Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 22
Capítulo 22




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806879/chapter/22

 

 

O caminho até Derbyshire fora tortuoso para Lizzy. Ela ainda pensava nas palavras de Darcy. Ecoavam em sua mente, como se ele as tivesse pronunciado instantes atrás. "Eu a amo ardentemente". Aquela declaração deixou Lizzy com os sentimentos a flor da pele. E para não denunciar o que sentia, ela sentou-se ao lado de Georgiana. Na verdade, ela implorou a jovem para continuar a viagem ao seu lado.

 

— Ora, mas por que você precisa implorar, Lizzie? Eu adoro sua companhia - Essa fora a resposta de Georgiana ao pedido suplicante de Lizzy. Pois, de fato, ela não conseguiria ficar perto de Darcy, não sem sentir o desconforto por estar perto dele.

 

Na verdade, ela ficara tão envergonhada, que mal poderia olha-lo. E foi o que aconteceu. Mesmo que estivesse ao lado de Georgiana, conversando, ainda sentia o olhar dele sobre ela, a queimando. Ele parecia desejar chamar sua atenção, mas Lizzy foi firme em seu propósito de não olha-lo uma vez sequer. Não queria denunciar seus sentimentos e que estava abalada pela confissão de amor dele. Por Deus, ela queria era beija-lo e dizer que era apaixonada por ele. Mas, seria errado. Seria condena-lo ao sofrimento, por ela nunca poder ficar com ele, além de não ser seu desejo viver naquele século atrasado e seria condenar sua família ao ostracismo social. Afinal, iriam julgar a escolha de Darcy, quanto ao casamento com ela, de forma severa. Muitas famílias poderiam cortar relações com eles e Georgiana não seria cortejada por cavalheiros de boa família. Ela talvez, nem tivesse chance de se casar bem. Não, Lizzy jamais faria isso com os dois. Ela amava cada um deles, de todo seu coração. Assim como amava sua irmã Jane. E ter amor por eles era algo sério para ela. Lizzy iria sacrificar sua felicidade, se isso fosse necessário, para vê-los felizes.

 

— Senhorita Elizabeth - Darcy a chamou, enquanto ainda estavam no interior da carruagem.

 

Lizzy virou a cabeça para ele, interrompendo sua conversa com Georgiana. Sentia todo seu corpo retesado por ignora-lo por tanto tempo.

 

— Não cumpriu sua promessa - ele disse, com uma voz calma, mas seus olhos não demonstravam calmaria. Pareciam estar em tormenta.

 

Ela engoliu a seco. Mas, matendo firme seu propósito de evita-lo, ela respondeu:

 

— Eu acredito que fiz o que o senhor pediu. Como pode ver.

 

Ela não queria explicar na frente do Coronel Richard e Georgiana que havia evitado sentar ao lado do coronel, apenas para fazer a vontade de Darcy. Aliás, ela nem deveria fazer, mas acabou compreendendo que seria a melhor solução. Darcy parecia ser um cavalheiro calmo e sério, mas ele havia mostrando um lado sombrio, quando a viu com Alexander na biblioteca da mansão dos Harris. Quase havia matado o rapaz, devido aos socos que derá. Devido a isso, Lizzy percebeu que o melhor era não provocar sua ira, mesmo que ele estivesse errado. Contudo, teria uma conversa bem séria com ele sobre seu comportanto ciumento e possessivo. Não iria tolerar ser controlada.

 

Darcy ao ouvir sua resposta arqueou a sobrancelha e deu um pequeno sorriso, balançando a cabeça de leve. Um movimento imperceptível, mas que Lizzy havia percebido como uma forma de estar aquiescendo quanto a resposta dela. Nada disso foi passado despercebido por Georgiana e Richard, que notaram o clima se alterar dentro da carruagem. Era vísivel que Darcy estava totalmente entregue e apaixonado por Lizzy, contudo, ela parecia se esquivar dele. O que Georgiana não compreendia. Ela tentaria conversar com Lizzy e sondar seu coração em breve.

