Queridos Amigos escrita por Mithrandir127


Capítulo 4
Capitulo 4: Eu sou a Princesa Perdida!


Notas iniciais do capítulo

Bom dia a todos! Sai hoje mais um capítulo da minha fic. É esta a última introdução dos principais personagens. Eu gostaria de explicar algo antes da leitura. Quando a Rapunzel e a família falar "Nein", significa "Não" em alemão, por isso leiam "Nain". E quando falarem "Ja", significa "Sim", por isso leiam, Ya.
Dito isso, boa leitura!



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Já era manhã em Filótes, um estranho sol dourado emergia por trás dos prédios pálidos e sem vida, mas a chuva da noite anterior havia deixado a cidade molhada e fresca. O dia começava, alguns nobres homens acordavam e tomavam seu digno e necessário café da manhã para iniciar o dia, mas alguns possuíam o privilégio de começar o dia mais tarde.

Em um consultório de um prédio moderno, havia uma moça e um homem. Era um homem comum, por volta de trinta anos, tinha o cabelo escuro bem aparado, era alto, magro e usava um jaleco, estava sentado diante de uma mesa com os dedos entrelaçados sobre a mesma, enquanto isso olhava para a moça.

A moça era jovem, bela, de macia pele alva, tinha cabelos loiros, compridos e lisos que estavam presos em uma trança enfeitada e volumosa. Possuía belos e tristes olhos verdes. Usava uma camiseta fina, leve e branca de botões, uma saia rosada, longa e leve que lhe cobria até os joelhos imaculados, sapatilhas também cor de rosa, e um pingente pequeno e dourado com formato de sol, preso com uma correntinha fina e metálica de mesma cor, deitado sobre seu peito.

Seu nome era Rapunzel, da Alemanha, tinha dezoito anos, e era de origem germânica.

Mesmo estando ensolarado fora da sala, estava pálido e escuro dentro dela, e o único som era do relógio branco e redondo de ponteiros negros e finos preso na parede fria atrás da jovem.

O homem com os antebraços cobertos pelas mangas duras do jaleco a olhava atentamente, tentando fazer um sorriso convincente no rosto maduro.

Já Rapunzel ficava em silêncio, olhando para o lado com ar sombrio, sentada na poltrona macia, os braços magros e femininos esticados sobre os braços da mesma, as pernas sempre cruzadas, a saia longa revelando parcialmente suas belas e longas pernas alvas na escuridão do local.

A loira olhou para o mais velho, e também forçou um sorriso, mas seu charme feminino o tornava mais convincente.

— Você está bem Rapunzel?

— Desculpa... Eu só estava me lembrando daqueles dias – disse com seu sotaque alemão.

— Eles foram há pouco mais de uma década e você nunca superou... Imagino como a experiência deve ser horrível... Você é minha paciente há tanto tempo e mesmo hoje ainda tem algumas recaídas.

— Eu sei... Me desculpa... É só que...

— Não Rapunzel! Não seja boba! Eu é que preciso me desculpar! Me sinto um inútil tendo sessões com você a tanto tempo e não conseguir ajudá-la a encontrar paz!

A loira moveu os lábios, como se fosse dizer algo, contudo não foi capaz de falar, pois um segundo depois os franziu, mas olhou para ele com o olhar sugestivo de que se desculparia novamente.

— Me conte, o que sente?

— Eu não sei... Eu volto para casa todos os dias, tem vezes que eu acordo chorando, vezes que sinto nojo enquanto tomo banho... – uma pequena lágrima escorreu de seu olho esquerdo – não importa onde eu fique, tudo me lembra daquilo.

— Você costuma sair?

— Nêin. Nunca saio, quando estudo só vou da casa para escola, da escola para casa, no máximo vou a alguma festa de aniversário com meus pais, mas só isso. E agora que estou de férias, eu só fico em casa mesmo.

— Talvez você devesse se ocupar.

— Eu me ocupo! Leio, desenho, jogo xadrez na internet, brinco com meu camaleão...

