Glimpse of Eternity escrita por prongs


Capítulo 1
I. glimpse of eternity


Notas iniciais do capítulo

CARTER. tudo o que eu queria falar pra ti sobre o que rolou nesse amigo secreto eu já falei nessa chamada. eu espero muito que eu tenha escrito algo que fique à sua altura, eu amo muito suas histórias, sou sua fã e isso não é segredo, tentei colocar coisas que você gosta e automaticamente conectei a letra da música com o plot de the notebook e quando descobri que você gosta confesso que dei uma respirada HAHAHAHAH eu gosto MUITO de ti, muito muito! E ESPERO QUE VOCÊ GOSTE DESSA JILY SINGELA!!!!! ♥



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GLIMPSE OF ETERNITY

♡ de prongs para carter ♡

 

Se formos simplificar a história que estamos prestes a contar, James Potter e Lily Evans se conheceram aos dezesseis anos, no final dos anos 70, numa fazenda no interior da Inglaterra.

Se quisermos adicionar alguns detalhes, podemos também informar que a fazenda, localizada em Yorkshire Dales, pertencia à família Evans, e James estava trabalhando lá no verão de 76 para tentar cuidar de seus pais, já idosos, e certamente não esperava se apaixonar por uma garota rica, metida e atrevida, assim como Lily não se imaginava beijando um rapaz tão teimoso, sem modos e desbocado.

Eles não se entendiam, raramente concordavam em algo. Brigavam sempre. Mas, ao falar disso, estamos nos adiantando demais na jornada deles, então precisamos voltar ao início e entender quem eram James e Lily antes de serem James e Lily.

 

I WATCH YOU TALK, YOU DIDN'T NOTICE I HEAR THE WORDS BUT ALL I CAN THINK IS “WE SHOULD BE TOGETHER”

 

Lily tinha 17 anos quando os seus pais a levaram para Yorkshire Dales durante o verão, o último antes de ela entrar na tão prestigiada Universidade de Cambridge, se tudo fosse como o planejado. Eles tinham uma grande casa de veraneio perto do lago, que mais parecia uma prisão de acordo com a filha única dos Evans. Era onde passavam alguns verões desde que ela era criança, menos nos últimos anos, quando a garota havia optado por viajar pela Europa, mas não tinha tido escolha naquele ano.

Por isso, assim que chegaram ao pequeno vilarejo, ela fez questão de passar o menor tempo possível dentro daquela casa e o máximo que pudesse explorando tudo ao seu redor. Não demorou para reencontrar Marlene McKinnon, a sua amiga de verões passados, que a levou para passeios de bicicleta, banhos de lago, sorveterias e noitadas de dança em pequenos pubs — quando Lily não estava estudando francês, piano ou lendo livros. Estava sendo um verão bom, apesar do tédio do interior.

James morava naquele mesmo vilarejo desde que havia nascido, com o seu pai, Fleamont, que lhe ensinara a ler poemas para superar uma gagueira traumática aos nove anos depois que a sua mãe partira prematuramente. Também aos 17 anos, ele gravitava entre empregos — entregador de jornais, recepcionista do único hotel da cidade, pintor de fachadas, carpinteiro, qualquer coisa que lhe ajudasse a conseguir uma vida mais tranquila para o seu pai e, consequentemente, lhe comprar uma casa maior e melhor.

Tivera sorte de encontrar um trabalho como uma espécie de “faz-tudo” para a família Evans em sua casa de campo, onde passava a maior parte do tempo consertando portas e degraus quebrados, cuidando do extenso jardim, e observando como a garota ruiva que não parava em casa era absurdamente linda, apesar de, provavelmente, ser tão insuportável quanto os pais dela, que se achavam superiores a tudo e todos por terem dinheiro.

Apesar de suas desconfianças quanto ao caráter dela, achava a garota bonita, e ficou ainda mais interessado quando soube que ela era amiga de Marlene, namorada de seu amigo — quase irmão — Sirius, que trabalhava com ele em qualquer emprego que achassem.