 

Lizzy continuou a conversar com Georgiana, dessa vez sobre a organização do baile. Georgiana solicitou a ajuda dela para fazer isso, mas Lizzy não sabia como fazer algo tão complicado. Era péssima em organizar sua vida. Ter de organizar um evento daquela magnitude seria um verdadeiro desastre.

 

— Escuta, Georgie, não me leve a mal, mas eu não sei nada sobre bailes, nem organização de eventos - ela explicou.

 

Georgiana apenas sorriu.

 

— Tenho certeza de que deve saber uma ou duas coisas sobre isso. E apenas preciso da sua presença nesse momento, para me apoiar. Afinal, Darcy irá fugir com certeza disso e Richard - ela olhou para o primo com um olhar afiado - Vai fazer o mesmo. Com certeza, vão se juntar no escritório e fazer coisas que os cavalheiros costumam fazer.

 

— Que é administrar uma propriedade, é claro, no caso de Darcy - Richard complementou em um tom jocoso, sem parecer ter medo do olhar da prima - Eu estou de férias do regimento e vou apenas relaxar. Quem sabe, atrapalhar um pouco Fitz - ele piscou para Darcy, que balançou a cabeça, com um olhar que poderia ser descrito como revirar os olhos. Algo novo dele, afinal, ele somente demonstrava isso perto das pessoas que eram intimas a ele.

 

Lizzy aproveitou o instante para observar o semblante dele, que estava mais leve. Apesar de não falar muito durante a viagem, pelo menos ele não parecia tão carrancudo como antes. E Lizzy se sentia mais leve, apesar de estar desconfortável com a situação toda, quanto ao sentimentos de Darcy.

 

*

 

A tarde então deu lugar ao alvorecer. A lentidão daquela viagem estava sendo quase insuportável para Lizzy, que não estava acostumada a ficar em um espaço apertado. Apesar da carruagem ser grande, ela ainda sentia-se sufocar. Abriu a janela, deixado que a brisa do verão tocasse seu rosto. Podia ver da janela os tons ricos de ouro, salmão e azul no horizonte. Ao seu lado, Georgiana dormia. A frente dela, Richard parecia ter pegado no sono também, com os braços cruzados. Então, ela reparou que Darcy ainda estava acordado, com a cartola sobre o colo. E ele olhava diretamente para ela.

 

Lizzy desviou o olhar, sentindo-se constrangida pelo olhar intenso dele. Por que ele precisava ser tão bonito e charmoso? Como ela faria para se esquivar dele dessa maneira? Seria essa sua intenção? Será que ele sabia de que era dotado de uma beleza que cativava uma mulher? Que seu olhar expressivo era tentador e ela tinha o desejo de beijar aqueles lábios bem desenhados, assim como todo seu rosto, até talvez, fazer uma loucura? Uma loucura de entregar-se ao que sentia, afinal, seria totalmente impróprio para aquele tempo. Ela não era uma dama ideal para aquele tempo. Ele ficaria horrorizado com o que ela estava pensando em fazer com ele.

 

— Tenho a impressão de que a senhorita está me evitando - ele quebrou o silêncio, assustando ela. Seu tom era zombeteiro.

 

Ela o fitou pasma. Ele estava realmente estabelecendo uma conversa? E fazendo uma provocação? Ora, por essa ela não esperava. Ela olhou para o lado, mas Georgiana e Richad continuavam a dormir.

 

— Eu não estou evitando nada - ela respondeu, olhando para ele com obstinação. Ela nunca saia de um debate sem lutar.

 

— Hum...eu acredito que esteja sim. Eu pedi que a senhorita senta-se ao meu lado, não foi assim?

 

Ora, mas como ele era persistente. Parecia que não iria esquecer disso. Mas, Lizzy nunca concordou com aquela ideia.

 

— Escute, Darcy - ela se esqueceu das formalidades, mas isso não parecia afeta-lo. Ele continuava a manter seu olhar de forma inquietante. Contudo, dessa vez ela iria enfrenta-lo - Eu não sou sua para dizer o que devo ou não fazer.

