bella não podia atuar em uma audiência em que Edward representasse uma das partes, sob risco de comprometer a imparcialidade.

— Ah é? — Edward perguntou erguendo as sobrancelhas, mas o sorriso entregava a brincadeira.

— Sim, felizmente vi um advogado gatíssimo no pátio de alimentação.

— Gatíssimo é? —  indagou, o bom humor brilhando ainda mais em seus olhos.

— Sim, muito gato, alto, e forte também.

Rindo, Edward a puxou para o sofá até que ela estivesse deitada de frente para ele. Puxou-a pela cintura até que se encaixassem em todos os lugares possíveis, entrelaçando as pernas e respirando o mesmo ar.

— Adorei almoçar com você — falou entre beijos. — Sinto saudade desse rostinho quando fico muito tempo sem te ver.

Bella riu do drama dele, mas se solidarizava com sua dor. Se pudesse passava o dia todo, todos os dias, exatamente como estavam agora, conversando abraçados, largados no sofá.

— Vem, vamo esquentar o jantar. — Bella chamou, mas não moveu um centímetro da posição em que estava.

— Mais cinco minutos, ainda não matei a saudade.

Ela não resistiu e acabou ficando ali até sua barriga roncar. E então foram esquentar o jantar e depois fazer outras atividades domésticas que agora eram quase suportáveis por causa da pessoa que tinham ao lado.

Bella não achou que seu deslize sobre o advogado bonitão que ela viu na tela do computador ia realmente dar em alguma coisa. Mas estava feliz que agora tinha alguém que não só a admirava, mas a inspirava a ser uma pessoa melhor. Edward estava certo. Estavam vivendo algo muito verdadeiro e especial.

FIM.

Glossário

Conciliadora judicial: profissional da área jurídica que propõe soluções para que as partes envolvidas entrem em consenso.

Acordo: acordo judicial é uma forma mais amigável de resolução de conflitos.

Fórum: espaço físico onde está localizado o poder judiciário, as varas.

Requerente: A parte do processo que pede, solicita. A pessoa que entrou com o processo.

Sustentação oral: o momento do processo em que advogados possuem o direito de apresentar suas alegações orais no julgamento de seus recursos.

Desembargador: o juiz de segunda instância.

Vara: local onde o juiz trabalha.

 

 

 

 

  

 

 


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Notas finais do capítulo

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