Histórias do Multiverso escrita por Universo 9611


Capítulo 3
Breno Cruz (Universo 2317)


Notas iniciais do capítulo

É claro que tinha que ter um super-herói, ainda mais nessa década, onde o gênero tá tão relacionado com multiverso.

O protagonista deste capítulo, sua aparência e partes de sua história foram criados por/inspirados em um amigo chamado Breno Cruz. Demais personagens são inspirados em amigos da época do ensino médio: Igor Mateus, Andrey Ramon, Vinicius Baia e Emilly Duarte.

Resumo: Um super-herói incomum, mas ligeiramente familiar — esperançosamente, não familiar o suficiente para eu ser processado —, descobre o multiverso e… um pouco de amor próprio, de uma maneira inusitada.



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Seis de dezembro de 2016. Eram oito e dez da noite em Ananindeua City*, a capital de Grão-Pará, estado da região norte da nação de Vera Cruz.
Uma mulher estava voltando para casa após um dia de trabalho, quando subitamente um homem saiu de um beco escuro e puxou sua bolsa, saindo correndo com o acessório furtado.

— Ei! — Gritou a mulher: — Socorro! Aquele homem roubou a minha bolsa!

O ladrão corria, empurrando e derrubando quem aparecesse em seu caminho, mas sua fuga foi interrompida repentinamente pelo que pareciam ser teias de aranha, grossas e resistentes, que foram disparadas do alto de um prédio, acertando suas pernas e puxando o ladrão de bolsas para o alto.

— AAAH! SOCORRO! — Gritou o criminoso, de cabeça para baixo, pendurado em um poste de luz.

Curiosos se aproximaram ao ouvirem os gritos do homem desesperado que pedia para que alguém o tirasse de lá.

— Olhem, é O Aranha! — Falou alguém na parte de trás da multidão que cercava o poste de iluminação pública.

O criminoso parou de gritar e todos se viraram, abrindo caminho, com aplausos e assobios, para o jovem mascarado que chegou caminhando — praticamente desfilando — e assobiando distraidamente, fingindo que estava chegando ali agora e que não sabia o que estava acontecendo. Aquele era o super-herói da cidade, conhecido como "O Aranha".

Seu uniforme era improvisado com o que ele conseguiu encontrar em seu guarda-roupas e/ou com o que ele pôde comprar barato na feira, consistindo em uma máscara vermelha que cobria toda sua cabeça, exceto a boca e os olhos, pouco semelhante com a do protagonista de "Kick-Ass", uma camisa vermelha com o desenho de uma aranha na região do peito, um casaco vermelho com detalhes pretos que assemelhavam-se com teias de aranha, o qual ele deixava sempre aberto, calcas jeans, luvas e sapatos All-Star vermelhos.

— Opa, olha só! Uma bolsa muito parecida com a daquela moça que acabou de ser roubada. — Disse o herói ao parar em frente ao acessório derrubado no chão. — Deve ser dela, vou lá devolver. Falou, galera!

— Ei, espera! Ô, brother, eu tenho medo de altura. Não me deixa pendurado aqui, por favor! — Implorou o criminoso.

— Ah, olha, é o ladrão! — O Aranha fingiu surpresa. — Nossa, ainda bem que a polícia já está chegando. O crime parece que só aumenta nessa cidade.

— Espera, não me dei…

— Shazam, carai! — O herói deu um mortal, e no momento que ficou de ponta-cabeça no ar, estendeu o braço na direção do ladrão, que teve a boca calada pelas teias que saíam dos seus braços.

Impressionadas, as pessoas ovacionaram O Aranha enquanto ele ia embora, pendurando-se por entre os prédios da cidade com suas teias, até avistar a dona da bolsa, devolvendo a ela o acessório roubado.

— Obrigada, O Aranha! — Agradeceu a moça antes dele atirar uma teia para o alto de uma apartamento e partir.

Sua identidade secreta era Breno Cruz, um adolescente de dezessete anos bem comum, pelo menos até o dia em que, ajeitando a antena da TV no telhado de sua casa, foi picado por uma aranha radioativa e geneticamente modificada no mesmo instante em que um raio atingiu sua cabeça, o que fez ele cair em produtos químicos que estavam na casa do vizinho. O garoto foi imediatamente levado ao hospital, onde ficou em coma por três dias, mas quando ele acordou, descobriu que tinha ganhado os poderes de uma aranha, o que de início o deixou chateado, uma vez que o jovem preferia ter ganhado poderes elétricos ou supervelocidade.