 

— Então eu terei que corrigir isso - ele deixou escapar.

 

Ela queria rir. Ele estava realmente ter posse sobre ela? Sobre Elizabeth Bennet? Ele que pensasse duas vezes antes de tentar doma-la.

 

— Darcy, não sei o que quer dizer com isso. Mas, deixarei claro, ninguém manda em mim!

 

Ele assentiu, levemente, mas seu olhar ainda era penetrante. O que estava enervando ela por dentro. Como ele era capaz de deixa-la apaixonada em um segundo e no outro, irrita-la tanto?

 

— Não sei se sabe, pois acredito que deveria saber, uma dama em algum momento se torna uma esposa e deve obedecer ao seu marido. Faz parte do casamento.

 

— Então, prefiro nunca me casar! - ela retorquiu, irritada. Infelizmente, Darcy era como todos os cavalheiros daquele tempo. Era esperar demais ele acreditar que as mulheres deveriam ter direitos e não ser tratadas como posse do seus maridos.

 

— A senhorita deseja ser uma solteirona para sempre? É isso que deseja? Ser uma governanta, ou viver de favor na casa de parentes, sem um futuro garantido? - ele perguntava como se fosse algo grave de se fazer. Uma atitude intolerável. Mas, ele não a conhecia de fato. Não sabia que ela vivia sozinha, em outro tempo e que se sustentava. Nem que preferia morrer solteira ao ter de entrar em relacionamento que estaria fadado ao fracasso. Ela precisava amar a pessoa que estivesse com ela. E ele teria que ama-la, igualmente. Se não, nunca iria entregar sua vida a qualquer homem.

 

— Darcy, você pode pensar que o casamento é tudo na vida de uma dama, mas para mim não é. Eu posso fazer exatamente isso que disse. Não tenho medo do trabalho e não vou precisar viver de favor com parentes. Não se preocupe comigo - Ela não conseguia conter a ironia em sua voz.

 

Ele balançou a cabeça, descrente. E parecia contrariado.

 

— A senhorita não é nada parecida com as damas que conheço - ele murmurou, para si mesmo, absorto.

 

— É tão ruim assim ser diferente? - ela perguntou, ofendida.

 

— Não, de maneira alguma. É algo peculiar. A senhorita tem personalidade e isso eu nunca vi em nenhuma mulher que conheci - ele se apressou em dizer. Olhava para ela dessa vez, admirado - A senhorita então não deseja se casar por não desejar ser controlada?

 

— Exatamente. Não quero estar sob a tirania de um marido - ela frisou.

 

— Entendo - ele disse, desviando o olhar, com a mão no queixo, parecendo pensativo - Sabe que um casamento é baseado na obediência, não sabe? - Ela assentiu. Naquele tempo era comum, mas ela não era daquele século - E seu lhe dissesse que talvez, as coisas podem mudar? Que um homem pode conviver com uma mulher sem isso?

 

— Eu diria que esse homem é muito avançado para sua época e que não existe - ela respondeu, de forma seca, afinal, era pedir muito um homem se submeter a isso. Seria como ganhar na loteria.

 

— Eu devo concordar que sim. Mas, e se esse homem estivesse pensando na mulher que ama e apenas deseja que ela seja feliz? Mesmo que tenha que mudar sua forma de pensar?

 

Toda aquela conversa estava em rumo o qual Lizzy não sabia qual era. O que ele estava querendo dizer com aquelas perguntas?

 

— Darcy, onde você quer chegar com seus questionamentos? - ela inquiriu.

 

— Apenas me responda, Elizabeth, se esse homem existisse, você se casaria com ele? Daria uma chance para que ele mudasse sua forma de pensar, apenas para vê-la feliz?

 

Lizzy ficou ruborizada com a pergunta. Já havia entendido tudo. Ele estava falando de si mesmo nas estrelhinhas. Ele estava disposto a mudar por ela!

 

— Darcy, eu não sei...eu teria que amá-lo. Teria que retribuir seus sentimentos, não acha?

 

— Sim, é claro que sim. Mas, se o amasse, daria a chance para ele?

