— Por que você tá com essa carinha, Nessie? — indagou Alice assim que chegou na casa.

A menina de oito anos continuou encarando o desenho animado passando na TV, ignorando a chegada da tia. Braços cruzados e lábios fechados em um beicinho. 

— A pirralha tá amuada assim desde que eu a peguei na escola — disse Leah, que servia de cadeira para Nessie que sentava em seu colo. — Foi por isso que eu te liguei, você sabe que não sou a pessoa mais delicada com as palavras — comentou com sarcasmo.

Hoje era o dia de Sue tomar conta da neta, mas Leah tomou a tarefa com prazer, já que isso acontecia sempre quando os mais jovens da família tinham alguma folga. Era bom ter a família toda por perto para esse tipo de coisa, nem Edward e nem Bella nunca precisaram se preocupar com babás. Afinal, não faltava quem cuidasse do bebê da família. Geralmente quem assumia essa tarefa eram ou seus pais ou o pai de Bella e a mãe de Leah.

— Hmmm… — Alice sentou no sofá ao lado de Leah, olhando para a sobrinha — Alguém te chateou na escola, querida?

Nessie fez uma careta, mas continuou com os braços cruzados encarando a TV.

— Sua tia fez uma pergunta, pirralha. — Leah cutucou Nessie em seu ponto fraco abaixo das costelas fazendo a menina descruzar os braços, se esquivar e soltar uma risada involuntária.

— Para, tia Leah, não quero falar — disse Nessie, voltando a cruzar os braços, enrugar o rosto em uma expressão mais séria e aumentar o beicinho.

— Parece que nossa bebê tá realmente chateada — provocou Alice fingindo conversar com Leah.

— Tia Alice, eu não sou um bebê, sou uma garota crescida — afirmou com convicção e um semblante que lembrou as duas de um gatinho mal humorado. 

Era a mesma cara que Bella fazia quando estava irritada e sempre divertia a todos que estavam à sua volta. Ambas as mulheres trocaram um olhar divertido com a outra, mas mantiveram o rosto sério para não perderem o foco da conversa.

— Engraçado, achei que garotas crescidas eram grandes o suficiente pra falarem sobre as coisas que as incomodam — comentou Alice como quem não quer nada.

Nessie de repente pareceu em conflito entre continuar calada e mostrar que era uma garota crescida para as tias. As duas mulheres continuaram em silêncio, apenas esperando a sobrinha falar. Nessie murchou no colo de Leah antes de começar a falar.

— Não foi nada da escola — disse com um pouco de má vontade.

— Achei que você estava preocupada com a apresentação de natal que sua turma vai ter que fazer na escola. Você não disse que ia pedir pra professora fazer um trabalho ao invés de se apresentar?

Toda essa história tinha sido uma fonte de nervosismo e ansiedade para Nessie. Ela nunca realmente tinha gostado de fazer parte de qualquer coisa na escola que a colocasse na frente da turma, muito menos de ainda mais pessoas, como amigos e familiares dos estudantes. Fazer algo na frente de muitas pessoas apenas não combinava com sua tímida sobrinha.

No entanto, ela sempre conseguia dar um jeito de ficar na última fila enquanto junto com toda a turma cantava Jingle Bell Rocks ou qualquer outra música natalina. Esse ano, no entanto, a professora teve a brilhante ideia de fazer um show de talentos para as festas de fim de ano. Essa decisão tinha sido um pesadelo para Nessie e até agora ninguém tinha conseguido ter uma boa ideia do que ela poderia fazer para participar.

— Eu falei, mas a professora Jéssica não aceitou, disse que eu vou ter que fazer como todos os outros. — Ela suspirou dramaticamente, jogando a cabeça para trás nos ombros de Leah. — Eu sou a melhor aluna da turma, não sei porque sou obrigada a fazer esse tipo de coisa… E obrigada por me lembrar disso, tia.

Leah virou o rosto para Alice com muita dificuldade de esconder sua diversão agora, sussurrando “Dramática e esnobe como seu irmão”. Alice não podia discordar.

Alice pigarreou lutando tanto quanto Leah para manter uma cara séria.

— Entendi, desculpa. Mas, se esse não é o problema, o que mais te chateou?

Nessie deu um suspiro mais pesado e real nesse momento, os ombros caindo, a expressão mais abatida que aborrecida.

