Queridos Amigos escrita por Mithrandir127


Capítulo 13
Capitulo 13: Neve II


Notas iniciais do capítulo

Olá! Peço perdão pelas pessoas que esperam desde semana passada por um novo capítulo. Para reparar a falha da semana anterior, hoje vão sair dois. Aconteceu que fiquei sem internet em casa na semana passada, e só tivemos ela de volta no meio desta semana, e como já era Semana Santa, decidi deixar para hoje. Enfim, Páscoa a todos!



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Era manhã na cidade fria. Elsa estava em seu quarto de hóspedes, a luz branca do céu entrava fraca pelas janelas de vidro fechadas e congeladas que mostravam as nuvens alvas.

A platinada usava um suéter rosa listrado, com uma calça moletom branca, os cabelos alvos presos e o rosto frio enfeitado como de costume.

Caminhava descalça sobre o chão de madeira, procurando suas malas no quarto, buscando encontrar sua mala de livros.

Todas as malas eram novas, compradas pouco antes da viagem, já que era a primeira vez depois de muito tempo que a norueguesa viajava com a irmã, e Anna teve a brilhante ideia de comprar malas idênticas.

De repente encontrou a bolsa onde houvera guardado seus belos livros, contudo, ao abrir, viu um vasto material de maquiagem, aquela bolsa era da irmã caçula.

Não demorou para a escandinava fazer a soma, e logo saiu andando pela porta carregando a bolsa.

Caminhou pela casa um tanto escura e foi até a porta amadeirada do quarto de Anna. Bateu algumas vezes com os dedos finos, mas não houve resposta.

Em poucos instantes se atreveu a abri-la. Colocou os olhos dentro do cômodo antes do resto de seu corpo, e viu que Anna dormia tranquilamente na cama diante da porta.

Não se atreveria a entrar no quarto de outra pessoa sem pedir, mas aquele era um caso especial, e aquela era sua irmã, e sabia que a caçula tinha um sono pesado. Assim, decidiu entrar.

A luz fraca do céu que entrava pelas janelas congeladas também iluminava um pouco o quarto, mas não era o suficiente, então Elsa pegou o telefone e iluminou o mesmo enquanto procurava sua mala com os livros agachada.

De repente, encontrou-a, assim se levantou, sorridente, pronta para sair, mas para sua surpresa, uma forte luz dourada brilhou no quarto.

Seus olhos demoraram para se adaptar à luminosidade forte, mas sua intuição estava apurada.

— Anna?! – perguntou apertando os olhos.

— O que está fazendo Elsa? – perguntou com verniz de inocência, ao lado dela sobre uma estante um grande abajur belo, antigo e dourado brilhando.

— Desculpe – falou enquanto lentamente abria os olhos – É que eu tinha confundido minha mala de livros com a sua mala de maquiagem, eu só vim aqui devolver a sua e pegar a certa, me desculpe, eu não queria atrapalhar o seu sono, eu já estou de saída.

Assim que terminou de falar, seguiu em direção à porta, agora com os olhos azuis naturalmente abertos.

— Então é assim?! – disse Anna quando a mais velha estava prestes a tocar na maçaneta – Você entra no meu quarto e nem sequer me dá um “bom dia”?

Elsa voltou-se para a mesma, sem compreender.

— Anna... Eu já pedi desculpas! – respondeu se defendendo.

— Tá! Eu já ouvi! Mas não é disso que eu estou falando!

— Já entendi... Você quer conversar... Tudo bem – falou sentando-se sobre a cama com recato, olhando a ruiva, tal qual uma mãe para uma filha – Então, diga, o que tanto a incomoda?

— Elsa, desde que você saiu da quarentena eu tenho tentado me unir a você de novo! Ser sua amiga como nós éramos quando crianças, lembra? Mas não importa o quanto eu tente você se afasta de mim! Eu tento me aproximar de você, mas você só me repele! Qual é o problema? – começaram a surgir lágrimas de seus olhos – Eu me sinto frustrada! Sinto saudades de você! Mesmo agora, aqui, bem na minha frente, sinto você distante! Como se não me quisesse por perto! Qual é o problema? Nossos pais se foram! Sé temos uma a outra! Você me odeia? – a platinada abriu a boca surpresa, arqueando as sobrancelhas com os olhos serenos – Se você me odeia, só me diga! E eu vou parar de incomodar você! – Anna terminou de falar baixando a cabeça e limpando os olhos com as costas alvas da mão fechada, escondendo o rosto vermelho e choroso.

Elsa lentamente estendeu a mão delicada para a irmã, até tocar em seu cabelo ruivo, acariciando-o.

— Ah Anna! – falou com o rosto triste e culpado, a mais nova continuou chorando enquanto lentamente olhava para a mais velha – Eu sinto muito por você se sentir assim! Mas eu não odeio você! Eu te amo! Tanto que você nem imagina! Eu peço desculpas por não conseguir demonstrar isso da maneira que você merece, mas eu nunca, jamais odiei você, e quero que tire essa ideia da cabeça!

A ruiva agarrou a mão da platinada que se encontrava em sua bochecha quente e macia. Ainda chorando, sentido o toque da irmã depois de tantos anos.

— Aconteceram tantas coisas comigo... Eu nunca mais pude tocar ninguém que amava, nem você, nem o papai, nem a mamãe, acho que com o passar do tempo eu acabei não notando como isso afetava vocês – falava agora o rosto mortiço e frio, como se estivesse entorpecida pelas emoções, e agora fazia força para tentar alcançar a irmã – Eu lamento, eu sei que a culpa é minha, e sinceramente, não tenho certeza se consigo mudar isso – falou tirando a mão do rosto da mais nova, fazendo Anna arregalar os olhos, assustada e insatisfeita.

Elsa levantou-se da cama, caminhando até a porta com a mala.

— Me perdoa Anna! – falou olhando-a de cima, segurando a maçaneta dourada e redonda, com linhas úmidas em seu triste rosto alvo – A culpa é toda minha!

Logo depois saiu rapidamente, quase gemendo. Anna tentou chama-la, mas já era tarde demais, e ficou ali no quarto, em silêncio, iluminada pela luz dourada do abajur, sentada sobre a cama macia, as mãos estendidas para frente, buscando quem agora estava longe dela. Ficando insatisfeita e solitária.

Elsa caminhou pela casa enquanto enxugava os olhos, atirou sua mala no quarto em sua cama e decidiu sair um pouco de quartos escuros, havia perdido a vontade de ler.

Caminhou para a cozinha, que estava mais bem iluminada, onde estava Rapunzel fazendo sua refeição.

— Oi prima – falou enquanto procurava algo na geladeira.

— Oi – respondeu a loira enquanto terminava de mastigar seu café da manhã, notou o olhar triste da prima, mais triste do que o habitual, e notou também o rosto vermelho da mesma – Você está bem?

— Estou! – falou um tanto instável, logo depois fechou a porta da geladeira e suspirou pondo as mãos sobre o rosto, andando até ficar ao lado da alemã.

— Tem certeza?

Ainda com as mãos alvas e delicadas sobre os olhos, a platinada suspirou.

— Não.

— O que aconteceu?

— Conversei com a Anna.

— E o que tem de ruim nisso?

— Ela está chateada comigo, e com toda razão.

— Por que diz isso?

— Eu a deixei sozinha nos últimos anos, e agora que estou livre continuo deixando ela sozinha. Ela acha que eu a odeio. Eu sou uma péssima irmã.

— Elsa, você não tem culpa de nada! Você não adoeceu porque quis, e nem tinha como saber que iria ficar de quarentena por tanto tempo! Você é a irmã dela! Você a ama, e só fez o que fez pelo bem dela! E dos seus pais! Isso devia ser o suficiente!

— Mas não é! – respondeu Elsa olhando-a com o rosto entre a serenidade e a culpa – Eu falhei como irmã! A culpa é toda minha, e a Anna tem o direito de se sentir assim. Nossos pais se foram há anos, eu sou a única pessoa com quem ela deve contar, mas nesse sentido eu não sou confiável para ela. Anna merece coisa melhor como irmã.

— Elsa, pare com isso! Anna a ama, qualquer um nota isso! Se culpar não vai fazer ela se sentir melhor e nem você! Por que só não para de se culpar e tenta fazer algo a respeito?

A norueguesa a olhou sorrindo, embora seus olhos ainda manifestassem tristeza.

— Vou pegar um copo de leite pra você! – disse a germânica indo até a geladeira.

Voltou colocando dois copos altos e finos de vidro sobre a mesa de madeira, encheu-os com o leite frio e ofereceu um para a mais velha.

Elsa pegou e bebeu um pouquinho, logo surgindo um pequeno bigode de leite em sua face, enxugando o rosto um instante depois.

— Mas, e você? – perguntou Elsa – Como está com... O seu problema?

— Eu?! Estou bem, na verdade, tenho estado muito bem morando aqui – falou respirando fundo e olhando o frio casarão belo de madeira velha – Meu psicólogo me recomendou sair um pouquinho de casa e viver minhas próprias aventuras, e ele estava certo. A maior parte do tempo estou com Merida e os meninos, nessas horas eu sempre me esqueço de meus problemas, mas claro, ainda tenho algumas recaídas, quando estou sozinha por exemplo, mas pelo menos meus pesadelos diminuíram e tem momentos que eu esqueço do meu trauma de infância.

— Como você se sente? – perguntou Elsa com empatia nos olhos azuis e atentos.

— Sabe... Obviamente eu não vou me esquecer daquilo, é horrível, traumático e me atinge nos piores momentos, mas sinto que posso seguir em frente, e ser feliz... Mas e aí, mudando de assunto, e o Jack? Já falou com ele? Já pediu desculpas?

— Não... – respondeu da platinada – Pra ser sincera nem sei como fazer isso... Alias, se soubesse me desculparia com Anna por magoa-la. Mas enfim, sobre o Jack, como posso me desculpar com ele? Entro no quarto dele e peço desculpas? Falo com ele de relance?

Rapunzel sorriu balançando a cabeça, vendo graça na dificuldade social da prima.

— Que tal você tentar... – ia dizendo com um sorrindo no rosto, mas de repente, um barulho alto surgiu, interrompendo-a.

Olharam da direção onde ele vinha, e notaram um Merida furiosa, caminhando batendo o pé, indo até o sofá da sala, sentando carrancuda, cruzando os braços e as pernas. Logo constataram que o barulho que ouviram era a porta do quarto da ruiva batendo.

— O que aconteceu? – sussurrou Elsa para a prima.

— Quando ela fica assim normalmente é por causa da mãe – respondeu e foi pegar o leite na geladeira, pegou também outro copo alto – Você poderia por favor falar com ela? É que normalmente sou eu quem converso com ela sobre essas coisas, mas eu acabei de acordar e não estou pronta pra acolher a Merida agora. Aliás, assim você até conhece ela melhor.

— Pode deixar – respondeu a norueguesa pegando o copo de leite.

Elsa caminhou em silêncio até a escocesa, ofereceu-lhe o copo de leite frio enquanto curvava o corpo um pouco, mantendo um belo sorriso no rosto.

A celta se surpreendeu ao vê-la, aceitou o leite.

— Obrigada – disse pegando o copo.

A escandinava sentou-se ao lado de Merida, agora sorridente.

— O que aconteceu? – perguntou.

— Nada, só... – gemeu – Minha mãe! Me infernizando de novo!

— O que foi que ela fez?

— Ela me mandou voltar pra casa, sob a ameaça de que faria meu pai vir me buscar, mas nem isso ela soube fazer direito.

— Não?! – questionou a mais velha.

— Não! Primeiro porque eu conheço meu pai, e eu sei que ele não liga que eu não esteja em casa, ele sabe que eu sei me defender, ele no máximo sente saudades de mim. Segundo, meu pai nunca foi de me dar bronca, ele sempre foi muito desencanado, quando se trata de cumprir certas coisas, minha mãe o ajuda, eu nunca levei as broncas dele a sério porque minha mãe sempre tinha que sussurrar as coisas no ouvido dele. E terceiro, ela passou a ligação pro meu pai, e deu pra ouvir a voz dela falando pra ele o que devia falar comigo. Isso sem falar no fato de que eles nem sequer sabem onde eu estou, e nem tem como descobrir porque eu tirei aquele rastreador idiota do meu celular!

— Nossa... – comentou Elsa, tentando não rir – deve ser difícil.

— Argh! É horrível! Sabe como é ter uma pessoa monitorando cada passo seu e ainda por cima achar ruim que a gente não goste e se liberte?!

— Na verdade não.

— Como é o seu relacionamento com a sua mãe? – perguntou a ruiva, olhando a platinada, franzindo o cenho sobre os furiosos olhos azuis.

— Minha mãe já morreu – disse ela com maturidade e serenidade.

A fúria no rosto da mais nova se desfez no mesmo instante. Rapunzel olhou a conversa de longe.

— Ah... Me desculpe, eu não sabia...

— Não seja boba! Não se desculpe! Você não tinha como saber.

A escocesa olhou para baixo, agora com o rosto branco, depois voltou os olhos azuis para Elsa.

— Bom... E como era seu relacionamento com ela?

A norueguesa imediatamente franziu o cenho, tentando acessar suas memórias mais distantes. Merida bebeu do copo de leite enquanto a observava.

