Louca Inspiração escrita por Mililika, Bia Kenway


Capítulo 1
Vampiro sexy


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, Mililika aqui, quanto tempo, não? Esses dias decidi revisitar velhas histórias, agradeço Maru-Chan por um review recente em Acasos do Amor que me lembrou que nunca postamos esse spin que escrevemos logo após terminar a última fic dos Acasos. É curtinha, simples e bem gostosinha. Espero que curtam!



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Brian Carter pensava que as coisas não poderiam ficar piores, mas ele descobriu que o que está ruim sempre pode correr ainda mais para o fundo do poço e arrastá-lo junto.

Ele era um autor estreante de seriados para televisão. Até então esteve trabalhando apenas como auxiliar para outros autores e escrevendo as cenas menos importantes. No entanto, a emissora Allen ficou impressionada com o talento do jovem e encomendou uma série escrita inteiramente por ele! E foi aí que começou o seu martírio… Brian tinha muita dificuldade para se relacionar com as pessoas. Ele era muito bom em colocar as palavras no papel, mas péssimo para se impor e dizê-las em voz alta, logo todos passavam por cima dele e o impediam de dizer o que estava pensando.

Toda a pressão, aliada às críticas ao seriado – algumas muito boas, que entretanto o deixavam nervoso e com o sentimento de que precisava melhorar e se superar a cada episódio, e outras nem tanto, afirmando que os momentos de romance do seriado eram rasos e frívolos – , começou a levá-lo ao colapso.

Fazia dias que não conseguia escrever nada! Ele sentava diante da tela em branco do computador e... Nada. Vazio. Sua mente não conseguia produzir, criar. E, mesmo tentando se concentrar e forçar qualquer coisa, o sentimento apenas piorava, porque parecia que aquele blackout era eterno e que ele não mais sabia como escrever um programa de televisão. Só para piorar, a única pessoa que lhe dava apoio incondicional havia deixado a Allen e, no momento, estava desaparecido pelo mundo com o namorado artista plástico. Brian se sentiu abandonado por Thomas.

Com um suspiro, levantou e ficou dando voltas pelo quarto, ora olhando para a tela do computador, ora para a janela do quarto. Morava em uma rua silenciosa e pacata, então não havia nenhum movimento para lhe distrair naquele momento. Enraivecido, o autor começou a atirar os livros que estava usando como fonte de pesquisa no chão e, de dentro de um deles, caiu um cartão.

Dawson Cavile

O vocalista havia dito para ligar qualquer dia desses. Brian tentava não pensar no cara atraente de voz rouca que flertou descaradamente com ele na festa, mas volta e meia se flagrava pensando nele.

Sem ponderar muito para não achar mil desculpas para não fazer aquilo e tomado pelo impulso e sentimentos fortes, Brian discou o número do cartão e, antes que pudesse se arrepender do que havia feito, a voz de Dawson soou do outro lado da linha.

— Oi. – Murmurou com a voz falha. Brian nem sabia há quanto tempo estava trancado sem falar com ninguém e sua voz quase não saiu de tão rouca que estava. – Sou eu... O Brian. Não sei se você se lembra de mim...

— Brian? Brian, Brian, Brian... – Dawson perguntou do outro lado da linha com jeito de quem se esforça para lembrar. – O da noite de sábado? Não espera, esse era Bill... Ou Brian? Olha, eu não me lembro de ter te passado meu número, como você conseguiu? – A voz não acusava, mostrava apenas curiosidade. – Ah, não importa. Quer vir para o meu apartamento? Estou meio livre e adoraria repetir a dose. 

Brian se sentiu um idiota por ter ligado e por ter tido esperanças de que Dawson fosse se lembrar dele. Era mesmo um imbecil iludido, como seu pai adorava apontar sempre que tinha oportunidade.

— Nós não tivemos uma “primeira dose” pra ser repetida. – Disse lentamente, com uma vontade louca de encerrar a ligação, mas sem conseguir. A voz de Dawson era tão boa de ouvir... Brian se sentiu relaxado como não se sentia há dias e ele sabia que isso era grave porque aquele cara não valia o chão que pisava. – Você disse que eu poderia ligar para me mostrar como você consegue inspiração. Eu estou a ponto de explodir e mandar o seriado para o inferno.

— Ah! – Dawson soltou com ar de surpresa. – Você é o ruivinho bonitinho da Allen! – Parecia existir uma sugestão de sorriso em seus lábios, apenas pela forma com que falava. – Nunca pensei que ligaria, ainda mais depois de tanto tempo. Já tinha imaginado que meu cartão havia parado no lixo. – Ele brincou divertido, de maneira leve. – E eu vejo o seu seriado, não pode mandar para o inferno, é ótimo! Eu adoro. 

— Eu estou passando por um bloqueio. Desaprendi a escrever! – O rapaz murmurou desesperado e com certeza estava da cor dos seus cabelos com aquele “bonitinho da Allen” que saiu da boca de Dawson.

Brian mordeu o lábio inferior imaginando a expressão do cantor e, certamente, nem de longe faria jus ao real olhar que Dawson estaria dando a ele caso estivessem cara a cara naquele momento. A forma como o cantor o olhou naquela noite na festa o deixou se sentindo fraco e exposto, mas não de uma forma ruim. Na verdade foi bem o contrário. E era por isso que Brian tinha tanto medo e relutou tanto para entrar em contato.

Certamente ele não teria feito nada se não fosse aquela crise. Agiu por um impulso que dificilmente teria vencido se o ruivo estivesse no total controle das suas ações.

— E o Sr. Thomas pediu demissão da Allen! Ele era o único que me apoiava lá! Estou sozinho! – Lamuriou-se. – Preciso da sua fórmula mágica de inspiração!

Dawson riu da maneira dramática do rapaz ao celular.

— Você parece muito estressado. Minha “fórmula mágica” é apenas sair para espairecer e se divertir um pouco. – Falou tranquilo. – Eu fui convidado para ir numa boate que abriu há algumas semanas. Vou tocar lá porque é de um velho amigo e quero dar esse up no investimento dele. Você quer ir? Aposto que me ver cantar vai te ajudar a se inspirar. – Falou num tom convencido e brincalhão. 

— Sa... Sair? – Brian murmurou. Falar com Dawson pelo telefone era seguro. Encontrar Dawson era perigoso. Mas talvez fosse disso que o autor estivesse precisando. Um pouco de adrenalina na sua rotina monótona. Uma boa chacoalhada poderia fazê-lo pegar no tranco. – Tá. – Respondeu, por fim, esperando não se arrepender por estar cedendo a mais impulso. – Eu te encontro lá. Me diz o endereço.

— Que tipo de encontro você acha que eu sou? Obviamente eu vou te pegar em casa. Me passa seu endereço. – Pediu o cantor. Brian relutou inicialmente, mas acabou cedendo.

Dawson então pegou o carro e chegou ao lugar onde o rapaz morava em Toronto. Era uma quitinete em um bairro extremamente tranquilo. Dawson achou tedioso e chato morar ali, certamente não ajudava em nada para inspirar alguém, certo? Apesar de ser bonito e tudo mais. 

Ele bateu à porta do lugar e, quando Brian abriu, ele quase caiu para trás. O ruivinho estava com o cabelo todo desgrenhado, barba rala por fazer cheia de tufos e falhas, uma cara de zumbi esfomeado e um pijama esfarrapado que ele provavelmente usava desde os quinze anos de idade, de tão carcomido parecia. Além disso, o quitinete estava uma zorra de tão bagunçado e o loiro chegou a ficar com medo de entrar ali dentro e tropeçar em um rato.

— Caralho, o que você andou fazendo nos últimos meses? Além de destruir seu apartamento e não tomar um banho, claro. – Ele se inclinou para frente e cheirou o pescoço do ruivo, mas não estava com um cheiro ruim. – Hm, parece que banho você tomou, só faltou todo o resto.

Brian estremeceu e levou uma das mãos ao pescoço.

— Não sei por que, mas você acabou de me dar uma ideia de um seriado de vampiros. E dos que não brilham no sol. – O ruivinho disse com os olhos arregalados enquanto olhava para Dawson como se ele fosse seu salvador. Menos de trinta segundos, e ele já havia despertado o seu desejo de escrever de novo. – Talvez eu tenha salvação. – Disse todo emocionado. – E eu estive trabalhando. Meio que esqueço de comer ou de fazer qualquer outra coisa. – Falou sem jeito enquanto olhava, envergonhado, para a baderna que a quitinete estava. – Mas eu estou pronto para ir. Tomei banho e coloquei uma roupa confortável. – Sorriu.

Dawson fez uma expressão de pavor.

— Como assim você acha que está pronto pra ir com essa cara e com essa roupa? – Pegando-o pela mão, arrastou-o até o banheiro, pegou um banco e o colocou na frente da pia. – Sente-se, eu vou fazer a sua barba e colocar o seu cabelo no lugar. Depois, vou escolher uma roupa um pouquinho mais decente para você usar. Temos tempo ainda, o lugar só abre às dez da noite, e eu subo pra tocar meia noite. – Olhou para o relógio que usava no pulso. Eram ainda oito da noite, pretendia levar o rapaz num pub antes, mas aquilo teria de ser adiado.

Brian tentou se rebelar, mas a forma como Dawson o olhou o fez ficar quieto e encolhido no banquinho. Bem, aquele era um dos problemas da sua vida: se retrair e aceitar calado tudo o que diziam.

 – Não sei se você vai encontrar algo que considere decente no meu guarda-roupa. – Murmurou. 

Ao contrário dele, Dawson estava bem mais apresentável para sair. Bem, isso considerando que o loiro usava cabelos compridos, ondulados e sem muito cuidado, mas isso o deixava charmoso. Ele tinha tatuagens pequenas, uma em cada dedo, usava três anéis por mãos, e era possível ver ainda uma tatuagem descendo pelo braço e outra se insinuando na parte superior do peito. Para finalizar, ele usava piercing de argola na narina direita. As roupas eram casuais e estilosas, bem diferentes das de Brian.

O ruivo corou ao olhar para baixo e se flagrar verificando o “pacote” que a calça justa do cantor evidenciava. Rapidamente, ele desviou os olhos e rezou para que Dawson não tivesse percebido o que estava fazendo. Mas, quando o loiro se aproximou e começou a passar a espuma de barbear por seu rosto, parado às suas costas, ele se inclinou e sussurrou sorrindo perto de sua orelha:

— Vi para onde estava olhando antes. – Cantarolou. 

— Não... Não estava olhando nada. – Brian tentou mentir, mas seu tom todo trêmulo o entregou por completo. – Eu posso fazer isso sozinho. – Tentou pegar o frasco de espuma das mãos do cantor, mas Dawson nem o deixou chegar perto. 

Com um suspiro, Brian achou melhor procurar um assunto antes que o cantor voltasse a provocá-lo.

— Quantas tatuagens você tem? – Foi a melhor pergunta que conseguiu pensar. O banheiro parecia ainda mais apertado com os dois lá dentro.

