Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 16
Capítulo 16




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O salto tinha sido quase que um passo de dança, fluindo suavemente do teto abobado da caverna até uma de suas paredes. Seu corpo girou uma vez e meia no ar antes de pousar graciosamente e dobrando os joelhos para reduzir o som de impacto e permanecer em silencio. Suas mãos tocaram a parede junto com os pés e ela ficou ali imóvel, como se estivesse ajoelhada de lado na parede.

Dobrou o corpo para trás e deitou-se naquele lugar, ocupando menos espaço e logo cobriu-se com um fino lençol que retirou de sua bolsa. Ficou invisível em poucos segundos. Permaneceu daquela forma por quase uma hora até mover-se com ímpeto dando um salto que praticamente a fez planar ao nível do piso ao mesmo tempo em que arremessava vários shurikens em uma direção especifica. Estes cravaram-se na parede muito próximos uns dos outros, em quase nada se desviando no trajeto de cinqüenta metros. Claro que o fato de não haver vento na caverna ajudou e muito a obter este resultado.

Quando perdeu impulso tocou a mão no chão e deu uma pirueta, cuidando de pousar voltada para o mesmo local onde arremessou seus apetrechos. Ficou observando aquele ponto por longos minutos, como se esperasse que algo ocorresse. Depois de algum tempo respirou fundo e começou a andar devagar para o interior da caverna.

Ao chegar em uma parte desta, fez um selo com as mãos e tocou a parede. Uma rocha se moveu e ela entrou por um corredor feito de rocha lisa. Sem dúvida trabalho de um hábil usuário de doton. E ela já imaginava quem seria aquele usuário em questão.

Foi direto até o quarto que tinha sido cedido para ela – embora ela costumasse chamá-lo de sua cela. Não tinha duvidas que era prisioneira ali, se não fisicamente, ao menos da necessidade. Ou melhor, não uma prisioneira, mas sim uma serva.

Fechou a porta atrás de si e foi diretamente para o espelho grande que tinha ali. O local fora decorado para agradar a uma mulher, cortina em janelas falsas, um abajur branco na cabeceira de sua cama, livros com romances e outros tipos de leitura, algumas até técnicas sobre contabilidade, outros meros contos infantis. Tinha até uma prateleira acima da cama com dois ursinhos de pelúcia.

Ele queria que ela se sentisse em casa ali. E de certa forma, até que estranhava tanto zelo da parte dele. Ela não era tola, tinha dito a ele muitas vezes. Sabia que o preço que ele cobraria seria muito grande, e estava preparada para pagá-lo.

Olhando-se no espelho ela se despiu e observou o seu corpo. Seu novo corpo que de semelhante com o antigo tinha o fato de ser o corpo de uma mulher. Todo o resto podia-se dizer que era diferente. O tom de sua pele, a cor de seus olhos, a forma de seu rosto, a cor e textura do cabelo, até mesmo sua altura estavam diferentes de quando tinha desperto ali naquele mesmo quarto cinco semanas atrás.

Ele fez muito mais do que simplesmente lhe devolver a capacidade de andar. Literalmente lhe deu outro corpo. Precisava forçar a mente para se lembrar de como ele devia ter feito, principalmente por ainda estar muito debilitada quando ele começou, constantemente perdendo os sentidos e lembrando-se vagamente agora de poucos lampejos de lucidez. Em um destes lampejos ela estava de bruços e sentindo algo sendo feito em suas costas. Em outro ela estava de deitada de costas e o via com uma mascara cirúrgica e as mãos enluvadas cheias de sangue enquanto ele as colocava e retirava depois de sua barriga. Não tinha lembrança se ele fazia alguma coisa, mas lembrava-se daquele movimento. Outro lampejo era dela despertando com a cabeça imóvel e incapaz de fechar ou mover os olhos, e ele olhando para ela detidamente com um aparelho médico – ela acreditava - nas mãos. Nos lampejos finais ela estava totalmente cega, mas sentia-se como que presa debaixo da terra. Até que por fim ao despertar de vez, percebeu que a primeira mudança que tinha ocorrido tinha sido a sua voz. Estava um pouco mais grave e suave que antes.

