Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 25
Capítulo 25




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A tarde veio de forma tranquila. Lizzy não parava de sorrir, pensando em Darcy e o quanto gostou do momento que passou com ele, perto do memorial dos pais dele. Depois daquele beijo, eles resolveram voltar para a mansão e cada um foi para um lado. Ele alegou ter alguns assuntos pendentes com o advogado e Lizzy foi se encontrar com Georgiana na sala de música. As duas se divertiram na frente do piano. Lizzy ensinava músicas que ela lembrava e fazia Georgiana ficar cada vez mais fascinada pelas melodias. As crianças, Jonathan e Mary acabaram se juntando e depois de um tempo, Georgiana deixou que eles testassem o piano.

No almoço Darcy não estava, o que Lizzy achou ser algo estranho, mas não perguntou nada sobre a ausência dele. Ao menos, pode estar ao lado de pessoas que a tratavam bem. O coronel era ótimo para conversar, Georgiana era gentil e família Gardiner sempre a tratava bem. Naquela mesma tarde, Lizzy conheceu a Sra. Reynolds, que criou Georgiana e Darcy, além de cuidar muito bem da mansão Darcy. Ela era simpática e amável.

No final do dia, Lizzy se recolheu aos seus aposentos, ainda sem ter a oportunidade de ver Darcy. Ela não queria se sentir estranha com o fato de ele ter desaparecido uma tarde toda, mas acabou se incomodando um  pouco. Então, lembrou-se das cartas que havia recebido. Uma de Jane Austen e outra de Jane Bennet. Primeiro, ela leu e respondeu a carta de Austen. Quando abriu a outra carta, ela se surpreendeu pelo conteúdo.

“Querida Srta. Elizabeth,

Envio essa carta na esperança de que possa me felicitar. Antes de tudo, quero relatar a senhorita que tudo aconteceu de forma tão inesperada, mas também, dificultosa. Eu nunca imaginei os eventos que aconteceram essa semana comigo...”

 

Flashback

Longbourn, Hertfordshire, no momento em que Jane Bennet voltou para casa.

 

Jane nunca imaginou que estaria com o coração despedaçado e perdido. Tudo parecia tão incerto. Ela queria ter aceitado Charles novamente, mas apesar disso, sabia que devia honrar seu compromisso com seu primo Collins. Afinal, a propriedade da sua família, assim que seu pai falecesse, passaria para ele. E nada melhor do que manter sua família segura, se ela se casasse com ele. Não foi uma decisão fácil.

Quando Charles Bingley partiu de Hertfordshire, Jane sentiu o desespero por não poder mais ver seu amado. De fato, nunca ao menos teve qualquer contato mais íntimo com ele, mas sentia que o amava profundamente. Naquela época, ela não havia recebido nenhum pedido de casamento. E não recebeu até algumas semanas, antes de partir para Londres. Collins estava em busca de uma esposa e isso era um fato. Contudo, quando foi fazer uma visita a família Bennet, a mãe de Jane não permitiu que ele a pedisse em casamento, acreditando que ela iria se unir em matrimonio a Bingley. Infelizmente, tudo fora em vão. E no momento atual, o pai de Jane estava doente e de cama. O médico alegou ser os pulmões fracos. Todos temiam que na verdade, ele estivesse tisico. Contudo, ninguém na região parecia acometido da tisica. Nem a família Bennet. Então, o médico descartou a possibilidade de ser isso. Nesse meio tempo, Collins veio prestar suas condolências e mais uma vez, pediu Jane em casamento, que aceitou, por medo de que seu pai fosse morrer. No final, o Sr. Bennet se recuperou de algo que poderia ser considerado uma gripe muito forte. Mas, Jane já havia empenhado sua palavra a Collins. Não poderia voltar atrás.

