Não Toque na Minha Maçã escrita por SS Saibot


Capítulo 4
Livro Aberto — Parte Um


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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LIVRO ABERTO

PARTE UM

 

O dia seguinte foi melhor...E muito pior. Pior em níveis estratosféricos. 

Foi melhor porque meu cabelo continuava hidratado e alheio à umidade estática que parecia gerar fios desgrenhados incontroláveis; Mike Newton pagou meu almoço — impedindo-me de ficar cinco dólares mais miserável — e eu fiz o café da manhã com algumas coisas comestíveis que ainda restavam na casa de Charlie; claramente não ficou digno de uma realeza, mas pelo menos nenhum de nós dois iria morrer de intoxicação alimentar. Meu pai tinha até um sorriso no rosto quando saiu para trabalhar e aquilo quase disfarçou o rato morto que ele chamava de bigode. 

Além disso, não chovia quando fui para a escola e isso era uma conquista digna de comemoração. Durante uma parte do dia, consegui me sentir disputada como um pedaço de carne quando Mike se sentou comigo na aula de inglês e Eric quase o fulminou com o olhar — meu ego inflou. Minha vontade era de dizer que tinha Bella para todo mundo, mas eu só tinha um metro e sessenta e três, então havia para, no máximo, dois. Meu bom senso não me permitiu. Ao contrário do que Charlie pensava, tenho alguma noção perdida num lugar dentro de mim. No pâncreas, talvez. 

Acabei entrando na equipe de xadrez e no grupo de debate e ainda não sei com propriedade como exatamente isso aconteceu. Fiquei sinceramente surpresa que ainda houvesse vagas para os clubes no meio do período letivo, mas essa é a vantagem de se estudar em uma escola com 358 esquimós. Sempre se consegue uma brecha. De qualquer maneira, antes mesmo da aula de Economia Doméstica, eu já estava jogando uma partida no pátio. 

Por outro lado, o dia teve seus pontos baixos, porque nada além do meu senso de inconveniência é perfeito. Eu estava cansada; novamente, não tinha conseguido dormir por causa do barulho do vento circulando pela casa e nas telhas mesmo com tudo fechado. 

Foi pior porque esqueci meu livro de trigonometria em casa, depois de estudar de madrugada, e tive que pedir emprestado a um garoto chamado Tyler que acreditava veementemente que agora eu tinha uma dívida com ele por isso. 

Foi pior porque senti vontade de bater em Jessica quando ela pegou a última fatia de pizza que deveria ser minha. 

Também foi pior porque eu estava ansiosa para o horário do almoço. Eu tinha passado mais horas do que admitiria a alguém imaginando possíveis cenários onde, por fim, eu conseguia retribuir o tratamento glacial que Edward Cullen direcionou a mim. Em uma das minhas versões, ele vinha rastejando na minha direção, pedindo perdão e eu, no melhor estilo Gwen Stefani, deixava ele falando sozinho. Mas, isso não aconteceu, porque Edward Cullen tomou um chá English Breakfast de sumiço e não apareceu na escola. Claro que sempre havia a opção de confundi-lo com um pedaço de parede por sua palidez mórbida, mas eu procurei bastante. Ele não tinha se camuflado, só desaparecido. 

Quando adentrei no refeitório com Jéssica, já preparando minha entrada dramática — e vasculhando o refeitório à procura dele para que pudesse direcionar meu olhar mais indiferente — vi seus quatro irmãos safados e burgueses sentados juntos na mesa daquela mesma maneira esquisita do dia anterior, mas ele não estava lá para completar o quadro de palidez renascentista. 

Antes que eu pudesse pensar mais naquilo, porém, Mike nos interceptou e nos conduziu para a mesa dele. Jessica foi de boa vontade e eu também. Eu tinha levado exatamente quatro segundos para perceber que Mike e seu grupinho eram o equivalente a popular na Forks High School. 

