De repente no futuro escrita por WinnieCooper, Laura Vieira


Capítulo 4
Passeio ao circo




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Catarina abriu os olhos rapidamente, olhou ao redor e estava no mesmo lugar, a fazenda continuava a sua frente, inclusive Petruchio.

— Você não desejou a mesma coisa que eu! - ela o acusou brava.

Petruchio, ainda com os olhos fechados, começou a abrir lentamente o olho direito. Viu a imagem dela embaçada em sua frente, abriu lentamente o olho esquerdo. Foi quando a voz dela voltou a soar:

— O que você pediu?

Petruchio olhou ao redor e fixou seu olhar no depósito bem ao fundo, ele estava em pé, ainda gigantesco em tamanho em comparação ao outro que tinha virado cinzas. Respirou aliviado, não conseguiu disfarçar.

Catarina lhe deu um tapa no ombro brava.

— Você está gostando dessa realidade!

— Pensa nas crianças! Pensa nas crianças que quer tanto ir no circo. - olhou pra ela suplicante.

— Catarina! Catarina! - ela ouviu a voz de Mimosa ao fundo.

— Eu disse para você não se apegar a eles. Por Deus, só foi uma manhã e parte da tarde.

— Mas eles são tão perfeitos Catarina, é que ocê não conseguiu ainda se aproximar deles direito. Talvez se aproveitasse mais seu dia com eles. Ocê ia me entender.

— Catarina! - a voz de Mimosa voltou a soar no fundo.

— Eu não quero me apegar a eles, não quero me apegar a essa realidade da qual não pertenço. Será que ainda não percebeu?

— Mas ocê tinha mãe presente, ocê amava sua mãe quando criança, não sente falta dela e não pensa em tudo o que ela fez pelo ocê? Ocê pode ver como é ser mãe, como ela…

Catarina suspirou tristemente lembrando-se da mãe, de como ela era consigo pequena. Os carinhos, as brincadeiras e os aprendizados que havia vivido com ela.

— É diferente! Eu não quero ser mãe forçada como ela foi, nem por poucas horas! Nem por poucos minutos! - falou ríspida, tentando tirar as imagens de sua cabeça.

— Catarina! Catarina! - Mimosa voltou a berrar ao fundo.

— JÁ ESTOU INDO! - Catarina berrou em resposta cada vez mais nervosa.

— Ocê fala tanto que não quer ser mãe, que não quer casar…

— Pois não quero! - o cortou enfática. - E uma mulher tem o direito de não querer viver algo só porque é imposto pela sociedade. Não quero me casar e ter filhos!

— Pois muito bem, não vou desejar a mema coisa que ocê, quero que ocê entenda porque eu amo tanto essas crianças já.

— Ama?! Se passaram apenas algumas horas!

— Sim! Se passaram apenas algumas horas. Eu posso aproveitar até a noite. Já que ocê deixou bem claro que tudo era um sonho e que amanhã íamos acordar na nossa realidade antiga.

— Sim! Vamos acordar na nossa realidade antiga! - ela cruzou os braços na frente do corpo ao mesmo tempo em que sentia uma mãozinha lhe puxando a saia.

— Mamãe, a Mimosa pediu pr'ocê me trocar, porque ela tá dando banho na Clara e a Clara tá mais encardida que eu. Tem que ficar de molho.

O garoto estava embrulhado numa toalha todo encharcado. Catarina entendeu enfim os chamados da governanta de seu pai.

Catarina piscou o olho duas vezes tentando se localizar. Até que resolveu responder de uma vez. Não poderia ficar mais discutindo com Petruchio, e tinha certeza que ele não ia colaborar desejando o mesmo que ela se não levasse as crianças ao circo.

— Vamos trocar no seu quarto.

— Eba! Roupa de sair porque vamo no círculo! - ele saiu correndo a frente, Catarina apertou o passo porque não fazia ideia da localização do quarto.

Entrou no aposento e reparou em duas camas de solteiro, uma cômoda no meio separava as duas. Um pequeno guarda-roupa ficava ao canto e uma penteadeira, cheia de laços e fitas, estava na extrema direita. O quarto não tinha banheiro, por isso os gritos de Mimosa. Na certa estava dando banho nos dois em seu quarto com Petruchio.

