Petricor escrita por Crystal


Capítulo 1
Capitulo Único - Petricor


Notas iniciais do capítulo

Olá! Essa fic faz parte do Projeto One-shot Oculta, um amigo oculto entre autoras do fandom de Crepúsculo. Confira as regras e todas as participantes no nosso perfil oficial “bit.ly/POSOnyah“ na aba "Favoritas” e “Estou Acompanhando”.

Essa fanfic é dedicada à minha amiga oculta Nic!

Estou muito feliz por conseguir terminar a fic a tempo e espero muito que você goste, amiga! Foi uma superação fazer algo assim e espero muito que te agrade. Feliz Natal!

A one está divida em 4 atos, mas é só para organizar os arcos certinho.

Essa fic não foi betada, mas foi revisada por mim, então se virem qualquer errinho, por favor, me avisem.

Beijinhos e até mais *----*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804884/chapter/1

PETRICOR 

 

“Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotação universal, senão rodar também? E amar. Amar.” 

Carlos Drummond de Andrade, Amar 

 

I – A CHEGADA  

Foi horrível para todos os três irmãos Cullen, Alice ter estourado a porcaria do cartão pela quarta vez em dois meses. Foi horrível também que o ato falho tivesse coincidido com a semana de despedida do colegial de Edward e com o carro totalmente detonado de Rosalie. Se talvez houvesse tido alguma comunicação entre os irmãos e as traquinagens inocentes tivessem sido com intervalos maiores de ocorrência, tal castigo poderia ter sido evitado. Talvez, com um tempo a mais para pensar, Esme não tivesse tido a ideia brilhante de mandá-los todos para a fazenda quase esquecida no norte. Talvez, se ninguém tivesse feto algo nos últimos seis meses, Carlile poderia não ter concordado com sua querida esposa. Talvez, se nada disso tivesse acontecido, Edward poderia estar em casa, jogando seu videogame e esperando a carta de aprovação de Harvard - que provavelmente chegaria em um ou dois meses - com a sua aceitação ao invés de apertado em um carro indo em direção aos confins do mundo. Bye, bye, tecnologia e conforto! Olá, olá, lama, calor e fedor!  

Alice resmungou ao seu lado, ajeitando-se no espaço minúsculo, apertando mais Edward e Rosalie como resultado. Rose empurrou de modo grosseiro a irmã, consequentemente empurrando Ed contra o vidro. O jovem revirou os olhos, o rosto praticamente grudado na janela quente de sol, contando os minutos para a maldita viagem acabar.  

—Você tá amassando o meu cabelo! Demorei anos para terminar o babyliss de manhã, Alice!  

Apenas Rosalie se arrumaria tanto para uma viagem ao purgatório. 

—Você que tá amassando a minha roupa! Olha só, cada vez que esse carro passa em um buraco você pega mais espaço, daqui a pouco estarei viajando no porta malas! 

Claro, apenas Alice também se arrumaria. Edward nunca quis tanto entrar em processo de hibernação e despertar apenas no fim de três meses.  

—Talvez lá seja mais tranquilo que aqui, pelo amor de deus! - Resmungou, referindo-se ao purgatório, batendo a cabeça contra a janela fechada.  

Sua mãe, Esme, no banco do motorista, riu levemente, observando a interação dos irmãos pelo retrovisor. Carlile, seu pai, procurou por alguma estação boa na rádio, tentando se distrair da barulheira dos filhos, embora o sinal tenha ficado exponencialmente ruim conforme se embrenhavam mais na estrada de terra. Nem torres mais podia se ver entre a mata. Como sobreviveria sem o sinal do telefone? E se alguma coisa acontecesse?! Deus, como se arrependia daquela bendita comemoração! 

A música soou em volume ambiente, a voz da cantora era bonita, mas não fazia muito o estilo do garoto. Suspirou, resignado, pensando que quem estava enlouquecendo* era ele no meio daquela selva. 

—Já estamos chegando, querido. Tente dormir mais um pouco, sim? 

—Não consigo dormir.  

—Insônia de novo?  

Edward se esquivou, sabendo que ter escondido seu pequeno probleminha acarretaria em mais falação.  

—Voltou esses dias. Não consigo dormir direito. 

—Quantos dias, filho? Por que não me contou? 

—Hm, não faz tanto tempo... 

Carlile se virou para encará-lo nos olhos daquele jeito desconcertante e sério. O médico profissional mesclando-se com o pai cuidadoso.  

—Talvez... Uns dois meses mais ou menos. 

—Anthony! - Esme ranhetou, incomodada por não ter reparado na indisposição do filho mais cedo.  

—Não é tão grave assim!... vocês sempre fazem um alarde e eu... eu não quero voltar a tomar os remédios, me faz parecer esquisito.  

Os olhos gentis de Carlile amoleceram ainda mais.  

—Não é esquisito, meu filho. Já conversamos sobre isso. Não é vergonha nenhuma precisar dos medicamentos, o que não pode deixar acontecer é afetar a sua saúde por achismos. Precisa relaxar e respirar ar puro, talvez ajude nisso. Quando voltarmos, veremos mais sobre esse assunto, ok? 

Edward não acreditava que cheiro de esterco e isolamento ajudariam na sua insônia, mas assentiu mesmo assim. Não queria decepcionar mais ainda seus pais.  

—Ah! Estamos chegando! - Alice exclamou muito animada para alguém indo para o meio do mato. A previsão de dez minutos antes mesmo sem saber o caminho certo não surpreendeu ninguém na família já tão acostumada às peculiaridades da garota de 17 anos.  

Um garoto forte, robusto, esperava-os sentado em uma porteira de madeira. Ele parecia habituado a todo aquele lugar, apesar de não estar usando chapéu de palha e roupas em tom xadrez como Edward imaginava. Ele deu passagem, puxando a madeira pesada com um sorriso grande de covinhas no rosto. Edward lembrava vagamente de brincar com uma criança parecida com ele muitos anos atrás em uma das viagens de férias à fazenda.  

—Boa tarde, Emm. Quer uma carona para voltar? 

O garoto sorriu ainda mais, apertando com afeto a mão que Esme estirava.  

—Só se eu fosse no colo de alguém. - Riu, debruçando-se na porteira novamente. -Podem ir, estou esperando Mike para falarmos sobre os cachorros entrando e fazendo bagunça de novo.  

—Tudo bem, te esperamos no jantar, ok? Até mais tarde. - Carlile quem respondeu, sorrindo doce.  

Edward acenou com a cabeça em uma saudação tímida, sem saber como o cumprimentar, mas o sorriso saudoso que recebeu o acalmou um tanto. Puxando-o de suas reflexões, Ed fez uma careta enojada ao ouvir Rose sussurrar para uma Alice elétrica “Eu bem queria ir no colo dele”.  

 

—---------------------------X--------------------------------- 

 

O restante do caminho emburacado foi mais leve. Edward queria descansar em sua cama, mas é claro que sua mãe faria com que cumprimentasse a todos na fazenda. A parte boa foi reencontrar Jasper e poder, depois de alguns minutos, conversar adequadamente com Emmett, ambos o trataram como se o tempo e a falta de comunicação tivesse sido um pequeno empecilho para a amizade duradoura de infância. O falatório fluía e seria mentira se Edward dissesse que não se sentia bem e confortável entre os dois. Combinando de se verem mais tarde, Emmett saiu para resolver assuntos importantes sobre os cavalos enquanto Ed e Jasper conversavam animados sobre todos os anos que passaram. Isso até Alice entrar saltitando pelo celeiro, procurando por Edward e suas presilhas de ursinho e, então, parar, surpresa, um grande sorriso crescendo nos lábios.  

—Alice, esse é...  

—Jasper!  

Jazz, aparentando estar um tanto aéreo, sorriu de leve. Edward ficou surpreso. Era preciso um pouco de esforço para arrancar um sorriso sincero de Jasper. Desde pequeno o adolescente era conhecido por sua seriedade além do normal.  

—Exatamente. Jasper já está aqui há muito tempo, brincávamos quando éramos pequenos. Jazz, essa é Alice, lembra-se dela?  

—Infelizmente, não. Que lastima para mim, esquecer um rosto tão bonito.  

