The Hurting. The Healing. The Loving. escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 28
Capítulo 27




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Tanier estava em festa. O dia de um santo cristão se misturava às lendas folclóricas que os habitantes da cultuavam há séculos e, por isso, a pequena cidade que absorvia cultura de diversos países vizinhos do Leste Europeu, caminho para muitos lugares e chegada de poucos, se movimentava em luzes coloridas, vestes e máscaras tradicionais, além de comidas regionais. 

Wanda estacionou na praça da cidade enquanto Bucky observava com olhos atentos todos os movimentos. Mesmo que Tanier fosse relativamente pequena, seus habitantes e turistas se misturavam entre risadas, deslumbramento e álcool. Seria fácil esconder um movimento suspeito entre tantas alegorias diferentes, especialmente para o sargento, que não possuía o devido treinamento para, realmente, enxergar algo místico, algo não tão óbvio. 

O sol começava a se pôr no horizonte, mas todos já estavam concentrados na única avenida da cidade, próxima à Estação, andando por entre barracas, comprando lembrancinhas e interagindo com pequenas apresentações dos habitantes locais. Tinham decidido jantar antes de procurar pela “Bruxa Branca”, pois não era como se tivessem marcado com ela e, além disso, poderia usar esse tempo para falar com Sam e saber quando seria resgatado. 

Bem, talvez essa não fosse a palavra correta, pois não sabia se queria realmente sê-lo. Apesar de ter sido o Capitão a levá-lo para aquela jornada em busca de ajudar Wanda, depois dos acontecimentos de Westview, era claro que Sam não tinha tanta fé assim na Maximoff. Por mais que quisesse o bem dela, ele a conhecia apenas na superficialidade, o que era compreensível: a Wanda com a qual tivera contato, especialmente no tempo de exílio deles em Wakanda, era uma garota, totalmente diferente da mulher que se tornara, muito mais cega sobre seus poderes e até mais imatura. 

— Uau… - A feiticeira estacou ao lado dele ao levantar os olhos da bolsa, onde guardava as chaves do carro, e analisou toda a cena com calma. - Isso é… Me lembra Sokovia, mas é tudo mais… Colorido.

Definitivamente, não esperava que Wanda fosse se deixar deslumbrar pelo que deveria ser apenas uma forma de acobertar a presença deles ali, apenas uma comemoração folclórica útil. Ela usava seu tradicional boné preto, assim como ele, e havia tornado os cabelos mais escuros e acastanhados com magia, mas os olhos esverdeados ainda refletiam o brilho vermelho e amarelado das luzes cada vez mais fortes com a entrada da noite, a expressão maravilhada preenchendo cada vez mais seu rosto. Isso o fez pensar que a ruiva não deveria ter tido muitas oportunidades para aproveitar momentos como aquele e apenas por isso não se impediu de dar um passo adiante. 

— Quer ir até lá? - Ela se voltou a Bucky ligeiramente alarmada, respondendo de forma rápida. 

— Não. - O soldado levantou uma sobrancelha e Wanda forçou um sorriso hesitante. - Não, eu… Nós precisamos ir procurar um lugar para comer e depois… 

— Wanda. - Levou a mão ao ombro dela, tentando tranquilizá-la com o gesto, os dedos enluvados escorrendo pelo tecido da blusa preta como se tivesse autorização para fazê-lo. - Sua… Amiga ainda estará lá quando for procurá-la. Você pode aproveitar isso um pouco, algo mundano. Você não deve nada para os outros. 

— Você sabe que isso não é verdade.

Ela murmurou antes de encará-lo de maneira insistente, os doloridos olhos em contraste com tudo ao redor. Sim, ele sabia, que Wanda se sentia culpada por ter usado a mente das pessoas de Westview e, praticamente, as torturado por semanas, até que tudo acabasse e não a via lidar, de verdade, com os problemas que causara. 

— Pode ser verdade… Por um instante. 

