Queridos Amigos escrita por Mithrandir127


Capítulo 24
Capitulo 24: Sessão de Terapia com Dr. Benjamin


Notas iniciais do capítulo

Olá! Muito obrigado aos leitores! Cá está mais um capítulo.



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Rubi estava sentada defronte ao Dr. Benjamin, psicólogo de Rapunzel. A platinada seguia confortável sobre a poltrona, usando uma jaqueta preta, com os braços e as pernas magras cruzadas, olhando o profissional de saúde de forma frívola e rígida.

O homem jovem de jaleco a observava com um sutil olhar de insulto.

O céu estava nublado, aparecendo pela janela alta à esquerda da russa, e as paredes ao redor eram amareladas.

— Então, a senhora está dizendo que não precisa de ajuda?! – questionou ele.

Ela respirou fundo, e olhando para as paredes perguntou: “Cheiro de tinta. Foi o senhor quem pintou as paredes, doutor? Ou pagou alguém para fazer isso?”.

Dr. Benjamin franziu o cenho.

— Eu paguei para pintarem, e o que isso tem a ver com o que eu perguntei?

— Então o senhor precisou de ajuda para redecorar a sua sala. Eu não sou ingênua de achar que posso fazer tudo sozinha, eu sei pintar uma parede tanto quanto o senhor. Eu não estou dizendo que não preciso de ajuda, estou dizendo que não preciso de terapia – respondeu de nariz empinado.

— Então por que a senhora está aqui?

— Estou aqui porque meu pai e a minha amiga da Noruega insistiram. E estou falando especificamente com o senhor porque a menina loira já conhecia um psicólogo e eu não queria me dar ao trabalho de ir atrás de outro, da mesma forma que os novos pacientes que o senhor ganhou.

— Então, por favor, vamos fazer as coisas do jeito que devem ser. A senhora realmente não está traumatizada ou de alguma forma abalada com o que aconteceu?

A eslava seguiu em silêncio, mantendo a mesma postura e olhar estoico.

— Foi a primeira vez que a senhora matou?

Rubi seguiu com a mesma postura, mas desta vez seu olhar mudou um pouco, um tanto surpresa, como se estivesse hesitando em responder. Talvez aquela pergunta fosse pessoal demais.

— Eu preciso de uma resposta. Pelo menos me diga que sentiu algo ruim ao fazer o que fez, se não terei que falar com pessoas mais poderosas do que eu sobre isso. A senhora gostou do que fez?

Ela olhou para o lado, fungando e com desdém.

— Não seja ridículo, é claro que eu não gostei do que fiz, mas eu sou russa, certamente não é nada que eu não possa lidar.

— Ah, que bom! Mais um pouco e eu pensaria que a senhora é uma psicopata e que o que aconteceu não afetou a senhora. Psicopatas não sentem remorso!

A russa suspirou novamente olhando para o lado.

O homem de jaleco franziu o cenho novamente.

— A senhora não gosta mesmo de psicólogos, não é?

— Adivinhão.

— Por que não? O que a senhora pensa do meu ofício?

Olhando-o nos olhos respondeu: “Eu penso que sua área consiste em apenas e simplesmente observar a mente humana, catalogar as condições e fazer as pessoas se sentirem melhor com os próprios pecados e os pecados dos outros.”.

— E isso é tão ruim assim?

— Quando uma pessoa chega esfaqueada em um hospital ela quer que removam a faca e fechem a ferida com a garantia de não correr mais riscos. Aqui, a ferida apenas para de doer por alguns instantes, mas depois volta, e a faca permanece no mesmo lugar. Para mim, isto aqui é apenas uma anestesia, mas não muda o passado, nem tira a culpa dos culpados. E elas precisam voltar para mais anestesia.

— Nenhum profissional da minha área quer ficar com um paciente para sempre, e a cura não depende apenas de nós – respondeu de forma paciente.

— Claro que não querem um paciente vitalício, vocês têm a vida de vocês, e têm esse direito, e é dever de seus pacientes possuírem uma falsa relação efêmera durante suas seções para depois serem deixados sozinhos ao acaso com seus problemas. Seus cuidados são passageiros. E vocês não podem controlar o que acontece lá fora. Como vão garantir que seus pacientes não vão se encontrar de novo com o que os trouxeram até aqui pela primeira vez assim que saírem por aquela porta?

— A senhora sabe quantas vidas a psicologia já salvou?

A mulher sorriu fungando.

— Bom argumento. Reconheço que é até difícil de vencer. Mas não estou falando dessas pessoas, estou falando daquelas que gastam uma fortuna com terapia apenas para se sentirem bem. Enchendo os bolsos de pessoas que nem sequer se importam de verdade com elas.

Ele parou por um instante com o rosto sério.

— Eu não vou me desculpar por ter um bom salário, eu estudei muito por isso. E que eu saiba a senhora também é rica.

— Herança dos meus pais que ganharam a vida vendendo brinquedos. Não encheram os bolsos com o sofrimento alheio.

Dr. Benjamin começou a anotar em seu caderno.

— Vejo que a senhora tem muita raiva, muita tristeza, e também, bastante repulsa. A senhora não quer falar sobre isso?

