Queridos Amigos escrita por Mithrandir127


Capítulo 28
Capitulo 28: Jack I


Notas iniciais do capítulo

POR FAVOR NÃO PULE ESTE AVISO!
ASSUNTO SENSÍVEL!
O seguinte capítulo aborda o tema $u!c!d!o, se você for sensível, por favor, não leia! Pode pular para o próximo capítulo que vai sair daqui a pouco. Muito obrigado!



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Ninguém sabe como é

No one knows what it's like

Ser o homem mau

To be the bad man

Ser o homem triste

To be the sad man

Por trás dos olhos azuis

Behind blue eyes

E ninguém sabe como é

And no one knows what it's like

Ser odiado

To be hated

Estar fadado a contar apenas mentiras

To be fated to telling only lies

Mas meus sonhos não são tão vazios

But my dreams they aren't as empty

Quanto minha consciência parece ser

As my conscience seems to be

Eu tenho horas, de pura solidão

I have hours, only lonely

Meu amor é vingança

My love is vengeance

Isso nunca é de graça

That's never free

Ninguém sabe como é

No one knows what its like

Sentir esses sentimentos

To feel these feelings

Como eu sinto

Like I do

E eu culpo você

And I blame you

Ninguém morde de volta com tanta força

No one bites back as hard

Em sua raiva

On their anger

Nenhuma das minhas dores ou feridas

None of my pain and woe

Podem transparecer

Can show through

Mas meus sonhos não são tão vazios

But my dreams they aren't as empty

Quanto minha consciência parece ser

As my conscience seems to be

Eu tenho horas, de pura solidão

I have hours, only lonely

Meu amor é vingança

My love is vengeance

Isso nunca é de graça

That's never free

Ninguém sabe como é

No one knows what its like

Ser maltratado, ser derrotado

To be mistreated, to be defeated

Por trás dos olhos azuis

Behind blue eyes

E ninguém sabe dizer

An no one know how to say

Que está arrependido e não se preocupe

That they're sorry and don't worry

Eu não estou contando mentiras

I'm not telling lies

Mas meus sonhos não são tão vazios

But my dreams they aren't as empty

Quanto minha consciência parece ser

As my conscience seems to be

Eu tenho horas, de pura solidão

I have hours, only lonely

Meu amor é vingança

My love is vengeance

Isso nunca é de graça

That's never free

Ninguém sabe como é

No one knows what its like

Ser o homem mau

To be the bad man

Ser o homem triste

To be the sad man

Por trás dos olhos azuis

Behind blue eyes

 

Era tarde em Filotes, mas já parecia ser quase noite, pois estava escuro e as luzes douradas de alguns postes já brilhavam em suas belas caixas de vidro.

A velha casa dos russos estava tomada pela escuridão em seu interior, sendo iluminada apenas e exclusivamente pela televisão ligada, de onde emanava uma saturada luz branca, e onde também tocava algumas músicas.

Jack estava deitado no sofá, usava uma camiseta larga com mangas curtas e uma calça moletom, ambas cinzentas. Seus cabelos brancos estavam bagunçados, assistia à TV com o olhar inexpressivo e sinais de insônia, parecia mais magro do que o habitual e estava descalço.

Então, alguém mexeu na porta, pois era possível ouvir sons de chaves tinindo do outro lado da mesma.

Entrou Norte, com seu chapéu russo, camiseta e casaco vermelhos, combinando com o adorno, usando botas e calças escuras.

— Olá! Boa tarde, Jack!

O mais novo demorou para reagir.

O avô caminhou até a cozinha para pegar uma cadeira, assim que o fez, deu meia volta e colocou-a ao lado do sofá, próxima ao rosto do neto, permanecia em silêncio.

— Oi, vô Norte – falou sem emoção na voz.

— Estou vendo que os responsáveis por arrumar as coisas aqui quando elas quebram fizeram um bom serviço! Nem parece que aconteceu aquela batalha aqui – falou olhando para os lados e para cima antes de se sentar defronte ao neto.