— Você devia chamar ela para o parque de diversões. Chegou ontem na cidade — Sirius o incentivou enquanto os dois trabalhavam carregando pedaços de madeira pela propriedade, observando enquanto Lily e Marlene se preparavam para sair em mais uma aventura na cidade.

— Boa ideia — foi a única coisa que James disse antes de soltar o que segurava e correr até Lily.

James era extremamente impulsivo e nem sempre pensava no que ia fazer ou falar antes de já o estar fazendo. Nem sempre isso funcionava, mas, quando sim, era ótimo. Ele esperava que aquela fosse uma dessas vezes.

Ele parou na frente das garotas, que o encararam assustadas com o aparecimento repentino do rapaz, suado e sujo, sorrindo para Lily.

— Oi. Eu acho que você devia sair comigo hoje, para o parque de diversões — ele sorriu, inegavelmente charmoso, e Lily o encarou incrédula.

— Eu te conheço?

— Não, mas vai gostar de conhecer.

Lily e Marlene riram; Lily, ainda incrédula, e Marlene achando graça da situação, puxando a amiga pelo braço para chamar a sua atenção.

— Esse é James Potter, Lils, trabalha com Sirius. Você já deve ter visto ele por aqui — ela ria baixinho entre as frases.

— Acho que sim — a garota respondeu, encarando o rapaz alto de óculos surrados à sua frente. Ele estava longe de ser feio, ela realmente já o tinha visto trabalhando pelo jardim. Talvez se tomasse um banho, Lily pensou, e definitivamente lhe faltavam modos, e os seus pais iriam odiar se ela fosse vista em um encontro com ele. — James Potter, não é?

— Sim, e você é Lily Evans.

— Sim, esse é o meu nome — a garota riu e balançou a cabeça. — Você pode me buscar às oito, Potter?

— Com certeza, eu só talvez tenha que trocar o óleo do meu carro antes ou vamos ter que ir de bicicleta — ele respondeu animadamente, fazendo as garotas darem mais risadinhas. — Mas com certeza te vejo às oito, Evans.

James se virou e correu de volta até Sirius enquanto as garotas iam embora entre risos e cochichos, e encarou o seu melhor amigo com expectativa nos olhos.

— Quanto você tem na carteira?

— Absolutamente nada, por isso aceitei esse emprego de merda — Sirius o encarou com as sobrancelhas arqueadas.

— Vamos, Pads, sério, quanto você tem aí? — ele empurrou o amigo levemente, que bufou e checou os bolsos.

— Tenho cinco libras. 

James arrancou as notas das mãos de Sirius e sorriu. 

— Ótimo, eu tenho quatro. Tenho exatamente nove libras para impressionar a Evans hoje à noite. Acha que eu consigo?

Sirius o encarou como se ele estivesse com um olho faltando e um nariz a mais no rosto.

— Acho que você é absolutamente maluco, isso sim. Agora vamos trabalhar, acabei de perder as últimas cinco libras que tinha para levar Marlene ao parque para um idiota…

James riu, sem ligar para as reclamações de Sirius. Naquele momento, ele estava feliz.

 

THE BEST AND WORST DAY OF JUNE WAS THE ONE THAT I MET YOU

 

Era uma noite quente de junho, e James estava atrasado. Lily, impaciente como sempre, estava decidida a ir para o parque sozinha; um rapaz aleatório a convidava para um encontro e não tinha nem a mínima decência de chegar no horário combinado entre eles? Estava prestes a pegar a sua bicicleta e ir até o centro da cidade quando ouviu um motor barulhento e velho se aproximando da porta de casa.

Lily correu até a sua janela e observou James estacionar a caminhonete velha, desbotada e azul dele na propriedade. Ela riu, pensando que ele tinha conseguido trocar o óleo, afinal; e andou devagar até a frente da casa, como um castigo por ele não ter sido pontual. Quando abriu a porta, lá estava ele, de banho tomado, com os cabelos desgrenhados e os óculos dançando na ponta do nariz, ameaçando cair. Definitivamente mais bonito que mais cedo, quando estava coberto de graxa e poeira.