Dawson terminou de passar a espuma e então começou a passar a lâmina de maneira delicada. Incrivelmente, seus movimentos eram suaves e precisos. 

— Quinze. – Sorriu para a expressão de espanto do mais novo. – Mas só dez já são dos dedos. Dez pequenas tatuagens para cada dedo. – Deu de ombros. – Meu avô tinha uma barbearia. Aprendi com ele. Ainda que essa sua lâmina já esteja velha e não seja das melhores. – Ergueu um pouco o queixo dele e, segurando-o pela base do pescoço, continuou a retirar a barba, vez ou outra limpando a espuma na pia. – Você fica mais bonito sem barba.

Brian sentiu que estava corando de novo e murmurou um “obrigado” todo sem jeito.

— Deve doer. – Falou e recebeu um olhar inquisitivo do cantor. – Fazer tatuagens. Você tem contato com o seu avô? O meu não mora aqui. Eu gostava ir visitá-lo quando era mais novo. Ele tem uma pista de esqui, mas eu só ficava olhando de longe porque meus avós tinham medo que eu caísse e me machucasse caso tentasse esquiar. Eles diziam que eu me quebro fácil.

— Você tem um jeito meio frágil mesmo. – Dawson ponderou. – Mas isso não é motivo para impedir ninguém de experimentar coisas diferentes. Que mal há em um braço quebrado? Já me quebrei muito quando mais novo. – Sorriu com um ar de criança arteira. – E tatuagens doem um pouco, mas nada insuportável. Pena que o Leonard sumiu no mundo, ele tinha uma mão ótima para tatuagens, você poderia tentar uma. 

Com mais alguns movimentos, ele terminou de barbear o ruivo. Não era como se ele tivesse muita barba. Era uma coisa rala e cheia de buracos, mas agora ele estava com o rosto limpo, liso e como novo.

— Ótimo, agora os cabelos. Você tem uma tesoura?

Brian girou no banquinho e pegou a tesoura que estava guardada em uma das gavetas do móvel sob a pia.

— Sem nenhum corte. Você é bom. Eu tenho preguiça de fazer a barba e ainda me corto todo. – Comentou enquanto entregava o objeto para o cantor. Sentia o rosto mais fresco e limpo depois da barba feita. – Isso aqui. – Apontou uma marquinha no queixo. – Foi um dos cortes do tipo “muito, muito, muito feio”.

Dawson observou o corte com a testa franzida, pareceu ponderar um pouco e, então, se inclinou e beijou sobre a cicatriz. Depois simplesmente pegou a tesoura e uma escova e começou a ajeitar os cabelos do ruivo para poder apará-los. 

— Você tem que cuidar para não colocar mais marcas no seu rosto. – Disse.

Brian abriu e fechou a boca sem conseguir formular uma frase coerente. Seu coração estava batendo como um tambor dentro do peito. Foi apenas um roçar leve, mas deixou o ruivinho todo quente e nervoso. E era por isso que era perigoso estar perto de Dawson.

— Com sorte talvez eu consiga uma esposa que me ajude nesses momentos. – Falou quando conseguiu reencontrar sua voz. 

— Mas já me querendo como esposa? – Dawson perguntou absolutamente divertido e depois gargalhou da expressão vermelha e sem-jeito do ruivo. – Pronto, apenas aparei os fios, porque não sou muito bom nisso, mas já dá pra ver um pouquinho melhor do seu rosto. Agora, roupas. – Segurou-o pelo braço e o ergueu. Num movimento rápido, passou um braço pelas costas de Brian e outro por trás das pernas, pegando-o no colo. – Desculpe meu jeito feminista, marido, mas hoje os tempos mudaram e decidi que está na hora da esposa levar o marido pro quarto. 

Ele nem precisou perguntar onde era, considerando que estavam em um quitinete. Levou Brian para lá e então o jogou na cama. 

O autor arregalou os olhos e nem tinha mais como continuar corando porque havia chegado no limite do “fogo no rosto”. Ele olhou Dawson começar a revirar o seu guarda-roupa e quis se esconder embaixo das cobertas quando o cantor falou para ele ir se livrando do que estava vestindo.

Com as mãos trêmulas, abriu o botão da calça e depois tirou a blusa jogando as peças de roupa no chão ao lado da cama. Ficou só de cuecas, vermelho feito um tomate, enquanto esperava pelas roupas. Quando Dawson achou uma calça jeans, um sapato e uma camisa menos velha, ele entregou ao ruivo. Depois felizmente achou bons casacos ali, afinal, estava frio lá fora. 

— Pelo menos os seus casacos são bons. – Dawson pegou um deles e o jogou na cama também. Ele se apoiou no parapeito da janela e cruzou os braços, observando o mais novo se vestir. – Você emagreceu nesses últimos meses também. Naquela festa, estava com mais bunda. – Comentou displicente. 

Brian mordeu o lábio e começou a calçar os sapatos. Era bem claro que seu corpo não excitava Dawson.

“Não que eu tivesse intenção que excitasse mesmo...”, se repreendeu.

— Você devia estar um tanto bêbado e viu mais bunda onde só existe uma tábua de passar. – Falou fingindo indiferença pelo comentário do cantor. – Está muito difícil lidar com as pessoas da Allen sem o Sr. Thomas por lá. Ele e o Leonard me mandaram um cartão um dia desses... Falaram para eu não comentar com ninguém, mas você é amigo do Leonard então acho que não tem problema. – Balançou discretamente os ombros. – Eles estavam na Tailândia e disseram que não tem data de retorno, mas que o Leonard vai continuar mandando as pinturas para o seriado.

Dawson se aproximou de Brian e, segurando-o pela cintura por trás, firmou-o contra seu corpo e desceu uma mão, que apalpou em cheio uma das nádegas do ruivo.  

— Não exagere. Se fosse uma tábua de passar, eu não estaria enchendo a mão com a sua carne agora, não é? – Perguntou apertando um pouco mais para deixar suas palavras bem claras. Depois deu um tapa naquele glúteo e se afastou, como se não tivesse feito nada demais. – Estou com sede, vou ir pegar algo na sua geladeira. – E caminhou para fora do quarto.

Em completo choque, Brian viu Dawson se afastar com aquele andar desleixado e tranquilo. O autor gemeu e respirou fundo ao sentir que estava duro. Não podia aparecer perto do cantor daquele jeito. Depois de algumas respirações longas e pausadas e de pensar em todos as vezes em que se vira obrigado a ir às reuniões da Igreja que seus avós frequentavam, Brian conseguiu controlar o próprio corpo.

— Você só vai encontrar água. Se quer algo mais forte, temos que ir. – Brian avisou quando o encontrou fuçando na geladeira. Na verdade, ele nem sabia se ainda tinha água porque ele, com muita frequência, se esquecia de encher as garrafas.

Mas Dawson encontrou uma garrafinha com água e a abriu, pondo-se a beber.

— ‘Tava com sede mesmo, mas claro que pretendo encher a cara hoje. – Sorriu de lado. – Mas não se preocupa que eu raramente fico bêbado. Já bebi demais nessa vida pra perder as estribeiras por conta de um pouco de álcool. Então se você quiser beber, eu estarei de olho para que você não cometa nenhuma besteira. Só se for alguma besteira comigo, aí eu não vou me opor. – Piscou um olho.

— Eu não bebo. – Brian murmurou. – É contra a religião dos meus avós.

— Não me importo com seus avós. Me importo com você. Se é a sua religião, eu respeito. – Dawson largou a garrafinha na pia e estalou o pescoço. – Apesar de eu achar uma bobagem deixar de fazer certas coisas por religião, mas hei, essa é a minha opinião. – Deu de ombros. 

— Eu bebi cerveja uma vez escondido. Estava na escola e ficaram rindo porque eu não bebia como os outros. – O autor confidenciou. – Mas eu detestei o gosto. Desde então eu nunca mais tentei beber nada. Não foi bem pela religião... Foi mais questão de não gostar mesmo. Talvez hoje eu experimente alguma coisa, mas bem fraquinho porque eu nem sei o que faria bêbado.

Se imaginou subindo em uma mesa, tirando a roupa e estremeceu enquanto fazia uma careta.

— Podemos comprar um drinque doce para você. – Dawson cogitou. – Descobriremos lá. Vamos? – Se adiantou e fez sinal para o ruivo. – Está na hora de te conseguir alguma inspiração.

Brian acompanhou Dawson até a porta e a fechou ao sair. Já dentro do carro, ele colocou o cinto enquanto o cantor dava partida. Ele percebeu que não conhecia muito da carreira de Dawson.

— Você já lançou quantos CDs? – Perguntou, procurando um assunto em um terreno seguro. – Com esse negócio de Internet deve ser difícil... Acho que vende mais on-line, né? No itunes ou algo assim.

— Minha banda começou a fazer sucesso recentemente... Temos três CDs, poucas vendas nos dois primeiros. Uma melhora no terceiro, e agora muitas vendas online e vários acessos no spotify e youtube desde que algumas músicas se tornaram trilha sonora do seu seriado e alguns seriados e filmes. Na próxima semana sairemos em turnê, pode-se dizer que estou de folga até lá. – Contou de maneira animada. – Quando começamos a banda, não pensávamos realmente em seguir a carreira profissional. Para ser sincero... Éramos apenas quatro adolescentes drogados, sem rumo, sem família e sem juízo. 

— Drogado? – Brian arregalou os olhos. – Quer dizer... Drogado? – Repetiu sem conseguir formular uma frase inteira. – Mas... Você ainda... Ainda usa essas coisas? – Não quis soar como se estivesse censurando. Só se preocupava porque sempre ouvia falar de overdoses que levavam as pessoas do meio artístico cedo demais e, bem, porque aquelas coisas não faziam bem pra ninguém.

Dawson suspirou.

— Um de nós morreu recentemente de overdose, éramos cinco. Desde então, meio que diminuímos o uso. Não vou mentir, fumo maconha e cheiro cocaína ainda, quando fazemos turnê... Bem, foram anos de vício, mas comparado a antes... – Ele riu, mas havia certa amargura na voz. – Comparado a antes nós mal usamos. Para ser sincero, eu gostaria de parar completamente, mas é difícil... Em certos momentos a falta é grande demais. 

— Eu posso ajudar! – Brian prontamente se candidatou enquanto colocava a mão sobre a coxa do cantor e o fitou com expectativa. – Não sei como... Talvez você me ligando quando estiver com vontade de usar ou algo assim. Eu ficaria feliz em ajudar já que você está me ajudando.

Não que achasse que estava devendo um favor nem nada. Faria aquilo com muito gosto. Se conseguisse fazer Dawson largar aquelas porcarias se sentiria uma pessoa muito mais útil.

— Aliás isso me dá uma ideia... – Murmurou pensativo já traçando um novo plot para o seriado. 

— Vejo que estou sendo um poço de inspiração. – Dawson brincou. – Talvez eu tenha que te ligar muitas vezes durante a turnê. 

