Lua Negra - EPOV de Lua Nova escrita por rkpattinson


Capítulo 3
Capítulo 2 - Sangue


Notas iniciais do capítulo

Preparados para mais um capítulo??

hahaha ansiosa pelos comentários!



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ATIREI BELLA CONTRA AS MESAS, OUVINDO O VIDRO QUEBRAR.

Por cinco segundos, consegui me desligar de todas as mentes ao redor quase completamente. Somente a de Jasper invadia a minha cabeça. Ele não pensava em nada racional nem palavras eram ditas. Havia apenas o desejo incontrolável e o medo. 

 

Choquei meu corpo contra o dele, quando ele se lançou, emitindo um som rasgado. Jasper grunhiu igual um animal. Conseguia entender seu desespero e me senti envergonhado por isso. Éramos selvagens espreitando a presa, o alimento. Ele tentava passar por mim de todos os jeitos possíveis. Jasper era o melhor com lutas, mas tive que me contentar em ser o mais rápido. E mesmo assim, quando estamos sob o controle de nossos instintos, é como se nossa força duplicasse. Sozinho eu não daria conta. Percebendo o descontrole, Emmett o segurou por trás. Ele não deixou de lutar em nenhum momento, enviando para Bella um olhar faminto. 

 

Eu podia sentir o olhar decepcionado e sofrido dos meus pais, dos meus irmãos e, principalmente, de Alice quando eu destruísse Jasper. Talvez ela nunca me perdoasse, porque eu também nunca a perdoaria se para proteger Jasper ela tivesse que matasse Bella. 

 

Com Jasper contido nos braços travados de Emmett, o cheiro de sangue me atraiu mais uma vez. O bolo, as flores, os pratos e os presentes eram uma bagunça destruída no chão. Podia sentir o olhar de Bella em todos nós. Prendi a respiração, evitando olhá-la no primeiro momento. Covardemente, lidaria com isso minutos mais tarde. Precisava me acalmar. Não precisei ouvir sua mente para saber que doía e nunca assumiria. Ela evitaria para não me machucar. 

 

Conseguia ver a aflição de todos com a quantidade de sangue na sala, com a exceção de Carlisle. Mais uma vez invejei sua calma. E assim ele mandou que Emmett e Rosalie levassem Jasper para fora. Ele relutava física e mentalmente para que deixássemos que terminasse o que começou, tentando mais uma vez.

 

Agachei e me posicionei entre as pernas entreabertas. Igual um leão que caminha para proteger sua prole. Sem respirar, sabendo que o ar do cômodo fechado me afetaria, um rosnado saiu da minha garganta.

 

Emmett o arrastou para fora, com Rose e Esme, permanecendo ali somente Bella, Carlisle, Alice e eu. Mantive a defensiva mesmo quando Carlisle tentou se aproximar. Ele tinha passagem livre e tive de lembrar que minha reação não condizia com minha permissão. Assenti liberando passagem. Alice trouxe uma toalha para ajudar Carlisle que, por sua vez, examinou o ferimento. 

Apesar de ouvir as vozes ao meu redor, dentro da minha cabeça estava mutado. Tudo acontecia ao meu redor, mas parecia irreal. Meu pior pesadelo se tornou realidade. O inferno consumirá a terra e eu iria me desfazer de culpa. 

 

Achava melhor levá-la ao hospital, mas Bella se negou. Preferia que meu pai limpasse seu ferimento. Eu insistiria se tivesse condições de falar alguma coisa. Apenas suspendi Bella em meu colo, levando-a para a cozinha. Senti o contato da sua pele fria de nervosismo, tremendo sutilmente. Sua voz era quase estável, mas eu sabia que sentia dor. Mais uma vez ela tentou esconder esse sentimento. Eu a conhecia o suficiente para saber que Bella escolhia sofrer em silêncio. 

