Inventei Você? escrita por Camélia Bardon


Capítulo 25
Livros, convites e observações


Notas iniciais do capítulo

Queria contar uma coisa engraçada que aconteceu semana para eu ter esquecido de postar o capítulo KKKKKKKK eu escrevo essa história primeiro à mão, por não ter tanto tempo disponível em casa, aí durante a semana eu vou digitando quando tenho um tempo de sobra... até aí tudo bem, o problema foi que semana passada eu simplesmente ignorei que tinha que fazer isso e o estoque de capítulos digitados acabou e eu não percebi xD me desculpem a lerdeza, essa semana já retomamos tudo normalmente ♥



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Imagino que, nessa altura do campeonato, vocês devem estar confusos. Metade pensando “ah, finalmente esses dois vão sossegar o rabo agora”— por mais que isso fosse algo que Matt diria, não eu – e metade “como essa mulher é confusa e não sabe o que quer da vida”.

Se for o segundo caso, não vou ficar ofendida. Estaria sendo hipócrita. Porque eu também não sabia o que eu queria da vida.

Vou ver se consigo me explicar coerentemente.

Certo, eu já tivera provas suficientes de que Matt não iria embora voluntariamente. Isso por si só já me tirava vários pesos da cabeça. Mas... Eu não podia deixar de cogitar todas as possibilidades, inclusive as em que tudo dava errado.

Principalmente nas possibilidades em que tudo dava errado. Não se brinca com a lei de Murphy, por menos matemática que ela fosse. Eu tinha um dom especial para me sabotar. Nesse sentido, não era uma visão negativa das coisas. Era uma medida de proteção para a minha realidade.

Se, por acaso, eu mandasse que ele caísse fora da minha vida, Matt o faria. Porque ele não me pressionaria. Ele já não tinha dito que não iria me obrigar a fazer nada que eu não estivesse 100% dentro? E se, de uma hora para outra caísse para 70%? 30%?

Nenhuma certeza? Ah, céus.

Aquele monte de e-ses me consumiu no sábado. Por sorte, eu estava com fome suficiente para esquecer-me daquilo por um pouco de tempo. Escutei Matt discursar animadamente sobre seu quadro e os novos projetos, sobre San Francisco e tudo que eu iria encontrar por lá de divertido, tudo sobre Gilbert – o melhor amigo – e em como éramos parecidos e depois a mesma proporção de desculpas por estar “falando demais”.

Cada um reage ao nervosismo como pode. Se eu me calava, Matt falava pelos cotovelos.

No domingo, a fofoca sobre o sábado à noite já estava propagada. Na segunda-feira, Nona fingiu que não sabia de nada – se para me poupar ou se poupar, eu não sabia afirmar. Na terça-feira Nona e a senhorita Georgette foram ao bingo, e eu recebi um convite para jantar. Para bom entendedor...

Na quarta-feira, eu tive uma ideia. Guardei-a para mim, mas na quinta-feira mandei uma mensagem de convocação para as minhas meninas (para a sexta-feira) e subi a avenida que levava à livraria-biblioteca do senhor Bell.

Como daquela vez há quase dois meses, assim que entrei um sininho indicou minha presença. Porém, dessa vez fui recepcionada por não apenas um tufo adorável de cabelos brancos e uns gatos pingados espalhados pelas mesas, mas pelo meu namorado não inventado e o lugar praticamente cheio. Não pude deixar de ficar impressionada.

— Olá, olá — o bom velhinho sorriu, locomovendo-se até a entrada com as duas mãos estendidas em minha direção. — Bela Cecilia! Como vai?

Abri um sorriso. Acho era a primeira vez que ele acertava o nome de primeira.

— Vou melhor agora, senhor Bell — segurei suas mãos com carinho, depositando um beijo nelas. Era impossível não amar aquela fofura. — E o senhor?

— Ah, vamos de vento em popa!

— Que maravilha — sorri. — E quem é aquele bonitão no seu balcão? Ele tem nome? Da última vez que eu vim a paisagem tem melhorado!

Ambos riram do meu comentário, porém Matt se conteve. Era tímido, o coitado. Eu é que não iria envergonhá-lo no trabalho.

— Devo dizer, minha cara, que boa parte dos nossos novos frequentadores vem do sucesso do senhor Bonitão aqui — ele comentou com carinho, e teve de interromper o “ah, mas eu não...” de Matthew em protesto ao elogio duplo. — Não seja modesto, Matthew. É verdade. Todos aqui vão sentir sua falta. Eu incluso, filho.