— Pode ligar quantas vezes forem necessárias. Não me importo. Ficarei feliz em ajudar. – Brian falou num tom sincero e com um sorriso gentil. – Você é uma pessoa interessante como modelo para algumas histórias. Talvez eu escreva a história de vampiros e aí você faz uma ponta estreando como ator. Ou eu posso fazer o roteiro para algum dos seus clipes. Se vocês quiserem, claro.

— Eu ator? – Dawson riu da ideia. – Nem pensar. Não consigo ser falso, só consigo ser eu mesmo. Chegamos. – O loiro estacionou rapidamente e desceu. Quando contornou o carro, pegou Brian pela cintura e começou a guiá-lo em direção à fila da boate. – Ainda não abriu, mas podemos entrar antes disso. E sobre escrever um roteiro para algum clipe, posso verificar com o grupo, Jean é quem mais se envolve nessas coisas, eu apenas sei de escrever e cantar as minhas músicas. 

— Você daria um bom vampiro. – Brian murmurou todo sem graça por estar sendo conduzido daquela forma pelo cantor, mas não tentou se afastar. Ao contrário. Inconscientemente, seu corpo se moveu ainda mais para perto dele. – Um vampiro sexy. – Pigarreou ao perceber que se continuasse falando diria alguma bobagem. – Eu gosto de histórias de terror, mas os autores com quem eu trabalhei antes não desenvolviam esse tipo de história e a emissora me encomendou um seriado mais introspectivo e realista, mas na próxima vez vou fazer algo que eu quero.

Falar na teoria era fácil. Quando ele estivesse encurralado pelas pessoas da emissora nem conseguiria abrir a boca, mas não custava nada sonhar que um dia conseguiria.

Enquanto Brian falava, Dawson simplesmente ganhou passagem e eles entraram. Assim que o ruivinho terminou o que dizia, o cantor o empurrou contra um canto escuro próximo da entrada da boate e prensou-o com o corpo contra a parede. Seus dentes afundaram de leve no pescoço do autor.

— Vampiro sexy, huh? Quem sabe eu possa treinar isso com você e de quebra te dar mais inspiração para esse novo seriado? – Voltou a roçar os dentes no pescoço de Brian, pressionando contra a parede e segurando-o firme pela cintura.

A respiração de Brian travou e ele arregalou os olhos enquanto colocava as duas mãos no peitoral de Dawson. Ele não era do tipo super forte, mas havia alguns músculos ali. Aos poucos o ruivinho foi relaxando, suas pálpebras tremularam e ele inclinou o pescoço para o lado oferecendo toda a extensão para que Dawson fizesse o que ele bem entendesse.

Ou pelo menos Brian teve esse pequeno lapso antes de ficar todo tenso e nervoso de novo.

— A... Acho melhor mantermos nossa relação apenas como dois amigos que se ajudam sem qualquer segunda intenção. Não vamos fazer nada que torne estranho. – Conseguiu falar.

— E desde quando sexo torna as coisas estranhas? – Dawson riu contra o pescoço do ruivo. – Só as torna mais divertidas. – O mordeu de leve de novo. 

Um gemidinho escapou dos lábios de Brian, que se sentiu mortificado por estar cedendo tão fácil à pegada de Dawson. Bem, não era como se fosse super experiente nesse assunto. Crescendo em uma família tradicional, não teve muitas oportunidades para viver tais sensações antes. Havia perdido a virgindade com um primo de terceiro grau em uma das férias que passou na casa do avô. Era tarde, os dois estavam sozinhos tomando chocolate quente e se esquentando diante da lareira e acabou rolando, mas depois disso seu primo foi embora para um internato e Brian só o viu anos depois no casamento dele com uma garota que ele conheceu no exterior enquanto esteve estudando. Brian sabia que o que aconteceu havia sido apenas um devaneio de madrugada, mas mesmo assim se sentiu um idiota por ter alimentado esperanças de que um dia o primo voltaria e eles ficariam juntos. Coisas assim só aconteciam em livros e seriados mesmo.

Então sua vida sexual se resumia a uma vez há muito tempo atrás e brincadeiras com as mãos. Logo, ele estava bem carente e sabia que se Dawson insistisse não conseguiria resistir.

— Você não tem que ir passar o som ou coisa assim? – Perguntou um pouco mais desesperado na tentativa de afastá-lo.

Dawson se afastou com um sorriso no rosto e passou a mão pelos cabelos compridos, colocando-os para trás.

— Não. Se esqueceu que eu só toco mais tarde? Nem abriu isso aqui ainda. – Rolou os olhos. – Não vou fazer nada que você não queira, então não precisa buscar por desculpas. É só dizer “não quero” e eu manterei minhas mãos afastadas. – As ergueu como quem se rende. – Que tal irmos no bar ver o que você pode beber para começar bem a noite?

Brian suspirou aliviado. Não sabia se queria ou não. Estava confuso, mas o certo é que não queria parecer um desesperado e se continuasse sendo prensado daquele jeito, com aquela pegada de Dawson, era um desesperado ao cubo que iria parecer.

— Isso. Beber um pouco. – O autor disse enquanto puxava Dawson pela mão até o barzinho. 

— Joshua! – Dawson cumprimentou ao ver o garoto de cabelos azuis preparando o bar para a noite. Ele foi até o garoto, pegou-o pela cintura e o ergueu no ar, abraçando-o apertado. Joshua riu com o jeito efusivo do loiro.

— Dawson! – Falou o rapaz. – Não achei que chegaria antes da meia noite! Você adora se atrasar para os seus shows! – Censurou-o.

Dawson abriu um sorriso culpado e coçou atrás da cabeça. 

— São só alguns minutinhos de atraso...

— Vocês famosos... – Joshua balançou a cabeça em negativa. Depois, pulou para o lado interno do bar e pegou dois copos. – Bem, o que posso servir para vocês dois essa noite? 

— O que tem de drinques? Brian aqui não é muito de cerveja e tem baixa tolerância para álcool. – O cantor passou um braço pelos ombros do ruivo, apertando-o de leve. 

— Ah! Tem vários! Deixa eu ver... Pra você, eu recomendaria um coquetel de frutas. Com álcool, claro. Mas eu faço de um jeitinho que você mal vai sentir. Pra começar é uma boa. – Piscou um olho para Brian.

Brian estava mais ocupado olhando para o cabelo de Joshua do que ouvindo realmente o que ele estava dizendo.

— Ahm... Eu nunca bebi nada fora cerveja então faça bem fraquinho, por favor. Não quero dar um show em cima do balcão depois. – Falou ainda admirado com a coragem do rapaz em pintar o cabelo de azul. Bem, Joshua era todo cheio de detalhes como piercings, brincos e tatuagens coloridas, então o cabelo azul era só mais uma coisa para chamar a atenção no visual dele.

— Deixa comigo. – Joshua se virou e começou a preparar tudo com grande habilidade.

— Josh é um bartender, garçom, atendente de quase todos os lugares que você possa imaginar em Toronto. Cada semana ele está em um pub, ou boate diferente. É muito requisitado. – Dawson contou para o ruivo. – É adorado por todo mundo.

— Não exagere. – Joshua revirou os olhos enquanto preparava o coquetel. Para Dawson, ele empurrou uma garrafa pequena de cerveja gelada. – Eu apenas gosto de me manter em movimento.

— E entre tudo isso ele ainda faz faculdade de enfermagem na universidade pública de Toronto, não lembro o nome. – O loiro deu de ombros e virou um gole da cerveja. – Além disso, o Trevor, baterista da banda, é apaixonado por ele, mas vive levando tocos.

— Ai, mas isso virou sessão de fofocas sobre a minha vida? – Josh ficou com as orelhas vermelhas com o último comentário. Com uma velocidade surpreendente, ele terminou o drinque e o entregou para Brian. – Ninguém nessa banda do Dawson presta, nem o Dawson, então tome cuidado. – Sussurrou para o ruivo, mas com um ar de brincadeira, e mostrou a língua para Dawson quando este reclamou de suas palavras. 

Brian tomou um golinho do drink enquanto pensava que Joshua não estava lhe contando nenhuma grande novidade. Dawson devia ser o primeiro na lista do “não presta” liderando com folga para o segundo colocado.

— Isso está muito bom! Dá pra perceber o motivo pelo qual você é tão requisitado. – O ruivinho exclamou lambendo os lábios. – E facilmente me deixaria bêbado porque eu beberia vários sem nem perceber. Mas estou aqui a trabalho e preciso me manter sóbrio. Sou escritor. Estou procurando a minha inspiração perdida. – Contou para Joshua. 

— Sério!?! – Joshua perguntou totalmente interessado. – O que você escreve?!

Brian começou a contar e os dois se perderam no tempo e no papo. Claro, Joshua continuava organizando o bar e, como Dawson lhe dera uma nota alta e o mandara, sem que Brian escutasse, para que continuasse servindo bebidas, o ruivo continuou ganhando drinques durante a conversa. Dawson se afastou e foi atrás do dono do lugar, e, algum tempo depois, a boate enfim abriu e começou a encher de gente.

Outros três bartenders apareceram para ajudar Joshua, mas mesmo assim o garoto não conseguiu mais dar tanta atenção para Brian.

— Ah, deixa eu só te dizer... Aproveita bem a noite. Dawson não presta, mas já ouvi de muita gente que ele é ótimo de cama. Acho que você precisa experimentar mais, sabe... Eu não quero ser grosso, eu adoro o seu seriado! Mas as cenas mais... eróticas... São meio... Forçadas. Não me odeie por falar isso! – Josh juntou as mãos implorando. – Boa sorte essa noite! – Ele exclamou e teve de ir atender mais clientes.

Brian continuou sentado no balcão e teria dito para Joshua que, mais uma vez, ele não estava lhe dizendo nenhuma novidade. Ele não era a primeira e provavelmente não seria a última pessoa a fazer uma crítica quanto às cenas mais quentes do seriado. Ou, no caso, da falta de quentura nelas. Esse era um dos problemas que lhe tirava o sono.

Um pequeno soluço escapou dos seus lábios e só então o rapaz percebeu que já havia bebido além da conta.

— Culpa desse negócio docinho. – Murmurou um pouquinho embriagado. Não estava em uma situação de fazer nada constrangedor, mas também não estava mais tão lúcido.

— Olá. – Um moreno sentou no banquinho ao lado dele e sorriu. Era um sorriso bonito, mas nem chegava aos pés do sorriso de cafajeste de Dawson. – Não me lembro de tê-lo visto por aqui. Posso pagar um drink?

— Eu aceito uma água. – Brian falou após hesitar um pouco.

— Uma água, por enquanto, então. Meu nome é Kaio. – O moreno estendeu a mão e Brian o cumprimentou.

— Brian. – Se apresentou também.

Os dois começaram a conversar e Brian descobriu que Kaio era advogado. Possuía um escritório com um amigo e costumava vir sempre beber nas sextas.

— Dei sorte hoje. Geralmente as conversas não são tão boas. – O advogado disse com um sorriso charmoso. Brian sentiu as bochechas pegando fogo e olhou para as próprias mãos todo sem jeito. Era estranho estar recebendo flertes daquele jeito.