A ruiva abriu a boca para negar, mas Bucky não lhe concedeu essa chance e desceu a mão até acima de seu cotovelo, empurrando-a levemente na direção do movimento. Onde estavam, pessoas iam e vinham, já satisfeitas com sua interação com a tradicional feira, então… Fazendo o caminho inverso e desviando-se de outros, os dois começaram a percorrer a comemoração.

Podia sentir a hesitação da mulher ao seu lado, enquanto meramente apoiava seu braço, como se não merecesse qualquer momento de paz para aproveitar algo simples, como qualquer outra pessoa - outro herói - faria em seu lugar. Sabia, por experiência própria, que heróis tinham a tendência de serem egoístas, então, ao menos para ele, Wanda deveria ter sua cota em semanas ou meses de auto-penitência. 

Ainda assim, era ela quem os guiava entre as barracas e pessoas, apenas um passo à sua frente, desde que relutantemente soltou seu braço. Não parecia ter se importado com o contato nem o fato de tê-lo tão perto, além disso, aparentava, aos poucos, se deixar entrar naquele pequeno mundo delineado para um dia. 

— As pessoas parecem mais… Eufóricas. - Ela comentou sob o boné escuro e Bucky se inclinou para ouvi-la melhor sob toda a música, conversa alta e risada que os rodeava. - Quero dizer, depois do estalo. 

— Acha que tem a ver com isso? - Perguntou, curioso, pois de fato tudo parecia exagerado, tanto a grandiosidade do que se tornara uma pequena feira folclórica tradicional numa cidade com poucos habitantes até a animação dos participantes. 

— É como… - Ela parou entre as barracas e se voltou à ele, gesticulando com seus dedos cheios de anéis. - Sabe quando os soldados voltam da guerra? Uma guerra ganha e as pessoas comemoram por dias, sem acreditar que isso foi possível ou… Que as pessoas que amavam estão de volta para suas devidas realidades, sejam elas problemáticas ou não?

— Sim. - Concordou. 

— Em minha mente, é exatamente como isso se parece. 

Ele concordou lentamente, criando na mente o cenário sugerido. Apesar de parecer prestar atenção em tudo o que fosse relativo à festa, parecendo repleta de percepções sobre, podia ver o semblante ainda tenso em suas feições, provavelmente pela infinitude de pensamentos alheios que deveria estar tentando bloquear naquele instante. 

Antes que ela voltasse a andar, um turista bêbado demais passou tropeçando às suas costas, segurando uma caneca cheia para a quantidade de cerveja preta que aguentaria beber a julgar pelo estado, empurrando-a contra ele em uma tentativa de se equilibrar enquanto ria com os amigos, que o seguiram sem notar. 

Bucky imediatamente a amparou, impedindo que ela tropeçasse, mas não rápido o suficiente para todo o momento não ficar estranho quando ela levantou os olhos em um resquício escarlate, o instinto pronto para lidar com aquele empecilho. Apertando as mãos novamente em torno dos braços da mais baixa, se recusou a recuar por conta do brilho cada vez mais presente. 

— Wanda. Foi só um acidente. 

Ela ainda sustentou o contato visual por alguns segundos, como se buscasse convicção para responder ou para deixar de lado, o rosto fechado e concentrado nele. Até que engoliu em seco e piscou, abaixando os olhos e tentando abandonar a posição tensa. 

— Sim… - A observou pigarrear e olhar ao redor, constrangida, até que ele quebrasse o inevitável silêncio instalado entre eles após o olhar escarlate fazer o mesmo. Às vezes, se esquecia como aquela outra parte habitava nela sem que pudesse ter qualquer controle. - Certo. 

— Vamos comprar algo para beber. 

Decidiu por eles, puxando-a entre as pessoas, os dedos firmemente fechados no pulso mais fino. As pessoas dificultavam parte do caminho, mas, na verdade, não tinha muita pressa. Wanda o cutucou uma ou duas vezes para dizer ou apontar algo interessante em meio a tanto movimento diferente de tudo aquilo que vinham vivendo nos últimos dias. 