Eu e Matt trocamos um olhar cúmplice. Não tínhamos nenhum plano traçado, mas se tudo corresse nos conformes, o senhor Bell teria bem mais motivos para se alegrar do que para lamentar em termos saudosos. E olhe que eu ainda estava para envolver as meninas no plano mirabolante. Seria mesmo um verão movimentado em Healdsburg.

— Mas então? A senhorita veio visitar o seu namorado?

— Sim e não. Na verdade eu vim comprar um livro, mas já que ele também trabalha aqui...

— Ah, é justo! Então vou deixar que ele mesmo a atenda nesse caso. Estava até agora reclamando do tédio. Quem sabe você o anime pra vida.

Matthew gargalhou baixo, não resistindo por pouco o barulho que atrapalharia os estudantes. Ficamos os três rindo por alguns segundos, até que Matt resolveu mesmo incorporar o funcionário modelo. Até com o avental justo do uniforme ele ficava atraente, não era possível...

— É claro, Victor. O que procura, madame?

Permiti-me ser levada por ele pelos corredores que dividiam a biblioteca da livraria. Era um grande divisor o cheiro de livros novos e os velhos, mas de um jeito que não ficava confusa e enjoativa. Parecia um mundo à parte. Sem pensar muito, comentei:

— Já pensou isso aqui com um balcão de café e alguns lanchinhos frios? Não na parte da biblioteca, é claro. Na parte da livraria. Na entrada, sabe?

— É? O que te levou a pensar nisso? — Matt indagou num tom doce. — Posso passar a sua ideia para o chefe se ela for boa. Ele é bem acessível, sabe?

Aproveitei que já estava do lado da livraria e ri de seu comentário com gosto. Matt sorriu de lado, com a postura impecável. Peste...

— Ele gosta muito de você, Matt — sorri. — Eu só via ele animado assim com a Poppy e o Pat...

— Eu nem fiz nada — suas bochechas coraram instantaneamente. — Ele que é gente boa...

— E você é muito modesto, Matt Carpenter.

— Uhum. É... O que veio comprar mesmo?

— Latas de tinta, mas errei o endereço. Brincadeira. Bom... Boa pergunta. Acho que preciso dar uma olhadinha primeiro.

Matt riu no susto da piada. O pesadelo dos vendedores era quando o cliente dizia que iria dar uma olhadinha. Os gerentes, então?

— Falando sério, eu não sei... Eu gosto de olhar tudo com atenção, ver o título, ler a sinopse... Eu sei que daqui não saio de mãos vazias, então pode ficar tranquilo — sorri. — Tem alguma sugestão para mim?

— Vejamos. O que gosta de ler normalmente, madame?

Hum, legendas de novela?

— Eu devo dizer que sou uma grande fã de romances clássicos. Mas li Balzac há uns tempos, mas foi muito cabeça pra mim. Talvez algo no meio termo? Não tão contemporâneo, porque também acho que não faz o meu tipo.

— Muito bem — Matt abriu um sorriso cativante. — E o que acha de grandes adaptações para o cinema?

— Enrolo, mas vejo e gosto. Às vezes.

— Sei — ele riu um tanto contido. — Nível de romance.

— Nada meloso. Pode tirar o Nicholas Sparks da sua lista. Eu o respeito, mas é muito glicose.

— Compreendido, capitã. Já sei do que você precisa.

Segui-o pelos corredores até chegar à sessão de romances. Eu estava empenhada em me tornar uma leitora mais ativa. Sarah havia me dito que qualquer leitura valia a pena, então eu estava determinada a tentar. Matt pegou três livros na mão e me ofereceu para avaliação.

— Esses saem bastante — li os títulos: A Princesa Prometida, Simplesmente Acontece e Como eu era antes de você. Aprovei os títulos. Sonoramente agradável. — Esse primeiro não tem como foco o romance. Dos três é o mais diferentão, mas é um clássico. E também tem relações familiares bem fortes.

— Bacana! Eu me lembro de alguma coisa desse filme uns anos atrás.

Quando eu era uma criança, provavelmente.

— É. Esse segundo a adaptação saiu há pouco tempo. O livro é narrado através de e-mails.