Ela sorriu, fracamente, ao ver a propriedade da sua família. A casa era grande, com um extenso quintal. Jane desceu da carruagem e foi recebida pela família, que estava feliz por vê-la. Contudo, por dentro, ela não estava tão feliz de reencontra-los. Pensava em Charles e o quanto doía seu peito saber que os dois foram enganados por Caroline Bingley, a irmã dele. Porém, o único culpado da separação deles era o próprio Charles. Ele deveria ter lutado com mais afinco pelo amor dela. Ali estava mais um motivo para Jane afasta-lo. Em algum momento, ele não lutaria por ela mais uma vez, por estar preocupado com a opinião alheia. E isso ela não poderia suportar. Ao menos, seu primo Collins iria manter sua palavra e nunca deixaria faltar nada a ela. Não teria amor, é claro. Mas, teria segurança, tanto para si, quanto para sua família. Que era o que importava.

— Jane, querida, não foi boa a visita a Londres? – perguntou a Sra. Bennet – Como estão todos?

— Está tudo bem, mamãe – Jane respondeu, entrando na casa, carregando sua maleta – Nossos primos estão da mesma maneira, enérgicos. Tem uma governanta. E mãe, acredita que ela tem o mesmo sobrenome que o nosso?

— É mesmo? – A Sra. Bennet perguntou.

— Sim, mãe. Será que não é parente nossa?

— Vamos perguntar a seu pai. Ela é de qual região?

— Yorkshire.

Quando Jane conseguiu desfazer as malas, suas irmãs que ainda estavam em casa, Kitty e Mary vieram ao quarto dela. Jane ainda não tinha visto seu pai.

— Kitty, deve bater na porta não abrir sem permissão...- A porta foi aberta em estrondo, enquanto Mary falava com a irmã mais nova.

Kitty adentrou, de forma efusiva, com um olhar esperançoso para a irmã mais velha. Jane apenas sorriu para ela. Mary fez uma cara séria. Não parecia feliz com os maus modos de Kitty.

— Irmã, irmã! – Kitty saltitou até Jane – Diga que trouxe presentes, diga!

— Eu tenho certeza que se Jane trouxe, ela irá nos dar, Kitty – Mary interveio – Deixa-a desfazer as malas.

— Deixe de ser tão severa, Mary – Kitty olhou para irmã, com um olhar chateado – Diga que trouxe algo para nós, Jane.

Jane não pode deixar de sorrir. Apesar de estar com o coração partido, ela encontrava conforto nas duas irmãs. Se Lydia estivesse ali, a felicidade seria completa.

— Infelizmente, eu não pude trazer nada. Sabe que não sai com dinheiro suficiente para esses tipos de luxos. Mas, olhe o que trouxe...- ela tirou da mala um saco de balas feitas de açúcar derretido. Cortesia de Elizabeth – Balas de açúcar. Parece caramelo – Então, Jane estendeu a frente, para que as duas irmãs pegassem.

Os olhos de Kitty cresceram ao pegar o saco de bala, com uma fita azul prendendo, em um laço elegante. Abriu e colocou uma na boca, soltando um gemido de contentamento.

— Isso é...por Deus! É maravilhoso! – ela deixou escapar.

— Kitty, não use o nome de Deus em vão – Mary ralhou. Kitty revirou os olhos e colocou mais duas balas na boca, sorridente.

Jane riu por dentro. Era comum que Mary sempre fora severa demais. Poderia facilmente ser a irmã mais velha naquela casa, no lugar de Jane. Então, ela pegou um saco de balas para Mary, afinal, doce faria sua irmã sorrir mais e não ser tão taciturna.  

— Toma, esse é para você – Jane estendeu um saquinho para Mary.

Mary hesitou em pegar, mas tomou da mão de Jane. Abriu o saco e colocou uma bala na boca, parecendo gostar.

— Isso é realmente delicioso. Contudo, mamãe disse que doces podem engordar – Mary disse, fechando o saquinho de voltar com a fita azul.

— Então, deixe para mim – Kitty tentou arrancar o saco da irmã.

