Lua Negra - EPOV de Lua Nova escrita por rkpattinson


Capítulo 11
Capítulo 8 - A Catedral


Notas iniciais do capítulo

Que bom ver você aqui! ♥ SMeyer publicou o trecho da ligação oficialmente em seu site e devido meu compromisso em manter o mais fiel possível, esse capítulo conta sobre momentos antes e depois da ligação. Mas não se preocupe, não deixarei essa janela sem história! Deixarei um link que você conseguirá ter acesso ao PDF oficial (inglês) e à uma tradução não oficial (pt/br). O link está disponível no "local" que deveria ser o momento da ligação, então está na ordem cronológica correta. Assim, você não vai perder NADA!

Recomendo a releitura de (revamped): "Capítulo 7 - A Mentira" e "Extra: Sem Destinatário".

Obrigada por tudo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/805532/chapter/11

 

AINDA PODIA SENTIR O LUAR DA ÚLTIMA LUA CHEIA. 

Refletia cada pedaço da minha pele impenetrável. E apesar do mistério de suas fases, a lua me oferecia o conforto de uma mãe e a proteção de um pai. Enquanto estivesse no céu, eu sabia que poderia ser eu mesmo, sem qualquer tipo de filtro. Por isso, eu não questionava. 

 

Na contramão, a lua nova não me dava esperança nenhuma. 

 

Não existia uma nova fase, porque por mais que eu tentasse, que existissem milhares de possibilidades, que existissem outros batimentos, outros rostos e outras vozes, eu não buscaria, não olharia, não tentaria. Em todas as fases, ela era a minha única lua. 

 

Hoje havia uma sutil diferença no ângulo da lua no céu de La Plata. Assim como os dias, a lua continuava suas mudanças, livre de qualquer impedimento. E por esse motivo, desejei ser como ela, apesar de saber o quanto sou parecido com o sol. Distante, solitário, assustador e condenado a nunca se aproximar da lua.

 

Do topo de uma das torres da Catedral de La Plata, era possível perceber que as luzes da cidade começavam a acender. Faltavam poucas horas para o pôr do sol total, mas a lua não se importava e já apontava no céu, dançando com todas as nuvens que a faziam companhia. 

 

Esse era o local que resguardava todas minhas súplicas e rezas, mesmo que um tanto pagãs. Foi do alto, a perder o horizonte de vista, que tentei estabelecer algum contato com o Deus dela. Era impossível saber se haviam resultados, mas eu não tinha muitas opções a não ser acreditar. 

 

Agachado sobre os próprios pés, fechei os olhos na esperança de encontrar algo mesmo tão longe. E por mais que eu tentasse, eu só conseguia sentir seu cheiro. 

 

Durante os meses que estive fora de Forks, tentei me desfazer da camisa, que assim como as cartas, me lembrava Bella. Ironicamente, ambas me faziam ir do céu ao inferno em segundos. A dor que me faziam sentir por saber que ela existia era suportável. 

 

Ironicamente, a dor de saber que eu a abandonei me fazia urrar de agonia. Mas a saudade de Bella e a culpa alimentavam minha covardia, então nunca me desfiz da camisa. Diferente das cartas que sempre as queimava.

 

Inspirando o ar úmido daquele início de noite, misturado à fumaça de madeira queimada e folhas secas, notei que o sangue humano não me incomodava mais como antes. Todos passavam despercebidos devido à sua incrível semelhança. 

 

Ainda de olhos fechados, meus ouvidos identificaram um batimento cardíaco acelerar rapidamente e o cheiro de suor aumentar. Isso seria motivo o suficiente para chamar a atenção de até mesmo Carlisle após algumas semanas sem se alimentar direito. Mas não a minha. 

 

E por menos curioso que estivesse, fui atraído quando ouvi um pensamento se destacar. 

 

Meu deus, gritou mentalmente a voz feminina. 

Em seguida, meus olhos foram conduzidos ao encontro do som de quatro pneus raspando no asfalto. Era um Volvo, como o meu, mas sua pintura vermelha estava bastante desgastada e ralada. 

 

De forma bruta, o freio de mão foi puxado, permitindo que o veículo travasse uma guerra perdida contra a superfície úmida. Então, do topo, observando a terceira rua paralela à lateral da catedral, o carro só parou quando atingiu a traseira de um Corolla 1996 parado no sinal. 

 

Quase pude sentir algum impulso me alertar sobre ajudar aqueles mortais. Mas minha ineficiência bloqueou qualquer ação. Continuei observando. Uma moça de pele bronzeada desceu do Volvo com as mãos na boca em direção ao Corolla, enquanto o suor brotava cada vez mais em sua pele. Hoje não foi um dia quente, então o nervosismo era uma ótima explicação para seus gestos desesperados. 