Ele andava com a jaqueta do time e aposto que gostaria de ter uma garota sentada no colo dele enquanto falava de arremessos, se alguma estivesse disposta a sentar lá. Além disso, Jessica me contara durante a aula de espanhol que a família de Mike era bem sucedida — os Newton eram donos de uma loja esportiva na cidade e tinham outra filial aberta recentemente em Port Angeles. Pelo tom de voz que ela usou, concluí que em cinco anos, Mike seria o marido rico em potencial se sua pontuação no SAT fosse ridícula. 

Almoçamos falando sobre o show de uma banda folk qualquer que se apresentaria em Seattle no fim de semana. Eric foi mais que gentil ao me convidar para ir com eles, mas acabei declinando usando minha desculpa de colocar a casa em ordem.  

Fui para a aula de biologia, feliz em ter a bancada só para mim. Mike, que tinha me acompanhado fielmente, estava falando sobre habilidades de cães perto de mim e parecia muito disposto a ocupar o lugar do meu parceiro faltoso, mas o professor olhou para ele com cara de quem iria espumar pela boca e ele foi se sentar em seu lugar de costume. 

Eu sorri para ele como se me sentisse mal por não podermos sentar juntos, mas por dentro, eu suspirava, aliviadíssima. A voz dele já estava me dando nos nervos e eu estava cansada de ser diplomática. Nem toda a minha experiência com garotos abertamente amistosos era suficiente para lidar com os meninos de Forks que tinham a textura e o comportamento de uma goma de mascar. 

Só depois do término da aula, que pensei se não seria por minha culpa que Edward Cullen faltara. Depois bufei mentalmente desse pensamento estúpido e entrei no vestiário feminino para colocar o uniforme de educação física. Eu era bonita, cheirosa e não apoiava fascistas. Edward Cullen teria que ser um idiota psicótico para repudiar a minha presença. 

Sim, definitivamente um idiota, decidi, enfiando minhas roupas dentro da mochila. 

Feliz com essa conclusão, fui para a quadra e não pensei mais em Edward Cullen enquanto jogávamos handebol. Ralei um pouco os joelhos e tive que aturar Mike perguntando se eu estava bem a cada cinco segundos, mas me sentia agradavelmente cansada e dolorida enquanto caminhava pelo estacionamento na direção do meu troço. 

Vasculhei minha mochila para ter certeza de que tinha tudo que precisava e dei a ré, vendo os Hale e dois dos Cullen entrando em seu carro estupidamente ofuscante. 

Era muito injusto que além de bonitos, eles fossem ricos. Deveria haver um regulamento para receber esse tipo de coisa na fila de distribuição. Ou uma pessoa é bonita ou tem dinheiro, os dois deveriam ser proibidos. 

Eles olharam para a minha picape quando passei e, só porque eu já estava com raiva do irmão deles e tenho tendência a fazer coisas idiotas, ofereci um sorrisinho e acenei da minha janela como se nos conhecêssemos há longos anos. A baixinha do cabelo curto e olhar vidrado de piromaníaca deu um sorriso de volta, mas a loura parecia ter acabado de descobrir que tinha um pratinho de fezes debaixo do nariz perfeito dela. 

Sebosa, pensei enquanto saia do antro estudantil de Forks e pegava a rodovia na direção contrária de casa. 

Pela manhã, enquanto Charlie comia as panquecas que eu fizera, tínhamos concordado que o modo como ele porcamente mantinha a casa era uma bela de uma porcaria, então peguei dinheiro no pote em cima da geladeira e fiz uma lista de compras com itens de cozinha e de limpeza. Eu já planejara uma faxina intensiva para o sábado, quando eu não teria aula e Charlie pegaria um final de semana de plantão na delegacia. Agora, eu precisava de provisões. 