— De maneira alguma. Irei guardar e comer de vez em quando – Mary disse, andando para trás, indo para perto da porta, colocando o saco atrás das costas – Afinal, comer as vezes não pode ser tão ruim, pode?

— Ahhh – Kitty reclamou – As minhas já vão acabar – Ela olhou para seu próprio saco de balas, com um olhar triste – Diga que trouxe mais, Jane.

— Infelizmente, só isso. Eu dei todo meu estoque a vocês duas – ela respondeu, risonha – Mas, minha amiga Elizabeth me ensinou a fazer.

— Verdade? – ela perguntou, com os olhos esperançosos – Ela deve ser uma fada dos doces, só pode ser isso.

— É sim. E uma pessoa muito boa – Jane disse, feliz por ter conhecido Elizabeth – E vocês precisam saber. Elizabeth tem o mesmo sobrenome que o nosso.

— Nossa, mas será que é uma parente perdida? – Mary perguntou, interessada – Não seria possível, é claro. A não ser que papai não tenha nos contado que há mais parentes espalhados pela Inglaterra.

— É justamente isso que irei perguntar a papai – Jane disse.

Depois disso, ela foi até seu pai perguntar a ele se tinham mais parentes na Inglaterra. Ele estava no escritório, absorto com os documentos em cima da escrivaninha e mordendo a cabo do seu cachimbo, quando ela entrou.

— Não, Jane. Realmente, não temos nenhum parente em Yorkshire. Deve ser uma coincidência. O mais interessante é ela ter o nome de batismo da sua falecida irmã.

— Devo confessar que isso me fez me afeiçoar ainda mais a ela. Se possível, posso convida-la para nos visitar?

— Sim, é claro. Será um prazer recebe-la.

Seu pai, o Sr. Bennet era muito gentil. Maleável talvez. Se tornou um pouco mais rígido, depois que Lydia fugiu com Wickham para se casar. Não permitiu que nenhuma das filhas saísse por dois meses. Apenas para ir à aldeia e nada mais que isso. Nem ao menos para dançar. Depois de dois meses, ele acabou cedendo as histerias da esposa, que queria fazer suas filhas serem visitas mais uma vez, para obter um casamento vantajoso. Que infelizmente, não veio até o momento.

Os dias para Jane em Longbourn passaram de forma tortuosa. Quando Jane fechava os olhos, ela via o rosto entristecido de Charles. Quando os abria, ainda podia lembrar-se dele com nitidez. A forma apaixonada como ele pediu para que ela voltasse para ele. Tudo era tão doloroso, que Jane não tinha animo para as tarefas mais simples. Tudo que fazia, era de forma automática, sem estar presente de fato presente nas atividades da casa. Até mesmo espetar o dedo na agulha, ao costurar uma almofada.

Então, um dia, quando estava escurecendo, Jane estava do lado de fora da casa, apenas sentada nas escadas da saída da cozinha.  Ela havia desistido de ler um livro, devido à pouca luminosidade. O sol estava sumindo no horizonte, em tons tão esplendorosos, de amarelo ouro e salmão, que Jane queria uma forma de registrar aquele instante. Não sabia pintar, infelizmente. Teria de guardar na memória aquela lembrança tão inspiradora. Enquanto olhava para o anoitecer, notou um cavalheiro vindo a distância, montado a cavalo. Ele incitava o cavalo a correr pela campina. Jane sentiu o coração bater mais forte e até mesmo se levantou. Sentiu que poderia ser ele vindo a distância. Mas, não poderia ser. Era impossível ele estar ali.

O cavalheiro se aproximou do portão e saltou do cavalo. Usava uma cartola elegante e olhava para ela. Era Charles. Seu Charles. Mas, por que ele estava ali?

— Senhorita Bennet – ele disse, abrindo o portão do quintal – É bom encontra-la a essa hora. Sei que é impróprio uma visita, mas acabei de chegar de Londres. E ansiava por vê-la mais uma vez. Eu acredito que estou sendo impertinente...mas...