— Ela era muito inteligente, e muito bonita. As pessoas que a conheceram disseram que me pareço com ela. Eu me lembro que quando eu era criança, ela contava histórias pra mim e pra Anna. Fábulas escandinavas e outras bem populares. Me ensinou a ter cultura e buscar a virtude e o conhecimento. Sempre foi muito amorosa comigo e nunca levantou a mão pra me bater – uma pequena lágrima brotou de seus olhos imaculados de forma discreta – Sinto falta dela...

A ruiva lentamente ergueu a mão e tocou o ombro da escandinava, consolando-a, que a olhou enquanto enxugava os olhos e sorriu de leve.

— Ela partiu há muito tempo?

— Não. Faz mais ou menos cinco anos.

— Lamento.

— Obrigada.

— Sinceramente, queria ter uma mãe como a sua – falou tentando descontrair.

— Ela é tão ruim assim?

— Fala sério! Ela só quer me fazer estudar, estudar, estudar sobre um monte de coisas que sinceramente eu não estou nem aí! Tudo pra gerenciar a empresa da família no futuro.

— Os estudos são importantes Merida – disse Elsa olhando-a com ternura.

— Olha só! Parece que agora eu ganhei outra mãe! – disse ela brincando – Ou uma irmã mais velha... Mas se bem que eu sempre quis uma irmã mais velha mesmo...

A norueguesa riu.

— Se você disser que também sempre quis uma irmã caçula, eu prometo que não vou dizer nada pra Anna! – disse a cacheada sorrindo, alegre ao ver a platinada rir.

Elsa novamente soltou uma risada. A celta a olhou sorrindo. Ambas de repente se olharam, alegres e em paz.

— Sabe... Eu não gosto muito de ficar com ela. Nunca é divertido... Não que eu não reconheça a importância dos meus deveres de manter uma empresa e o emprego de muitas pessoas, mas sabe quando você está sobrecarregada de tantas coisas e só quer parar um pouco para se divertir e relaxar?

— Sei como é estar tão sobrecarregada – disse a platinada.

A loira seguia observando o diálogo, alegre, sua prima finalmente estava desabrochando socialmente.

— É assim que eu me sinto.

— Bem... – disse Elsa – Só te dou uma dica, relaxe, se divirta, mas aprecie sua mãe enquanto é tempo, apesar de tudo ela com certeza te ama, e não estará aqui para sempre. Nem todos tem a mãe por perto... Eu sinto muita falta da minha... É assim que eu me sinto.

As duas belas moças se olhavam com empatia sobre o sofá. Merida aprendia com a mais velha. Elsa se encantava com a personalidade da mais nova, enxergava muito de Anna naquela escocesa.

De repente, Soluço saiu do quarto, caminhando também em direção ao sofá. A ruiva foi para a cozinha lavar o copo.

O norueguês sentou-se ao lado da conterrânea, a uma distância respeitável. Seu rosto estava perturbado e seu espírito abalado. Sua mão jovem jazia na face infeliz enquanto um longo suspiro entorpecido de desgosto saía de sua boca.

Elsa olhou dele à prima que seguia a observando, atrás da alemã, a escocesa lavava o copo. Rapunzel fez um leve gesto com a cabeça, estimulando a platinada a conversar com seu colega escandinavo.

— Tudo bem Soluço? – perguntou com seu recato habitual.

— Eu nunca estou bem! Mas agradeço pela preocupação.

A escandinava sorriu diante do sarcasmo do mais novo.

— O que aconteceu?

— Meu pai ligou pra mim agora a pouco.

A platinada olhou do rapaz ao seu lado para a ruiva na cozinha, que agora também a observava.

— E o que ele falou?

— Nem eu entendi o que ele queria dizer... Só sei que ele não está feliz comigo.

— E por que você acha isso?

— Ele me disse que eu não era filho dele.

Elsa arqueou as sobrancelhas e arregalou os olhos.

— Nossa! Que cruel! Por que ele disse isso?

— Eu sou a decepção da família. Eu poderia dizer que sou a ovelha negra, mas isso seria uma ofensa às ovelhas – a norueguesa sorriu novamente.

— Por que você acha isso?

— Minha família é dona da Berk Winter. Meu pai acabou de me ligar dizendo que ele tinha mais esperanças em mim do que no meu irmão mais velho. Queria que eu gerenciasse a empresa da família quando crescesse, mas que no rumo que eu estou indo, só tenho decepcionado ele e passo bem longe de ser a opção ideal. Estranho... Sempre achei que meu pai queria me deixar longe dos negócios da família, mas quer me transformar em chefe... Eu acho que se isso fosse um filme este seria um belo Plot Twist.

— Eu sei como você se sente Soluço. Eu também vou herdar a empresa da minha família daqui a alguns dias. É muita pressão mesmo.

Os olhos verdes de Soluço voltaram-se para a moça de olhos azuis.

— Mas passei a vida inteira estudando para que eu cuidasse dos negócios da família.

— E seus pais não incomodam você com isso?

— Não – respondeu sorrindo – Eles eram bem gentis comigo nesse quesito.

— “Eram” ?! – Soluço arqueou uma sobrancelha.

Elsa notou a inteligência dele no mesmo instante.

— Sim, eles já morreram – disse com serenidade.

Merida, na cozinha, ao lado de Rapunzel, observava-os, no instante que ouviu aquilo, deu um sobressalto e seus olhos azuis se arregalaram.

— Lamento – disse o rapaz baixando os olhos e a cabeça.

— Tá tudo bem...

— Mas como era seu relacionamento com seu pai?

— Ele era meu cavaleiro de armadura dourada – comentou sorrindo, com um brilho nostálgico em seus olhos claros – Era sereno, paciente, bonito, inteligente... Dizem que puxei algumas virtudes dele. Acho que vocês teriam se gostado se tivessem se conhecido...

— Legal – disse o mais novo sorrindo – Pra mim meu pai está mais pra um Cavaleiro do Apocalipse.

A platinada riu levando os dedos delicados aos lábios róseos. O castanho sorriu ao ver a reação da conterrânea.

— Qual deles? – perguntou sorrindo.

— O da Guerra, eu acho, até porque ele também é um herói de guerra.

— Sério?!

— É sim. Chamam ele de Stoico, o Imenso.

— Espera, eu já ouvi esse nome – disse Elsa, franzindo o cenho – Acho que também já vi seu pai na televisão. Um homem alto, forte, ruivo.

— Sim! – Soluço falou balançando a cabeça, não lhe surpreendia que alguém conhecesse seu pai.

— Meu pai o conheceu!

— Jura?! – perguntou o mais novo sorrindo e franzindo o cenho.

— Talvez também o tenha conhecido. O nome dele era Agnarr.

— Desculpe, talvez eu já o tenha visto, mas não lembro. É que meu pai sempre foi visitado por muitas pessoas então...

Ela baixou o olhar, um pequeno sorriso surgiu em seu rosto, logo depois sumindo, tristemente.

O rapaz notou a tristeza da mais velha.

— Você sente falta dele não é?

— Claro... Ele, junto da minha mãe... Foram os melhores pais que eu poderia pedir à Deus. Sinto falta dele. Admiro muito ele.

Soluço sorriu de cabeça baixa e coluna curvada. Decidiu compartilhar algo.

— Sabe, apesar de tudo, eu também admiro meu pai – Elsa ergueu o olhar, surpresa – Ele pode ser insuportável, mas salvou meu padrinho de uma batalha com toda coragem do mundo, e nunca vi alguém saber liderar tão bem quanto ele, nem conheci alguém que se importa tanto com o próximo quanto ele... Às vezes temo nunca ter as virtudes do meu pai...

A platinada olhou o mais novo, sorrindo sempre de leve, notando a inteligência e maturidade do conterrâneo.

— Você vai ter! – disse ela com gentil firmeza.

Os escandinavos se olharam com empatia, maduros e gentis.

De repente, Elsa notou que ainda estava com o copo de leite na mão, e o mesmo se encontrava vazio. Foi até a cozinha para lava-lo.

Enquanto ia até a pia, Merida e Rapunzel correram até Soluço. Sussurraram algumas coisas baixinho com o mesmo. A norueguesa começava a lavar o copo onde havia bebido.

Jack havia acordado, sua noite anterior não tivera sido muito agradável, apesar de tê-la passado junto de Soluço e Banguela, lendo mangás. Suou e se debateu sobre a cama a noite toda e agora se encontrava cansado. Tinha que se reconciliar com Elsa.

O russo saiu pela porta do quarto, caminhou depressa pelo corredor escuro, a face jovem manifestando perturbação. Usava suas habituais roupas largas e confortáveis. Procurou a escandinava enquanto caminhava e a notou assim que pôs o pé fora do corredor. Fora a primeira coisa que vira. Sua Afrodite lavando a louça, de costas involuntariamente para o mesmo.

— Elsa, queria conversar com você! – falou alto na sala, com um leve verniz de desespero.

Todos voltaram o olhar para ele, em silêncio. A norueguesa na hora se assustou, voltando-se para o mesmo, os olhos claros arregalados e assustados, as mãos limpas e molhadas apoiando-se na pia, os belos lábios róseos boquiabertos.

Jack notou a surpresa dela com certo arrependimento, mas logo depois notou os olhos dela moverem-se em outra direção. Lentamente o eslavo voltou-se para onde a mesma olhava e viu o que queria ter evitado.

Soluço, Merida e Rapunzel observava a ambos. Agora um sorriso inconveniente de deleite surgia na face dos três.

— Poderíamos... Conversar... À sós? – perguntou Jack, sem jeito, soando quase como um pedido de desculpas.

— Jack... – disse ela com maturidade – Se for por causa de ontem... Tá tudo bem... Vamos esquecer aquilo que tal?

O mais novo sentiu certa tranquilidade, mas sua perturbação não passava.

No mesmo instante a loira na sala franziu o cenho, não gostando da atitude da prima.

— Elsa! – chamou a alemã, todos voltaram-se para ela – Seja lá o que Jack quer falar com você, certamente é importante, e acho que seria elegante da sua parte ouvir o que ele tem a dizer.

A norueguesa olhou a prima com raiva, misturada a uma súplica transmitida pelo olhar: “Por favor, não me obrigue a passar por isso!”.

Rapunzel respondeu com um olhar punitivo: “Ah, vou obrigar sim!”.

— Afinal de contas, conhecendo Jack, sei que ele não pediria para falar com você à sós se não fosse algo importante. Algo que talvez esteja se coçando para falar com você. Talvez até algo que o esteja deixando magoado e que talvez você queira ouvir e tenha algo para dizer à ele também.

As micro expressões da platinada só era perceptível à alemã, e ela mostrava furiosa diante dos argumentos apelativos da mais nova. Os olhos azuis e furiosos da escandinava diziam: “Tudo bem! Você venceu!”.

— Tudo bem Jack – disse Elsa depois de um suspiro – Onde tem um lugar onde teremos privacidade para conversar?

No mesmo instante a germânica voltou-se para Soluço e Merida, que olhavam o casal platinado, distante um do outro, mas com uma tensão palpável no ar entre ambos. Rapunzel logo notou que não haveria privacidade para a prima e o amigo naquela casa.

— Elsa escuta! – chamou ela, novamente, todos voltaram-se para a mesma – Eu estava planejando levar você para conhecer a Praça de São Miguel, aquela que eu te falei que ia com minha mãe quando era criança. Mas eu ainda vou desenhar com o Soluço, treinar com a Merida e a Anna costuma dormir até tarde, e já que Jack quer falar a sós com você. E já que sinceramente eu acho que não vão ter privacidade aqui – falou fazendo um breve gesto aos amigos que estavam no sofá com ela, que a olhavam maliciosamente sorridentes, vendo graça naquilo – Vai com ele na frente, que depois, Anna, Merida, Soluço e eu encontramos vocês lá. Aí o Jack te apresenta o lugar. Você levaria ela até lá Jack?

— Hã?! Claro! Apresento sim – falou sem manifestar alegria, mas por dentro se sentia imensamente melhor.

A escandinava a olhou totalmente desagradada, com o semblante fechado, os olhos frios mortiços e desanimados.

— Eu já vou me arrumar pra sair Jack – disse caminhando em direção ao quarto sem empolgação.

— Tá bem – disse com o rosto inexpressivo, descomprazido ao notar a frieza da moça – Eu também já vou me arrumar.

Os demais os olharam caminhando para rumos diferentes e em silêncio, com frieza, mas estavam curiosos e interessados naquela situação.

Dentro de alguns minutos, Elsa saiu caminhando e usando um casaco branco com adereços em azul claro, botões fechados e um belo laço no peito. A roupa terminava próxima aos joelhos, usava uma calça jeans escura e belas botas pretas. Seus cabelos brancos estavam presos e seus olhos, junto a sua face, permaneciam frios e insensíveis.

Jack também saiu do quarto, usava um casaco com capuz com pelos azul escuro, também usava calça jeans escura com botas pretas. Os demais os observaram caminhar até ficarem frente a frente, a mais velha olhando o russo de cima, pois tinha mais altura.

A norueguesa o olhava com frieza nos olhos, enquanto o eslavo mantinha o olhar incomodado, quase que com um verniz de inocência.

— Vamos? – perguntou ela com frieza.

— Claro! – disse nervoso, mostrando a porta, caminhou para a mesma e abriu para ela, apresentando-lhe a saída, logo depois saindo junto, correndo pela mesma.

Do lado de fora, Elsa desceu as escadas sozinha, antes de Jack, incomodada com a situação, o mais novo teve que correr para caminhar ao lado da mesma. Sorriu brevemente e de lado para a platinada, mas ela não correspondeu, apenas virou a face, descontente, entristecendo o platinado.