 

O cheiro nos acompanhou. Eu podia sentir a rigidez dos meus músculos, então permaneci calado, quase desligado. A quantidade de sangue fresco me deixava quase tonto. Era novamente avassalador. 

 

— Pode ir, Edward — Bella falou interrompendo meus pensamentos.

— Eu posso lidar com isso. — menti.

— Não precisa ser um herói. Carlisle pode cuidar de mim sem sua ajuda. Vá tomar um ar fresco. — disse ela, estremecendo quando Carlisle aproximou a pinça dos cacos de vidro dentro do ferimento. 

— Vou ficar. — insisti. 

— Por que é tão masoquista? — murmurou, mas não respondi. As poucas palavras que disse foram o suficiente para deixar o ar me consumir. Havia uma luta dentro de mim, entre deixá-lo sair ou sentí-lo. 

Mas não era mentira.

— Edward, você poderia aproveitar e encontrar Jasper antes que ele vá longe demais. Tenho certeza de que ele está aborrecido consigo mesmo e duvido que agora vá ouvir alguém que não seja você. — disse Carlisle.

— É. Vá falar com Jasper. — disse Bella.

— Você podia fazer algo de útil. — acrescentou Alice.

Vá, Edward. Consigo sentir sua raiva. Acalma-se, filho.

Cerrei os olhos para Carlisle. Como eu teria calma? Apenas saí, sem sequer olhar para a cena, respirando forte.

 

Os outros estavam do lado de fora, de pé parados como estátuas. Tentei me desligar das vozes que gritavam na minha mente ou do cheiro de sangue se coagulando na pele de Bella a poucos metros de mim. Busquei a mente conturbada de Jasper, mas estava distante. 

 

Vai com calma, Edward, pensou Emmett.

Sabia que estava parecendo descontrolado. Teria feito qualquer coisa para livrar Bella do pior. Mas agora, estava começando a entender quem era o verdadeiro responsável. O medo, de fato, deu lugar a raiva.

 

Avisei que isso tornaria a acontecer, Rosalie pensou consigo mesmo. Não contive o rosnado entre dentes para ela, ficando com os olhos na altura dos dela. Emmett colocou-se entre nós numa postura de luta, apesar da tristeza no rosto. 

 

Por favor, Edward…, ele implorava. Conseguia ver meu rosto transformado no monstro que de fato eu era no olhar do meu irmão. Desviei para Esme, que permanecia com o olhar complacente. Ela não disse nada, enquanto se preocupava com Jasper, Bella e eu.

 

Procurei os pensamentos e o cheiro de vergonha que Jasper exalava, e disparei floresta adentro. Quilômetros a frente, a mente dele surgiu pra mim. Não havia silêncio, apesar de distante. A sede dava lugar a vergonha. Encontrei-o sentado sob algumas pedras olhando para as próprias mãos. Após sentir meu cheiro, olhou em minha direção. Seus olhos tinham medo e tristeza. Estava pronto para voar em seu pescoço e lhe destruir. Havia raiva dentro de mim, muita raiva. Mas eu sabia que tudo aquilo era minha culpa. 

 

Não sendo a pior das minhas escolhas, mas ainda sim ruim, eu coloquei Jasper e toda minha família nessa situação. E apesar de ter acontecido com ele, poderia ser qualquer um de nós em seu lugar. Até eu. Sendo a pior das minhas escolhas, eu coloquei Bella nessa situação. Empurrada para uma morte lenta e dolorosa. 

 

Procurei nos olhos do meu irmão algum tipo de desacordo ou diversão, mas esse não era seu perfil. Jasper estava decepcionado. Toda a vergonha estava estampada em seu rosto. Saí de uma  postura ameaçadora e, como dificuldade, caminhei até ele. Meu corpo parecia travar. 

 

Edward, me perdoe. Perdi o controle e isso ficou evidente. Sempre foi difícil ficar ao lado deles, mas… o frescor do sangue foi demais para mim. O cheiro é completamente devastador… Não culpe Alice, ela teria nos aviso antes e… 

A insegurança desapareceu quando ela disse o nome de Alice. Sabia que ele entendia a minha situação. Ele também faria qualquer coisa para protegê-la.