Só então, notou como, sem perceber, se deixara monopolizar por ela, sua presença intrigante e sua vulnerabilidade gritante. Nunca se imaginara naquele lugar, vivendo algo que se parecia tanto com uma encruzilhada traiçoeira, mas estava e precisava urgentemente respirar fora daquela realidade para recordar a si mesmo que não estava louco e todas aquelas sensações eram mesmo dele. 

Engoliu em seco, desejando que estivesse sem luva para que pudesse sentir de verdade a pele quente sob os dedos, que percorriam um caminho distraído ao redor do pulso dela, sem que sequer notasse até que ela apontou um bar onde poderiam conseguir cerveja de qualidade a um preço justo. 

O pequeno pub era antigo, mas luzes coloridas cobriam todo o teto, deixando o ambiente predominantemente avermelhado, mesmo que houvesse iluminações nas cores azul e verde. O vermelho predominava em tudo ao redor, combinando com a cor do estofado das banquetas amarronzadas e da madeira rústica e pesada do balcão e das paredes. 

Ao que parecia, serviam apenas cerveja e não outros tipos de drink, notou quando deu lugar para que ela se acomodasse em uma das banquetas que acabava de vagar, se debruçando sobre o balcão logo ao lado da ruiva para fazer um sinal ao barman. 

Ambos se voltaram ao menu escrito com giz em uma das placas negras na prateleira logo atrás dos barmans e Wanda escolheu uma cerveja escura, tipicamente alemã, enquanto Bucky optou por algo mais suave. Ela tinha seus gostos mais baseados em sua origem do leste europeu, enquanto o paladar de Bucky se identificava muito mais com as cervejas baratas do Brooklyn. 

— Fazia um tempo que não frequentava um lugar assim. - Abaixou os olhos para ela, tão próxima por conta de como o bar estava lotado, que podia enxergar algumas sardas em seu nariz, bem como a linha um tanto desgostosa no canto dos lábios. - Tão… Ordinário. Não no mau sentido, mas tão… cheio de vida de verdade. Eu… Na verdade, sempre evitei lugares assim. 

Queria que ela pudesse tirar o boné para que conseguisse enxergar os olhos esverdeados com mais clareza, mas ambos não eram exatamente queridos por onde passavam e era melhor que não fossem reconhecidos por quem quer que fosse. De repente, se lembrou do que Wanda havia comentado sobre sempre ser muito consciente sobre os sentimentos de todos ao redor. 

— Está tudo bem pra você? - Ela se voltou à ele. - Quer dizer… Ficar aqui com todas essas pessoas…?

— Sim… - Ela passou os olhos pelos rostos animados e pessoas conversando logo ao deles, totalmente alheias de tudo Wanda era. - Acho que, na verdade, estava mesmo precisando me lembrar que a vida de tanta gente segue tão normal e alheia à… Tudo aquilo, entende? 

As cervejas de ambos chegaram sem demora e eles experimentaram um gole, satisfeitos. Os dedos dela brincavam distraidamente com o gelo condensado ao redor do copo, como se pensasse por um instante. Wanda parecia estar sempre um passo - ou, talvez, um mundo - à frente dele. Era sempre difícil imaginar o que ela estava pensando, mas naquele instante talvez desejasse que sua vida fosse tão comum quanto as vidas das pessoas ali. 

Então, apoiou os cotovelos no balcão em um reflexo dos dela e concentrou a própria visão no líquido amarelado da cerveja em seu copo, a mente tropeçando nas próprias palavras para encontrar as corretas. 

— Porque me deixou ficar? - Seu tom foi baixo, mesmo sob o volume alto das conversas e risadas, mas soube que ela ouviu perfeitamente quando notou como ela levantou a cabeça para encará-lo sob o boné escuro. - Quando Sam foi embora… Você podia não ter aceitado minha presença na cabana… Podia ter exigido que eu fosse embora… Considerando tudo o que é capaz de fazer…

Complementou em um tom meio jocoso, que a fez esquecer parte do receio começando a habitar o rosto delicado. Ela sorriu de maneira pequena e meneou a cabeça, se forçando a encarar os próprios dedos eternamente ansiosos invés de olhá-lo. O que era aquela hesitação que via em seus gestos? Analisou de maneira detida, focando nas bochechas coradas que jamais poderia atribuir a qualquer tipo de álcool. 