— Não se preocupe, doutor, o senhor terá outros pacientes que certamente vão ter muito a dizer.

— Um deles é o seu filho, certo?

A eslava fechou ainda mais a face.

— Ele também matou um homem naquela noite, não foi?

— Todos nós matamos. Todos morreram. Exceto uma garota morena da Alemanha, ela foi jogada da varanda da nossa casa, está viva e no hospital. Se quiser, pode usar seus truques no meu filho, mas não em mim.

O homem de jaleco franziu o cenho.

— Por quê?! A senhora acha que ele não consegue processar a situação que nem a senhora, ou... Tem algo mais?

O rosto de Rubi tornou-se mais sombrio, e um brilho hostil tomou conta de seus olhos azuis. Então olhou o relógio em seu pulso.

— Nosso tempo acabou – disse ela se levantando da poltrona.

— Vejo a senhora na semana que vem! – avisou enquanto a mesma caminhava pela sala em direção à porta.

— Não espere me ver de novo! – falou antes de sair batendo a porta.

Seus ombros saltaram ao ouvir o barulho e fez careta.

— A culpa é toda minha!

— Isso não é verdade Sr. Frederick! O senhor não tinha como saber o que aconteceria!

O alemão moreno jazia sentado sobre a poltrona, o corpo curvado, os cotovelos apoiados nos cotovelos e as mãos grossas em sua face barbada. Então tirou as mãos do rosto, revelando um semblante triste e olhar baixo.

— Mas fui eu quem a mandei para aquela casa! E me recusei a busca-la quando ela pediu. O dever de um pai é proteger seus filhos. Eu falhei nesta tarefa quando ela era criança, e há alguns dias ela quase correu o risco de ser violada de novo, por um homem dessa vez, e seria torturada e assassinada logo após isso!

O doutor suspirou e disse: “Me perdoe o comentário, mas sinceramente estou surpreso que tudo isso esteja acontecendo. Filótes é uma cidade segura e do nada aparecem gangsters, e criminosos em geral...”.

— Então como é que eu posso protege-la?

— Sr. Frederick, me perdoe, mas o que o senhor pretende fazer? Manda-la para o país mais seguro do mundo? Tranca-la em uma torre? Deixa-la isolada de tudo e de todos? Ela não gostaria disso, nem deve querer isso! Se o senhor isolar ela dos riscos que a vida inevitavelmente trás, também vai deixa-la isolada das alegrias da vida!

— Ela quase foi morta! Para deixar ela segura eu pago qualquer preço!

— Até mesmo a saúde dela? Sabe, o que mais mata idosos aposentados é a aposentadoria. As pessoas vivem mais quando tem algo para fazer. São mais felizes quando se sentem úteis. Isso não faria bem à ela. Nem à vida dela, ela poderia até mesmo morrer mais cedo.

— E o que o senhor me sugere? – falou raivoso.

O psicólogo fez uma breve pausa enquanto o olhava, depois respondeu: “Eu recomendaria ao senhor deixa-la escolher e observa-la, sem se envolver muito nas decisões dela por enquanto. Dessa vez, se ela quiser fazer terapia ou não, se isolar ou não, será escolha dela. E se o senhor demonstrar à ela que irá apoia-la, quem sabe? Só se lembre que seu dever é orienta-la e ensina-la a como viver sozinha, pois o senhor não estará aqui para sempre.”.

O germânico suspirou e respondeu: “Tudo bem.”.

O homem de jaleco sorriu com simpatia, então falou: “Sinceramente, eu gostaria de agradecer ao senhor por ser tão calmo e paciente, eu temia que aparecessem aqui me culpando pelo que aconteceu à Rapunzel.”.

— Ah! Não se preocupe, esse é o papel da minha esposa.

— A culpa é toda sua! – gritava Arianna batendo as mãos sobre a mesa de madeira defronte ao profissional, que se encolhia, observando o olhar raivoso da mulher atrás de algumas mechas de seus lisos cabelos bagunçados.

— Com todo respeito, Sra. Arianna, mas não tínhamos como saber o que aconteceria! A senhora não tem o direito de me culpar!

— Não tenho?! Foi você quem sugeriu que deixássemos nossa filha isolada, sem ninguém para protege-la! O que aconteceu com ela no passado poderia ter acontecido de novo! Talvez até pior! Era um homem...

— Eu sei, sei, Sra. Arianna. Por favor não precisa oferecer detalhes – falou com as mãos erguidas, gesticulando para que diminuísse sua fúria – Não precisamos nos exaltar, somos adultos e podemos conversar sobre isso de forma mais tranquila.

A alemã sentou-se ainda consumida de ódio, cruzando os braços e as pernas, balançando o pé.

— Você diz isso porque não é a sua filha!

O médico a olhou com ar de insulto.

— Eu atendo a Rapunzel desde que era apenas uma menina, eu também me preocupo com o que acontece com ela. E fiquei bastante abalado quando soube o que aconteceu.

A mulher o olhou ainda com fúria nos olhos, mas foi o suficiente para que a mesma se acalmasse um pouco.

— Então, o que tem a dizer em sua defesa?

— A Rapunzel não gostaria de viver protegida pra sempre. Não haverá quem a proteja o tempo todo, e...