 

— Basta, Jasper. — interrompi seu pensamento. Eu sabia bem como o cheiro do sangue dela poderia ser cortante. 

Como você consegue?, acrescentou ele, mas não respondi porque realmente não tinha uma resposta. Eu não sabia.

— Desculpa. — disse ele, apenas. 

— Apesar de achar que você deve desculpas para Bella, você não é o culpado. — falei, olhando para o nada à nossa frente. Apenas folhas se movendo ao vento e alguns mamíferos escondidos.

— Você vai ser capaz de me desculpar um dia? — retornou ele ao assunto.

— Não preciso lhe desculpar, Jasper. Você agiu de acordo com a sua natureza. O único errado nessa história sou eu… — deixei as palavras no ar. 

Esse foi o sinal e eu entendi. Imaginava que isso fosse demorar mais um pouco. Talvez tivéssemos mais um ano até ocorrer outro incidente, mas parece que tudo se antecipou. Os cinco anos que eu pedi, se transformaram em dias. Eu teria dias para dizer adeus para o amor da minha vida. Eu a deixaria livre. Livre de mim e de qualquer perigo que a minha natureza doentia poderia lhe causar um dia. Bella estaria livre para ser uma garota normal, em uma vida normal, com paixões normais. Enquanto eu, continuaria condenado a lembrar dela em cada milésimo de segundo da minha longa e insignificante existência. 

— O que fará? 

Preciso me redimir com Bella. Ignorei seu pensamento. Ela certamente não culparia nenhum de nós dois. 

— Estou pensando… — respirei um pouco de ar puro, mas com dificuldade. Tudo doía, mesmo sem qualquer ferimento visível.

— Diga-me o que posso fazer para ajudar. 

— Volte para casa, Jasper. Todos estão preocupados com você. 

Ele hesitou e assentiu quando percebeu que eu não continuaria a conversa. Com o olhar baixo, Jasper correu de volta como um vulto pela mata escura. 

 

Seria doloroso demais, mas eu merecia. Merecia sofrer. Desde a primeira vez que falei com ela, que lhe disse meu nome, eu errei. Salvo o momento em que prometi que saberia reconhecer a hora de partir. Esse seria meu maior acerto para com Bella. Talvez ela nunca me perdoasse, mas ainda sim estaria viva. 

 

Respirei um pouco mais de ar, buscando guardá-lo em meu peito e corri. Corri em um ritmo mais lento, para que tivesse tempo de pensar. Normalmente, pensamos mais acelerado que humanos. Mas agora estavam quase congelados, incapazes de elaborar uma boa desculpa. Próximo à casa, conseguia ouvir com mais clareza a conversa de todos. Talvez levasse um pouco mais de tempo para pensar em algo verdadeiramente seguro. 

 

Ao passar por minha família, dispersos pela casa quase limpa, ouvi Carlisle contar a história sobre como me encontrou morrendo em um hospital. Talvez tivesse sido melhor que ele recusasse o pedido de minha mãe biológica. Nada disso estaria acontecendo. E eu nunca teria encontrado Bella. Ela de fato nunca teria se aproximado tanto da morte. 

 

— … Mas eu não lamentava. Nunca lamentei por ter salvado Edward. — concluiu Carlisle antes de mudar de assunto. — Agora acho que devo levá-la para casa. 

Aproveitei para andar devagar até eles. 

— Eu faço isso. — falei. 

— Carlisle pode me levar — Bella respondeu e em seguida acompanhei seu olhar para a própria roupa. O azul-claro da sua blusa estava tingido de vermelho. Ela estava cheia de pontos e dor, mas pensava que o sangue seco em algodão me faria algum mal? Impressionante. 