Dawson viu a interação a certa distância e sorriu com aquilo. Ele se aproximou sorrateiro e, colocando uma mão no ombro de Brian, se inclinou e falou no ouvido dele:

— Já que você não quer nada comigo e acha melhor ficarmos apenas como amigos, deveria aproveitar as oportunidades da noite. Pessoas diferentes e desconhecidas também ajudam muito com inspiração. Se precisar de mim, estarei aqui pelo bar. – Deu dois tapinhas no ombro do ruivinho e depois foi se sentar um pouco distante, na ponta do bar, para beber um pouco mais. Logo já batia papo com algumas pessoas e ria com elas.

Brian estremeceu quando Dawson sussurrou na sua orelha daquele jeito e quando se virou para olhar feio e dar uma bronca ele já havia se afastado.

Não é que ele não quisesse nada com ele. Ok, ele havia dito que não, mas seu corpo estava implorando que ele disse que sim. O advogado era bom de papo e tudo, porém não era como Dawson. Brian não sabia o que era, mas havia algo no cantor que o chamava, que o atraía e o fazia querer ficar perto dele. Ele era sexy sim. Contudo não era apenas isso. Brian, em seu estado meio embriagado, não conseguia pensar muito no assunto.

Kaio, que havia ido ao banheiro, retornou naquele momento e convidou Brian para dançar.

— Eu não sei dan... – Brian tentou recusar, mas acabou sendo levado para a pista antes que pudesse fugir.

Totalmente sem jeito tentou acompanhar os movimentos de Kaio e se sentiu um peixe fora d’água.

— Você não está gostando muito disso. – Kaio disse enquanto segurava Brian pela cintura.

— Eu não tenho muito jeito para dança... – O escritor murmurou sem jeito.

— Você parece não perceber o poder que possui, Brian. Está me deixando doido com esse jeitinho tímido. – O advogado respondeu aproximando seus lábios dos do ruivinho, as bocas quase se roçando. Os olhos de Brian acompanharam o movimento e ele ofegou baixinho quando Kaio o beijou.

No começo foi apenas um roçar tímido, como quem experimenta se deveria continuar ou não. Kaio apertou o enlace em volta da cintura de Brian e o menor passou a mão em volta da nuca do advogado enquanto entreabria os lábios e permitia que o beijo se aprofundasse. E Kaio não perdeu a oportunidade.

Brian sentiu as pernas fraquejarem à medida que o beijo se intensificava.  

Sem ar, o ruivinho interrompeu o beijo e Kaio aproveitou para guiá-lo para fora da pista até um canto mais reservado e escuro. O advogado voltou a beijá-lo com ardor, mal dando tempo para que Brian pensasse em qualquer coisa. Ele nunca havia sido beijado de tal forma antes. Nem de longe o seu primo foi tão quente na noite em que perderam a virgindade. Eram dois adolescentes inexperientes e a transa em si não durou muito. Os beijos trocados naquela noite não chegavam nem aos pés do beijo que estava trocando agora com aquele desconhecido.

As bocas se desencontraram e Brian, trêmulo, respirava fundo tentando recuperar o ar. Os corpos estavam colados e ele podia sentir o hálito quente de Kaio em seu pescoço. Estremeceu quando a língua dele serpenteou por seu pescoço, lambendo a pele suada, enquanto os dedos se infiltravam pela blusa e deslizavam por seu abdômen.

Porém, logo as mãos dele não se contentavam mais apenas com o abdômen e começaram a agir ainda mais: elas apalpavam e apertavam onde Kaio conseguia tocar. Brian começou a se perguntar se o cara era um polvo porque ele parecia ter sete mãos.

Brian sentiu o corpo ser pressionado com ainda mais força contra a parede e gemeu. Ele conseguia sentir a ereção de Kaio pressionada contra a sua perna e isso o deixou nervoso. Ele próprio estava excitado com o que estava acontecendo.

— Vamos para o meu apartamento. – Kaio sussurrou próximo à orelha do ruivinho e isso o fez entrar em pânico.

Dar uns beijos e amassos com um desconhecido tudo bem, mas ir para o apartamento dele e... Não. Não mesmo.

Respirando com mais dificuldade e sentindo-se em meio a um princípio de crise de falta de ar que às vezes o atacava, Brian espalmou as mãos no peito de Kaio e o afastou.

— Nós podemos ir para outro lugar. Não precisa ser no meu apartamento. – O advogado percebeu que havia dito algo errado, mas não adiantou.

Em pânico e com medo do que poderia acontecer caso dissesse “sim”, Brian murmurou um “desculpa” e saiu praticamente correndo, às cegas, e sem olhar para trás.

XxxX

Em outro lugar do barzinho, em uma das mesas, um loirinho olhava feio para o irmão mais velho.

— Efrem, xô, xô! – Nikolay fez um sinal para o irmão, expulsando-o da mesa. – Não seja grudento! Vá se misturar!

— Eu vim morar aqui para ficar mais próximo do meu irmão e ele me trata assim. – O príncipe mais velho suspirou em tom dramático.

— Não sei se você percebeu, mas você estásobrando aqui! – Niko disse enquanto apontava para si e para o namorado.

Só para provocar o irmão mais velho ainda mais, Niko pulou para o colo de Conrad e o abraçou pelo pescoço.

— Estamos tentando namorar aqui. Eu tive muito trabalho para convencer o Conrad a sair de casa! – O loirinho fez um bico típico de uma criança birrenta.

— Eu não estou impedindo que vocês façam nada. – Efrem retrucou num tom aparentemente displicente, mas seus olhos diziam para Conrad “encoste nele na minha frente e não vai sobrar muito de você para contar a história”.

Conrad segurou a cintura do loirinho, mas obviamente não se atreveu a fazer mais nada além disso, não com Efrem o encarando daquela maneira mortal. 

Você deveria dar uma circulada, Efrem. Aproveitar para conhecer gente nova. - Conrad falou e se sentiu quase cínico. Ele bem que queria aproveitar a festa com Niko, já que o pentelho... digo, o namorado dera um jeito de arrastá-lo até ali.

Efrem lançou um olhar irritado para o "cunhado".

— Pra quem não queria vir você parece bem ansioso para se livrar de mim.

— Deixa de ser chato, Efrem. A gente só quer namorar um pouco. Dá uma circulada e volta depois. E pelo amor de Deus não vai chamar a atenção demais. Não queremos fotos amanhã em todos os tablóides - Niko o avisou.

— Eu sei, eu sei. - Efrem terminou seu drink e enfiou as mãos no bolso antes de se afastar do casal. 

— Enfim sem vela por perto. - Niko sorriu para Conrad ainda bem acomodado no colo dele. - Agora você pode me beijar e deixar todos da festa morrendo de inveja e não ser morto pelo Efrem por estar colocando mais do que as mãos em mim.

Conrad riu deixando sua testa encostar à da Niko.

Os outros vão sentir inveja é de mim por ter uma gostosura que nem você nos braços. - Abraçou-o apertado. - Só você pra conseguir me tirar de casa pra vir nessas festas.

— Eu adoro ficar deitado com você só nos curtindo enquanto assistimos alguma coisa em casa, mas também gosto de te exibir um pouquinho. - Niko mordiscou o lábio inferior do namorado. - Saber que o cara mais quente e bonito da festa tá comigo e é todo meu... Além disso,  desde que o Efrem chegou ele anda atrapalhando os nossos momentos a sós em casa. Ele queria fazer maratona de Game of thrones de  novo. - O príncipe suspirou. - Adoro o meu irmão, mas ele não me engana com essa conversa de que veio porque sente a minha falta. Ele quer alguma coisa. Acho que quis fugir também. Sei lá.

Conrad sorriu e acariciou o rosto do loiro. Ele era uma peste, mas também era fofinho demais falando aquelas coisas. Beijou-o e depois desceu os lábios para beijá-lo no pescoço. 

Acho que seu irmão também queria mais liberdade. - Concordou. - Mas agora que nos livramos dele, vamos dançar um pouco. Eu também quero exibir o rapaz mais sensual da festa na pista de dança. - Brincou.

Niko sorriu de uma forma maliciosa e puxou Conrad pela mão até a pista.

Acho  que quem vai acabar nos tablóides amanhã somos nós porque não vamos passar despercebidos - O príncipe disse todo convencido. - Com sorte o Efrem encontra alguém e não volta pra casa hoje. Aí eu posso fazer um show pra você sem medo que ele entre no quarto do nada dizendo que quer pizza ou companhia para jogar video game no meio da madrugada. 

Sim, Efrem fazia isso para impedir que Niko e Conrad fizessem qualquer coisa além de dormir.

Conrad acompanhou Niko e o abraçou por trás quando entraram na pista. O loirinho começou a se mover daquela maneira extremamente sensual, que lembrava o professor dos momentos em que ele o cavalgava na cama... Conrad definitivamente desejou que Efrem achasse alguém e, também, achasse algum lugar para morar que não o seu apartamento.
— Se ele não encontrar alguém, vamos voltar sem ele e trancá-lo do lado de fora. Não tem erro. - Conrad falou, acompanhando os movimentos de Niko, que se esfregava contra seu corpo de maneira sensual, ainda que discreta.

Conrad ainda morreria cedo por conta daquele loiro...

De longe, Efrem girou os olhos ao ver a forma como seu irmão estava dançando com o namorado. Os dois estavam seduzindo todos ao redor e, ciumento como era com o caçula, o príncipe mais velho quis ir até lá e acabar com a raça de Conrad.

E ele teria feito isso se em meio a sua raiva não tivesse saído andando sem nem olhar para onde estava indo e trombado com a pessoa que vinha na direção contrária, derrubando todo o conteúdo da bandeja em cima dele e do rapaz que levava a bandeja.

— Me desculpe! Eu vou pagar por isso! - Efrem pediu todo atarantado e levou um susto ao ver que era o rapaz de cabelo azul que não saía da sua cabeça desde o dia que eles se conheceram há alguns meses. - Você! Seu cabelo continua azul!

Josh piscou aturdido com a bagunça. Depois piscou algumas vezes com o comentário do cara grandão à sua frente. Que sorte que ele não quis brigar por ter derrubado as coisas nele.

Ah, eu gostei dele azul! - Josh respondeu e se abaixou para recolher o que caíra. Sorte que os copos eram de plástico. Depois se levantou e, usando o pano que estava sobre seu ombro, começou a tentar secar a camisa do grandão. - Desculpa. Mas se você pagar pelas bebidas derramadas me ajudaria muito mesmo!

Como era uma boate alternativa, voltada para o público GLTB, as roupas de trabalho de Josh eram um pouco... ousadas. Um colete aberto sem nada por baixo e uma calça colada. O menor sentiu as orelhas queimarem com a olhada descarada do loiro em seu corpo.

Efrem pigarreou ao perceber o que fazia e desviou o olhar. Mas não demorou muito para que voltasse a olhar de novo. Era tentação demais para não olhar.

