Blindwood escrita por Taigo Leão


Capítulo 3
Marco




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Elaine entrou no quarto e fechou a porta, já que após dar às boas-vindas, o homem voltou para o elevador sem dizer mais nada. Eram dois cômodos, com o maior sendo separado em dois menores, sendo uma espécie de sala, cozinha e o quarto. Na parte da sala havia um pequeno sofá, uma poltrona, uma pequena mesa de centro e uma televisão de tubo, antiga. Além dos pequenos armários e decoração barata.
Na parte do quarto havia uma cama com uma mesa de cabeceira de cada lado, sendo que em cima da esquerda havia um pequeno abajur e havia um pequeno divã frente a cama. A janela também ficava deste lado, à esquerda. Já do lado direito, junto a parede, havia um pequeno guarda-roupa marrom.
Na parte da cozinha, que era um cômodo separado, haviam armários e uma pia simples, além de um pequeno frigobar e um fogão de bancada que não era novo mas não estava sujo. Seminovo, essa seria sua melhor definição. Elaine não pôde deixar de reparar como aquela cozinha era boa o bastante para uma pessoa, mas poderia ser um incômodo se tivesse mais uma ou duas pessoas ali com ela.
A porta para o banheiro ficava na mesma parede que o guarda-roupa, no final do quarto; Era um banheiro simples, como qualquer outro. Elaine colocou sua mala em cima da cama e foi tomar um banho.
Após se trocar, ela foi até a janela para ver a vista mas não conseguia ver nada além da sombra dos estabelecimentos e casas que haviam pela cidade. A neblina já estava densa novamente. Ela conseguia enxergar o topo de uma montanha ao fundo, mas apenas sua silhueta, que lhe passava um certo ar de alívio; uma espécie de conforto mesmo nessa situação. Ela se sentiu em casa, mesmo sabendo que aquela cidade lhe causava arrepios. Ela gostou da vista por mais estranho que isso lhe parecesse naquele momento. Elaine pegou seu celular para ver se Johny havia lhe mandado algo, mas ainda estava sem sinal. Sozinha e sem saber o que fazer agora, ela resolve voltar até o estabelecimento em que estava antes para falar com Sarah Bove, a única pessoa que se aproximava da definição de amiga nessa cidade. Amiga... Elaine estranhava essa palavra. "Conhecida" foi o que usou em sua mente. Sim, Sarah Bove era sua única conhecida nessa cidade e por vista, a única pessoa que lhe passava certa confiança ali. Mas talvez ela não devesse importunar a garota ainda em seu horário de expediente. Ela já havia feito muito por ela: lhe ajudou a encontrar o mecânico, lhe deu uma refeição e a localização do Chariotte. Sim, Elaine a deixaria em paz por ora. "Quando anoitecer irei até lá, se tiver sorte ela estará finalizando seu turno e poderá conversar comigo."
Ainda lembrando sobre a garota do estabelecimento, Elaine pegou o mapa que ganhou e o observou melhor. Ela já estava onde queria, mas gostaria de saber o que mais havia por ali. Parques. Praças. Um museu. Um hospital e uma igreja. Essas eram as grandes marcações que mais lhe chamavam a atenção, além do Chariotte. Ela circulou esses lugares com uma caneta para não esquecê-los; talvez ela fosse até um parque depois, quem sabe. Não só o hotel, Elaine tinha interesse em toda Blindwood e o mistério que parece cercá-la junto à neblina. Mas não há forma melhor de conhecer o local do que estar ali, e melhor do que isso: não há melhor forma de conhecer o local sem conhecer as pessoas que vivem ali antes. Como elas são... Por quê ainda estão ali... O que fazem, como vivem. O que pensam. Parece besteira, Elaine sentiu como se estivesse estudando nativos nesse território hostil. Ela pensava sobre a possibilidade de Blindwood ser apenas uma pequena cidade normal que infelizmente, foi palco do acidente do Chariotte anos atrás e coincidentemente a neblina, que veio logo em seguida. Talvez não há nada demais ali, não há nada para explorar. Talvez o clima que cause arrepios seja coisa de sua cabeça. Talvez Elaine fosse estranha demais para este vale.
Novamente veio em sua mente a idéia de que não havia outra forma de começar o que veio fazer, se não conhecer pessoas naquele lugar. Ela colocou uma blusa de frio, pegou sua pequena agenda e o mapa e saiu de seu quarto.