Girou de lado e observou a tatuagem que permanecia no mesmo lugar pouco acima de seu quadril esquerdo. Tinha feito ela quando ainda era uma gennin, após ganhar uma aposta com um colega. Era o seu corpo original, sabia disto, mas tinha sido alterado de tal forma que ela própria não podia se reconhecer. Ele também não entrou em detalhes sobre aquilo, dizendo que era mais um efeito colateral de seu tratamento.

Seja como for, era um corpo jovem, mais jovem do que tinha antes, mais flexível e até levemente mais forte. Ainda não tinha testado fazer katon com ele – a pedido de seu salvador – mas tinha utilizado as ultimas semanas para conhecer e praticar com ele.

Ele confessou que parte da alteração tinha sido intencional, pois precisava entre outras coisas que ela pudesse se parecer com uma nativa do pais do Trovão, já que uma parte considerável dos planos que tinha para ela iria ocorrer neste local.

Que ironia... ela tinha nascido neste país mas tinha a pele branca como da mãe. Agora tinha a pele mais escura como os habitantes deste. Pessoalmente gostou de ficar mais alta. Agora parecia mais esbelta e sexy. Uma coisa que nunca abriu mão foi de sua feminilidade, mesmo sendo uma assassina fria e mercenária.

Ainda não fazia idéia do que ele iria querer que ela fizesse. Na verdade nem sabia ao menos como chamá-lo, pois não tinha lhe dado nenhum nome. Ela acabou chamando-o de doutor e ele até que achou aquilo divertido, não questionando ou proibindo isso. Decerto ela inadvertidamente lhe deu um codinome útil para o caso de ser capturada em missão e não puder evitar de dar informações. Mas tinha certeza absoluta de que alguém que tinha lhe feito tal operação mágica em seu corpo com certeza devia ter se precavido com muitas salvaguardas para que ela obedecesse a suas ordens.

Mas ela sabia que podia ser assim. Alguém que pudesse fazê-la andar novamente também seria capaz de colocar algum tipo de selo que iria garantir sua obediência. Ela se considerava morta de qualquer forma. Com isso acabou tendo uma expansão de sua vida, um pequeno tempo emprestado. Imaginava que seu destino futuro seria a morte, e pelo menos iria aproveitar um pouco. Mas se ele pensava que ela era movida por vingança, estava enganado. Ela apenas queria viver e muito bem. Aproveitando ao máximo o que podia extrair da vida.

Foi até seu guarda roupa e o examinou para decidir que roupa iria usar. Não estava interessada em usar nenhuma daquelas roupas de ninja – muitas delas eram praticas e eram até melhores do que aquela que usava antes, mas não estava interessada em treinar – pegou um vestido curto para ficar a vontade e também ter liberdade de movimentos caso fosse necessário. Calçou suas sandálias e seguiu pelo corredor para localizar o doutor e tentar descobrir o que ele poderia querer que ela fizesse, ou se como nos outros dias ela estava livre para passear pelas ravinas ao redor daquele local ermo e solitário. Também estava intrigada de não ter visto nenhuma vez aquele shinobi que a resgatou da prisão. Imaginava que ele devia estar ocupado em um missão para ele ou então talvez tenha morrido fazendo algo.

Entrou em uma grande sala e lá estava ele com a capa que cobria todo o corpo e seu rosto também – ainda não tinha visto seu rosto. Ele não tinha feito menção de mostrá-lo e ela não tinha demonstrado interesse em conhecê-lo – diante de uma mesa com vários pergaminhos que continham jutsus escritos de forma codificada.

- Doutor? – chamou ela parando na porta e usando um tom de voz quase sensual.

- Ah, Etsu-chan. Você alegra meus olhos cansados...

- Sem essa – agora falava de forma mais corriqueira – pare de imitar um velho tarado, que sei que não é do seu feitio.