— Eu ouvi mamãe chorando hoje de manhã, ela tentou fingir que não tinha chorado, passou até maquiagem! — Todos sabiam que Bella não era o tipo de pessoa que usava maquiagem a não ser para ocasiões especiais. — Eu queria perguntar por que ela tinha chorado, mas aí ela ia dizer que era coisa de adulto e não me falar nada. Então, eu fiquei pensando na escola em um jeito de deixar ela feliz, mas ainda não sei.

Os ombros de Nessie caíram ainda mais e Leah tratou de dar um abraço na menina sentada em seu colo.

As duas mulheres trocaram um olhar preocupado por cima do ombro de Nessie. Uma menina dessa idade não deveria se preocupar com problemas de adultos. No entanto, não saber das coisas poderia deixar ela ainda mais angustiada. E as duas podiam imaginar muito bem o motivo de Bella estar chateada.

Leah deu um olhar incisivo para Alice, que a mulher de cabelos espetados entendeu muito bem. Era sempre complicado falar de coisas tão complexas com crianças, mas das duas ela era a que poderia conseguir fazer isso com mais delicadeza.

— Coisas de adulto são muito complicadas, Nessie, e não é sua responsabilidade consertar nada ou se preocupar com isso. 

— Mas eu não gosto de não saber de nada e de ficar sem fazer nada! 

— Nós sabemos Nessie. — Dessa vez foi Leah que respondeu apertando um pouco seu aperto em Nessie, que se fundou mais no seu colo.

— Então o que aconteceu? Vocês sabem?

— A gente tem uma ideia… — Alice começou evasiva tendo toda atenção da sobrinha.

— Você tem que saber, Nessie, que as pessoas podem ser bem idiotas e como não tem nada melhor pra fazer das suas vidas, elas adoram se meter onde não foram chamadas — Leah continuou com uma dose de acidez fazendo Nessie levantar a cabeça e olhar para ela.

— Leah! — repreendeu Alice.

A quileute trocou outro olhar incisivo com ela, como se dissesse para deixar de enrolar e ir direto ao ponto, antes que ela começasse a falar.

Alice suspirou e revirou os olhos.

— O que sua tia Leah quer dizer é que as pessoas podem ser bem insensíveis e não pensarem nos sentimentos das outras pessoas quando começam a falar.

— Alguém falou alguma coisa que magoou os sentimentos da mamãe? — indagou Nessie preocupada olhando para Alice.

— Mais como alguéns… — murmurou Leah de mau humor agora.

Dessa vez Alice enviou um olhar penetrante para Leah, que deu de ombros.

— As pessoas podem ser muito… maldosas e falar de coisas que não sabem. Você sabe como o papai é famoso e por isso as pessoas falam muito dele e tiram fotos e que por causa disso eles gostam também de falar de você e da mamãe?!

Nessie sabia disso muito bem. De como as vezes fotógrafos gostavam de tirar fotos dela quando estava com seu pai, o que era muito chato. Seu pai sempre a colocava no colo e escondia o rosto dela quando via um deles tirando foto dos dois. Ou os repórteres que às vezes queriam roubar seu tempo com o papai fazendo um monte de perguntas a ele. Era tudo muito chato! 

Eles também faziam isso quando os três saíam juntos. Nessie não entendia porque eles gostavam de tirar tantas fotos deles quando eles faziam todas as coisas que os pais de seus amigos também faziam, como ir à escola, passear ou ir às compras.

— Eles são chatos! — comentou Nessie um pouco irritada ao se lembrar.

— Eu diria que eles são mais como abutres, mas essa é só minha opinião — resmungou Leah.

— Você não tá ajudando, Leah — sibilou Alice com um sorriso irritado e olhos arregalados.

— O que são abutres? — Nessie perguntou quase ao mesmo tempo que Alice falou.

— Depois eu te mostro umas imagens no google — respondeu Leah em um tom quase conspirador que fez Alice bufar.

— Voltando ao assunto, às vezes as pessoas dizem coisas maldosas sem perceber e por mais que a gente saiba que as pessoas não disseram essas coisas por mal… — A esse comentário Leah deu um olhar cético que foi prontamente ignorado por Alice que continuou — Isso ainda pode ferir nossos sentimentos.

— Como quando a Jane perguntou se eu não era adotada? — perguntou Nessie.