Dirigi para o sul até o Thriftway, que não ficava longe da escola — aliás, nada em Forks ficava longe de nada. Era bom estar dentro de um supermercado. Parecia normal e reconfortante. Eu sempre fazia as compras da casa, porque Renée tinha os hábitos alimentares de uma criança de cinco anos antes de se envolver com Phil e sofrer uma lavagem cerebral. Lembrar daquilo me fez rir enquanto corria com os braços acima da cabeça para me proteger da chuva até alcançar a cobertura do comércio. Eu quase podia pensar que quando passasse pelo caixa e saísse dali, encontraria o sol de Phoenix se pondo no horizonte. O crepúsculo sempre havia sido minha hora favorita do dia. 

Na minha cidade, o sol se punha lentamente, colorindo o céu em tons de amarelo, púrpura, lilás e laranja. Era uma mistura linda de se ver, mas parei de pensar nisso quando meus olhos arderam. Chorar em público era o cúmulo; ainda mais em Forks, onde não se podia respirar mais rápido que tinha alguém para perguntar se era princípio de infarto. 

Entreguei-me com prazer às compras e, quando cheguei em casa, apenas garoava. A luz dos faróis acesos da minha picape refletia na janela escura cobertas por cortinas, muito diferente de minha antiga casa em Phoenix, cheia de detalhes translúcidos e uma porta envidraçada na qual eu me recostava a soleira todas as manhãs para tomar café e ver o sol se erguer preguiçosamente no céu. 

Desliguei o carro e suspirei. Agora, Forks era o meu lar. 

Cheia de bolsas e sacos de papel quase cortando meus antebraços pelo peso, tive que dar duas viagens para tirar toda a mercadoria do carro e, aos poucos, guardei os mantimentos após tirar o pó da dispensa minúscula. Cansada e me sentindo suja, lavei as mãos, embrulhei batatas em papel alumínio e as coloquei no forno para assar. Pus os bifes para marinar e os coloquei na geladeira. 

Quando terminei isso, levei minha mochila para o quarto, arrastando-me pela escada. Antes de fazer o dever de casa, tirei as várias camadas de roupas e vesti um robe de cetim rosa, soltei o cabelo úmido de chuva para secar e verifiquei meu email no computador pré-histórico que Charlie pusera ali para mim, fazendo uma nota mental de procurar por um computador novo assim que possível. 

Havia sete mensagens. Três de Renée, uma de Mariah, duas de Patrick e Alex — os gêmeos mais extrovertidos do Arizona — e uma de minha antiga professora de literatura, a Sra. Manchesfield. 

Vi primeiro as de Renée.

 

Bella, eu sei que aí é um fim de mundo e não faço ideia se o seu pai evoluiu o suficiente para pensar que talvez, você precise de acesso à internet, mas por favor, não seja idiota e procure uma lan house para nos comunicarmos e eu não ter que ligar e acabar falando com o inútil do seu pai.

 

Já estou com saudades e sofrendo porque você se foi. Não tem ninguém para limpar a casa agora. Phil está mandando lembranças e pedindo para que você se alimente direito. 

 

Mamãe. Sofrendo e bronzeada na Flórida. 

 

Revirei os olhos e li a segunda.

 

Eu sempre soube que ser filha do Charlie acabaria prejudicando o seu cérebro. Não existem computadores aí em Forks? Eu não tenho paciência para isso não, Isabella. Já estou velha para ficar passando raiva. Manda um sinal de fumaça para eu saber que não sou uma mulher sem filhos agora, por favor. 

 

A última havia sido enviada naquela manhã.

 

Você está me obrigando a cogitar falar com o energúmeno do Charlie para ter notícias suas. Espero que esteja feliz. Se não me mandar notícias até as seis horas da tarde, vou ligar e xingá-lo todinho. 

 

Beijos da mamãe. 