 

— Eu...- ela hesitava em responder. Tinha medo da própria resposta.

 

Então, a carruagem deu um leve solavanco. Ela olhou para o lado, assustada. Percebeu que o sol já estava sumindo no horizonte. E que o veículo havia parado.

 

— Por que paramos? - ela perguntou, tensa.

 

— Deve ser porque chegamos, eu presumo - Darcy respondeu. Ele puxou a cortina do seu lado e observou a janela - Veja, estamos em Pemberley, Elizabeth.

 

Ela olhou para fora, como ele havia indicado e se deparou com uma mansão enorme. A carruagem estava parada em frente as escadarias do local. O local tinha um tom bege, deixando-a com um aspecto clássico. Lizzy notou que a direita, havia um lago, bem no meio da propriedade.

 

— Uau - ela deixou escapar, devido ao seu encantamento - É incrível. Darcy, que lugar lindo!

 

Ela se virou para ele, com um olhar deslumbrado. E ele sorriu para ela.

 

— Sim, realmente incrível - ele concordou, mas não era sobre Pemberley que ele falava. Era sobre ela.

 

— Podemos sair? - ela perguntou.

 

A porta logo em seguida a sua pergunta, foi aberta pelo Sr. Dawson.

 

— Senhor Darcy, chegamos - ele anunciou.

 

— Ótimo, Sr. Dawson. Por favor, ajude a senhorita Elizabeth a...descer - ela já havia feito isso e observava tudo do lado de fora, em pé sobre o chão de cascalho.

 

— Ela nunca permite que eu abra a porta para ela, senhor. Nem que o ajude a descer - o Sr. Dawson comentou, com humor - A senhorita Bennet é uma dama de fibra.

 

— Devo concordar, Sr. Dawson. Devo concordar.

 

 

 

*

 

 

 

Lizzy não pode ver toda a propriedade aquela noite em que chegou. Apenas foi apresentado o quarto dela no terceiro andar, onde ficavam os quartos de hospedes. Seu quarto ficava ao lado de Georgiana e ao lado do Sr e da Sra. Gardiner. Para facilitar, os quartos das crianças ficaram no mesmo andar, ao invés de ser na ala das crianças. Afinal, não havia uma governanta para cuidar dele, afinal, a Sra. Gardiner dispensou os serviços de Lizzy enquanto estivessem na mansão Darcy. Lizzy tentou recusar aquela ideia, afinal, temia perder seu emprego. Precisa disso, até poder ir para casa. E não iria morar de favor com ninguém. Mas, era impossível mudar a ideia da Sra. Gardiner.

 

— É hora de descansar, Elizabeth. Aproveite essa semana de folga, sim? - ela deu tapinhas no dorso da mão de Lizzy, enquanto se afastava no corredor, para descansar.

 

O jantar havia sido agradável. O salão de jantar era enorme, com janelões com vista para um jardim extenso. Lizzy estava deslumbrada com o requinte do local e a mesa enorma, de carvalho, para pelo menos trinta convidados. Os Gardiner, os Darcy e Lizzy não ocupavam nem metade da mesa.

 

Lizzy pode ver que a iluminação vinha do lustre pendido no teto, que era ricamente detalhado. As velas eram visíveis do angulo que ela estava sentada. Estavam tão absorta nas suas observações, que Darcy disse, em frente a ela:

 

— Gostou da decoração, senhorita Elizabeth?

 

Ela se assustou, ficando envergonhada por ter sido pega observando tudo. Seria falta de decoro olhar como ela fazia?

 

— Sim, eu...é tudo muito bonito e majestoso, senhor - ela respondeu.

 

Ele deu um leve sorriso para ela, para depois bebericar da sua taça de vinho.

 

— Espero que tudo esteja de seu agrado, senhorita.