 

E-eu sinto muito! Não sei o que aconteceu com o freio, eu não consegui fazer nada, choramingava. 

 

Um homem alto, magro e de pele muito branca desceu do outro veículo com as mãos à frente do corpo, tentando acalmá-la. O cheiro dele era quase totalmente coberto pelo cheiro de nicotina, enquanto seu coração estava levemente agitado.

 

Ei, moça! Você tá bem?, disse ele antes de continuar e dizer: Não se preocupe, ele concluiu. Ela por sua vez tentou balbuciar alguma coisa, mas falhou. Sua mente era uma mistura de medo e reprovação. Enquanto a dele era uma bagunça de surpresa e admiração.

 

A essa altura, havia um amontoado de pessoas ao seu redor. Notei que a respiração dos dois estava totalmente regulada em um único ritmo e que o nervosismo da mulher havia diminuído. Mesmo com os guardas de trânsito exigindo a atenção dos dois, o homem a olhava como se procurasse algum ferimento. Enquanto ela, espiava de canto um pouco envergonhada. 

 

E por um segundo, me teletransportei para o quarto de Bella. Em todas as vezes que notei sua respiração agitada se acalmar com a minha presença. Ela não percebia, mas seu rosto também tomava um semblante tranquilo. Isso me lembrava que, diferente dos dois humanos, eu nunca sentiria minha desnecessária respiração assumir o mesmo ritmo ao dela

 

Mesmo que um dia, em uma realidade improvável, pudéssemos nos reencontrar, estávamos fadados ao desencontro. 

 

Fui arrancado dos meus devaneios ao ouvir meu telefone tocar novamente. 

 

Não me contive e revirei os olhos. 

 

— Inacreditável — murmurei. 

 

Esperei o celular parar de tocar e o arranquei do bolso com tanta rapidez que nem senti o tecido da calça em minha mão. Sem olhar o número desconhecido, silenciei o aparelho, fechando-o e o colocando de volta no bolso. 

 

Com certeza não me orgulhava dessa atitude, mas eu não fazia questão de ouvir nada, nem sequer uma voz amiga. 

 

Respirei o ar úmido, ainda com teor de madeira queimada, deixando de lado o acontecimento na rua de La Plata. Desci as paredes da catedral com mais perfeição que um alpinista e corri pelas ruas já escuras. 

 

Ainda não consegui explicar porque havia escolhido a américa do sul, tampouco conhecia alguma coisa sobre a Argentina. Se contasse à Emmett, diria que eu estava louco. Sem nenhum tipo de refúgio conhecido, totalmente perdido. À poucas semanas, cansado de sempre precisar me relocar pela rala e pequena floresta na saída da cidade, que por algum motivo estava sempre cheia de pessoas, vagando pela periferia, descobri um sótão abandonado e sujo. 

 

Enquanto corria, senti o telefone vibrar. Ignorei. 

 

Esse era um horário perigoso de chegar em meu esconderijo porque os moradores chegavam de seus trabalhos cansativos. Próximo ao prédio, voltei a andar humanamente e atravessei a rua, saltando pelos espaços escuros, evitando os postes de luz amarela. Ao lado da residência havia uma pequena rua amontoada de lixeiras desorganizadas, e uma parede que facilitava minha entrada. 

 

Alcancei o telhado em segundos e entrei sutilmente pelas telhas quebradas. Pousei os pés no chão como as plumas caem sob um lago, tão delicadamente que nem eu notaria. Inspirei mesmo sem precisar e reconheci a atmosfera corrompida pelo cheiro de roedores, comidas desconhecidas e poeira. Muita poeira.

 

— Argh — bufei, sabendo que ninguém conseguiria me ouvir. Pelo menos, nenhum ouvido humano. Os ratos e baratas aos meus pés saíram correndo, escondendo-se da criatura tétrica que eu era. Apenas um lembrete.

 

Aproveitei o espaço cedido pelos outros animais e sentei-me no chão, deixando as pernas servirem de apoio para minha cabeça. Meu corpo não estava cansado, mas minha mente dizia o contrário. Era cansativo pensar que isso não acabaria nunca. Isso era só o começo do meu fim. 

 

Desejei me esconder como os ratos, rastejando no escuro enquanto os outros não precisam se preocupar com a possibilidade de ser uma maldição ambulante. E novamente meus pensamentos foram arrancados de mim, desligados como quem arranca um plug da tomada. 