— Eu estou bem. — respondi apenas — Vai precisar se trocar. Charlie teria um infarto se a visse desse jeito. Vou pedir a Alice para lhe arrumar alguma roupa. — falei saindo do cômodo. Rapidamente cheguei à porta dos fundos e pedi que Alice ajudasse Bella com roupas limpas. Alice soltou a mão de Jasper e prontamente correu até Bella, levando-a para o segundo andar. 

 

Permaneci encostado no batente da porta da sala principal. Eu conseguia ouvir a conversa das duas. 

 

A coisa está muito ruim? — Bella perguntou, com a voz abafada. 

Ainda não tenho certeza. — disse Alice.

Como está Jasper? — A respiração de Alice era pesada. 

Está muito infeliz. Isso tudo é um desafio muito maior para Jasper, e ele odeia se sentir fraco. - era verdade. O sentimento dele atingia a todos na sala. 

Não é culpa dele. Você vai dizer a ele que não estou chateada, de maneira alguma, não vai? — Bella implorou. Estava certa mais uma vez. Ela não devia mesmo se chatear com ele. Comigo sim.

Claro que vou. — minha irmã respondeu apenas. Caminhei até a porta da frente, ignorando todos os pensamentos ao meu redor. 

 

Bella chegou até mim com uma blusa quase na mesma cor que estivera antes. Passaria completamente despercebido por Charlie. Mas o curativo não. 

 

Abri a porta para Bella, enquanto Alice trazia todos os pertences e presentes que Bella havia recebido naquela maldita festa. Esme e Carlisle me olharam, então sem dizer nada devolvi um olhar silencioso. 

 

Ela está bem. Mas quanto a ele?, pensou Esme completamente sensível. 

 

Fiz o que pude, Edward. Logo ela terá apenas uma pequena cicatriz, disse meu pai. Esse era o problema. Sempre haveria espaços para novas cicatrizes no corpo dela. Num futuro próximo, Bella estaria toda remendada depois de tantos acidentes como este. Eu seria o verdadeiro culpado. 

 

Continuei andando em silêncio ao lado de Bella até estarmos dentro da picape. Apenas entrei, depois dela se acomodar. Eu só queria deixá-la segura em casa. Fui ingênuo demais em pensar que estar comigo era sinônimo de segurança. Quando na verdade, havia esquecido que o verdadeiro perigo era eu. 

 

— Diga alguma coisa. — Bella falou, quebrando o silêncio. 

— O que quer que eu diga? — perguntei. Notei meu tom quando Bella se encolheu ao meu lado. Me puni por aquilo, desfazendo um pouco a carranca.

— Diga que me perdoa. — Mas logo o sentimento de raiva e desconforto voltou. 

— Perdoar você? Pelo quê? — Olhei incrédulo para ela. 

— Se eu tivesse sido mais cuidadosa, nada teria acontecido. — Depois de tudo que ela viu, depois de tudo que passou, ela ainda acreditava ser a culpada de alguma coisa. Tentando incansavelmente me abster da minha verdadeira responsabilidade.

— Bella, você se cortou com papel... Isso não é motivo para pena de morte. 

— Ainda é minha culpa. — isso era inacreditável. 

— Sua culpa? — Minhas palavras explodiram no ar. — Se você tivesse se cortado na casa de Mike Newton, com Jessica, Angela e seus outros amigos normais, qual seria a pior coisa que poderia acontecer? Talvez eles não achassem um curativo? Se você tivesse tropeçado e caído sozinha em uma pilha de pratos de vidro... sem que ninguém a atirasse nela... mesmo assim, qual seria a pior consequência? Você teria sangrado no banco do carro enquanto eles a levavam para o pronto-socorro? Mike Newton poderia ter segurado sua mão enquanto eles a suturavam... E ele não teria reprimido o impulso de matá-la enquanto estivesse por lá. Não tente assumir responsabilidades por nada disso, Bella. Só me deixará mais revoltado comigo mesmo. — esvaziei meu pulmão depois de falar.

