Rapture's Last Masquerade escrita por Jupiter vas Normandy


Capítulo 1
Subject 15


Notas iniciais do capítulo

Eu não deveria, mas aqui estou, surtando com mais uma fic de jogo o-o¬
Caso você NÃO conheça Bioshock: Sinceramente, não precisa. A protagonista está perdida no rolê, demonstre empatia e fique perdido com ela também XD O início é confuso para ela (e para você), mas a história irá se explicar.
Caso você CONHEÇA Bioshock: A fic se passa um pouco antes do Jack chegar em Rapture. É o momento da Guerra Civil, mas a política de Rapture não será o foco da fic, apenas a parte de sobrevivência. Eu mudei algumas coisas da história. Vou informando nas notas conforme for necessário.
Eu não vou traduzir os termos vistos no jogo, como Splicers, Little Sisters e Big Daddies. Locais, serviços e cartazes também só serão traduzidos se forem relevantes, de resto vai ficar apenas pela descrição de cenário.



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Não deixe eles me levarem. Não deixe eles me levarem!

 

Ela não é adequada ao projeto, doutor.

 

A falha também é parte da evolução.

 

Não tente resistir, cobaia 15.

 

Você está indo bem.

 

Sonhos eram sempre um martírio. Reviver situações que ela não lembrava o bastante para entender, quando as coisas que havia sentido ainda estavam vívidas em sua memória. Ela havia sentido medo. Muito medo. E também dor.

Sabia que aquelas vozes não eram reais. Ao menos, não eram reais agora. Eram sonhos ou alucinações, mas estava exausta demais para abrir os olhos e afastá-las de volta para o espaço em branco de sua mente. Não tentou se mover, sabia que não conseguiria. Não sabia o motivo, mas sabia que estava presa. Era uma sensação estranha, a de não ter memória alguma e ainda sentir que tudo é tão comum, sentir-se acostumada com coisas que pareciam estar acontecendo pela primeira vez. Permaneceu entregue a seus sonhos tormentosos. Se tudo ali era tão familiar, sabia que nunca estava sozinha e logo alguém apareceria para soltá-la quando fosse a hora.

Mas isso não aconteceu.

Entorpecida como estava, o tempo parecia se arrastar muito mais do que deveria. Apenas horas depois, que para ela pareceram dias, a névoa em seus pensamentos começou a se dissipar. Sentiu as correias de couro em seus pulsos e tornozelos prendendo-lhe à maca e abriu os olhos por tempo suficiente para ver o cateter de uma bolsa de soro já vazia, porém ainda conectado em seu braço. Seja lá o que estivessem injetando, devia ter acabado há algum tempo para o efeito já estar passando.

Lúcida outra vez, porém ainda exausta, Quinze apagou novamente. Para um sono mais natural dessa vez, sem todas aquelas vozes sobrepondo-se uma à outra. Infelizmente, esse sono calmo não pareceu durar mais que alguns minutos. Uma voz infantil cantarolando alguma rima popular lhe despertou, junto aos passos pesados demais para que pertencessem a uma criança, que davam a impressão de fazer a terra tremer.

— Olhe, papai, um anjo! – a menina exclamou, eufórica. – Me coloque perto do anjo!

Os passos pesados soaram cada vez mais perto, mas ela não se importou em virar o rosto para a menina e seu protetor. O que quer que estivessem fazendo, não era da sua conta. Ou era o que pensava, até que duas mãos gigantes em luvas de metal ergueram uma menininha de vestido rasgado e sujo e a colocaram sobre a maca, em cima dela. A menina sorriu docemente, mas o brilho amarelo em seus olhos ligou uma sensação de alerta, e, pela primeira vez, Quinze tentou se mexer, mas as correias não cederam. Aquilo ali não era comum, não era normal nem familiar. Quando a menininha levantou uma seringa com uma agulha mais longa do que seu próprio braço, o medo espantou o resto de torpor que ainda lhe sedava.

— Não! – gritou. A menina, que não esperava nenhuma reação, soltou um grito assustado e deixou cair a seringa. No instante seguinte, ela não estava mais sobre a maca, pega nos braços pelo homem na armadura de metal. Quinze ainda não o via, mas seu urro enraivecido não parecia nada feliz com o fato de tê-la assustado. Um baque violento fez a maca virar de lado e ela sentiu algo acertar sua cabeça, talvez a perna de uma mesinha de laboratório, derrubando objetos metálicos que tilintaram contra o chão. Pela agitação dos dois atrás dela, pensou que morreria nesse momento, pensou que o homem nem se daria ao trabalho de usar a seringa e esmagaria sua cabeça com um soco daquela mão enorme. Mas o soco nunca veio.