— Você está atrasado.

— Eu sei. Não tenho exatamente nenhuma desculpa para isso, só não sou a pessoa mais pontual — James deu de ombros, sorrindo; o mesmo sorriso charmoso de mais cedo. — Mas eu vim.

— Certamente. Achei que teria que ir sozinha para o parque — Lily levantou uma sobrancelha, e o rapaz soltou uma risada.

— E eu tenho certeza que você teria ido se eu me atrasasse mais alguns minutos, então vamos logo antes que você fique ainda mais impaciente?

— Não sou impaciente! — Lily riu enquanto eles caminhavam juntos até a caminhonete. — Apenas pontual! Você não pode colocar a culpa do seu atraso na minha pontualidade, Potter.

— Você está usando palavras tão longas para o começo de um encontro, Evans — James suspirou ao passo que o carro engasgava para ligar.

— Quem disse que isso é um encontro? 

James a encarou do banco do motorista e Lily sentiu algo novo quando os olhos dele encontraram os seus. Um frio na barriga, que as suas amigas diziam que ela iria reconhecer quando encontrasse alguém diferente, e um formigamento na ponta de seus dedos, como se aquele simples olhar estivesse enchendo o seu corpo de eletricidade estática.

— Achei que isso estivesse implícito quando te chamei para sair comigo, não? — O rapaz questionou, e ela respirou fundo sutilmente.

— Bem, eu não estava sabendo que isso era um encontro — Lily cruzou os braços.

— Agora está — James sorriu mais abertamente, como se querendo irritar a garota de propósito, e continuou dirigindo até o parque de diversões que brilhava a distância enquanto alguma música dos Beatles tocava no rádio do carro. — Você gosta dos Beatles?

— Não muito — a garota deu de ombros. — Acho eles meio superestimados — James arqueou as sobrancelhas e soltou uma risada, balançando a cabeça. Lily o encarou surpresa. — Não me diga que você é um daqueles fãs viciados neles?

— Na maior banda de todos os tempos? Talvez um pouco, sim, afinal eu tenho bom gosto!

— Ei! — Lily exclamou. — O que você quer dizer com isso?

— Que talvez se você passasse menos tempo tocando Beethoven ou sei lá o que você faz naquele seu piano enorme, e mais tempo ouvindo música de verdade, você saberia apreciar Lennon e McCartney — James estacionou a caminhonete perto dos portões improvisados do parque.

— Eu toco Debussy, para a sua informação, e isso é música de verdade — ela argumentou, mas James já estava saindo do carro e andando até a porta do passageiro para abri-la para a garota.

— Aham, claro, princesa — ele estendeu a mão para Lily, que por teimosia, negou.

— Não me chame de princesa nunca mais — ela falou, meio séria e meio brincalhona, e James ergueu as mãos, fingindo estar intimidado.

— O seu pedido é uma ordem.

Lily revirou os olhos e os dois foram juntos até a entrada, onde uma placa de madeira indicava que a entrada individual para o parque custava três libras e meia. Antes que Lily pudesse encostar na sua bolsa, James tirou cinco libras do bolso e enfiou-os na bilheteria, o que a garota pensou ter sido muito gentil da parte dele, apesar de sua atitude irritante.

— Quando eu era criança eu ia para parques de diversões com os meus pais e sempre comia maçãs do amor — Lily comentou, observando as luzes coloridas ao seu redor e as crianças correndo e brincando. — Faz muito tempo que eu não vou em um.

— Sério? — James perguntou, genuinamente surpreso.

— Sim… Entre as aulas de francês, piano, etiqueta e colocar as minhas leituras em dia, além de estudar para conseguir entrar em Cambridge, não tenho lá muito tempo — ela deu de ombros, e James a observou cuidadosamente.

— Você sente falta?

— De quê? — Lily o olhou.