De repente, enquanto caminhavam debaixo das nuvens sombrias e no meio do ar pálido e frio, o rapaz viu um táxi surgindo da neblina, chamou-o, abriu a porta para que a moça entrasse, indicou o destino e assim partiram juntos em direção ao mesmo.

Dentro da casa, Rapunzel observava a prima e o amigo partirem de táxi para a Praça de São Miguel. Seu cenho belo franzido e o olhar preocupado e temeroso, torcendo pelo melhor.

De repente, olhou para trás e viu Soluço e Merida, sentados no sofá, à distância um do outro, observando-a, também franzindo o cenho, com sorrisos maliciosos e olhares interessados.

— O que foi? – perguntou ela dando de ombros, quase rindo.

— Então... Jack e Elsa não é? Está empurrando ele pra cima da sua prima?! Cupido! – disse castanho enquanto a ruiva mandava beijinhos no ar.

— Não é bem isso! É só que eles estão com um problema e acho que os dois precisam conversar um pouquinho.

— Um probleminha de amor que só um certo Cupido loiro pode resolver? – perguntou a escocesa, ainda mantendo a malícia no rosto.

— Fala sério, o Jack já arrumou problema com a Elsa?!

— É o Jack! – disse a loira – Acha impossível? Mas dessa vez até que a culpa não é dele.

— Sério?! – questionou a cacheada.

— É, e é só até aqui que eu posso falar, aliás, não digam nada à Anna, até onde eu sei ela não sabe de nada, e por enquanto não precisa saber.

De repente, a norueguesa ruiva na casa também saiu do quarto esfregando os olhos sonolentos e fechados, os três se olharam e de repente cada um virou o rosto para um lado, disfarçando. Soluço e Merida continuaram sentados no sofá e Rapunzel foi para a cozinha.  Anna não notou nada.

Sonolenta, a escandinava caminhou para a cozinha, direto para a geladeira.

— Bom dia – falou para a prima da Alemanha.

— Bom dia! – respondeu a loira sorridente.

Pegou um pouco de comida e começou a preparar um sanduiche. Rapunzel de repente notou o rosto da prima, notando a carência de seu habitual semblante alegre.

— Você está bem? – perguntou preocupada.

— Estou... Só estou... Cansada...

— Jura? – perguntou mantendo a preocupação.

— Não! – disse desabando no ombro da prima a chorar, mas chorava baixinho, e como Soluço havia ligado a televisão, nem ele nem Merida a escutavam.

— O que aconteceu? – perguntou a loira, sussurrando, consolando-a.

— Elsa e eu discutimos! – falou enxugando as lágrimas.

— Ela me falou... Como você está?

— Ah, Punzie! Você não sabe o que é isso! Minha irmã e eu já tivemos uma relação amigável, saudável e feliz! Mas hoje isso é só uma memória distante! Eu achava que quando tudo acabasse as coisas voltariam a ser como era quando éramos crianças! Mas eu estava errada!

— Anna...

— Eu sinto falta da minha irmã! Eu amo ela, mas não consigo me aproximar dela!

— Anna... A Elsa ama você, e ela sabe disso. Você sabe disso. Talvez ela só precise de um tempo.

— Você acha?

— Acho. Sabe... Quando criança ela teve que se isolar das pessoas, durante muito tempo ela não soube como era o calor do toque humano, chegou até a se esquecer dele. Ela saiu há pouco tempo da quarentena. Talvez precise voltar a se adaptar à... Viver em sociedade de novo.

— É... – disse enxugando uma lágrima, sorrindo e olhando para o lado e para o chão – Talvez tenha razão, talvez eu esteja forçando muito ela...

— Sim... Mas ainda assim, a Elsa tem responsabilidades com você. Ela se lembra das responsabilidades para com os negócios da família, mas não pode se esquecer das responsabilidades para com a própria família, e as pessoas em volta.

— Obrigada Punzie! – falou se recompondo enquanto terminava de enxugar suas lágrimas – Mas e você? Como você está? Tem gostado de morar aqui?

— Sim! Tenho adorado. O Jack, a Merida e o Soluço são muito legais. Me tratam super bem e são muito divertidos. Sabe, lá em casa não é muito legal. Tem o papai e a mamãe, e eu tenho muitas coisas pra fazer, mas é chato porque passo maior parte do tempo sozinha e meus pais não conseguem gostar das mesmas coisas que eu. Então costuma ser bem solitário, acho que sabe bem o que é isso...

— Eu sei sim.

— Mas aqui não, aqui eu posso fazer muitas coisas, conversar sobre muitas coisas, livros, minhas pinturas, os desenhos que eu gosto, e posso falar sobre coisas que eu nem sabia que gostava de falar. Sabe... Pensando no meu passado, eu me sinto um pouco solitária, mas aqui é diferente.

— Bem... Que bom que encontrou amigos para lhe fazer companhia. Eu ainda me sinto bem solitária porque a Elsa não consegue ficar comigo...

Enquanto conversavam, Merida e Soluço seguiam assistindo. Quando de repente, ambos se levantaram ao mesmo tempo.

— Aonde você vai? – perguntou a escocesa de pé, olhando-o de cima.

— Ao banheiro, e você?

— Ao banheiro também.

Se olharam por um instante em silêncio, estáticos, mas um segundo depois tiveram uma reação rápida e abrupta, começando a correr em direção ao seu objetivo, competindo.

A ruiva era uma atleta, então naturalmente corria mais rápido, contudo, acabou pisando em um tapete no piso de madeira escorregadio, e acabou caindo. Assim o escandinavo acabou chegando ao mesmo antes da celta.

Merida correu até o banheiro batendo na porta.

— Soluço! Abre essa porta! Não é justo! Eu ia entrar primeiro! E quanto ao ditado de primeiro as damas?!

— Dá um tempo, eu nem queria sair correndo pro banheiro, você que veio com essa ideia boba de competir por tudo! E levando em consideração o fato de que você é mais atlética do que eu, a competição foi injusta pra mim e mesmo assim eu venci, então eu tenho o direito de usar o banheiro antes!

— Miserável! – praguejou agredindo a porta do banheiro – É melhor não demorar viu! Se não eu arrombo a porta do banheiro que nem você fez comigo aquela vez!

— Eu já falei que aquilo não foi de propósito! E se eu fosse você eu não ficaria me incomodando no banheiro, eu ainda preciso escovar os dentes também e não é nada fácil fazer certas coisas no banheiro com alguém incomodando!

A escocesa saiu caminhando em silêncio, voltando para o sofá.

Rapunzel e Anna observavam a cena em silêncio, um instante depois voltaram a conversar.

— Se quiser eu te empresto meus amigos – disse a loira gesticulando para o casal com a face.

A norueguesa sorriu, voltando-se para eles. A alemã voltou para o quarto.

A escandinava caminhou pelo chão frio até chegar à Merida.

— Oi! – disse Anna se sentando à esquerda da outra ruiva.

— Oi! – respondeu olhando-a de relance e logo depois voltando o olhar para a televisão.

— O que foi isso? – perguntou sorridente.

— Nada! Foi só uma brincadeira...

— Ele já arrombou a porta do banheiro com você dentro?

— Foi só um acidente... Não vamos falar sobre isso, que tal?

— Tudo bem! – disse voltando-se para o programa que a escocesa assistia.

Lentamente a cacheada voltava o rosto para a norueguesa ao lado. Notando um estranho tom avermelhado em seus olhos azuis.

— Você está bem? – perguntou um tanto preocupada.

— Estou... Por quê?

— Seus olhos estão um pouquinho vermelhos.

— Ah! Isso? Foi só uma leve desavença familiar...

Merida pegou rapidamente o controle e colocou a televisão no mudo. Aquele assunto por alguma razão a sensibilizava.

— O que foi?

— Nada... Eu só discuti com a Elsa.

— Por quê?

— É que... A Elsa e eu não somos muito próximas. E eu queria me aproximar dela.

— Ah, sei bem como é ter um problema familiar em casa.

— Você também passa por isso?

— O tempo todo! Minha mãe vive me atormentando.

— Sério?!

— É! Eu só queria cuidar da minha vida em paz, mas isso infelizmente não é possível com ela por perto. Ela é muito autoritária.

— Bem. Meu problema com a minha irmã é que nós duas passamos muito tempo longe uma da outra, e agora, não conseguimos nos aproximar.

— Por que passaram tanto tempo longe uma da outra?

— Minha irmã não quer que eu fale sobre isso – falou passando a mão delicada nos cabelos vermelhos – Então só vou dizer que aconteceu algo com ela que a fez se isolar do mundo desde a infância até algumas semanas atrás. E por isso nos afastamos muito.

No momento, a escocesa se recordou do falecimento dos pais de Elsa, que também eram os pais de Anna. Se compadeceu novamente.

— Nossa... Lamento, deve ter sido bem solitário por todo esse tempo.

— Foi solitário – disse se lamentando.

— A Elsa me falou do que houve com os pais de vocês duas. Imagino como deve ter sido difícil.

— Ah, ela contou?!

— Quem foi que criou vocês por todo esse tempo?

— Nossos empregados e professores – disse e logo suspirou tristemente – Mas nenhum deles nunca se tornou íntimo da gente.

— Nossa... Nem sei o que dizer. Sabe, também é solitário lá em casa, mas nem tanto assim.

— Como é na sua casa?

— Bem, meu pai trabalha muito e passa muito tempo fora. Minha mãe é quem me cria e me educa pra gerir os negócios da família no futuro. Eu passo a maioria dos meus dias com ela e eu nunca posso fazer nada. Às vezes queria ter irmãos para ver se ela me deixava em paz. Dá até uma certa inveja de você, quem sabe se eu fosse a filha caçula dos meus pais eu não tivesse mais liberdade.

— Mas você não tem nenhum tempo livre?

— Raras vezes. Na maioria das vezes somos só ela e eu. Ela gosta de coisas que eu odeio, ela odeia as coisas que eu gosto e no final nem sequer temos o que conversar, e nós passamos muito tempo juntas... Sabe como é conviver com uma pessoa com quem você não se dá nada bem, e por isso não dá pra fazer nada de divertido com ela? Pelo menos você não tinha ninguém assim pra ficar te atormentando. Por isso que eu vim pra cá. Também é terrivelmente solitário, e desgostoso... – disse com tristeza nos olhos azuis.

Ambas se olharam com os olhos tristes e abatidos, em silêncio. Não tinham muito mais o que conversar.

De repente, ouviu-se o som da porta do banheiro se abrindo. Soluço saía do mesmo, Merida viu aquilo e lentamente se levantou do sofá.

— Eu já volto.

Ela e o castanho se encontraram no meio do caminho, a escocesa ergueu a mão como se fosse bater no mais novo, mas ele recuou bruscamente assustado protegendo o rosto. Ambos seguiram seu caminho, a ruiva entrando no banheiro, o norueguês sentando-se ao lado da conterrânea.

— Oi Anna – falou quando sentou – Por que a televisão está no mudo? – perguntou ativando o som da mesma.

— Merida e eu estávamos conversando – respondeu com naturalidade.

— Ah... Quando ela voltar eu coloco no mudo de volta.

A ruiva sorriu enquanto brincava com os dedos.

— E aí, quer assistir alguma coisa? Um anime romântico?

— Não... Pode assistir o que você quiser. Eu só vou ficar aqui sentada observando.

— Está bem, mas caso mude de ideia é só dizer.

— Obrigada.

Passaram-se alguns segundos em silêncio, os escandinavos assistindo à televisão com o olhar sereno e distraído, iluminados pela luz do aparelho. De repente, uma dúvida surgiu à mente da moça.

— Soluço, posso fazer uma pergunta?

— Pode – respondeu naturalmente.

— Por que está aqui nessa casa?

Os olhos verdes do garoto se arregalaram, ele voltou-se para a ruiva surpreso e imediatamente também vetou o volume da televisão.

— Bem... Eu estou evitando meu pai.

— Por quê?

— Porque a paz do mundo depende disso.

Ela novamente riu e disse: “Jura?!”.

— Do meu mundo sim.

 Riu de novo.

— Posso perguntar o que aconteceu?

— Bem... Meu pai é dono da Berk Winter, eu acho que deve saber de quem eu estou falando.

De olhos arregalados, Anna disse: “Seu pai é...”.

— Sim, meu pai é Stoico, o Imenso – falou tentando pular a parte clichê onde as pessoas se impressionam com a identidade de seu pai – Enfim, ele quer que eu não apenas participe dos negócios da família como também quer que eu os gerencie, mas acha que eu nem de longe tenho sido o filho ideal pra isso.

— Por quê?

— Digamos que eu não tenho certos talentos que ele julga serem necessários para desempenhar essa tarefa, como conhecimento desses assuntos, capacidade de liderar e me importar com os outros.

— E você têm?

O mais novo a olhou de relance e imediatamente balançou a cabeça baixa enquanto fazia um sorriso discreto.

— Não, acho que não. Mas ainda assim, ele disse que confia mais em mim do que no meu irmão para fazer isso.

— Bem... Isso não seria problema em casa, papai e mamãe confiavam em nós duas para gerir os negócios da família, mas ainda bem que a Elsa é madura e responsável para assumir a liderança.

No mesmo instante, o comportamento frívolo da norueguesa platinada para com Jack veio à mente de Soluço.

— A Elsa sempre foi daquele jeito?

— Que jeito?

— Fria.