- Estamos com a língua afiada hoje, não é mesmo? – ele riu levemente.

- Talvez eu apenas o esteja testando para saber que método possui para garantir que eu lhe obedeça...

Houve apenas o silêncio em resposta. Ele colocou o pergaminho que estudava mais para trás na mesa e pegou outro, removendo seu lacre e o abrindo diligentemente.

- O que vai acontecer se eu simplesmente decidir fugir?

Ele continuou em silêncio. E ela estava ficando cansada daquilo. O mesmo tinha ocorrido das outras vezes que tinha levantado aquela questão. Ele se recusava a responder e ela acabava desistindo, mas não ousando fazer nada para tentar escapar.

- E seu eu lhe disser que não tenho absolutamente nada para garantir sua obediência? Acreditaria em mim?

- Não – disse ela olhando fixamente para as suas costas.

- Então não faz diferença eu lhe responder, faz?

Ele não ia falar, tinha certeza agora. Só iria descobrir quando fosse tarde demais. Talvez ele nem precisasse garantir sua obediência, talvez só precisasse que ela estivesse viva e capaz de lutar por algum outro motivo. Mas tinha empregado um considerável esforço na sua recuperação para simplesmente deixá-la para lutar com alguém.

- Bom, treinei hoje por algumas horas, este corpo... – ela sorriu – meu corpo parece estar totalmente recuperado. Quando vai permitir que eu volte a usar o katon?

- Breve, minha cara, muito em breve. Por hora posso lhe dizer que você terá muitos meses ainda para se aprimorar e verificar como seu corpo está se comportando, e me avise caso ocorra algo que não deveria acontecer.

- Meses? – ela estava pasma – você planeja as coisas com tanta antecedência assim?

Ele riu mais um pouco antes de responder.

- Etsu-chan... meus planos se estendem por anos e até décadas. Mas no seu caso precisei me adiantar pois iria ser executada naquela prisão, ou talvez até acabasse morrendo antes. Ia ser difícil encontrar outra pessoa com suas qualidades, e se pensar bem a respeito, é muito mais prático agir planejando com muita antecedência o futuro, não concorda?

Apertou os lábios e ficou pensando naquilo. Ela não teria de fazer nada para ele pelos próximos meses? Isso a deixava mais e mais curiosa sobre o assunto. Não conhecia ou tinha ouvido falar de ninguém que pudesse fazer o que ele tinha feito, portanto ele agia incógnito e nas sombras, sempre cuidando para não deixar rastros. E observando aquele esconderijo, não conseguia imaginar o que ele pretendia. Tinha uma ampla biblioteca com vários e vários jutsus escritos em pergaminhos – ela até podia estudá-los se quisesse, infelizmente alguns estavam codificados de tal forma que ela não fazia idéia de como ler – um laboratório de química onde ele talvez fizesse experiências – embora nunca o tenha visto lá desde que tinha sido capaz de andar novamente – e vários quartos vazios por ali. Na verdade o esconderijo era um grande complexo. Haviam também algumas celas com barras no nível mais abaixo, mas estavam vazias e tudo indicava que estavam assim faziam muitos anos.

- Não sei se posso concordar. As coisas costumam mudar muito depressa para que eu acredite que possa contornar todas as...

Ela pulou de lado ao perceber um movimento próximo a sua perna e já movia seu braço para atingir a criatura que ali estava quando ele disse para parar. Ela o olhou intrigada e ele estava olhando para ela, a fraca iluminação do local mostrando um sorriso suave em seus lábios. Ao olhar novamente para a criatura que a tinha deixado de sobreaviso, confirmou que era mesmo uma serpente, e bem venenosa.

A serpente seguiu suavemente até o doutor. E este esticou a sua mão para ela. Ela subiu por esta girando ao redor do braço e parou olhando para a sua face. Pareciam que estavam tendo alguma conversa enquanto estavam com os olhos fixos um no outro, mas ela nada podia ouvir ou perceber.