Ele havia tirado o chapéu e segurava-o com certa força entre as mãos. Não havia dado nenhum passo em direção a ela, que ficou em pé nas escadas, estática. Sem saber o que fazer.

— Acredito que o senhor está sendo realmente impertinente – ela deixou escapar – Mas...bem...

Ela estava ruborizada. Nunca falou o que pensava em toda sua vida.

— Eu sei – ele disse, com pesar – Contudo, não consigo parar de pensar na senhorita. Desde que nos separamos, eu não sigo como antes. Minha vida não é mais a mesma, desde que tive que deixá-la. Foi o pior erro da minha vida, Jane. Acredite quando digo que somente com você encontrei a razão para minha existência. Por isso, quando percebi meu erro, de não acreditar no seu amor, eu precisava encontra-la novamente e pedir que me aceite de volta. Que me dê uma chance. Por favor, casa-se comigo. Seja minha esposa. Eu deveria...eu deveria ter pedido a você há muito tempo. Mas, meu medo de nunca ser correspondido me fez fugir...

Jane ouviu a confissão dele comovida. Contudo, ainda não confiava nele. Se ele fugiu pelo medo, o que não faria a seguir, se tivesse medo novamente.

— Charles, já sabe minha resposta – ela falou de forma firme – Eu não posso, nem devo pensar no senhor. Estou noiva de outro homem e sigo adiante com meu plano.

— Jane...por favor, não faça isso! – Ele exclamou, se aproximando dela, fechando a distância entre os dois.  A essa altura, o sol já tinha partido e eles mal podiam se ver na escuridão que fazia no jardim. A não ser pelas luzes que vinham da casa, que ajudava pouco aos dois naquele instante, para poderem se ver – Me dê uma chance para me redimir. Para consertar tudo...por favor...- ele deixou o chapéu cair no chão e agarrou as mãos dela, beijando. Ela tentou se soltar, mas ele não permitiu – Jane, meu amor, não me faça sofrer mais...eu estou enlouquecendo sem sua presença.

Ela engoliu a seco, sentindo o coração disparado. Não sabia o que fazer, não sabia como proceder. Apenas sentia o aperto das mãos dele, de forma tão intima, que isso a fez perder sua razão. Fora seu erro não ter se afastado em seguida, deixando-se deliciar por aquele instante. Por aquele toque que despertava nela a saudades e o amor profundo que sentia por ele.

A porta da cozinha se abriu, revelando a Sra. Bennet, Kitty, Mary e por último, o Sr. Bennet. E ele não parecia nada feliz por ver Charles Bingley em seu quintal, em um encontro furtivo com sua filha mais velha.

— Como ousa aparecer aqui, senhor, sem nem ao menos se anunciar? – o pai de Jane trovejou.

Jane e Charles se afastaram, abruptamente. O coração de Jane batia ensandecido.

— Pai, não é o que senhor está pensando...ele não...

— Cale-se, Jane. Por Deus, não vou permitir que aconteça com você, o mesmo que aconteceu com Lydia – o Sr. Bennet retorquiu, de forma enérgica e avançou sobre Charles, segurando-o pelas lapelas do casaco – O senhor vai embora agora e nunca mais vai retornar, ouviu bem? Nunca mais!

— Mas, senhor, por favor, me deixe explicar...- Charles tentou falar.

— Querido, seja razoável...escutemos o que o Sr. Bingley tenha a dizer. Apesar de estarmos realmente muito, mas muito chateados com o senhor. Aparecer assim sem nem ao menos avisar, depois de um ano...- a Sra. Bennet falava pelos cotovelos, enquanto que o Sr. Bennet não parecia disposto a escutar nada.

— Saia, já – ele trovejou e empurrou Charles, que cambaleou para trás, mas se manteve de pé.

Jane, que via tudo, ficou muito envergonhada pela atitude intempestiva do pai. Ele nunca perdeu a calma na vida.

— Pai, por favor...- ela pediu.