— Sim e não – disse com ar de confusão.

O mais novo riu: “Como assim?!”.

— Por favor, não pense mal da Elsa, ela já passou por muita coisa, se ela de alguma forma e por algum motivo chegar a deixar alguém aqui magoado, saiba que não é de propósito!

— Ela costuma deixar você magoada? – perguntou ele franzindo o cenho.

Anna arregalou os olhos, não queria que algo assim escapasse.

— Não! Quero dizer... – suspirou de olhos fechados, decidindo dizer a verdade – Ela me magoou agora de manhã, eu disse à ela que sentia que ela me odiava e ela saiu me deixando sozinha, chateada, me fazendo sentir culpara por ela ter chorado... Mas sabe, eu acredito que não devo me sentir mal por dizer à ela que não me sinto bem. Então... Respondendo à sua pergunta, sim, ela me deixa magoada. E pra ser sincera isso não é de agora... Mas eu sei o que ela passou, ela se isolou do mundo por quase uma década – Soluço abria a boca para perguntar, mas a ruiva continuou – Por favor, não me pergunte o porquê, é uma coisa muito pessoal! – suspirou novamente, com o olhar baixo, mas depois sorriu para o mesmo e concluiu – Sim! Ela me deixa magoada de vez em quando.

O castanho a olhava com os olhos verdes tristes e sem empolgação. Suspirou também e logo depois falou: “Meu pai pode até me querer gerindo a empresa, mas ele tem mais orgulho do meu irmão do que de mim. Tem vezes que ele chega até a me dizer que eu não sou filho dele. Sabe... Isso também magoa muito, eu sei como é ter um membro da sua família que faz você se sentir assim...”.

Anna o olhou com empatia nos brilhantes olhos azuis. Lentamente, sua mão tocou o ombro do mais, em um singelo ato de consolo. Soluço a olhou surpreso, logo depois ficou sorriu para ela, que retribuiu com outro sorriso. Assim os conterrâneos ficaram por alguns instantes.

— Soluço, eu acho que meu sono voltou, fala pra Merida que eu voltei pro quarto – falou se levantando.

— Está bem! Bons sonhos!

— Obrigada!

A ruiva caminhou até a porta de seu quarto, Soluço a acompanhou com os olhos de forma inocente, Anna sorriu gentilmente para ele antes de fechar a porta.

Jack e Elsa chegavam na grande e bela Praça de São Miguel, caminhando no lindo chão de pedra com as botas limpas, deixando para trás o táxi que os levava.

A escandinava olhava surpresa e admirada, para cima e para os lados, testemunhando a beleza local. As grandes e majestosas árvores distantes, o chão de pedra bem feito e enfeitado, alguns lugares onde haveria grama em outras estações do ano agora estavam cheias de neve, as pontes de pedra, os lagos frios, os belos postes de luz com decorações de natal, as várias lojas que haviam por lá, junto de algumas belas construções de arquitetura gótica, todas cobertas pela neve fria e imaculada.

O casal caminhava debaixo do vasto céu cinzento, na calçada cujo gelo havia sido retirado pelos funcionários do local, seguiam em silêncio, sem sequer virar a face, o ar de ambos virando neblina, a neve voltando a cair fina e lenta.

Na entrada da Praça, havia uma espécie de palco de pedra, com traços evidentemente vindos da arquitetura gótica. Era redondo, com um teto majestoso e pontudo, tal qual um castelo de um conto, com várias colunas uniformemente espaçadas o sustentando e sem paredes que seguravam os ventos, apenas peitoris cinzentos.

Perto do palco, havia uma bela escultura de São Miguel Arcanjo em um pedestal, ambos de pedra cinzenta, com a aparência que indicava a influência gótica na obra, cobertos pela neve. O rosto angelical do mesmo olhando serenamente para baixo, as vastas asas estendidas, o corpo forte vestindo uma bela roupa de combate, na mão direita uma espada justa e na esquerda uma balança sincera, e abaixo de seus pés celestiais a figura de um demônio nefasto em meio à própria ruina, lamentando a derrota para o Príncipe da Milícia Celeste.

Os olhos azuis e serenos de Elsa observaram a beleza e a imponência daquele lugar, chegou a sentir-se intimidada.

— Essa praça foi construída pelas autoridades religiosas há muitos anos atrás, por isso você pode notar uma forte influência da arquitetura gótica quase nela toda, frequentemente eles vem e consertam algumas coisas que possam vir a quebrar, então esse lugar é sempre muito bonito. Rapunzel tem bom gosto, isso eu não posso negar – disse o russo.

A norueguesa seguiu em silêncio, sem empolgação para conversar, o mais novo se incomodou novamente com a situação, então decidiu ser direto e sincero.

— Elsa, escuta, ontem à noite – ela voltou o olhar discreto para o mesmo, oferecendo-lhe a digna atenção – Se eu de algum jeito ofendi ou incomodei você, me desculpa, essa não foi minha intenção. Eu sinto muito. Queria que me perdoasse.

Elsa sorriu de lado para o mesmo, que não compreendeu.

— A Rapunzel ficou zangada com o jeito que eu falei com você ontem, disse que eu fui grossa. Acho que ela tem razão. Sinto que também te devo desculpas.

O eslavo olhou surpreso.

— Na verdade, acho que você não me deve desculpa nenhuma, eu que fui grossa com você. Você só foi... Inconveniente – Jack sorriu – Sem ofensas.

— Não. Tudo bem, já me chamaram de coisa pior – falou sorrindo.

Ambos se olharam nos olhos novamente debaixo do céu pálido e no meio da neve. Os olhos azuis entrelaçados, as faces alvas com frieza, compartilhavam as desculpas e aceitavam o pedido um do outro, havia sinceridade no olhar de ambos, mas aquilo não despertava nada maior.

Jack olhou para cima, viu a neve caindo, como se só percebesse ela no momento, já que ela não o incomodava, mas talvez incomodasse a mais velha.

— Quer subir no palco? – perguntou apontando para o mesmo.

— Claro! – aceitou.

Foram até a escada de pedra e adentraram o mesmo com naturalidade. Haviam singelos bancos de madeira escurecidos pelo tempo nos cantos do palco. Sentaram-se em um deles, em um lado onde a neve não os alcançaria, o russo sempre se preocupando em não chegar perto demais dela.

Seguiram-se alguns instantes em silêncio. O rosto frio da moça estando distraído, mas agora confortável, apesar da presença de Jack. O platinado se sentia da mesma forma, mas sua face expressava certo incômodo, pois o silêncio da situação começava a ultrapassar os limites daquilo que seria suportável para ele, ainda mais estando perto de alguém que tanto lhe despertava interesse.

— Posso te fazer uma pergunta? – perguntou o mais novo.

— Isso já é uma pergunta.

— Posso te fazer mais duas perguntas?

— Isso... – notou o argumento no último segundo, baixou o rosto, sorrindo – Boa. Pode sim.

— Por que você age assim? Eu já vi você sorrindo para a Merida, a Rapunzel, até o Soluço, mas ainda assim, eu sinto uma tristeza muito grande vir de você, parece sempre tão distante e... Isolada dos outros. Senti isso quando vi você tocando piano, quando você gritou comigo, até agora...

Ela abaixou a cabeça, brincou com os dedos alvos e delicados, forçando um belo sorriso.

— Perdoe-me – sua face mudou várias vezes no mesmo instante, como se deliberasse consigo mesma sobre o que devia fazer naquele momento, terminou sorrindo novamente, baixando a cabeça, descontentada consigo mesma, Jack a observava confuso – Droga! – sussurrou – A Rapunzel quis fazer eu me sentir culpada pelo jeito que eu tratei você, e ela conseguiu fazer isso. Acho que vou fazer isso como um pedido de desculpas mais sólido e que convença a mim também, eu acho que vou contar a você o porquê de eu ter tratado você daquele jeito, o porquê de você sentir essas sensações estranhas vindo de mim.

— Elsa, não precisa fazer isso se não quiser...

— Não! – interrompeu – Jack! Eu quero! Eu... Eu sinto que preciso fazer isso. Acho que guardar isso no meu peito está me matando por dentro!

O mais novo se ajeitou na cadeira, o rosto fechado e atencioso, disposto a oferecer-lhe sua digna atenção.

— Quando eu tinha oito anos, passei mal, meus pais me levaram para um médico e ele identificou em mim uma doença rara, e muito contagiosa – parou de contar, olhando o russo que a observava com atenção – Eu contei essa história para uma funcionária novata do hospital onde eu morava, esse foi o momento em que ela saltou para trás. Achei que faria isso também.

O platinado aproximou-se um centímetro dela, sorridente, fazendo-a sorrir também.

— O único lugar próximo da gente, onde eu encontraria tratamento era na Suécia, onde eu tive que viver de quarentena, recebendo tratamentos constantes e sem poder encostar nunca em ninguém, só nos médicos que estivessem usando aquelas roupas estranhas de astronauta.

— Por quanto tempo viveu assim?

— Tenho vinte e um anos, saí da quarentena há apenas algumas semanas.

Jack arregalou os olhos diante das informações.

— Nossa! Isso dá... – contou nos dedos por um segundo – Treze anos! Você passou treze anos isolada do mundo?! Sem poder encostar em ninguém?! Isso é...

— Solitário – completou – Triste, infeliz – o rosto alvo de Elsa começou a se entristecer, de seus olhos azuis lágrimas de cristal começaram a surgir lentamente – Sabe... – enxugou o nariz, seus olhos ficavam vermelhos – Eu nunca pude ir à escola como qualquer criança normal, nem brincar com outras meninas e a minha irmã, nunca mais! Eu só queria ser uma pessoa normal e voltar a brincar com a Anna! Nós duas sempre amávamos brincar na neve! E por causa daquela doença eu não podia mais fazer isso. E ainda têm os meus pais!

— O que tem eles? – perguntou com olhos azuis empáticos e atenciosos.

Imediatamente Elsa se desabou a chorar, as mãos delicadas cobrindo os olhos. Jack aproximou-se mais dela na intenção de abraça-la como consolo, mas não sabia se devia encostar nela, então apenas tocou de leve no ombro da mesma.

Para sua surpresa, ao sentir o toque da mão do rapaz em seu ombro agasalhado, a escandinava jogou-se sobre o mesmo, gemendo e chorando, sua cabeça se apoiando no ombro magro e masculino. Assim, ele a abraçou o pescoço, lhe acariciando o ombro esquerdo.

Mechas do cabelo alvo da norueguesa perderam o recato sobre a face sofrida e vermelha. O eslavo a consolava com o triste rosto baixo, atento à história de sua Psique.

— Os meus pais me fizeram continuar estudando – disse em meio às lágrimas – Dizendo que quando eu saísse do isolamento eu devia saber ler, escrever e gerir os negócios da família. Mas eles diziam isso para me dar esperanças, já ouvi eles conversando e dizendo que não tinham esperança que eu sobrevivesse! Mas pra surpresa de todos eu estou aqui! Mas eles não estão!

O russo franziu o cenho, olhando-a ainda com o rosto baixo.

— Eles...

— Eles morreram há cinco anos em um acidente de carro. Estavam em sua limousine, mas estavam em meio a uma nevasca, e iam para um lugar distante, em uma estrada que não conheciam muito bem. O asfalto estava congelado, os pneus escorregaram e eles caíram de um penhasco, morreram na hora. Eu nem sequer pude ir ao velório deles! – chorou novamente, encolhendo-se no peito de Jack, o mesmo abraçando-lhe novamente, seu queixo jovem descansando sobre a cabeça da mesma.

— Ah, Jack! – falou enquanto sofria com o rosto vermelho – Eu nunca mais abracei a minha mãe! Nunca mais abracei o meu pai! Nem sequer pude me despedir deles, e agora que eu finalmente saí daquela condição, eles não estão mais aqui para eu poder abraça-los de novo!

Por um breve momento o rapaz ficou em silêncio, com a moça chorando em seu peito, sem saber o que fazer, até que se recordou dos ensinamentos de seus pais.

— E como você se sente? – perguntou quase sussurrando.

— Vazia! Como se houvesse um buraco escuro e frio no meu coração, consumindo minha alma! Solitária! Como se meu destino fosse a solidão eterna! Fria, como se não fosse mais permitida a existência de ternura, aconchego, calor e alegria na minha vida!

Seguiram-se alguns instantes assim, ambos em silêncio, Elsa agora abraçando o corpo magro de Jack, o mesmo lhe tocando a cabeça, consolando-a, com a neve branca e fria caindo ao redor do palco onde estavam. A norueguesa chorando e gemendo sem parar no peito do mais novo.

Lentamente, a escandinava se recompôs, enxugando as lágrimas e reavendo seu recato.

— Me perdoe por isso Jack! – disse ainda enxugando as lágrimas.

— Não! – disse ele fazendo um minúsculo sorriso, balançando a cabeça e olhando para baixo – Você não precisa se desculpar por isso Elsa! Eu quem peço desculpas por fazer você estar nessa situação...

— Não! Escuta, Jack, eu agradeço por esse momento, eu... Me sinto um pouquinho melhor...

— Que bom... – falou sorrindo novamente, um sorriso fraco.

Ambos lentamente voltaram o olhar para cima, decidindo ver a neve cair do céu pálido. Elsa agora um pouquinho sorridente, sentindo um alívio na alma, Jack incomodado com a situação, sem saber o que pensar. Lhe chamava atenção o quanto aquela moça sofria por dentro, e como ela lhe falou do seu drama de vida sem grandes hesitações. Sentiu que também devia compartilhar algo com ela, na verdade, queria fazer isso.