Depois de alguns minutos ele colocou a serpente no chão novamente e esta moveu-se para fora da sala, passando por ela como se não existisse. Viu-a seguir pelo corredor até sumir de vista. Podia parecer paranóia, mas tinha certeza de que ela tinha entregue alguma informação. Virou-se para ele novamente e ele estava agora diferente. Não podia dizer em que estava diferente, mas estava. Talvez por seu sorriso não estar aparecendo. Aquele sorriso era tão comum que ela chegou a acreditar que era um defeito que ele tinha nos lábios.

- Alguma má noticia? – perguntou ela demonstrando curiosidade.

- Uma... – ele hesitou e olhou para o lado, como se procurasse pelas palavras -  informação inesperada. Na verdade foi uma ação impaciente – ele a olhou agora e seu sorriso tinha voltado – diga-me, Etsu-chan, está interessada em poder fazer algo no mundo exterior?

- Tem serviço para mim? – ela sorriu.

- Não exatamente – ele girou nos calcanhares e voltou a ler aquele pergaminho – acabo de ser informado que um antigo... empregado acabou concordando em fazer um serviço para outra pessoa. Normalmente eu nem me incomodaria com isso, pois uma vez que ele já tinha me servido e me foi útil, já não tinha mais nenhum interesse nele. Confesso até que eu esperava que ele tivesse sido preso após o trabalho para o qual o contratei. Mas ele acabou saindo ileso, sem nem ao menos ser considerado suspeito, o que de certa forma prejudicou um antigo projeto no qual eu estava trabalhando.

- E você não gostou dele ter trabalhado para outra pessoa?

- Nada disso. Como eu disse, ele já tinha feito o que eu queria dele. A questão é que esse empregado foi muito amador e utilizando a palavra correta, um completo incompetente no trabalho para o qual foi contratado. Acredito que ele acabará sendo descoberto e talvez para se proteger ele possa decidir contar o serviço que me fez alguns anos atrás.

- E você quer que eu o mate, certo?

- Errado – ele riu levemente, deixando-a surpresa – apenas quero que leve meu espião para que fique de olho nele.

- Espião? – agora estava mais confusa ainda. Do que ele estava falando?

- Não se preocupe, Etsu-chan, será extremamente simples. Apenas preciso de uma informação sua: Sabe onde fica Konoha?

- Sim, mas eu não sei onde estou, o que quer dizer que na verdade não sei chegar até ali.

- Não se preocupe com isso agora – disse ele já encerrando o assunto – que tal você fazer aqueles deliciosos bolinhos de arroz? Seus dotes culinários foram um premio inesperado e de extremo prazer degustativo para mim.

- No fim eu acabo sempre na cozinha – ela se afastou bufando levemente. Normalmente quando fazia trabalhos de assassinato ela se disfarçava de cozinheira, isso porque sabia cozinhar bem – talvez eu coloque veneno neles qualquer dia.

- Se for colocar, use da cobra coral, dá um delicioso gosto picante muito melhor que qualquer pimenta. É um vidro da cor amarela no laboratório, está devidamente etiquetado, não tem como errar.

Ela o olhou estranhando um pouco, pois não sabia se era uma piada ou não.

 

-x-

 

Espreguiçou-se com gosto e virou para o outro lado, por pouco não derrubando a sua companheira que dormia próxima de sua cabeça. Esta acabou acordando e, bocejando um pouco, subiu nas costas dela e deitou-se novamente. Ficaram assim por mais quinze minutos até o grande cão branco entrar no quarto e latir para ambas. Mas apesar de se remexerem, nenhuma das duas tinha feito qualquer menção de acordar. Pelo jeito Akamaru teria que ser mais insistente.

Ele se aproximou e mordeu a gola do pijama dela, a puxando para o alto de forma que caiu em suas costas. Fez o mesmo com o filhote que estava na cama e foi andando pela casa até chegar a sala de jantar, onde seu parceiro e a mãe deste estavam tomando o café da manhã.