— Não brinca! — folheei as páginas, comprovando a informação. — Como fizeram isso virar um filme?

— Boa pergunta. E esse terceiro ainda está para sair nos cinemas, mas a internet já está divulgando.

Assenti com a cabeça, contente com as escolhas. Ele era bom naquilo; não me surpreendia que o senhor Bell o tivesse elogiado pelo bom trabalho. O velhinho por si só já era suficiente para movimentar o lugar, mas Matthew tinha um forte carisma. Era quase como se o senhor Bell representasse a biblioteca e Matthew a livraria. A perfeita união entre o velho e o novo.

— Posso ler e então podemos ir ao cinema ver o resultado — sugeri. — Se você não se incomodar com romances.

— Está brincando? — em seguida, ele abaixou mais o tom da voz. — Eu sou secretamente obcecado por comédias românticas. De Repente 30 é uma obra-prima, por exemplo. Mas, se alguém perguntar eu negarei até a morte.

Gargalhei com o comentário. Não porque tivesse achado ridículo, mas porque Matt era um cara gigantesco e que não dispensava filmes bobos. Sei lá, eu meio que esperava que ele dissesse que o seu filme preferido fosse tipo... Clube da Luta. Aparências enganam mesmo, amores.

— Perfeito. A gente combina, então.

— Muito bem, Ceci — ele sorriu, trocando o peso dos pés. — Então, qual dos três vai ser?

— Os três! Eu gostei de todos!

— Ah, agora já posso mesmo trabalhar com isso!

Nós dois trocamos um riso tranquilo. Após olhar para os dois lados como se verificasse se havia alguém espiando, Matt enlaçou minha cintura e me roubou um beijo rápido. Não passou de um selinho longo, mas foi suficiente para me arrancar um sorriso. Pontos para o Matthew Impulsivo.

— Obrigado pela visita — Matt piscou para mim. — Estava mesmo um tédio. Mas eu fico com dó do pessoal prestando as provas finais...

— Foi um prazer — sorri, ajeitando o avental torto. — Ai, nem me fale... Já marquei algo com as meninas amanhã... Eu ainda me lembro do quanto fiquei nervosa com as minhas provas finais...

— Você é uma boa amiga pra elas. Divirtam-se.

— O sábado e o domingo são todos seus, se interessar — devolvi a piscadela tentando aparentar expertise na arte do flerte. — Garanto que não haveria tédio.

Ao menos, era esse o plano, não?

Matt gargalhou com maldade, afastando-se dois passos de mim. Nunca me senti tão atraente.

— Ok, querida. Até sábado, então. Vou acompanhá-la até o balcão. Algo mais?

— Nada que eu possa dizer em voz alta, querido.

Ele umedeceu os lábios, sorrindo disfarçadamente. Fingi não saber do que ele estava rindo, assim como ele também fingiu que não tinha escutado nada. Voltamos para o balcão com os três livros – e um sorriso de agradecimento que valeu mesmo por três – e eu me despedi dele com uma dorzinha no coração. Eu ainda tinha uma missão a cumprir. Por mais que eu ainda estivesse um tanto apavorada com essa perspectiva, não podia me acovardar.

— Isso é sério?

Angie estava certa em se espantar com o meu convite. May estava com sua cara de tédio de sempre – apesar de eu já ter me acostumado com seu estado de espírito mal-humorado e ter entendido que não era nada contra mim –, e Sarah parecia prestes a cair no choro de tanta emoção.

— É sim — sorri. — Vou pagá-las pela diária e a gasolina para a volta. Só quero que estejam lá.

— E se a gente não conseguir? — Sarah sussurrou temerosa. Sinto que ela estava falando mais por si mesma do que pelas outras. — A gente não tem experiência nessas coisas, Ceci... E se isso arruinar o seu trabalho?

Neguei com a cabeça, sorrindo para ela com gentileza. Já fazia alguns – muitos anos –, mas eu ainda me lembrava de como era ser adolescente. Eu me lembrava de como era se sentir incapaz por conta da insegurança. Eu as conhecia, mereciam uma chance de fazerem algo “importante” antes do início da universidade. Portanto, eu havia chamado os três para serem minhas auxiliares no casamento em San Francisco, uma vez que Nona não iria. Além de confiar nelas, era bem mais fácil do que procurar por terceirização.

