"To kiss in cars and downtown bars

Was all we needed."

(cardigan)

SEBASTIAN

— Você é algum tipo de voyeur ou algo do tipo? - Nathalie perguntou e eu quase cuspi minha bebida.

— O quê?

Ela deu de ombros.

— Sua mulher está ali com outro cara e você está...gostando de observar. Ou... você está puto, ainda não decidi qual dos dois

— Primeiro, ela não é minha mulher e...

— Então você é um stalker?

— Pode me deixar falar? - Ela fez uma mesura para eu continuar. - Segundo, a resposta é que estou puto e não gostando nada do que vejo. - Nathalie me olhou com uma sobrancelha arqueada. E minha língua já estava sendo controlada um pouquinho pelo álcool quando admiti: - E, ok, talvez aquele vestido esteja deixando-a atraente demais para o meu próprio bem, mas fui eu que escolhi então não posso reclamar.

A menina franziu a testa.

— Então você a conhece de fato?

— É minha noiva. - apontei para o anel no meu dedo.

Nathalie ergueu as mãos para o céu.

— Pensei que tinha dito que ela não era sua mulher. Cara, você tá chapado?

— Queria estar. - rebati virando o copo de uísque. Um nojo, não sabia porque eu me submetia aquele tipo de tortura. O uísque e assistir Olivia e o Sr. Perfeito para Ela. - A situação é complicada.

— Tô começando a me ligar nisso. Seja como for você deveria ir lá, está com cara de que vai ter um infarto a qualquer momento e é muito novo para isso. Não sei que merda você fez, mas tenho certeza que se prensar ela direitinho contra a parede, ela te perdoa. Você tem jeito que enforca bem.

Tive uma crise de tosse.

— Eu não vou dormir com você, Nathalie. Dividir essa área comigo não é o suficiente para fazer o seu namoradinho barman ficar com ciúmes?

— Ah, pode ter certeza que a essa altura ele está lívido, mas você é uma gracinha. Tem cara que sabe como fazer alguém implorar.

— Você pode, por favor, parar com isso?

Nathalie gargalhou.

— Você é muito fofo! - ela apertou minhas bochechas. - Fica todo desconcertado quando falo essas bobeiras. Sabe que estou tirando uma com a sua cara, não é? Porém, depende. Tenho pelo menos mais umas 3 horas solteira antes do meu merecido sexo de reconciliação. É o melhor tipo. Logo ao lado do sexo de tesão reprimido. Enfim, o ponto é que posso encaixar você na agenda.

— Argh, nós nos conhecemos há meia hora e eu te acho insuportável, sabia disso?

— Bem, eu te acho uma gracinha. - Rolei os olhos. - A maioria dos homens daqui são porcos machistas que já teriam gritado comigo por eu falar essas coisas. Você fica envergonhado, é uma graça.

Dei um muxoxo e voltei a olhar para a pista de dança. Para Olivia, grudada em Mathias, nas mãos dele correndo livremente pelo corpo dela.

Tentei convencer a mim mesmo que aquilo era ótimo.

Eu havia saído do bar quando percebi que o olhar de Sartori sempre voltava para mim, ela não estava nem se esforçando para prestar atenção em Mathias.

— Ah, entendi. Você é masoquista.

— Não sou masoquista.

— Vi o jeito que ela te encarava mesmo estando com um homão daqueles do lado. Não que você fique atrás, mas o que te impede de ir lá e...? Bem, acho que agora seria um péssimo momento para aparecer perto deles.

Franzi a testa, olhando de Nathalie para onde ela estava olhando.

Onde Mathias e Olivia se beijavam.

OLIVIA

Não era nada novo.

Beijar Mathias, quero dizer.

Eu sabia o que esperar.

Claro que nós dois estávamos mais experientes, mais...famintos.

Porém nossa "fome" provinha de razões diferentes: Mathias me beijava porque me queria ali. Eu o beijava porque queria igualá-lo a outra pessoa.

E era desleal, mas continuei beijando.

Deixei que ele me puxasse para impossivelmente mais perto, segurei sua nuca ritmizando nossos movimentos, nossos lábios deslizando um contra o outro com algo que beirava o desespero.

Como algo que sabíamos que ia acabar e estávamos nos agarrando a cada segundo para provar algo a nós mesmos.

Eu não conseguia ouvir mais a música, meu coração batia forte pelos motivos errados e acho que em algum ponto Mathias percebeu.

Ele costumava me ler muito facilmente.

Primeiro sua mão se suavizou na minha coxa, e então nossos beijos viraram selinhos, como última tentativas de fazer aquilo funcionar.

Estávamos ofegantes e num relance das luzes piscantes vi um pequeno sorriso no seu rosto.

Não era um sorriso de: "Isso aqui foi sensacional" , ou "Estou sem graça por causa da vontade que estou de terminar o que começamos em outro lugar", ou até mesmo "Esse sorriso é só para eu recuperar o meu fôlego."

Era um sorriso de: "Isso aqui foi bom, mas... deveríamos tentar de novo?"