Depois que voltou para Altai, após a visita que todos os irmãos fizeram a Niko, Efrem vivia em constante confusão. Ele começou a pensar na coragem do irmãozinho em assumir para todos ser gay e pensava o que ele faria se a situação fosse com ele. Então Efrem começou a prestar atenção em outros homens e, para seu choque, percebeu que gostava de se imaginar os tocando, que queria segurar o pênis de outro homem pulsando em suas mãos, que queria lamber o dorso nu de um rapaz enquanto ele se contorcia de prazer. E, sempre que fechava os olhos e imaginava, era o rapaz de cabelos azuis que estava em seus braços.

Por isso, Efrem decidiu vir para o Canadá. Dando a desculpa de que queria ficar perto de Niko (ele também queria isso, mas não foi somente esse fato que o levou até lá), veio de mala e cuia para poder se descobrir e pensar com calma sobre a situação.

— Você não lembra de mim. - Efrem murmurou enquanto segurava a mão de Josh que ainda apalpava o seu peito na tentativa de secar sua roupa.

— Ah... - Josh parou e ergueu a cabeça para olhar melhor para o grandão. - E-Eu vejo muita gente no meu trabalho, é difícil lembrar de todo mundo. E tenho uma péssima memória! Sempre esqueço as datas dos trabalhos da faculdade. - Suspirou. - Er... mas a gente não ficou em alguma noite, né? - Perguntou sem jeito. Já havia ficado com alguns caras quando estava bêbado e acordava no outro dia sem lembrar direito da fisionomia dos ficantes. Mas fazia tempo que isso não acontecia porque ele decidira se regrar e não ficar mais com qualquer um.

Efrem ficou um pouquinho frustrado por Josh não lembrar dele, mas também! O que ele queria? Foi apenas uma vez e o menor devia conhecer tantas pessoas interessantes no trabalho que não se daria ao trabalho de ficar lembrando dos que não lhe chamaram a atenção. 

Não. Só nos topamos como cliente e atendente em uma noite dessas. - Efrem disse um pouquinho amargo porque ele não havia tirado Josh da cabeça naquele tempo e foi em vão. - Quanto é pelas bebidas?  - Perguntou enquanto tirava a carteira do bolso.

— Trinta dólares. - O rapaz falou com um ar profissional. - Você tá chateado que eu não lembro de você? - Perguntou com um jeitinho manso e culpado. - Eu juro que depois de hoje não vou esquecer! - Prometeu.

— Não estou chateado. Entendo que você deve conhecer muita gente diferente no seu trabalho. - Efrem continuava um pouco chateado sim, mas o lado príncipe o fazia sorrir e fingir que estava tudo bem. - E eu sou amigo do Conrad. Ok, não bem um amigo... Estou mais para irmão mais velho empata foda do irmãozinho com o cunhado safado. - Acrescentou com um sorriso.

— O Conrad está aqui? - Josh olhou em volta. Depois a ficha caiu. - Hei, você estava com ele e o namorado aquela noite no barzinho! Tinha outros caras grandes como você! - Josh estufou o peito por lembrar. - Viu? Lembrei! E agora preciso ir trabalhar. - Ele sorriu e voltou para o bar. Precisava levar aquelas bebidas derramadas para quem as havia pedido. Sorte que ele era rápido para preparar novos drinques.

Efrem ficou lá com cara de tacho enquanto Josh se afastava. O grandão suspirou pensando no quanto aquele guri era avoado, já que saiu correndo e nem lembrou de pegar o dinheiro pelas bebidas derramadas, mas bem agora Efrem tinha uma desculpa para ir atrás dele. Só que primeiro iria dar um jeito  naquela sua blusa encharcada.

....

— Brian! - Dawson exclamou ao encontrar o ruivo não numa área descoberta da boate. Estava frio do lado de fora e o autor parecia tremer e bater os dentes já que os casacos ficaram na rouparia. - Eu estava procurando por você. O que aconteceu? - aproximou-se e o abraçou para aquecê-lo.

— Eu estava beijando o Kaio e estava gostando, mas aí ele me chamou pra ir pra casa dele e eu entrei em pânico. - Brian contou meio que no automático, enquanto abraçava Dawson de volta, mas a tremedeira do seu corpo não diminuiu. - Foi rápido demais. Beijos tudo bem... mas... mas... Não. Mais que isso...

Dawson o abraçou um pouquinho mais apertado.

— Tudo bem, tudo bem... - tentou acalmá-lo. - Não precisa se forçar a fazer nada que você não queira. Fica decidido então: sexo só comigo depois que nos conhecermos melhor. - Falou sério, mas querendo fazer uma brincadeira.

Brian se afastou um pouquinho e encarou Dawson com os olhos arregalados e a boca entreaberta, mas logo percebeu que era uma brincadeira e acabou rindo um pouco enquanto voltava a apertar o rosto contra o peito dele.

— Eu sou um idiota, eu sei. Devia ter aproveitado. Seria uma ótima oportunidade pra me inspirar para as cenas mais quentes do seriado. - Murmurou. - O beijo estava ótimo e ele tinha uma pegada que realmente me deixou querendo mais... Só que tem que ser um passo de cada vez comigo.  Ir pra cama com um estranho na primeira noite não faz o meu estilo.

— Só a pegada já deve te ajudar com as cenas quentes. Aos poucos você vai experimentando mais coisas. - Dawson falou acariciando os cabelos bagunçados do ruivo. - Mais calmo?

De forma não consciente,  Brian colou mais o corpo no de Dawson. Estava tão frio e o corpo do cantor estava irradiando calor fazendo com que Brian se sentisse bem melhor.
— Sim - O autor murmurou. - O Kaio deve ter me achado um doido por ter saído correndo daquele jeito. Ele disse que eu não percebo o poder que eu tenho... Você também acha isso?

— Poder? - Dawson não entendeu a pergunta. Ele pensou em x-man's e com certeza não era disso que Brian estava falando.

Brian afastou o rosto do peito dele para encará-lo.

— É. Ele disse que meu jeito tímido estava deixando ele louco. Acho que ele pensou que eu estava seduzindo, mas eu realmente só estava tímido e assustado. Sendo assim não é um poder. Tá mais pra defeito de fabricação.

Dawson riu do que escutou.

— Não tem nenhum defeito de fabricação. É só o seu jeito... e agora saindo da sua zona de conforto a timidez diminui. - Bagunçou os cabelos dele com uma mão novamente. - Seu jeitinho tímido, por algum motivo, faz com que eu queira cuidar de você. O que é loucura, eu não sei cuidar nem de mim. - Sorriu que nem um bobo.

— Eu acho que nunca vou conseguir deixar a timidez. - Brian falou pensativo. - Bom, mas eu "ganhei" um anjo da guarda por causa dela então tudo bem. - Disse olhando para Dawson. 

Dawson dessa vez caiu na gargalhada e demorou alguns bons segundos para recuperar o ar.

— Só você  pra me ver como anjo. Estou mais para o demônio que vai te tirar do bom caminho. - Murmurou contra a orelha dele.

— Ninguém nunca disse que queria me proteger antes. Pelo contrário. Eu sempre fui o "saco de pancadas". - Brian murmurou todo trêmulo por aquela voz rouca se Dawson na sua orelha. - Você não pode ser pior do que eles... - E estremeceu ao lembrar dos bulinadores que já passaram pela sua vida.

— Talvez eu te buline de outras formas. - Dawson brincou, mas o apertou mais firme em seus braços como que para protegê-lo do que já havia sofrido.

Brian girou os olhos, mas se afastou e sorriu um pouco. 

— Você não tem um show pra fazer? - Perguntou.

— Daqui meia hora. - Dawson deu de ombros. - Está ansioso para me ver cantar? - Ondulou as sobrancelhas.

— Estou curioso. Só vi a apresentação da festa da emissora e você estava comportado lá. - Brian falou pensativo.

— Então você está querendo me ver não comportado? - Perguntou malicioso.

— Ai. Você leva tudo para o mal sentido. - Brian resmungou e deu um saquinho no abdômen do cantor. - Só acho que você não fica tão distante no palco. Lá você parecia meio travado. Acertei?

— Era muita gente engomada naquela festa. - O loiro torceu o nariz.

Brian soltou uma risada nasalada.

— Imagina enfrentar aquilo toda semana. - Disse um pouquinho mal humorado. - Me disseram que imaginar a platéia nu ajuda... Será que serve também nas reuniões? Ou então eu deveria levar o barmen dos drinks docinhos e tomar umas antes das reuniões. - Ponderou todo sério.

— Deve ser um porre, mas tenho certeza de que com um pouco mais de confiança em você mesmo, você dá um jeito neles. - Dawson disse cheio de certeza. - Talvez uns drinques realmente ajudem. - Ponderou.

Agora Brian riu com gosto. 

— Eles me demitiriam se eu aparecesse bêbado. O único que pode fazer isso na emissora e passar ileso é o Damien Van Persen. Eu tenho que escrever muito pra chegar ao nível dele.

— Um dia você chega lá. - Dawson garantiu e lhe acariciou o rosto.

Nisso, alguém mais apareceu ali, procurando pelo cantor.

— Dawson! Precisamos de você, tem uns problemas com o som e você é o único da banda que sabe mexer nessas coisas. - Era Trevor, o
baterista.

— Vou lá ajeitar as coisas. Vou esperar você tirar a cueca e atirar em
mim no palco. - O loiro falou cheio de pose, piscando um olho, ao
soltar Brian para seguir até Trevor.

Brian abriu a boca e ficou olhando Dawson se afastar com aquele sorriso cafajeste nos lábios.

Depois que o cantor sumiu da sua vista, Brian desceu e foi direto para o barzinho. Josh estava lá todo atarantado.

— Desculpa pedir isso agora, mas preciso de uma dose mais forte. - Brian falou para o rapaz de cabelos azuis. - Só bebendo mais pra conseguir conversar com o Dawson. Ele me confunde. E, tipo, nós mal nos conhecemos!

Josh riu e preparou um drinque mais forte, dessa vez, uma caipirinha de vodka.

— Por que ele te confunde? - Perguntou interessado ao entregar a
bebida ao ruivinho.

Brian bebeu um golinho e sentiu que era mais forte, porém estava tão equilibrado o gosto do álcool com as frutas cítricas e o açúcar, que ficou também muito gostoso. Era melhor ele se cuidar, porque aquele ali, se bebesse a mais, com certeza o deixaria mais do que apenas “alegre”. 

— Eu nunca sei quando ele está falando sério ou brincando. Em 99,9% eu acho que ele está brincando. 

O ruivo suspirou e olhou para o palco ainda não iluminado. Nisso Kaio se aproximou e o segurou pelo cotovelo de leve. 

— Desculpa. Não precisa fugir. Eu não vou te agarrar daquele jeito de novo. - O advogado pediu constrangido.

— Tudo bem. Eu não deveria ter saído correndo daquele jeito. - Brian murmurou mais sem graça ainda. - Você vai assistir ao show? 

— Vou sim. Posso ficar aqui? Vou manter minhas mãos comportadas. - Kaio disse mais bem humorado depois de ser desculpado.