- No fim, Shiromaru pegou os hábitos dela, e não o contrário – disse Tsume rindo – vamos acordar vocês duas – ela batia palmas freneticamente.

Haruka grunhiu alguma coisa e quando foi esfregar os olhos caiu das costas de Akamaru, dando um pequeno grito do processo. Shiromaru caiu junto com ela e ganiu chorona.

- De novo? Murmurou ela esfregando os olhos – era melhor quando me jogavam água...

Shiromaru latiu concordando com ela. Ficou de pé e sem surpresa nenhuma viu o café da manhã da família. Depois de quase dois meses ali já tinha decorado bem. Até que gostava daqueles flocos, mas seria interessante alguma coisa diferente para variar. Ainda se espreguiçando foi para o banheiro tomar um banho rápido para encarar o dia. Shiromaru a acompanhava andando pelo chão e quando a parceira estava para atravessar a porta, subiu em uma mesinha ali do lado e em um salto ficou na sua cabeça. Ela adorava tomar banho junto com Haruka.

Meia hora depois ela terminava o café da manhã com Shiromaru no seu colo. No começo tinha estranhado e ficou muito preocupada de fazer alguma coisa errada, mas Tsume apesar de quase sempre parecer estar irritada lhe deixou bem a vontade. Só era durona mesmo quando a acompanhava treinar junto com sua parceira. Era incrivelmente exigente nesse assunto e só sossegava mesmo quando ela conseguia um avanço ou ficava evidente que não podia fazer determinada coisa.

Como nunca alguém fora do clã tinha pegado um parceiro canino dali, ninguém tinha a menor idéia do que ela poderia ou não fazer em conjunto com Shiromaru. Assim tiveram que testar os jutsus em separado até descobrir o que ia funcionar e o que não ia. O seu sensei estava certo sobre poder aplicar uma transformação em Shiromaru, mas foi inesperada outra transformação que aplicou em si própria. Ela também tentou clonar a parceira, e tinha conseguido, algo que ninguém do clã podia fazer. Isso a deixou orgulhosa e até satisfeita. Uma brincadeira que ela fazia as vezes era clonar Shiromaru e a transformar em outro ninken. As vezes a transformava em uma versão adulta dela mesmo e andava com ela nas suas costas, como Kiba fazia com Akamaru. Mas o consumo de chakra era grande quando fazia isso, de forma que era limitada esta transformação. Quanto aos jutsus que o clã fazia, não foi capaz de fazer nenhum, mas conseguiu criar ao menos uma variação só dela e de Shiromaru, que ainda precisava de muito treino e prática até se tornar realmente útil. Até que tinha progredido muito em apenas dois meses.

Dois meses... olhou para baixo e sentiu um calafrio na espinha. Logo a hokage iria avaliá-los. Dos três times, todos tinham a certeza de que pelo menos um iria ser desfeito. E a situação entre eles chegou a ficar um pouco problemática, pois acabaram começando a competir entre si, chegando até mesmo a se manterem distantes quando se cruzavam. Kiba tinha lhe comentado sobre como os seus alunos estavam ficando mais e mais nervosos, especialmente quando faziam algo errado nas missões. E sabendo que ela morava na mesma casa do sensei, já haviam expressado preocupação dele ter ensinado algo especial a ela, algo que a poria em vantagem na decisão que estava se aproximando.

Bom, tinha que se encontrar com seus amigos no prédio da hokage e receber uma missão. E tudo indicava que seria uma missão mais elevada que as outras. Depois de quase vinte missões “D” até que era hora. Mesmo porque já não agüentava mais missões para procurar animais perdidos. Acabaram até disputando com o time de Kiba uma vez porque os animais que procuravam eram filhotes irmãos quase iguais da mesma ninhada, e sem perceber cada um pegou o objetivo do outro.

- Vai querer carona? – perguntou Kiba sorrindo para ela.