Alice teve a decência de se envergonhar, balançando-se de um lado a outro, incapaz de ficar parada. Edward queria se enfiar no feno tal qual um avestruz e se esconder daquela nuvem de flerte estranha. Alice e sua mania de se interessar por seus amigos mais velhos. 

—Oh, obrigada. Mas, um elogio só não vai me fazer te perdoar por me deixar esperando tanto tempo. Como fará para se redimir? 

Jasper, se possível, enlargueceu ainda mais o sorriso, fazendo uma mesura engraçada, como se estivesse a frente de alguém da nobreza.  

—Creio que possa me perdoar se fizéssemos um passeio essa tarde. As cores dessa fazenda ficariam ainda mais bonitas ao seu lado, madame. - Jogou, galanteador, ganhando bochechas vermelhas e um braço enlaçado ao seu.  

Edward franziu a testa, não entendendo como poderiam ver cores quando.... Arregalou os olhos, estupefato! 

—Sua alma-gêmea é Jas...  

—É, pelo jeito teremos que voltar com mais frequência até aqui, irmãozinho. - Alice concluiu, os olhos vidrados nos de Jasper.  

Ainda em estado de choque, assimilando que sua irmãzinha era alma-gêmea de Jasper e que agora poderia ver as cores que tanto ansiava por ver, Edward se afastou. Geralmente, as pessoas poderiam sair dessa vida de cinza monocromático a partir dos dezesseis anos ao olharem nos olhos da sua alma-gêmea. Ed sabia desde pequeno quão singular era essa ligação. Seus pais eram almas-gêmeas, seus avós foram almas-gêmeas, seus tios eram almas-gêmeas, mas apenas a probabilidade de ele ter uma alma-gêmea o assustava e encantava ao mesmo tempo. Era estranho essa coisa de apenas ser completo com outra pessoa, só poder ver de modo correto por interferência de outra pessoa.  Tinha a sensação de que não podia traçar seu próprio caminho e se revoltava um pouco com isso.

—Se resolvam aí, eu vou ver se precisam de ajuda em algum lugar.  

—Vá atrás de Bella no meu lugar, acho que ela precisa de ajuda com as galinhas, fugiram de novo essa manhã e ela ainda está tentando juntar todas. 

—Bella? Quem é essa?  

—É a filha de Charlie, está aqui desde o ano passado. Esme e Carlile conversaram com ela agora pouco.  Vá, vá logo.

O abanar de mãos e os olhos que não se desgrudavam mais desde que se olharam pela primeira vez foram mais do que suficientes para que Ed retornasse pelo caminho da casa. De fato, o lugar era bonito. Embora as cores estivessem escondidas e os animais zanzassem por ali como um maldito zoológico, Edward gostava de como o ar parecia menos denso do que na cidade, longe da poluição visual e atmosférica. Podia quase relaxar, mas aí lembrava de seu celular sem torre e voltava a praguejar.  

Andava distraído pela trilha de pedrinhas - Lembrava-se de brincar ali com uma menininha quando era pequeno demais para saber contar direito, não conseguia se recordar direito do rosto dela, mas, ás vezes, ainda sonhava com os olhinhos bonitos - quando ouviu um cacarejar que aumentava de modo exponencial e de repente estava no chão. Uma cortina espessa de cabelos negros foi tudo o que viu por um momento. Depois, o peso em cima de si o acordou para o tombo que levou. As costas reclamaram pelo impacto. Aquelas pedras eram pontiagudas! Uma galinha bicou sua orelha e ele a espantou com um olhar atravessado. 

—Ai meu deus, perdão! Eu não queria trombar em você assim! - O som da voz feminina fez seu estômago embrulhar em algo parecido com gelo, sinos tocaram em seus ouvidos. Edward revirou os olhos. Era só o que faltava, arrumar uma concussão pela queda.  Sentia-se tonto.

—Agradeceria se você saísse de cima de mim ao invés de ficar tagarelando sobre a sua queda, minhas costas doem. 

A garota se levantou rapidamente, limpando a terra das vestes e o encarando com curiosidade, como se o conhecesse de algum lugar e tentasse se lembrar. Seria mentira se Edward dissesse que não se encantou por um momento pela beleza dela, mesmo suada e suja. Porém, não teve tempo para pensar nisso, pois o mundo pareceu parar ao encarar fundo os olhos dela. Seus próprios olhos doeram como o inferno e, então, luzes pipocaram em sua visão, em sua mente, como se o bigbang tivesse acabado de acontecer e os átomos estivessem se alinhando para adequar sua visão às cores a sua volta. Conseguiu focar no corpo pequeno frente a frente com o seu, as curvas angulosas dela na blusa xadrez azul que realçava seu tom de pele bonito, as sobrancelhas suaves que davam graça ao rosto bonito de maçãs adoravelmente salientes, os olhos de chocolate que eram destaque na composição bonita que ela era (os mesmos olhos dos sonhos!). O perfume suave dela que se destacava entre o cheiro de lama e de excrementos espalhados. Linda, sua alma-gêmea era linda.  

Pelo balançar de seu diafragma, a garota estava em choque, respirando forte.  Edward também estava. 

—Eu...eu... 

—Me diga que está vendo cores também?! Eu não estou ficando maluco, estou? - Exclamou, conseguindo enfim olhar ao redor, analisando a imensidão de nuances e tons na paisagem. Tons que nunca sequer imaginou serem possíveis, nuances mágicos!  

—Você me encontrou!   

—Somos almas-gêmeas!  

Disseram ao mesmo tempo. Edward podia ouvir a emoção borbulhando por trás da frase dela, pelos olhos inundados em satisfação.  

Em um ato repentino, ela o abraçou forte, praticamente pulando nele, os braços enrolados em seu pescoço enquanto, de modo automático, suas mãos envolveram a cintura delicada. Estranhou quando o coração retumbou no peito, as cores ao seu redor se tornando mais vivas e fortes em reflexo ao sentimento de pertencimento que correu por todo seu corpo. A garota tinha cheiro de lama, chuva e feno, mas também perfumava a lar. Era como se ali, nos braços dela, estivesse em casa.  

Por isso, apertou mais o enlace, incapaz de soltá-la por um momento, suspirando pelas novas sensações, jubilando-se pela segurança que nunca antes havia sentido. Como era possível? Mal a conhecia! Nem sabia o seu nome! 

—Você praticamente caiu em cima de mim, como não poderia te encontrar? - Fez gracinha, ouvindo a risada dela pela primeira vez, soltando-a devagar. Viu com uma satisfação nova as bochechas dela ganhando cor. Era uma coisa adorável.  

—Eu não cai de propósito, estava correndo atrás de Doroteia e Magnólia. Você que deveria ter me visto e desviado se não queria ser derrubado! 

—Mas foi você que veio igual um carro desgovernado pra cima de mim, como eu ia desviar se não sabia pra que lado você ia?!  

—Você é cego por um acaso? É óbvio que se eu tivesse te visto teria desviado, então era sua responsabilidade me alertar antes que eu chegasse até você! 

Edward riu com gosto, encarando a feição irritada e petulante da garota a sua frente, sua alma-gêmea.  Sua cabeça repetia em um mantra: "Sua alma-gêmea, sua alma-gêmea, sua alma-gêmea, sua alma-gêmea, sua alma-gêmea."

—Em que mundo a sua lógica faz sentido, garota?!  

—No mundo Isabella Swan! E não me chama de garota, mauricinho, eu sou sua alma-gêmea, tenha respeito! 

Edward sorriu ao descobrir o nome dela, mas logo uma expressão irritada tomou conta ao entender do que ela o chamara. Mauricinho?! Quem ela pensava que era?! 

—Eu não sou mauricinho! E escuta aqui, Isabella Swan, eu não sei quem você pensa que é, mas... 

—Ah, Bella, querida! - Esme cortou a discussão aparecendo de repente, indo direto para a garota e a abraçando com força. -Você cresceu tanto! Está uma moça linda! 

Bella pareceu deslocada por um segundo, constrangida e, então, movendo o olhar irritado para Edward de novo. Esse que sustentou o olhar com teimosia.

—Vejo que já se conheceram. Esse é meu filho, Edward.  

—É um prazer, Edward. - Sibilou de modo abusado, esticando a mão em cumprimento. Edward riu, esquecendo da irritação anterior. Ela era muito fofa com raiva. 