— Como é que Mike Newton veio parar nesta conversa? — perguntou, ignorando o verdadeiro motivo da minha indignação. 

— Mike Newton parou nesta conversa porque Mike Newton seria uma companhia muito mais saudável para você. — falei irritado. 

— Eu prefiro morrer a ficar com Mike Newton. — disse ela entre dentes. — Prefiro morrer a ficar com alguém que não seja você. 

— Por favor, não seja melodramática. 

— Então não seja ridículo. — Talvez eu fosse egoísta também. Sem concordar ou discordar, não respondi, olhando apenas para o vulto da estrada atrás de nós pelo retrovisor. Na frente da casa dos Swan, desliguei o motor. Algo dentro de mim ainda rugia. Sabia que logo teria que partir, mas não seria hoje. Não estava pronto… Se é que um dia eu ficasse. Hoje era o aniversário de Bella e lhe daria o desgosto da minha presença em sua vida em mais alguns dias. Um verdadeiro egoísta. 

 

— Vai passar a noite aqui?

— Tenho que ir para casa. 

— Por meu aniversário. — ela pediu.

— Não pode ter duas coisas... Ou quer que as pessoas ignorem seu aniversário, ou não. Ou uma, ou outra. Sua voz era severa, mas não tão séria quanto antes. — falei, enquanto Bella suspirava. 

— Tudo bem. Decidi que não quero que você ignore meu aniversário. Vejo você lá em cima. — O olhar de Bella relutava com algum sentimento internamente, mas eu não podia saber, inútil como sempre. Hoje eu não ignoraria seu dia, porque nunca fiz isso. Esse era o dia mais abençoado que tive o prazer de vivenciar. Ela saiu verdadeiramente decidida, apanhando os presentes. 

— Não precisa levar isso. — falei sério. Para quê ela iria querer algo que lhe lembrasse de hoje? O problema não estava na causa da noite e sim no que a estragou.

— Eu quero. — respondeu, franzindo o cenho. 

— Não quer, não. Carlisle e Esme gastaram dinheiro com você. — acusei.

— Vou sobreviver a isso. — Depois de retrucar, Bella saiu cambaleando com os presentes apertados no braço sadio. Se eu fosse ficar, que eu fizesse as coisas direito. Saí do carro e, em minha velocidade mais confortável, parei ao seu lado.

— Pelo menos me deixe levar. — falei, pegando os pacotes. — Estarei em seu quarto. Foi ruim vê-la sorrir por algo que não existia mais. E muito pior saber que seu sorriso se transformaria em rancor e raiva em breve.

— Obrigada. 

— Feliz aniversário. — disse, seguindo de um beijo casto em seus lábios. Ela queria mais do que o que eu podia oferecer. Apenas saí para a escuridão.

 

Subi e entrei pela janela do seu quarto. Bella havia se despedido do pai, depois dele questionar sobre o ferimento. Eu sabia que não passaria despercebido. A mente de Charlie era tranquila, contendo apenas o jogo em suas camadas mais superficiais. Ela passou correndo para o banheiro, então lhe dei privacidade. 

 

Parei olhando para seu quarto. Percebi o quanto sentiria falta do seu cheiro, da sua bagunça, dos livros gastos e das nossas conversas de madrugada. Bella era noventa por cento do que me constituía, sobrando apenas dez por cento de material bruto e veneno. Todo o meu ser respondia a seus sinais. Amava Bella mais do que tudo. Por isso seria capaz de deixá-la… para que pudesse a proteger de mim. Ela estaria impregnada em meu cheiro, em minha voz, em minha pele de pedra, em minhas roupas, em meus atos, em meu coração morto e frio. Ainda bem. 

 

Tomei o travesseiro que Bella dormira e cheirei. Eu nunca esqueceria… talvez ela sim. Esperava que sim. Deixei o travesseiro como encontrei e sentei no centro da cama, colocando os presentes na minha frente em cima do colchão macio. 

