— Então — Sasuke chamou a atenção dela, assim que saíram da mansão da família dele. – Você tem um irmão mais velho? – ele segurou a mão dela.

— Tenho – ela confirmou, olhando para o horizonte pensativa. – A gente não se dá muito bem – confessou baixinho. 

— Vocês moram juntos? 

— Não – ela respondeu aliviada. – Ele já é de maior, tá tentando ganhar a vida – deu de ombros. 

— Vocês se veem com frequência? – ele perguntou preocupado com ela.

— Não, a última vez que eu vi ele faz uns dois anos – ela respondeu ainda olhando para o horizonte.

Era uma coisa, se abrir daquele jeito com alguém, Sakura não gostava de falar da família porque tinham muitos problemas. E agora tinha medo de perder Sasuke depois que soltasse a gravação na internet.

Sasuke sentiu a tensão no corpo da namorada e apertou a mão dela em conforto, se perguntando pelo que ela havia passado para ser tão fechada com os outros. Mas não a pressionou mais, apenas continuou segurando a mão dela enquanto caminhavam em direção a praia.

. . . 

No dia seguinte…

Era um escândalo.

Estava em todos os jornais, tablóides e redes sociais.

“Família Uchiha destrói arquipélago para construir um resort?”

Não é de hoje que a fortuna dos Uchihas é enaltecida, mas a que custo? Uma família tão rica que não vê a ambição como um obstáculo e sim um objetivo a ser alcançado, conquistado e ultrapassado. Uma gravação inédita e de fonte desconhecida foi jogada na internet…

— Você ficou maluca! — disse Ino.

— E você queria o que? Que eu ficasse quieta enquanto eles destroem a Ilha Mako? – Sakura retrucou.

— Você conseguiu falar com o Sasuke? – Ino perguntou.

— Não – Sakura suspirou frustrada. – Ele não atende.

Sasuke não havia comparecido na escola naquela manhã e isso estava preocupando Sakura.

— Eu vou na casa dele — avisou Sakura. – Eu já mandei uma mensagem pro Gaara dizendo que vou me atrasar pro trabalho.

— Boa sorte – Ino desejou. – Você vai precisar e eu vou falar com o meu pai e com a minha mãe pra ver se eles podem nos ajudar.

Sakura respirou mais aliviada ao ouvir a amiga dizer isso.

— Obrigada – agradeceu sinceramente.

Sakura estava morrendo de medo por dentro, tinha medo do que a família de Sasuke era capaz de fazer. Sabia que dinheiro era um negócio que mexia com a mente das pessoas e que as deturpava.

. . . 

Sakura tocou a campainha da mansão e foi atendida por Itachi, o que a surpreendeu muito. Esperava ser atendida por algum empregado.

— O que você tá fazendo aqui? – ele vociferou, olhando por sobre os ombros.

— Eu vim falar com o Sasuke – ela o respondeu, sem se importar com a grosseria dele, tudo o que importava para ela no momento era Sasuke. – Ele está?

— Vai embora! – o mais velho mandou.

— Não – Sakura se negou. – O Sasuke não foi na escola hoje e não atende as minhas ligações, eu tô preocupada – disse angustiada.

— O Sasuke tá de castigo – o irmão mais velho sorriu debochado.

— O que seu pai fez com ele? – Sakura empalideceu com as possibilidades que passaram por sua cabeça.

— Garota, você pode ser bonita, mas é um atraso na vida do meu irmão – ele disse com desprezo. – Não acha que é melhor ir embora antes que as coisas se compliquem?

— Tô vendo que não vai me deixar ver o Sasuke – ela percebeu. 

— Que bom que entendeu – ele disse de modo irônico –, agora vaza daqui – ele tentou fechar o portão.

— O seu pai está? – ela o interrompeu, segurando o portão, o impedindo de fechar o portão.

— O que? – isso deixou o mais velho surpreso.

— Eu quero falar com o senhor Fugaku Uchiha, ele vai me receber? – olhou para a câmera de segurança que estava direcionada para eles no topo de uma das árvores do jardim.

. . . 

Sakura não tinha visto muito da mansão no dia anterior, apenas a sala e a área da piscina, mas não se surpreendeu com o requinte dos corredores que levavam para o escritório no interior da mansão, já tinha visto lugares como aqueles antes.

— É muita ousadia de sua parte, mas devo lhe dar crédito, senhorita Haruno, é mais corajosa do que parece – disse o homem atrás da mesa. – O que quer? Dinheiro? – ele sorriu de modo irônico, demonstrando todo seu desprezo pela garota. Sakura pensou que aquele homem de postura arrogante um dia pudesse ter sido bonito, mas naquele momento ele só dava medo a ela, medo do que ele podia ter feito a Sasuke.

— Não vim aqui pelo seu dinheiro, vim aqui pelo Sasuke – ela não se atreveu a sentar, apenas ficou de pé encarando o pai de seu namorado. – Fui eu quem gravou e jogou o áudio da internet.