— Eu sempre consegui absorver como Steve ficava quando falava de você. - De todas as respostas, essa era a que menos esperava. - Eu conseguia sentir a leveza, a lealdade,  a saudade… Acho que, talvez, estivesse procurando explorar as mesmas sensações que identificava nele. 

Wanda tentou elaborar melhor e Bucky tentou compreender, afinal eles tiveram pouquíssimo contato até que Sam o arrastasse para aquele lugar no meio do nada. Então, se lembrou que a mulher, talvez, fosse a mais solitária que conhecia. Sem pais, sem amigos, sem o irmão gêmeo e sem a família que criara para si. 

—  Então… Você queria um amigo. 

Ela pareceu um pouco mais tensa, os ombros claramente endurecidos sob a jaqueta escura e a garganta engolindo em seco ao desviar os olhos para as próprias mãos e até abrir a boca, ensaiando palavras que nunca saíram. Bucky não compreendia a própria ansiedade crescente dentro de si, especialmente em ânsia pelo o que ela poderia dizer. Não sabia exatamente o que a ruiva pensava sobre ele, exceto que havia dito se importar com sua vida em um momento de frustração. 

— Acho que só queria alguém que… Pudesse me compreender. - Ela deu de ombros, respirando fundo por não conseguir elaborar mais do que isso, continuando em tom mais baixo. -  Como vocês faziam um com outro… 

Bucky não sabia exatamente o que pensar. A ligação que possuía com Steve era, realmente, única. Ele era seu amigo mais antigo, a pessoa que o conhecera antes de todos, que sabia seus defeitos e qualidades apontando-os como poucos, que conseguia entender a direção de seus pensamentos sem que sequer precisasse dizer, mas… Ainda assim, não conseguia relacionar tudo isso ao que passava a sentir por Wanda, pois tudo sobre ela era diferente. Mais profundo, mais dúbio e mais difuso, mas tão presente que começava a esmagá-lo por dentro vê-la aparentar estar tão perdida em si mesma e suas escolhas. 

— É só que… Depois de todos esses dias, sinto não saber nada do que se passa aqui. 

Concluiu lentamente, levando os dedos à têmpora dela, com mais liberdade do que a que realmente detinha. Wanda o fitou no mesmo instante, os olhos cobertos pelo boné, esverdeados e totalmente atentos ao movimento inesperado - inclusive para Bucky. 

Ela engoliu em seco, mas não disse nada, apenas observou o movimento distraído dos dedos deslizando pelos cabelos lisos, quase sem realmente tocá-los. Havia sentido a textura uma vez, quando acordara após se recuperar do veneno e, agora, desejava estar sem luva novamente, para poder memorizar como realmente eram, mesmo que no momento não estivessem ruivos. 

Wanda parece ter chegado a alguma conclusão, pois havia até aberto a boca para dizer algo, mas foram interrompidos pela presença quase repentina, pigarreando logo ao lado dela. Bucky desviou os olhos de maneira relutante e a outra se voltou na banqueta para ver a garota de aparência andrógina sorrir para ambos, os olhos de cores amareladas e o nariz de aparência élfica parecendo muito mais espertos do que o deixava à vontade. 

— Olá, Wanda. 

— Quem é você? - Perguntou, incomodado, ainda se lembrava do que lhe dissera enquanto esperava por Wanda, da outra vez. Analisando bem a forma como reagira a pergunta, era como se, na verdade, estivesse se divertindo com sua reação, o que o irritou um pouco mais. - Também é uma…?

— Não. Ela é outra coisa. - Foi Wanda quem respondeu em seu lugar. - Algo mais poderoso. E antigo. 

— Sprite. - Ela estendeu a mão em sua direção e Bucky rodeou Wada para alcançá-la, ainda desconfiado, o que Sprite pareceu ter achado engraçado. Era mesmo uma criança? - Sei tudo sobre você, sargento.