— É, eles fizeram um ótimo serviço. Foi pra isso que veio até aqui?

— Claro, isso também, mas eu vim ver como você está, eu soube que os outros ficaram com medo de dormir aqui, mas você continuou, não tem medo?

— Tenho tido pesadelos, às vezes sonho que eles estão vivos e estão vindo me pegar, mas aí eu acordo e vejo que estou sozinho, e isso não me deixa muito mais feliz. Podemos ir direto ao ponto? O senhor está aqui porque minha mãe deve ter pedido.

— Você é bem esperto – disse o mais velho sorrindo.

Jack suspirou abatido e disse: “Por que ela me mandou pra cá pra começo de conversa?”.

— Ela estava preocupada com você – respondeu assumindo um tom mais sério.

— Conhecendo ela, suponho que não foi ideia dela me mandar para cá, a última coisa que ela gostaria é de me perder de vista.

— Não, foi ideia minha.

— Por quê?!

— Quando sua mãe era mais nova, ela teve problemas para aceitar a partida da sua avó, ela morou um tempo sozinha depois disso, e isso a ajudou. Pensamos que isso faria bem à você.

— O que exatamente o senhor achou que fosse acontecer? – perguntou franzindo o cenho.

— Na Bíblia, Jesus se afastava várias vezes para rezar, se até mesmo Cristo que era Deus precisava disso, quem dirá você?

— Então acha que meu problema é falta de Deus?! – questionou o neto com ar de indignação.

— Não! Até mesmo Jesus que é Deus teve momentos de sofrimento no Horto das Oliveiras, da mesma forma muitos religiosos. Mas já faz muito tempo que você não vai à Igreja. Suponho que também não reze muito.

— Escuta, eu já rezei pedindo para Deus me dizer o porquê de eu vir ao mundo várias vezes! Eu já implorei “O Senhor me colocou aqui! O mínimo que podia fazer é me dizer, me dizer o porquê!”, mas Ele não me responde.

— É preciso prestar atenção, porque Deus fala sussurrando.

O mais novo cruzou os braços, virando o rosto para o lado, no início de uma cólera.

— Qual é o seu cerne, Jack?

— Meu cerne?! – perguntou virando a cabeça para o lado.

— Deus é um artista, e em toda Sua criação Ele coroa com algo de especial. Por exemplo – o avô levou sua mão forte ao bolso, puxou do mesmo uma boneca russa – Eu me lembro que a primeira vez que você me viu, você ficou assustado. Era assim que você me via, grandão e intimidador, mas quando me conhece melhor, pode falar!

Colocou a boneca com seu desenho na mão de Jack, o mesmo olhou sem interesse, mas abriu a primeira camada assim mesmo. Viu um desenho mais ameno.

— Por dentro, o senhor é um bonachão?! É, disso eu já sabia – falou com um pequeno sorriso.

— Mas não apenas um bonachão!

O mais novo foi abrindo todas as camadas à medida que o avô falava. Os desenhos nas mais variadas camadas do brinquedo representavam precisamente os aspectos da personalidade de Norte.

— Eu também sou misterioso. Destemido. E, protetor. E no meu cerne – estendeu a mão aberta.

Um pequeno bebezinho de madeira caiu na grande mão de Norte.

— Tem um bebezinho de madeira – concluiu sem entender enquanto coçava a testa, ao mesmo tempo em que pegava das mão do mais velho.

— Olhe com atenção. O que você vê?

O neto pensou um pouco e depois respondeu: “Tem olhos grandes?!”.

— Isso! – exultou Norte erguendo-se da cadeira e caminhando pela casa escura – Olhos grandes e enormes porque estão repletos de encantos! Este é meu cerne! Foi assim que eu nasci, com olhos que veem encanto em todas as coisas! – acendeu as luzes das árvores de pisca-pisca, iluminando o recinto com as mais belas cores – Olhos que veem luzes nas árvores e magia no ar! Este é o encanto que eu coloco no mundo! É o que eu tenho a oferecer para as crianças! É o meu cerne! Qual é o seu?