Por mais que se esforçasse, Elaine não conseguia ouvir um único barulho no quarto andar, parecia que apenas ela estava ali. Ela pegou o elevador e foi até o térreo. Ali, novamente estava sozinha, assim como quando chegou no local, um par de horas atrás. Após passar pela recepção e atravessar uma porta, ela chegou no saguão principal. Ali haviam outras portas também, onde Elaine acabou parando em uma sala que parecia um local onde eram feitas assembléias ou algo do tipo, talvez até mesmo fosse um pequeno salão de festas. Haviam algumas cadeiras, um tapete, uma mesa longa próxima a parede e um quadro de avisos com alguns papéis grudados nele, mas a maioria dos eventos ali já haviam acontecido.
— Elaine Campbell.
Elaine não se assustou dessa vez, a voz veio da entrada. Havia mais alguém ali, uma pessoa desconhecida.
— Me perdoe pelo susto. Eu sou Marco, muito prazer. – Marco era um homem de aparência um pouco estranha. Seu cabelo loiro ia até seus ombros e estava um pouco bagunçado e seu sobretudo de cor bege estava amarrotado. – Eu lhe conheço pois Sarah me contou sobre você. Sabe? a Sarah do bar... Que lhe ajudou com Ivan... Que é o homem que está com seu veículo agora. Eu sou seu ajudante! Mas apenas quando ele precisa de mim... Quando não precisa eu sou apenas Marco. De toda forma, Bove me disse que você se hospedou aqui no Chariotte e me pediu um favor, então resolvi vir até aqui. Veja, eu também fico por aqui às vezes: quando meu tio está muito zangado eu passo a noite por aqui pois prefiro evitar esse tipo de confusão. Mas como eu dizia, Bove pediu para eu lhe buscar, ela quer vê-la novamente.
Elaine se perguntou se todas as pessoas daquela cidade aparecem assim, de repente.
— E se eu não for Elaine Campbell?
— He... – Marco deu um sorriso um pouco forçado, que mudou sua expressão completamente, logo voltando a séria que estava antes.– He... Não estamos na cidade grande. Veja, sei diferenciar pessoas daqui com pessoas de fora. Além disso, Bove me descreveu você, que é uma figura que nunca vi por aqui antes. Agora venha comigo, se possível. Vejo que você está de casaco, provavelmente já iria para algum lugar... Estou certo?
— Sim, está. Na verdade eu iria dar uma volta por aqui para tentar conhecer um pouco onde estou.
— Você pode fazer isso depois. Sabe? Em Blindwood você sempre tem tempo. A cidade da calmaria... Agora você vem comigo e ficará na companhia de Bove e na minha, se não se importar.
Elaine concordou com a cabeça e seguiu Marco até o local onde esteve com Sarah mais cedo. Agora haviam algumas pessoas a mais ali e uma música ambiente que não estava tão alta assim, mas era o bastante para ecoar por todo o bar e fazer com que Elaine não escutasse o ranger da porta de entrada dessa vez. Quando Sarah viu os dois, acenou para chamá-los até o balcão. Ela ainda estava trabalhando.
— Elaine! Vejo que Marco lhe encontrou. Como foi? Encontrou o hotel?
— Sim, obrigada. Eu estava dando uma volta quando Marco me encontrou, por sorte estava no térreo.
— Uhh, uma sorte mesmo.
Marco virou os olhos quando escutou que as duas garotas falavam sobre ele, mesmo que não fosse nada demais. Ele se sentou ali mesmo e apoiou os cotovelos sobre o balcão, apertando a própria mão.
Sarah serviu uma bebida para os dois e pediu licença para atender as outras pessoas, dizendo que logo voltaria. Ela deixou a garrafa ali entre os dois.
Elaine olhou em volta e viu que agora as pessoas pareciam ter vida, diferente de quando esteve ali mais cedo. Era um local mais animado. Alegre, não. Mas animado. Talvez fosse coisa de sua cabeça: a viagem e a batida mexeram um pouco com sua mente e ela teve a impressão que levou consigo até então. Definitivamente era isso. Eram pessoas normais. Marco continuou virado para o balcão enquanto bebia. Elaine reparou que ele fechava os olhos quando bebia e logo após dar um gole e colocar o copo de volta no balcão, ele punha os cabelos atrás da orelha usando seu dedo indicador. Ele estava inquieto.
— Você parece tenso.
— Hm?... Oh, me perdoe. Não é nada com você. Eu sou assim mesmo... Na verdade, passei a última noite no Chariotte. Estou pensando se voltarei para casa hoje ou esperarei mais um pouco.