Eu sabia muito bem porque era como me sentia todas as vezes depois que terminei com Max - quando não era algo bem pior.

Era o tipo de sensação que me fazia questionar se eu simplesmente não funcionava com mais ninguém. Talvez eu simplesmente devesse deixar isso para lá.

Com Mathias não era exatamente igual, afinal eu realmente gostei do nosso relacionamento anos atrás.

Mas eu já havia experimentado algo diferente nos lábios de outra pessoa e todo o resto parecia simples demais em comparação.

Nós encostamos nossas testas, voltando ao ritmo da música aos poucos.

Sebastian estava certo, mas eu também estava.

Ficar com Mathias seria infinitamente mais fácil, menos complicado e com menos riscos. Talvez fosse um caso de a simplicidade é o caminho certo, contudo...e se não fosse?

Ferrante queria que eu tirasse minhas dúvidas, não era?

Abri os olhos e encarei Mathias:

— O que você pensou de mim na primeira vez que se lembra de ter me visto?

— O quê? - Ele perguntou, tentando me ouvir sobre a música e eu repeti. Seus olhos brilharam antes de responder: - Pensei que você era a garota mais linda da cidade.

Fechei os olhos de novo e dei um sorriso.

Era basicamente a mesma coisa que Sebastian havia dito, mas de alguma forma não me atingiu da mesma forma.

Mathias não percebeu a mudança que ocorria na minha mente e roubou um beijo.

Ocorreriam outros naquela noite, contudo, tenho certeza que ambos sabíamos que aquele encontro não renderia nada mais do que aquilo.

SEBASTIAN

— Vou esperar vocês no carro. - Praticamente berrei para que Patricia e Hunter me ouvissem.

Nenhum dos dois se sobressaltou.

Para dizer a verdade, por alguns segundos, eu nem mesmo estive certo de que um dos dois tinham me ouvido.

Eles dividiam uma mesinha e cada um estava sentado numa extremidade. Se encarando como se estivessem em um jogo de Quem Pisca Primeiro.

Honestamente, eu não duvidava.

— Estou atrapalhando alguma coisa? - perguntei e então Patricia virou a cabeça para me olhar.

— Sim, sempre. - Hunter respondeu.

Mostrei o dedo do meio para ele.

— Não está se divertindo, Sebastian? Achei que estivesse arranjado uma amiga para passar o tempo. - a amiga de Olivia tinha um olhar de julgamento tão grande que, mesmo que não tivesse se passado nada além de uma conversa semi-normal e com um monte de comentários de duplo sentido entre mim e Nathalia, ele fazia com que eu me sentisse o rei dos adúlteros. Mesmo eu e Olivia não tendo nenhum relacionamento real.

— Nathalie estava querendo reconquistar o namorado dela. - Apontei para os dois se agarrando próximo ao bar. - E parece que conseguiu.

— E você está querendo conquistar alguém? - o meu melhor amigo traidor se pronunciou.

— Estou com uma dor de cabeça terrível e definitivamente sem saco para conversar com vocês dois. - Meus olhos percorreram a pista de dança, mas Sartori e Mathias não estavam em nenhum lugar visível.

Céus, estava com vontade de vomitar.

Pelo menos poderia culpar o uísque por isso.

•

Eu estava num sono nada pacífico no banco de trás do meu carro - que aparentemente todo mundo estava autorizado a dirigir e só eu não estava ciente - quando ouvi batidas no vidro.

O rosto de Mathias entrou em foco e em menos de meio segundo, eu fiquei alerta imaginando que algo podia ter acontecido com Sartori.

Então a vi, apoiada no ombro dele, com um sorriso no rosto e os olhos quase fechados.

Abri a porta.

— Trouxe a mocinha antes da meia-noite, como combinado. - Mathias disse com cumprimento.

—Não lembro de termos combinado nada do tipo.

O sorriso de Mathias vacilou um pouco, mas, se eu estivesse certo, a quantidade de álcool no seu sangue faria com que ele esquecesse minhas palavras dali a cinco minutos.

— Foi um acordo tático que vi...- Ele soluçou. - ...em seus olhos.

— Tácito. Acordo tácito. - respondi num tom casual, mas Olivia pareceu achar graça da minha correção pois começou a rir.

Por tudo o que é mais sagrado, ela estava num estado ainda pior do que o cara ao seu lado.

Ela tombou em minha direção e eu a segurei.

Olivia riu mais um pouco.

— Não sei se devo ficar mais ofendido por você vir me entregá-la aos meus cuidados nesse estado deplorável ou por insinuar que eu sou algum tipo de guardião dela.

— Sei se importa com ela. Consigo ver isso. Olivia usou cinco minutos que fui no banheiro para virar uma garrafa inteira de Deus sabe o quê. - As palavras saiam um pouco emboladas da língua dele, mas eu conseguia notar um tom contrariado por trás delas. - Ela costuma ficar um tanto...insistente quando está bêbada.

—Não estou bêbada. - Olivia rebateu contra o meu pescoço, mas pelo seu hálito dava para perceber que ela estava muito além de bêbada.