— Isso mesmo, ela não queria magoar seus sentimentos, mas ainda assim você ficou triste e quando várias pessoas repetem algo que te chateia, mesmo que seja bobo ou não seja a verdade, não impede de deixar você chateada. Sem contar que Bella está muito sensível nesse momento, então é normal ficar chateada até com coisas que ela sabe que não são importantes de verdade.

— Como diria a rainha Taylor Swift, “haters gonna hate” — comentou Leah, o que fez Alice acenar a cabeça em concordância, afinal não tinha como discordar da rainha.

— Hmmm… Acho que entendi. Mas agora o que eu posso fazer pra deixar a mamãe feliz?

— Você pode dar uns abraços gostosos nela, fazer alguns desenhos pra ela, sua mãe adora seus desenhos, sempre deixam ela feliz — sugeriu Alice.

Nessie tinha pensado nessas coisas, ela sempre fazia esse tipo de coisa pra sua mãe, mas dessa vez ela queria fazer algo mais super especial pra ela. Algo que fizesse o sorriso da mamãe durar muito tempo.

— Eu sempre faço isso, tia Alice. Queria fazer uma coisa super especial dessa vez, quero que ela fique muito feliz! — Nessie esticou os braços mostrando o quão grande ela queria que essa coisa especial fosse, se sentindo empolgada para saber das ideias de suas tias.

— Você podia fazer um colar de macarrão — sugeriu Alice incerta.

— Eu fiz isso no dia das mães, tia Alice!

— Que tal fazer vasinho com garrafa de refri com uma flor? — dessa vez foi Leah que sugeriu.

— Eu também já fiz isso, queria fazer uma coisa mais especial, maior! — Esticou os braços para enfatizar o quão grande queria que fosse.

As duas ficaram em silêncio tentando pensar em algo que Nessie poderia fazer para Bella que fosse tão grande quanto ela queria. 

Era complicado pensar em algo que uma criança de oito anos pudesse fazer, pensou Leah. Pelo menos algo que fosse grande o suficiente para melhorar de forma definitiva o humor de Bella. Ainda mais com a quantidade louca de hormônios que estava circulando no corpo da sua meia-irmã. O único grande gesto que tinha feito Bella ficar em uma nuvem de felicidade por semanas e esquecer todos os comentários maldosos que os haters e a impressa fizeram dela, foi quando…

— Já sei! Eu tive uma ideia! — disse Leah animada.

— O quê, o quê, o quê? — perguntou Nessie igualmente animada.

— Você lembra quando aconteceu a mesma coisa uns anos atrás com a Bella, o que o Edward fez? — Leah indagou se dirigindo a Alice.

— O que ele fez? — Alice repetiu em dúvida. — Aaahhh, eu lembro, ela iria adorar! E isso resolve o outro problema da nossa Nessie.

— Eu não tinha pensado nisso, mas seria uma ótima ideia.

— Tias! O que é? Eu tô curiosa!

— Bom, antes de você nascer, sua mãe estava muito chateada, realmente chateada, ainda mais do que ela deve estar hoje, então seu papai fez uma música linda pra ela e cantou pra todo mundo ouvir o quanto ela era importante pra ele.

— Sério?! — Nessie tinha os olhos arregalados brilhantes e a boca um pouco aberta.

— Tão sério quanto um tumor — respondeu Leah.

— Leah! — repreendeu Alice. — Foi sério, ela adorou, foi muito romântico, na verdade.

— Seu pai sempre teve uma veia teatral, não é a toa que ele é tão famoso hoje em dia — zombou Leah com um sorriso gentil nos lábios que contradizia seu tom.

— Mas o que eu posso fazer e como isso resolve outro problema, que outro problema?

— Você não estava tendo problemas pra decidir o que você ia fazer na apresentação, ainda mais agora que a professora não deixou você fazer um trabalho?

— Sim, mas o que isso tem a ver com deixar a mamãe feliz? — indagou confusa.

— Tem tudo a ver, porque com essa ideia não só você vai deixar sua mãe muito feliz, como vai te dar um número pra apresentar na escola.

— Que ideia é essa? 

— Você poderia fazer um número musical cantando a música que meu irmão fez para Bella — disse Alice entusiasmada com sua ideia.

— Cantar? Na frente de todo mundo, na escola? — perguntou Nessie incerta.

— Quem vai cantar na frente de todo mundo?