Júnior começou a pular na cama pelado enquanto a mãe procurava no guarda-roupa uma roupa de "sair". Encontrou um conjunto na cor cinza. Era um short com suspensório, uma camisa branca e uma boina da mesma cor do short. Começou a trocá-lo. O garoto começou a trocar a ajudando e ela reparou no quanto ele parecia consigo. Seus olhos, a tonalidade de sua pele, seu cabelo extremamente liso e escuro. Ele abriu um sorriso quando a mãe terminou de lhe pentear os cabelos e começou a ajeitar a boina em sua cabeça.

— Tô homenzinho da mamãe?

Ela engoliu em seco, pareceu ter sentido sua garganta fechar, seus olhos deram levemente uma embargada e ela piscou duas vezes tentando voltar a seu porte duro.

— É o homenzinho da mamãe. - não deixou de responder vendo os dentes à mostra dele e o riso de orgulho.

— Eu vou pedir pro papai passar o perfume dele ni eu. - Júnior pulou da cama e começou a correr atrás do pai.

Catarina sentou na cama e começou a respirar forte. Sentiu uma lágrima escorrer de seus olhos e lembrou de sua mãe, lhe dizendo na infância antes de morrer, para não confiar nos homens, que os homens mentiam e eram todos iguais. Como ela poderia estar criando agora um homenzinho para a sociedade? Como era educar um menino para a sociedade?

Não teve muito tempo para refletir, a garota entrou no quarto com uma toalha enrolada no corpo. Subiu em sua cama do outro lado e começou a se enxugar.

— Eu quero ir com o vestido amarelo mamãe! - ordenou.

Catarina se encaminhou para o guarda-roupa e começou a procurar o vestido amarelo. Só achou um extremamente espalhafatoso e muito cheio de babados.

— Mas esse não está muito cheio de babados para um passeio no circo?

— Mas eu quero esse mamãe! - Clara já vestia sozinha a roupa debaixo enquanto Catarina ainda vasculhava suas vestimentas.

Achou um vestido cinza, da mesma tonalidade e tecido da roupa do garoto. Parecia uma jardineira, já que precisava de uma camisa branca com babados por baixo.

— Esse é perfeito. - ela disse orgulhosa e indo até a menina para a vestir. - Vai ficar de gêmeos com seu irmão.

Clara cruzou os braços na frente do corpo e estreitou os olhos brava.

— Odeio ir com o mesmo tipo de roupa dele!

— Só hoje… aquele amarelo precisa ser para um casamento… quem sabe… outra ocasião especial.

— Então quando a gente for na casa do vovô Batista almoçar depois da missa de domingo eu vou com ele!

Clara parecia sua filha só no jeito de falar e convencer do que queria.

— Combinado! - Catarina concordou automaticamente.

Vestiu a garota. Achou um sapatinho preto no armário e uma meia branca que ia até os joelhos. Ajudou ela a colocar. Clara sentou-se na penteadeira e esperou.  Catarina olhou a cena e pensou consigo, devia ir pentear seus cabelos?

Chegou atrás da filha e começou a reparar em seu cabelo todo cheio de embaraços e com cachos bagunçados. Lembrou-se de sua mãe.

Ela sempre penteava seus cabelos e os de sua irmã Bianca. Falava que os seus eram muito mais fáceis de pentear e arrumar, porque ela se mantinha parada e eram simples de se arrumar. Já sua irmã pequena era diferente, ela não parava quieta e mexer num cabelo de cachos era diferente.

Lembrou-se que primeiro ela desembaraçava os fios passando creme nas pontas e deslizando os dedos delicadamente, depois passava o pente tirando os nós restantes, pegava mais um pouco de creme e passava em sua mão apertando os fios na palma, definindo os cachinhos das pontas. Por fim, enrolava os fios rebeldes no dedo indicador e soltava. Fazia isso por todo cabelo da irmã.

A lembrança repentina a fez realizar o passo a passo no cabelo da filha, que tinha os cachos iguais aos de Petruchio. Na última etapa, enquanto ela enrolava os fios rebeldes nos dedos, começou a chorar. Era um choro sincero que não conseguiu sufocar. Clara percebeu o que acontecia e virou seu rosto para a mãe.

— Lembrou da vovó Laura, não é?

Catarina se espantou com as palavras dela. Olhou sem entender para a criança de cinco anos à sua frente.

— Eu sei que você lembra da vovó toda vez que arruma meus cabelos.

Catarina não conseguia controlar as lágrimas que brotavam no cantos de seus olhos.

— É que ela morreu quando eu era criança e mesmo passando muito tempo, ainda dói. - confessou.

Clara se adiantou até a mãe e a abraçou. Catarina sentiu os pequenos braços a apertar na cintura lhe fazendo carinho.