—Igualmente, soulmate. - Provocou, abrindo mais o sorriso quando ela rosnou de maneira atrevida, apertando sua mão com força. -Você é forte, Bella, quase quebrou minhas costelas quando pulou em mim agora pouco.  

O acontecido fora de contexto aparentava como a tentativa de um flerte. O rosto dela e as orelhas ficaram vermelhos vivos. Edward estava preparado para que ela pulasse em seus braços de novo, agora com o fito de acertá-lo um soco.  

—Oh, voc-cês? Meu Deus, que coisa maravilhosa! Alice disse que encontrara Jasper agora pouco, mas eu nunca imaginaria que... Bella! Bella com meu filho?! O destino realmente faz as coisas do jeito certo! Estou tão feliz! Vamos, vamos, conversem, se conheçam, vou contar a Carlile! Ele ficará tão feliz! Sempre te considerei parte da família, minha filha, agora então isso é uma verdade! Já volto! Ou melhor, venham todos para o jantar, chame seu pai também, Bella. A família toda reunida! Meu Deus, que reviravolta! - Exclamou tudo em uma só vez, tão falante quanto Alice. Eram nesses momentos que Edward via de onde sua irmã tirara aquela espontaneidade quase incontrolável.  

O silêncio que caiu sobre eles foi desconfortável. Nem parecia que estavam a abraços e farpas minutos antes. A inercia do como agir fez com que olhassem para qualquer lugar, desviando a atenção dos olhos um do outro, absorvendo o mundo novo que se abria.  

—Sabe, minha mãe se empolga às vezes, não precisa ir, nem necessariamente precisa chamar seu pai para jantar se não quiser.  - Quis ser legal, escondendo suas reais intenções de adiar para o mais longe possível o encontro com o pai da garota.

Sua sugestão fez Bella o olhar, astuta.  

—Não faria essa desfeita com Esme, ela sempre me tratou muito bem e se preocupou comigo como uma mãe. Acredite, eu quero ir para o jantar. 

—E seu pai?  

Edward coçou a garganta. Lembrava-se bem de Charlie, sua cara fechada e o rifle de longo alcance que carregava esporadicamente de lá para cá pela fazenda.  Arrepiou-se e não foi do jeito bom. 

Bella sorriu, provocadora.  

—Ah, você irá adorar o meu pai e tenho certeza que ele irá amar conhecer o meu soulmate. Ele gosta muito da sua família e admira muito o Sr.Carlile.  

—Tenho certeza que sim. - Ed resmungou, com um pouquinho de receio por seu próprio pescoço.  

Uma galinha pulou voando penas pelo caminho de pedras, lembrando Bella de seu afazer principal.  Magnolia, Doroteia e sua gangue não entrariam na casinha sozinhas.

—Tenho que terminar de recolher essas diabinhas, nos vemos no jantar, idiota.  

Edward tirou o pé quando uma das galinhas que o rodeava bicou o cadarço de sua bota.  Galinha estúpida!

—Nos vemos.  

 

—---------------------------X--------------------------------- 

 

Esme ficou exultante e Carlile se surpreendeu bastante pelas novidades.  Rosalie, emocionada e enciumada por ainda não ter encontrado seu soulmate, se incomodou um pouco, mas logo deu fim à chateação ao ver como despertava a atenção de Emmett. Depois disso, almas-gêmeas não importavam tanto assim quanto estar bonita o suficiente para o garoto robusto. Alice, feliz demais com Jasper para prestar atenção em Edward, apenas sorriu um tanto obliqua, como se tivesse a sensação de que algo assim ocorreria.  

O jantar correu bem, todos muito acostumados às refeições conjuntas, comendo felizes na mesa que comportava todas as pessoas de modo confortável. Porém, Edward sentia o olhar de Charlie nele enquanto mastigava seu bolinho, espetava o porco assado e bebia seu suco de limão. Charlie o seguiu com o olhar quando se levantou ao banheiro, quando Bella sorriu maléfica para ele e quando tropeçou em Doroteia chegando à mesa. Em todos os lugares, durante todo o jantar, o tiro fatal de Charlie o escaneou como um chicote e ele não foi idiota o suficiente para demonstrar o medo crescente que sentia enquanto apertava a mão de seu “provável sogro” no final de todo aquele circo.  

Edward queria poder se camuflar à paisagem, ou talvez ser totalmente imune às balas de Charlie, como uma barreira de aço maciço. Infelizmente, não pode fazer nada a não ser fingir normalidade e confiança.

—Nos vemos amanhã, Edwardzinho. - Bella, só para instigar ainda mais a raiva de seu pai e como vingança por envergonha-la na frente de Esme, beijou de supetão a bochecha do pobre indefeso. Ed só conseguiu engasgar e arregalar os olhos. Charlie envermelhou-se dos pés à cabeça, furioso.  

—Só uma gracinha, rapaz, uma gracinha e então Carlile e Esme terão que se preparar para um funeral.  

Edward tinha certeza que alguma coisa pastosa tinha descido por sua calça.  

 

II - ENCANTO 

Mesmo semanas depois, o Cullen ainda não tinha se acostumado com o fuso horário daquele lugar. Um galo cantava ao fundo, alto e forte o suficiente para acordar a todos, mas Edward acordou mesmo foi com cacarejos em seu ouvido, pulando assustado quando sentiu patinhas pequenas em sua barriga. Muitas patinhas!  

Gritou, exasperado ao abrir os olhos e dar de cara com os olhos vesguinhos de uma galinha a sua frente. Agitou-se, atrapalhado com o lençol que o cobria, enrolando-se todo e acabando por cair da cama. As galinhas gritaram, assustadas com os modos do homem, e voaram como puderam pelo quarto espaçoso, ciscando pelo chão como se fossem donas do quarto.  

A janela aberta indicava que ainda era madrugada, embora os animais estivessem a toda com seus sons matinais. Edward se levantou do piso de madeira rustico, irritado e indignado, escorregando no tapete perto da cama e quase caindo novamente se não fosse a mão auxiliadora de Bella o dando estabilidade.  Sabia que era ela antes mesmo de olhá-la, o perfume denunciava. Amava aquele perfume. 

Assim como os dias passavam de modo lento, lentamente seu coração amolecia por Bella. Cada vez mais fadado ao enlouquecer, cada vez mais caído pela vaqueira doce. Ela sempre parecia disposta ajudá-lo, mesmo quando ele não pedia realmente algum amparo nas atividades da fazenda.  O preço, claro, era sua sanidade pelas implicâncias infantis e provocações ácidas. O problema era que o pobre coração do garoto era masoquista o suficiente para gostar de uma garota problema que não conseguia o deixar em paz.  

O rosto dela estava adoravelmente inchado de sono, a pele com marcas de travesseiro, o cabelo amarrado e desarrumado em um coque frouxo. Edward quis ter o privilégio de vê-la daquele modo em outras circunstâncias.  

—Por que está gritando desse jeito? vai acordar a casa toda!  

A voz dela o lembrou das galinhas encrenqueiras que foram ciscar em sua cama, nele próprio! E a raiva voltou. Soltou o lençol e se virou às galinhas espalhadas, espantando-as com ponta-pés mal calculados que acertavam mais ar que bichos, na verdade. Escutou Bella rir de seu modo desastrado. 

—Alguém segure esse bicho! Vou te assar, coisinha, e aí quero ver quem vai rir por último, sua galinha mal criada! - Rugiu para a galinha chefe, tentado a pegá-la e jogá-la do outro lado do córrego. 

—Não fale assim com ela! Angelina não tem culpa do seu mau-humor! 

—E quem te chamou aqui, Isabella? Não lembro de ter chamado por você! 

Na mesma hora que as palavras rígidas saíram de sua boca, Edward quis as recolher. Respirou fundo, passando as mãos entre os cabelos bagunçados. Suspirou. Bella se manteve quieta, o que era ainda pior que vê-la retrucando-o por aí.  

—Desculpe, eu... acho que não fui o mais cavalheiro dos homens.  

A garota o ajudou a recolher a tropa de Angelina com segurança para fora do quarto, esfregando as mãos com um quê de nervosismo. 

—Creio que se aparente mais com o cavalo do que com o cavalheiro, mas entendo um pouco seu lado. Angelina pode ser um pouco difícil.  