 

Na mesma posição, coloquei a mão por cima do bolso. 

— Não é possível… — sussurrei ao sentir a vibração.

 

Minha mente quis explodir de raiva, mas torci para ser uma chamada errada. Ilusão a minha. Outra vibração. 

 

Soltei a respiração pesada e fechei os olhos. 

 

— Eu… não aguento mais — balbuciei.

 

O telefone no meu bolso vibrou de novo.

— A ligação ocorre no decorrer da cena anterior.

— Tenho o compromisso com vocês de manter essa história totalmente fiel aos livros e ideação original. Por isso, decidi não construir a cena da ligação, porque SMeyer publicou um trecho que contém essa cena.

— Apesar de não estar incluso em livro nenhum, é um documento oficial e com direitos autorais e por isso não posso reproduzir. Assim, recomendo que leiam no site oficial ou uma tradução.

— Ambos links vou deixar aqui: linktr.ee/rkpattinson. O primeiro te levará à publicação original (inglês) e o segundo à tradução não oficial (português/BR).

— Com isso, podemos continuar o capítulo.

 

***

 

Quando bem preparados e enterrados, cadáveres levam um tempo razoável para entrar em decomposição. A esqueletização ocorre de qualquer jeito, não há meios para mudar isso. Após três meses bem conservados e com sorte, sobram apenas ossos. Levando em consideração uma morte natural, excluindo assassinatos brutais. Na água, o corpo levaria muito mais tempo até ser encontrado. 

 

Mas ela foi. 

 

Levantei meu rosto, obtendo apenas o telhado sujo como paisagem. Depois da ligação, arrastei-me até o lado em que a cobertura do sótão era mais alta, ainda sem equilíbrio. Só percebi que havia pulverizado as tábuas de madeira que minhas mãos se apoiaram, quando um rato guinchou ao meu lado, ao ser atingido pelos grãos sólidos. A voz da minha irmã ainda ecoava em minha cabeça com aquela maldita frase.

 

Meus olhos ardiam, sentia que precisava fechá-los, mas meu corpo não correspondia aos meus comandos. Lembrei-me da visão de Alice. Bella cadavérica, estática, uma morta-viva. Ela tinha semelhança com um corpo recém morto, sem vida ou sinais de que tentaria viver. 

 

Então, sem controle algum, minha mente vagou rapidamente para os cadáveres que já vi e percebi que essa seria a última lembrança que Charlie teria do rosto de Bella.

 

Tolice a minha pensar que não afetaria a vida de Bella. Presente ou não, causei danos à vida dela e de sua família, de forma irreparável. Isso era minha culpa, mais uma das culpas que eu deveria carregar. 

 

Por que eu fiz isso com ela? Rosalie tinha razão, eu era egoísta. Não somente isso, era cego e arrogante também. Como pude pensar que ir embora resolveria todos os problemas? Que ela esqueceria nossa existência assim como alguns de nós conseguem fazer com a existência dos outros seres que consideram inferior? Bella era boa, doce e humana. Não era cruel como nós.  

 

Imaginar que agora precisaria me referir a ela no passado me atingiu como uma bala. Apoiei uma mão no peito dolorido e apertei a outra mão cada vez mais, até perceber que não existia mais madeira entre meus dedos e agora eles estavam imprensados pela minha própria força.

 

Eu ainda era egoísta, isso não havia mudado. 

 

Porque em segundos, não pensei primeiro em como não deveria ter entrado e continuado em sua vida? 

 

Não me arrependo do dia em que controlei-me na aula de Biologia. Também, jamais, me arrependeria do dia que parei a van e pude tocar sua pele e olhos nos seus olhos castanhos e vívidos pela primeira vez. Isso nunca seria um arrependimento. Repetiria mil vezes se fosse garantia de sua vida. Se para garantir sua vida, eu dedicaria minha total e eterna ausência de sua vida. Eu deixaria de existir se fosse garantia de que Bella — e as palavras falharam até em minha cabeça — estivesse viva agora. Eu precisava que Bella estivesse viva. 

 

— Como pude deixar isso acontecer… Bella, minha Bella — meus olhos dançaram no cômodo escuro — Desculpe-me… A culpa é minha… Como eu pude… — sussurrei sem força. 

 

Meu peito parecia cheio de estilhaços de vidro. Eu podia sentir a dor se alastrar, assim como meu veneno pela corrente sanguínea. E esse, apesar de machucar, não faria ferida alguma. Mas os estilhaços me feriam de dentro para fora.