 

Ela respirou desconfortavelmente. Então, ele tentava impressiona-la? Era isso? Bom, se era esse seu intento, ela estava de fato, muito impressionada. Mas, isso não a faria mudar de ideia quanto a se casar com ele. Casamento era ter responsabilidade. Além do mais, ela não saberia lidar com aquela propriedade, nem gerencia-la, mesmo tendo empregados a disposição. A questão de voltar no tempo também era um dos fatores negativos. E por último, ela percebeu que desejava ser apenas Elizabeth Bennet, uma mulher comum. Não precisava de nada ostentoso em sua vida. E a senhora Darcy teria que se acostumar a toda aquela vida cheia de pompa a riqueza. Algo que Lizzy encarava com medo, devido aos olhares de julgamento que sofreria, além do fato de não saber como uma dama da sociedade se portaria. 

 

— Está tudo perfeito, obrigada - ela tentou ser gentil com Darcy, afinal, ele estava se esforçando para deixar tudo do agrado dela. Apesar das suas intenções escusas, de tentar faze-la se casar com ele. O que de certo modo não era tão ruim. Ela gostava dele. E percebia a cada segundo que passava em sua presença. Se não sentisse nada, ficaria muito incomodada e teria que tomar medidas drásticas quanto a isso. Esse era o problema. Por gostar dele, não conseguia afasta-lo como deveria.

 

Depois do jantar encerrar, Lizzy pediu a localização da biblioteca para Georgiana, que estava saindo da sala de jantar.

 

— Venha, eu mostro para você.

 

Antes que ela pudesse ir, ela pediu a um dos lacaios que estava retirando os pratos da mesa para providenciar uma vela para elas. As duas caminharam ainda no andar térreo e seguiram por extensos corredores, decorados com quadros e vasos de plantas. Então, Georgiana parou em frente a duas portas que iam do teto ao chão abriu as duas maçanetas. O local estava mergulhado na penumbra. Apenas com a luz da vela, era possível enxergar o que havia diante de si.

 

— Vou chamar um criado para acender mais velas, se quiser ficar aqui, Lizzie - Georgiana disse, de forma solicita.

 

— Ah, não. Não precisava. Apenas vou pegar um livro. Você me espera? - ela pediu.

 

— Lizzie, devo declinar seu pedido. Mas, sinta-se em casa. Eu apenas vou me retirar por agora, pois estou muito cansada da viagem, tudo bem?

 

— Sim, é claro. Mas, como vai voltar sem a vela?

 

— Não tem problema. Eu sei me guiar - Georgiana garantiu - Uma boa noite.

 

— Para você também, Georgie.

 

Lizzy escutou os passos de Georgiana sobre o assoalho. Depois, o silêncio. Então, ela iluminou o local a sua frente. Podia ver uma estante enorme a sua frente. Havia tantas lombadas de livro para ver. Ela encontrou um livro que já havia ouvido falar, de Daniel Defoe. Um romance que conta as aventuras de Robinson Crusoe. Lizzy puxou o livro e iluminou o local, pensando em voltar para o quarto, mas não estava com sono. Procurou com a vela uma poltrona, pois com certeza em uma biblioteca teria. Avistou ela perto da parede. Andou até lá, com cuidado, com medo de bater em alguma coisa e se sentou. Pingou a cera da vela no chão e fixou ela para poder ler o livro.

 

Se preparou para o momento em que seria arrebatada pela leitura de um romance de aventura, mas estava tendo dificuldade em ler o livro com a luz da vela. Seus olhos estavam cansados, na segunda página e ela tinha certeza de que leu o mesmo parágrafo duas vezes. Quando percebeu que não iria conseguir acompanhar a trama, escutou passos.

 

— Quem esta ai? - ela perguntou, um pouco assustada.

 

— Sou eu, senhorita Elizabeth - era a voz de Darcy.

 

Lizzy puxou a vela do chão, deixando o livro na poltrona e se pôs de pé. Não esperava vê-lo aquela hora da noite.

 

— Não conseguiu dormir? - ele perguntou e ela pode ouvir seu passos. A vela iluminava fracamente o ambiente e Lizzy conseguiu distinguir melhor seu rosto, quando ele estava há alguns passos dela. Afinal, era tinha miopia. Não conseguiria enxergar tão longe, nem se tentasse.