Edward quis retrucar “Assim como sua protetora”, mas conseguiu se manter quieto, o sorriso mínimo no canto dos lábios escapando.  

—Não quis dar uma de idiota gratuitamente para cima de você. Sério, me perdoe.  

—Está tudo bem. Nos vemos depois. 

—Sim, obrigado. E... Bella... - Chamou, num rompante de coragem. A garota se virou, curiosa. -Eu queria... Depois, quem sabe, não podemos dar uma volta por ai? Só... só nós dois. Podemos?  Precisamos, hm, conversar, não acha?

O sorriso morno no rosto dela foi lindo. Edward queria fazê-la rir daquele jeito mais vezes. 

—Podemos dar umas pedaladas no final da tarde, que tal? Pegue a bicicleta velha de Emmett.

Angelina cantou, como em um estimulo a Edward concordar com o passeio.  

—É perfeito! 

Edward sentiu no peito uma emoção distinta, feliz demais por um simples sim ao convite. Geralmente, não ligava tanto para qualquer affair com as garotas do colégio, mas com Bella toda conversa, por mínima que fosse, fazia com que sentisse que estava pisando em nuvens, de tão leve. Mesmo ranhetando um com o outro, ou enchendo-o com provocações idiotas, era bom conversar com ela e ter sua atenção.  

No café, todos se juntaram para comer. Jasper e Emmett ocupados demais com suas irmãs para que prestassem atenção nas galinhas que, soltas novamente, ciscavam em seu pé.  

—Para onde eu vou essas coisinhas me acompanham, devo ter cara de milho ou cheiro de paiol! - Resmungou para si próprio, vendo pelo canto dos olhos sua mãe rir de sua tragédia pessoal. Ninguém o levava a sério naquele lugar!

—É melhor se acostumar, mauricinho. Você vai aprender que aqui e na vida, nem tudo sai como você quer. - Bella comentou, enfiando um pedaço grande de pão na boca. As bochechinhas estufadas tornavam-na tão fofa quanto um bebê.  Edward achava que nunca poderia se irritar verdadeiramente com ela. Não sabia se era pela ligação, ou por seu coração mole mesmo.

—As galinhas deveriam mesmo acordar às seis da manhã? Sério? E quem é que deixa elas fugirem todo santo dia?! Não é seu trabalho cuidar para que elas fiquem onde devem ficar? - Continuou reclamando, agora com o objetivo apenas de torrar a paciência de Bella. Sabia que suas preciosas galinhas eram seu ponto fraco. 

—Elas acordam na hora que as convém, não interessa se você quer acordar tarde. Além do mais, você sempre pode ignorar e dormir por quanto tempo quiser em vez de ficar azucrinando os meus ouvidos! 

—Nossa, alguém acordou do lado esquerdo do paiol, não é, Doroteia?  

Como resposta a galinha alaranjada bicou com vontade os dedos descobertos de Edward, que pulou com uma carranca. Bella se sentiu vingada. Ed, traído. 

 

—---------------------------X--------------------------------- 

 

Aguardar pelo momento livre de Bella foi angustiante. Não sabia porque se sentia tão nervoso apenas por conta de um passeio simples entre dois amigos, mas não podia enganar ele mesmo. Com o passar dos dias, Bella havia se tornado muito importante. Tão mais importante que qualquer amiga que já teve, tão mais importante que qualquer sentimento que Edward já havia sentido. Ela era sua alma-gêmea e seu corpo sabia, assim como seu coração, que se apaixonar por ela seria tão fácil quanto respirar. Não podia escapar do destino. E, estranhamente, não se sentia mais tão revoltado pela sensação de não comandar seu destino se ele o levaria para junto de sua Bella.

Sentado nas escadas do lado de fora, a bicicleta pronta para o embarque, esperava por sua soulmate enquanto roía as unhas.  

—Bora, garotão. Antes que meu pai me pegue de papinho com você e decida nos acompanhar. - Bella implicou, fazendo questão de pegar em seu medo.  

As bicicletas crepitavam pela velhice e o uso exacerbado, o vento batia em seus cabelos e era bonita a forma como desarrumava as ondas suaves do castanho espesso de Bella à sua frente. Não podia acreditar que estava perdendo para a vaqueira, mas suas pernas não conseguiam mais acompanhar o ritmo das pedaladas velozes. Não tinha culpa se não costumava andar de bicicleta pela cidade, era muito mais prático usar o carro. Ela era uma ciclista mil vezes melhor, apesar da estatura menor e da preguiça a exercícios. Não sabia também para onde estavam indo, apenas seguia a garota com a certeza de que logo chegariam a qualquer lugar bonito e calmo o suficiente. 

Pararam embaixo de uma macieira, as folhas espessas traziam sombra o bastante para que o chão gramado estivesse fresco. Sua bicicleta derrapou ao frear com força desmoderada e quase caiu em cima das pedrinhas britas que faziam a estradinha. Bella riu. Seu jeito esbaforido sempre a fazia rir daquele modo tão bonito. Edward sabia que para vê-la com aquele sorriso faria qualquer coisa, até mesmo ser um bobo idiota em sua frente. 

—É lindo aqui, não é?  

Ela se sentou, olhando o horizonte, mal ligando para o short que ficaria sujo de terra e grama. Edward se sentou também, bem ao lado dela, nenhum espaço separando as coxas esticadas lado a lado, as bicicletas jogadas aos pés dos dois.  

—É, perfeito. - Concordou, apesar de não estar olhando necessariamente para a paisagem. 

A vista do campo todo em laranja rosado era linda, não podia negar, embora estivesse nervoso pela óbvia derrota na corrida de bicicleta, mas a pessoa ao seu lado brilhava mais do que qualquer pôr do sol maravilhoso e Edward não podia nunca dizer que se arrependia de ter ido até aquela fazendo no fim do mundo.  

—Então... 

—Então... 

Ed coçou a garganta, cruzando e descruzando os dedos. 

—Nunca conversamos sério sobre a nossa... 

—Nossa ligação. - Ela completou, ainda sem o encarar, ainda focada no horizonte. 

—Já faz um tempo.  

—É. 

—O que eu quero dizer é como você se sente em relação a isso? 

Foi direto como o momento pedia. Tremia um pouco, ansioso, preocupado, feliz, um misto de emoções conflitante que o deixavam inseguro e deslocado. Era estranho, nunca havia sentido tanto assim. Não sabia lidar com aquilo.

—O que você sente em relação a isso? - Ela devolveu a pergunta, fazendo-o com que rolasse os olhos. Claro que ela também seria difícil. 

—Estamos ligados de um jeito que eu ainda não entendo.  

—Eu sei, eu sei! A ligação não foi algo com que eu esperava também, Edwar... 

—Não digo apenas disso, digo sobre esse laço, essa coisa que eu sinto toda vez que fico perto de você. Esse tremor no peito mesmo quando brigamos e você me xinga de idiota... eu não consigo entender o jeito como me sinto. Nunca... nunca senti algo assim antes. 

Ela demorou um pouco mais para responder, perdida em seus próprios pensamentos. O brilho do sol deixava o chocolate de seus olhos ainda mais lindo. Edward pigarreou, voltando seus lumes ao pasto a frente, às macieiras sortidas pelo espaço amplo.  

—Pelo menos... pelo menos não sentimos isso sozinhos, não é? É tudo reciproco de certa forma. Isso não... não te deixa mais calmo? 

O suspiro que Ed soltou não foi apenas de alivio, mas também de apreciação. A companhia, a paisagem, o clima, tudo parecia contribuir para deixá-lo relaxado como nunca antes. Poderia dormir ali facilmente e levando em questão sua insônia difícil já de muito tempo, aquilo era um feito e tanto. 

—Sim.  

—É quase tão reconfortante quanto pular de um abismo... 

—Só que com uma rede de alta segurança pronta pra te pegar. - Completou, sorrindo ladino. Ele não viu, mas as bochechas de Bella coraram de modo leve. -Como se o universo te dissesse para fechar os olhos e confiar.  

Bella segurou seu braço, hesitante. Um toque morno que o arrepiou inteiro. Olhou para ela e não pode esconder o carinho que já tomava seu coração.  

—Você pularia?  

—Pularia.  

O modo como falavam assemelhava-se aos ditos de uma promessa. Ali, tocados e encantados, confiaram que ambos se jogariam e ambos se amparariam naquela empreitada.  