— Ah, poupe-me dessa história! Meu marido já me contou toda essa ladainha que você falou pra ele!

Dr. Benjamin parou por um instante, e depois, com um gesto com as mãos sobre a mesa respondeu: “Fora isso, eu não tenho mais nada a dizer. Exceto que não tínhamos como saber o que poderia acontecer, e que graças à Deus não aconteceu, e que eu estarei aqui para o que a Rapunzel precisar.”.

A germânica respondeu com um fungado, olhando para o lado, ainda em cólera.

— Então, que tal falarmos sobre a senhora?

— O que quer dizer?! – respondeu elevando a voz, voltando-se para o mesmo.

— Fiquei sabendo que todo mundo naquela noite matou alguém, inclusive a senhora. Não quer falar sobre isso?

Arianna abrandou-se mais um pouco, e seus olhos verdes assumiram uma expressão tristonha. Desviou o olhar e demorou para responder.

— Na hora meu marido e eu nem pensamos nisso, estávamos preocupados demais com a nossa filha. Mesmo tendo visto que ela matou sozinha o homem que a estava levando para o quarto, estávamos muito preocupados. Nem paramos para pensar naquela hora. Nós apenas, fizemos o que fizemos.

O psicólogo ergueu as sobrancelhas, mas logo depois prosseguiu.

— E depois, caiu a ficha?

— Sim... – sussurrou, então ergueu as mãos tremendo, olhou-as – Eu me peguei imaginando que o homem que eu matei pensava: “Ah, quando eu chegar em casa vou tomar um banho, dormir, depois vou acordar cedo amanhã, ler um livro, assistir a um programa, visitar minha mãe...” mas mal sabia que ele nunca mais voltaria para casa – falou enquanto enxugava uma lágrima.

— Os homens de máscara de máscara foram identificados?

— Foram, eram pessoas com uma ficha criminal bem menos extensa do que os outros, só tinham uma ficha maior do que a filha da Gothel. Mas de resto eram só peixes miúdos, mas mesmo assim, alguns deles tinham família, pais, esposas, até mesmo filhos.

— Sem querer ser intrometido, mas gostaria de tirar uma dúvida, a senhora acha que há o risco de as famílias deles irem atrás de vingança que nem a Cassandra?

— Não. A imprensa não divulgou nossos rostos, nem nossos nomes. As famílias só ficaram sabendo que seus familiares haviam morrido ao realizar um sequestro e uma tentativa de homicídio. Decidimos não fazer o que fizemos há alguns anos. Se ninguém espalhar a notícia, manteremos o anonimato.

— A senhora sabe que não fez nada de errado, não é? Se a senhora não tivesse feito o que fez talvez estivesse morta agora, a senhora tinha o direito de se defender, e aquele homem não tinha o direito de atentar contra a vida da senhora.

A alemã se encolheu, olhando para baixo e suspirando.

— Eu sei, obrigada, mas... Eu nunca me vi como uma mulher violenta.

— Eu já – respondeu ele com ar de deboche.

— Aquela não foi a primeira vez que eu matei – disse Elinor com os braços e pernas cruzados, mas seus olhos castanhos jaziam tranquilos, e sua face, amena.

— A senhora já havia tirado outra vida antes daquela noite. Eu soube. Me perdoe, mas quando matou aquele rapaz na ponte, a senhora não procurou ajuda após o trauma?

— Não, eu não procurei. Pra começar eu estava com medo de sair de casa. Eu pretendia falar com o psicólogo do meu marido, mas já que eu não queria ficar sozinha, Fergus me deixou aqui.

— Por falar nisso, me perdoe, mas eu soube que outras vítimas daquele ocorrido não estão aqui, entre elas, seu marido, ele deve estar nesse outro psicólogo agora, certo?

— Mais ou menos. Ele já está com hora marcada nesse outro doutor, mas também está resolvendo outras coisas junto dos outros.

— Posso perguntar o que seriam essas outras coisas?

A morena franziu o cenho.

— O senhor não acha que isso é meio evasivo da sua parte?

— Me desculpe... É que eu estou curioso, é a primeira vez que eu atendo tantas pessoas vindo de um mesmo terrível episódio.

A escocesa sorriu bufando.

— Eles estão revezando entre falar com a polícia para entender a situação, o governo de seus respectivos países para compreender como eles fugiram da cadeia e também indo em seus próprios psicólogos.

— E então?

— Bem, parece que eles provocaram explosões com os próprios matérias domésticos que haviam na cadeia, se oferendo para fazer a faxina. Como houveram vários mortos, foi fácil passar despercebido, uma vez que também houveram outros fugitivos. E como a polícia de Filótes foi informada disso, além da gravação na câmera que eles tinham levado, não houve suspeitas que aquilo tudo que aconteceu naquela casa poderia ser atividade ilícita nossa ou de nossas empresas, embora, é claro, elas também estejam sendo investigadas.

— Certo, e agora, a senhora gostaria de falar sobre o ocorrido?

A celta suspirou alto com o rosto sério.

— Pra ser sincera eu acho que essa experiência foi boa para mim.

— Jura?! – questionou Dr. Benjamin erguendo uma sobrancelha.