— Maçãs do amor — ele sorriu.

— Acho que sim — a garota riu e James automaticamente correu até a barraquinha mais próxima de lanches e pediu uma maçã do amor e um chocolate quente. Lily se aproximou dele, sorrindo, e balançou a cabeça. — Você não precisava pagar por isso.

— Estamos num encontro, não é? — ele sorriu, entregando ambos os doces nas mãos da menina. — E só custou duas libras, nada demais.

Lily não acreditou nele, contudo, mesmo assim aceitou o doce e a bebida, e os dois caminharam pelo parque, conhecendo-se e se provocando mais ainda a cada novo fato. James claramente estava aproveitando as oportunidades que apareciam para tirar sarro do fato de Lily ser extremamente mimada, o que irritava a garota, que não queria passar essa impressão, então ela tentava rebater tudo que James dizia e, no final, sempre resultava em risadas e empurrões de brincadeira.

— Meu Deus, tem um mini circo! — Depois de quase uma hora caminhando e conversando, Lily exclamou, animada, apontando para a tenda colorida no final do parque. — E eles tem trapezistas! A gente deveria entrar — ela se virou para James, que encarava a placa da entrada com certa apreensão. 

— Okay, Evans, eu vou ser bem honesto com você agora — James disse, um certo nervosismo em sua voz. — Eu não esperava que uma maçã do amor fosse tão cara, mesmo que eu tenha dito que não foi nada demais, eu meio que só tinha nove libras quando a gente chegou, e a entrada para o circo é extra, então… eu meio que não tenho dinheiro para pagar por dois tickets — Lily se sentiu estúpida imediatamente. Sabia que o rapaz não tinha muito dinheiro e não deveria ter deixado ele pagar por tudo, mas, antes que ela pudesse falar qualquer coisa, ele segurou a sua mão. — Mas quem tá na entrada é o meu amigo Remus e eu tenho quase certeza que consigo convencer ele a deixar a gente entrar sem pagar.

— É sério? — Lily questionou, de olhos arregalados.

— Sim. Péssima ideia?

A ruiva olhou para o rapaz franzino e desgrenhado na porta da tenda, e de volta para James.

— Se você for, eu vou com você.

James abriu o sorriso mais lindo que Lily já vira em toda a sua vida, e arrastou a garota até Remus, que, ao escutar o pedido do amigo, apenas suspirou e olhou para os lados. 

— No lado esquerdo da tenda tem um véu de plástico que é meio pesado, mas acho que vocês conseguem passar. É a entrada pros palhaços e trapezistas e é meio escuro, mas é só seguir pela parede que vocês chegam nas arquibancadas. Fiquem debaixo delas para ninguém pedir para checar as suas entradas, e se perguntarem, eu nunca te vi na minha vida — Remus sorriu ao final da frase, e James segurou o rosto dele com as duas mãos e lhe tascou um beijo na testa.

— Você é o melhor, Moony!

O rapaz agarrou a mão da moça ao seu lado e os dois andaram discretamente até a entrada indicada por Remus. Não foi nada difícil passar por ela e, uma vez do lado de dentro, eles correram de mãos dadas, suadas e entrelaçadas, enquanto tentavam não rir para que pudessem passar despercebidos. Seguiram abaixados até debaixo das arquibancadas, para onde James arrastou Lily e os dois puderam rir, sem fôlego e com os rostos vermelhos da correria e da pura emoção de estarem ali escondidos e juntos.

— Eu nunca fiz nada assim na minha vida inteira! — Lily exclamou, tentando arrumar os cabelos que saíram de seu penteado durante a escapada deles. 

— E como é a sensação? — James perguntou, encarando o rosto angelical da menina.

Ela observou os trapezistas que se apresentavam por um instante, enquanto eles saltavam, subiam, desciam e voavam pelo céu limitado que tinham. Sentia-se exatamente assim naquele momento, então virou-se para James, jogou os braços ao redor de seu pescoço e sorriu.