Jack sorriu ao ouvir aquele discurso, mas o mesmo se desfez enquanto baixava a cabeça.

— Eu não sei – respondeu com melancolia.

O mais velho sentou-se de volta na cadeira, e fechou o boneco na mão do neto. Olhou-o com alegria, como se permitisse que ele carregasse o brinquedo até que descobrisse o próprio cerne.

O mais novo sorriu novamente, um sorriso fraco, mas sincero.

— Eu também falei com o Soluço, a Merida e a Rapunzel. Eles sentem sua falta.

Jack desfez a alegria de seu rosto no instante que ouviu.

— Então por que eles não vem até aqui?! – falou com raiva.

— Você os expulsou, voltaria para um lugar de onde você foi expulso?!

— Mas esse era o nosso plano! Eu não queria eles aqui, e nem eles queriam estar aqui! Combinamos que cada um de nós iria resolver o nosso problema e depois iria embora sem nem fingir que havíamos nos conhecido! – falou tentando parecer firme e raivoso, mas os músculos de seu rosto e os olhos infelizes não escondiam seus verdadeiros sentimentos.

Após um instante de silêncio, observando o neto fazendo esforço para não parecer triste, Norte comentou: “Você se afeiçoou muito a eles, não foi?!”.

O mais novo baixou a cabeça, soltando o ar e os sentimentos, derramou algumas lágrimas, mas logo depois enxugou o rosto e o ergueu dizendo: “Por que trouxe eles aqui? ”.

Soou como se o culpasse pelo que sentia.

— Não foi planejado. Eles apareceram um atrás do outro, todos precisando de um lugar para ficar. E sua mãe estava preocupada que você ficasse sozinho, então, por que não?

— Eu estava muito bem antes deles aparecerem!

— Eu sei, e eu sinto muito que você esteja sofrendo, mas o que você fez com eles não foi certo.

— O que eu fiz com eles?! Eles foram embora sem nem me avisar antes, se eles me avisassem primeiro, quem sabe não teríamos uma despedida decente!

— Despedida?! Você planejava simplesmente dizer adeus à eles sendo que vocês conviveram juntos, moram na mesma cidade, têm o telefone uns dos outros e têm plenas condições de manter contato, ainda mais agora que nossas famílias estão se tornando amigas?! Não é assim que funciona! Você deve manter eles em sua vida ao invés de manda-los embora!

— Então a culpa agora é minha?!

Norte parou em silêncio, fazendo um pequeno sorriso.

— Lembra do que a raposa falou para o pequeno príncipe?

— O quê?

— “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” – Jack sobressaltou-se ao ouvir aquilo – E você os cativou, Jack. Agora, tem responsabilidades sobre eles.

O avô se levantou, e disse: “Os pais deles, sua mãe e eu vamos fazer uma festa de Natal todos juntos na semana que vem, e sua mãe não quer mais que você fique aqui. Levante-se, Jack, volte para casa.”.

O mais novo o olhou no fundo dos olhos, ainda estava abalado pelas palavras do mais velho, mas assim que recobrou a consciência, respondeu: “Não.”.

Virou-se de costas sobre o sofá e se encolheu.

Norte suspirou tristemente.

— Eu já estou indo. Por favor, pense no que eu disse.

Caminhou em silêncio pelo chão de madeira, sendo audível apenas o som de suas pegadas, até que abrisse, saísse e batesse a porta.

Saiu caminhando pela calçada, estava nublado e o vento frio batia com força.

Caminhou até sua grande caminhonete vermelha, sentou-se no banco do motorista.

— Cadê o Jack? – perguntou Rubi, sentada no banco do passageiro, onde aguardava enquanto mordia o dedão.

— Desculpe, filha, eu não consegui convence-lo a voltar.

A platinada suspirou aflita e disse: “E agora?”.