A pergunta surpreendeu as três que se voltaram para a entrada da sala de estar.

— Papai! — Nessie gritou, saindo correndo para pular nos braços do pai.

Edward a pegou em seus braços rodando um pouco com ela.

— Como está minha princesa?

— Melhor agora que você tá aqui, chegou cedo!

— As gravações terminaram mais cedo. Mas vocês não me responderam, quem vai cantar na frente de todo mundo?

— Nessie — respondeu prontamente Alice.

— Eu não sei… — Nessie disse nervosamente, ela queria muito fazer uma grande coisa pra deixar sua mãe muito feliz, mas cantar na frente de todo mundo, ela não achava que tinha coragem.

— Mas não era isso que você queria, Nessie? Assim você vai fazer uma coisa que vai deixar sua mãe muito feliz e se apresentar na escola, pra mim é dois coelhos numa cajadada só.

— Que história é essa de deixar sua mãe feliz? 

Enquanto Edward se sentava na poltrona da sala com Nessie em seu colo, as duas mulheres mais velhas se revezaram em contar toda história para ele. Edward ouvia tudo atentamente, acariciando o cabelo da filha.

— É uma ótima ideia, tenho certeza que Bella vai adorar essa surpresa! Eu acho que tenho a cópia da música e da partitura em algum arquivo no computador. Mas parece que você não gostou tanto da ideia quanto a gente — comentou Edward observando agora sua filha.

— Eu gostei muito, papai…

— Mas…

— Eu não sei se consigo cantar e ainda mais na frente de todo mundo — falou fazendo um muxoxo e um bico.

— Você tem uma voz linda, sua mãe vai adorar, mas se você quer um pouco mais de coragem, que tal eu cantar junto com você e tocar o violão, será que assim você consegue?

— Você cantaria e tocaria pra mim, papai? — perguntou agora bem mais empolgada.

— Claro e com os ensaios, tenho certeza que seu nervosismo vai acabar, não vai ter motivo pra ficar tímida, eu vou ficar do seu lado.

Nessie abriu um grande sorriso, que se desfez em poucos segundos, se transformando em uma carranca.

— Mas será que a professora Jéssica vai deixar?

— Não se preocupe, pode deixar isso comigo princesa, tenho certeza que posso convencê-la.

As outras duas mulheres riram do comentário de Edward. Jéssica Stanley não teria nenhuma chance contra o charme do astro Edward Cullen, sua antiga paixão de colégio.

Assim como Edward disse, ele conseguiu a autorização da professora para tocar e cantar com Nessie. Nos dias que se seguiram pai e filha ensaiaram sempre que podiam na casa dos pais de Edward para que Bella não descobrisse a surpresa.

No momento que seus pais descobriram o que estavam fazendo decidiram adiantar em alguns dias a tradicional festa de natal da família Swan-Cullen para acontecer assim que saíssem da apresentação de Nessie como forma de comemoração. Alice logo arrastou Leah para os preparativos. A primeira porque não podia estar longe de uma organização de festas, e que não a toa era uma das maiores organizadoras de festas do estado. A segunda porque apesar de fingir não se importar, sempre colocou a família em primeiro lugar, ainda mais porque além de família Bella tinha se tornado a melhor amiga da quileute.

Edward não poderia estar mais satisfeito. Desde que a onda de comentários zombando do peso da sua esposa surgiram, minando cada dia mais com sua autoestima, em um momento tão vulnerável, ele estava tentando pensar em algo para alegrá-la. Ele tinha feito várias pequenas coisas que a animaram só momentaneamente, mas isso, ele tinha certeza que ia ajudar a colocar todas as suas inseguranças de lado. E a participação de Nessie em tudo só tornaria esse momento ainda mais especial para Bella, eles tinham certeza.

Enquanto o grande dia não chegava ele e Nessie fizeram de tudo pra melhorar seu humor. Embora o que realmente pareceu levantar o ânimo um pouco mais de Bella era a empolgação da própria Nessie com sua apresentação, algo que ele sabia que tinha surpreendido Bella. Afinal, a filha deles era tão tímida quanto a mãe. E embora Nessie fizesse segredo do que tinha escolhido fazer, foi impossível para qualquer um não ser contagiado por isso, algo que deixou pelo menos um sorriso nos lábios de Bella.