 

 

III – DESENCANTO 

Os passeios de bicicleta se tornaram mais e mais frequentes até serem diários. O canto ao lado das macieiras virou o lugar dos dois e Edward até mesmo colocou a mão na massa e pendurou um balanço de pneu na árvore em que sempre se sentavam abaixo para que Bella se balançasse como desejava desde pequena. Foi um ato amoroso que surpreendeu a toda a família e agradou Bella o bastante para tornar Edward digno de uma entidade em seu subconsciente apaixonado. Ela havia abaixado a guarda, finalmente.  

Como os três casais estavam bem, sem brigas aparentes e/ou confusões, Alice e Jasper deram a ideia de um encontro triplo na cidade vizinha a cinco quilômetros da fazenda. Edward, ao ver a animação de Bella, concordou na hora, apesar de não ser tão fã de encontros coletivos.  

Magnólia, a galinha marrom, fazia a festa com suas irmãs em sua gaveta de meias, mas nem isso foi capaz de tirar o sorriso do rosto de Edward ao se arrumar para o encontro. Suas idas à macieira não eram declaradas como encontros românticos propriamente ditos, esse seria o primeiro e Ed queria que fosse especial o bastante. O coração batia acelerado no peito, as mãos suavam de nervosismo e foi quase tendo um ataque epilético que desceu as escadas da varanda, esperando por Bella. Quase precisou de sua bombinha de asma quando a sentiu chegar de longe.  

A visão de Bella reluzindo à luz do luar era digna de um quadro. A pele perfeita brilhava junto aos cabelos encaracolados e soltos, o vestido roxo realçava suas curvas no limite certo para instigar a curiosidade, mas mostrar beleza ao mesmo tempo, o sorriso tímido e as bochechas coradas apenas davam um toque a mais na Vênus de Millo escondida na fazenda.  

—Vamos? Suas irmãs e os meninos já estão prontos. Estão esperando na porteira. - Ela mais sussurrou do que falou, envolta em um acanhamento que apenas encantou mais Edward naquela nuvem de paixão.  

Ele então soltou um suspiro preso no fundo de seu âmago, o cérebro demorando para conseguir formar uma frase inteira e coerente. 

—O-kay... vamos, vamos. - Indicou a saída com as mãos, atrapalhando-se nos gestos, sem saber como agir, embasbacado e... completamente enamorado.  

—V-você está lindo, Edward. - Bella comentou despretensiosamente, porém o tom frágil indicava quão nervosa ela também estava. Edward se compadeceu. Era mútuo, afinal.  

Deixou um sorriso leve sair por seus lábios, a mão encontrando as costas dela para guiá-la no caminho de terra até onde todos os esperavam.  

—Acredite, não sou nada perto de você.  

Ela riu, um som estrangulado de quem não concordava com aquilo. Ed franziu as sobrancelhas, não conseguindo entender como ela não tinha ideia da própria perfeição, da própria beleza tão singular.  

—Digo sério, Bella... deslumbrante é pouco para te descrever e não estou dizendo só da imagem que estou tendo o prazer de ver agora.  

As bochechas da garota tomaram um tom escuro de escarlate que faria Edward rir se não achasse a expressão tão meiga.  

Seguiram a pé pela trilha até a porteira, nenhum dos dois abrindo a boca para cortar o silêncio confortável que se instalou. As mãos dadas em um aperto firme e confortável. Todavia, Ed estancou no lugar, perplexo ao ver o automóvel que os aguardava ligado. A caminhonete grande, velha e laranja desbotada trepidava no asfalto de terra pelo motor já idoso, do escapamento saia uma fumaça branca que fazia desanimo a qualquer ambientalista do mundo. O garoto quis, não pela primeira vez, morrer de desanimo. ** 

—Que merda é essa? Essa coisa está caindo aos pedaços! Eu não vou andar nisso! 

Emmett riu com vontade. Pelo canto dos olhos, viu Bella rolar os olhos com tanta força que teve medo deles se prenderem virados para trás.  

—Não chame a caminhonete de coisa! Ela ainda é muito boa e dá de zero a dez naquele seu carro esportivo, idiota!  

—Talvez na outra encarnação ela dê conta de metade do meu carro, Isabella. Claro!  

—Cale a boca e entre logo antes que percamos o horário do cinema! E é melhor que esteja com dinheiro sobrando, não tenho um centavo no bolso e quero pipoca caramelada! 

Edward bufou, indignado. 

—E quem exatamente vai no capô dessa carroça? Estamos em seis! 

—Eu sempre quis ir na caçamba! Vamos, Jazz! Por favor, me faça companhia lá trás! - Alice pulou sobre Jasper que, contrariando todas as esperanças dos outros quatro, acenou em concordância, um sorriso gentil nos lábios dirigidos para a pequena de cabelos espetados. Edward ainda conseguia se espantar com a facilidade que Alice arrancava as maiores demonstrações públicas de afeto do major Whitlock.  

—Tudo o que quiser, pequena. Tudo o que quiser. - Respondeu, embora não precisasse. Os dedos acariciando os cabelos pretos.  

—Então vamos! Rosalie dirige, ela disse que queria se entreter nessas lombadas enormes.  

—Não disse, não!  

—Quer dirigir? Fique à vontade. Tenho um tesão danado em mulher bonita dirigindo. - Emmett, sem papas na língua, provocou a loira, ganhando um soco no ombro e um sorriso genuíno. 

 

—---------------------------X--------------------------------- 

 

Ao contrário do combinado anteriormente, cada casal saiu para um lado no centro da cidade, acertando de se encontrarem na frente do cinema à meia noite. Para Edward, aquilo fora muito melhor do que qualquer outro plano. Tudo o que queria era ficar sozinho com Bella.  

Comprou a dita pipoca caramelada e se empanturraram de chocolate antes dos créditos subirem no filme de terror blassê que escolheram juntos.  

Sentaram lado a lado na última fileira de cadeiras do cinema pouco movimentado, Edward riu ao ver que Bella rira de sua tentativa de ser discreto ao passar o braço por seus ombros. Mas, todo e qualquer humor se esvaiu ao apagarem as luzes e uma eletricidade gritante contornar seus corpos. A pele dela estava quente sob seus dedos, arrepiada pelo toque íntimo, a corrente elétrica que corria do corpo de Edward para o dela e do dela para o de Edward era desconcertante, potente demais. Edward prendeu a respiração e a olhou surpreso. Tentando mostrar que estava tudo bem, que ela sentia também, que entendia, Bella puxou mais seu braço, enrolando-se ao redor do Cullen, entrelaçando os dedos e assistindo ao filme sem prestar atenção verdadeiramente. Ed se sentiu mais acolhido que nunca.  

Depois desse episódio, ainda sentiam a energia os eletrizando, ainda se mantinham relutantes a soltar seus corpos, mas concordaram em apenas dar uma volta pelo centro enquanto tomavam suas casquinhas e conversavam futilidades. Uma chuva fina começou a cair e quando Edward ia sugerir que fossem a algum lugar tampado para que se protegessem, Bella saiu rodopiando pela garoa, puxando-o com ela. Dançando em meio a chuva fraca que caía, ouvindo as gargalhadas dela, vendo o cabelo molhado emoldurando o rosto tão bonito, Edward se sentiu flutuar. Seu peito bateu lento e rápido ao mesmo tempo, num compasso só deles, como se seguisse o ritmo de uma música especial. Isso, música! Edward queria tocar para ela, queria compor alguma canção doce e a deixar saber de todo o carinho que derramava no coração. Bella gostaria, afinal, ela era tão doce quanto a melodia que faria.  

—Por que me olha tanto? Não está dançando comigo.  

O biquinho adorável que ela fez ascendeu em Ed a vontade de tomar a boca dela em um beijo. Segurou sua cintura de modo firme, estreitando o espaço entre eles. Bella respirou fundo, olhando em seus olhos com algo próximo a apreciação.  

—Porque você é a coisa mais linda que já coloquei os olhos. 

—Estou encharcada, por favor, pare de brincar. - Ela tocou seus ombros, virando o rosto de leve, como se estivesse envergonhada demais para o encarar completamente. 

—Acredite, eu não estou. 

