Terça-feira

— Preparada? - Robin declara assim que senta-se atrás da van do Eddie, junto dos meninos da banda.

Estávamos a caminho do The Hideout, um bar pequeno onde a banda do Eddie toca. Acompanho a Corroded Cofin desde o início, sempre estive ali quando Eddie teve a ideia de unir-se com os meninos (que futuramente estariam no Hellfire também) e montar uma banda. A ideia surgiu quando ainda erámos adolescentes no fundamental, durante o intervalo da escola que Eddie me juntava com os amigos dele, apoiei desde o começo e assim surgiu a banda que já esta junto desde a infância dos meninos.

E com isso quero dizer que Eddie, Gareth, Brian e Jeff são mais unidos do que eu e Eddie juntos. Bem... Mais ou menos.

— Para o que exatamente? - Confusa a encaro, já que estive diversas vezes no bar acompanhando a banda. - Eu que deveria perguntar a você, nunca esteve lá. 

— Se eu aguento o Steve bêbado, consigo aguentar aquele bar.

Seguimos em direção ao Hideout, ouvindo a mixtape do Eddie que consistia em rock e heavy metal de muitas gerações. Os meninos curtiam a música e eu e Robin riamos deles, claramente estavam super animados. Apesar da animação na van, Eddie permanecia calado. E isso não é algo Edward Charles Munson faria. As vezes o encarava preocupada.

— Bom, pelo menos hoje não vai ter a gente e mais cinco bêbados assistindo o show. Vai ser a gente, os cincos bêbados e a Robin com a Haz.

— Provavelmente eu vá me incluir nesses cinco bêbados. - Robs diz séria encarando os meninos. - Vocês não sabem o meu potencial.

— Eu sei e nem se atreva Robin Buckley! Você não vai me deixar sozinha naquele lugar. - Viro para trás no banco, apontando o dedo em seu rosto. Ela ergue as mão pra cima e fazendo uma careta.

— Não prometo nada Hazelzinha.

— Promete sim sua cadela. - Torno a virar pra frente escutando a risadas dos meninos.

Mais alguns minutos na estrada e estacionamos na frente do pequeno, e decadente, bar. Animados os meninos juntos da Robin já vão saindo, carregando os instrumentos. Destravo a porta pra ajudá-los, mas sou impedida de sair da van quando sinto a mão de Eddie em minha coxa. Rapidamente o encaro e o mesmo me observa, respirando fundo.

— Você tem certeza Haz? - Sussurra.

— Você tem? Você sabe muito bem que eu não faria nada que te coloque em mal lençóis, principalmente nossa amizade. Da mesma forma que você faria por mim. - Seguro sua mão em cima da minha coxa, tentando tranquilizar a situação.

— Eu... Eu não sei Haz. Quero muito pode ajudar, ser útil para você. Mas tenho receio e se tudo der errado? 

— Ser útil para mim?! Eddie você é meu melhor amigo há dez anos, nos conhecemos melhor do que qualquer um nesse mundo. Você sempre esteve por mim e para mim em tudo o que já fiz e eu faço o mesmo por você. Se você falar não com esse acordo, por mim está tudo bem! Por que você vai continuar sendo aquela pessoa que sempre esteve ao meu lado em todos os momentos. E se você aceitar, vai continuar do mesmo jeito. Você sabe muito bem o quão importante é para mim... - Ele faz uma careta de desconfiança. - E não faça essa careta ou então eu te quebro a porrada.

— Você não mata nem uma mosca Williams. - Ri jogando a cabeça para trás. Respira fundo e deixa um beijo delicado na minha mão, que ainda segurava a sua. - Certo, então vamos fazer isso. E seja o que Deus quiser. - Sorri para mim, balançando levemente a cabeça e a abaixando.

— Mas por hoje... - Digo segurando seu queixo o forçando a olhar para mim. - Vamos apenas curtir o show incrível que vocês sempre fazem. Mesmo que seja apenas para cinco bêbados. - Sorrimos um para o outro e logo saímos do carro.

Assim que entro já vejo os meninos se ajeitando no palco, Eddie logo corre até lá, não sem antes cumprimentar Bob, o dono do bar. Aceno de longe para ele e vou resgatar Robin, já que a maluca está dançando com um dos cincos bêbados.

— A poxa, queria curtir. - Fala assim que a puxo pro lado, onde os bêbados não estavam, e me sentando ali. Como sempre fiz.

— Acredite, esses bêbados não são bêbados divertidos.

O Hideout era um bar de beira de estrada, ou seja, recebia quem quer que aparecesse por ali. Em sua maioria: mendigos, motociclista e pessoas com uma índole de procedência duvidosa.

Mas Bob contratou os meninos e eles gostam de tocar aqui, por algum motivo.

Prefiro a garagem do Gareth, sinceramente.

Logo que eu e Robin nos ajeitamos e Bob nos oferece uma bebida, o show começa. Eles sempre começam com músicas mais "calmas", ainda é uma barulheira, mas é calma, e conforme o show vai avançando terminam com o heavy metal de sempre. A primeira de hoje foi Livin' On a Prayer do Bon Jovi. Assim que a música chega no pré-refrão todos ali já estavam cantando e dançando, isso incluí eu e Robin.

— She says: We've got to hold on to what we've got... It doesn't make a difference if we make it or not. We've got each other and that's a lot... For love, we'll give it a shot. — Robin e eu gritávamos animadas. Durante a gritaria observo a banda e vejo Eddie me encarando, cantando como coro de fundo, já que Jeff era o vocalista.

(tradução: Ela diz: Temos que nos agarrar ao que temos... Não faz diferença se conseguiremos ou não. Nós temos um ao outro e isso já é muito... Por amor, vamos dar uma chance)

Sinto minha barriga gelar novamente, assim como senti no dia que dormimos abraçados.

Sorrindo rapidamente desvio o olhar dele e volto a pular com Robin ao som do refrão da música.

— Eu vi... - Robin sussurra em minha orelha quando paramos de pular e aguardávamos a próxima música.

— Você não viu nada Buckley, é apenas fruto da sua imaginação. - Bebo um gole de água que Bob me oferece.

— Imaginação, sei... - Empurra de leve meu ombro me obrigando a encará-la e assim que faço, discretamente ele aponta com a cabeça para o palco, sigo o olhar até lá, vendos os meninos se preparem para a próxima música. Eddie sussurra alguma coisa para Jeff que concorda sorrindo. - Sejamos sinceras Haz, Edward é muito bonito. Pode ser esquisito e um nerd de carteirinha, mas é bonito. E ele cantou uma música toda olhando para você. Mas Hazel Williams é tapada o suficiente para não perceber, te aconselho a observar a próxima música. - Fala e então os meninos começam a tocar a próxima música.

One Year of Love do Queen.

— Esses jovens estão apaixonados hoje! - Um bêbado jogado na cadeira grita levantando um copo. - Então bora afogar as mágoas na bebida ao som do rock. - Bebe o conteúdo do copo todo em um gole.

A música era um pouco mais lenta do que o comum na playlist que os meninos geralmente fazem, logo escuto a voz de Jeff soando pelos amplificadores.

— Just one year of love, is better than a lifetime alone. One sentimental moment in your arms... Is like a shooting star right through my heart...

(tradução: Só um ano de amor, é melhor que uma vida inteira de solidão. Um momento sentimental em seus braços... É como uma estrela cadente atravessando o meu coração...)

Não demora muito para que eu possa ver que, por Deus, Eddie está sibilando a música para mim.