— Quando meu marido chegava das batalhas que ele travava pelo nosso país, ele sempre me atacava. Não que ele seja violento, ele não é, quero dizer que na noite do dia que ele chegava de viagem ele queria fazer amor, e eu achava que era só pela saudade. E acredito que em parte é, mas às vezes, ele agia como se realmente precisasse me tocar, e eu não entendia. E acho que hoje eu entendo. Aquilo era uma forma de aliviar todo o estresse. Eu uso o método Billings, e algumas vezes quando eu negava, ele realmente ficava zangado, embora não me forçasse a nada e aquela raiva passasse rápido. Quando me lembro do que aconteceu, sou eu quem o levo para cama, e só quero aliviar a tensão. Eu acho que agora, eu compreendo meu marido um pouco melhor.

O profissional a olhava sorrindo.

— Quero que saiba que eu fico muito alegre em ouvir isso. Posso ver o quanto está afetada pelo ocorrido, mas mesmo assim a senhora consegue tirar algo de bom de tudo o que aconteceu. Sinceramente, eu não me lembro se já atendi algum paciente assim.

Ela sorriu.

— Obrigada. E não é só pelo meu marido, tem a minha filha também.

— Por favor! Prossiga! – falou gesticulando.

— Foi ela quem me fez matar aquele rapaz na ponte. Quando aquilo aconteceu, eu pensei que eu era uma assassina, e que a minha filha tinha me enganado. Antes ela recusava minhas ligações, mas depois disso, eu passei a recusar as ligações dela. Cheguei a cogitar nunca mais querer vê-la, nunca perdoa-la. Chego a sentir um frio correr pela minha espinha quando penso que se Fergus não tivesse atendido o celular a minha filha poderia ter sido violada e assassinada, e a culpa seria minha, pois eu rejeitei as ligações que fizeram para mim. Que tipo de mãe eu seria se isso tivesse acontecido? Ela sempre foi tão raivosa, sempre gostou de artes marciais, de bater de frente, de usar armas, e eu sempre achei que uma garota não devia aprender a lutar, mas a verdade é que se nenhuma de nós soubéssemos nada sobre combate, nós duas já teríamos morrido naquela ponte.

— Entendo. A senhora viu as convicções da senhora passando por provas pesadas.

— E elas não sobreviveram a essas provas. Eu sempre achei que qualquer mal ou guerra poderia ser simplesmente evitada através do diálogo e da diplomacia. Mas aqueles homens não queria conversar, só queriam fazer o mal a nós. E também, quem sou eu para dizer que tudo pode ser resolvido na base do diálogo?! Eu nem sei dialogar com a minha filha...

— Sempre há tempo para reconciliação – disse o homem de jaleco sorrindo.

Elinor sorriu fracamente para ele.

— Obrigada. Antes eu achava que para isso, minha filha precisava mudar, e ainda acho isso, mas eu também preciso, e acho que mudei, então quem sabe dessa vez não dá certo? Eu até me matriculei em uma escola de artes marciais. E meu marido tem me ajudado.

As nuvens frias do céu vasto foram movimentadas de forma involuntária pelo vento, revelando o brilhante sol dourado. As luzes do astro invadiram a sala onde se encontravam o doutor e sua paciente, iluminando a sala, conferindo-lhe um aspecto mais vívido, e atingindo Rapunzel de forma suave, tal qual um abraço.

A loira jazia na poltrona, olhando para o lado e para baixo, com um rosto pensativo, mas bem menos desconfortável do que aquele que expressava da última vez que houvera ido lá.

— E então, como se sente, Rapunzel? – perguntou Dr. Benjamin, com uma pequena ponta de empolgação transparecendo em seu rosto.

— Eu tenho exercido os macetes que o senhor me passou, e eu até me sinto melhor, mas sinceramente eu não queria me sentir tão bem.

— Como assim?! – questionou o mais velho.

Olhando para o chão, ela prosseguiu: “Houve um certo momento que eu comecei a bater na Cassandra, no início eu estava fazendo aquilo para me proteger, então eu comecei a reparar o quanto ela era parecida com a Gothel, aí eu comecei a ver a própria Gothel. E foi então que eu comecei a bater nela com toda a minha vontade, senti que estava batendo na Gothel de verdade. Me senti bem até o momento que me dei conta que havia atirado ela da varanda.”.

— Então, você sentiu vontade de machucar ela.

—  Sim – respondeu envergonhada, ainda mantendo o olhar fixo no chão – E eu gostei. Senti que estava me vingando, e a sensação era boa, na verdade, até agora é.

— Mas você não quer se sentir tão satisfeita. Por quê?

— Não somos melhores que nossos inimigos se nos alegramos com o sofrimento deles.

O homem de jaleco sorriu ao ouvir aquilo.

— Você é uma boa menina, Rapunzel. Então, pretende fazer algo?