— Você passa muitas noites no Chariotte?
— Como lhe disse, apenas quando meu tio está zangado. É uma pequena coisa a se fazer, assim os dois podem descansar um pouco. Veja, ele é um cabeça dura. Mas não o culpo por isso, eu também sou. É de família... Pelo menos tenho a Bove. E agora você também está aqui. – Marco virou os olhos novamente nessa hora, ainda sem olhar para Elaine. – mas não vamos pensar nisso. Não quero lhe aborrecer com meus problemas... Vamos lá, o que está achando de tudo?
— Estou... Bem, eu ainda não conheço ninguém. Sinto que meu andar está completamente vazio; não escuto um único barulho naquele lugar. Os três abaixo também são assim?
— Ora, você está no 4°? Existem pessoas naquele andar, sim. Veja, você apenas teve o azar de não escutar ou ver nenhuma delas. Na verdade as pessoas são meio reservadas... Às vezes explodem! Você vai entender com o tempo e talvez até se acostume, sabe? Talvez você até mesmo seja igual essas pessoas... Mas uma dica eu lhe dou: Vá até o 426 e fale com Agatha. Ela mora neste quarto.
— Agatha... – Elaine anotou em sua agenda para não esquecer. Ela finalmente poderia conhecer alguém do hotel.– Mas... Quem é Agatha? E onde você costuma ficar, quando está no hotel?
— Eu já fiquei em muitos quartos, mas hoje costumo pegar sempre o mesmo, o 104. Veja só, as pessoas até me conhecem! Me chamam para as reuniões, quando ocorrem. Eu estou por lá às vezes, você pode me ver. Ajudo eles em algumas coisas. Já sobre Agatha... Ela é uma mulher que vive no mesmo andar que você. Ela é uma artista solitária, você verá. Você pode conhecê-la, talvez ela lhe ajude. – Marco esvaziou seu copo com um último gole, Elaine o acompanhou.
— É um bom hotel. Não tenho o que reclamar de meu quarto por ora; Eu acabei de chegar, mas tenho essa impressão. Gostei da vista, mesmo com a neblina. Devo ter me acostumado com ela. Sim, eu me acostumei... É uma pena o que aconteceu antes...
— O que... Aconteceu...? – Marco levantou sua cabeça e manteve o olhar fixo no topo da estante atrás do balcão, cerrando suas sobrancelhas.
— Você sabe, o incidente de Blindwood... O incêndio.
Marco finalmente olhou para Elaine. Seu olhar era profundo e expressivo e as olheiras lhe passavam um ar ainda mais sombrio e misterioso. Ela não sabia distinguir se ele a olhava com curiosidade ou como quem não queria falar sobre aquilo. Talvez as duas coisas, mas ela precisava saber mais. Ela poderia induzi-lo a falar sobre, mas não o conhecia o bastante para saber por qual caminho seguir: ela não queria aborrecê-lo, não agora. Ele já parecia aborrecido o bastante e seu olhar lhe causou um certo arrepio: era algo misterioso. Além de que este homem era uma de suas únicas esperanças naquele lugar e naquele momento. Marco e Sarah Bove. Ela sabia que cedo ou tarde iria descobrir mais sobre o que procura. Este é seu primeiro dia no vale, ela estava cansada. Não iria aborrecê-lo.
— Mas me conte: a quanto tempo conhece Sarah? – Elaine tentou mudar o assunto. O homem manteve o silêncio antes de responder, como se procurasse as palavras certas para usar. Elaine notou que ele realmente estava tenso, talvez a situação com seu tio o deixou dessa forma. Mesmo evitando voltar para casa agora, não podia deixar de pensar nisso nem por um instante, por mais que se forçasse a fazer isso. Marco encheu seu copo e o de Elaine, então deu um gole antes de falar.