— Ele é seu filho, entre lá e fale com ele.

— Pai, ele não vai me dar ouvidos!

— Você já é uma mulher adulta, Rubi, não aja como se não fosse! Você não vai conseguir resolver este problema com o seu filho evitando esta situação. Aja como uma mulher grandinha, tome uma atitude e fale com seu filho! – disse severamente.

A russa franziu o cenho enquanto olhava para o pai.

— Eu acho que é a primeira vez que o senhor fala assim comigo.

— Eu consigo agir assim quando necessário – falou com um tom mais leve.

— Certo. Eu sabia que essa hora ia chegar mesmo – falou saindo do veículo,

— Vai lá, eu espero você aqui no carro. Aliás, a Arianna chamou a gente para ir beber lá na casa dela. Os outros com os filhos deles vão estar lá nos esperando! Se você convencer o Jack, ele vai poder se reencontrar com os amigos dele!

— Quando foi que a Arianna nos convidou? – perguntou já de pé na calçada.

— Há algumas horas.

— Não acha que devia ter me dito isso antes?

— Queria fazer surpresa.

Ela fungou sorrindo, então fechou a porta do carro e saiu andando em direção à casa.

Quando ouviu alguém mexer na porta, Jack permaneceu deitado de costas, abraçando o próprio tronco.

Rubi adentrou a casa, e ao ver que o filho sequer a recebera, seu rosto esmoreceu.

— Vô, por favor, vai embora! Eu não quero mais conversar!

— Sou eu, Jack.

O platinado voltou-se para a mesma, e assustou-se ao nota-la.

— Ah, oi, mãe. Boa tarde – falou sentando-se no sofá.

A platinada caminhou até a cadeira, afastou-a um pouco das pernas do filho, e sentou-se.

— Como você está? – perguntou com o rosto triste, mas ao mesmo tempo sério.

— Meu avô não contou?

— Bem, você sabe como é seu avô...

— Mãe, será que a gente pode pular essa parte? – falou impaciente – Nós dois sabemos o que está acontecendo! A senhora quer que eu volte pra casa!

A russa passou um instante em silêncio, suspirou amedrontada e por fim respondeu: “Isso. Mas você pelo visto não quer voltar, mesmo depois do que aconteceu.”.

— E por que eu voltaria?! Pra viver do mesmo jeito que a gente vivia antes?! Desde que eu era pequeno parecia que a senhora nem ligava para minha existência!

A eslava respirou fundo, sentindo algumas lágrimas brotarem de seus olhos azuis.

— Eu sei, filho, eu sei! Me perdoe! Eu sei que você deve ter sofrido muito!

— A senhora não faz ideia! Eu estive sozinho toda minha vida! E eu só queria ser visto e ouvido, mas a senhora tinha coisas mais importantes do que eu! O único que se importava de verdade com a minha existência era o meu pai! Mas ele morreu, e no final, eu não tive mais ninguém para ficar do meu lado! Porque a senhora estava lá pelas minhas irmãs! Mas não pra mim! – o russo houvera começado a derramar lágrimas quentes e salgadas de tristeza enquanto falava.

— Eu sei, meu filho! Eu sei! É verdade! – disse ela enquanto chorava.

O eslavo enxugou os olhos cansados.

— Eu só me senti bem de verdade quando vim pra cá! E fiquei longe da senhora! Eu adorava estar aqui, longe do fingimento da minha casa, e a única parte ruim do meu dia era quando a senhora me ligava!

A mais velha seguia o olhando enquanto gemia de aflição.

— Mas aí o vô Norte apareceu e mandou eles três até aqui! E esses dias que eu vivi com eles foram os melhores dias da minha vida! Mesmo quando eu estava me recuperando dos meus machucados da minha briga com o Hans pela Elsa, eu estava feliz! Mas aí eles foram embora, sem nenhum aviso prévio! Sem nem sequer dizer “adeus”!

O mais novo parou, enxugando as lágrimas, soluçando com a cabeça baixa.