Será que sua mãe ficaria feliz com ela nessa realidade fantasiosa, uma Catarina casada, com um machista fazendeiro e mãe de gêmeos? O que ela pensaria de si?

— Não se preocupe mamãe, sei que a vovó tá feliz vendo a gente lá do céu.

Catarina passou a mão pelo rosto dela a acariciando ainda transtornada com a intuição da filha de cinco anos de idade.

— Papai sempre diz pra te abraçar quando você chorar lembrando da vovó penteando meu cabelo.

— É claro que ele diz. - disse mais a si mesma pensando que a intuição de cinco anos de idade era de um adulto.

Clara voltou sua atenção para a cômoda e pegou um arquinho com um laço do lado na cor de sua jardineira.

— Posso passar seu perfume? Posso? O Júnior já passou o do papai! Quero passar o seu!

— Está bem. Pode passar. - autorizou automaticamente.

Clara começou a correr para fora do quarto e Catarina sentou-se na cama, refletindo seus sentimentos e tudo o que havia acabado de viver. Pode entender parcialmente Petruchio quando não desejou sair daquela realidade. Havia se passado poucos minutos convivendo com os filhos e já estava emocionada…

— Não posso me apegar a eles! - disse a si mesma decidida.

Saiu do quarto a fim de um banho para trocar logo e ir ao circo. Quanto mais rápido aquele dia acabasse, mais ela ficaria satisfeita.

xx

Precisou da ajuda de Neca para aprender a temperar a água da banheira. A empregada olhou para ela desconfiada quando ela pareceu diferente pedindo como que "arrumava" a água quente da banheira. Por fim, Catarina venceu o banho, todos seus sabonetes preferidos, shampoos e aromas estavam lá. Escolheu um vestido preto de alça fina, com luvas que iam até o cotovelo. Estava terminando de passar o seu perfume no pescoço quando Petruchio entrou no quarto.

Ele estava trocado, uma camisa bege e um paletó preto por cima. Ia ralhar com ele, onde já se viu entrar no quarto sem lhe pedir autorização? Poderia estar em trajes inadequados. Mas quando viu ele todo arrumado sua fala simplesmente sumiu de sua boca, estava de banho tomado (não fazia ideia da onde ele tinha arranjado um chuveiro), seus cabelos levemente molhados definindo os cachos, lembrou-se automaticamente de Clara e seus cachinhos que ajudou a definir há pouco. Reparou que ele a olhava quase hipnotizado, quase não se mexia ou expressava qualquer reação, tentava abotoar a manga da camisa com uma mão só, o que parecia impossível ao ver de Catarina. Ela chegou perto dele lentamente e começou o ajudar a abotoar e arrumar o que estava errado na camisa dele, como se fizesse isso todos os dias.

Petruchio olhava para ela quase sem piscar. O cheiro de seu perfume havia preenchido o lugar e ele pôde jurar que nunca tinha sentido algo tão hipnotizante antes em toda sua vida. Lembrava do cheiro dela das vezes que havia a beijado à força. Mas agora ali, ao seu lado, com ela arrumando sua camisa, como se fosse uma cena rotineira na vida de ambos, era diferente. Era quase como se precisasse daquele aroma em sua vida como precisava do ar para sobreviver. Ela estava tão linda. Não lembrava de ter visto ela com os ombros à mostra anteriormente. Até a curvatura de seu pescoço emendando com seu braço era perfeito de se olhar.

Catarina pareceu ter acabado de arrumar sua camisa muito rápido. Foram segundos preciosos para Petruchio que ele quis prolongar mais um pouco. 

— Ocê têm os ombros muito bonitos.

Catarina sentiu sua bochecha ficar vermelha de vergonha.

— Como se não tivesse visto eles no dia do noivado em que arruinou meu vestido e viu minha combinação. - ela tentou parecer brava falando, mas seus olhos estavam grudados nos dele que lhe encarava sem medo.

— Aquele dia eu não consegui reparar em outras coisas. Tava querendo que ocê fosse minha noiva e só.

— E me fez engolir um anel no doce.

— Ocê sabe muito bem que não engoliu nenhum anel, e só tava tentando ser romântico.

— Você? Um homem das cavernas, romântico?

Sussurravam no quarto sem conseguir desgrudar os olhos um do outro. Petruchio cada vez mais próximo dela, se olhavam tão de perto que Catarina conseguia reparar na pele do marido, queimada do sol, reparava nos poucos pelos loiros que se misturavam com os marrons de sua barba.