— Meu pai também faleceu...

Ela estava distraída quando ouviu, então foi pega de surpresa, olhou-o bruscamente.

— Ah! Eu lamento!

— Lamento pelos seus pais também! – disse olhando-a com um sorriso no rosto e com os olhos cansados.

Ela respondeu com outro sorriso silencioso enquanto franzia o cenho.

— Como aconteceu?

— Ele também morreu em um acidente de carro, estava voltando pra casa, quando de repente viu uma moça prestes a ser atropelada, ele salvou a vida dela, mas não conseguiu se salvar, e assim faleceu, junto com o motorista bêbado. A menina que ele salvou nem sequer apareceu no funeral dele. Ele já veio aqui comigo várias vezes, sempre brincando, fazíamos todo tipo de brincadeira quando nevava.

A escandinava ficou com o rosto triste. Viu o rapaz de cabeça baixa, a coluna curvada por baixo do agasalho, as mãos juntos entres as pernas separadas, o espírito abatido.

— E como você se sente? – perguntou, aprendendo com Jack.

Ele ergueu a face, surpreso, os olhos levemente arregalados, sentindo-se um pouco feliz, ninguém havia o perguntado aquilo tinha um bom tempo.

— O meu pai era o meu herói. Posso ser um idiota de vez em quando, mas se sei fazer algo de bom certamente foi porque ele me ensinou. Sinto falta dele, era o meu melhor amigo. Agora que ele se foi eu me sinto...

— Sozinho – completou Elsa.

Jack a olhou um tanto surpreso, notou nos olhos dela uma grande dose de empatia, sorriu de leve.

— Eu ainda tenho a minha mãe, mas não é a mesma coisa, até porque tem vezes que ela não tem interesse em criar vínculos comigo aparentemente. E também não consigo criar vínculos com ninguém na escola. Sabe... Eu me sinto frio por dentro, talvez até morto. Como um cadáver congelado ambulante. Tem vezes que eu nem sequer vejo graça ou sentido na vida. Parece que às vezes as pessoas não me veem, passando por mim, mas sem me notar, certas pessoas nem sequer viram o rosto pra me olhar, como se eu fosse invisível, intocável, como se eu nem existisse.

O rosto do russo estava triste, mas ele não iria chorar, não tinha vontade de fazer isso. A norueguesa notou a angústia do mais novo, levando sua mão alva até a dele que repousava sobre o joelho.

Ele a olhou um tanto assustado, e de repente, sem qualquer intenção, ambos se olharam nos olhos azuis.

Viram a alma um do outro naquele momento, e talvez não seria errado chamá-los de almas gêmeas, pois o que viram nos olhos azuis era uma dor infeliz e semelhante, um sofrimento em comum que embora tendo sido ocasionado por razões diferentes estavam no mesmo nível.

O rosto de ambos lentamente se aproximavam, os olhos brilhando, os lábios levemente boquiabertos e uma força abrupta os empurrando, mas de repente, Elsa caiu em si e conseguiu se desvencilhar daquilo.

— O seu relacionamento com a sua mãe é um pouco parecido com o meu e da Anna! – falou tentando mudar de assunto.

— Sério?! – falou Jack tentando cair em si novamente, fugindo de seus impulsos – Não parece!

— Mas é – respondeu a platinada, agora com a razão completamente reajustada e uma leve tristeza tendo surgido em sua face – Sabe, quando eu era pequena e estava de quarentena, Anna era muito nova para entender, então todos os dias ela batia na porta do meu quarto me chamando para brincar, e meus pais e eu explicávamos com frequência, mas ela simplesmente não entendia, repetidas vezes eu tinha que brigar com ela, manda-la embora, para que assim parasse de me chamar. Funcionava. Mas agora eu sinto que não consigo reaver com ela a relação que tínhamos.

— Mas você a ama, não ama?

— É a minha irmãzinha caçula! É claro que eu amo! Só que... Magoei ela demais, não sei se algum dia eu vou conseguir voltar a ser a amiga dela. Ela acha que eu não a amo, e eu não a julgo por isso. Ah Jack, mas eu a amo tanto!

— É coisa de irmão mais velho – disse sorrindo – Eu sei disso. Eu também tenho uma irmã caçula!

— Sério?! – falou sorrindo.

— É! Somos irmãos mais velhos, podemos até brigar, mas amamos nossos irmãozinhos, e fazemos sacrifícios por eles! Teve uma vez que eu e a Emma estávamos patinando no gelo, mas o gelo estava fino, eu consegui tirar ela, por um momento eu achei que o gelo ia quebrar e eu ia cair na água, mas graças à Deus aquilo não aconteceu. Quando voltamos pra casa, só estava aliviado por ter salvado minha irmã, só me dei conta de que podia ter morrido quando fui dormir naquela noite.

Elsa sorriu novamente, baixando a cabeça, notando que ela e aquele estranho garoto inconveniente tinham muito mais em comum do que pensava ser possível.

— Sabe Elsa, normalmente as pessoas me rejeitam, então eu nem sempre me atrevo a ficar com elas, mas a minha irmãzinha me inspira a tentar, talvez porque quem sabe existem outras pessoas como ela no mundo. Como ela e talvez como minha irmã mais velha.

A escandinava baixou o olhar, de repente ficou triste de novo.

— A minha irmã também me inspira Jack, às vezes eu olho a doçura e ingenuidade dela e acredito que talvez eu possa voltar no tempo, quando eu era criança e viver minha vida de novo, antes de adoecer. Mas aí a realidade me puxa e eu me dou conta de que o tempo não volta, e que eu me tornei uma pessoa muito fria e insensível pra voltar a brincar na neve com a minha irmã – olhou para o céu pálido e notou que havia parado de nevar, voltou o olhar infeliz para Jack que a observava perplexo – Nada que é bom dura pra sempre nesse mundo!

Ela se levantou lentamente, caminhou pela porta do palco, o rosto sofrido e baixo.

— Elsa! – chamou ele se levantando.

Mas ela não respondeu, deu apenas mais alguns passos até seus pés pisarem na neve fria, ficando sozinha e distante, com a cabeça baixa, se lamentando.

Atrás dela, a alguns metros de distância, ficou o eslavo, olhando-a de longe, preocupado, buscando ajuda-la, mas sem saber se devia se aproximar.

Alguns instantes se seguiram assim, ambos distantes e sobre a neve, Elsa se lamentando e Jack preocupado.

Aos poucos, ela se recompôs, recuperou o fôlego enquanto os ombros saltavam, e lentamente erguia a cabeça.

— Me desculpe por isso Jack... – falou, mas de repente foi interrompida, porque sentiu algo lhe acertar a cabeça pelas costas – Ai!

Se virou surpresa colocando a mão na cabeça, onde sentiu a neve fria em seus delicados dedos. Olhou o mais novo ao longe com os olhos azuis serenos. Não entendia o que estava acontecendo.

O russo estava curvado, as mãos enluvadas pegando um pouco de neve e formando uma esfera.

— O que foi isso? – perguntou confusa.

Mas ele não respondeu, apenas atirou outra bola de neve.

— Ai! – falou se encolhendo, tentando se proteger – O que está fazendo?

Ele continuou em silêncio, curvou-se novamente, pegando mais neve para formar outra bola. Novamente atirou.

Elsa protegeu o rosto.

— Jack, por que está fazendo isso?

O platinado seguiu em silêncio, fazendo a mesma coisa. Atirou outra bola de neve. Elsa permaneceu parada, apenas se encolhendo.

— Jack, para! – falou com tom maduro de seriedade, mas Jack não obedeceu.

Atirou de novo. Desta vez a mais velha não se encolheu, levando a bolada na barriga, a postura séria.

— Para! – exigiu.

Mas o russo apenas sorriu para ela e seguiu fazendo o mesmo.

— Eu disse “para”! – falou começando a se irritar.

Jack atirou outra vez.

— Para!

De novo. Um sorriso agora surgindo em sua face.

— Eu estou falando sério! Para com isso!

De novo.

Elsa se enfureceu, sua ira agora sendo notada pelo garoto que seguia sorrindo. Respirou fundo, até mesmo sua respiração estava hostil. Havia sido a gota d’água.

Imediatamente abandonou o recato e decidiu revidar, pegando um pouco de neve na mão e começando a fazer bolas de neve para se vingar.

Jack começou a rir alegre quando viu aquilo, recuou um pouquinho.

— Eu disse “para”! – falou enquanto atirava e o perseguia.

Assim começaram uma guerra de bolas de neve, Elsa perseguindo o russo, enquanto o mesmo fugia, rindo, o tempo todo ambos se abaixando, fazendo bolas de neve atirando na direção um do outro sem parar.

A mais velha de maneira não proposital acabou por começar a se divertir. A expressão angustiada de alguns minutos atrás tendo desaparecido.

De repente, a escandinava pegou uma bola de neve, pronta para atirar no garoto, mas o eslavo havia atirado uma antes, contudo, a norueguesa se abaixou no último segundo, desviando, e logo em seguida atirou outra, acertando-lhe em cheio a face jovem.

— Há! – disse ela comemorando, em alto tom de voz, agora sorrindo.

Jack segurou o nariz vermelho, também sorrindo e dando risadas, olhou-a e disse: “Ah, então é assim?! Isso não vai terminar assim.”.

— Jack não... – falou também sorridente, levantando as mãos femininas, tentando evitar o que estaria por vir.

Mas o russo começou a atirar várias bolas de neve na mesma, Elsa também atirava algumas, mas acabou acertada com neve diretamente no nariz.

— Ai! – disse quando levou a bolada, segurando o mesmo com o rosto baixo.

No mesmo instante, Jack parou de rir, começando a caminhar em direção a mesma no meio da neve branca e macia, preocupado.

— Desculpa, deixa eu ver, machucou? – falou indo até a mesma, buscando ajuda-la.

De repente, foi acertado no rosto com uma bola de neve a queima roupa, bem na mão da mais velha, pegando-o de surpresa, perdendo o equilíbrio e caindo com os olhos arregalados.

Elsa se afastou dele dando risadas. Havia acabado de perceber que aquela moça triste e fria na verdade era tão divertida quanto ele.

Imediatamente se levantou sorrindo e começou a persegui-la gritando: “Volta aqui! Isso não vai ficar assim!”.

Mas a escandinava fugiu do mesmo, dando risadas. Ambos correndo e rindo pela neve fria, feito duas crianças alegres e despreocupadas. As pessoas em volta olhavam aquilo, estranhando a alegria dos platinados.

De repente, o mais novo conseguiu alcança-la, segurava uma bola de neve, e de forma instintiva, muito mais com a intenção de se vingar em meio à brincadeira do que por qualquer outro motivo, segurou-lhe a mão para mantê-la perto, contudo, ambos acabaram caindo na neve fria. Rindo. Ela se levantou do chão, sentando-se, ainda dando belas risadas, de repente, o cabelo alvo de Elsa se soltou, formando uma bela trança. Jack ruborizou ao ver aquilo.

A mais velha notou a mudança em sua aparência, olhou-o sorrindo pelo canto dos olhos, e novamente, brincou recolhendo neve e atirando no mesmo, novamente dando risadas e fugindo, o russo voltou a persegui-la.

Tempos mais tarde, Jack e Elsa entraram em um restaurante, onde tomaram chocolate quente e comeram belas tortas.

— Obrigada Jack! – disse ela sorrindo, decidiu manter o cabelo com a trança balançando – Eu precisava disso!

— Você é bem divertida Elsa, apesar de não querer parecer.

Ambos se olharam sorrindo. A norueguesa estava alegre, e devia aquele sentimento novo ao rapaz que antes havia rejeitado. Sentiu como se a vida não fosse mais apenas frio e escuridão. Sentiu que poderia finalmente consertar seu relacionamento com Anna! Que poderia sim voltar a ser criança. Sentiu também um estranho sentimento novo surgir em seu coração delicado.

Comeram juntos, sem precisar falar muita coisa. Tiveram agora diálogos triviais, falando sobre torta, chocolate e como amavam a neve e o inverno.

Terminaram de comer juntos. Tiveram uma breve discussão sobre quem devia pagar pela comida. O rapaz sentiu que devia pagar, como seu pai lhe havia ensinado a fazer, talvez por também querer que aquilo parecesse ser um encontro. A moça queria pagar pois Jack já havia feito demais por ela. Recebendo-a em casa com tetos bem feitos, comida agradável e camas quentes, mas também derretendo o gelo de sua alma, além de sentir que ainda devia pelo mal jeito da noite anterior.

No final, decidiram pagar pela conta um do outro, para o desgosto de Jack.

Saíram da loja, passearam pela grande e bela praça, agora caminhavam com mais proximidade um do outro, confortáveis e comprazidos. O rapaz explicando-a sobre a história da praça, mostrando-lhe as estátuas, os rios, as pontes. Mostrou-a também que devido a certos crimes que costumavam acontecer ali, o lugar era cheio de câmeras de vigilância. Muitos vendedores ambulantes também caminhavam por ali usando roupas de frio, vendendo todo tipo de coisa, inclusive grandes facas de aparência militar. A moça apreciou os belos enfeites de natal e as luzes bem posicionadas que em breve seriam ligadas para iluminar a ambos.

Um tempo depois, Rapunzel, Merida, Anna e Soluço chegaram. Todos usando agasalhos grandes. Usavam roupas escuras com cachecóis coloridos, os mesmos que tricotaram, e a norueguesa usava o que havia comprado em casa.