 

Olhei o relógio, pensando se valeria a pena não enviar mensagem nenhuma só para ver Charlie e Renée trocando farpas pelo telefone. Por fim, senti pena do meu pai e comecei a digitar uma resposta. Ele podia ser chato, não ter senso de moda, nem de alimentação e agir como um eunuco de meia-idade, mas ainda assim não merecia ser xingado pela minha criativa mãe. 

 

Digitei:

 

Mãe, o que eu já disse sobre controlar seus impulsos e sua ansiedade? Só faz dois dias que estou aqui, ainda nem deu tempo de fazer alguma merda para o Charlie ameaçar me devolver para a senhora. Mantenha a calma.

 

P.S.: Não acho que tenha uma lan house aqui. Só vejo mato. 

 

Mandei essa e recomecei:

 

Estou bem. Charlie tentou me matar envenenada com sua comida, mas resisti e agora sou a empregada daqui, então todas as refeições estão por minha conta. Lide com isso bravamente, pois a senhora nunca mais irá encontrar uma escrava que trabalhe tão bem quanto eu.

 

Estou pedindo desculpas atrasadas, porque eu realmente tinha esquecido como aqui faz um frio colossal e roubei duas blusas suas — a de mangas de renda e a vermelha com decote quadrado — para trazer comigo. Acho que nunca poderei usá-las aqui. A não ser que eu complemente muito bem com uma jaqueta de couro, o que não é má ideia...Pensarei a respeito.

 

Charlie me comprou um carro que faria a senhora chorar de desgosto só de olhar, mas ele assusta as pessoas e compensa a minha aparência de garota pálida e sem graça, então estou feliz. O nome da minha filha (é uma picape, acredite!) é “trocinho”. Linda demais a sua neta!

 

Também estou com saudades. Principalmente de ter um banheiro só para mim. Charlie não abaixa a tampa da privada!!! Escreverei novamente em breve se esse computador (e eu) não morrer.

 

Bella. Sofrendo e levemente pálida no Esconderijo do Abominável Homem das Neves. 

 

Enviei essas e decidi responder as outras em um momento mais oportuno, pois precisava terminar a lição e adiantar o jantar. Minha mãe era a única desesperada do meu grupo de remetentes. 

Eu tinha decidido reler Pétala Escarlate, Flor Branca de Michel Faber — o romance que estávamos estudando no curso de inglês em Phoenix — por puro prazer e era o que eu estava fazendo quando Charlie chegou em casa. Eu estava sentada na bancada da cozinha, balançando as pernas, esperando dar a hora de tirar as batatas do forno. 

— Bella? — Ele chamou da porta. 

Quem mais seria?, pensei comigo mesma e respondi: 

— Não, é a Marylin Monroe. 

Meu pai apareceu na cozinha com seus coturnos batendo no chão e resmungou: 

— Você é muito inconveniente. 

— Desculpe, é que eu pensei que todos os caras de meia idade tivessem algum tipo de admiração velada por ela. 

Ele fez uma careta. 

— Não sou da terceira idade. 

Dei uma gargalhada alta. 

— Não se ofenda, pai, mas, você tem cinquenta e... 

— Mal cheguei e você já está me irritando, Isabella? Quer voltar num avião de cargas para o Arizona? — Ele grunhiu. 

Encolhi os ombros. 

— Não está mais aqui quem falou, papai. 

Desci da bancada e fui conferir o que estava dentro do forno. Cheirava bem, mas ainda podia aguardar mais alguns minutos. 

— Já que tocamos nesse assunto, alguém te disse hoje como você está jovial? — falei quando voltei ao meu lugar, apoiada no balcão. — É a coisa mais jovem e carismática da tia Bella. 

Meu pai se livrou da arma ali por perto e quase empurrou o livro na minha cara para conseguir ver a capa e o título que eu estava lendo. Quando identificou, puxou uma cadeira da mesa e sentou, fazendo uma careta. Eu esperava que fosse hemorroida porque se ele estivesse prestes a criticar meus hábitos literários, não seria capaz de responder por mim mesma. 