Esfregou as mãos no vestido novinho que tinha comprado com mamãe. Tinha sido muito divertido escolher esse vestido para seu dia especial, como sua mãe dizia, ainda mais com a tia Alice e vovó Esme para ajudar a escolher. O vestido era verde e vermelho, muito natalino na opinião de tia Leah, quando viu seu vestido. Mas era bom já que combinava com o tema das festividades. 

Seu estômago estava todo engraçado e não de um jeito bom ou divertido. Foi igual da vez que ela e Claire comeram escondidas todos os chocolates que ganharam na Páscoa. Ela ficou presa no banheiro com a mamãe segurando seu cabelo e não foi nada legal. Lembrar disso só aumentou o suor em suas mãos e testa e fez sua barriga ainda mais engraçada.

— Hey, pirralha! Você tá bem? — indagou tia Leah.

Sua professora tinha deixado alguns membros das famílias ficarem nos bastidores para ajudar os alunos na hora de se apresentar, felizmente. Se sua tia Leah não estivesse lá ela já teria fugido.

— Onde tá o papai, tia Leah? 

— Eu liguei pra ele, ele ainda não respondeu, acho que o telefone tá fora de área. Mas eu tenho certeza que ele vai chegar a tempo. E se ele não chegar já tem um áudio só com o instrumental do violão que seu pai deixou pra qualquer emergência. E eu tenho certeza que você vai conseguir pirralha, não foi pra isso que vocês ensaiaram?

— Sim, mas eu não sei se vou conseguir sem o papai!

Sua tia Leah se abaixou ficando na sua altura e segurando suas mãos. 

— Você viu os outros remelentos que se apresentaram, vou te dizer um pior que o outro. Eu acho que eu ia ficar surda com o último que tocou, e o que era aquela coisa que ele tocou afinal? — Brincou tirando um sorriso seu.

— Era um banjo e não tava tão ruim tia…

— Bom, eu tenho certeza que você vai fazer melhor.

— Eu não sei… — murmurou incerta desviando o olhar.

— Hey, nada disso — falou chamando sua atenção de volta a ela. — Pra quem você vai fazer esse show Nessie? 

— Pra minha mãe — respondeu como se fosse óbvio.

— Sim, pra sua mãe, que ficou muito animada com em ver você aqui e que tá toda curiosa pra saber o que você vai fazer. Então, esquece tudo isso… — disse gesticulando com uma das mãos em direção ao palco e as pessoas na platéia que dava para ver de onde elas estavam — e lembra que você só tá fazendo isso por ela. Quando estiver lá na frente, olha só pra ela e canta só pra ela que você vai conseguir, eu tenho certeza. Você é a pirralha mais corajosa que eu conheço.

Nessie fez uma cara séria e acenou junto com sua tia Leah. Ela tinha razão, isso era tudo para a mamãe e ela ia conseguir com ou sem o papai lá pra ajudar.

Mas conforme chegava mais perto da sua vez, seu nervosismo voltou a aparecer mais forte. Tia Leah ainda conseguiu convencer a professora Jéssica a colocar outras crianças na sua frente, até que só restou ela.

Com um microfone na mão e um sinal de positivo de tia Leah foi em direção ao palco. Seu estômago dando cambalhotas, suor escorrendo da testa, as mãos tremendo só diminuindo com o seu aperto no cabo do microfone. Respirou fundo olhando para sua mãe. “Só pensar na mamãe, só pensar na mamãe, só pensar na mamãe…”

A música instrumental começou a tocar e então, ela abriu seus lábios, só que nada saiu e ela perdeu a hora certa de entrar. Apesar de olhar só para mamãe, não conseguia ignorar as outras pessoas. Todos olhavam para ela, esperando. 

A música voltou a tocar desde o início. Nessie olhou à sua direita, onde sua tia Leah a observava nos bastidores. Virou o rosto para a multidão, mas perdeu sua mãe de vista e só havia um monte de estranhos na sua frente, todos esperando por ela. Abriu os lábios, mas nada saiu novamente. Ela não ia conseguir, ela ia deixar sua mãe chateada e toda família que não ia dar a festa de natal por culpa dela. Ela não era tão corajosa quanto sua tia achava.

Deu um passo para trás e girou um dos pés para a esquerda. Quando virou seu rosto na mesma direção, ele estava ali fazendo seus olhos ficarem tão grandes como pratos. Soltou um suspiro e abriu seu maior sorriso. Correndo direto para os braços do seu pai que estava saindo dos bastidores para o palco.