— Tudo bem. - Brian concordou com um sorriso tímido.

— Dawson é bastante brincalhão mesmo, mas toda a brincadeira tem um fundo de verdade. - Josh comentou, mas se afastou já que Brian agora tinha companhia.

Brian e Kaio continuaram conversando como se o beijo não tivesse acontecido e isso, aliado ao fato de que a bebida deixou Brian mais soltinho, fez com que o ruivo logo se sentisse à vontade outra vez com o advogado. 

Até Dawson e a banda subirem no palco e roubarem toda atenção de Brian.

Quando subiu no palco, Dawson procurou Brian com o olhar e o encontrou no bar novamente ao lado do cara de antes. Sorriu malicioso e piscou um olho para ele. Várias pessoas vibravam para os integrantes da "Black Paradise" e algumas garotas e garotos gritavam "Dawson, eu te amo!". O cantor apenas sorria para eles, antes que os acordes da primeira música, a de maior sucesso deles "Living in Space", começasse.

Logo, o loiro entrava na música e começava a cantar. O estilo da banda era uma mistura de rock com punk, metal, punk rock e punk metal. Antes, eram uma banda totalmente underground, mas inesperadamente o sucesso os atingira e cada vez mais suas canções entravam na lista das mais ouvidas. 

Durante o show, eles balançavam a cabeça, davam pulos, Dawson fazia coreografias engraçadas ou cheias de trejeitos, interagia com o
público e fazia algumas palhaçadas com seus colegas de banda.

— Vocês estão vendo aquele ruivo ali no bar?! - Dawson apontou na
direção de Brian, e várias cabeças se viraram na direção do autor. -
Ele precisa de inspiração para escrever cenas loucas para o seriado
dele. Vamos dar isso para ele! - Gritou e tocou a guitarra com tudo,
os cabelos esvoaçaram; uma selvageria que contagiava a todos emanava de seus movimentos.

Brian primeiro ficou com vergonha daquela multidão o olhando, mas logo caiu na gargalhada com o que o que Dawson disse e a forma como as pessoas reagiram. Certamente ele usaria aquilo no seriado. Aliás, muito de Dawson iria para o seriado. Era incrível como o cantor enfeitiçava a todos sem precisar se esforçar nem um pouco para isso. Ele tinha um magnetismo que deixava todos apaixonados.

— Parece que vocês se dão bem. - Kaio comentou. 

Depois que Dawson subiu no palco o assunto entre ele e Brian havia morrido já que o autor não tirava os olhos do cantor. 

— Ele está me ajudando a encontrar a minha inspiração. - Brian se limitou a dizer. 

Kaio não gostou de ficar de lado e tentou de todo jeito continuar a conversa, mas Brian não deu a menor trela.

Dawson estava no meio de um refrão quando uma garota subiu no palco e correu até ele, abraçando-o e tascando-lhe um beijo daqueles.
Obviamente o cantor não recusou e a beijou de volta, até fazendo graça ao curvar o corpo e pender a garota em seus braços. As pessoas foram à loucura, e de repente os seguranças tiveram que impedir outros fãs ansiosos de invadir o palco. Também foi preciso de um segurança para tirar a garota do palco depois que Dawson a soltou.

— Que sorte a minha que ainda existem pessoas de bom coração que gostam de fazer um pobre miserável feliz. - O cantor brincou ao falar novamente no microfone, e conseguiu risadas de vários, misturado a gritos indignados de que ele era lindo.

— Dawson, me come! - Alguém da plateia na pista gritou.

Os lábios de Brian se entreabriram e ele sentiu as bochechas esquentarem. Ele sentiu um frio na barriga ao ver Dawson beijar aquela garota daquele jeito e pensou que o amasso que teve naquela noite mesmo não chegou nem a um terço daquela pegada de Dawson. E Brian se viu querendo um computador urgentemente para poder escrever tudo o que estava sentindo, reproduzir aquela cena em palavras antes que esquecesse algum detalhe, mas mais do que isso... Eles se viu querendo ser pego daquele jeito. Com aquela paixão,  com aquela loucura. Dawson era um verdadeiro furacão e por onde ele passava era impossível não haver alguma comoção. 

— Eu sabia que ele se segurou no dia da festa da emissora. - Murmurou baixinho. 

— Você parece impressionado. - Kaio disse mais incomodado ainda pela falta de atenção. 

— É impossível não ficar impressionado. - Brian respondeu enquanto os seguranças continuavam tentando manter os fãs fora do palco. 

Acabou que Kaio desistiu de tentar ter a atenção de Brian naquela noite. O advogado conseguiu o telefone do ruivinho, mas jogou a toalha e acabou indo embora antes do final do show. 

Brian nem percebeu quando foi "abandonado" por seu acompanhante.

O show continuou com muita interação com o público, agitação e animação. Quando as pessoas se acalmaram um pouco, ficaram pulando e cantando as músicas mais conhecidas. Ao final do show, que durou em torno de uma hora, Dawson pulou sobre o público e foi sendo carregado, até acabar no meio da multidão. Foi uma confusão para que conseguisse se livrar, mas com muita luta ele conseguiu chegar até Brian.

— Vamos. – Pegou na mão dele e começou a carregá-lo com ele. – Se eu continuar aqui, ainda vou acabar morrendo sufocado no meio das pessoas. – Puxou o ruivinho com ele em direção a uma saída por trás do bar que os levava para o beco lateral da boate. 

Ele riu e suspirou ao sentir o ar fresco da noite encher seus pulmões. Depois, como num passo de dança, fez Brian girar ao redor do próprio corpo e acabar em seus braços, as costas coladas em seu peito. 

— Mais inspirado? – Perguntou roçando a barba no pescoço dele, logo abaixo da orelha.

Brian estremeceu e cerrou os olhos. 

— Tenho que admitir que você sabe como deixar alguém inspirado. Mal posso esperar pra chegar em casa e escrever a cena hot que estava me empacando. Aquela fã que beijou você é bem sortuda. - O mais baixo falou enquanto colocava as mãos sobre os braços de Dawson e aumentou o aperto do abraço.

— Quer a mesma sorte? – O loiro sussurrou perto do ouvido do ruivinho e virou-o de frente para si, puxando-o para bem perto, seus lábios praticamente roçando. Ele estava suado pelo esforço do show, os cabelos levemente úmidos, mas aquilo não acabava com seu charme, pelo contrário.

Os olhos de Brian estavam fixos na boca de Dawson. O ruivinho estava confuso e toda bebida que tomou não estava deixando as coisas mais claras.

— Me disseram pra tomar cuidado com você, esqueceu? - Murmurou sentindo o hálito quente do cantor em seu rosto. 

— E você está se sentindo cuidadoso hoje? – Dawson sorriu de lado, maroto.

— Nem um pouco. - As mãos de Brian seguraram a jaqueta de Dawson com força. - Por um momento eu quis ser aquela garota no palco. 

— Ainda quer? – Dawson perguntou, inclinando-se e desviando-se dos lábios do ruivinho. Sua mão afastou um pouco da camisa, e a boca parou na curva do ombro dele, sugando com cuidado um pouco da pele.

Brian ficou zonzo quando a boca de Dawson roçou a sua pele. Ele percebeu que isso sim era um poder de sedução. Ele estava ansioso e trêmulo,  mal podendo esperar pelo próximo passo do cantor. 

— Não sei. Eu tenho medo do que posso sentir. - Brian disse sincero e suas mãos,  o contradizendo, se infiltraram timidamente para dentro da blusa de Dawson.

Dawson caminhou com Brian nos braços até encostá-lo na parede da boate. Via-o trêmulo, e isso apenas dava-lhe vontade de abraçá-lo ainda mais. Segurou o queixo dele e o ergueu.

— Por quê? – Perguntou com a voz baixa, rouca. Não queria assustá-lo
como Kaio, sem intenção, fizera. — Do que tem medo?

O escritor se perdeu por um momento nos olhos tempestuosos de Dawson. 

— Medo de ficar completamente viciado em você. 

Brian não sabia se "viciado" era uma boa escolha de palavra, mas não conseguiu encontrar outra para definir a situação.

Dawson soltou um som de risada pelo nariz, junto com um sorriso leve.

— Isso não seria uma coisa ruim. – Comentou, mas, no lugar de roubar o beijo que queria daqueles lábios, se afastou e, ainda segurando-o pela mão, levou-o em direção à rua principal. – Vou te levar para casa, antes que você perca a inspiração que ganhou hoje.

Não é que o loiro não quisesse beijá-lo, mas ele sentiu medo de envolver Brian em sua loucura e acabar magoando-o depois, porque há muito tempo não se envolvia a sério com ninguém, e o ruivo não era o tipo para brincar. Ou ao menos era isso que se passava por sua cabeça.

Ele disse que queria proteger Brian. Isso talvez significasse protegê-lo dele próprio, um cara sem limites e sem amarras.

— Mas... - Brian até pensou em se rebelar e pedir um beijo, porém isso seria contraditório já que hesitou tanto e porque Dawson não queria. Ele era do tipo que não pedia antes de pegar. E talvez fosse melhor assim mesmo. Manter a relação apenas de amigos que se ajudam. - Tudo bem. - Disse sem qualquer emoção na voz como sempre acontecia quando concordava com algo que no fundo não concordava coisa nenhuma. - Vamos. Eu estou doido pra escrever. E isso não acontecia há um bom tempo. 

— Fico feliz em ouvir isso. Enquanto você escreve seus textos, eu vou escrever uma música. Fiquei inspirado também. – O loiro disse cheio de energia ao abrir a porta do carro.

Brian entrou e ele dirigiu de volta para a casa dele.

XxxX

Era três da madrugada e as pessoas começavam a ir embora. Josh já estava cansado e mascava um chiclete de maneira distraída enquanto ouvia a ladainha de Trevor. O cara era o mais galinha, mas vivia querendo chocar na sua horta. “Nossa, essa comparação não fez o menor sentido”, o garoto pensou enquanto forçava sorrisos para o baterista. Ele não conseguia ser grosso, ou coisa assim. Estava ali a trabalho e não podia ser “chato com clientes”.

Então, enquanto recolhia algumas coisas do bar, ele apenas concordava com o que Trevor falava. Até que o maior perdeu a paciência e o segurou pelo braço.

— Poxa, Josh, você não tá dando a mínima bola para o que eu estou falando. – Ele reclamou.

— ‘Tô sim. – Josh mordiscou o piercing no canto do lábio. – Mas ‘tô ocupado agora.

— Por que você não volta comigo pra casa? – Trevor perguntou. Ele não era um cara muito alto, usava barbicha e era magro, tinha olhos esverdeados lindos e esse era o ponto forte de sua aparência. Josh costumava achá-lo charmoso, mas não tinha interesses maiores em um músico desregrado. – Já fizemos isso tantas vezes antes...

Josh se encolheu quando ele segurou sua cintura e sussurrou em seu ouvido. 

— Hoje ‘tô cansado. – Retrucou, enquanto se encolhia ainda mais ao ter o outro cheirando seu pescoço. 