— Duvido que qualquer erro arruinaria meu trabalho, Sarah. Vocês só vão ajudar a montar os arranjos e colocá-los nas mesas e nos corredores da igreja. Não é nada difícil, só é algo que precisa ser feito rápido, porque igrejas têm o espaço alugado e, se não há outro casamento previsto para o dia, as missas continuam. Então seria isso e limpar depois, quando os convidados forem à festa.

Sarah pareceu ponderar a questão. Já May sorriu e esfregou as palmas das mãos uma na outra.

— Moleza. Eu topo.

— Eu... Tenho que pedir para a minha mãe primeiro — Angie comentou hesitante. — Mas, se ela deixar, eu vou com vocês. Parece divertido.

— Assim que se fala — sorri, me voltando para a única indecisa do grupo. — Sarah? O que me diz? Vai pensar e depois me responde?

Ela franziu o nariz, amontoando suas sardas no meio. Era engraçado vê-la se concentrar daquele jeito; seu rosto ficava vermelho ao ponto de contrastar com a cor laranja de seu cabelo. Após o que pareceu uma eternidade, sua expressão se suavizou até tornar-se um sorriso quase confiante.

— Também preciso falar com a minha mãe, mas se ela deixar eu prometo tentar. Não vou te decepcionar.

Comemoramos sua coragem com algumas palmas e gritinhos empolgados. Foi só naquele momento que me dei conta de que eu vivia o meu próprio De Repente 30.  Matt riria disso quando eu lhe contasse.

— Tá. Se formos, como é que é para ir? Em questão de roupas? — Angie se empertigou toda, como quem quer deixar o sentimentalismo fora de questão.

— De preto. Camiseta e calça. Cabelo preso, de preferência. Banho tomado e tal. May vai como sempre.

Sarah gargalhou, enquanto May abriu um sorriso brincalhão. Recostando-se no sofá e cruzando as pernas nada elegantemente, May prometeu:

— Eu tiro os piercings. Vou bem menininha.

— Maravilha. Quem tá com fome?

Nisso, as quatro concordaram. Para honrar minhas raízes, refiz a noite do cachorro-quente. Nona estava para chegar da senhorita Georgette, então eu ainda tinha um tempo para relaxar antes de tratarmos de assuntos sérios. Porém, quando o tempo foi se tornando escasso e Nona finalmente voltou para casa, eu tive de tomar um fôlego extra para conseguir me pronunciar sem tremer dos pés à cabeça.

— Precisamos conversar — anunciei.

— Sim, nós precisamos. Sobre muitos assuntos — ela replicou com tranquilidade. Meu perfeito oposto. — As meninas vieram hoje?

Assenti com a cabeça, embasbacada. Se eu pensava que tinha uma carta na manga, agora essa perspectiva estava enterrada debaixo da minha cara de boba.

— Estão lá em cima, no quarto... Bem, como foi com a senhorita Georgette?

Primeiro passo: trocar amenidades. Isso eu tinha aprendido no Shed. Mais ou menos.

— Sim, foi. Ela é uma mulher espetacular. Lamento não ter tido a oportunidade de conhecê-la antes.

— Ela é reclusa, fica difícil conhecer desse jeito...

— É. Bem, eu acho que estou prestes a me juntar a ela — Nona deu de ombros, deixando a bolsa pendurada atrás da porta. —Tenho evitado ao máximo me confrontar com a verdade, mas... É isso.

Franzi a testa, confusa com a súbita mudança de tom. Eu planejava trocar amenidades e me vinha isso em resposta? Como é que eu podia manter o controle das minhas emoções daquele jeito? Poxa vida, eu não era inteligente. Exigia-me muito pegar as coisas no ar. Infelizmente, eu precisava que as pessoas fossem óbvias comigo.

— Do que você está falando, Nona?

— Estou querendo dizer que vou precisar fazer uma pausa na minha “carreira”. Estou pedindo demissão. Pode contratar uma das meninas para me substituir.

Massageei minhas têmporas. Senti minha cabeça girar. Ainda bem que eu estava sentada.

— Nona, eu...

— Fiz uns exames, como me pediu — ela continuou falando, dando pouca importância para a minha perturbação. Estendeu a mão para alcançar algo dentro da bolsa. Sentou-se no lado oposto da mesa como se fosse uma advogada. Continuei observando-a enquanto ela empurrava a pasta para mim. — Enquanto estava com o seu Matthew. Vocês têm estado mais próximos ultimamente, não foi muito difícil.