—Seu coração tá batendo forte, consigo sentir pela sua pele. - Bella comentou quando Edward puxou seu rosto, centralizando-o a frente do seu. A boca carnuda e pálida pelo frio da chuva deixou o Cullen louco de vontade.  

—É por você, Bella. Só você.  - Sussurrou, aproximando-se lentamente, dando espaço para ela ver o que ele queria e se afastar se assim desejasse. Bella não se afastou, ao contrário, aproximou-se também, roçando os lábios em uma tortura gostosa até Edward tomar a atitude e pressionar as bocas em um beijo.  

Bella ofegou, apertando os ombros de Edward e se aconchegando mais em seu abraço. Ed chupou o lábio inferior dela, pedindo pela passagem que Bella concedeu sem nem pensar duas vezes, tornando o beijo mais profundo e completo, arrepiando as peles geladas enquanto por dentro a quentura predominava pelos fogos de artifício explodindo em seus corações.  Edward gemeu contido ao sentir sua língua ser chupada com carinho. Suspirou, finalizando o beijo com selinhos seguidos e amorosos. Acariciou a bochecha vermelha, abrindo os olhos apenas para observar a expressão pós-beijo dela. Linda. Linda demais.  

Riram juntos pela felicidade do momento e trocaram muitos e muitos beijos embaixo da chuva, na cobertura da sorveteria e embaixo da praça quando se sentaram para descansar quando a chuva passou, encharcados e risonhos, os lábios inchados e vermelhos, os corações inflados.  

—Eu queria fazer letras ou história da literatura inglesa, sabia? Adoro ler. Mas, depois que mamãe saiu em turnê com Phil e nunca mais voltou, eu... acho que esse sonho ficou para depois, e depois, e depois, até estar tão longe que eu não consigo mais alcançá-lo, sabe? - Ela desabafou, brincando com seus dedos em uma das conversas que engataram.  

—Sinto muito, Bella. 

—Pelo que? Por minha mãe ter me superado ou pela faculdade esquecida? - Ela tentou fazer gracinha, mas não conseguiu o efeito desejado. A magoa na voz dela era fator denunciante do quão doloroso era aquele assunto.  

—Sinto muito por sua mãe, por ela perder momentos preciosos ao seu lado. Mas, sobre seus estudos, acho que... acho não, tenho certeza que você conseguiria se tentasse. Suas notas são muito boas, você é muito inteligente e.... e qualquer um que te perde, Bella, é um idiota completo.  

Ela sorriu, o resquício de lágrimas em seu olhar, abraçando-o pela cintura e apoiando a cabeça em seu peito. Tudo muito mais carinhoso do que alguma vez já fora.  

Ali, sozinhos enquanto ouviam o balançar das árvores e o silvar do vento, Edward sentiu uma paz que não sentia há séculos. Petricor. Agora, ele sabia o que era. Bella cheirava a petricor e esse perfume fazia maravilhas a sua insônia, ao seu respirar, a ele por inteiro.  

—Por favor, por favor, estou confiando em você. Não quebre meu coração, okay? 

—Não vou. Eu não vou, Bella.  

Ao voltarem para casa, Edward nunca antes dormiu tão bem em toda sua vida.  

 

 

—---------------------------X--------------------------------- 

 

 

Com o passar dos dias, das semanas, a relação dos dois se solidificara e tornara-se um relacionamento lindo e puro, cheio de carinho. Edward não queria que aquilo acabasse nunca, a fase de lua de mel, aquela sensação de lar em seu peito, as noites bem dormidas pelo cheiro dela impregnado nas suas roupas. Deus, era o paraíso!

Até aquele momento: 

—Você... você podia ficar mais aqui, não é? Só mais um pouquinho. Vou sentir muita saudade sua. 

A pergunta pegou Edward desprevenido, não assimilara que os três meses passariam tão rápido e agora... agora ele voltaria para a cidade em uma semana.  

—Não posso, Bella. Tenho coisas para fazer, minha carta de Harvard para checar e... 

—Mas, isso não pode ser feito depois? As aulas só começam daqui uns meses. Estão até aceitando cartas de inscrição agora, adiaram o prazo de encerramento.  

—Adiaram? - Franziu a testa. Esteve tão focado em Bella que não vira nada sobre faculdade ou qualquer outra coisa.  

—Sim! E... eu fiz o que você me aconselhou e me inscrevi no processo deles... deles e de Oxford, e também na de Seatle. Não acho que tenho chances de ser aceita, mas... talvez dê certo! - Bella deu um pulinho animado, contendo a ansiedade. -E enquanto esperamos podemos sair mais vezes! O que acha? 

—Ahn... ainda preciso voltar para casa, desculpe.  

Toda a avalanche de informações tornou o humor de Edward instável. Como ele esquecera de Harvard? O que aquela fazenda estava fazendo com ele?! O que Bella estava fazendo com ele? 

—Ah, tudo bem. Mas, quando você volta? Já sabe?  

—Não, não sei.  

A resposta esquiva fez os ombros dela murcharem, o olhar confuso e constrangido.  

—O que aconteceu? Por que está assim? Fiz alguma coisa? 

Edward soltou o ar, confuso sobre o que sentia, entre seguir a razão e a emoção. Sua cabeça dizia uma coisa e o esculachava por ter esquecido os detalhes de sua tão sonhada faculdade, seu coração o acalmava dizendo para que focasse em Bella e esquecesse todo o resto. Ambas alugando um triplex em sua mente, tornando-o a corda de um cabo de guerra.  

—Não fez nada, eu só... só preciso pensar um pouco. Depois nos falamos, tudo bem? 

Ela assentiu, o olhar vago e preocupado. Edward se despediu com um beijo na testa, fungando o cheiro dela um instante a mais antes de sair. 

 

 

—---------------------------X--------------------------------- 

 

 

Acontece que Edward Cullen era um garoto explosivo e toda aquela turbulência o fazia ainda mais impulsivo, qualquer mínima coisa seria motivo para uma explosão e foi assim que Esme, querendo ajudar, acionou o gatilho ao avisar que sua carta chegara e que estava tudo bem em não querer ir para casa no momento.  

—Mãe, não está tudo bem! Acontece que eu não quero me prender a esse fim de mundo! Eu nunca quis vir para cá! Nunca quis ficar aqui! Com esses animais idiotas, essas galinhas idiotas, toda essa situação idiota! E agora... agora tem Bella e estar com ela, sentir isso, levar essa coisa para frente seria como esmagar todos os meus planos lá de casa! Seria como dar as costas a tudo em que acreditei! Eu não vou me acorrentar a essa fazenda, nem a qualquer sentimento ou garota qualquer! Isso... essa vida não é para mim!  

—Você está nervoso, meu filho. Está de cabeça cheia. Talvez deva conversar com seu pai, ele sempre sabe como te acalmar, te fará bem.  

—Não quero falar com ele agora. Não quero levar esporro, quero esquecer isso, esquecer igual as semanas passadas. Não quero escolher! 

—Tudo bem, no seu tempo. Mas, quanto aos seus sentimentos... filho, não tem que abrir mão de uma coisa para ter a outra, pode muito bem ter os dois. Seus sentimentos, seu laço, eles não são impedimentos do seu futuro, são complementos. Não precisa ser assim. Só... pense com cuidado. E se decidir que irá partir, tenha consciência e não seja um idiota com Bella. Ela é uma menina muito especial.  

 

 

—---------------------------X--------------------------------- 

 

Edward sentia as cores ao seu redor um tanto diferentes, não sabia direito o que era, mas queria muito encontrar Bella e se afundar no perfume bom dela, no abraço gostoso, no beijo acolhedor. Não queria sequer pensar em deixá-la, só queria paz. 

Avistou os cabelos castanhos balançando com o vento, embaixo da macieira de sempre, sorriu sem conseguir se conter. Só a mínima visão dela já fazia com que se sentisse melhor. Ela se balançava devagar, a expressão pensativa. Não pela primeira vez quis saber o que se passava na cabeça dela.  

—Ei, estava procurando você. - Fez menção de tocá-la na bochecha, mas foi repelido. Franziu o cenho, Bella nunca se afastava, muito menos daquela forma. -Bella, o que houve? Está chateada com alguma coisa? 

—Vamos terminar isso de uma vez, sem magoas e sem choro.  

Estancou no lugar, paralisado. Ouvira direito? T-terminar?  