 

— Pois mais que a viagem tenha sido cansativa, eu não queria ficar enclausarada de novo. Então, resolvi ler - ela respondeu.

 

— Sim, é claro - ele concordou.

 

Então, o silêncio imperiou no ambiente. O que ela poderia falar agora, para preencher o silêncio? Talvez, falar sobre o que lia?

 

— Eu estava lendo Robinson Crusoé...

 

— Elizabeth, eu queria falar a você...

 

Os dois haviam falado ao mesmo tempo, interrompendo um ao outro. Lizzy se calou imediatamente. Não esperava que ele fosse se abrir ali, naquela biblioteca, naquela noite.

 

— Eu...me perdoe - ele pediu, com a voz baixa - Eu a interrompi. Sobre o que falava?

 

— Eu...não sei - ela respondeu, sincera. Nem sabia mais sobre o que iria falar - Eu acho que vou...

 

Ela iria passar por ele e terminar a frase, dando boa noite, mas ele a segurou pelo cotovelo.

 

— Elizabeth, por favor. Não vá - ele pediu.

 

— Darcy...não é certo que fiquemos sozinhos em uma biblioteca - ela tentou argumentar - O que os outros vão falar de nós?

 

— Tem razão...mas...- ele parecia lutar com as palavras - Eu queria lhe dizer que não consigo parar de pensar em você. Que desde que a conheci, eu não durmo uma noite sem sonhar contigo. Que quando fecho os olhos, apenas vejo seu semblante sorridente. E me apaixonei por sua vivacidade. Seu lado opinioso me surpreende, espanta, mas cativa. Mudou-me por inteiro e não sei mais quem eu sou. Me fez questionar o que penso e como vivo, Elizabeth. E não suporto mais seu silêncio quanto aos meus sentimentos. Por favor, me diga se sente algo por mim. Se retribui meus sentimentos. Se não, eu a deixarei e não farei mais perder seu tempo. Prometo nunca mais renovar meus sentimentos, se sua resposta for negativa. Para ser sincero, eu espero que não seja, pois sem você, Elizabeth, eu talvez não saiba encontrar a felicidade. Mesmo, que me diga que a felicidade não deve ser relacionada as pessoas.

 

Ela ficou surpreendida ao ouvir sua declaração. Não sabia quantas vezes mais ele iria fazer isso com ela. A cada vez que ele abria seu coração, mais ela se via apaixonada por ele. Como renegar o que sentia.

 

— Darcy...eu...não sei o que dizer...

 

— Apenas seja sincera em seus sentimentos. Por favor, me diga que também retribui meus sentimentos. Ou negue. Acabe com minha agonia, Elizabeth.

 

Sua voz era sofrida, o que despertava sentimentos antes nunca conhecidos por Elizabeth. Ela queria aplacar toda sua dor. Queria envolve-lo em abraço, repleto de amor. Mas, não foi o que fez.

 

— Sim...eu...retribuo seus sentimentos...

 

— Graças a Deus - ele sussurrou, para em seguida de corrigir - Quero dizer...estou...não sabe o quanto me deixa feliz, Elizabeth, meu amor.

 

Ela sentiu o coração dolorido ao ouvir isso. Então, o movimento em seguida a fez ficar ainda mais espantada. Ele a puxou pela cintura e a abraçou. Ela ficou rigida, mas acabou retribuindo. Era um choque receber um abraço tão sincero daquele homem, que quase não acreditava. E ela não era dada a demonstrações de afeto, tão abertamente. Ela o abraçou com cuidado, por causa da vela que ainda estava na sua mão direita.

 

— Darcy...eu acho que é melhor...a vela - ela tentou explicar.

 

— Deixe-me ajuda-la com isso - ele disse, se afastando e pegando a vela da mão dela.

 

Ele se afastou, deixando o local em que ela estava mergulhado em escuridão. Podia ver a luz iluminar o caminho pelo qual ele percorria. Ele parecia procurar alguma coisa em uma superficie. Então, voltou com um candelabro na mão. Ele deixou no chão e depois, fez algo que a tirou seu raciocionio. Ele tomou seu rosto e beijou sua testa. Ela esperava um beijo nos lábios,mas ele era cavalheiro para quebrar as regras.