 

Alguns minutos mais tarde, Bella entrou no quarto quase correndo. 

 

— Oi. — falei. Bella tirou os pacotes das minhas mãos e subiu em meu colo.  

— Oi. — Aninhada em meu peito desconfortável, ela continuou. — Posso abrir meus presentes agora? 

— De onde veio esse entusiasmo todo? — perguntei um pouco surpreso. 

— Você me deixou curiosa. — disse ela, pegando o presente dos meus pais. Eram passagens aéreas. Ela se preparou para rasgar o presente, quase estremeci com a lembrança. Um acidente eu poderia evitar. Pelo menos um.

— Permita-me. — sugeri, pegando e rasgando o papel prateado do presente. 

— Tem certeza de que consigo levantar a tampa? — falou ela com ironia, mas eu não iria responder. Talvez nem Bella conseguisse entender minha angústia. 

Os olhos dela pousavam nos papéis.

— Nós vamos a Jacksonville? — perguntou ela, com uma ponta de animação.

— A ideia é essa. —  Era.

—Nem acredito. Renée vai ficar louca! Mas você não se importa, não é? É ensolarado, você terá que ficar entre quatro paredes o dia inteiro. — A animação de poder rever a mãe iluminou o rosto de Bella. Agradeci pela escolha dos meus pais. Quase estremeci. A partir de agora, até que tudo estivesse resolvido, eu tentaria agir normalmente. Não precisava que Bella sofresse antecipadamente.

— Acho que posso lidar com isso. — engoli seco com a mentira. — Se eu fizesse alguma ideia de que você ia reagir de modo assim tão adequado a um presente, eu a teria feito abrir na frente de Carlisle e Esme. Pensei que você fosse reclamar. — confessei. 

— Bom, é claro que é demais. Mas vou levar você comigo! 

Sorri. 

— Agora eu queria ter gastado dinheiro com seu presente. Não percebi que você era capaz de ser razoável. — lamentei. Bella pegou o presente que era meu e de Alice. Antes dela tentar abri-lo, eu mesmo o fiz. Retirei a caixa de CD sem capa para ela. 

— O que é? — perguntou hesitante.

 

Tirei o CD de dentro, puxei o CD player que estava em sua mesa-de-cabeceira, e o coloquei para tocar. Aquele presente não tinha tanto valor quanto o que ela recebera. Na verdade, era o de menor valor. Bella estava muda até começar a chorar. Por um momento, enquanto ela sorria por imaginar reencontrar a mãe, esqueci da dor que lhe causei. Mas esse sentimento se foi. Agora só existia angústia. 

 

— Seu braço está doendo? — perguntei. 

— Não, não é meu braço. É lindo, Edward. Não poderia ter me dado nada que eu amasse mais. Eu nem acredito. — foi reconfortante vê-la animada com um presente tão singelo. Bella era simples e verdadeira. Minha música tocava, enquanto ela prestava muita atenção. Eu, por outro lado, não conseguia ouvir o som que preenchia o quarto. Não importava.

— Não achei que me deixaria comprar um piano para eu tocar para você aqui — provoquei. 

— E tem razão. — disse, ainda entretida na música.

— Como está seu braço?

— Está bem. — Bella era uma péssima atriz.

— Vou pegar um Tylenol para você. - falei tirando ela do meu colo. 

— Não preciso de nada — protestou, antes de que eu chegasse à porta. — Charlie. — sussurrou. 

— Ele não vai me pegar. — Corri até o banheiro, buscando um copo com água. Procurei na prateleira o frasco do remédio e voltei com ambos nas mãos. Entreguei para Bella, que recebeu sem relutar. Depois de tomar, voltei para a cama.

— Está tarde. — disse, levantando Bella e a cobrindo, me certificando de que o cobertor estava bem preso ao seu redor. Deitei do seu lado, evitando contato com a minha pele fria e passei o braço por cima dela. Bella se aconchegou em meu ombro quando agradeceu. 