— Veja, eu cresci aqui, Sarah também. Nos conhecemos desde então, desde sempre... Ela é como uma irmã e sempre esteve ao meu lado. Você sabe, problemas familiares atravessam os anos e nos perseguem como fantasmas. Foi o que aconteceu comigo. Eles me perseguem e me assombram desde que me entendo por gente. Entre meus refúgios, o maior e mais eficiente sempre foi a companhia de Bove. Veja, quando tudo está me dando nos nervos; quando estou nervoso o bastante... Sem escapatória, com um único caminho a seguir, ali está Sarah Bove para me ajudar. Sim, ela sempre está ali! Eu também estou pra ela. Sempre estou... – Marco bebeu mais um pouco – Como fantasmas... Sempre me perseguem! Mas eu sou uma boa pessoa. Tento ser ao máximo. Veja, eu ajudo quem precisa de algo no Chariotte e Ivan na oficina também! Assim eu passo minha vida. Você sabe, não há muito custo em uma pequena cidade em um vale, já deve ter notado isso. Então consigo sobreviver com estes trabalhos aqui e ali... Você acha que eu poderia sair daqui? Talvez sim! Mas... Não! Não posso abandonar o meu tio. Ele é minha única família agora. Somos apenas eu e ele... Não posso negar que em momentos de fúria já pensei em largá-lo por aí, como um indigente, imagine só! Oh sim, ele já mereceu isso. Mas e quanto a Bove? O que seria de mim sem ela? Ela poderia tentar, mas eu... Eu não posso simplesmente esquecê-la. Não posso deixá-la para trás.
Marco terminou seu segundo copo e já encheu o terceiro. Elaine refletia sobre as palavras ditas pelo homem. Sua aparência podia ser um pouco perturbadora, talvez até estranha, mas ele era um homem profundo e de companhia agradável. Suas palavras mostravam isso. Marco possuía um ar de melancolia, mas agora Elaine entendia o motivo. Sim, havia um motivo. Não era unicamente seus problemas familiares ou a vontade de sair do vale. Todo o conjunto era culpado. Todas essas partes somadas umas às outras lhe davam essas incertezas, estes desamparos... Essa melancolia. Com esses fantasmas que o perseguem, esse era o homem em sua frente. Um pouco embriagado, mas ainda são. Elaine o compreendia.
— Vejo que vocês já são amigos!
Era Sarah Bove. A garota já havia voltado para junto deles e estava retirando seu avental, o que significa que o seu expediente finalmente havia terminado. Marco terminou mais um copo. Elaine olhou em volta e percebeu que o bar estava mais vazio do que quando chegou ali com o homem. A música estava mais baixa, o clima não era mais o mesmo; o tempo havia passado e ela nem percebeu. Ao menos agora conhecia Marco melhor e conseguia confiar nele.
— Vamos sair daqui, não aguento mais este lugar.
Sarah puxou Elaine pela mão e saiu pela porta dos fundos, Marco seguiu as duas. A jornalista notou que enquanto não havia terminado seu segundo copo, Marco já havia bebido ao menos quatro e com certeza ele já havia bebido antes de buscá-la no Chariotte. Os três saíram ao lado de um muro em um pequeno beco que dava para a rua, bem próximo do bar em que estavam. A tarde já estava acabando e a neblina não estava tão densa como mais cedo.
Sarah Bove foi para a rua do bar e seguiu a mesma indo para o centro da cidade. Após quatro ou cinco quarteirões, virou a direita e Elaine já conseguia ver algo: era uma espécie de parque. Talvez um dos lugares turísticos que Blindwood costumava ter.
— Este lugar é um dos meus preferidos por aqui. Venha comigo.
Eles atravessaram a cerca que havia ali e chegaram no que realmente era um parque. Um pequeno parque verde e sem vida, estava na cara que ele não era tão visitado assim, porém o rosto de Sarah Bove mostrava animação por estar ali. Mais ao fundo do mesmo havia um lago e se conseguia ver mais do campo verde do outro lado: o lago ficava no centro do parque. A garota se aproximou da água e se sentou ali, frente a mesma. Marco e Elaine a acompanharam, sentando um de cada lado da garota. Elaine cruzou suas pernas enquanto Marco encolheu as suas. Sarah pegou uma pequena pedra no chão e jogou na água, fazendo com que a mesma fizesse pequenas ondas de movimento.
— Eu poderia passar o dia inteiro aqui, fazendo isso. Jogando pedras ou apenas observando...
Elaine olhava em volta mas não conseguia ver nada além da silhueta de uma estátua a sua esquerda. O lugar lhe causava arrepios. A neblina não estava forte, mas era presente. Ela não conseguia enxergar o outro lado do lago sem forçar os olhos um pouco e mesmo assim, não conseguia enxergar com clareza. De toda forma, o outro lado parecia tão vazio quanto o que estava. Tudo isso lhe dava a impressão de que não havia nada além do trio ali presente. Um lugar vazio, calmo... Palco perfeito para algo não correto. Elaine pensava nisso. Não que suspeitasse que poderia ser assassinada pelos dois ao seu lado. Não. Ela apenas não podia evitar seu pensamento de jornalista e todos os casos que já leu sobre ou presenciou. Ela os conhecia muito bem. Pensava neles às vezes. Essa era a parte mórbida de seu caráter que ela guardava para si mesma.