 

— Eu a amo tanto, Elizabeth. Me perdoe por estar me declarando aqui, na biblioteca, como se fossemos dois amantes...mas, não suporto mais estar longe de você - ele se afastou dela, alguns passos, para manter o decoro, com certeza.

 

Ela queria sorrir. Ele era casto, um homem direito. Preocupado com a reputação dela. Ah, se ele soubesse que Lizzy não se importava com nada disso.

 

— Darcy, venha aqui um instante - ela pediu.

 

— Aqui aonde? - ele perguntou, confuso.

 

— Me abrace de novo - ela pediu.

 

— Eu não sei se devo. Na verdade, eu acredito que seria melhor voltar para o quarto. E a senhorita também...eu...

 

— Pelo amor de Deus, Darcy. Pare com seus protestos - ela pediu, irritada.

 

Então, ela mesma dizimou a distância entre eles e o puxou pela cintura. Ele estava rigido, mas ela não se importava com isso. Precisava fazer algo que queria há um bom tempo. Ficou na ponta dos pés e inclinou sua cabeça para beija-lo nos lábios. Sua boca encostou na dele, deixando-o ainda mais rigido. Mas, em um segundo, ele soltou um gemido e a puxou contra si, pela cintura, enquanto seus lábios esmagavam o dela. Depois, seu beijo se tornou mais suave, mas não sem conter paixão.

 

Ela sentiu como se nunca tivesse sido beijada na vida. De fato, nunca foi, pois os homens com os quais se relacionou não faziam seu coração bater tão forte no peito. Não fazia ela respirar com dificuldade, nem faziam declarações tão poéticas. Ela sentiu o toque dele, de forma urgente, desfazendo os penteado dela, retirando as forquilhas, que caiam no chão, em um estrépito. Lizzy se agarrou mais a ele, sentindo-se deliciada pelo seu toque e amando estar usando um vestido tão simples, para poder sentir cada parte do corpo dele. Ela queria muito mais, naquele momento. Queria fazer com que ele senta-se na poltrona atrás dela, para que ela pudesse fazer algo muito, muito mais impróprio. Com certeza, ele iria protestar, mas ela o convenceria disso. Precisava urgentemente dele e não estava pensando direito.

 

Então, ele afastou sua boca da dela, interrompendo o beijo. Respirava profusamente.

 

— Elizabeth, é melhor...nós...você deve...

 

— Não, eu não devo - ela negou com a cabeça. Agora que haviam começado, ela não queria parar.

 

— Elizabeth, não...quero me casar contigo, antes que aconteça algo mais...intimo - Era claro em sua voz que ele estava envergonhado em pensar no que viria depois daquele beijo.

 

— Darcy...eu não me importo com isso...eu só quero você - ela tentou argumentar. Sua mente fervilha de desejo.

 

— Não, de jeito nenhum - ele se afastou dela - Eu...isso tudo é...enlouquecedor. Você me enfeitiça, Elizabeth. Me fez fazer algo impensável. Eu jamais entraria em uma biblioteca e desenroria uma dama. E não farei isso com você, meu amor. Então...- ele suspirou - Então...eu vou para meu quarto. Nos vemos amanhã.

 

— Darcy - ela tentou para-lo.

 

Mas, ele apenas se desvencilhou, ficando mais afastado dela. Sem a vela, ela não conseguia ver nada diante de si.

 

— Amanhã, Elizabeth. Não me faça cometer uma loucura - ele pediu, apertando o ombro dela - Seja uma boa dama e vá para cama, sim?

 

Ele saiu em seguida, em disparado. E suas palavras inflamaram a irá dela.

 

— Seja uma boa dama? Darcy, você é um...argh - ela deu um gritinho indignado.

 

Aquela noite não seria fácil. Não mesmo. E tudo porque ele havia inflamado algo que ela nunca sentiu por ninguém.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.