— Papai! Mamãe! Vamo ir logo no círculo! - ouviram a voz do filho ao longe.

Catarina pareceu acordar de seu torpor e deu dois passos para trás no quarto.

— Precisamos levar dinheiro, onde será que guardamos dinheiro? 

Petruchio piscou algumas vezes acordando, olhou ao redor, reparou no baú no final da cama de ambos.

— Eu costumo guardar meu dinheiro, dentro da meia, dentro da botina, dentro desse baú. - Catarina entortou o pescoço imaginando o lugar em que o dinheiro estava.

— Eu não vou pegar! 

Petruchio deu dê ombros e foi para perto do baú recolher as cédulas. Achou muito dinheiro. Mais do que ele se lembrava de ter guardado um dia numa meia.

— Que cara é essa? - Catarina perguntou não entendendo o motivo do espanto dele ao tocar nas notas altas.

— Eu nunca segurei tanto dinheiro na minha mão, assim de uma vez.

— Bom… - ela engoliu em seco chegando perto dele e tomando o monte de dinheiro de sua mão. - Um pouco para os ingressos, outro pouco para as comidas que eles vão querer comer lá… - Ela contava as notas na mão como se tivesse intimidade o suficiente para gastar aquele dinheiro todo numa noite. - Isso deve dar.

Devolveu o resto do dinheiro para que ele guardasse na meia, guardou o resto em sua bolsa de mão.

— Vamos de uma vez! Quanto mais rápido esse dia pavoroso acabar. Mais rápido vou voltar à minha cama.

Quando chegaram até o carro, Catarina logo tomou o banco do passageiro enquanto as crianças sentaram-se atrás, Petruchio foi para o volante ainda pensando no monte de dinheiro que estava levando e no fato de agora ter um carro.

— Mamãe, não vai dirigir hoje? - Júnior perguntou estranhando a posição trocada entre os pais.

— Eu dirijo? - Catarina perguntou, logo se deu conta de ter falado besteira e se corrigiu. - É claro que eu dirijo. - começou a abrir a porta para descer do carro e tomar o lugar do motorista.

— Pode deixar que eu dirijo dessa vez favo de mel. - Petruchio afirmou receoso quando viu que ela já estava do seu lado querendo tomar o volante.

— Oras, está com medo? E não me chame de favo de mel!

— Medo? Não! - ele negou com a cabeça observando os filhos encarando os dois no banco de trás. - Só tá escurecendo e eu sei que essas estradas são bem esburacadas. - Chegou perto de Catarina e sussurrou em seu ouvido. - Acontece que eu sei o caminho e ocê não, melhor não arriscar que as crianças descubram que a gente não lembra de nada, não acha?

Catarina sentiu os pelos de sua nuca se eriçarem, arregalou os olhos e se deu conta mesmo que nunca havia dirigido e que não fazia mesmo ideia do caminho da fazenda até a cidade. Deu as costas por vencida e com as pernas tremendo levemente por causa do sussurro em seu ouvido, voltou ao banco do passageiro.

Petruchio não estranhou o carro, parecia que dirigia todos os dias, chegou a cidade e logo viu cartazes do circo pendurados nos postes, achou o caminho fácil. Desceram do carro e Júnior logo correu à frente encantado com todas as cores e músicas ao redor. Havia vários barracões instalados no local, uns vendiam comida, outros bugigangas, tinha até brinquedos montados para que as crianças andassem antes do espetáculo, um carrossel rodava ao fundo onde o garoto se posicionou, observando as cores, as músicas encantado. Clara não correu atrás do irmão, permaneceu perto dos pais. Ficou observando a mãe descer do carro sozinha sem a ajuda de seu pai, ela se mantinha bem longe do parceiro andando pelo gramado meio desajeitada por causa do salto fino que havia escolhido. Petruchio estava com os olhos brilhantes, observando tudo como Júnior, parecia a primeira vez que presenciava um circo, como o filho.

— Vocês brigaram! - Clara concluiu chateada. Nem o encantamento do circo a distraiu. Sua mente só dizia que seus pais estavam se separando. - Mamãe não quero que você vai morar longe da gente.

Catarina arregalou os olhos para a menina sem entender.

— Por que eu iria morar longe?

— Você e papai quando brigam é sempre assim. Ficam separados, não andam de mãos dadas e você fala que vai pegar suas malas e se mudar pra Europa.