—Bella, o q... 

—Você não precisa fingir sentir mais para agradar a garota qualquer da sua fazendinha idiota. Suas cores estão aí, nos afastarmos não fará com que elas sumam. Está livre para seguir com seus sonhos e o que quiser fazer de agora em diante... Sem que eu atrapalhe seus planos.

A pressão pareceu cair, deixando-o pálido. Oh não. Ela ouvira.  

—Bella, não... não foi assim, você... você entendeu errado, eu estava... 

—Por favor, me poupe das explicações. Não quero ouvir mais nada de você.  

—Por favor, me deixe explicar, eu... não termine assim! - Gaguejou entre arquejos de explicações numa confusão de palavras quase incompreensíveis, mas ela já seguia seu caminho. -Bella, por favor! Isabella! 

Ela não se virou e Edward não se sentiu no direito de seguir atrás dela. Só pioraria tudo. Era um idiota completo.  

 

IV - SERENDIPIDADE 

Pela semana toda ela o repeliu, qualquer tipo de aproximação cortada e antecipada. No dia marcado para o retorno, ela não fora com todos se despedir. Sua mãe dissera que haviam se despedido na noite anterior. Edward não podia dizer que não entendia, mas ainda sim a atitude esquiva doeu como o inferno.  

Durante toda a viagem de volta, estranhamente silenciosa, ninguém comentou nada sobre a briga. Mas, Ed podia sentir os olhares furiosos em seus ombros vindos de Alice e Rosalie. Não podia culpá-las também, era claro que ficariam ao lado de Bella, ela se tornara uma amiga valorosa para as duas e, claramente, ele era o errado ali.  

Ao chegarem em casa, a bela mansão em tons brancos, Edward não sentiu a felicidade que pensou que iria sentir. Ao ver a carta de Harvard perfeitamente selada e a palavra “ACEITO” no corpo de texto, não sentiu a euforia que imaginava. Só o que conseguia pensar era na saudade que sentia de Bella, nas milhas de distância que os separavam, físicas e mentais. Pensava também o quanto essa distância aumentaria quando fosse para Harvard. As cores ao seu redor não vibravam mais como antes, não brilhavam em nuances quentes como ao lado dela. Elas eram frias, quase pálidas, como se houvesse posto um filtro de Instagram com tema inverno em seus olhos.

Não comemorou a aprovação, queria chorar, tirar a dor de dentro de seu coração partido. Ele não tinha o direito de se sentir tão triste, não era aquilo que queria desde o começo? Uma faculdade prestigiada, formando-se em uma profissão prestigiada, com uma casa bonita e a noitada de calouro a sua espera! Tudo certo, tudo no devido lugar! Então, por que sentia seu coração em frangalhos daquele jeito? Por que sentia vontade de voltar aquele lamaçal à corrida, de bicicleta, a nado, o que fosse mais rápido, só para vê-la de novo?!  

Suas irmãs com os dias passaram a serem menos hostis e a ouvir mais seu lado. Edward achava que por verem quão miserável ele parecia. Mesmo assim, ainda soltavam indiretas e a confusão de Ed apenas aumentava. Queria ligar para ela, só ouvir a voz num alô indiferente, porém não sabia se conseguiria lidar com ela desligando na sua cara. 

Voltava para seu quarto, buscando por seu canto de autodepreciação quando ouviu a voz dela novamente. O som vinha do quarto de suas irmãs, a porta entreaberta fazia com que conseguisse ver vislumbres da chamada de vídeo que se iniciara ali. 

—Não seja tão dura assim com ele, Alice. 

—Meu irmão é um idiota estúpido, Bella! Eu sinto muito! Você está sofrendo tanto! Prometo a você rasgar todas aquelas revistas em quadrinho tão idiotas quanto ele! - Alice mais rosnou do que falou, o tom ferozmente protetor para com Bella.  

Não havia como ir contra a fúria dela, Edward se sentia culpado. Machucara Bella e merecia coisa pior.  

—Não quero defendê-lo, mas... talvez tudo não passou de um mal entendido. Talvez... talvez devesse dar uma chance dele se explicar, Bella. Claro, se estiver bem com isso. 

Edward, escondido e encostado na parede, surpreendeu-se de modo positivo. Rosalie não costumava ir a seu favor assim, era um evento único. Sentiu-se agradecido.  

—Não sei se consigo olhar para ele agora. Doeu, Rose. Eu sempre soube que iriam embora em algum momento, sempre me policiei para não me entregar assim tão fácil e... depois que tivemos nossa ligação, pensei que... - A risada amarga dela destroçou seu coração. -Pensei que existia a mínima chance de ele sentir o mesmo que eu, que ele quisesse da mesma maneira que eu queria, e que... isso poderia dar certo. Fui ingênua.  

Não, não foi, Bella. Estou aqui, sinto tudo, tudo é mútuo! Quis gritar seu amor, mas não conseguia sequer mexer seu dedo mindinho, quanto mais se ajoelhar em busca do perdão. Era um covarde ridículo! 

—Sabe... - Ela continuou, a voz frágil como se prendesse o choro. -Quando eu estava com ele, o tempo e o espaço eram tão escorregadios que eu acabava perdendo a noção dos dois. Agora que tudo acabou, me sinto tão vazia.  

Um minuto de silêncio se fez presente. Edward não conseguiu mais ouvir tudo aquilo e seguiu do modo tão quieto quanto pode para seu quarto, entretanto tropeçou no carpete do corredor e derrubou todo o cereal que levava nos braços. Correu escada a baixo tão rápido quanto um raio, não querendo ser pego bisbilhotando.  

Quando as irmãs desceram após a ligação ter sido finalizada, nem ele nem elas tocaram no assunto, embora ambos soubessem que ele escutara tudo.  

 

—---------------------------X--------------------------------- 

 

 

Após duas semanas, Edward não conseguia mais ficar parado sem fazer nada. Queria tanto ir atrás dela, implorar seu perdão de joelhos, pedir que o aceitasse de volta, mas o medo da rejeição era ainda maior.  

—Me dê uma luz, por favor! O que devo fazer? - Clamou a ninguém especial, encolhido na cama em posição fetal.  

—Toc, toc. - Esme figurou a batida na porta aberta, olhando para Edward com carinho e preocupação maternal. -Recebi o recado de que alguém com o coração partido está pedindo conselhos, será que foi aqui? 

Edward suspirou um meio sorriso, pedindo com o olhar pelo colo da mãe. Esme prontamente se dispôs, sentando na cama estreita e acariciando os cabelos acobreados do filho.  

—Sente saudade dela? 

Ed sentiu uma vontade de chorar exacerbada, mas não quis derramar lágrimas.  

—Tanta, mãe! Muita saudade.  

—Então, por que não vai atrás dela? Ficar aqui deitado não fará com que ela te perdoe, sabe? 

O garoto se encolheu, assentindo. 

—Do que tem medo, então? 

—Não quero que ela me rejeite, ou se me aceitar não quero que me aceite só porque somos ligados. Eu a magoei.  

—Acho que desde sempre você entendeu um pouco errado essa ligação, meu filho. Não é sobre completar, é sobre transbordar, entende? Ela não precisa de você para que seja feliz, nem irá te aceitar apenas por serem almas-gêmeas, isso não tem a ver com porquê você mantém as relações, mas sim com como você as mantém, como cuida delas. Não coloque a culpa na ligação ou se esconda atrás dela. Você errou e agora tem que se desculpar, só assim a conseguirá de volta. E se não conseguir, ainda lembraram com carinho um do outro. Não é melhor assim?  

Edward acolheu as palavras para dentro, assimilando-as com o coração ao invés da mente.  

—Mas e a faculdade? 

Ela suspirou profundamente. Ed sabia que ela também se sentia incomodada com a distância que ele sonhava tanto em impor.  

—Todos sentiremos saudade sua, meu bem. Temos que aprender a lidar com a distância sem que ela interfira no que sentimos, é um aprendizado. E também sempre podemos matar a saudade, você volta e nós também podemos ir até você. Não há limites fortes o bastante para me parar e tenho certeza que para Bella e você também será assim.  

Edward se levantou de supetão, pensativo.  

—Acha que devo ir... 

Ela riu, nem esperando que ele terminasse e assentindo. 

—Acho que demorou demais até agora. Vá, sua Bella está te esperando. 