- Claro! – ela riu. Apesar do pavor que sentiu da primeira vez, agora não dispensava mais poder cavalgar nas costas de Akamaru. Quase sempre estava esperando pelos seus colegas agora, mesmo acordando bem mais tarde que eles. Só estava curiosa sobre o que Ayame tinha feito com seu antigo quarto no apartamento que dividiam antes. Estava apostando que o tinha transformado em uma cozinha, apesar de duvidar que tinha ganhado dinheiro o bastante para comprar todos os utensílios e o fogão. Talvez só a geladeira, e ainda assim uma bem pequena.

- Ei! – gritou Tsume quando ela saltou da mesa para quase pousar na porta da cozinha – não esqueceu nada?

Sorriu encabulada e foi até ela e a beijou na face. Estava começando a suspeitar de que ela queria que a tratasse como mãe qualquer dia. E o pior que não podia realmente negar. Ela a estava tratando como filha desde que tinha começado a morar ali, mas sua incapacidade de fazer os jutsus do clã a deixava temerosa com o futuro. O que os outros membros do clã iriam pensar caso ela a adotasse? Seria uma vergonha para eles, tinha certeza disto.

- Dê o máximo de si – disse ela – porque meu filho ai – ela olhou para Kiba que ficou branco como sempre ficava naquelas situações – anda muito relaxado. Já esta saindo com aquela moça faz dois meses e ainda não a convidou para vir jantar em casa?

- Mãe! – chamou ele assustado – não apresse as coisas!

- Se fosse depender de você aquele quarto nunca seria ocupado novamente. Pelo menos Haruka-chan preenche a vaga de neta que você nunca conseguiu.

- Vamos indo... – disse ele empurrando Haruka pelas costas, que já estava com dificuldade de segurar o riso.

Esse era outro detalhe interessante que tinha reparado. Até onde percebeu, ela era  única a quem Tsume chamava com o sufixo “chan”. Coisa rara naquele clã. E isso apesar de lhe dar um alegria difícil de descrever, também aumentava o seu receio de se mostrar um fracasso para eles. Mas não era hora de pensar naquilo. Tinha que ir pegar sua missão e se confirmar logo como gennin.

Montou em Akamaru segurando-se na cintura de Kiba e após se certificar que Shiromaru estava bem firme na sua cabeça, disse que estava pronta. Em menos de três minutos eles chegavam ao prédio da hokage. Ficaram ali por quase quinze esperando seu time chegar.

Ficaram conversando por algum tempo enquanto os outros dois times recebiam suas missões. Falaram especialmente do time quatro, em que Miyoko estava. Aquelas duas não perdoavam ela ter ficado sem graça em várias ocasiões quando queria se mostrar para elas. Pelo menos ela já tinha aprendido uma coisa ou outra da sensei, mas nada realmente avançado que se equiparasse o clone das sombras. Ela descobriu que podia manipular o raiton – coisa que deixou Haruka furiosa – mas ia demorar até aprender algo correspondente. E isso os lembrou de cobrar o Konohamaru novamente sobre quando ele ia se interessar em os treinar de acordo com a habilidade elemental de cada um. Mas ele apenas disse que ainda era cedo para aquilo. Se quisessem descobrir qual o elemento de seus chakras podiam ir até o hospital que eles iriam dar a resposta, mas ele ainda não ia ensinar tal coisa, especialmente com muitas outras básicas para eles aprenderem ainda.

Quando finalmente Shizune os chamou, foram até animados encarar a fera de cabelos róseos – o apelido que Ayame tinha dado a ela, uma vez que a mesma sempre parecia implicar com a menina de olhos verdes do time. Claro que isso sempre ocorria depois dela começar a reclamar da missão.

Mas ao entrar na sala Haruka viu que ela estava fazendo jus ao apelido. Já estava de braços cruzados e bufando e nem tinha dito nada a eles ainda. O que será que tinha acontecido? Provavelmente algo com o time anterior, justamente o de Miyoko.

- Time seis se apresentando – disse o sensei também um pouco precavido. A “fera” ali parecia que ia mostrar suas presas a qualquer momento – está tudo bem, Sakura-neechan?