O super-herói Número Um de Ananindeua City — embora, para ser sincero, não houvessem outros super-heróis no Grão-Pará — balançava-se entre os prédios da capital do estado despreocupadamente, até que foi surpreendido por um vulto que o atingiu em grande velocidade, rápido demais até mesmo para seus sentidos aprimorados, e o fez atravessar a janela de um prédio comercial, caindo sobre a mesa de um escritório, destruindo-a no processo. Felizmente o prédio já estava vazio, então ninguém se machucou, exceto o próprio O Aranha, é claro.

O combatente ao crime levantou-se depressa, procurando quem ou o que havia lhe atingindo, recebendo sua resposta quando olhou para a janela quebrada, onde, do lado de fora, um supervilão usando uma máscara e armadura negras, ria dele enquanto voava com a ajuda de um planador tecnológico. Mesmo usando uma máscara de um monstro sorridente que cobria todo seu rosto, Breno sabia que aquele era Igor Mateus, seu antigo melhor amigo e agora seu arqui-inimigo, conhecido publicamente como…

— Duende Nigga! — O Aranha gritou.

— Sentiu saudade, Breno? — O vilão gargalhou.

Igor sabia a identidade secreta de Breno, mas estava ciente que se desmascarasse O Aranha publicamente, o herói faria o mesmo com ele, e esse impasse entre ambos acabou tornando-se um acordo não dito que garantia que seus verdadeiros nomes continuassem em segredo.

Breno iria avançar contra o vilão, mas o Duende Nigga sacou uma arma estranha e os sentidos do herói ficaram em alerta, fazendo-o hesitar em atacá-lo.

— Que porra é essa, Igor? — O Aranha quis saber.

— Oh, essa belezinha aqui? Foi um presente do Andrey. — Revelou o Duende Nigga, referindo-se a Andrey Ramon, um ex-amigo superinteligente de Breno, que coincidentemente também se tornou um vilão dele. — É uma arma criadora de miniburacos negros, chamada de "Jorge, O Relativístico Gerador de Energia", mas conhecida pelo acrônimo de… J.O.R.G.E.

— Você inventou esse nome agora, não é?

—… Sim… — Igor respondeu, meio sem graça.

— Deu pra perceber…

—… Parecia mais legal na minha cabeça… Que seja! Agora morra! — O Duende Nigga se preparou para atirar em Breno.

— Shazam, carai! — O Aranha atirou sua teia, obstruindo o cano do J.O.R.G.E. no exato momento em que Igor puxou o gatilho. O estranho cristal roxo** que energizava a arma sobrecarregou e explodiu.

— KYAAAAAAAH! — O grito agudo e afeminado de Igor foi a última coisa ouvida pelo herói antes de ambos serem sugados pela singularidade gerada na explosão e tudo ficar escuro.

Seis de dezembro de 2016. Eram oito e vinte e três da noite em Ananindeua City, uma cidade próxima à capital de Grão-Pará, estado da região norte da nação de Vera Cruz, mas dessa vez, no Universo 2319.

— Morra, sua ridícula! — Gritou uma jovem adulta de cabelos e olhos verdes, usando uma máscara de dominó verde-escura, um sobretudo feminino preto com alguns detalhes em verde-escuro, além de calças e salto alto pretos. Seu nome real era Viviane Baia, mas era conhecida como a supervilã Poison Vinny, A Rainha das Toxinas.

A vilã estava em um confronto contra sua inimiga número um: a super-heroína Aranha, cuja identidade secreta era a adolescente Bruna Cruz. As duas lutavam em um prédio ainda em construção, e Poison Vinny atirava rajadas de energia venenosa de seus dedos, mirando na heroína e impedindo-a de se aproximar.

Ao contrário do uniforme simples de Breno, o traje da Aranha era algo bem mais caprichado: uma roupa preta com linhas em forma de teias prateadas em relevo, uma máscara que cobria toda sua cabeça, com grandes olhos vermelhos similares aos de uma aranha, com mais dois pequenos olhos falsos na região da testa, deixando o uniforme lembrar ainda mais o animal no qual era tematizado. Além de tudo isso, o traje de Bruna também contava com uma lâmina em seu braço esquerdo na forma de um ferrão.

— Pare de se esquivar e morra de uma vez, inseto nojento! — Viviane ordenou.

Aranha era ágil e evitava ser atingida pelos ataques da vilã esquivando-se como se fosse uma ginasta profissional, no entanto suas habilidades atléticas eram postas à prova quando tentava se aproximar de Poison Vinny, que também tinha reflexos rápidos, afastando-se da heroína ou forçando ela a se afastar para desviar de suas rajadas venenosas.

— Pela última vez: aranhas não são insetos, são aracnídeos! — Bruna corrigiu. — Ensinam isso no ensino médio, até antes!

— Meu amor, acha mesmo que uma mulher gostosa que nem eu é obrigada a saber biologia? — Replicou a vilã.