— Das pessoas que nos atacaram, a Cassandra foi a única sobrevivente, ela está em coma, mas está viva – suspirou com o rosto mais pesado, ainda mantendo um sereno olhar no piso – Ela cresceu sem o pai, só tinha a mãe, e Gothel foi presa, violada e morta. Para minha surpresa a Cassandra foi criada por um chefe de polícia que a adotou quando a Gothel foi presa. Fiquei mais surpresa ainda ao descobrir que a Cassandra, assim como ele, também tinha carreira na polícia, deve ter lidado com muitos tipos de criminosos. Acho que ela deve ter tido uma vida cheia de carências, e devia guardar muita raiva, o que culminou naquilo.

— Está dizendo que ela não tem culpa? Sabe, pessoas que sofrem agressões sexuais na infância tendem a fazer o mesmo na vida adulta, e até agora, você não fez isso com ninguém. Então eu creio que haja controversas.

— Não! Eu sei que ela é responsável! Ela tomou as decisões dela, só estou dizendo que há uma explicação, embora não justifique o mal que ela já fez e tentou fazer. Só acho que ela deve ter oportunidade de redenção, e quem sabe isso não aconteça se dermos essa chance à ela?

— O que exatamente você pretende fazer?

— Quando ela acordar, pretendo ser amiga dela. Se houver mais alguém nesse mundo que possa fazer o bem à ela, quem sabe ela não muda?

O profissional suspirou descomprazido.

— Só peço uma coisa, Rapunzel, tome cuidado.

— Eu vou tomar. E não precisa se preocupar. Ela está inconsciente agora, e quando acordar ainda deve precisar responder na justiça pelo que fez, talvez vá presa. E também, soube que as feridas vão deixar sequelas nela, talvez fique aleijada. Quando acordar, ela não deve ser a mesma, nem por dentro, nem por fora.

Ele sorriu.

— Desculpe-me por dizer isso Rapunzel, sei que isso é muito nobre da sua parte e que você não quer se sentir bem pelo que fez e está certa por isso, mas eu devo dizer que estou muito feliz! Você reagiu sozinha a um homem que pretendia fazer com você o mesmo que a Gothel fez com você quando era criança! E enfrentou uma garota que queria fazer o mal à você! – falou sorrindo.

— Eu usei uma frigideira contra o primeiro, e a Merida me ajudou a derrotar a Cassandra. Eu não lutei sozinha – falou com um sorriso menor.

— Não importa! O que importa foi que você tomou uma atitude e reagiu ao mal e triunfou! Eu nunca imaginaria aquela garota encolhida nas minhas últimas sessões fazendo todas essas coisas!

Ela baixou a cabeça, com verniz de alegria. Finalmente teve coragem para olha-lo nos olhos e dizer: “Eu acho que tive bons amigos!”.

— Eu não estou traumatizada! Eu nem preciso está aqui! É sério! De todas as pessoas do mundo, eu sou a que menos precisa estar aqui! – disse Merida gesticulando.

— Então está dizendo que não ficou nem um pouco afetada pelo que houve.

— Ah, fala sério! Eu sou uma Cavaleira de Cristo! Eu já me meti em muitos conflitos!

— Sim, você é lutadora, eu sei. Até dá de ver alguns inchaços de suas lutas, mas eu suponho que aquela foi a primeira vez que você matou alguém.

— Foi, mas eu já estou acostumada a ter pessoas me ferindo e tentando me derrubar. Tá, pode ser que eu não tenha gostado do sabor do sangue do M’ordu na minha boca e tenha pesadelos com isso. Pode ser que depois tenha caído a ficha de que eu tirei uma vida, e também pode ser que eu não fique tão de boa com isso e prefira voltar para a barra da saia da minha mãe e ficar sentadinha na poltrona, bem longe de qualquer violência porque, afinal, trabalhar com os negócios da família talvez não seja tão ruim assim! Mas isso não quer dizer que eu sinta que aquilo que eu fiz foi errado, porque se não estaríamos mortos agora. E também não significa que eu vou parar de lutar e sair no braço contra quem merecer.

Dr. Benjamin sorriu ao ouvir aquilo.

— Eu acho que muitas coisas boas estão por vir para você e sua mãe – falou alegremente.

— Bem, até agora, você foi um dos que mais cooperou, Haddock, obrigado!

— Pode me chamar de Soluço – falou sorrindo.

— Me corrija se eu estiver errado, mas enquanto falamos, você realmente parece estar abalado com o que aconteceu, contudo, você transparece certa satisfação quando fala. Ainda temos um tempinho, não gostaria de falar sobre isso?

O mais novo arregalou seus olhos verdes ao ouvir, sentiu-se desnudado. Baixou a cabeça envergonhado e respondeu: “É verdade. Parte de mim está bem satisfeita, até orgulhosa pelo que eu fiz, até mesmo alegre, mesmo sabendo que aquele cara que eu queimei com óleo fervente foi o que mais demorou a... Desfalecer.”.

— Isso tem uma explicação, não tem?

— Bem, meu pai sempre olhou para mim com decepção. Como se eu fosse insuficiente. Às vezes eu acho que ele nem sequer me enxerga como um homem. E quando eu enfrentei aqueles homens, os inimigos dele, bom, meu pai viu. E depois de tudo, ele me olhou como se estivesse satisfeito, mais do que isso, ele olhou pra mim que nem costuma olhar para o meu irmão, ele realmente parecia estar orgulhoso.

— Entendo. Você sente que seu pai finalmente o aprovou.