Ela socou a mesa e se colocou de pé, fazendo todos pularem involuntariamente. Shiromaru chegou a descer da cabeça de Haruka e foi se proteger nas suas costas. Mas o que foi que aprontaram daquela vez? Alias... tinham aprontado alguma coisa?

- Posso saber que história é essa de duelo entre membros do time quatro e seis?

Ninguém disse nada, mas todos os olhares se voltaram para Ayame – Haruka sabia que não era com ela, Minato era bem comportado para fazer isso tipo de coisa – ela esperava - mas se fosse com ele ela o apoiaria, com certeza. Como Ayame era a mais esquentada, lógico que pensaram nela em primeiro lugar. E considerando como Ela ficou vermelha naquela hora, não teve duvidas que tinha feito a aposta certa.

- Eu... eu... eu... só uma competição amigável...

- Ayame-chan! – chamou o sensei – o que você fez?

- Oras.. aquela safada da Miyoko ficou debochando da gente ontem a noite. Disse que podia manipular raiton e que tinha uma sensei que ia lhe ensinar a usá-lo, ao passo que o nosso – olhou para ele e atenuou a linguagem, pois ele também não estava amigável – bem... o nosso acha que temos que aprender outras coisas primeiro. Assim a desafiei para um duelo, para mostrar quem era melhor...

A hokage continuava olhando para ela com os braços cruzados, sem nada dizer.

- Ora... o que queria que eu fizesse? E como souberam da história?

- Ela pediu um treino para a sensei dela, e explicou o motivo – disse a rosada ainda alterada.

- E ainda não tem confiança nela mesma... -  bufou ela.

- Já chega! – a fera de cabelos róseos não estava com paciência para àquilo. Se querem duelar, aguardem o exame chuunin do próximo ano. Já tenho problemas demais sem ter que ficar me preocupando em quem terei de expulsar da aldeia por fazer as coisas sem pensar direito.

Haruka abriu bem os olhos e Ayame passou de vermelha para branca de medo. Expulsar da aldeia? Aquela mulher não brincava em serviço mesmo. E pela reputação que tinha de que jogava os documentos pela janela quando se irritava, não duvidavam que ela faria tal coisa.

- S-sim, hokage-sama – disse Ayame se encolhendo.

- Ótimo. Miyoko também desistiu da idéia, e se ela voltar a te incomodar, apenas diga que eu dei ordens para você ignorá-la, entendeu?

- Sim! – disse ela depressa.

Haruka ficou pensando em quando Miyoko tinha feito aquilo. Devia ter sido depois que se despediram após a última missão terminada.

- Pois bem, vocês irão ter a sua primeira missão classe “C” – disse ela se sentando e ficando mais calma – escoltar uma pessoa importante da aldeia enquanto ela deverá cuidar de... – ela ficou um pouco pensativa – assuntos pessoais. Ela se encontrará com vocês na entrada da aldeia amanhã cedo as oito horas – ela entregou o papel para o sensei – estejam lá.

- Quem é essa pessoa? – perguntou Ayame olhando para o papel quase enviando a cara na frente do sensei para lê-lo – não está escrito aqui. Nem para onde iremos. Nossa, que missão mal definida!

- Saberão os detalhes amanhã – disse ela voltando a ficar com aqueles olhos inquiridores. Usem o dia de hoje para se prepararem. E estejam prontos para passar a noite fora. É tudo.

- Só isso? – disse Ayame com os olhos arregalados.

- Quer que eu me lembre de que você infringiu pelo menos quatro regulamentos com esse seu desafio para um duelo? Serão pelo menos quinze dias em uma cela na sede da ANBU.

- Não, não – ela riu sem jeito – já estamos indo.

Ela saiu da sala bem depressa. Mas o sensei olhou de lado para a porta aberta. Pelo jeito ele não gostou muito do que Ayame tinha aprontado. Isso ia acabar rendendo.|


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