— Mas tudo bem, a culpa não foi deles! Foi minha! Eu já sabia que isso ia acontecer. Eu não devia ter ficado tão surpreso quando aconteceu. Eu que fui o idiota! As pessoas sempre foram extremamente efêmeras em minha vida! Meu pai, e agora eles. Meu avô nunca esteve presente na minha vida e nem a senhora também!

Parou um pouco para recuperar o fôlego, a cabeça baixa enquanto soluçava e limpava o rosto.

— Vamos ser sinceros. Eu estou fadado a estar sempre sozinho!

— Não! – falou a mãe saltando da cadeira, e ajoelhando-se abraçando o corpo do filho – Isso não é verdade Jack, eu estou aqui agora! Por você!

— Isso é mentira! A senhora está lá pelas minhas irmãs, não por mim.

Aquelas palavras perfuraram a alma de Rubi, que recuperou o fôlego e prosseguiu.

— Tudo bem! Tudo bem, filho! Eu não vou mentir e nem negar a realidade! Eu não fui a melhor mãe para você! Quando você precisou de mim, eu estava priorizando outra coisa, talvez as suas irmãs. É verdade! Eu sei que eu não fui uma boa mãe pra você! Eu sei que eu não sou! E também sei que você sempre foi um ótimo filho! Sempre cuidando e protegendo as suas irmãs, como um homem deve fazer. Sei que você não se tornou o homem que é hoje, graças à mim, foi graças ao seu pai – deu-se conta de uma coisa, e seu rosto se contorceu – Você queria que ele estivesse vivo hoje, e que eu tivesse morrido no lugar dele, não é?! – perguntou escondendo o rosto no colo do filho.

Jack a olhava surpreso, jamais havia visto a mãe chorar daquela maneira, ainda mais por causa dele, chegou a se compadecer da mesma, mas mesmo assim, respondeu baixinho: “É.”.

— Eu sei! Eu já sabia! Eu também queria. Ele com certeza saberia criar você e suas irmãs sozinho! E peço o seu perdão, Jack. Peço que me perdoe, meu filho. Eu consegui criar as suas irmãs, e foi basicamente com a sua ajuda, porque você sempre esteve lá para ajuda-las. Mas eu não consegui ser quem você precisava que eu fosse. Você me perdoa?

Ele a olhou em silêncio no fundo de seus olhos, não era capaz de dar uma resposta precisa, nem queria faze-la ouvir aquelas palavras.

Mas aquela reação não a afetou mais do que já estava afetada.

— Tudo bem! Eu entendo! Saiba que você não precisa me perdoar! Eu só quero que saiba, Jack, que eu te amo! Eu te amo, meu filho! Eu te amo! E se eu soubesse como acabar com a sua dor, eu faria! Eu daria minha vida e a minha alma se isso fizesse você parar de sofrer!

— Mãe... Não precisa... – falou, mas não conseguiu concluir.

Rubi pegou as mãos do filho, e olhando-o de baixo, no fundo dos olhos prosseguiu.

— Talvez eu tenha errado. Quando eu morei sozinha após a perda da sua avó, eu certamente tinha toda a liberdade do mundo, com certeza, mais liberdade do que você. Eu quero que você volte para casa, mas eu quero que faça isso por livre e espontânea vontade, que faça isso por realmente querer fazer isso! E talvez, eu esteja te prendendo. Então – baixou a cabeça suspirando, dizer as próximas palavras seria uma das coisas mais difíceis que faria – Eu libero você!

O russo arregalou os olhos ao ouvir aquilo.