— Desculpe a demora, querida — falou baixinho no seu ouvido.

— Tudo bem, agora você tá aqui.

Seu pai se afastou dela, pegando o violão das mãos de sua tia Leah e sentando em um banco no lado esquerdo do palco, enquanto ela ia mais para o centro do palco com o microfone na mão. A atenção de todos ficou o tempo todo com seu pai, como na maioria das vezes acontecia. Vários adultos faziam cara de bobo. Era algo que Nessie estava acostumada, todo mundo sempre prestava muita atenção no papai, o que era bom porque deixavam de prestar atenção nela. E agora, com ele lá ela finalmente conseguiu encontrar novamente sua mãe, que acenava para ela, ao lado de seus avós, tios e tias.

As primeiras notas do violão começaram a tocar e dessa vez ela conseguiu fazer mais do que apenas abrir sua boca.

Your hand fits in mine

Sua mão se encaixa na minha

Like it's made just for me

Como se fosse feita só para mim

But bear this in mind

Mas lembre-se sempre

It was meant to be

Que era destino

And I'm joining up the dots

E estou ligando os pontos

With the freckles on your cheeks

Com as sardinhas do seu rosto

And it all makes sense to me

E tudo faz sentido para mim

Tia Leah tinha razão, era mais fácil cantar olhando só para mamãe. Ver ela colocar a mão na boca surpresa e arregalar os olhos, a deixou mais confiante para continuar.

I know you've never loved

Sei que você nunca amou

The crinkles by your eyes

As dobrinhas dos seus olhos

When you smile

Quando você ri

You've never loved

Você nunca amou

Your stomach or your thighs

Sua barriga e suas coxas

The dimples in your back

As covinhas nas suas costas

At the bottom of your spine

No final da sua coluna

But I'll love them endlessly

Mas eu as amarei para sempre

Sorriu sem acreditar ainda no que estava acontecendo. Quando descobriu que Nessie já sabia o que ia mostrar no show de talentos de natal, ela ficou um pouco preocupada. Afinal, sua filha era tão tímida quanto ela. Mas o fato de que ela estava armando alguma surpresa com Edward, Alice e Leah, a deixou menos preocupada. Foi muito bom ver sua filha excitada para fazer algo tão expositivo. Mas mesmo agora vendo Edward se juntar a um dueto com sua filha Bella tinha dificuldade de admitir que aquilo era real e não um sonho maluco.

I won't let these little things

Não vou deixar essas coisinhas

Slip out of my mouth

Saírem da minha boca

But if I do

Mas se deixar

It's you

É você

Oh it's you

É você

They add up to

Que elas formam

I'm in love with you

Estou apaixonado por você

And all these little things

E por todas essas coisinhas

Era impossível ouvir eles cantarem aquela música e não lembrar do passado. Não lembrar da primeira vez que Edward cantou essa letra na frente de todos para mostrar o quanto a amava. 

You can't go to bed

Você não consegue ir para a cama

Without a cup of tea

Sem tomar uma xícara de chá

And maybe that's the reason

E talvez seja por isso

That you talk in your sleep

Que você fala enquanto dorme

And all those conversations

E todas essas conversas

Are the secrets that I keep

São os segredos que eu guardo

Though, it makes no sense to me

Embora não façam sentido para mim

Apesar de ser uma memória do tempo mais difícil do seu relacionamento, também era uma recordação do quanto apesar das adversidades existirem se eles não perdessem de vista o que sentiam um pelo outro e acreditassem, nada poderia separá-los.

I know you've never loved

Sei que você nunca amou

The sound of your voice on tape

O som da sua voz gravada

You never want to know how much you weight

Você nunca quer saber quanto pesa

You still have to squeeze into your jeans

Ainda tem que se apertar para entrar na calça jeans

But you're perfect to me

Mas você é perfeita para mim

De que apesar de suas imperfeições reais e imaginadas, Edward a amava pelo que ela era. Essa música era um registro, um verdadeiro tratado que Edward fez para ela, não se permitir levar pelas suas inseguranças. Foi a forma que ele fez de lembrá-la que não precisava ser perfeita para ser amada.