— Sinto que eu provei pra ele que eu vali todo o esforço que ele gastou comigo. Mais do que isso, sinto que eu provei para ele que eu sou um homem. Que eu sou um viking.

Dr. Benjamin olhava fixamente para Jack, que estava de cabeça para baixo sobre a poltrona, com o olhar tranquilo.

— Então, você não tem nada a declarar.

— Claro que não! Eu estou bem!

— Essa é a mentira mais contada do nosso século, Jack. E está tudo bem se não estiver bem.

— Por que eu não estaria bem? Eu sou de uma família rica, tenho uma namorada linda na Noruega me aguardando, companhia suficiente pra dar e vender. O que aconteceu vai ser só uma história que eu vou jogar na cara dos meus filhos dizendo que a minha vida foi terrivelmente dura que nem os pais costumam fazer – disse sorrindo.

— Primeiro, experiência traumáticas acontecem com qualquer um, independente do que se tenha ou da classe social, é que nem doença, não tem favoritos. E segundo, é perfeitamente possível ter uma vida confortável e satisfatória e mesmo assim ser infeliz, até mesmo ter depressão. Boa parte dos suicidas tinham uma vida invejável.

Uma grande nuvem sombria se alastrou pelo céu, cobrindo a luz benéfica do sol.

A face do platinado se fechou, e a escuridão o abraçou.

— O que a minha mãe falou para você? – perguntou o mais novo sentando-se adequadamente com a cabeça para cima.

— Aquele amor de pessoa?! Nada, só conversamos sobre ela, ou melhor, nem isso...

Falava de forma levemente descontraída, até que finalmente reparou no rosto do mais novo, que possuía certa apreensão. Recordou-se das palavras de Rubi, de que poderia usar seus truques com seu filho. Franziu o cenho e prosseguiu.

— Sabe... Existem muitas pessoas que tem depressão e não aparentam. Isso é mais comum do que se imagina.

A face alva do russo fechou-se mais ainda, e ficando mais apreensiva. Parecia sentir raiva.

— Sua mãe me disse que eu posso livremente atender você. Jack, não tem nada que você queira me contar?

— Eu não tenho que contar nada para você!

— Onde está o seu pai?

— Não é da sua conta!

— E quanto à sua mãe! O jeito que se referiu à ela...

— O que é que tem? – vociferou, pronto para saltar da poltrona contra o doutor.

— Vocês tem uma boa relação?

— Para de perguntar isso!

— Eu só estou tentando ajudar!

— Eu não preciso de ajuda!

— Por que não?

— Porque enquanto eu tiver os meus amigos eu não preciso de mais nada! – falou exaltando a voz e se erguendo, os olhos azuis arregalados em fúria, e a pálida face suada, o peito magro subindo e descendo à medida que sua respiração raivosa se manifestava.

O profissional estava inclinado para trás com as mãos na mesa, surpreso.

— E quando eles não estiverem mais aqui, hein? O que você pretende fazer? Já pensou nisso? Você precisa aprender a viver sem eles.

— O tempo da sessão já acabou! – disse o russo olhando no relógio e caminhando para a porta.

— Mas e quanto ao seu pai? Por que ele não estava lá naquela noite? Por que ele não está aqui? – perguntou o mais velho.

O eslavo parou com a cabeça baixa, a coluna curvada, os cabelos brancos fazendo sombra em seus olhos, segurando a maçaneta fria de metal.

— Não espere me ver de novo doutor.

Falou, então saiu batendo a porta.

Dr. Benjamin jogou-se para trás na cadeira, praguejando mentalmente.

— Tal mãe, tal filho.

Rubi e Jack voltavam para a casa da família em seu carro negro. O céu estava pálido, e havia um movimento razoável nas ruas.

Dentro do veículo, mãe e filho estavam em silêncio, sequer viravam o rosto para se olhar. Também estava escuro e gelado.

— E aí, filho, gostou do psicólogo? – perguntou ela, quebrando o silêncio, tentando ser o mais afável possível, mas sua terrível seriedade não permitia.

— Hã?! Ah, sim! Gostei sim! Gostei bastante. E a senhora?

— Sim, eu gostei também.

— A Rapunzel fez uma ótima recomendação.

— É verdade.

— Por falar nisso. Onde eles estão?

— Como ficamos por último, e os outros ainda tem assuntos a resolver na nossa casa, eles estão lá.

— Entendi. Eu preciso chamar aquele cara que conserta as coisas do vô Norte. Dessa vez deve sair bem caro.

— Não se preocupa, eu já chamei ele, também chamei um faxineiro para limpar toda aquela bagunça.

— Ótimo. E o vovô? A senhora falou com ele?

— Sim. Ele está vindo para Filótes. Também disse que iria aproveitar e passar logo o final do ano aqui – fez um breve sorriso ao escutar o que falou.

Ela olhou para o filho, que não esboçou reação alguma. Parecia estar preocupado com outra coisa.

O platinado seguia refletindo sobre as palavras do psicólogo. E sua alma jovem sofria ao se recordar delas. Não queria acreditar, mas no fundo, sabia que era verdade. Seus hóspedes não viveriam ali para sempre.