— Não há de quê. — Não há o que agradecer. Tudo o que eu fizer é pouco para o que ela merece de mim. Após alguns minutos, Bella quebrou o silêncio.

— No que está pensando? — O que eu diria para ela? Que estava errado por ter ficado em sua vida? Que amá-la foi a única coisa certa que fiz na vida? 

— Estava pensando no certo e no errado. — Era uma omissão verdadeira. 

— Lembra que eu decidi que você não deveria ignorar meu aniversário? — perguntou ela tentando aliviar o clima. Tão altruísta. 

— Sim. —  concordei. 

— Bom, eu estava pensando, uma vez que ainda é meu aniversário, que eu gostaria que me beijasse de novo. — Quase sorri com seu desejo de aniversário. 

— Está gananciosa esta noite. 

— Sim, estou... Mas, por favor, não faça nada que não queira. —  Tive que sorrir. Por Deus, será que ela havia batido a cabeça também? Quantas formas diferentes ela tinha se machucado? Eu sempre iria querer beijar Bella. Mesmo que isso me levasse ao purgatório. 

— Deus me livre de fazer algo que eu não queira. — falei e puxei seu rosto até o meu. 

 

Com a cautela de sempre, toquei meus lábios nos dela. O coração de Bella descompassou rapidamente. Sorri internamente. Ninguém nunca saberia que os Cullens existiram… Ela se esqueceria de mim, das nossas conversas, dos nossos beijos… em poucos anos, eu seria apenas uma lembrança tortuosa. Como uma estrada em dias de chuva, nossa história seria ofuscada pela neblina de uma vida real, boa e segura. Sem perigos descabidos. Uma vida normal. Quanto a mim, eu nunca conseguiria esquecer um sequer movimento do seu rosto. Nada. Eu lembraria de Bella e tudo o que a cerca, pelo resto da minha eternidade. Esse seria meu castigo, meu inferno. E eu aceitaria, porque eu merecia. 

 

Eu já havia ultrapassado os limites uma vez, não cometeria outro erro agora. Afastei Bella e ela se jogou no travesseiro, ainda ofegante. Minha respiração acompanhava a sua, totalmente irregular.

— Desculpe. — falei. — Isso não estava nos planos. 

— Eu não me importo. — disse. Mas devia, Bella. Devia. 

— Procure dormir, Bella. 

— Não, quero que me beije de novo. — Eu também queria, mas não faria. 

— Está superestimando meu autocontrole. — Soltei as palavras no ar. 

— O que é mais tentador para você: meu sangue ou meu corpo? — ela perguntou de repente.

— Dá empate. — Tive que sorrir, mas a agonia ainda permanecia na minha voz — Agora, por que não para de abusar da sorte e vai dormir? 

— Tudo bem — Bella concordou, aninhando-se em mim.

Durma, Bella. Você nunca saberá o quanto te amo, o quanto estou disposto a perder para te ver feliz e segura. Logo eu não passarei de uma lembrança ruim e distorcida. Um amor escolar. Nada na sua vida. Não é como se eu duvidasse do que ela sentia por mim. Não. Mas, eu não merecia o amor de Bella. Era completamente visível todo o mal que a fiz viver. Bella conseguiria sobreviver sem precisar lidar com monstros. 

 

Beijei o topo da sua cabeça, deixando o cheiro dela me hipnotizar. Ela estremeceu.

 

A noite passou vagarosamente. Surpreendendo a minha imaginação, não senti o tédio que as noites me faziam sentir. Apesar de ainda querer dormir, eu continuava anestesiado. Bella teve uma noite inquieta e eu fiquei para certificar que ela estava bem. Sempre virando-a antes de pesar todo o corpo por cima do ferimento. De manhã, beijei sua testa e sai pela janela. 

 

Mesmo que eu não tenha parado de pensar desde o acidente, sair de perto de Bella revelou a confirmação que precisava. Eu iria embora, de fato. Para sempre. 

 


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