I won't let these little things

Não vou deixar essas coisinhas

Slip out of my mouth

Saírem da minha boca

But if it's true

Mas se for verdade

It's you

É você

It's you

É você

They add up to

Que elas formam

I'm in love with you

Estou apaixonado por você

And all these little things

E por todas essas coisinhas

Ainda conseguia lembrar de Edward falar para ela que a letra dessa música tinha sido feita ao longo de todo o relacionamento deles. Pedaços de cartas ou pensamentos que ele uniu naquela canção. Não era uma tentativa desesperada para que ela não desistisse de tudo, mas sim uma forma de expressar tudo o que ele sentia, tudo o que ele sempre sentiu por ela.

You'll never love yourself

Você nunca irá se amar

Half as much as I love you

Com metade da intensidade que eu amo você

You'll never treat yourself right, darlin'

Você nunca irá se tratar bem, querida

But I want you to

Mas quero que você faça isso

If I let you know

Se eu lhe disser

I'm here for you

Que estou aqui para te apoiar

Maybe you'll love yourself like I love you

Talvez você se ame como eu amo você

Tinha sido difícil de acreditar no começo nas palavras daquela canção. No próprio amor dele, mesmo depois de tanto tempo de relacionamento, fosse como amigos ou como amantes. Mas ela era jovem e tola, insegura e confusa. Tinha se permitido sentir-se sentir diminuída pela sua ascensão como ator, a carreira dos seus sonhos, uma da qual ela sempre o apoiou. Ouviu demais fãs, mídia e até mesmo amigos, que nada tinham a ver com sua relação e que a faziam duvidar de si mesma a todo momento.

I've just let these little things

Simplesmente deixei essas coisinhas

Slip out of my mouth

Saírem da minha boca

'Cause it's you

Porque é você

Oh it's you

É você

It's you

É você

They add up to

Que elas formam

And I'm in love with you

Estou apaixonado por você

And all these little things

E por todas essas coisinhas

Edward tinha sido louco o suficiente para prometer a ela que desistiria de tudo, sua carreira, seus sonhos, por ela. Bella não queria nada disso, nunca pediria nada do tipo. Não só porque não era justo, mas porque ela não acreditava que ninguém tinha que desistir de uma parte de si mesmo por qualquer um. E ela nunca pediria ou permitiria ele abandonar qualquer coisa por ela. Foi difícil superar as críticas, as fofocas, as intrigas e principalmente acreditar em si mesma e no amor deles. Ela não era uma estrela de Hollywood ou a bela do baile, mas aos poucos ele a fez entender que ela era o amor da sua vida e era só isso que importava.

I won't let these little things

Não vou deixar essas coisinhas

Slip out of my mouth

Saírem da minha boca

But if it's true

Mas se for verdade

It's you

É você

It's you

É você

They add up to

Que elas formam

I'm in love with you

Estou apaixonado por você

And all your little things

E por todas as suas coisinhas

E agora lá estava ela. Ouvindo sua filha de todas as pessoas, cantando com seu marido, a música que a lembrava de tudo isso. Ela não poderia estar mais feliz por eles transformarem essa memória linda, em um momento ainda mais especial. Bella nem percebeu o rosto molhado de lágrimas ou o sorriso grande demais para caber em seu rosto, enquanto aplaudia o fim da música de pé, junto com toda a platéia.

Nessie correu para os seus braços assim que tudo terminou. Bella teria ido ao encontro da filha se não fosse pelo seu pai e Sue, junto com Esme e Carlisle a convencendo do contrário. Às vezes, sua família podia ser um pouco exagerada demais para seu gosto. 

No fim, acabou se mostrando uma boa decisão esperar eles chegarem sentada no auditório, pois sua filha não a fez quase cair em seu entusiasmo, como provavelmente todos tentaram evitar. Havia momentos em que Nessie era uma bola de energia incontrolável. Bella adorava cada minuto disso, por mais exausta que ela a deixasse, principalmente depois de um longo dia de trabalho.

— E então mamãe, você gostou? Nós fizemos pra você!

Bella ajeitou Nessie em seu colo e olhou bem em seus olhos.

— Se eu gostei? Meu amor, eu adorei! Foi o melhor presente que você já me deu!

— Sério?!

Os olhos arregalados da filha quase a fizeram rir.

— Sério, muito sério. Você até fez a mamãe chorar de tão emocionada que eu fiquei.