— Não é um anjo ainda! – A menina choramingou, interrompendo o acesso de fúria dele. – Vamos, papai, os anjos não esperam.

Quinze ouviu os dois se afastarem como se tivessem se esquecido dela e cuidou para não fazer nenhum barulho, pois não estava nem um pouco interessada em lembrá-los de sua presença. Já tinham deixado a sala, mas ela não ousou fazer ou falar nada até que parasse de ouvir os passos deles.

Algo estava acontecendo, algo que não era normal. Sabia que nunca ficava sozinha e que não deveria questionar as pessoas que a observavam, mas ainda estava presa na maca tombada e a posição não favorecia sua paciência, a cabeça pendia sem apoio, deixando o pescoço dolorido, e a agulha do soro havia sido arrancada quando caiu. E ninguém parecia estar vindo.

— Doutores? – Ninguém lhe respondeu. Quinze já ouvira seus nomes quando conversavam entre si, mas tinha sido ensinada a nunca usá-los, então acabou esquecendo. Não fazia diferença, pois não usaria mesmo se lembrasse. – Alguém?

Apenas o silêncio.

Não parecia ser um teste. Muitas vezes os testes eram estranhos, e a maioria tentava não parecer um teste, então ela não tinha como ter certeza. Por uns instantes, não soube se deveria fazer algo ou esperar. Seu corpo se decidiu antes da mente. Enquanto a hesitação ainda lhe assombrava, conseguiu tatear entre os instrumentos derrubados no chão, mesmo com a movimentação restringida, até encontrar um que fosse pontiagudo ou cortante o bastante para soltar a correia. Era difícil ter que cortar usando a mesma mão que estava tentando soltar, então acabou também se ferindo um pouco, mas assim que soltou a primeira, se livrou das outras três em segundos.

O laboratório estava péssimo. Não tinha percebido isso antes. Móveis derrubados, papéis espalhados, iluminação insuficiente. Portas abertas. Isso nunca acontecia. Parecia que as pessoas tinham fugido às pressas, abandonando o que quer que estivessem trabalhando, e isso incluía ela.

— Doutores? – chamou de novo, inutilmente.

Ela não se aproximou da saída, mas andou pelo lugar procurando alguém. Abriu salas de cirurgia e quartos de observação, salas de testes e laboratórios químicos. Todos vazios. Uma dessas salas tinha uma parede espelhada, e Quinze recuou, assustada com o movimento inesperado, tropeçando em uma mesa de metal derrubada atrás dela. A queda fez um barulho ecoar pelo laboratório, e então ela teve a certeza de que estava sozinha. Ela se levantou e encarou a parede espelhada apenas por alguns segundos, desviando o olhar tão logo confirmou que era apenas o seu reflexo. Ela sempre evitava olhar quando entrava naquela sala, mas a estranheza daquele momento a deixou descuidada. Quinze odiava o próprio reflexo. Apesar do rosto parcialmente desfigurado ser a única imagem que conhecia de si mesma, sempre havia a sensação de falta de costume. Ela sabia que não tinha sido sempre assim. Às vezes se perguntava se isso lhe incomodaria tanto se não soubesse que alguém tinha lhe deixado daquele jeito.

Quinze retornou para o lugar onde tinha acordado, encarando as portas com desconfiança. Podia ficar ali esperando alguém aparecer ou podia sair do laboratório e descobrir por si mesma. Mas seu coração pareceu perder o ritmo só de pensar em sair. Palpitações como essa não eram incomuns. Não estava curiosa ou empolgada com a ideia de sair daquele lugar, pelo contrário, pensar em sair lhe causava repulsa, uma reação que não entendia. Já tinha saído alguma vez?