— Se você quiser continuar a morar aqui, pode morar, se quiser ir para a Rússia com seu avô, pode ir. Se você quiser viajar o mundo todo para ver se você acha algum lugar onde encontre a sua felicidade, pode ir também. Eu não vou impedir você, e se você não quiser, eu não vou nem mesmo te incomodar ligando para você. Até mesmo se você quiser ir embora e nunca mais voltar, nem me ver mais, tudo bem! Eu não vou te impedir! Só quero que saiba, que eu te amo, meu filho! E não importa o que você decidir de agora em diante, eu vou te amar! Independentemente do que aconteça, independente do que você faça! Eu sempre vou amar você, com todas as minhas forças! E estarei torcendo pela sua felicidade, ainda que você só a encontre longe de mim. Mas vou rezar, para que um dia, nós possamos viver juntos de novo, mas desta vez, felizes.

O platinado derramou algumas lágrimas ao ouvir aquelas palavras.

A russa se levantou, enxugando o rosto diante do filho, sorriu para ele em meio a dor de sua face, e lentamente foi afastando-se dele de costas.

O eslavo a observou com os olhos azuis surpreendidos. Vendo-a chegar até a porta.

Ela abriu a mesma, saiu, e com o rosto ainda aparecendo, falou: “Eu te amo, filho!”.

E saiu.

Jack passou alguns instantes sentado, refletindo sobre as coisas que havia ouvido, e sobre o que havia acabado de acontecer.

Então, logo após parar de chorar e reaver a normalidade em sua face, pegou o bebê de madeira que estava em seu bolso, o atirou na mesa de vidro no centro da sala, e se levantou.

Caminhou até a árvore de Natal, pegou a tomada das luzes pisca-pisca, e a puxou, apagando-a permitindo que a escuridão tomasse conta.

Norte e Rubi direcionaram-se à casa dos alemães. A mais nova já não parecia estar tão aflita, embora estivesse explicando ao pai tudo o que houvera acontecido.

Ao chegarem ao seu destino, Fredderick e Arianna chamaram Rapunzel para dar-lhe as boas vindas e mostrar sua alegria, graciosidade e educação.

A platinada então sentou-se ao lado das amigas com seus maridos.

A loira correu para seu quarto, onde estavam Soluço e Merida, apreciando as belas pinturas de populares obras Pré-Rafaelitas brilhantemente reproduzidas pela dona do cômodo. Também olhavam os livros, brinquedos, instrumentos e adereços da mesma.

— Aí pessoal! A mãe do Jack chegou! – disse a germânica sorridente, assim que chegou no quarto.

— O Jack está com ela? – perguntou a ruiva, franzindo o cenho.

— Não – respondeu tristemente.

— Ótimo! É bom mesmo ele não estar! Para o próprio bem dele! Se ele estivesse aqui eu daria uma surra nele!

— Merida, não começa! – falou o castanho.

— Ora, não comece você! Ele expulsou a gente daquela casa!

— E daí?! – perguntou Rapunzel.

— Se ele aparecesse aqui de repente, como se nada tivesse acontecido, vocês iriam simplesmente acolher ele braços abertos?!

— Ele é nosso amigo! – respondeu a loira.

— Não foi isso que ele disse na última vez que a gente se viu!

— Não importa! – falou o norueguês.

— Ora, não finjam que também não estão zangados com ele! – vociferou a cacheada.

Os dois se calaram.

— Rapunzel, na primeira vez que você foi visitar a Cassandra e nós te acompanhamos, nós não ligamos para o Jack, mas você também não ligou! Nenhum de nós ligou para o Jack desde que fomos embora daquela casa! E todos nós temos o número dele! Então não venham me olhar de cima agora!

O de óculos cruzou os braços baixando a cabeça.

— Tá, isso pode ser verdade, mas você sente falta dele tanto quanto a gente, Merida! Não finja que não. Dá para ver nos seus olhos – falou o escandinavo.

A escocesa se encolheu ao ouvir aquilo.

— Tá! É verdade! Mas e daí?! O que vocês pretendem fazer? Voltar atrás dele com o rabinho entre as pernas?! Esperar ansiosamente o Jack pela eternidade que nem Penélope esperando Ulisses?!

— Bem... – falou a alemã, compartilhando da mesma confusão que Soluço.