Mathias apenas gesticulou como se ela tivesse acabado de comprovar o seu ponto.

— Eu não estou no meu melhor estado de consciência e não quero que acabemos fazendo algo que vamos nos arrepender depois.

Olivia se aconchegou no meu colo quando passei uma mão na sua cintura para apoiá-la e eu ignorei a fisgada que desceu por todo meu corpo.

— Você é um verdadeiro cavalheiro. - retruquei e Mathias me lançou um sorriso amarelo.

— Não precisa ser cínico, Ferrante. Honestamente, estou fazendo isso tanto por mim quanto por ela. E arrisco dizer que estou fazendo por você também. Sei que algo realmente acontecesse, na mente de Olivia não seria eu quem ela estaria levando para cama.

— Queria saber do que você está falando e...

Mathias me interrompeu.

— Não ache que é fácil para mim entregá-la de bandeja para outro cara pela segunda vez. Não ache que não invejo você da mesma maneira que invejei Max anos atrás. Só espero de verdade que você seja mais decente do que ele.

E com isso, Mathias avisou que Patricia e Hunter já estavam a caminho, deu a volta no carro, entrou no banco carona e em cinco minutos, pelo que pude perceber, estava dormindo audivelmente.

Nesse meio tempo, ajeitei Olivia em meus braços e a puxei comigo para dentro do carro. Ela ficou meio sentada em meu colo, meio sentada no assento pois se recusava a tirar a cabeça do meu peito.

Não sei quanto tempo fiquei ali parado, olhando para a parte de trás do assento do motorista, repassando todas as escolhas da minha vida que me levaram até ali.

Com Olivia Sartori no meu colo, ocasionalmente esfregando seu rosto em meu pescoço com uma gatinha manhosa.

Sorri comigo mesmo imaginando a careta que ela faria se estivesse sóbria e descobrisse que a havia comparado - mesmo que em pensamentos - com uma gata manhosa.

— Você tem um cheiro tão bom. - Olivia comentou baixinho. - Poderia ficar aqui para sempre.

— Confie em mim, não vale a pena desejar isso.

Sartori se afastou um pouco para me olhar nos olhos. O carro estava estacionado sob um poste de iluminação e era basicamente quase toda a luz da rua. O rosto de Olivia era iluminado de forma parcial por ele e a deixava parecendo que estava sendo banhada em ouro.

— Você me deseja? - ela perguntou e senti todo o meu corpo retesar.

Ela estava falando baixo, seus lábios mal se moviam, porém sua voz soava em minha cabeça claramente, como se estivéssemos numa sala fechada, com apenas eu, ela e um alto-falante para sua voz.

— Como? - perguntei, quase engasgando com minha própria saliva.

— Você me deseja? - Suas palavras soavam tão casuais como alguém que perguntava qual seria a máxima de temperatura para o dia seguinte.

— Por que isso importa?

— Porque você me deixa louca. - ela disse e riu. - Ok, isso soou muito sexual e muito embora você também me faça sentir umas coisas não tão comportadas, o que quero dizer é que você me deixa confusa.

Eu sabia que tinha mais por vir mesmo sabendo que era um erro deixar com que Olivia continuasse falando aquelas coisas, mas meus ouvidos estavam gostando bastante de ouvi-las.

Sartori continuou:

— Sempre que nos beijamos, eu sinto algo entre nós. Algo forte. - ela se aproximou um pouquinho e nossos narizes quase se encostaram. - Algo que não sinto com mais ninguém. Acho que é inútil negar que me sinto atraída por você. Sabe que é verdade. Mas, da sua parte, nessas horas que nos beijamos não tenho dúvidas que faço com que sinta alguma coisa, e então algumas horas depois parece que você tem medo da minha proximidade. Que se pudesse colocava uma distância entre nós.

Coloquei um dedo em seu queixo e o ergui para mim.

— Olivia... Você...essa proximidade entre nós me deixa aterrorizado. Você não imagina o quanto.

— Entendo. - ela disse tentando sair do meu toque, mas eu passei a segurar seu queixo com firmeza.

— Eu não terminei, linda. - comentei, trazendo meus lábios para tão perto dos delas que eles se encostaram minimamente por um milissegundo. - Eu fico aterrorizado com cada beijo, com cada toque. Cada minuto que passo perto de você é como se eu estivesse prendendo a respiração para um evento de efeito cataclísmico em que vou perder o controle. Em que os limites naqueles papéis que nós dois assinamos não vão ter efeito nenhum para mim. Não vou conseguir parar, amor. E parte de mim me diz que você vai acabar me odiando por isso porque vou te induzir a fazer algo que não quer fazer.

Os olhos de Olivia brilhavam como duas jóias sobre a luz e porque eu sabia que possivelmente aquelas palavras iriam embora assim que ela tivesse uma boa noite de sono, eu continuei:

— Você me pergunta se eu te desejo Olivia? Eu só posso te responder que não lembro um dia sequer, desde o primeiro instante que te vi, que eu não te desejei.

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