— Jane, para dentro, agora! – o Sr. Bennet ordenou.

— Mas, pai, escute o que eles têm a dizer...- Kitty interviu.

— Não ouse me contestar, Katherine – o Sr. Bennet olhou para a filha com raiva – Para dentro, as duas. Você também, Mary.

As três partiram para o quarto de Jane. Ela, por sua vez, chorava copiosamente. Não sabia o que aconteceria com Charles. Apenas esperava que seu pai não fizesse mal a ele.

— O que houve, Jane? – Kitty perguntou, assim que ela trancou a porta e sentou na cama, limpando os olhos com o dorso da mão.

— Ah Kitty...eu...não...- ela engasgou com as palavras. Foi quando sentiu a mão de Mary no ombro dela, com um olhar compreensivo. Então, ela desabou de vez.

Chorou a noite toda. Mas, também explicou as irmãs o que houve entre ela e Charles.

— Eu mesmo explicarei a papai. Ele foi injusto – Kitty disse, decidida – Ele precisa ouvir a razão.

— Duvido que ele irá escuta-la, Kitty – Mary disse, com sabedoria. Afinal, Kitty era vista como uma jovem desmiolada, infelizmente.

— Como se você fosse capaz de convencer papai – Kitty desdenhou.

— Eu não, mas mamãe pode – Mary disse, astuta – Alias, você quer isso Jane? Quer o Sr. Bingley de volta a sua vida?

— Eu não...não sei se devo...- Jane confessou, apertando a mão da irmã, enquanto Kitty estava sentada no chão, olhando para ela com pena – Eu...eu o amo. Mas, o que faremos com o primo Collins?

— Ora, desfaça o compromisso. Ele é um horror – Kitty disse com asco – Por favor, faça isso por você. E por nós. Casasse com Bingley. Ele é rico, adorável e tem uma casa enorme. Vai dar bailes e não dar sermões...

— Sermões fazem bem a alma – Mary interrompeu.

— Sermões são tediosos – Kitty retrucou.

— Vocês duas, parem, por favor – Jane pediu.

Mas, era impossível para as duas irmãs. Contudo, a porta do quarto foi aberta, de forma abrupta. A Sra. Bennet estava no vão da porta, com um olhar avido.

— Querida, diga-me que o Sr. Bingley tinha intenções honrosas com você.

— Sim, mãe...mas por que está perguntando? – Jane parecia confusa com o olhar alegre da mãe.

— Ora, preciso realmente responder, querida? Ele é rico, bonito e vai nos deixar em segurança, quando seu pai morrer. Fará um casamento esplendido. Preciso contar a seu pai. Meus nervos não vão aguentar mais, se não algo mais acontecer nessa casa...

Ela deixou o quarto, sem ao menos ouvir Jane, que tentava perguntar a ela sobre Collins. O que fariam a seguir?

A noite fora mais difícil para Jane. Ela mal conseguiu dormir, lembrando de Charles. De como ele segurou suas mãos. E como foi enxotado por seu pai. Seu coração doía por isso. Quando amanheceu, ela escutou algo bater em sua janela. Jane foi até o parapeito e se assustou ao ver Charles, no andar de baixo.

Ela deixou que ele a visse e depois, pegou seu robe e desceu as escadas, indo direto para as portas do fundo. Quando contornou a casa, puxou Charles para que eles fossem a uma área mais afastada da propriedade, perto de um arvoredo.

— Está louco? – ela perguntou, se permitindo respirar – O que veio fazer aqui?

— Eu vim pedir que fuja comigo, Jane. Vamos nos casar e depois dar a notícia a sua família – ele parecia decidido e passou a mão pelos cabelos ruivos – Por favor, me diga que vai aceitar. É a única maneira de ficarmos juntos. Se quiser ficar comigo, é claro...

— Charles, não podemos. Entenda isso – ela pediu e o olhar dele esmoreceu – Se vamos nos casar, precisamos primeiro arrumar tudo. Preciso desmanchar meu compromisso com meu primo e depois...