— Você se acha demais.

— Eu não me acho, eu me tenho certeza!

Bruna atirou uma teia contra Poison Vinny, que se esquivou para o lado, mas a teia da heroína acertou um carrinho de mão e a Aranha aproveitou a oportunidade para puxar de volta, atingindo Viviane nas costas com o carrinho.

— Acabou, Poison Vinny. — Disse super-heroína, se aproximando da vilã caída.

— Nunca! — A Rainha das Toxinas acertou uma rasteira na Aranha, pulando em cima da garota com uma adaga que escondia em seu sobretudo.

A jovem combatente ao crime defendeu o ataque da lâmina envenenada usando o seu "ferrão", e em seguida chutou Poison Vinny na barriga, tirando-a de cima. As duas levantaram-se rapidamente, porém antes que continuassem com a luta, uma forte luz roxa surgiu de repente atrás de Viviane, que se virou apenas para ser atingida em cheio por um Breno Cruz arremessado pela explosão do J.O.R.G.E..

— Ain… — Gemeu a vilã, antes de desmaiar.

Bruna ficou confusa, sem entender o que diabos havia acabado de acontecer, mas agradeceu mentalmente por o confronto ter chegado ao fim.

— Ai… — Breno tinha caído em cima da Rainha das Toxinas e ainda estava desorientado. — Ainda bem que eu aterrissei no macio…

— Você chegou na hora certa, seja lá quem você for. — Agradeceu a heroína. — Quem é você, afinal?

Só então O Aranha deu-se conta de que não estava mais no prédio comercial de Ananindeua City, embora ao observar as construções dos arredores ainda parecia ser a mesma localização, mas o prédio não estava finalizado, com a construção aparentemente parada já há algum tempo. Breno voltou sua atenção para a Aranha, estranhando — e admirando — seu uniforme.

— Eu sou O Aranha, como você não ouviu falar de mim? — Ele questionou.

— Nãão… Eu sou a Aranha! — Replicou a heroína. — Você mais parece um cospobre meu.

— Olha, ter uma roupa bonitinha não vale de nada se você não manjar dos paranauê! — Breno falou enquanto se levantava e Bruna assumiu uma posse defensiva, apontando seu ferrão para ele. — Ei, relaxa! Cuidado com essa coisa aí!

Enquanto discutiam, nenhum dos dois notou que Poison Vinny despertou e decidiu aproveitar-se da distração deles para escapar dali sorrateiramente. Ela não fazia a mínima ideia de quem fosse o outro mascarado, mas não queria enfrentar dois adolescentes fantasiados de aracnídeos ao mesmo tempo.

— Ela está fugindo! — A Aranha notou.

— Ah, droga! — Exclamou a vilã, começando a correr.

— Se quiser ajudar, só tente não atrapalhar, novato. — Disse a heroína, passando por Breno.

— "Novato"? — O Aranha sentiu-se ofendido, mas não perdeu tempo e também correu atrás da supervilã.

Poison Vinny lançou rajadas de energia contra os heróis, Breno se esquivou por pouco, mas a segunda rajada acertou em cheio Bruna e o herói foi obrigado a desistir da perseguição para segurar a garota antes que ela caísse no chão.

— Huahahaha! — Viviane Baia riu histericamente enquanto escapava.

— Ei, você está bem? — O Aranha perguntou à Bruna, uma vez que era impossível ler as expressões da heroína por conta de sua máscara completa.

— Eu… Sim… Acho que essa rajada não foi um dos venenos letais dela. — A Aranha se pôs em pé. — Se ela não se concentra direito, às vezes as rajadas dela só causam algum efeito inofensivo aleatório, tipo alergia, larica, essas coisas…

Vendo que a heroína parecia estar bem, o garoto achou que finalmente poderiam conversar.

— Então… Há alguns minutos eu estava lutando contra o meu arqui-inimigo, o Duende Nigga, que tinha uma arma esquisita, ele chamou de arma de buracos negros, ou algo assim. — Revelou. — Eu sei que pode parecer loucura minha, mas eu acho que quando a arma deu defeito e explodiu, de alguma forma acabou me transportando para essa realidade e… Ah!

A teoria do super-herói foi interrompida quando Bruna o derrubou no chão e sentou-se por cima dele.

— Uh, você fala demais. — Bruna removeu sua máscara, revelando seu rosto bonito, com cabelos negros e olhos castanhos escuros. Ela era de fato uma versão feminina do adolescente.

— Olha só, eu acho que… — A garota o interrompeu outra vez, dessa vez calando-o com um beijo.

"MASOQUÊ?! Breno, você tem que dar o fora nela. Se a Milly descobrisse isso, você estaria muito ferrado!", dizia a consciência do garoto, referindo-se a namorada dele.