Petruchio parou de reparar ao redor e olhou a filha a sua frente, estava tão bonita com os cachos arrumados, mas seus olhos estavam marejados e ele achava que Clara fosse chorar a qualquer momento.

— Tão brigando desde a hora que acordei vocês. Júnior tem razão, eu fiz vocês brigarem e agora vão se separar. - ela desatou a chorar.

Catarina ficou sem saber o que falar, não sabia como agir diante daquela cena, Petruchio agachou na altura da filha e passou os dedos na bochecha dela limpando as lágrimas.

— Eu mais sua mãe, não vamo nos separar.

— Vão sim, tão separados o dia todo, não andam mais de mais dadas e a mamãe falou pra não chamar ela de favo de mel.

Petruchio ergueu o rosto observando Catarina, que deu dê ombros sem ação.

— Mas a sua mãe sempre fala pra não chamar ela de favo de mel, mas ela no fundo gosta. - Petruchio olhou para Catarina pedindo com o olhar a confirmação.

— Eu falo para o seu pai não falar, porque assim ele fala, seu pai é um teimoso, faz tudo ao contrário. - Catarina agachou ao lado de Petruchio e acariciou os cabelos da garotinha.

— Então fala pra ele não falar pra ele falar? - Clara perguntou tentando entender.

— Sim, ela ama que eu chame ela de favo de mel e diz o contrário só pra ouvir eu chamar ela de favo de mel. Não é meu favo de mel? - Petruchio sorriu encarando Catarina.

Catarina olhou brava para ele com a quantidade de "favo de mel" que ele havia falado numa frase só. Ao mesmo tempo concordou com a cabeça.

— E além disso, eu já ia pegar na mão da sua mãe pra ela andar direito nessa grama nesse sapato fino. Sabe que ela pode se esborrachar no chão.

Clara sorriu para o pai assim que ele segurou a mão de Catarina sem aviso prévio. A mulher ficou parada estática, sem saber como agir. Nunca havia sentido a mão dele na sua sem ser numa dança, era diferente, como se um campo de eletricidade tivesse passado do corpo dele para o dela, os conectando. Seu coração saltava na garganta e ela não se lembrava de sentir tantas sensações juntas e confusas, todas de uma vez, tudo por causa de um simples segurar de mãos.

— Agora sim! - Clara abraçou os dois de uma vez, que ainda permaneciam agachados na altura dela.

Logo ela desvencilhou dos dois e começou a correr em direção ao irmão que parecia hipnotizado diante do carrossel.

Catarina se pôs de pé e Petruchio a ajudou a se equilibrar, as mãos ainda entrelaçadas.

— Eu acho que a gente vai ter que ficar um pouco mais perto um do outro por todo o passeio.

Catarina o encarou um pouco sem fôlego diante do seu coração que não parava de saltar desesperado.

— Não estou gostando nada dessa história Julião Petruchio.

— É pelas crianças, elas já tão percebendo a gente mudado.

Petruchio passou o dedo polegar devagar pela palma da mão de Catarina a acariciando, ela percebeu seus dedos ásperos cheios de calo de tanto trabalho, ele por outro lado, notou o quanto a mão dela era lisa e macia, era praticamente impossível a tocar e não a acariciar.

— É só por essa noite e só pelas crianças. - Catarina reiterou o combinado em voz alta.

Ambos começaram a andar atrás dos dois, agora de mãos dadas. Pagaram para os dois irem ao carrossel, pagaram por pipoca, algodão doce e uma grande casquinha de sorvete que Júnior havia sonhado o dia todo. Logo estavam todos assistindo ao espetáculo, do lado de dentro da lona.

Os malabaristas faziam seu show os acrobatas suas acrobacias no ar tirando o fôlego da plateia, o mágico seus ilusionismos na frente de todos, os domadores mostrando o quanto conseguiam controlar os animais para fazerem coisas quase impossíveis, e o palhaço…

Quando Júnior viu o palhaço todo pintado começou a tremer de medo, seus olhos se apertaram e Catarina notou que ele quase chorava. Clara o olhou de rabo de olho e quis o provocar. Antes que a garota dissesse qualquer coisa, Catarina pegou o filho e o puxou para seu colo.

— Venha me ajudar filho, mamãe têm medo de palhaço, quero ficar abraçada com você.

Catarina repreendeu Clara com o olhar e a menina resolveu não dizer nada. Começou a prestar atenção no que o palhaço dizia e as risadas tomaram conta do ambiente.