— Então você quer se casar comigo? – Charles perguntou, surpreso e em seguida, a tomou nos braços – Jane, vamos fugir, meu amor. Depois, resolveremos o que ficou pendente...

Jane o empurrou pelo peito, se afastando dele. Seu coração batia rápido, pela aproximação dele. Ele a olhou com um olhar repleto de desejo e dor. E a puxou de volta, dessa vez, a beijando nos lábios. Ela foi tomada de surpresa. Não sabia como era beijar um homem, mas beija-lo parecia tão certo. Tão bom e maravilhoso. Ela se afastou, apenas para recuperar o ar. Ele a olhava com exasperação.

— Por favor, Jane...diga-me que não estou sonhando...que retribuiu meus sentimentos...

— Charles, se cale. Deixe-me apenas garantir que nunca mais, nunca, você vai ouvir o que qualquer pessoa tem a dizer sobre e sobre nós. Jure por sua vida que não vai me abandonar novamente.

— Jane, meu amor, eu nunca mais vou abandona-la, mas não precisa me pedir isso...

— Jure! – Ela exigiu. Afinal, não iria se casar com ele sem ter essa certeza.

— Eu juro por minha vida, meu amor, que jamais a abandonarei – ele prometeu, tomando as mãos dela, que estavam fechadas em punhos – E por favor, me perdoe. Eu fui cego, um tolo. Apenas quero fazê-la feliz.

— Bom, já que estamos de acordo, precisamos fazer tudo corretamente, Charles. Sem fugas, sem mentiras e sem causar mais problemas aos outros. Então, por isso, você vai voltar para sua casa...

— Jane, não me faça partir – ele implorou – Eu não suporto mais isso...Seu pai não me quer na sua vida. Ele deixou isso claro para mim ontem.

— Charles, minha mãe vai cuidar de tudo. Espere e verá. Venha hoje mais tarde, na hora do chá. Peça minha mão a ele. Eu tenho certeza que ele não vai negar outra vez.

— E por que ele agiu daquela forma ontem? – ele perguntou, com certa indignação.

— Ora, porque será? Você apareceu na nossa casa bem no fim da tarde, sem ser anunciado e estava a sós comigo. E eu estou noiva. Aliás, não sei se sabe, mas Lydia se casou, mas de forma escandalosa. Então, ai está mais motivos para ele agir como agiu ontem.

— Entendo – Charles assentiu com a cabeça – Então, voltarei mais tarde. Farei o pedido. Se ele não aceitar, eu vou leva-la, Jane. Não importa o que diga – ele tomou as mãos dela, beijando-as. Depois, a testa dela – Eu voltarei, meu amor.

Jane riu, vendo ele partir. Pela primeira vez, todo o peso que sentiu, se dissipou. Estava com o homem certo para ela. Com o homem que sempre amou. E no final, tudo deu certo, mas com alguns percalços. Como seu pai quase se recusando a aceitar Charles como futuro genro, mas a mãe de Jane ameaçou ir embora de casa, com ela e Charles, se ele se recusasse. Aquilo fora o suficiente para fazê-lo aceitar, a contragosto o casamento. E depois, Collins veio a propriedade, muito irritado, exigindo uma reparação pelo rompimento do compromisso. Naquele dia, o Sr. Bennet e Collins discutiram de forma ferrenha, quebrando relações. Charles, por sua vez, disse que iria pagar Collins pelo aborrecimento de ter perdido a noiva. No final, Collins não pediu nenhuma compensação monetária. Enquanto ele estava pela região, cortejou Charlotte Lucas e ela aceitou se casar com ele.

Jane e Charles apenas se casariam dali dois meses. E Charles jurou que nunca a deixaria além de cuidar da família dela, como se fosse sua. Para o horror de Caroline Bingley, quando recebeu a carta em Londres.