— Absolutamente incrível — ela suspirou, abraçando o garoto apertado e deixando-o atordoado com o gesto inesperado. Naquele instante, eles estavam felizes.

 

AND YOU KNOW I WANNA ASK YOU TO DANCE RIGHT THERE IN THE MIDDLE OF THE PARKING LOT

 

Naquela mesma noite, muito depois de o parque ter fechado e de James e Lily terem entrado no circo escondidos, eles estavam andando pela cidade tarde da noite, conversando, rindo e observando as luzes a brilhar contra as ruas fantasmas. Lily sabia que tinha que voltar para casa logo, já estava fora há mais tempo do que lhe era permitido, mas ao lado de James ela sentia como se as horas fossem se estender por uma eternidade.

— Seus pais não vão te matar por chegar em casa tão tarde? — ele perguntou baixinho, como se fosse acordar a cidade inteira se falasse em um tom acima de um sussurro.

— Eles devem ficar com raiva — ela deu de ombros. — Mas eu venho tentando aprender a não ligar muito para o que eles não gostam, já que costumam ser todas as coisas que eu gosto.

— Você quer mesmo ir para Cambridge ou você só vai porque eles gostariam que você fosse? — Ele provocou a menina, que revirou os olhos mesmo sentindo uma pontada de incerteza em seu estômago.

— É claro que eu quero, é Cambridge. Vai ser muito bom para o meu futuro, e… — Lily não soube mais o que dizer, deixando a frase morrer no ar.

— E quando foi a última vez que você fez algo que você queria? Porque você gostava, sabe, de verdade, e não porque os seus pais mandaram você fazer ou porque alguém te disse que seria bom para o seu futuro — James continuou, casualmente apertando a mão de Lily, que estava grudada à sua desde que saíram do parque. A menina passou alguns segundos em silêncio, tentando se lembrar de algo para poder respondê-lo.

— Eu gosto de dançar e de pintar — ela finalmente disse, com um sorriso triste. — Não ao mesmo tempo, claro, mas são duas coisas que eu amo, e… não faço nenhuma das duas há muito tempo. Acho que não achei tempo para elas enquanto fazia tudo o que me pediam.

— Ou não achou tempo para você — James a observou.

Tinham passado apenas uma noite juntos, era verdade, porém já havia sido o suficiente para James perceber que, por baixo da máscara de menina respondona, mimada e atrevida que Lily colocava para o mundo, existia uma garota doce, divertida, aventureira e sensível. E ele realmente estava começando a gostar dela.

Ele a puxou pela mão até o meio do cruzamento onde estavam passando; as luzes do semáforo iam do verde, ao amarelo e ao vermelho repetidamente enquanto nenhum carro passava por lá. O mundo inteiro estava adormecido e pertencia só a Lily e James, pelo menos naquela noite, pelo menos por algumas horas.

— O que diabos você está fazendo? — a garota exclamou, olhando ao redor com os olhos arregalados. — Estamos no meio da rua, o que acontece se um carro aparecer?!

— Nós morremos.

— Nós morremos? Simples assim?

— Sim, agora pode relaxar? Quantos carros você viu na última hora? — James disse calmamente, segurando a outra mão da menina com gentileza e pousando-a em seu peito. — Nós só vamos dançar. 

— Não tem música nenhuma — Lily sorriu, tentando controlar os seus batimentos cardíacos ao ver o rosto de James tão próximo do seu.

— E daí? 

O rapaz a puxou para mais perto, encaixando o rosto dela em seu pescoço, sentindo o cheiro leve de rosas inglesas que vinha dos fios ruivos de seu cabelo. Ele começou a balançar os seus corpos de um lado para o outro, suave e lentamente, no ritmo de uma música inexistente ao redor deles e que, mesmo assim, parecia ressoar aos ouvidos de ambos. Lily respirou fundo, sentindo o perfume de sândalo nas roupas de James, e segurando-se nele cada vez mais forte.