Bucky recolheu a própria mão rapidamente e apertou os lábios. Não conseguia ver as feições da ruiva, mas podia sentir sua tensão e enxergá-la em seus ombros endurecidos, há centímetros dele.

— O que você quer? 

— Ela estará a esperando à meia-noite. - Sprite deu o recado à outra. - Vai ser melhor se for sozinha. 

Wanda se virou para Bucky por um momento, analisando-o. Até compreendia porquê: não era nada versado em qualquer arte mística. Seu mundo era o de armas e espionagem, nada que envolvesse magia, feitiços e artes ocultas. Ainda assim, não parecia correto. De qualquer modo, se afastou anunciando. 

— Vou tentar falar com Sam.

A viu menear a cabeça sob o boné e se afastou por entre as pessoas do pequeno pub, caminhando em direção à saída enquanto alcançava o celular no bolso da jaqueta. Tinha que ter em mente que Wanda sabia se virar sozinha e, meramente, confiar nisso. Não podia limitá-la em nome de sua vontade de mantê-la bem. 

Meneou a cabeça para si mesmo e digitou o número de Sam, rapidamente, um dos poucos que tinha memorizado. Esperava que, talvez, ele pudesse lhe dar um norte, algo em que pensar, ou simplesmente anunciar que estava voltando e que aquela aventura, que quase o matara, terminaria em breve. Embora não soubesse como se sentir a respeito, pelo menos seria algo concreto, em detrimento de tudo o que vinha acontecendo. 

Encostou-se à mureta de pedra, sob uma árvore que deveria ser frondosa fora do outono, mas, tinha os galhos quase secos, iluminados com velas amareladas dentro de pequenas bolas envidraçadas, o que deixava o ambiente um pouco mais lúdico e parecido com o clima do folclórico, que o rodeava. O número chamou algumas vezes, mas Sam não atendeu. Frustrado, decidiu tentar novamente, ouvindo o bipe da chamada até que a voz do novo capitão surgiu do outro lado.

— Ei, Buck. - Sua voz grossa era ofegante e, não muito distante, conseguiu distinguir o ruído de algumas explosões e de concreto sendo destruído, enquanto o outro continuava a falar. - Estou no meio de uma coisinha aqui. É uma… Má hora para dar satisfações. 

— Olá, Sam, como vai? - Ele apenas grunhiu em resposta, provavelmente mais concentrado no combate à sua frente do que em Bucky. - E do que está falando? Foi você quem sumiu, sabe onde me encontrar. 

— Bem… Poderia ter ligado para dar notícias antes. Como as pessoas normais fazem, já que sabe que na cabana não tem internet. 

— Muita coisa aconteceu. 

Ouviu alguma movimentação de passos do outro lado e um ofegante Sam, repentinamente, mudou o tom, de falsamente chateado para repentinamente interessado. 

— Estou ouvindo. 

— Você estava certo. - Respirou fundo, apertando a fonte entre os olhos, sem acreditar que estaria admitindo algo daquele tipo.  - O grande trio: aliens, androides e bruxos. 

— O quê?! - O capitão pareceu ter estacado de forma abrupta, um tanto mais afastado de todo o movimento de guerra que parecia segui-lo do outro lado da linha. - O que, realmente, aconteceu? 

— Er… - Andou de um lado a outro, sem conseguir pensar por onde começar a explicar tudo o que aconteceu por telefone. - É uma longa história. Tem previsão de volta? 

— Não, você tem previsão de deixar Wanda? - Bucky ficou apenas em silêncio, pois não tinha passado por sua mente, simplesmente, ir embora e deixá-la sozinha. - Ela está aí? Está tudo bem? 

— Ela está bem. Não está comigo… Neste momento. 

— Então, o grande trio. - Sam refletiu do outro lado. - O que aconteceu é sobre ela e seus poderes? Ah cara, eu disse que isso era muito maior do que nós dois ou qualquer coisa que pudéssemos fazer por Wanda. Ela é… Alguma outra coisa, algo… Importante. 