— Esse livro não é meio impróprio para a sua idade? 

Rolei os olhos para o motivo do seu desconforto e decidi que aquele jantar tinha que acontecer o quanto antes. 

— Seria, se eu tivesse treze anos. 

Meu pai me observou andar pela cozinha pondo os bifes para grelhar. 

— Vocês não deveriam estar lendo livros decentes como O Morro dos Ventos Uivantes ou coisa assim? 

— E estamos, mas esse é muito chato. A história pudica de duas pessoas orgulhosas e que ficam de intriguinhas o livro inteiro... — Torci o nariz. — Insosso demais para mim, com certeza. Prefiro esse que pelo menos tem uns capítulos muito interessantes. 

— Pensei que esse livro falasse sobre a história de uma prostituta — Charlie ponderou. 

— E fala — balbuciei, abaixada na direção do forno. Conferi as batatas novamente e estavam no ponto, retirei o refratário com o auxílio de um pano de prato. — Mas é sobre uma prostituta do século XIX, pai. Tem muito mais glamour. Se eu fosse uma prostituta, iria querer ser igualzinha a Sugar. 

Meu pai idoso e eunuco cheio dos pudores tinha os olhos arregalados. 

— É esse o tipo de educação que Renée estava te dando? 

— Sim. Nós também costumávamos frequentar algumas casas noturnas para principiantes em Phoenix e foi lá que ela me iniciou na libertinagem — ironizei — Se não estiver satisfeito, pode ligar para ela e reclamar da minha educação. 

Charlie mudou de vermelho para pálido em um segundo. 

— Não, não. A educação está ótima. Sempre foi o meu sonho ter uma filha que quisesse ser uma prostituta vitoriana — Ele tomou um gole da cerveja que coloquei na frente dele. — Pelo menos você não é uma daquelas meninas retardadas que acreditam em signo e aquela bobagem toda de horóscopo. 

— Hum...Então, pai... 

Charlie parecia bem chateado. 

— Melhor você ficar quieta antes que eu me decepcione ainda mais com você, Isabella. 

— Okay — Sorri inocentemente, colocando sobre a mesa as batatas assadas, a salada e um risoto que eu havia feito. 

Meu pai farejou em cima da comida. 

— O cheiro está maravilhoso. 

— Obrigada — agradeci. — É sempre bom ser reconhecida pelo trabalho que eu estou sendo obrigada a fazer. 

Charlie me ignorou e comemos sem muita conversa. Nós dois estávamos famintos e com exceção de quando eu tive que pedir para ele parar de comer todas as batatas, não falamos. 

Para minha surpresa, quando eu estava colocando meu prato na pia e ele estava repetindo pela quarta vez, meu pai resolveu que ser introspectivo era coisa do passado. 

— E então, como foi na escola? Fez algum amigo? 

— Vários — afirmei. — Os menos esquisitos foram uma menina chamada Jessica Stanley e também tem um garoto chamado Mike que quer vir aqui em casa me buscar para irmos em uma boate mais tarde. 

Charlie engasgou com a carne. 

— O quê? 

Tive que olhar por cima do ombro para me certificar de que ele não estava tendo um ataque fulminante. 

— É uma brincadeira, pai. Deixa de ser puritano. O Mike é muito simpático e aqui nem tem uma boate. Quase todo mundo parece ser decente — esclareci. 

Meu pai voltou a cor normal aos poucos. 

— Deve ser o Mike Newton — Ele balançou a cabeça do jeito que os pais fazem quando estão falando sobre garotos para as filhas que ainda moram sob o seu teto: sem denegrir o suficiente para que ela cogitasse odiar o sexo masculino e sem exaltar demais para ela acabar grávida e sozinha. — Garoto bom...Uma excelente família. Às vezes, ele parece meio burro e sem perspectiva de vida, mas na idade dele não tem como julgar só por isso. 