— Eu recomendo vocês a esquecerem o Jack, e só se preocuparem com ele se ele finalmente decidir falar de novo com a gente! A culpa de tudo isso é dele! Ele que resolva! – falou e seguiu caminhando pelo quarto da germânica.

Rapunzel e o castanho se olharam com as faces esmorecidas. Não queriam dizer em voz alta, mas a proposta da celta era tentadora. Então esfriaram o coração, endureceram o olhar, e aderiram à recomendação de Merida.

A tarde passou sem ninguém notar. A noite escura chegou, e estava nevando.

Tanto os pais quanto os filhos se divertiam. Os mais velhos bebendo cerveja, comendo petiscos, conversando e rindo na sala da casa, sentados às poltronas, próximos à árvore de Natal enfeitada pela filha do casal, repleta de enfeites com cor de violetas e luzes douradas.

Os mais novos bebiam refrigerante, comiam petiscos e jogavam cartas no quarto da amiga.

Rubi ria e se divertia em meio à conversa das amigas, havia conseguido tirar um pouco a conversa que teve com o filho da cabeça, mas de repente, seu telefone tocou. Estranhou, pois raramente alguém a ligava, e se alguma pessoa o fizesse, certamente seria uma daquelas pessoas que já estavam ali.

Pegou o aparel0ho e parou por um instante ao ver o nome na tela. Era Jack Frost.

Ficou surpresa e alegre ao ver aquilo.

— Ah, com licença – pediu sorridente apresentando o dedo indicador enquanto saía do meio das amigas e ia para um canto isolado atender à ligação – Jack?

— Oi mãe – respondeu uma cansada voz jovem do outro lado da linha.

 – Tá tudo bem?

— Mais ou menos. Eu liguei para a senhora para dizer que... Eu perdoo a senhora.

O coração da platinada saltou alegre ao ouvir aquilo, embora sua mente levasse alguns segundos para processar aquelas informações. Suspirou sorridente, e sentiu a densidade de sua alma diminuir.

— Não sabe o quanto eu fico feliz em ouvir isso.

— É verdade. Eu não faço ideia, imagino que isso seja muito importante para a senhora.

— Você nem imagina.

— Sabe, eu também devia olhar para trás e reconhecer que eu também não fui o melhor filho que podia ser para a senhora. Talvez a senhora merecesse algo melhor como filho do que eu.

— Não diga isso, Jack!

— Mãe...

— Sim?

— A senhora falou a verdade quando disse que não importava a minha decisão, a senhora nunca deixaria de me amar?

— A mais pura verdade.

— Que bom. Eu liguei para dizer que já tomei uma decisão.

— Ah – a alma da russa se contorceu de preocupação ao ouvir aquilo – E você vai... Voltar para casa? Para junto da sua família?

— Mais ou menos.

— Como assim?

— Eu decidi que... Eu vou voltar para junto do meu pai.

O rosto antes ameno da eslava ficou sombrio no instante em que ouviu aquilo, seu corpo alto e magro estremeceu, e por pouco não caiu no chão. A respiração falhou, e demorou para reaver a sanidade.

— Jack... O que quer dizer com isso?

— Nós dois sabemos o que isso quer dizer, mãe.

— Jack! Fica calmo! Eu vou até onde você está! Não faça nada que...

— Eu vá me arrepender depois? Eu amo a senhora, mãe. Adeus.

O mais novo desligou o telefone.

— Jack! – gritou Rubi.

Os demais adultos ali, que se divertiam em meio às luzes coloridas da casa pararam o que estavam fazendo e voltaram-se para a platinada, que seguiu gritando o nome do filho repetidas vezes, cada vez mais, de forma mais aflita, ouviu-se choro em sua entonação.

No quarto de Rapunzel, a loira tinha seus cabelos trançados por Merida e Soluço, com alguns enfeites de flores no mesmo. Já no final, eles também ouviram os gritos da eslava no andar de baixo.