Instintivamente levou a mão ao rosto, cobrindo o lado desfigurado. Não estava pronta para isso. Sentou-se sobre as folhas espalhadas, sem saber o que estava esperando. Ninguém iria voltar, e mesmo que voltassem, não era como se aquele lugar fosse agradável. Ela odiava todo aquele projeto, aquelas pesquisas. Odiava até os cientistas, mesmo que há pouco tempo atrás estivesse torcendo para que algum deles aparecesse. Por que sentia a necessidade tão intensa de permanecer ali? A resposta não importava, ela ficaria ali até um dos doutores voltar. Eles saberiam o que fazer.

Um dos papéis espalhados chamou sua atenção. Todos eram manchados e metade da folha estava ilegível por causa de uma larga poça de água que crescia pela fresta sob a porta da saída, que ela ainda não tinha espiado para saber o que causava. Ela teria ignorado a folha, se seu nome não estivesse bem no topo.

Cobaia 15”

Ela separou a folha das demais. Nunca soube o que estudavam com ela. Talvez já tivesse sabido em algum momento, mas nem sempre as coisas que sabia em um dia permaneciam em sua memória no dia seguinte. Se às vezes tinha a impressão de que coisas que lhe pareciam novas eram comuns, o contrário também acontecia, coisas que ela já deveria saber lhe pareciam novidade.

Um som estranho lhe assustou. Parecia fraco àquela distância, mas teria sido um estrondo muito alto em alguma outra parte do... de onde ficava o laboratório. Quinze estava inquieta, mas continuou lendo.

Início: 07/05/1952

Responsável: Dr.Y.S.

Condicionamento: Parcial

Descrição comportamental: Personalidade instável, pouco cooperativa; resistência aos procedimentos. Agressividade.”

Isso não parecia nada com ela. Já estava se perguntando se podia ter existido outra Cobaia 15 no projeto, mas havia duas fotos junto a ficha. Uma ela não teria reconhecido, a outra ela não queria reconhecer. A primeira era uma mulher de cabelos escuros bagunçados e olhar aterrorizado e bravio, datada de 1952. A segunda foto não parecia, mas era a mesma mulher, em 1953, com metade do rosto retalhado em cicatrizes e talvez queimaduras, a imagem que Quinze odiava ver no espelho. Mas o que mais diferia a segunda da primeira era o quanto esta, ainda que assustada, parecia viva. A segunda não parecia estar com medo, mas estava algo pior: resignada, indiferente.

O resto da folha era quase ilegível, fosse por causa da água ou por ter sido rasurada por alguém.

W.Y.K.: Cobaia inadequada [Dra.B.T., avalie para T.C.S.]

T.C.S.: Cobaia adequada.

.../.../1954

... comportamental: Personalidade instável, ..., cooperativa sugestionável. ... memória e confusão. [ADAM ou trauma?] ... dissociação. [... pela identi. ... sua atenção.]”

A partir daí, Quinze não conseguiu mais ler palavra alguma. Apenas presumiu que as folhas seguintes acompanhavam o desenvolvimento do projeto, que ela não sabia há quanto tempo durava. De acordo com os papéis, ela tinha começado aquilo em 1952, mas não lhe permitiam saber a data atual. Na verdade, ela nunca perguntou. Saber que esse projeto tinha começado em algum momento era estranho, pois se lhe dissessem que tinha passado a vida inteira no laboratório, ela poderia acreditar. Sabia que não podia ser verdade, mas parecia verdade, e qualquer data naqueles papéis parecia ao mesmo tempo muito distante e muito próxima. Pouco tempo e tempo demais. Ambos os cenários pareciam errados.

Outro estrondo distante soou, junto a um alarme. Um aviso soava nos alto-falantes, mas não conseguia ouvir bem de onde estava. Quinze levantou, inquieta, tentando entender. Mas antes que pudesse decifrar uma palavra, as luzes apagaram e os alto-falantes silenciaram. A energia voltou com poucos segundos. Uma voz diferente tomou a palavra, em um tom claro e firme.

— Atenção. Por ordem de Andrew Ryan, Rapture está em confinamento. A movimentação entre os níveis da cidade está proibida até segunda ordem. O Rapture Metro e o Atlantic Express foram temporariamente desativados. Permaneçam em casa e fiquem calmos. Rapture não cederá aos parasitas coletivistas.

A voz continuou falando, mas era apenas o mesmo aviso repetido. Mesmo do laboratório, Quinze conseguiu ouvir algo que parecia uma multidão insatisfeita, objetos sendo destruídos.

E então ouviu os tiros.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Até o próximo! ^^



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