Engoli em seco. Era verdade, mas eu não sabia se era uma constatação ou um comentário movido pelo ciúme. Noelle Mendez era uma das pessoas mais indecifráveis que eu conhecia.

Tive medo de pegar os exames. Pelo modo que ela estava falando, não era possível saber de antemão ou deduzir sozinha uma nova situação. Olhei para ela com um nó na garganta.

Um convite para a coragem.

Eu a abri. E Nona contribuiu falando enquanto eu analisava o raio-X. O que foi bom, porque não era lá o meu forte entender exames médicos.

— Você se lembra da dor nas costas que eu estava reclamando? Há um mês e pouco? — ela indagou, esperando minha resposta para continuar a narrativa. Assenti com a cabeça. — E... E o joelho? Como você disse?

— Pensei que não tivesse me levado a sério...

Nona abriu um sorriso constrangido. Que raridade.

— Eu sempre levo sua opinião em conta. Mas, bem... Eu tenho uma reputação a zelar. Não queria que se preocupasse comigo. Eu... Eu consigo lidar com isso.

Neguei com a cabeça. Estendi as mãos para ela, observando-a hesitar antes de segurá-las. Fiz carinho nelas, sentindo meu peito se contrair. Nona era orgulhosa, sim, mas também me conhecia desde que eu era um bebê no colo. Como eu poderia culpá-la por querer guardar aquela dor para si?

— Nona... Não precisa levar isso tudo sozinha. Eu amo você, mas às vezes parece que você se esquece disso... Eu estou bem aqui, ao seu lado... Pode contar comigo, eu sempre estarei aqui para lhe dar apoio.

Ela aquiesceu a contragosto. Dava para ver que ela estava se esforçando para não protestar ou se esquivar.

— Minhas... Minhas dores, nas costas e nos joelhos, na verdade eram fraturas. Os exames evidenciam uma osteoporose. Generalizada, agora. Sofri fraturas na base da coluna. Por isso estava doendo. O médico disse que eu diminuí dois centímetros por conta dessas fraturas — ela engoliu em seco. Pude sentir que suas mãos tremeram com a revelação. — Ele também recomendou caminhar e fazer hidroginástica... Eu estou bem com isso. Você não precisa se preocupar, Cecilia.

— Ah, Nona... — praticamente obriguei-a a me abraçar. Suavemente. Meu coração deu outro pulo no peito. E se eu a apertasse demais? Meu Deus... — Eu sinto muito por isso... Eu queria poder tirar isso de você e voltar anos atrás...

— Eu também. Eu também, Cecilia. Mas isso não é possível. Vamos ter de lidar com essa situação de um jeito ou de outro. De forma realista. E sem choro.

— Bem, eu... Desde que você me prometa que vai me deixar ajudar...

Nona se apartou do meu abraço, encarando-me com os olhos castanhos faiscando. Eu a havia contrariado.

— Estou falando sério, Noelle Mendez. Quero a sua promessa de escoteira. ¡Vámonos!

— Certo — ela bufou, mas fez a cruz sobre o coração. Sorri, satisfeita. — Eu prometo. Assim está bom?

— Menos sarcasmo da próxima — levantei-me para lhe dar um beijo na testa. Sua pele estava gelada. — Você pode só... Dar um minuto? Eu... Eu já volto.

Ela fez que sim, voltando a colocar o laudo na pasta como se nada tivesse acontecido. Como se a vida não tivesse virado de cabeça para baixo. Depois disso, subi as escadas sabe-se lá Deus como. Era possível ouvir as meninas gargalhando no quarto de hóspedes ao lado, mas aquilo não fez com que eu me sentisse mais feliz. Pelo contrário. Fez eu me sentir mais sozinha.

Sem choro.

Tranquei-me no banheiro e fiz o contrário. Chorei horrores. Não dava para simplesmente engolir o choro. Para ela era fácil fazer isso, mas para mim não.

Eu não tinha conseguido comunicar o que precisava.

A vida estava mudando e eu não conseguia acompanhá-la. Tudo dando errado.

E foi assim que a minha semana perfeitamente planejada se fez de vaca e foi para o brejo.


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Notas finais do capítulo

Nona não facilita, também, hein?
E para quem é do time das playlists, eu fiz uma para essa ♥
https://open.spotify.com/playlist/49grTxf9kwqs4VYTHjxA08



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