A russa também ficou em silêncio, preocupada com o mais novo. A expressão depressiva que havia em seu rosto, junto com os olhos angustiados, agora transparecendo algumas olheiras, parecia que sua vida estava se esvaindo.

Quando chegaram, viram o velho casarão com vários carros estacionados diante do mesmo. Eram os veículos dos pais dos quatro moradores dali, e da empresa que consertava os estragos frequentes do lar de Norte. Havia bastante movimento ali, pois os contratados precisavam trocar os móveis irreparáveis por cópias idênticas, até mesmo as antigas porcelanas russas inestimáveis precisavam ser substituídas.

O eslavo desceu sorridente e apressado do carro, fechando a porta, enquanto a mais velha descia com sua habitual calma e seriedade.

Jack correu alegre para encontrar os amigos, com quem mal havia conversado direito nos últimos dias. Se os carros estavam ali, eles também estavam.

Encontrou-os entre os veículos, mas o sorriso que estava em seu rosto desapareceu.

Soluço, Merida e Rapunzel estavam agasalhados com gorros, cachecóis, jaquetas, calças e botas de neve, e carregavam malas com rodinhas atrás de si. Mexiam nos telefones e olhavam nos relógios com calma e trivialidade.

Os pais conversavam uns com os outros.

Stoico, Valka, Fergus e Elinor diziam à Frederick e Arianna.

— Nossos filhos nos disseram que a sua filha gastou do seu dinheiro com eles. Nós vamos compensar – disse o norueguês.

— Ora, mas o que é isso. Não precisa! Ficamos muito felizes em ver nossa filha ajudando os outros, e considerando a situação em que eles estavam era o mínimo que podíamos fazer – disse o alemão.

— Mas mesmo assim, nós insistimos, é uma questão de honra – falou a norueguesa.

— Não, a honra foi nossa por ajudarmos seus filhos – disse a alemã sorrindo.

— Nós também iremos pagar. Perdoe-nos pelo transtorno. Se não fosse pelos problemas que enfrentamos em casa, não precisariam gastar seu precioso dinheiro – falou a escocesa;

— É, é verdade. E muito obrigado por terem cuidado da nossa menina.

O platinado notou o que estava acontecendo, e com o rosto afetado pela infeliz surpresa, seguiu aproximando-se lentamente. A mãe seguindo-o logo atrás.

— Ah! Olhem eles aí! Também temos que agradecer à vocês e ao Norte por terem acolhido e cuidado bem de nossos filhos – disse Valka.

A russa fez um pequeno sorriso com um olhar cansado e disse: “Não precisam agradecer. E considerando a preocupação que causamos, seja pelo sumiço de alguns de seus filhos, ou por aquela noite, talvez devêssemos é nos desculpar.”.

— Ah, sempre tão dramática! – respondeu a escandinava – Mas se insiste, por mim tudo bem, é só pagar uma rodada de bebida, e tá desculpada.

Jack deixou a mãe conversando com os demais, e tentando esconder o desagrado, disse: “Oi, pessoal.”.

— Ah, oi!

— Oi, Jack.

— O quê?! Oi!

— E essas malas?

— Ah, desculpa, aconteceu tanta coisa que esquecemos de te avisar. Nós estamos voltando pra casa – disse Merida – Nossos pais trouxeram essas malas de casa porque no nosso período aqui juntamos muita tralha.

— Ué, mas e quanto aos problemas com os pais de vocês? – perguntou o platinado.

— Bem, eu não tenho problema nenhum com meus pais! – falou Rapunzel, brincando – É que depois do que aconteceu, eu achei melhor voltar para casa, sabe? Ficar aqui passou a ser algo meio assustador.

— E vocês? – perguntou voltando-se para o casal.

Os apaixonados apertaram as mãos.

— Bem, nós dois compartilhamos um pouco do sentimento da Rapunzel, mas também, a minha mãe conversou comigo e parece que ela mudou um pouquinho com tudo o que aconteceu, está até praticando artes marciais – falou sorrindo.

— Ah, que legal, você não tinha nos contado isso! – comentou a loira.

— Mas também, eu pensei um pouco, e percebi que não quero viver brigada com a minha mãe, muito menos morrer assim, e quase corremos esse risco naquela noite. Talvez eu tenha sido egoísta. Participar de algumas reuniões com ela me parece um preço muito pequeno a pagar para nos mantermos unidas.

— Soluço? – perguntou o russo.

— Bem, meu pai pegou aquele cachecol que eu tricotei, e decidiu colocar ele para vender, e ele foi uma febre. Ele me disse que eu basicamente salvei a empresa, e realmente precisa que eu volte. E como ele me viu bater de frente contra aqueles caras naquela noite, e descobriu que eu finalmente arranjei uma namorada – faltou apertando a mão da mesma, e ambos se olharam sorrindo – Ele finalmente se convenceu que eu sou um viking e me pediu desculpas.

— Ah, é! É verdade, a minha mãe me disse que parece que está interessada em vender os seus cachecóis nas nossas lojas! – disse a ruiva.

— Jura! Que legal! – falou a alemã.

Os três comemoravam entre si.

O eslavo os observava, baixou a cabeça e seu rosto ficou abatido.