James a rodopiou, devagar, e segurou a sua cintura com delicadeza. Lily subiu sua mão que estava no peitoral dele até o pescoço e afastou o seu rosto para encará-lo. Os olhos dele amendoados brilhavam por trás das lentes dos óculos velhos, e a voz de James perguntando quando tinha sido a última vez que ela havia feito algo que queria ressoou em sua mente. Naquele momento, tudo o que ela queria era beijar James.

Então ela o beijou.

Os lábios de James eram gentis e a sua respiração compassada, mas as mãos em sua cintura eram firmes, como se dissessem que ela não iria escapar dali agora que tinha se entregado. Lily suspirou quando as próprias mãos acharam o seu caminho até o cabelo do garoto, macio como plumas, uma sensação completamente viciante, e ali ela soube que teria que beijá-lo mais outras mil vezes. 

Depois de alguns minutos, os dois jovens finalmente se separaram para poderem se olhar. Lily começou a rir, as suas bochechas coradas, e James a abraçou apertado. Ali no meio da rua, afastados do restante do mundo, pela segunda vez, eles estavam felizes.

 

I HAD TIME TO THINK IT OVER AND ALL I CAN SAY IS COME CLOSER

 

O verão daquele ano estava passando tão rápido quanto uma garrafa de vinho tinto numa noite entre amigos e, para James e Lily, estava sendo tão doce quanto o conteúdo da garrafa. Eles aproveitaram o máximo que podiam, e estavam juntos em cada segundo disponível que tinham; saíam para andar de bicicleta com Sirius e Marlene, tomavam sorvete onde Remus trabalhava durante o dia, iam para o lago passar horas nadando, faziam piqueniques no gramado enquanto Lily pintava novas telas, tentando aproveitar cada gota de sol que chegava até o chão.

Por mais que os pais de Lily não aprovassem muito o relacionamento, eles tentavam não pensar nisso. Nunca se falavam quando James estava fazendo algum serviço na propriedade dos Evans, e James definitivamente nunca ia à mansão fora de seu horário de trabalho. Em vez disso, preferira apresentá-la ao seu pai, que fizera questão de elogiar as pinturas de Lily e envergonhar o filho na frente de sua namorada com histórias de sua infância que James preferia esquecer para sempre, mas Lily não se importava. Ao saber mais sobre o passado dele, ela sentia que havia, ali, uma chance de um futuro juntos.

Eles não concordavam em muitas coisas. Na verdade, eles não concordavam em praticamente nada. Eles brigavam o tempo inteiro e se provocavam todos os dias. Mas, apesar de suas diferenças, eles tinham uma coisa importante em comum: eles eram loucos um pelo outro, e isso não parecia mudar nunca.

Eles concordavam, porém, na atividade favorita que faziam juntos. Pegavam um pequeno bote que James confeccionara com seu pai há uns anos e iam para a parte mais distante do lago, onde podiam ver as aves, que estavam prestes a ir embora depois do verão, nadando ao redor deles. Podiam passar horas ali, flutuando num oceano particular, e não se cansavam, e só iam embora depois do pôr do sol.

— Você percebeu que tem menos gansos hoje do que na semana passada? — Lily perguntou em uma dessas tardes, debruçada sobre a canoa, os seus dedos tocando a superfície da água com delicadeza enquanto ela observava o seu próprio reflexo.

— É sinal que o verão está acabando — James respondeu, uma certa tristeza em sua voz que aumentava a cada semana, e Lily percebia isso.

— Não pode ser verão para sempre — ela olhou para o garoto pelo canto do olho.

— Bem que poderia ser. Assim eu teria mais tempo com você.

— James, nós não vamos acabar junto com o verão — Lily disse, mas ele não sentiu tanta certeza em sua voz.

— Não? E quanto a Cambridge? — A amargura na voz de James agora era clara, e a ruiva segurou a mão dele, suspirando.