Quando encontraram o casal platinado, viram ambos sorrindo, tomando chocolate em copos térmicos, sorridentes e brincando um com o outro.

Ao verem aquilo, Anna estranhou, não tinha o hábito de ver a bela irmã sorrindo, e descobrindo que outra pessoa conseguiu tal façanha, o fato não a deixou feliz. Sentiu inveja, e um pouquinho de raiva.

Rapunzel, ao notar aquilo, sorriu, surpresa, queria ele e a prima fizessem as pazes e começassem a se dar bem, mas as coisas saíram melhor do que aquilo que ela queria. O sorriso era vasto e seus olhos verdes estavam brilhantemente alegres.

Já Soluço e Merida sorriram novamente, aparecendo os dentes, olhando aquilo com certa malícia e interesse.

O casal ficou surpreso ao nota-los juntos. A alemã correu feliz até ambos, os outros foram atrás.

— Eu sabia! – disse abraçando a prima, erguendo-a – Viu só Jack? Eu falei que iria gostar dela.

— É isso aí! Eu notei isso o tempo inteiro – disse a escocesa chegando – Agora Jack, por que não vai passear um pouco com o Soluço enquanto a gente aqui tem papo de adulto? – falou empurrando o mesmo, afastando-o de Elsa.

O mais novo olhou sua Afrodite. Elsa sorriu para o mesmo, balançando a cabeça, fazendo que sim com os olhos fechados, pedindo para que a deixasse a sós com as amigas.

Ele saiu caminhando ao lado do escandinavo.

— Vamos Soluço! – caminhou chamando-o.

O norueguês começou a acompanha-lo, caminhando para longe. Ambos com as mãos nos bolsos.

As meninas foram em direção à um belo restaurante de luzes quentes e agradáveis, onde tiraram os casacos, revelando os belos e confortáveis suéteres e jaquetas coloridas.

Todas sentadas em uma grande e bela mesa de madeira. Um garçom foi atende-las.

— Com licença senhoritas, o que vão querer?

— Vocês tem a cerveja de Corona? – perguntou Rapunzel com sua gentil delicadeza.

— Temos sim!

— Vou querer uma caneca por favor.

— Eu vou querer um whisky – disse Merida.

O homem seguiu anotando no caderninho.

— Vocês tem Linie Aquavit? – perguntou Anna.

— Sim senhora!

— Vou querer!

— Pra mim também! – disse Elsa.

— Traz uma bandeja de petiscos por favor? Das grandes – pediu a alemã novamente.

— E dois hambúrgueres dos grandes pra mim – concluiu a cacheada.

As demais olharam a celta, surpresas, não esperavam que aquela bela moça magra manifestasse um caráter glutão.

Enquanto esperavam, começavam a conversar.

— Então... – falou a escocesa com malícia em tom de deboche – Você e o Jack hein?!

Elsa ruborizou, sorrindo e baixando a cabeça, balançando-a.

— Qual é o lance? – perguntou a alemã com os dedos finos entrelaçados diante do rosto alegre.

— Gente, o Jack é um cara legal! Mas...

— Não pareceu que você pensava isso ontem à noite – disse a loira, ainda sorrindo.

— Precisa falar sobre isso na frente delas?!

— O que houve ontem à noite? – perguntou Merida sorrindo.

— Ela partiu o coração do Jack!

Anna arqueou as sobrancelhas no rosto chateado e inexpressivo ao ouvir aquilo.

— Não foi bem assim que aconteceu!

— Pro Jack foi!

A platinada revirou os olhos.

— Mas então? – perguntou Anna, com o rosto sério – Vai namorar com ele ou não?

As demais a olharam, surpresas com sua seriedade.

O garçom chegou com as bebidas, cada uma tomou um breve gole. Disse também que em breve os pratos que pediram iria chegar.

— Anna... – disse Elsa, um tanto chocada – Você está com... Ciúmes?!

— Ora, eu tento a vida inteira fazer minha irmã sorrir e ser alegre, querendo voltar a ser amiga dela e falho miseravelmente nisso – a mais velha voltou a entristecer o rosto – E de repente aparece um cara qualquer, de quinze anos e consegue fazer em um dia o que eu tentei fazer por dezoito anos! E sinceramente, eu penso que você está disposta a me abandonar para buscar a sua própria felicidade, o pior é que nem posso condena-la por isso. O que você acha?

Rapunzel e Merida se olharam, desconfortáveis. A platinada olhou-a com carinho, sorrindo, tocou-lhe a mão.

— Anna! Supondo que eu fique com outra pessoa, nada no mundo vai fazer você precisar competir com alguém pela minha atenção, você é minha irmãzinha! Eu te amo! Eu morreria por você! Eu sei que quando éramos crianças eu dizia coisas cruéis pra você, mas fazia aquilo para te proteger! Você vivia querendo entrar no meu quarto, e eu estava doente, e não queria prejudicar você!

— Doente?! – questionou a escocesa, afastando um pouquinho sua cadeira.

— Quando criança a Elsa contraiu uma doença muito rara e muito contagiosa que eu nunca aprendi a falar o nome, assim ela teve que se tratar e se isolar do mundo desde a infância até alguns dias atrás – explicou Rapunzel.

— E ainda não existe o risco de transmitir essa doença? – perguntou a cacheada.

Elsa riu.

— Não Merida! Eu fiquei um tempo de observação e os médicos garantiram que esse risco não existia mais.

Merida se aliviou um pouquinho ao ouvir aquilo.

A platinada voltou-se para a consanguínea, ainda segurando sua mão. Lágrimas se acumulavam nos olhos azuis da caçula.

— Anna! Me desculpe, mas quando éramos crianças você não entendia que não podia se aproximar mim! Eu tinha que afastar você! Aliás, se o pior acontecesse comigo mamãe e papai iriam precisar de você, já que você seria filha única! Se eles me perdessem, eles pelo menos iriam ter você! Eles não deviam perder você também!

Lágrimas quentes e salgadas escorreram dos olhos de Anna, umedecendo seu rosto contorcido.

— E ainda que eu venha a namorar e até me casar com um cara. Sabe... Eu sou mulher, tenho minhas carências assim como você! Existem coisas que só o Hans pode oferecer à você!

— Por razões óbvias! – sussurrou ela com voz de choro – São coisas diferentes.

— Eu sei que são. Me desculpe se eu só consegui sorrir estando com o Jack, mas não pense você que eu vou te esquecer só porque ele me fez sorrir. Eu te amo! Eu morreria por você!

— E eu por você!

— Eu sei que falhei como sua irmã, mas o Jack... Ele me fez ver que as coisas não precisam terminar assim entre nós duas. Me desculpe por não ter notado isso antes. Eu também quero que nós duas voltemos a ser o que éramos quando crianças. Será que nós duas podemos recomeçar?

A norueguesa ruiva olhou a mais velha, não havia rancor em seus amenos olhos claros. Assim, sorriu em meio à tristeza. Elsa lhe abraçou. Anna ficou surpresa, e retribuiu o abraço, apertando-a com força.

— Eu te amo Elsa! – falou enquanto lhe abraçava.

— Eu também te amo Anna!

Rapunzel e Merida olhavam a situação, alegres, sorrindo para as irmãs e uma para a outra.

De repente, chegaram os demais pedidos. As meninas começaram a comer. A escocesa encheu a boca com os petiscos e logo depois pegou o grande hambúrguer para comer.

As demais olharam a celta surpresas. Ela segurava sua grande refeição coberta de ketchup com os dedos finos, deu uma mordida que manchou seu belo rosto de vermelho. Gemeu enquanto mastigava e revirava os olhos, apreciando o sabor daquilo que comia.

Merida não demonstrava muito recato ao comer, a única coisa que não fazia era mastigar de boca aberta. De resto, enchia a boca e manchava o rosto com o molho. Quando terminou de engolir a primeira mordida, sorriu para as amigas que a observavam surpresas e com os olhos arregalados.

— O que foi? – perguntou ainda sorrindo.

— Merida, não me leve a mal, mas eu acho que seu cavaleiro de armadura brilhante não vai gostar muito se vir você comendo assim – disse Rapunzel pegando um guardanapo e ajudando a amiga a limpar o rosto.

— Azar o dele!

— Mas diz aí Merida, nenhum cara nunca te chamou a atenção?! Mesmo?! – perguntou a mais velha do grupo.

— Pra mim um cara tem que ter algo chamado “honra”, coisa que não encontrei em muitos marmanjos.

— Mas e o Jack e o Soluço? – perguntou Elsa com os dedos entrelaçados.

— Ohw, você está me oferecendo o seu Adonis?

A platinada novamente ruborizou. A alemã e a norueguesa mais nova voltaram-se para a mesma.

— Olha, se vão ficar se referindo a Jack e eu como amantes gregos poderiam não nos chamarem assim? Na mitologia Adonis tem duas mulheres, Afrodite e Deméter. Nem me lembro se as duas sabem disso!

— E você quer ter o Jack só pra você – disse a loira, sugestivamente.

A mais velha voltou a ruborizar-se ainda mais.

— Parem com isso! – disse com a face vermelha, cobrindo-a.

Todas voltaram a rir.

— É que eu não quero ser traída se algum dia eu arrumar alguém.

— Beleza, então que tal, Ares e Afrodite? – sugeriu Merida enquanto limpava o rosto.

— Afrodite traiu Hefesto com Ares, está me chamando de adúltera?

— Então, que tal Zeus e Hera? – sugeriu Anna.

— Hera é a personagem mais traída e humilhada de todas as mitologias Anna. Você está mesmo disposta a competir com ele por mim não é?

A caçula sorriu.

— Então que tal Eros e Psique? – sugeriu a prima.

— Ah, pode ser – disse ela conformada – Essa é uma bela história de amor.

— Assim esperamos que seja pra você e ele – disse a escocesa – Sabe, a minha mãe vive me dizendo que lendas são lições e que elas carregam a verdade.

— Sua mãe é muito sábia – disse Elsa serenamente.

— Quem sabe essa não se torna a sua história com o Jack?

Elsa revirou os olhos.

— Mas é verdade. Elsa tocou em um ponto interessante – comentou Anna – O que acontece que nenhum garoto já te despertou a atenção? Você... Não gosta de garotos?

A ruiva imediatamente ergueu o rosto com os lábios sujos de comida, os olhos claros arregalados, boquiaberta, insultada.

— Escutem aqui vocês duas, não sei como as coisas são na Noruega, mas aqui, e comigo, existem jeitos mais fáceis e menos dolorosos de fazer duas norueguesas perderem os dentes! – falou erguendo o punho cerrado.

— O que ela está querendo dizer... – disse Rapunzel, tentando amenizar a situação, baixando o punho cerrado da escocesa com a mão delicada – é que sim, ela gosta de garotos, mas vocês estão sendo muito impessoais.

— Desculpe-nos, não é essa nossa intenção – disse Elsa.

— Tudo bem – disse Merida erguendo o olhar para as irmãs – Eu sei que só estão se vingando – falou sorrindo.

Todas riram.

— Sabe – disse a cacheada com um triste olhar baixo – Talvez o meu problema seja que eu tenha medo de responsabilidades, compromisso... Minha mãe sempre reclamou que eu sou muito irresponsável. Ela pode ser uma chata, mas talvez nisso ela esteja certa. Acho que ainda que encontre um São Luís, ou Rei Luís IX da França, eu não seria capaz de assumir um compromisso. Ainda mais alguém como ele!

As outras garotas a observaram, tristes. Elsa estava mais perto, tocou sua mão na da escocesa. Sorriu para a mais nova, consolando-a, Merida sorriu de volta, agradecida.

— Um dia você vai conseguir ser a mulher que precisa para achar um homem honrado

— Você realmente é uma mãezona Elsa – disse a escocesa, mudando de conduta de maneira abrupta, apoiando-se sobre a mão, com o cotovelo sobre a mesa.

A platinada riu.

— Obrigada.

— Mas sinceramente, eu não tenho pressa por esse dia. Quero viver minha vida antes de ter um compromisso sério.

— Não se engane, o cara certo pode aparecer antes que você imagina, e nesse dia, não vai poder deixar ele passar – continuou a mais velha.

— Que nem você e o Jack?

Elsa ruborizou de novo.

A celta riu.

— Você é mesmo muito paciente! – comentou a cacheada, notou que gostava da maturidade e paciência da norueguesa platinada, mais ainda, gostava de brincar com ela, notou que era como ter uma irmã mais velha, voltou-se para Anna – Aí Anna, foi mal, mas agora você vai ter que competir comigo pela Elsa também, sempre quis ter uma irmã mais velha.

Todas voltaram a rir. E assim seguiram, comendo, bebendo e conversando em meio a brindes e risadas.

Longe dali, ainda na praça, Jack e Soluço caminhavam conversando. Próximo à eles, à direita, havia uma bela cerca de madeira, onde andavam junto à ela.

— Então você e a Elsa hein... Você não perde tempo mesmo.

— Dá um tempo Soluço.

— Eu não acredito, você conheceu ela há um dia e já partiu pra cima, caiu matando.

— Ninguém merece... Aí, eu posso até aguentar isso, mas não faça isso com a Elsa! Se deixar ela constrangida...

— Relaxa Jack, eu tenho mais de um miolo esqueceu? Você me chamava de quatro olhos quando cheguei na casa do Norte. Normalmente gente de óculos tem o estereótipo de ser inteligente.