— Estou falando de praticar algo novo... E por mais saudável que eu ache você ter um bichinho de estimação, acho que deveria arrumar um amigo humano.

— Os únicos humanos em quem confio são meus pais – respondeu com medo estampado em seu rosto.

O doutor suspirou e disse: “Rapunzel, eu compreendo que sua experiência foi mais do que traumática, mas existem pessoas boas no mundo. Você precisa ser um pouco mais corajosa. Se tem algo que eu aprendi é que só a coragem pode lhe dar alguma coisa nessa vida, não significa que você não vai mais sentir dor, mas se não tiver coragem vai sentir dor do mesmo jeito.”.

— Onde o senhor quer chegar?

— Eu acredito que deveria se afastar daquilo que você conhece, não pretendo dizer “zona de conforto” porque sei que você não sente conforto em sua vida.

Ela ficou em silêncio por um tempo, mas depois prosseguiu.

— O que o senhor sugere que eu faça?

— Sabe cozinhar, não sabe?

— Sei.

— Ótimo! Recomendo que se afaste um pouco de seus pais e more sozinha por um tempo, saia um pouco, viva suas próprias aventuras... Faça amigos.

— Bem... Meus pais tem uma casa na praia na Escócia.

— Você já foi lá antes?

— Já! É muito bom! Não faz muito calor, mas é ótimo!

— Então não recomendo que vá para lá.

— Mas por quê?

— Deve ser algo novo, algo que não tenha experimentado antes.

— Mas como eu consigo isso? – perguntou.

— Você não sabe como... Talvez seja melhor eu falar com seus pais.

— Eles estão me esperando lá fora. Se quiser pode falar com eles.

— Poderia chama-los?

— Ja! Claro! – respondeu levantando-se da poltrona e caminhando para a porta.

Do lado de fora, depois de um longo corredor de limpas paredes brancas com alguns poucos quadros matizados, havia uma sala relativamente luxuosa, com uma bela mesa de vidro, confortáveis poltronas e algumas revistas coloridas.

Os elegantes pais de Rapunzel estavam sentados de frente um para o outro. O barbado e alto Sr. Frederick usava um smoking e lia uma revista diante da face enquanto repousava a perna direita sobre a esquerda. E a bela Sra. Arianna fazia o mesmo, usando um luminoso vestido preto e com as pernas cruzadas.

— Papai! Mamãe! – chamou Rapunzel com sua voz feminina, de pé a alguns metros longe deles, o casal virou o rosto para a filha, em silêncio – O doutor quer vê-los.

O casal se olhou, mantendo o silêncio, um tanto preocupado.

— O que?! Está dizendo que devemos afastar nossa filha?! O senhor ficou maluco?! – gritou a mãe da loura ao doutor.

Rapunzel estava aguardando na mesma sala que seus pais, suas mãos de dedos finos e brancos estavam apoiadas sobre os joelhos, e seus olhos verdes estavam arregalados e voltados para a sala, seu rosto belo manifestava desconforto. Era possível ouvir os gritos de sua mãe ao conversar com o doutor.

Dentro da sala o casal estava de pé para o homem de jaleco que jazia sentado atrás de sua mesa.

— Não estou dizendo que devem afastá-la, só que devem dar um espaço à ela. Todos precisamos disso. Só acredito que ela precise iniciar a própria vida além das paredes da casa dos senhores e deste consultório. O que não nos mata nos torna mais fortes.

— Mas e se o pior acontecer? – esbravejou uma Arianna raivosa com seus lisos cabelos caídos sobre a face diabólica.

— O que não nos mata, nos torna mais fortes, enquanto ela viver poderá sobreviver. Não devem cortar as asas dela, e ela não deve querer viver desta forma.

O casal suspirou se olhando, relutantes.

— E o que sugere que façamos? Mandemos ela para outro país, um que nunca viu?