Eu não pude fazer nada além de concordar com a cabeça; de todos os garotos da minha idade que eu conhecia, eram poucos os que tinham uma visão que ia além do próprio pênis. 

— Não preciso de uma ficha dele, pai. Eu sei disso tudo — Pausei, tentando não parecer muito interessada/obsessiva ao proferir as palavras seguintes: — Sabe sobre quem eu não sei quase nada? A família Cullen. O que o senhor sabe sobre eles? Pode me contar? Preciso de uma ficha desse povo. 

Charlie deu de ombros displicentemente. 

— O Dr. Cullen é um grande exemplo de homem. 

— Mais de um e oitenta? — indaguei, fingindo surpresa. 

Meu pai mastigou um pedaço de batata e disse de boca cheia: 

— Você me irrita, Isabella. 

— É só que, eles...São meio diferentes — Eu não sabia como dizer aquilo de uma forma que não parecesse que eu estava obcecada pela ideia de pegar Edward Cullen num beco sem saída de noite. Emendei: — Eles não parecem se adaptar muito bem na escola. 

Charlie me surpreendeu ao aparentar indignação. 

— As pessoas dessa cidade — murmurou ele, a boca se contorcendo em uma careta. — O Dr. Cullen é um médico realmente brilhante que certamente poderia trabalhar em qualquer hospital do mundo, obtendo cem vezes o salário de merda que ganha aqui — continuou ele, falando mais alto a cada palavra. — Temos sorte por tê-lo aqui em Forks...Sorte pela esposa dele conseguir morar numa cidade pequena. Ele é uma conquista para a comunidade, e todos os filhos são bem educados. Não são idiotas como o descerebrado do filho dos Newton. Tive minhas dúvidas quando se mudaram para cá, com todos aqueles adolescentes hormonais adotivos. Pensei que podíamos ter alguns problemas com eles. Mas todos são muito disciplinados...Infelizmente, não posso dizer o mesmo dos filhos de algumas pessoas que moram nessa cidade há séculos. E eles são unidos e reservados, como deve ser uma família...Viagens em fins de semana alternados...Só porque são ricos e bonitos, as pessoas ficam falando. 

Fiz um barulho de consideração. 

— O Dr. Cullen vai entrar na política? 

Charlie crispou as sobrancelhas. 

— Não que eu saiba, por quê? 

— Nada — Balancei os ombros. — É só que eu achei que ele estava te pagando para fazer a campanha dele. 

Meu pai fez uma careta. 

— Você me perturba e eu não pergunto se a Renée te pagou para fazer isso. 

— Touché, meu caro. Você tem razão. 

Ela me pagava mesmo. Trinta dólares por semana na minha conta da faculdade para desequilibrar o meu pai, mas não achei que valesse a pena mencionar isso para ele. O coitado já era tão desajustado. 

— Eles parecem robôs anêmicos para mim — confessei. — São muito reservados e não comem direito, só ficam jogando comida fora. Mas são todos muito bonitos. 

— Devia ver o médico — disse Charlie, rindo. 

— Ele também parece um robô anêmico? — inqueri à guisa de informações. 

Charlie revirou os olhos. 

— Ele é bonito também. Ainda bem que é bem casado. Muitas enfermeiras do hospital têm dificuldades para se concentrar no trabalho quando ele está por perto. 

Apoiei o pano de prato no ombro e olhei para ele.

— Vai ver é por isso que ninguém o quer nos hospitais de cidade grande. Se ele fica distraindo as enfermeiras, elas não devem fazer o trabalho direito e um monte de gente acaba morta. 

Pelo barulho que Charlie fez, parecia que ele estava desistindo da vida. 

— Eu não aguento mais você, Bella — falou e se retirou para a sala a fim de assistir televisão. 

Tomei um gole do suco e suspirei.

Às vezes, nem eu mesma me aguentava.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥. Nos vemos em breve!



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