Edward assentiu, esbaforido, correndo pelo quarto enquanto jogava roupas em uma mochila qualquer e trocava o short de pijama pela bermuda jeans. Trotando até o carro com a chave em mãos e a aprovação de Esme, ele deu partida e seguiu estrada acima, ouvindo de longe o “Boa sorte, filho” de Carlile na porta.  

 

—---------------------------X--------------------------------- 

 

 

Foi uma viagem tranquila, apesar da chuva forte que caía, em contrapartida ao motorista inquieto. Mal podia esperar para vê-la de novo, sentir o cheiro dela. Quase chorou ao ver de longe a porteira que tanto sentiu falta. Ela simbolizava quão perto estava de sua alma-gêmea, o perfume úmido que o rodeava era desesperador. 

Correu para abrir a porteira, deixando o carro aberto e pulando de pé em pé para fugir das poças de lama quando a viu não tão longe. A caminhonete estava um pouco torta, enfiada em uma poça de lama aguada e grudenta.  Bella estava furiosa, chutando o pneu de maneira rude.

—Merda de caminhonete! Merda de vida!  

Ouviu-a praguejar dentre o barulho da chuva torrencial. Não pensou muito antes de seguir rápido em direção à caminhonete atolada, esquecendo o carro na entrada, a porta aberta, a molhaceira que o carro de sua mãe acabaria virando, só pensando em a ajudar, deixá-la segura, tirá-la da chuva.  

—Bella, entre e dê a partida, vou tentar empurrar com essa madeira aqui. - Exclamou como pode, as gotas grossas de água o deixando encharcado, pegando a tora de madeira no chão ao lado e enfiando no espaço entre o pneu, o improviso de uma alavanca.  

Bella arregalou os olhos levemente, franzindo as sobrancelhas.  

—Não preciso da sua ajuda, vá embora! 

—Bella, só quero ajudar. Vai ficar encharcada esperando alguém aparecer? Podemos ir muito mais rápido e chegar em casa para ficarmos quentinhos na lareira.  

Ela pareceu resignada, olhando-o por entre os fios encharcados, os olhos tão bonitos turvos pela chuva forte.

—Tudo bem. - Respondeu, contrariada. A feição irritada.  

—1, 2, 3, vai! - Avisou, fazendo força para baixo enquanto ela dava partida.  

A rajada de lama que o encobriu da cabeça aos pés fez com que congelasse por instantes seguidos. Ótimo, era tudo o que precisava: Tomar um banho de lama! Mas, o infortúnio teve um lado bom pelo menos. Bella gargalhava. Tomaria quantos banhos de lama precisasse para ouvir o som da risada dela. A caminhonete desatolou, rugindo pela força aplicada no motor velho, parando poucos metros à frente.  

Edward voltou todo sujo para dentro do carro aberto enquanto Bella seguiu viagem após ver que seu soulmate já estava seguro dentro do automóvel.  

A chuva minimizou um tanto e quando chegaram à casa da fazenda apenas pingos esporádicos caiam. Bella saltou, rindo tanto que até segurava a barriga.  

—Desculpe, mas foi muito engraçado. E você mereceu também. 

Ed se deixou sorrir um pouco. Ouvir a risada dela de perto era como encontrar o oásis após dias e dias no sol escaldante do deserto.

—Sei que não quer falar comigo, mas... por favor, podemos conversar?  

O riso e a graça em suas feições se foi como num passe de mágica. Ela se mexeu, sentando-se na escada da varanda, claramente desconfortável. 

—Não acho uma boa ideia. O que está fazendo aqui, alias? Pensei que tinha conseguido sua sonhada aprovação e já estava feliz bem longe desse fim de mundo. 

O implícito “e bem longe de mim” acertou como uma facada em seu coração. Como tinha deixado com que ela pensasse que preferia ficar longe?  

—Só cinco minutos. Só preciso de cinco minutos! Por favor, me deixe explicar tudo, me desculpar. Por favor, Bella.  

Bella suspirou, enrolando os braços em si mesma. Edward não sabia dizer se para formar uma barreira de proteção ou se pelo frio mesmo.  

—Você tem quatro minutos e cinquenta segundos.  

Ofegou, entusiasmado pela ponta de confiança dela. Era um começo.  

—Desculpe, desculpe por tudo, por quebrar seu coração e te fazer sentir inferior aos meus sonhos, à minha vida lá na cidade. Você é maior que todo sonho que eu poderia pedir e te deixar aqui foi o maior arrependimento da minha vida. Eu amo você, Bella.  

—Você o que? 

O tom dela era tão surpreso, desacreditado, que quase seria cômico se não fosse trágico.

—Eu amo você. - Confessou, sentindo os olhos lacrimejarem e dessa vez não conseguiu segurar. Bella despertava todas as emoções dentro de si, em um conjunto novo e bonito como uma orquestra em cacofonia. Queria escrever canções para ela, compor algo de seu gosto e provar como a vida era bonita ao seu lado. Via, agora enquanto se afundava no mar chocolate, que não havia completude ali. O que existia era o transbordar. -Eu amo tanto que dói e saber que te machuquei me corta em mil pedaços, me machuca mil vezes mais. Então, eu vim aqui para dizer, para implorar, a você que se me der mais uma chance vou fazer tudo diferente, vou lutar por nós e fazer com que tudo seja perfeito. Nunca mais vou te machucar, eu juro! 

—Não quero perfeição, nem quero que você me faça promessas.  

A expressão de Ed ruiu, caiu em um joelho, tocando na mão dela a sua frente. As esperanças diminuindo de pouco em pouco.  

—Não peço que confie em mim depois do que fiz, só quero uma chance. Uma chance para mostrar que pensei em tudo e que sei que fui um idiota, mas que nunca mais farei com que meus conflitos interfiram no que sentimos um pelo outro, que a distância mude alguma coisa no nosso relacionamento. 

—Relacionamento? 

Edward respirou fundo, os dedos tremendo, retirando o anel solitário do bolso e entregando-o a garota. Um anel de jujuba caramelo, o único disponível com seus míseros dez dólares e o tempo escasso.  

—Relacionamento, Bella. Se você me aceitar, é claro.   

Ela pegou o anel, mas o olhou com um semblante pensativo. Cada minuto que passava era um pedaço do coração do Cullen que se partia, apenas esperando o veredito final para desmoronar de vez. Até que ela sorriu, um sorriso pequeno, como de quem acha graça de alguma coisa ao mesmo tempo em que quer parecer durona. As cores ao seu redor lentamente se tornaram vivas de novo, vibrantes, alegres, como seu coração ao observar o brilho voltando aos olhos lindos dela. 

—Tudo bem, Cullen. Eu te dou outra chance. Mas, precisamos conversar seriamente sobre seus sonhos e como eu poderia caber na sua vida.  

—Você não cabe na minha vida, Bella. Você faz parte dela, uma parte muito importante. E eu não preciso desistir de nada para ser feliz com você. Eu prometo que você não vai cair sozinha dessa vez, pularemos juntos. Eu era um idiotia antes. 

Ela sorriu mais feliz, as bochechas finalmente se tornando carmim. O toque carinhoso afagou sua bochecha, o maxilar, até a orelha onde deu um puxão repreensor. Ok, ele merecia. 

—Você ainda é um idiota. Agora, coloque minha aliança e se prepare para uma conversa dura com Charlie.  

Edward engoliu a seco, mas com toda alegria contida em si, colocou o anel no dedo de sua namorada/alma-gêmea, beijando a mão macia com afeto.  

Por ela, ele enfrentaria Charlie e mais um batalhão armado.  

Edward sabia que não iria ser fácil. Um relacionamento não é feito apenas de promessas. Mas, no momento, foi o suficiente.  Havia amor. Havia um voto de confiança. Havia mutualismo. Bastava. 

—Eu te amo, Edward.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que você goste, amiga oculta! Foi feito com muito carinho *---------------*

A música mencionada por Edward é Crazier da Taylor Swift. A frase em itálico é a frase escolhida por Nic no combo. Os dois asteriscos na cena antes do encontro é a cena gif escolhida pela Nic no combo.
Petricor é o cheiro da chuva dado por cientistas.
Petricor também é uma música/álbum do Konai que também foi umas das inspirações para a one.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Petricor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.