— Assim espero, mas enfim, vamos mudar de assunto. Eu gostei bastante dos mangás que você me emprestou.

— Emprestei uma ova! Você entrou no meu quarto e começou a ler do nada!

— Mas enfim... Eu gostei bastante. Os japoneses são bem criativos...

— De fato. Aí, já ouviu falar do fio vermelho do destino?

— Como é a história?!

— Fio vermelho do destino. É um mito popular no Japão, mas que tem origem na china, a maioria das pessoas não sabe disso.

— E como é esse mito?

— Ahn... Foi mal, eu vou falar de você e da Elsa de novo – Jack revirou os olhos com o rosto desgostoso – Essa história toda de vocês dois me fez lembrar disso que está sempre presente nos animes e mangás...

— Conta logo essa história!

— Tá bem! Já vai! No Japão esse mito é conhecido como “Unmei no Akai ito”.

— Você fala japonês?!

— Sou otaku, minha memória é boa pra gravar nomes japoneses. Enfim, diz a lenda que todas as pessoas, desde o nascimento levam amarrado no dedo mindinho da mão esquerda um fio vermelho invisível que se conecta com seu companheiro de alma e é um fio indestrutível.

— Se é invisível como pode saber que é vermelho? – perguntou debochando com um sorriso no rosto.

— Porque a lenda diz que é! – disse um tanto zangado, o russo agora ouvia a história, sorridente e mais interessado – A lenda também diz que quando duas pessoas estão ligadas por esse fio elas inevitavelmente vão se encontrar, independente de como a vida deles dois se desenrole. Ele pode embaraçar e se esticar, mas nunca vai se partir.

— A Merida disse uma vez que a mãe dela sempre disse que lendas eram lições e que carregavam a verdade.

— Se houver um fundo de verdade nisso, seria à Elsa que seu fio vermelho estaria conectado? Sabe, até que faria sentido.

O platinado sorriu, alegre e calmo.

— Eu espero que seja. Aí, a lenda diz que esse fio vermelho pode conectar com mais de uma pessoa?

O norueguês franziu o cenho.

— Não, por quê? Isso seria estranho!

— Porque agora me veio à mente, será que você, a Merida, a Rapunzel e eu temos esse tipo de conexão?

— O quê?! Eca! Não! Que nojo! O fio só conecta pessoas que vão se casar! É algo sobre romance!

— Ah, tá. Porque na boa, você, a Merida e a Rapunzel apareceram lá em casa do nada. Isso explicaria tudo. Mas estaria mais pra maldição do que pra bênção – falou caminhando em direção à cerca, sentando-se na mesma, na tábua mais alta.

O castanho balançou a cabeça, revirando os olhos, sorrindo com as alegações de Jack.

— O fio só conecta os companheiros de alma. Não teria como ser uma maldição – falou sentando-se ao lado do mesmo.

— Mas e você? Não tem nenhum companheiro de alma? – perguntou o platinado.

— Companheiro de alma não tenho e nem quero ter, mas agora companheira de alma... Também não tenho – disse tristemente.

Jack riu.

— E nem quer ter – disse sorridente.

— Sai fora! Se fosse assim eu virava padre!

— Mas não tem ninguém especial?

— Já tive, mas no momento não tenho ninguém – disse abatido.

O russo observou-o com os olhos azuis e o rosto empático, notando a tristeza de Soluço, a sombra de um coração partido.

— Ela partiu seu coração?

O escandinavo o olhou surpreso e sorrindo respondeu: “Quem dera... Ela arrancou ele do peito, comeu um pedaço, dançou em cima, deu umas pauladas e deu para os cães comerem.”.

O eslavo inevitavelmente riu de novo.

— Nossa! Que chato!

— Mas e você? Já se apaixonou por alguém antes? Ou a Elsa é a primeira?

— A primeira e espero que seja a única.

— Mas e se ela não sentir o mesmo por você?

— Eu não vou desistir tão fácil. Ela é a mulher, sou eu que preciso fazer por merecer e conquista-la.

— Mas e se ela ficar te rejeitando?

— Bem, se isso acontecer com frequência eu não vou ter outra escolha a não ser tentar esquece-la, mas nós não somos dois bobocas em uma balada. E eu não sou um cara que só quer chegar em uma garota pra passar uma noite com ela pra nunca mais. Ela é minha companheira de alma!

De repente, Soluço virou a face e viu as amigas chegando.

— Por falar nisso olha só ela vindo aí.

As moças caminhavam juntas, lado a lado, todas com as faces vermelhas e sorridentes. As ruivas caminhavam nas pontas, Elsa andava ao lado de Anna à esquerda e Rapunzel ao lado de Merida à direita.

Os dois rapazes também começaram a caminhar ao lado das amigas. Seguiram conversando.

As luzes douradas e quentes da praça aos poucos começaram a se acender. Todos ficaram maravilhados ao ver aquilo.

E assim os seis seguiram caminhando pelo chão frio de pedra, cercados pela neve macia e distante, as arvores altas ao longe, e as luzes agradáveis brilhando junto dos enfeites caprichados. Os olhos de todos refletindo a beleza local, enquanto sorriam e conversavam.

— E aí Elsa! O que está achando? – perguntou o russo.

— Oh Jack! É maravilhoso! Não me lembro de ter visto nada assim pessoalmente.

— Por falar nisso, onde está a árvore de natal da casa de vocês? – perguntou Anna.

Os quatro se olharam em silêncio, a ideia de enfeitar a casa sequer lhes houvera passado pela cabeça.

— Nós não... – começou Soluço.

— Não haviam pensado nisso?! – questionou a escandinava ruiva ao ouvi-lo – Como pode?! Qual é a graça de um Natal sem árvore de Natal?!

— Eu acho que a gente pode fazer alguma coisa amanhã não é pessoal? – perguntou Rapunzel.

— Claro! Meu avô tem uma loja onde ele só vende decorações de natal. Ele adoraria que a gente fosse até lá comprar algumas coisas pra enfeitar a casa – disse Jack.

— Eu também conheço lugar bom pra arrumar uma árvore. Só que é meio distante.

— Eu sei dirigir – disse Anna – Eu alugo um carro. Você me fala onde é e a Elsa e eu vamos até lá! Vocês vão comprar esses enfeites!

A platinada estava distraída com as luzes de natal, então não notou as intenções da irmã. Os demais se olharam, notando como a caçula queria ficar na companhia da mais velha.

— Por mim tudo bem – disse Soluço.

— O que acha Elsa? – perguntou o platinado, olhando a moça distraída.

— O quê?! Desculpa, eu estava distraída olhando os enfeites.

— No que estava pensando? – perguntou o eslavo.

— Estava me lembrando de quando era criança. Os meus natais no hospital na Suécia.

— Como eles eram? – perguntou a escocesa.

— Nesse dia os médicos me deixavam em uma espécie de sala com uma bolha para receber a visita de umas meninas que usavam uma túnica branca, um cinto vermelho de pano e uma coroa de velas na cabeça. Além dos presentes que a Anna me dava, era o que eu mais gostava no natal. Elas apareciam todos os anos porque era tradição e saíam por aí fazendo caridade. Elas me davam bastante atenção.

— Parecia ser uma coisa bem legal – comentou Soluço.

— Era legal sim. Sabe, acho que vou fazer o mesmo no futuro. Eu adoraria me vestir como elas se vestiam e sair por aí oferecendo uma ceia e atenção às criancinhas nos hospitais nessa época festiva sagrada. Talvez na Noruega mesmo.

— Você é uma ótima pessoa Elsa – disse Jack.

— Se quiser pode contar comigo – falou a irmã mais nova.

Os jovens seguiam caminhando juntos de baixo do céu com nuvens e cercados pela beleza natalina. Conversavam alegres e descontraídos. Apreciando aquele momento.

Começaram a caminhar por uma ponte. Só não sabiam que do outro lado da mesma, um casal não tão estranho caminhava por ela, conversando descontraídos.

De repente os seis amigos e o casal se encontraram bem no meio da ponte.

Jack, Elsa, Anna, Soluço, Merida e Rapunzel olharam o casal com os próprios olhos.

Viram um rapaz alto, com um casaco preto, cabelos castanhos com longas costeletas, pele alva e um sorriso amigável, do lado esquerdo dele uma bela moça de cabelos brancos soltos, pele alva, olhos azuis e um casaco branco de pelo, também caminhando com um sorriso no rosto baixo.

— Esmeralda?! – estranhou o russo, franzindo o cenho, olhando a irmã com outro rapaz desconhecido.

— Jack?! – respondeu ela com a mesma expressão no rosto ao ver a quantidade de garotas perto do mais novo.

— Hans?! – questionou a norueguesa ruiva com verniz de tragédia.

Todos voltaram-se para as irmãs ao notarem que conheciam aquele estranho. Exceto a russa que voltou o olhar para o rapaz ao lado da mesma.

— Anna?! – disse Hans com os olhos arregalados.

— Hans?! – disse a platinada também franzindo o cenho, confusa.

— Elsa?! – seguiu o finlandês com a expressão ainda no rosto.

Todos trocaram olhares confusos diante da situação, mas todos terminaram olhando para o rapaz alto de cabelos castanhos, que se sentia flagrado naquele momento.

— Quem são elas? – perguntou Esmeralda com ar de cobrança, colocando a mão delicada na cintura fina e agasalhada.

O mesmo a olhou assustado. Estava em choque, como se aquilo fosse a última coisa que esperasse.

— Quem somos nós?! – questionou Anna, um tanto furiosa – Quem é você?!

— Eu sou só a garota que está namorando com ele tem alguns dias! – respondeu a russa furiosa.

— E eu sou só a garota que está namorando com ele a algumas semanas! – a norueguesa também respondeu com fúria na voz.

Ao invés de conflitarem entre si, as duas moças voltaram os olhares azuis cheios de cólera para Hans, que seguiu confuso em meio ao inesperado.

— Será que você tem algo a nos dizer?! – perguntou Esmeralda, sem mudar o tom de voz zangado nem por um instante, por um certo momento chegou a assemelhar-se à mãe.

Haviam oito pessoas sobre a ponte. Sete olhavam Hans com o rosto distante de transmitir simpatia.

O finlandês era o mais alto e forte na ponte, mas sentiu-se amedrontado, assim, quando estava prestes a dizer algo, seu corpo apavorado fugiu dali.

Consideraram persegui-lo, mas a situação na qual se encontravam era tão ridícula que demoraram para se assimilar.

Elsa começou a consolar Anna. Soluço, Merida e Rapunzel se recolheram em um canto da ponte, comentando a situação absurda. Jack foi conversar com a irmã que se apoiava na ponte gelada com as duas mãos, a coluna curvada e com a cabeça baixa.

— Você está bem? – perguntou ele.

— Não! – respondeu ela erguendo o corpo – Jack! Aquele nojento parecia ser um cara decente! E ele me fez de boba! Até a mamãe pensava bem dele.

— Quem era ele?

— O nome dele é Hans, conheci ele há alguns dias. Ele apareceu lá em casa procurando pelo vovô enquanto a mamãe estava fora – Esmeralda olhou as irmãs norueguesas e caminhou até ambas, reavendo o recato, o rosto feminino expressando seriedade – Quem são vocês?

— Eu sou a Elsa, essa é a Anna – disse a mais velha apresentando a irmã enquanto consolava a mesma, que chorava.

— Esmeralda, prazer. Ele enganou vocês também?

— Na verdade, só ela, eu não namorava com ele, nem namoraria – respondeu Elsa.

A russa olhou a escandinava platinada. Notou nela uma feminilidade séria e serena, e por alguma razão, sentiu desconforto ao ficar perto daquela moça. Seu olhar foi dela para o irmão. Algo a deixava insatisfeita.

— Vamos atrás dele! – disse Anna se desvencilhando de Elsa, com lágrimas reluzentes em seu triste rosto quente e vermelho, seus olhos azuis brilhando de desolação.

— O quê?! – perguntou a irmã mais velha – Anna! O que está dizendo?!

— Ela tá certa! – disse Merida se aproximando – Não podemos deixar isso ficar assim! Aquele cara vai ouvir algumas coisinhas. Podemos até dar uma lição mais objetiva à ele! – falou apertando o punho, estalando os dedos.

— Gente, essa violência me parece desnecessária! – disse Soluço.

— Ele está certo – falou Rapunzel.

— Eu concordo! – disse a platinada – Ele pode ter feito algo errado, mas violência nunca é a melhor solução.

— Elsa, ele magoou a sua irmã – disse Jack indo até a mesma, falando com seriedade.

— Não precisa haver violência – disse a ruiva escandinava – Só quero dizer algumas coisas pra ele! – falou ainda chorosa.

— Se vão fazer uma busca por ele, eu quero participar – disse Esmeralda.

De repente, todos se silenciaram novamente, todos se olhando à luz dos enfeites e dos postes de luzes brancas, aos poucos notaram que haviam concordado com a busca e a bronca.

Elsa suspirou baixando a cabeça, logo depois ergueu-a e disse: “Vamos lá!”.

Assim se separaram, procurando sua presa pela Praça de São Miguel durante a noite. Mas sem encontrar nada.

— Será que ele não saiu da praça? – perguntou Merida.

— Não teria como – respondeu Soluço – Ele não correu em direção à porta, e não teria como chegar até ela pelo caminho que ele seguiu.