Efrem passou a noite olhando a movimentação de Josh. Obviamente Niko não perdeu o interesse do irmão mais velho em alguma coisa e ficou de olho,  erguendo as sobrancelhas ao vê-lo secar o rapaz de cabelos azuis, mas o loirinho guardou todos os comentários para si, ainda mais quando ele e Conrad disseram que iam para casa e Efrem respondeu que iria só depois. 

Quando o lugar começou a esvaziar,  Efrem se aproximou e deu de cara com Josh sendo, aparentemente, agarrado contra a sua vontade. 

— Josh, amor. - Efrem não sabia era certo, mas o rapaz de cabelos azuis podia só desmenti-lo caso não gostasse do que ia dizer. - Vim buscá-lo. Você ainda não contou para as pessoas que está namorando e não está mais disponível? - Falou educado e sem querer arrumar briga com o cara que agarrava Josh já que isso poderia prejudicar o trabalho do menor. 

Josh piscou confuso, mas ao olhar para o loiro percebeu que ele estava fingindo para ajudá-lo. 

— Ah, é! – Exclamou e se soltou de Trevor. Caminhou rápido até Efrem e foi acolhido nos braços dele. Foi um alívio. – É que você não fez o pedido inicial, eu ‘tava inseguro. – Soltou um fingido suspiro apaixonado. – Estou tão feliz. 

Trevor coçou atrás da cabeça.

— E-Eu... não sabia. Eu acho que vou indo então. – Ele ficou sem saber o que fazer se se afastou, com os ombros caídos. 

Josh sorriu largamente quando ele se foi.

— Uau! Isso foi muito efetivo! – Disse animado. – Eu não sou muito bom em dispensar amigos, sabe... Eu e o Trevor nos conhecemos há sete anos e tudo. – Suspirou, nem percebendo que ainda estava dentro do abraço dele.

Efrem olhou por cima da cabeça de Josh e percebeu que Trevor continuava olhando para os dois de uma forma desconfiada. Para garantir que o cara não iria mais incomodá-lo, Efrem resolveu tornar o namoro mais "real" e, por isso, segurou Josh pelos ombros e o afastou um pouco. Encarou-o no fundo dos olhos e sem pensar muito inclinou-se e iniciou um beijo com desejo e paixão.

Josh tomou um susto no início, mas o loiro beijava tão bem, e as mãos dele em seu corpo pareciam tão quentes que suas forças pareceram desvanecer como o sol atrás da neblina. Ele gemeu segurando os ombros de Efrem e sentiu-se arrepiar quando ele segurou sua nuca e tornou o contato mais firme, determinado. Josh quase caiu quando o loiro o soltou, mas foi amparado antes que, por culpa das pernas derretidas, acabasse mesmo no chão. 

Suas bochechas estavam vermelhas quando seus olhos castanhos reencontraram os azuis de Efrem.

— V-Você beija muito bem. – Disse desconcertado, soltando o que estava em seus pensamentos.

Efrem sorriu e apertou a cintura de Josh com mais força. 

— Fico feliz que o meu namorado gosta do meu beijo - Sussurrou enquanto se inclinava e dava uma lambidinha na pele suada do menor. - O cara ainda está nos olhando. Temos que ser convincentes. - Murmurou. 

Como ainda estava concentrado no "papel" não parou para pensar muito no quanto aquele beijo havia sido bom e no quanto ele queria mais.

Josh engoliu o ar, estremecendo ainda mais.

— N-Não sou bom ator. – Gaguejou. Ele olhou para trás e viu que Trevor realmente estava ali, mas o guitarrista desviou o olhar, deu as costas e foi embora. Josh sentiu-se mal pela expressão tão magoada que ele fez, mas talvez fosse melhor não dar falsas esperanças, certo? – Ele já foi.

— É melhor sairmos juntos. Pra dar mais credibilidade na história. - Efrem propôs.   - Podemos ir tomar café em algum lugar... - Sugeriu. - Eu vim entregar o dinheiro das bebidas que eu fiz você derrubar em mim. Você se afastou naquela hora e esqueceu o dinheiro. - O príncipe sorriu pela distração do rapaz.

— Ah... – Josh soltou sem-jeito. – Ok, vou avisar o Julien para fechar o bar. – Afastou-se, mas voltou pouco mais de um minuto depois, já carregando um casaco. – Ok, vamos. 

Os dois saíram da boate e entraram em um uber. Josh deu um endereço, o qual Efrem achou que era de um café, mas ao chegarem ao destino, percebeu que era o endereço do mais novo. Josh olhou-o e mordeu o lábio.

— É difícil ter um café aberto a essa hora. Você... quer subir? – Perguntou ficando vermelho de novo. 

Efrem ficou surpreso ao perceber que estavam na casa do rapaz. 

— Ah... se não for incomodar eu gostaria - O príncipe disse todo educado. Achou fofo a forma como Josh estava todo corado. 

Durante o caminho ele teve tempo para pensar em como foi impulsivo, como gostou do beijo e como queria repetir sem pessoas por perto assistindo. Efrem havia imaginado muito aquele beijo de diversas formas,  mas não do jeito que foi. Aconteceu de forma tão abrupta que ele mal conseguiu curtir o momento. 

Josh sorriu e o guiou para seu apartamento. O garoto morava em um loft num bairro simples, mas próximo do centro, já que costumava trabalhar por lá. O lugar estava um pouco bagunçado, mas ele nem se importava. Foi até a cafeteira para preparar o café.

— Você tem algum pedido especial? Também sou ótimo preparando cappuccinos, chocolate quente, ou só café mesmo. – Falou. 

— Apenas café. Obrigado - Efrem disse enquanto ocupava um dos lugares no sofá e observava a sala. O loft era bem pequeno e apertado, mas Josh parecia bem à vontade no lugar. Ficou imaginando como ele se sentiria deslocado no grande salão de festas do palácio da família. - Aliás, meu nome é Efrem. Não sei se você lembra já que faz um tempo que nos apresentamos naquela festa. Meu irmão é o Niko e namora o Conrad.

— Aham. – Josh disse distraído. Ele deixou então o café aquecendo e foi se sentar no sofá ao lado de Efrem, onde cruzou as pernas e olhou para ele. Seus olhos então arregalaram e ele deixou o queixo cair. – Espera! Então... Então você...?

— Sou um príncipe? - Efrem completou a pergunta por ele. - Sim, sou. Não adianta querer esconder isso quando Toronto inteira sabe e os tabloides ficam correndo atrás de nós tentando tirar fotos. Uma das coisas que nos fez ir na festa ontem foi que nos garantiram que não haveria paparazzis lá e pelo jeito cumpriram a promessa. Espero que minha ascendência não o assuste. Eu gostaria de te conhecer melhor - Disse enquanto segurava a mão de Josh. Era tão pequena perto da sua.

— Ah... Eh... – Josh mordiscou o piercing. – N-Não assusta, não... – Mentiu. Na verdade ele achava muito estranho estar diante de um príncipe, mesmo que de outro país. – Por que você quer me conhecer melhor? 

O gesto de mordiscar o piercing não passou despercebido por Efrem. Parecia que Josh fazia isso quando estava nervoso. O príncipe fez uma anotação mental de continuar observando para ter certeza.

— Bem, você chamou a minha atenção naquela festa. Seu estilo e seu cabelo azul. Gostei da sua coragem de ser como você quer ser. - O loiro comentou enquanto a mão livre subia até os cabelos de Josh e os tocava de leve. - E gostei muito do beijo que trocamos... Eu nunca havia pensado muito em outros homens antes, mas isso mudou depois de te conhecer. - Confessou. - Meu país é muito rígido quanto a homossexualidade, mas as coisas estão começando a mudar agora que meu irmãozinho mais novo saiu do armário.

Josh sentiu os batimentos cardíacos acelerando com Efrem o tocando. Que loucura! Mal o conhecia, mas talvez fosse justamente essa a questão. Um cara (príncipe!) desconhecido, bonito e com aquele jeito carinhoso tocando seus cabelos de maneira leve, enquanto admitia que havia começado a pensar em outros caras por sua causa? Josh estava quase hiperventilando. 

— O café deve estar pronto! – Exclamou e correu para pegar. Serviu em duas xícaras e então voltou para o sofá, entregando uma para Efrem. – Que bom que as coisas estão mudando no seu país... – Comentou então. Estava sentado longe do loiro e nem sabia por que, já que gostaria era de estar bem juntinho dele. – E eu gostei do beijo também. – Murmurou, quase escondendo o rosto atrás da xícara. 

Efrem provou o café e gemeu um pouco pelo gosto bom.

— Você é bom com todo tipo de bebida mesmo. – O fato de o rapaz ter ido sentar mais afastado não lhe passou despercebido também, mas Efrem não era do tipo afoito. Nunca foi. E ficou comportado em seu lugar apesar da vontade louca de puxar Josh para os seus braços e provar do café na boca dele. – Nunca pensou em ter o seu próprio negócio?

— Ah, tem que juntar muito dinheiro para abrir um negócio próprio. E eu estou fazendo faculdade de enfermagem. Gosto muito de cuidar dos outros e ter contato com as pessoas. Quero fazer a diferença. Mas aí quem sabe quando eu ficar mais velho e cansado de vida em hospital eu não abra um negócio com o dinheiro que eu juntar ao longo dos anos. – Josh falou cheio de planos, sorrindo abertamente. – E você está aqui em Toronto visitando? – Sondou.

— É muito bonito da sua parte querer fazer a diferença. Se tivéssemos mais pessoas assim pelo mundo com certeza estaríamos vivendo em um lugar melhor. – Efrem comentou antes de tomar mais um gole do café. – E estou morando aqui. Cuidando do Niko. Não tenho ideia do que fazer depois. Estou pensando em cursar alguma coisa, mas não sei o que. Já sou formado em administração, mas foi algo que eu fiz só para cumprir tabela.

— Cuidando do Niko? – Josh riu abertamente. – Você não acha que o Niko é velho demais para ter um irmão mais velho cuidando dele? Ele tem o quê? Quase vinte e três? Além disso, ele namora o Conrad! O cara é muito gente fina, educado, regrado... Ele foi meu professor no colégio. Eu sempre ia atrás dele para conselhos. – Lembrou-se com certa nostalgia. Depois olhou para Efrem e percebeu que talvez tivesse falado demais. – Ah... Desculpa. Eu geralmente falo tudo que eu penso, acabo ultrapassando certos limites. – Falou claramente constrangido. Que fora!

— Tudo bem. É a sua opinião. – Efrem levantou e levou a xícara até a cozinha. Retornou e ocupou o mesmo lugar no sofá. – O Niko vai fazer vinte e três sim. Estou até pensando no que comprar para aquele pestinha... – Murmurou pensativo. –  Quando ele era mais novo era mais fácil agradá-lo. Enfim, você tem irmãos, Josh? – Perguntou interessado.

— Não... – Josh resmungou. – Melhor nem ter, imagina que chato um irmão mais velho empata foda. – Mostrou a língua para ele para implicar.