— Não, não é pra tanto. Só mandem ela morar em um outro bairro, em um apartamento da região mais segura da cidade se assim se sentirem melhor.

— Sabe de algum lugar assim, amor? – perguntou ela para o marido.

— Eu não sei...

De repente o celular do Sr. Frederick tocou.

— Oh! Desculpe!

Pegou o mesmo e viu que era um contato com o nome de “Norte” ligando.

— É rapidinho! – falou levantando o dedo indicador para a mulher e o doutor, afastando-se e caminhando até ficar de frente para a parede.

— Norte?

— Sou eu mesmo Frederick! Estou ligando para dizer que vou demorar um pouco para chegar à reunião.

— Por quê?

— É que apareceram alguns garotos aqui em casa, amigos de algumas famílias que conheço, eles precisam de um lugar para ficar enquanto fogem dos pais, e eu vou leva-los para uma casa onde está o meu neto. Eles quase não me deixaram dormir ontem à noite, só acordei agora, vou preparar o café e depois vou leva-los até lá. Isso vai demorar um pouquinho. Eu esperava pagar alguém para leva-los, mas já que é mais de uma pessoa, eu mesmo os levo.

O Sr. Frederick franziu o cenho, olhou pelo canto dos olhos e por cima do ombro para a esposa e para o psicólogo que o olhavam atentamente e em silêncio, esperando-o com certa espontaneidade. Sequer imaginavam que talvez o homem houvesse encontrado aquilo que procuravam naquele momento.

Voltou-se para a parede e voltou a conversar:

— Quem são esses garotos? São delinquentes?

— Claro que não! Acha que eu acolheria garotos levados em uma de minhas próprias casas?! Ainda mais com o meu neto?!

O alemão sorriu.

— Norte, posso te pedir um favor?

— O que? Vai pedir que eu cuide de mais alguém?! – perguntou o velho, sorridente, com certo tom de deboche.

— Ja! – respondeu o alemão com certa relutância.

De repente a linha do russo ficou muda.

— Norte?

— É a sua filha? – perguntou surpreso e sem rodeios.

— Ja...

— Então tudo ótimo! Eu vou passar na sua casa e busco ela quando sair.

— Ok, pode deixar! Tchau! Nos vemos lá então!

Desligou o telefone.

— Que ligação tão importante era essa para atrapalhar nossa discussão? – perguntou o doutor, sorrindo para ele como se falasse com uma criança, enquanto Arianna transparecia descontentamento.

— Acho que resolvi nosso problema! – falou com um sorriso no rosto.

A mulher e o doutor se olharam.

Já no casarão alemão da família de Rapunzel, pai, mãe e filha conversavam enquanto colocavam a filha para esperar na calçada de casa ao lado de uma grande mala rosa e com rodinhas.

— Onde eu vou ficar? – perguntou a loira.

— Eu não sei, o Norte vai levar você até lá, quando chegar você me diz onde é – disse Frederick.

— Você nem ao menos sabe onde fica a casa?! – questionou Arianna.

— É o Norte! Nosso amigo! O cara que sempre dá ótimos presentes de natal para nossa filha! Conhecemos ele desde sempre! Podemos confiar nele!

— Ninguém melhor do que a gente sabe que não se deve confiar em qualquer um!

Os três se silenciaram de repente, marido e mulher se olhavam sobre a cabeça da filha, todos com o rosto fechado. O peso da tensão iminente era palpável no ar.

Rapunzel se sentiu desconfortável em meio à situação.

— Tudo bem! Eu gosto do Norte! – disse a loira, sorrindo para os pais.

O casal aos poucos sorriu ao olhar para a filha.

O idoso russo dirigia seu grande carro vermelho pela estrada de asfalto molhada. No banco de trás iam Soluço e Merida, a ruiva usando as roupas da noite passada, agora secas.

Os dois jovens se comportavam como dois estranhos, e de fato eram.