Petruchio sorriu para a cena que presenciou, Catarina era uma mãe, mesmo sem tentar ou notar o que fazia. Quis segurar sua mão novamente. Ela estava lá, o chamando. Entrelaçou seus dedos nos dela no escuro.

Catarina levou um susto com o ato dele, mas não o repeliu, ela sabia que os filhos não enxergavam as mãos dadas de ambos, ela sabia que não precisava encenar naquele momento que estavam próximos, mas não conseguia tirar os dedos de Petruchio dos seus, era como um vício. Um vício recente que significava proteção e que ela não estava sozinha. Mesmo no escuro, com ninguém reparando nos dois, ela deixou que ele entrelaçasse seus dedos e mais que isso, apertou os seus próprios dedos fechando-os na mão de Petruchio. Afinal, era só aquele dia, na manhã seguinte tudo acabaria.

xx

As crianças chegaram na fazenda dormindo no banco de trás, Petruchio carregou um de cada vez para dentro e colocou-os em cada uma das camas, Catarina explicou qual era o quarto, ela retirou os sapatos e as fivelas da roupa que poderia os machucar, ajeitou uma coberta sob ambos e pensou se lhe era permitido beijar os dois na bochecha como se dissesse boa noite e que dormissem bem.

O que parecia um grande passo para ela, era simples para Petruchio, ele se encarregou de beijar a testa de ambos dizendo boa noite.

Ambos se encaminharam em silêncio para o quarto. Catarina estava exausta, queria tirar o vestido apertado e os sapatos. Pegou uma de suas camisolas e um robe e foi até o banheiro e fechou com a cortina para que Petruchio não a visse. Ele por outro lado, foi se trocar no canto, mas reparando em cada movimento dela dentro do banheiro trancando, o tecido aguçava sua imaginação e ele via a silhueta da esposa trocando. Engoliu em seco e virou o rosto, não queria se iludir e não poderia apagar seu fogo do jeito que gostaria se continuasse a olhar.

Deitou-se do lado direito da cama, ajeitou um travesseiro do lado esquerdo e esperou que ela saísse do banheiro. Quando Catarina saiu do aposento ela entendeu o que estava prestes a acontecer. Nunca havia dormido numa cama com um homem antes em toda sua vida.

— Durma no chão. - ordenou a ele.

— Mas tem espaço pra nois dois na cama. Não vou fazer nada com ocê.

— Não confio em você, não confio em homem nenhum!

— Mas como eu vou dormir no chão se eu dormi na minha cama na realidade que ocê falou que eu ia voltar. Eu acho que devia dormir na minha cama. Não acha?

Petruchio havia sido ligeiro em seu raciocínio e Catarina tentou imaginar argumentos contra o que ele dizia, mas nada do que pensava parecia ser suficiente. Foi até o guarda-roupa em busca de lençóis ou cobertores para fazer uma barreira, encontrou vários travesseiros. Começou a fazer um muro de travesseiro no meio da cama.

Petruchio fez um bico emburrado quando viu ela terminar de fazer o muro e se deitar ao seu lado.

— Ocê acha memo que vamos voltar pra noite depois que rompemo o noivado?

— Eu tenho certeza. - respondeu, virando as costas para ele, ajeitando-se no travesseiro tentando já dormir.

— Ocê não se apegou nem um tiquinho nas crianças?

— O que importa Petruchio? Assim que dormirmos elas vão virar lembrança.

Ele entortou os olhos chateado diante da frieza que ela dizia, parecia não ter sentimento nenhum pelo que havia vivido há pouco. Foi então que ele pensou e teve uma ideia. Chegou seu braço esquerdo perto do braço direito dela e entrelaçou sua mão na dela.

Catarina, que até então estava tentando dormir, abriu os olhos assustada.

— O que está fazendo? - Apesar do susto, não tirou a mão dele da sua.

— Eu dormi durante muito tempo sozinho e… deixa eu só segurar sua mão pra dormir?

— Não tô gostando dessa história.

— É só segurar sua mão.

Ele acariciou seu dedo polegar na palma dela e começou a trazer para si a mão para além do muro de travesseiros, a posicionou em cima de seu coração. Catarina podia agora sentir as batidas do coração dele, que estavam aceleradas, assim como o dela. Os dois órgãos saltavam no mesmo ritmo.

Catarina engoliu em seco e fechou os olhos, repetindo para si que na manhã seguinte, tudo terminaria e voltaria ao seu normal. E Petruchio desejava com todo seu coração, que só o ato de dormir entrelaçado a ela, poderia prolongar essa nova realidade em que vivia mais um pouco. 


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