As coisas andavam estranhas pra Selina, isso tirando o fato de ser e trabalhar com um vigilante. Ficar doente não era um luxo que ela tinha geralmente, numa vida que basicamente ela lutava para sobreviver desde que se entendia por gente. Depois de conhecer Bruce, ele fez questão de cuidar dela nos mínimos detalhes. Fosse perguntando se ela tinha se alimentado direito ou a deixando dormir na mansão inúmeras vezes. Por justamente ter esse acolhimento e hospitalidade na casa dos Wayne é que achou que estava mesmo em certa situação.

Havia sentido enjoos, tonturas, crises de choro, um verdadeiro caos emotivo. Não queria ceder às desconfianças, mas também, tinha que ter certeza. Depois de um teste de gravidez positivo, sua primeira reação foi xingar em voz alta e se sentir completamente atordoada. Amava Bruce de coração, mas não queria chegar a tanto. No entanto, logo em seguida percebeu as semelhanças que ela e seu futuro filho tinham, frutos de uma relação não oficial, não planejada, mas havia uma diferença gritante entre os dois casos; o pai do seu filho a amava, o que era um consolo. Talvez Bruce ficaria tão surpreso quanto ela ao descobrir, mas certamente não rejeitaria a criança, mesmo que não estivesse nos planos dele também.

Se sentindo muito nervosa, decidiu que o melhor era contar a ele. Depois de alguns dias de terem apreendido seu último alvo, lá estava Selina na mansão Wayne. novamente. Era estranha a sensação que o lugar trazia. Havia encontrado paz naquele lugar sombrio, ao lado de um homem perturbado, porém bondoso e gentil. Estavam simplesmente fazendo companhia um ao outro, quando Bruce quebrou o silêncio.

—O que está te perturbando? - ele questionou, estreitando um pouco os olhos.

—Ah eu... eu não sei o que falar, como falar, só acho, acho não, sei que você tem o direito e... - ela parou um pouco, desviando o olhar - eu não quero esconder de você, no fundo, não quero, mesmo não sabendo como você vai reagir.

—Só diga, por favor - ele se revirou um pouco um tanto nervoso.

—Eu descobri que estou grávida há uns dias atrás - ela suspirou, olhando para o chão e depois decidindo encará-lo - eu... quero essa criança, por mais inesperada que seja.

—Eu... está mesmo? Meu Deus, eu... - Bruce ficou claramente atordoado, com os ombros inquietos - posso concordar que é inesperado, mas... eu não vou rejeitar meu próprio ... filho.

A palavra pareceu completamente estranha aos ouvidos e mente dele. No entanto, ao mesmo tempo, pensamentos passaram por sua mente. Era certo que tudo o que mais queria na vida era ter crescido com os pais, não abandonado à própria sorte pelo destino. Não teria a coragem de fazer isso com uma criança, ainda mais com seu próprio filho. Isso deixava a missão do Batman ainda mais comprometedora, mas ele tomaria cuidado. Prometeu a si mesmo naquele instante que teria mais cuidado.

—Bruce... - Selina ousou chamá-lo depois de um momento de silêncio.

—Eu sei o que é crescer sem família, você também, mesmo sendo de formas diferentes, eu jamais faria isso com meu filho - ele olhou firmemente para ela ao dizer isso, fez uma pausa para segurar a mão dela, Selina estranhou um pouco o gesto, mas o deixou prosseguir - nosso filho.

—É, isso aí - ela deu uma risada de alívio, voltando ao jeito brincalhão de sempre - nosso filho.

—Eu preciso fazer as coisas direito, dar todo o suporte que vocês precisam, seria melhor se... - o jeito confiante dele o abandonou de repente -se cassasse comigo, eu poderia dar todo o apoio que precisa, como Bruce Wayne também.

—Espera, isso é um pedido de casamento? - a mão dela vacilou entre a dele, Bruce se esforçou para continuar segurando - não, não era isso que eu queria de você, eu entendo o que quer dizer, mas eu não quero que ache que... estou me aproveitando de você por causa da situação, não quero que tenha pena de mim.

—Eu não quero me casar com você por pena - ele retrucou fortemente - é porque eu te amo e esse é o jeito apropriado de fazer as coisas.
A sinceridade no olhar profundo dele a convenceu de que falava a verdade.

—Bruce, me desculpe se sei grosseira, é só que... é um pouco demais de repente - ela suspirou - preciso de um tempo pra pensar, só isso.

—Vou estar no mesmo lugar - ele respondeu.

Entendendo que ela precisava de espaço, a deixou ali, mesmo estando na sua própria casa, fez questão de se retirar. A sensação que Selina estava tendo no momento era que tudo parecia bom demais para ser verdade.