Bucky olhou para cima, incapaz de contar que sabia muito bem disso; que havia, simplesmente, visto toda essa outra coisa que Wanda também era. Pois a certeza que o habitava, no fundo de seu ser, é que ela era tudo, a Feiticeira e a mulher, não uma coisa ou outra, mas uma fusão de ambas, que ainda não sabia exatamente como ser. 

— Como vai sua missão com Sharon? - Desviou o foco, apertando os olhos. 

— Travada por questões burocráticas. Mas preciso terminar isso em breve. - Bucky não sabia se queria, realmente, saber quais seriam as questões burocráticas que envolviam àquela missão, em específico. - Ouça, você não precisa me esperar para ir embora, posso te encontrar em Praga. 

Avistou Wanda sair do pub, olhando ao redor por entre as pessoas da comemoração até vê-lo sob a árvore e se encaminhar até onde estava, os olhos baixos sobre o boné escuro, parecendo alguém que tinha algo a dizer. O sentimento de que seria errado abandoná-la, deixá-la à própria sorte, como todos de sua vida pareciam fazer, ainda que sem intenção, apenas crescia em si sempre que a olhava. Ele não queria ser mais um dessa lista, que se tornava longa demais, a seu ver. 

— Não posso fazer isso agora. - Apertou a fonte dos olhos brevemente e ajeitou o boné. Do outro lado, Sam parece ter sentido certa frustração. 

— Bucky, tem certeza sobre isso? - Fixou os olhos sobre Wanda, que apenas esperou de braços cruzados, sem disfarçar que estava prestando atenção na conversa. 

— Sabe onde nos encontrar quando terminar. 

Sam se despediu e Bucky desligou o celular, voltando a guardar no bolso da jaqueta.

— Está tudo bem? 

— Ele sabe se cuidar. O que a garota disse? - Então, ela voltou a parecer ansiosa e respirou fundo, repassando os olhos pela feira repleta de pessoas que seguiam suas vidas comuns, tendo como única preocupação, ao menos naquele dia, as festividades da pequena cidade. 

— Não muito, ela quer me encontrar. Claramente, parece ter algum interesse sobre mim. Mas… - A observou pigarrear e abaixar os olhos para o chão, mais interessada na calçada de paralelepípedos do que em qualquer outra coisa. - Dessa vez, não sei que tipo de caminhos iremos tomar, então… Quero que vá junto. 

Notou o temor do que ela não havia dito, afinal, essencialmente, não conhecia aquela mulher, embora parecesse bastante à par dos dois. Era estranho que soubesse tanto sobre “A Garota da Montanha” e, de repente, enviasse aquela garota justamente onde estavam. Havia tanta magia envolvida nisso que, certamente, não tinha ideia. Ou, simplesmente, estava sendo preconceituoso. 

Wanda, por outro lado, também tinha seu pé atrás, afinal estaria em uma posição vulnerável. O Darkhold era importante para ela. Além de esconder dos seguidores daquela criatura, que estavam atrás da ruiva, precisava ter cuidado com a outra Bruxa, afinal poderia ter objetivos próprios, o que era muito provável. 

Então, sob a iluminação avermelhada da árvore, acenou com a cabeça em concordância e recebeu um suspiro quase aliviado de Wanda sob o boné, que lhe conferia um aspecto mais jovem e vulnerável do que realmente era, estranhamente satisfeito que ela confiasse nele a tal ponto.


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Notas finais do capítulo

Ei!!!!

Finalmente, entramos na segunda parte da história e acredito que já dá pra perceber como eles estão mais alinhados, mas, ao mesmo tempo, confusos - principalmente o Bucky, que tem tantos receios sobre a Wanda, mas, ao mesmo tempo, esse senso de "dever".

Acho que já deu pra perceber que essa será uma parte bem mais prática e importante e onde eles vão se aproximar ainda mais, MAS, é claro, tudo naquela velocidade que a gente ama! ♥

Me deixem saber se estão gostando do andamento da história e deste capítulo!

Até breve ♥



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