Fim do Flashback

“...E é com grande prazer que lhe convido para nosso casamento, daqui dois meses. Estou tão ansiosa que não posso acreditar, Elizabeth. Eu desejo tanto vê-la em meu casamento. Quero agradecer por tudo. Principalmente ao Sr. Darcy, que sempre foi tão bom conosco. Com certeza, Charles já deve ter enviado uma carta para ele, anunciando o compromisso.

Enfim, minha querida amiga, espero vê-la em Longbourn em breve. Será que podemos nos ver logo? Estou com tantas saudades.

Espero que meus tios e meus sobrinhos estejam bem. Envie meus comprimentos a eles.

Um até logo, minha amiga.

Da sua amiga,

Jane Bennet

Lizzy riu sozinha, sentindo-se maravilhada pela confissão de Jane, quanto aos sentimentos que tinha por Bingley, além de contar com detalhes tudo que aconteceu com ela naqueles dias. Esperava de coração que ela fosse feliz.

De repente, ela escutou alguém bater na sua porta. Ela dobrou a carta, decidida que iria responder depois. Tinha muito o que contar a Jane, também.

— Entre – ela convidou.

A porta se abriu, revelando Darcy. O coração dela quase saiu pela boca. Ele não entrou no quarto, permanecendo a porta.

— Eu apenas vim lhe dar boa noite, senhorita – ele disse.

Ela se levantou da cadeira, em frente a escrivaninha e foi até a porta.

— Gostaria de perguntar onde estava até essa hora, mas seria muita presunção minha, não seria?

Ele sorriu, sem parecer irritado com ela.

— Dando andamento em alguns planos, respondendo cartas também. E gostaria de compartilhar contigo uma boa notícia – ele respondeu, de forma alegre. O que deixou o coração de Lizzy aquecido. Era tão bom vê-lo com um semblante suave e despreocupado.

— Eu também tenho algo para lhe contar – ela disse, puxando a mão dele, sem perceber. Estava tão animada. Primeiro, por Jane e depois, por ele querer contar algo a ela.

Ele a olhou, surpreendido, mas entrelaçou a mão deles. Ela sorria como uma tola, de repente.

— Então, me diga primeiro – ele convidou, levando a mão dela aos lábios, beijando.

— Eu...er...- Ao sentir os lábios dele na sua pele, ela esqueceu o que iria dizer.

— Devo considerar sua falta de palavras uma amostra de como se sente comigo? Confesso que por vezes me sinto sem palavras quando estou perto da senhorita.

Ela acabou rindo da forma convencida dele.

— Darcy, você está se achando.

— Eu estou...perdão? – ele perguntou, confuso.

— Você é convencido. Só porque fiquei sem palavras, não quer dizer que é por causa de você – ela explicou, deixando uma risada escapar.

— Ah...e não é? – ele provocou.

— Ora, você é um sem vergonha – ela retrucou, mas sem deixar de sorrir.

— Eu tenho muita vergonha, senhorita. Aliás, nem deveria estar aqui – ele olhou para os lados – Já é hora de deixa-la, infelizmente – ele parecia desanimado – Mas, amanhã podemos conversar? Quem sabe, cedo.

— Por que precisa ir, Darcy?  Não quer entrar?

Ele ruborizou pela pergunta dela. Então, foi quando Lizzy percebeu que sua pergunta fora indecente, mas comum para o século dela. Afinal, um casal apaixonado sempre passava todas as etapas, até mesmo indo para a cama no primeiro encontro. Mas, ali, ela deveria respeitar as regras de etiqueta, se não quisesse escandalizar.

— Eu não devo, senhorita. Eu a deixarei por agora. Mas, espero vê-la amanhã – ele levou a mão dela mais uma vez aos lábios e se afastou – Até amanhã, senhorita.

— Até – ela acenou, sentindo-se impotente para segura-lo.

Amanhã ela contaria tudo a ele, sobre Jane. E estava ansiosa para saber a boa notícia que ele lhe daria.


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