Não obstante, o jovem inconscientemente abriu passagem para a língua da garota.

"Pera, o que diabos você tá fazendo? Ah, deixa. E só um beijo, mas acaba logo com isso", no entanto, enquanto sua consciência lhe dizia para parar, a mão do vigilante mascarado estava subindo pelas pernas na garota, parando nas coxas, ao que Bruna a pegou e a pôs em suas nádegas. "Ah, que se dane. Chega, eu me demito. Se fode aí sozinho…"

"Não, pera. A minha consciência tem razão, eu tenho que acabar com esse beijo antes que…", mas antes que Breno finalizasse seu pensamento, Bruna afastou seus lábios dos dele e abriu seu uniforme, revelando que ela não usava sutiã. "Tarde demais…"

Como dito pela heroína anteriormente, nem todas as rajadas da Viviane eram venenos mortais, algumas causavam efeitos aleatórios e aquela que atingiu a Aranha acabou sendo um poderoso afrodisíaco, o que calhou para que Bruna perdesse qualquer interesse em perseguir a vilã.

As duas versões alternativas do mesmo ser beijaram-se novamente, com Bruna ajudando o garoto a livrar-se do casaco, máscara e camisa, enquanto Breno apertava e massageava os seios da super-heroína, que reagiu mordendo levemente o lábio inferior dele durante o beijo.

Em pouco tempo os dois já estavam nus e seus uniformes serviam de colchão improvisado.

— Espera, espera. Tira o dedo daí! — Ele exclamou. — Não, peraí! Foi bom, coloca de novo!

Cerca de meia hora depois, Breno ainda estava deitado no chão, apoiando as mãos debaixo da cabeça enquanto Bruna, deitada ao seu lado, apoiava sua cabeça no peito dele. Com o efeito do poder de Poison Vinny se esvaindo, a garota se deu conta:

— Não acredito que eu fiz isso! — A adolescente se levantou rapidamente e vestiu-se.

Vendo que ela parecia apreensiva, sua versão masculina disse:

— Olha, foi minha culpa. Você não tava no seu melhor juízo, se tiver algo que eu… — Dizia ele, sentando-se e tentando se vestir também.

— Hã? Ah, relaxa com isso. De boa. Mas acontece que eu devia estar em casa às oito, e já são quase nove! — Revelou a jovem, terminando de se vestir.

— Vê se guarda segredo quanto a isso, beleza? Nóis se vê por aí!

— Pera! — Breno a chamou, mas a Aranha já tinha atirado sua teia no prédio ao lado e saltado. — Ah, safada!

Terminando de colocar sua calça, o garoto descobriu que foi uma péssima ideia ter usado seus uniformes como colchão, pois o ferrão do traje da heroína fez um corte na frente de sua calça e cueca, deixando suas partes íntimas à mostra.

"E agora? E se ela engravidar?", a consciência do Breno o questionou enquanto o garoto ponderava sobre se valia a pena tentar remendar sua calça usando suas teias.

— Ela não vai, relaxa. — O Aranha respondeu em voz alta.

"Como pode ter tanta certeza?"

— Porque se ela é uma versão alternativa de mim, então isso conta como masturbação.

"Você… é um completo idiota!"

— Voltando ao que interessa: eu preciso encontrar o Duende Nigga e então descobrir um jeito de voltar para casa. — Planejou, ainda falando sozinho. — Ele também estava no alcance da explosão, mais perto do que eu.

"Isto é, considerando, é claro, que ele também foi jogado nessa mesma dimensão. E que ele sobreviveu à viagem".

— Você é muito pessimista. — Apontou o herói, afundando em uma possível esquizofrenia. — Como você pode ser minha consciência?

"Cala a boca!", respondeu a voz em sua cabeça. "Você já fez muita merda por hoje. De qualquer jeito, a gente precisa encontrar aquela garota de novo. Ela deve saber muita coisa sobre a cidade e outros heróis, talvez algum tenha uma tecnologia baseada em pseudociência sem sentido que possa nos levar para casa".

— Como pretende achar ela agora? — O adolescente cobriu o rasgo de sua roupa com suas teias, mas parecia um trabalho bem porco.

"Se ela é realmente uma versão alternativa sua, então ela deve morar no mesmo endereço, animal".

— Faz sentido!

Breno pôs sua máscara e deixou aquele prédio abandonado, rumo à possível residência da heroína com quem acabou de dar uns pegas. O que mais o destino pode estar reservando para o herói com tema de aracnídeo?


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Notas finais do capítulo

*Ananindeua é uma cidade do mundo real, próxima à capital do Pará, Belém.
**Mais cronorita, porque sim.