Rubi tentou ligar novamente, mas o aparelho se viu incapaz de finalizar a ligação. Ao reparar isso, com o celular no ouvido, a mão esquerda cobrindo a boca, a face alva, vermelha e contorcida com olhos cheios de lágrimas, desabou em choro.

— Não! – caiu em pranto.

— Rubi! O que aconteceu? – perguntou Valka, preocupada, caminhando até a amiga, a multidão de pais atrás dela.

— O Jack... – respondeu sem fôlego – Ele disse que queria se juntar ao pai dele!

Os olhos verdes da norueguesa se arregalaram em aflição, seu coração havia falhado em cumprir com sua missão de não permitir que outros se ferissem da mesma forma.

— Qual é o problema dele querer se juntar ao pai dele?! – questionou Fergus.

— O pai dele morreu – respondeu Elinor, e caminhou em direção à platinada caída.

Na escada branca e enfeitada surgiram os adolescentes, agachados, olhando para os mais velhos de cima, sem compreender.

— O que está acontecendo? – perguntou a ruiva, preocupada.

— Aquele seu amigo russo está querendo morrer – respondeu a mãe da mesma enquanto consolava a amiga russa.

Um frio terrível percorreu pela espinhas dos três filhos na escada, e olharam uns para os outros, compartilhando de uma terrível sensação.

A eslava ergueu-se, caminhando cambaleante em direção à porta da casa, deixando as amigas para trás.

— Rubi, onde você vai? – perguntou Arianna.

— Eu tenho que ir ver o meu filho! Se eu chegar à tempo, posso impedir que o pior aconteça! – falou já saindo pela porta, descendo as escadas de mal jeito.

— Espera! Não! É melhor você ficar aqui! – disse Stoico a perseguindo, já no portal – Nós vamos até ele!

— O quê?! – questionou a escandinava atrás do marido, puxando-o pelo ombro – Stoico! Como pode dizer isso?! É o filho dela!

— Na melhor das hipóteses vamos encontrar aquele garoto inconsciente no chão, entupido de remédios. Quer mesmo que ela veja o corpo do filho dela?!

Valka se silenciou diante daquele argumento.

— Eu e os rapazes vamos até lá. Você e suas amigas ficam aqui e tomam conta dela.

— Tá!

A norueguesa consentiu, então olhou a amiga abalada indo até o carro, ao notar aquilo, correu para alcança-la, abraçou-a por trás, prendendo seus braços e a afastou do veículo.

— Rubi! Não! Você não está em condições de dirigir!

— Me solta! Eu tenho que ir até ele!

— Desculpa! Mas eu não posso deixar você fazer isso! Os homens vão até lá. E vão cuidar para que seu filho fique bem!

Havia uma mesa prateada, com cadeiras combinando no quintal de grama verde dos alemães. A escandinava encaminhou a amiga até a cadeira mais próxima, forçando-a a sentar-se. As demais mulheres chegaram até a mesma.

— Arianna, pode pegar um copo d’água, por favor? – pediu Valka.

— Sim, pode deixar! – respondeu já indo atender.

— Venham, no meu carro! Agora! – gritou Stoico, chamando por Norte, Fredderick e Fergus.

Os homens atenderam ao chamado, todos com olhares preocupados, mais ainda o do russo.

Jack estava de pé sobre o corrimão duro de uma fria ponte de pedra, coberta de branco. O vasto céu cinzento estendia-se sobre ele. Usava seu casaco azul escuro favorito, havia colocado também uma calça jeans clara, com tênis brancos. Olhava para baixo, curvado, com a fria neve fina caindo ao seu redor. Seu rosto estava estático, da mesma forma que seu corpo.

Via o rio congelado a alguns metros abaixo, mas era evidente que o gelo estava fino, seu telefone havia o atravessado sem problemas.


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Notas finais do capítulo

Nome da música:
Behind Blue Eyes - Limp Bizkit
O próximo capítulo vai sair daqui a pouco. Então, se você já terminou de ler, aguarde só um instante. Por Favor!



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