A ruiva se sentava no canto direito do carro, olhando para a janela com o rosto apoiado sobre a mão quase fechada e as pernas cruzadas, ignorando a existência de Haddock. E Soluço por sua vez se sentava distante, do outro lado do banco, agia da mesma forma, mas estava com o pé direito apoiado sobre a perna esquerda, acariciava o gato em seu colo e também olhava pela janela. A luz agradável e dourada do sol atravessando a lente limpa de seus óculos de armação escura e iluminando seu rosto jovem. A bolsa do Strondus estava entre eles.

Norte olhava o comportamento de ambos através do espelho e se incomodava. Agiam assim desde que se viram da primeira vez, Norte apresentou um ao outro chamando-os pelo nome pontuando o apelido carinhoso de Haddock, e fizeram o desjejum juntos, mas em nenhum segundo demonstraram estar à vontade ao lado do outro.

O carro passava por uma rua com altas árvores verdes, enquanto eram iluminadas pela luz do sol, a rua e a calçada estavam úmidas por causa da chuva.

Ao olhar pela janela, Merida viu uma moça jovem, bela e loura de pé com uma camiseta branca e uma longa e leve saia rosa que lhe cobria até os joelhos, a frente dela havia uma grande mala cor de rosa, e atrás, um casal alto e bem vestido. A ruiva estranhou a primeira vista. Parecia uma princesinha recatada perto dos pais, mal sabia ela que a princesa estava perdida.

Ao notar o carro diminuindo a velocidade, Soluço perguntou: “Senhor Norte por que estamos parando?!".

— Ah, eu não contei? Desculpem! Mas essa moça vai com vocês!

— O que?!

— O que?!

Disseram ao mesmo tempo, se olharam de relance, mas logo depois desviaram o rosto desconfortáveis, ainda sincronizados.

— Aguardem aqui!

Norte saiu e fechou a porta do carro. Soluço e Merida viram o idoso caminhar até o casal e passar a mão na cabeça da menina e depois gesticular com os braços cobertos pelo casaco vermelho para o casal, manfestando alegria e espontaneidade.

Toda a família da loura sorria para ele, e o casal dentro do carro apenas olhava sem entender, embora conseguissem ouvir a voz alta do russo.

De repente Norte pegou a mala e caminhou até o bagageiro do carro guardando-a, Soluço e Merida o acompanharam com os olhos. O idoso então convidou a loira desconhecida a entrar no banco traseiro do mesmo, embora o banco do passageiro da frente estivesse desocupado.

— Soluço, tire sua bolsa do meio, Merida por favor se afaste um pouquinho para ela poder se sentar – dizia Norte enquanto entrava no carro e colocava o cinto.

Obedeceram em silêncio.

Ao entrar no carro e se sentar no banco, Rapunzel viu os outros dois jovens desconhecidos dentro do carro a encarando, incapazes de manifestar outra coisa senão insatisfação.

A última coisa que os três esperavam era ter que conviver com desconhecidos.

Em uma situação comum, a loira só os cumprimentaria e diria seu nome, mas naquele momento, não se sentiu confortável para fazer isso, então apenas sorriu para eles e logo depois voltou a face para frente.

E ficaram assim. A loira, a ruiva, e o castanho, todos sentados no banco de trás, em silêncio, desconhecidos, sequer se atrevendo a virar o rosto, se não para olhar a janela, exceto por Merida que estava no meio.

Norte também seguia em silêncio, frequentemente olhava os jovens atrás dele.

E assim seguiam em direção ao seu destino.

Descontente, o idoso colocou uma música no rádio. Música que feriu Rapunzel.

 

Sorria, embora seu coração esteja doendo

Smile, though your heart is aching

 

Sorria, mesmo que ele esteja partido

Smile, even though it's breaking

 

...

 

Esconda qualquer traço de tristeza

Hide, every trace of sadness

 

Embora uma lágrima possa estar tão próxima

Although a tear may be ever so near

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras" - Aristóteles, Ética a Nicomaco.
Muito obrigado a todos que leram. Comentem se estão gostando.



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