Quando os hóspedes de saída notaram aquilo, perceberam os sentimentos de seu anfitrião. Teriam dado risadas se não fosse pela expressão melancólica no rosto de Jack.

— Ei, Jack! Relaxa! Não fica triste! – falou a germânica, com um tom quase materno.

O platinado saltou os ombros erguendo o olhar, agindo como se aquelas palavras o tivessem assustado.

— O quê?! “Triste” ?! Quem? Eu?! Eu não estou triste! E daí que vocês vão embora! – lágrimas pesadas brotavam involuntariamente de seus olhos.

Os pais que seguiam em uma conversa agradável notaram aquilo. Rubi que sorria de forma simpática, dentro de suas capacidades, assustou-se ao reparar no comportamento do filho, e logo desfez qualquer sinal de alegria.

— Jack, relaxa! A gente só não vai mais dormir na mesma casa, mas ainda vamos ser amigos. Vamos manter contato! – disse Soluço.

— É! Ainda vamos viajar pra Rússia! Ter dois Natais! – falou Merida.

— Ah, cai na real pessoal! – disse o russo passando por entre eles, empurrando-os, e ficando de costas para a casa – Foi divertido até agora, mas acabou! Esse era o plano, não era? Vocês ficariam aqui até cada um resolver o seu problema e depois cada um iria embora!

— Jack... – disse Rapunzel com o semblante triste, ergueu a mão inutilmente para tentar alcança-lo.

Os outros dois estavam surpresos, da mesma forma os adultos que o olhavam.

— Sejamos realistas. Eu sou russo, você é da Escócia, você da Noruega e você da Alemanha. Todos nós somos filhos ou netos de empresários e cada um tem algo com o que lidar. Inclusive, recomendo à vocês dois nem levarem esse relacionamento a sério, ele pode não funcionar.

— Jack! – falou a cacheada, insultada.

— É verdade, eu até vou ligar pra Elsa, para ela procurar outra pessoa...

— Jack... – falou o norueguês, com olhar preocupado.

O eslavo os olhava com angústia e tristeza nos olhos, porém não chorava.

— O que estão esperando?! Vão embora! Vão! Esqueçam a viagem para a Rússia! Nem eu sei se eu viajaria! E se eu viajasse certamente não seria com vocês! Afinal, nós nem somos amigos!

Os três puxaram o ar com os olhos arregalados, chegaram a cambalear para trás ao ouvir aquilo.

Os pais também sentiram o peso daquelas palavras.

Todos ficaram em silêncio.

Lentamente, os mais jovens se afastaram de Jack, olhando-o com o rosto em uma mistura de raiva e tristeza. Pediram para os pais os levarem para casa.

Então, um a um, todos foram embora, encarando o garoto que os expulsara, que os encarava com o rosto hostil.

Ficaram apenas os russos. Mãe e filho, se encarando de longe, debaixo do céu cinzento e em meio ao frio.

— Vamos para casa também, Jack? – perguntou a mãe com um rosto terrivelmente triste e preocupado, a pergunta soou como um pedido.

O filho a observou por um instante com o rosto rígido e alterado, não a respondeu, apenas deu-lhe as costas lentamente e entrou na casa, onde vários homens trabalhavam, deixando-a sozinha.

Dentro da casa, Jack ferrou os olhos com o rosto vermelho contorcido, deixando escorrer uma lágrima.

Eu machuquei a mim mesmo hoje

I hurt myself today

Para ver se ainda consigo sentir

To see if I still feel

Eu me foco em toda essa dor

I focus on the pain

A única coisa real

The only thing that's real

A agulha rasga um buraco

The needle tears a hole

O velho ferrão familiar

The old familiar sting

Tentei matar tudo isso

Try to kill it all away

Mas eu me lembro de tudo

But I remember everything

 

No que eu me tornei?

What have I become?

Meu mais doce amigo

My sweetest friend

Todos que eu conheço vão embora

Everyone I know goes away

No final

In the end

E você poderia ter tudo isso

And you could have it all

Meu império de poeira

My empire of dirt

Eu vou te decepcionar

I will let you down

Eu vou te fazer sofrer

I will make you hurt

Eu uso esta coroa de espinhos

I wear this crown of thorns

Sentado no meu trono de mentiras

Upon my liar's chair

Cheio de pensamentos quebrados

Full of broken thoughts

Que eu não consigo consertar

I cannot repair

Debaixo das manchas do tempo

Beneath the stains of time

Os sentimentos desaparecem

The feelings disappear

Você é outra pessoa

You are someone else

E eu ainda estou bem aqui

I'm still right here

No que eu me tornei?

What have I become?

Meu mais doce amigo

My sweetest friend

Todos que eu conheço vão embora

Everyone I know goes away

No final

In the end

E você poderia ter tudo isso

And you could have it all

Meu império de poeira

My empire of dirt

Eu vou te decepcionar

I will let you down

Eu vou te fazer sofrer

I will make you hurt

Se eu pudesse começar de novo

If I could start again

À milhões de quilômetros de distância

A million miles away

Eu poderia me encontrar

I would keep myself

Eu encontraria um jeito

I would find a way

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Muito obrigado! Espero que estejam gostando!



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