 

— Você merecia viver. Eu queria que você vivesse, Bella! — e a última frase, sem medir, eu gritei. Não me importei se os humanos iriam perceber, me procurar, gritar ou me matar. Porque no final das contas, isso não importava. Com o horror estampado em todos os lugares da cidade, logo chegaria aos ouvidos dos olheiros e os Volturi saberiam. Mas, ainda sim, isso não tinha mais importância nenhuma.

 

E, diante de tudo aquilo, eu tinha certeza de três coisas. A primeira, eu amava incessante e interminavelmente, Bella Swan. A segunda, que sua morte era total e intransferivelmente minha culpa. E a terceira, mesmo que agora a chance de ir para o inferno fosse ainda maior, eu não sobreviveria sem ela e precisava colocar um fim em tudo isso. Não me daria o privilégio de viver, mesmo que sem alma e morto por dentro, uma vez que tirei a possibilidade dela ter uma vida feliz e longa. Até porque, mesmo com qualquer ajuda e tentativa, eu não queria. Nem tentaria. 

 

Estava decidido. 

 

Estava quase impossível parar para raciocinar em um plano, porque o rosto pálido e sem vida de Bella não saia da minha cabeça. Minha cabeça rodava por pensamentos dolorosos. Se seu corpo fosse encontrado tão rápido quanto eu esperava morrer, ela não precisaria de tratamento. A tanatopraxia seria desnecessária. Era linda. Bella é linda e sempre seria.

 

A descoberta mais mórbida da vida era saber que este poderia ser o último dia. Meu âmago ardeu por lembrar que talvez ela soubesse que aquele era o seu. Eu não tinha certeza disso, mas esperava que me concedessem um último pedido de misericórdia quando chegasse ao meu. Sem dúvidas os Volturis eram o caminho mais rápido. 

 

Não pude continuar lembrando do seu rosto morto, então quebrei o telhado, deixando os animais e meus rastros expostos para quem quisesse ver. Saltei entre os telhados sentido o litoral da Argentina e nadei até o litoral do Uruguai para encontrar o Brasil. Voltar ao país nas condições atuais não estava em meus planos. 

 

Assim fiz, sem me questionar ou titubear, nadei o mais rápido que pude. 

 

Depois de delinear toda a extremidade e chegar à ponta mais alta do nordeste brasileiro, imaginei que seria interessante pegar carona em alguma embarcação que saia dali. Mas, percebendo que isso levaria dias e que, preocupar-me apenas com o quão rápido eu poderia ser e acabar logo com aquilo, nadar era uma boa distração, desisti. 

 

A voz de Bella não parava de ecoar em minha cabeça e eu possivelmente podia sentir seu calor humano, mesmo nas águas frias do oceano Atlântico. E após atravessá-lo mais rápido que todas as embarcações, parei somente quando cheguei a Portugal. 

 

Minha última estadia havia sido infeliz demais para ter boas lembranças. Era Ano Novo, o mundo celebrava uma nova etapa, a novidade de uma lua nova em suas vidas. Eu, por outro lado, remói a mesma e contínua dor de sempre. Deveria ter adivinhado que nada daria certo e agora estava claro.

 

A visão de Alice não era exata. Era uma amostra do que aconteceria à vida dela. Aquela visão não era sobre o perigo que ela corria ainda em vida, mas sim sobre sua morte. Se eu ainda estivesse na catedral, eu rezaria. Mas, saber que depois de todos os pedidos que fiz, Bella ainda ficou desprotegida e tivera seu fim, rezar parecia em vão.

 

Se um dia me perguntassem, não conseguiria descrever a dor que senti em admitir essa realidade e meu envolvimento na fatalidade dos casos. Bella estava morta, assim como eu morria cada vez mais a todo minuto. Se é que isso ainda fosse possível para um corpo frio, rígido, apodrecido e desprezível como o meu. 

 

Lisboa era a mesma, mas sua beleza não me importava mais. Corri o mais rápido que pude pela capital até meu destino final. As poucas paradas que fiz não foram para tomar fôlego, mas para gritar de desespero. Ainda não consegui acreditar que pude deixar tudo isso acontecer. Mesmo tentando acertar, falhei com a única pessoa que me fazia querer viver. 

 

O único dia que se passou parecia uma eternidade, mas lá estava Volterra. A terra dos Volturis. Terra de tantos eventos sagrados, apresentada a diversos acontecimentos históricos e inesquecíveis. Com sorte, Volterra não veria outro, mas contaria com mais um mal desfeito para sua conta. 

 

Eu havia chegado ao meu fim. Finalmente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então.... o que acharam? ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lua Negra - EPOV de Lua Nova" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.