— Isso não vale muito, porque a tia Leah diz que agora você chora até com comercial de margarina, o que eu até agora não entendi direito.

O comentário fez toda a família reunida em volta delas rir.

— Bom então, vou ter que provar o quanto eu gostei! — disse apertando Nessie tanto quanto era possível e beijando todo o seu rosto, enquanto afirmava uma e outra vez o quanto tinha amado o dueto dela com seu pai.

Mais tarde na festa antecipada de natal, Nessie estava no meio dos avós, tios e tias ganhando os parabéns de todos. Bella dançava com Edward ao som de alguma música de natal da Mariah Carey.

— Então, essa ideia foi sua? — indagou curiosa.

— De jeito nenhum! Na verdade, tudo começou com Nessie querendo te animar — Edward respondeu com um sorriso.

— Me animar? — Franziu a testa um pouco preocupada.

— Você tenta esconder, mas nem sempre é boa, ela te viu chorando… — respondeu um pouco mais sério.

— Não queria preocupá-la.

— Porque não me falou que estavam te incomodando.

— Bom, primeiro porque não dá pra você fazer nada e segundo porque não foi nada tão sério, de verdade. Você não é meu cavaleiro de armadura brilhante Edward, embora você tente bastante.

A afirmação brincalhona foi seguida de um pequeno selinho, que logo se transformou em um beijo completo. Mesmo depois de quase dez anos Edward conseguia com apenas um beijo fazer sua pele arrepiar e roubar toda sua racionalidade. Eles demoraram alguns segundos, depois do beijo, para se lembrarem do que estavam falando.

— Eu adoro ser seu cavaleiro de armadura brilhante, mesmo que você saiba se defender muito bem.

— Obrigada por observar — disso sorrindo trançando com seus dedos da sua sobrancelha até seus cabelos — Não foi tão ruim quanto no passado, pode ter certeza. Eu tô bem, só um pouco mais sensível que o normal. De qualquer forma, estou muito feliz que meu pequeno surto hormonal resultou nesse momento tão lindo.

— Trás muitas lembranças, não é?!

— Nossa, tantas. E pensar que quase desisti de nós grávida da Nessie até que você cantou aquela música. Foi muito importante ouvir você declarar seu amor por mim de forma tão ridiculamente pública. 

Ela riu com a lembrança encostando sua cabeça no ombro de Edward enquanto ainda balançam de um lado para o outro. Ficaram alguns momentos em silêncio, só abraçados, absorvendo a presença do outro e o milagre que estarem ali, juntos.

— Então você gostou? — brincou.

— Você sabe que sim… — disse seriamente olhando novamente nos olhos dele. — E agora, ouvir nossa filha e você cantando essa música para mim? Eu só podia lembrar e pensar… Bem, ali estava minha recompensa por ter esperanças.

Bella riu com lágrimas nos olhos, muito cheia de felicidade para fazer qualquer outra coisa.

— Obrigada por ter esperança — ele sussurrou encostando a cabeça na dela.

— Em nós? Eu sempre vou ter, porque vale a pena tudo, o bom e o ruim.

Arrastou a mão dele de sua cintura para sua barriga já muito redonda fazendo ele rir com o forte chute que sentiu e que quebrou um pouco o momento carregado.

— E não esqueça Edward Cullen que para o ruim eu tenho uma ótima terapeuta. Eu estou bem — afirmou novamente — É seu filho que está me deixando toda emocional esses dias.

— Ou filha, não me importaria de ter outra garotinha.

— Vamos ver, não é?!

Depois de mais beijos e um grande pedido de agradecimento de Bella para seu bebê que afirmava que não era mais um bebê, os dois estavam colocando uma sonolenta Nessie na cama. Bella tirou os lençóis, enquanto Edward deitava a menina na cama.

— Mãe conta uma história.

— Uma história? Você tá mais dormindo que acordada, meu amor.

— Por favor!

— Tudo bem, que história você quer ouvir?

— A história da primeira vez que o papai cantou aquela música pra você mamãe.

Bella riu e Edward corou.

— Tudo bem. Acho que essa é uma ótima história, não é Edward?!

— A melhor — respondeu sentando em um lado da cama, enquanto Bella também se ajeitou no outro lado da cama encostando as costas na cabeceira, Nessie colocou a cabeça no colo da mãe. 

— Vou começar então com… Era uma vez, um garoto…