Anna em um certo momento parou em uma das belas pontes cobertas pela neve, iluminada por uma luz branca de um poste, onde a minúscula luz vermelha de uma câmera piscava, abaixo dela havia um lago congelado. A ruiva estava de pé bem no meio dela, olhando ao redor, sem encontrar nem sequer um sinal de quem procurava.

De repente ouviu uma voz familiar.

— Oi Anna!

— Hans?! – virou-se assustada, queria dar sua bronca como lhe era intencional, mas não teve a chance, assim que foi atacada só pôde reclamar – Ai! Para! O que você está fazendo?! Me solta!

O castanho ergueu-a acima de sua cabeça pela cintura magra.

— Foi assim que eu te ergui naquela noite, lembra? – perguntou enquanto a mesma se debatia, tentando livrar-se do aperto forte de seus dedos grossos.

Assim, Hans a atirou da ponte, fazendo-a cair na água congelada, quebrando o gelo fino.

O agressor olhou da ponte para baixo, sorrindo de forma maligna, torcendo pela morte injusta de sua vítima, fosse através da queda ou mesmo através da água, talvez aquele lago fosse fundo o suficiente, mas de repente, para o seu desgosto, um corpo vivo e incólume emergiu da água fria, se debatendo.

— Elsa! – gritou Anna de olhos fechados, a voz da ruiva tornara-se estridente e desesperada, ao mesmo tempo que chamava como uma criança chama pela mãe.

Pouco distante dali, a irmã ouviu.

— Anna! – começou a correr preocupada, notando a urgência do pedido.

Os demais, que estavam mais longe, correram atrás da norueguesa platinada.

Hans praguejou mentalmente ao notar que seu ataque havia falhado, mas torcia para que Anna morresse congelada antes que alguém pudesse ouvir alguma coisa.

— Anna! – o finlandês ouviu a voz de Elsa, que chamava pela irmã repetidas vezes, enquanto isso sua voz se tornava mais alta.

— Elsa! – chamou a caçula de novo enquanto se debatia na água.

O agressor notou a oportunidade que teve. Escondeu-se novamente da vista de todos e esperou a irmã mais velha chegar.

Elsa não avistava de onde vinha a voz de sua irmã, assim decidiu subir na ponte para descobrir de onde ela vinha. Mas Hans estava lá, e antes que pudesse fazer algo a respeito, o mesmo a atacou.

A norueguesa na hora se debateu, mais preocupada em salvar a irmã enquanto chamava seu nome. O finlandês tentava ergue-la como havia feito com Anna, mas estava mais difícil, pois as forças da platinada haviam se multiplicado conforme pensava no perigo que sua irmã sofria.

De repente, as unhas longas e femininas de Elsa lhe arranharam o rosto, fazendo-o gemer e solta-la no mesmo instante.

A platinada o olhou com ar de fúria, estava suada no meio do inverno, o cenho franzido, os cabelos alvos bagunçados e em seus olhos a fúria era notável, acabou parando por um segundo, encarando-o.

Hans passou a mão no rosto, não havia gostado daquilo, olhou Elsa com ar de fúria, olhou a mão para ver se havia sangue, mas fazia diferença se havia ou não, ele a faria pagar por ter maculado seu rosto perfeito.

De repente, o mesmo puxou uma faca, uma longa e hostil faca militar.

Ela arregalou os olhos azuis ao notar aquilo, seu corpo paralisou e tremeu de medo. Anna a chamou mais uma vez, sendo possível notar medo em sua voz.

— Eu gastei minha última moeda nessa faca que comprei agora a pouco de um vendedor ambulante, comprei ela pensando em usa-la como garantia caso precisasse enfrentar todos vocês ao mesmo tempo, mas você me forçou a usa-la agora Elsa. Eu não queria fazer isso, mas você me forçou.

— Hans! Não! Por favor! – suplicou ela, erguendo as mãos delicadas e femininas, dando um passo para trás.

Hans não recuou, caminhou até ela a longos passos erguendo a faca para matar.

Porém, enquanto isso acontecia, uma figura a distância notava o que estava acontecendo ali. Viu a longa faca erguida contra Elsa, que se via encolhida e indefesa diante daquilo. A figura acelerou o passo o máximo que podia, correndo em alta velocidade como jamais havia feito, atacando assim o agressor com uma voadora de dois pés.

O finlandês foi atingido em cheio, a velocidade da pessoa que o atacou foi o suficiente para empurra-lo com força, fazendo os ossos de sua coluna se chocarem com a pedra rígida da ponte, fazendo a faca cair no chão, e o seu corpo cair no lago.

Jack caía no chão enquanto Hans caía na água.

— Jack! – disse ela ao notar quem era seu salvador.

Soluço e Esmeralda chegaram ao casal platinado logo após notar o que havia acontecido.

Merida e Rapunzel corriam logo atrás, extremamente preocupadas.

— Ali! – disse a escocesa apontando para a água quando o corpo em queda do agressor de Anna e Elsa caiu, notando a presença da escandinava no lago congelado.

Correram para salva-la.

— Anna, vem aqui! – chamou cacheada lhe estendendo a mão.

A norueguesa ruiva nadou gemendo e com dificuldade em direção às amigas.

A alemã se deu conta de que o que havia acontecido ali fora um ato de violência de Hans contra a prima, aquilo a desesperou, fazendo-a chorar.

— Não, não, não, não, não, não! – disse a loira apavorada e chorosa, se agachando até cair sentada no chão, tapando os ouvidos.

— Rapunzel, vem aqui, me ajuda! – chamou a celta, mas parou quando viu o estado da amiga da Alemanha.

Assim, Rapunzel sentava-se no chão, encolhida, seus olhos verdes fechados, as mãos delicadas cobrindo os ouvidos, o corpo balançando para frente e para trás enquanto cantava desesperadamente a música que lhe acalmava.

Brilha linda flor

Teu poder venceu

Traz de volta já

O que uma vez foi meu

 

Cura o que se feriu

Salva o que se perdeu

Traz de volta já

O que uma vez foi meu

O que uma vez foi meu

 

Jack, Elsa, Soluço e Esmeralda seguiram olhando Hans da ponte. O agressor conseguiu nadar pelo lago congelado até a borda, e assim voltou a correr, desesperado, agora indo em direção à saída da praça.

O russo o olhava com fúria e desdém. De repente, voltou o olhar para a norueguesa na ponte.

— Elsa, você está bem? – perguntou preocupado.

Ela olhava para baixo, trêmula, ofegante, o peito subindo e descendo, os olhos assustados arregalados e as mãos ainda erguidas. De repente, a escandinava desabou no chão de joelhos e desabou a chorar.

O platinado caminhou até ela, colocando a mão em seu ombro, consolando-a. Esmeralda notou que havia algo importante ali.

Jack olhou para a água onde havia pedaços de gelo flutuando à luz fraca e distante dos postes e enfeites de natal, Anna finalmente conseguia sair de lá, sendo recebida por Merida, Rapunzel seguia assustada no chão, podia ouvi-la cantar de forma desesperada de longe, olhou Elsa em choque e Esmeralda esmorecida e visivelmente chateada com a situação.

Ao olhar amada irmã mais velha e sua nova amiga entristecidas e humilhadas em meio a própria ruina, e sua paixão, junto de uma de suas melhores amigas abaladas e assustadas, uma sensação de fúria cresceu nele. Franziu o cenho sobre os olhos azuis em cólera, e em meio a raiva, tomou sua decisão.

— Venha, conseguiram tirar sua irmã da água, ela precisa ser aquecida – disse Esmeralda tristemente, ajudando-a a se levantar.

Elsa se levantou, ainda chorando, a irmã de Jack abraçou, ajudando-a a caminhar enquanto dava continuidade aos consolos de seu irmão.

Assim, ambas começaram a caminhar juntas ponte abaixo, a russa consolando a norueguesa, ajudando-a a caminhar até chegar à irmã caçula.

— Soluço, fica com as meninas – disse Jack, furioso antes de sair caminhando da ponte, seguindo a direção que Hans tomou.

O escandinavo ao ver aquilo, ficou confuso. Correu em direção ao amigo puxando-o pelo pulso.

— O que vai fazer? – perguntou franzindo o cenho.

— Ele mexeu com a Elsa, com a Esmeralda, com a Rapunzel e com a Anna! O que você que vou fazer?! – disse furioso e de lado para Soluço.

— Vai brigar com ele?! Fisicamente?!

— Vou!

— Jack acorda! Ele tem o dobro do seu tamanho e ele deve ter mais músculos em um braço do que você tem no corpo todo! E isso sem falar que ele estava com uma faca gigante! Quem garante que ele não tem outra?

— Ele disse pra Elsa que acabou de comprar ela com um vendedor ambulante, que usou a última moeda, ele não deve voltar para buscar, nem deve ter dinheiro para comprar outra.

— Ainda assim ele continua sendo bem mais forte do que você!

— Eu sou treinado!

— Quem garante que ele também não é? E outra, ele queria matar a Elsa e a Anna, acha que ele não vai tentar fazer isso com você também?

— Soluço, ou você me ajuda, ou sai do meu caminho! Eu não posso deixar isso terminar assim!

— Eu não posso deixar você ir! – falou forçando o aperto.

Jack o olhou com hostilidade nos olhos.

— Você vai ter que escolher Soluço, cuidar delas, ou cuidar de mim.

O norueguês voltou-se para as amigas, notando-as abatidas e chateadas, trocando consolos. Voltou-se para o platinado, soltando assim o pulso dele, notando que o que ele disse era verdade.

Os dois se olharam de fronte, os rostos nada felizes.

— Isso não vai acabar bem, Jack.

— Então chame a polícia, e torça para que ela o encontre antes de mim.

Soluço arregalou os olhos diante da resposta do eslavo.

Jack deu-lhe as costas e o escandinavo o viu seguir caminhando pelo lado escuro da praça, cheio de fúria e vontade.

Yeah, agora eu não tenho medo de fazer a obra do Senhor

Yeah, Now I am not afraid to do the Lord's work

Você diz que a vingança é sua, mas vou faze-la primeiro

You say vengeance is his but Imma do it first

Vou cuidar do meu negócio em nome da Lei, Ooooh

I'm gonna handle my business in the name of theLaw, Ooooh

Agora se ele te fez chorar oh eu tenho que saber

Now if he made you cry oh I gotta know

Se ele não está pronto para morrer, é melhor se preparar para isso

If he's not ready to die, he best prepare for it

Meu julgamento é divino, direi a quem você pode chamar,

My judgment's divine I'll tell you who you can call,

Você pode chamar

You can call

É melhor você chamar a polícia

You better call the police

Ligue para o médico legista

Call the coroner

Convoque seu padre

Call up your priest

Eles tem alertado você

Have them warn ya

Não haverá paz

Won't be no peace

Quando eu encontrar aquele idiota

When I find that fool

Quem fez isso com você?

Who did that to you?

É

Yeah

Quem fez isso com você?

Who did that to you?

My baby

My baby

Quem fez isso com você?

Who did that to you?

Tenho que encontrar aquele idiota

Gotta find that fool

Quem fez isso com você?

Who did that to you?

Agora eu não tenho prazer com a dor de um homem

Now I dont take pleasure in a man's pain

Mas minha ira descerá, como uma chuva fria

But my wrath will come down, like a cold rain

E não haverá abrigo, nenhum lugar para onde você possa ir

And there won't be no shelter, no place you can go

Eeeeh, heeey,

Eeeeh, heeey,

É hora de colocar as mãos para cima

It's time to put your hands up

Hora de se render

Time for a surrender

Eu sou um justiceiro

I'm a vigilante

Defensor do meu amor

My loves defender

Você é um homem procurado, aqui todo mundo sabe,

You're a wanted man, here everybody knows,

Yeeeah

Yeeeah

É melhor você chamar a polícia

You better call the police

Ligue para o médico legista

Call the coroner

Convoque seu padre

Call up your priest

Eles tem alertado você

Have them warn ya

Não vai haver paz

Won't be no peace

Quando eu encontrar aquele idiota

When I find that fool

Quem fez isso com você?

Who did that to you?

Yeah

Yeah

Quem fez isso com você?

Who did that to you?

My baby

My baby

Quem fez isso com você?

Who did that to you?

Tenho que encontrar aquele idiota

Gotta find that fool

Quem fez isso com você?

Who did that to you?

Ele vai continuar correndo, mas, estou chegando perto

He'll keep on running but, Im closing in

Vou caçá-lo até o amargo fim

I'll hunt him down until the bitter end

Se você me ver chegando, para quem você vai ligar?

If you see me coming then, who are you gonna call?

Sim

Yeeah

É melhor você chamar a polícia

You better call the police

Ligue para o médico legista

Call the coroner

Convoque seu padre

Call up your priest

Eles tem te alertado

Have them warn ya

Não vai haver paz

Won't be no peace

Quando eu encontrar aquele idiota

When I find that fool

É melhor você chamar o médico

You better call the doctor

Chame o advogado

Call the lawyer

Eu vou persegui-lo até a Califórnia

I'll chased him all the way to California

Darei o meu melhor na tentativa de pegar aquele idiota

Get my hey yea, gonna find that fool

Quem fez isso com você?

Who did that to you?

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Aqui está. Espero que tenham gostado! Muito obrigado aos que leram até aqui.
Nome da música.
Who did that to you - John Legend
Uma das músicas que toca no meu filme favorito do Tarantino. Django Livre (Fica a recomendação caso não tenha assistido, mas por favor, não assista se for menor de idade.



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