— Disso eu já sabia – ele fez um gesto de desdém com as mãos –, Sasuke fez muita questão de ser punido pelo acontecido – a informou.

— O que você fez com ele?

— Me diz por que uma garota como você, que não tem onde cair morta, foi se meter nos meus negócios?

— Mas eu tenho onde cair morta – ela sorriu irônica. – Do chão eu não passo assim como o senhor.

Isso fez as narinas dele inflamarem.

— Explorar a Ilha Mako não é só errado e ganancioso da sua parte, mas também é burrice – ela continuou a falar, sem deixar ele a interromper. – A água que cerca a ilha é o lar da maior população de tubarões do mundo, eles não vão fazer as malas e simplesmente ir embora porque você decidiu transformar o lugar, além disso os tubarões são protegidos por lei, um homem como você, que tem um record no Guiness Book deveria saber disso.

— Espera um pouco… – ele se levantou do lugar.

— A ilha é uma selva submersa – continuou a dizer – Você quer que tudo seja perdido pelo quê? Dinheiro? Não acha que já tem muito?

Então o escritório foi invadido.

— O que você tá fazendo aqui? – Sasuke estava ofegante. Ele usava uma camiseta cinza e uma calça de moletom preta, e estava descalço. Itachi atrás dele, de braços cruzados. – Ficou maluca?

— Você tá bem? – ela deu um passo na direção dele, o abraçando.

Ele não parecia ferido, o que aliviou ela.

— O Itachi não te disse? Eu tô de castigo – ele murmurou no ouvido dela, a abraçando de volta.

— O que foi que eu disse? Sem mesada, sem celular, sem videogame e sem namorada – disse o pai se dando a volta na mesa, visivelmente alterado. – De volta pro seu quarto!

— Eu já tô indo – disse Sasuke erguendo as mãos, mas depositando um rápido selinho nos lábios de Sakura. – Vai embora, eu falo com você quando eu puder.

— Eu tava falando com o seu pai sobre a ilha Mako, ainda não terminei – ela se virou para o homem.

— Eu acho que terminou sim – disse o homem tentando conter a irritação.

— Além dos tubarões protegidos por lei, há espécies raras tanto na ilha, quanto nas águas: os golfinhos nas lagoas, as raras tartarugas verdes, os delicados corais que não são encontrados em nenhum lugar do mundo. O abaixo assinado já está acontecendo e a mídia já tá em cima de você e da sua família, eu lamento ter feito tudo precipitado e ter atraído ódio, mas não me arrependo de tentar fazer alguma coisa para impedir o senhor de cometer um crime.

— Que namorada você foi arranjar hein Sasuke, uma ativista – o pai debochou.

— Pode me chamar do que quiser, mas não desconta no Sasuke por algo que eu fiz – disse Sakura tentando defender o namorado.

— Então em quem eu devo descontar? Em você?

Sakura sentiu o corpo do namorado tensionar ao seu lado.

— Sabe, senhor Uchiha, pode estar perdendo dinheiro por causa do que eu fiz, mas isso não vai tirar o senhor da lista dos homens mais ricos do país – Sakura cruzou os braços. – Sabe que quando morrer, não vai conseguir levar o dinheiro com você, certo?

Sasuke puxou a namorada para fora do escritório do pai, antes que o homem explodisse.

. . .

— Você é maluca, mas eu te adoro – Sasuke a abraçou.

— Não tá chateado comigo? – Sakura perguntou temerosa.

— Tá brincando? Eu tô me sentindo ótimo! Mesmo! – disse Sasuke, com um sorriso de orelha a orelha no rosto. – É tão bom enfrentar o meu pai desse jeito.

— E se o seu pai decidir não te dar mais mesada? – ela o questionou.

— Não importa, eu arrumo um emprego! – ele abriu os braços se sentindo livre.

— Palavras corajosas vindas de alguém que nunca precisou trabalhar na vida – ela caçoou dele.

Mas Sasuke apenas pegou as mãos dela entre as suas.

— Você acredita em mim, né?

— Acredita em que? — ela estranhou a pergunta.

— Acredita que eu vi uma sereia?

Sakura suspirou, tentando pensar em como desviar da pergunta.

— Eu acredito que o mar é um lugar enorme e que a gente não conhece nem um terço dele – respondeu ela. – E que sim, existe a possibilidade de existirem sereias, mas só porque não há provas, não quer dizer que a gente não deva proteger o que já está lá.

— Mas você acredita em mim? – ele perguntou esperançoso.

Sakura sabia que podia se arrepender da resposta, mas não tinha como dizer outra coisa além de:

— Sim – ela suspirou –, eu acredito em você.

Sasuke sorriu e segurou o rosto dela entre as mãos depositando um beijo afobado em seus lábios.