— Esse parque foi fechado. – Sarah Bove jogou outra pedra na água, fazendo-a quicar três vezes antes de afundar. – Houve um acidente aqui. Acharam melhor fechá-lo para visitantes. Mas nós acabamos vindo até aqui às vezes, ele continua aqui para nós. É um lugar calmo. Toda Blindwood é. Mas aqui... É diferente. Eu gosto deste lago.
Elaine olhou para Sarah Bove, curiosa sobre o que aconteceu naquele lugar. Marco percebeu a curiosidade da mulher e continuou o assunto.
— Algo terrível. Terrível! – Marco apontou para a estátua que Elaine havia reparado minutos antes – Vê aquela estátua? É uma homenagem. Lá fora, de onde você veio, as pessoas devem esconder esse tipo de coisa. Eu imagino que sim. Mas veja, aqui em Blindwood, nós homenageamos as coisas e mantemos nossa história conosco, não importa quão estranha ou mórbida ela seja. Faz parte de todos nós. A natureza humana é assim: boa e amável, mas também fria e cruel. Não há motivos para escondermos isso.
— Vocês conheciam a vítima?
— Sim. Era uma grande amiga... Ela está aqui agora. Neste lago.
— Mas não vamos te importunar com estes assuntos agora! – Sarah Bove interrompeu Marco, fazendo-o parar com o assunto.
— Esperem um minuto. – Elaine se levantou e caminhou até a estátua. Ela olhava em volta para ver se enxergava algo mas realmente não havia mais ninguém ali. Quando chegou próxima a estátua, conseguiu distingui-la da silhueta. Era uma menina em pé. Não era uma estátua tão grande e Elaine não pôde deixar de notar que o rosto da menina estava meio deformado. Quase não era possível enxergá-lo, como se fosse um manequim. A estátua realmente foi feita assim ou estava apenas desgastada pelo tempo? Elaine ficou com essa dúvida.
Na parte inferior da estátua havia uma placa amarela que a diferenciava do restante, que era completamente cinza.
"Em memória de Elizabeth Lee, que afundou suas fantasias e desapareceu no azul. Para sempre eternizada em nossas corações."
Elaine sentiu arrepios novamente. A garota havia se suicidado no lago em que estava agora. Talvez por isso o local esteja vazio e agora ela compreendia o ar estranho. Para ela, tudo fazia sentido nesse momento. Isso é normal em Blindwood? Parecia que sim. Ela quis sair dali.
Quando se virou e caminhou de volta para o encontro dos outros dois, eles já estavam em pé, esperando por ela.
— Vamos embora. Já vai anoitecer...– Marco sugeriu.
Eles foram até a entrada do parque e Marco disse que havia decidido voltar para sua casa e ver se a situação com seu tio já havia se apaziguado. O homem se despediu das duas e seguiu o caminho contrário delas, que voltaram seguindo o caminho para o bar e o Chariotte.
— Onde você mora?
— Em cima do bar que trabalho. Você lembra daquela escada que havia no beco que saímos? Ela vai para minha casa. Estamos próximas, então você pode me procurar se precisar de algo! Mas aqui nos separamos, o Chariotte já é bem ali, como você pode ver. Estou um pouco cansada, então até mais!
Sarah Bove sorriu para Elaine e seguiu para sua casa, deixando a jornalista ali parada por algum tempo antes de finalmente voltar para o hotel. Realmente já estava anoitecendo e ela achou melhor voltar para seu quarto. Foi o que ela fez.
No saguão e no elevador ela não viu ninguém, como aconteceu mais cedo. Realmente parecia que só havia ela ali, mas como Marco havia falado, haviam sim outras pessoas ali, então ela acreditava nisso.
Elaine caminhou lentamente nos corredores do andar até chegar a porta do 419, o seu quarto. Quando pegou as chaves em seu bolso e tentou abrir a porta, se lembrou novamente de palavras de Marco. Ela ainda tinha algo a fazer.
Ela voltou a caminhar olhando cada uma das portas e virou no corredor a direita do seu. Ali seguiu por mais três portas e parou na frente da quarta. Era o quarto 426.
Elaine bateu na porta.


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Notas finais do capítulo

Eu realmente amei os diálogos do Marco.



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