— Então… – O príncipe sorriu achando graça da implicância do menor. – Pra mim o Niko sempre vai ser aquele menino que vivia correndo para debaixo da minha asa quando se metia em alguma encrenca. Por mais que o Conrad seja gente fina, educado, regrado... Ele é o cara que tirou o nosso irmãozinho de nós e eu gosto de fazê-lo sofrer um pouco por isso. Se você fosse irmão mais velho de alguém entenderia o sentimento.

— Só que você com certeza deve estar fazendo seu próprio irmão sofrer também, já que ele ama o Conrad e também quer ter momentos a sós com ele. – Josh continuou argumentando. Efrem era todo cheio de pompa, sorriso de retrato e jeito de... príncipe. Ok, ele era um príncipe, mas Josh queria vê-lo perder um pouco da pose, talvez por isso estivesse implicando. 

— É, pensando por esse lado... – Efrem murmurou enquanto sua cabeça pendia levemente para a direita e seu olhar ficou um pouco distante. – Mas não... Prefiro pedir pizza às duas e meia da manhã e não ouvir nenhum ruído estranho vindo daquele quarto. – Resmungou enciumado. – Bem, o café estava ótimo e tenho certeza que você quer descansar depois dessa noite exaustiva. Posso ter o número do seu telefone para ligar em algum momento mais adequado?

— Você é um cabeça-dura! – Josh exclamou ficando de pé no sofá. – Todos os príncipes são assim? – Perguntou e atirou uma almofada nele. Depois riu da cara de palerma que Efrem fez ao receber a almofada bem em cheio no rosto. 

Efrem passou do susto para indignação. Ele pegou a almofada, a olhou por alguns segundos antes de atirar de volta, mas Josh se esquivou e saiu correndo pelo loft. E Efrem se viu compelido a correr atrás dele. O menor ria e tentava se esquivar. Já Efrem esbarrava nas coisas e ia deixando a bagunça do lugar ainda maior.

Até que o príncipe conseguiu segurar o rapaz de cabelos azulados e o jogou sobre o ombro antes de atirá-lo no sofá.

— Isso não foi muito gentil da minha parte. – Efrem comentou após se dar conta como havia jogado Josh nos ombros.

Ao olhar para o rapaz, Efrem acabou umedecendo os lábios e sentiu seu pênis reagir à visão: Josh estava com o rosto afogueado, alguns fios azuis caindo na testa e os lábios entreabertos. Efrem sentiu uma vontade quase incontrolável de prensá-lo naquele sofá apertado e beijá-lo até que o ar dos dois acabasse.

Mas o príncipe conseguiu se conter. Não seria educado fazer isso num primeiro encontro.

— Você me jogou no sofá para ficar me olhando? – Josh perguntou erguendo uma sobrancelha. 

— Hum... – Efrem colocou a mão na nuca de uma forma nervosa. – Não foi educado jogar o meu anfitrião no sofá desse jeito. Peço desculpas.

Josh bufou e se esticou mais no sofá.

— Ok, pode ir embora então. – Fez-se de indiferente. 

Efrem apertou ainda mais a nuca.

— Parece que eu falei algo errado – Ele não entendeu bem porque Josh parecia frustrado. – Olha. – Ele sentou ao lado do rapaz no sofá. – Não sei como são os caras com que você costuma se envolver, mas eu sou um pouco... Conservador. Por mais que eu esteja sentindo tesão por você, não acho correto ir te agarrando assim. Meu interesse por você vai além do corpo, entende?

Josh corou quanto a parte de sentir tesão, mas ele discordava completamente do loiro.

— Como assim “como são os caras que eu costumo me envolver”? Falando assim você faz parecer que eu só me envolvo com putos. Faz parecer que eu mesmo sou um puto por transar com alguém na primeira noite. – Levantou-se e foi até a porta. – Ótimo. Eu não acho que liberar a tesão exclua querer alguém além do corpo. Eu gostei de você e queria ao menos um beijo. Outro beijo. Se não acha correto, pode dar o fora. 

A explosão repentina de Josh fez com que Efrem levasse um susto. Ele foi até a porta e ficou olhando dela para o rapaz irado. Com um suspiro exasperado, fechou a porta, prensou Josh contra a parede e, antes que ele pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, o beijou. Um beijo ainda mais quente do que o trocado no bar. As mãos de Efrem tocaram onde conseguiam alcançar, os lábios sugaram, exigiram. Seu corpo cobria o de Josh por completo, deixando-o pequeno e frágil em seus braços de uma forma que Efrem teve medo de ser bruto demais e acabar machucando-o.

Céus. Aquilo era melhor do que todas as suas fantasias juntas.

Josh levou um susto de novo. Segundo beijo, segundo susto. Segunda vez que sentia as pernas derreterem. Nos primeiros segundos, ele bem que deu soquinhos (nada fortes) no meio do maior, mas logo já estava com as mãos na nuca dele, puxando-o mais contra seu corpo, sua boca. Josh era conhecido por ser carismático, meio tagarela, sincero demais e... pavio-curto, quando explodia, sai da frente! Mas era a primeira vez que seu pavio-curto lhe conseguia um beijo. E um beijo bom demais! O mais novo já estava sentindo a excitação aumentar e latejar no meio de suas pernas, e acabou por se esfregar contra a coxa de Efrem, que estava entre elas.

Quando eles pararam, de maneira lenta, mas ofegante, ainda de olhos fechados Josh perguntou:

— Tão ruim assim beijar na primeira noite?

A mente de Efrem estava nublada pelo desejo. Ele pegou Josh no colo (com mais cuidado dessa vez e no estilo príncipe levando a princesa) e o colocou no sofá.

— O problema é que agora só um beijo não me satisfaz e era isso que eu estava tentando evitar. – Murmurou enquanto o tocava de leve por cima da calça. – Não quis ofendê-lo nem chamá-lo de puto ou qualquer outra coisa... O que eu queria era não assustá-lo com esse turbilhão que está dentro de mim louco para criar vida e sair. Eu nunca toquei outro homem assim... Nunca beijei outro homem assim... Nunca senti tanto desejo por outro homem.

Josh sentiu o coração pular no peito. O olhar do loiro era tão intenso que parecia queimar na pele, espalhando um calor ainda maior, quase sufocante. Só um beijo já o fizera sentir tanta coisa, ele não se importaria de sentir ainda mais. Com a respiração rasa, Josh ergueu a mão e acariciou o tórax forte de Efrem. Ele era musculoso, mas proporcional à altura generosa. 

— Eu não vou me assustar... – Josh murmurou e chupou o dedo do loiro, que subira para acariciar seus lábios. Mordeu-o de leve, olhando-o diretamente nos olhos. 

Efrem gemeu e sentou no sofá puxando Josh para sentar em cima dele. Suas mãos subiram pelas costas do rapaz arrancando a blusa dele sem muita delicadeza e expondo o dorso nu. Mordendo o lábio de Josh, Efrem tocou um dos mamilos e depois o apertou de leve. Seu pênis cutucava o rapaz demonstrando o quando ele estava excitado com tudo aquilo.

— Se eu for afoito demais, pode reclamar e eu pararei no mesmo instante. – O príncipe murmurou.

Considerando que desde o início Josh estava querendo apenas um beijo, aquilo estava mais quente do que ele esperava. Mas seu corpo parecia se encaixar tão bem no colo de Efrem, seus beijos eram tão compatíveis e as mãos dele eram tão firmes e cuidadosas ao mesmo tempo, que o mais novo não se sentia inclinado a reclamar de nada. 

— Só me beija mais. – Sussurrou segurando-o pelos cabelos e, com a respiração entrecortada, deixando sua boca roçar na dele antes de buscar um contato mais pleno. 

Enquanto o beijava, Josh movia o quadril, esfregando-se ao maior e sentindo-o duro. Estava da mesma forma. 

Efrem obedeceu e passou os braços em volta de Josh enquanto correspondia ao beijo. A boca dele estava com o gosto do café que haviam tomado e o piercing não machucava como o príncipe imaginou que pudesse acontecer.

— Você tem mais desses em outros lugares? – Efrem perguntou indicando o piercing quando suas bocas se separavam em busca de ar.

 

— Eu tinha um na sobrancelha, mas tirei porque machuquei quando tentei impedir uma briga em um pub e rasgou... Agora tem só a cicatriz. – Falou enquanto distribuía beijos pelo rosto e pescoço do loiro.

— Parece que você tem algumas histórias para contar sobre o seu trabalho. – Efrem comentou enquanto fechava os olhos e aproveitava os beijos que recebia.

Ele ia segurar Josh outra vez para beijá-lo mais uma vez quando seu celular começou a vibrar no bolso.

— Desculpe. – Murmurou enquanto pegava o aparelho. – É o Niko. – Explicou antes de atender.

— Efrem! Onde você está? Você disse que voltaria para casa! Foi sequestrado? – Niko perguntou preocupado.

— Se eu tivesse sido sequestrado dificilmente os bandidos me deixariam atender a ligação. – Efrem bufou.

— Oh... – Niko exclamou. – Oooooooooh!

— O quê? – O mais velho falou confuso.

— Você está com o rapaz de cabelo azul! – O loirinho exclamou antes de cair na gargalhada. – Eu atrapalhei? Se sim, bem vindo ao meu mundo, mano. – Disse com um ar malvado. – Mas você nunca me falou que tinha interesses por rapazes.

— Isso não é uma conversa para se ter por telefone, Nikolay. – Efrem disse após um suspiro. – Estou indo para casa.

— Não precisa. Pode aproveitar e depois você me conta com riqueza de detalhes! Ao contrário de vocês, eu não me importo em saber cada detalhezinho! – Niko disse animado.

— Nikolay! – Efrem exclamou irritado. O mais novo nem seu deu ao trabalho de responder e só encerrou a ligação. – Desculpe. Eu tenho que ir. – O príncipe disse para Josh em um tom culpado.

Josh tombou para o lado no sofá e mordiscou o piercing.

— Tudo bem. – Falou, mas pegou o celular de Efrem e gravou seu número ali. – Me liga quando estiver livre. 

Efrem sorriu e se inclinou. Roçou o nariz de leve no de Josh antes de beijá-lo de uma forma carinhosa nos lábios.

— Prometo que você receberá minha ligação antes do que espera. – Disse antes de levantar do sofá e ajeitar as roupas amarrotadas.

Josh suspirou ao observá-lo deixar o loft. Depois se atirou contra uma almofada, abraçando-a e escondendo o rosto ali, enquanto sacudia as pernas dobradas para cima. Seus batimentos continuavam a mil e um sorriso não queria sumir de seu rosto.


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Notas finais do capítulo

Ah, é muito amorzinho né? Eu gostei muito de reler essa fic para ajeitar os errinhos de português depois de tanto tempo que escrevemos, parecia até que eu estava lendo algo de outras autoras kkkkkkkkkk peço desculpas por qualquer erro de português que tiver ficado!
Se gostou não deixe de comentar, vamos adorar :) beijos no kokoro de quem leu.



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