— Eu… não sei mais se quero ir, para falar a verdade. Não sei, eu pensei muito sobre o que você disse, sobre o que eu quero fazer… E, sendo sincera, o que eu queria mesmo era poder ficar aqui, pintando, talvez dar aulas de pintura e música para crianças. Não gosto tanto de cidades grandes, mesmo — ela sorriu, apertando a mão de James, que agora também sorria um pouco.

— Parece bom para mim. Eu posso continuar trabalhando com pintura e reforma de casas, talvez conseguir um pouco mais de dinheiro, abrir minha própria oficina…

— E aí com o dinheiro podemos comprar a fazenda dos meus pais — Lily cutucou o namorado nas costelas, fazendo-o rir com o quase absurdo de suas frases. — E podemos reformar ela juntos! Pintar as janelas de azul, fazer um deque imenso na frente, e uma varanda olhando para o lago onde eu possa pintar… E a garagem pode virar a sua própria oficina! E também podemos ter um grande piano de cauda para sala de estar, e…

— Certo, certo, talvez você esteja sonhando um pouco demais, senhorita Evans — James disse em meio a risadas, puxando a garota para os seus braços, abraçando-a por trás e beijando a sua cabeça.

— Ou talvez eu só queira passar o resto da minha vida com você — ela sussurrou, fazendo carinho nos braços de James. — Eu vou contar para os meus pais sobre Cambridge. Eu prometo — ela beijou os dedos do rapaz, que suspirou, com medo do que viria depois daquele momento, contudo, tentou não pensar muito nisso. 

Os dois continuaram ali, abraçados no bote, observando o sol se pôr em seus tons alaranjados na água, aproveitando enquanto ainda estavam felizes.

 

SAVE ME, THEY'RE TRYING TO TELL ME HOW TO FEEL. THIS LOVE IS DIFFICULT, BUT IT'S REAL

 

— Você tem certeza que isso é uma boa ideia? — James perguntou pela quinta vez.

Ele e Lily estavam parados na frente da casa dos Evans, dentro da caminhonete velha de James, encarando a porta da frente e as luzes acesas do lado de dentro que os esperavam. Naquela noite Lily iria contar para os seus pais que não queria ir para Cambridge. Ela queria ficar ali, naquela cidade, junto de James, fazendo o que amava com música e arte, e ela estava prestes a fazer 18 anos, então, eles não podiam impedi-la.

Ou pelo menos esse era o seu plano. James tinha quase certeza que ela não teria coragem de enfrentar os pais tão diretamente sobre uma mudança tão drástica e, assim que ele perguntou se ela tinha certeza do que estava fazendo, Lily quase se desmanchou em lágrimas e indagou se ele poderia acompanhá-la e pelo menos ficar perto enquanto ela conversava com os pais.

Portanto, James estava ali, sentindo que algo ruim iria acontecer, mas sem dizer isso a Lily para não deixá-la mais nervosa ainda. 

— Sim — ela respondeu, sem ter certeza nenhuma. — Com certeza. Eu só preciso de você por perto para, sabe, apoio emocional. Coragem. Essas coisas.

— Claro — James murmurou e suspirou. 

Respirando fundo, ele saiu do carro e deu a volta para abrir a porta de Lily, acompanhando-a até a porta da frente. A garota fechou os olhos por alguns segundos antes de entrar, segurando a mão de James um pouco atrás de si. Como esperado, os seus pais estavam na sala de estar, em frente à lareira, lendo livros e escutando música na vitrola que ficava num canto da parede. O seu pai automaticamente arqueou uma sobrancelha para o rapaz que acompanhava a filha.

— Lils. Potter — Charles Evans os cumprimentou com estranheza. Sabia que eles estavam envolvidos, mas não esperava que fossem aparecer em sua casa àquela hora da noite.

— Oi, papai. Mamãe — Lily engoliu em seco observando as expressões dos dois. — Eu queria muito conversar com vocês.

— Sobre? — Dorothy Evans questionou a filha com a secura característica de sua voz.

— Muitas coisas — foi a única coisa que a garota conseguiu falar.

Os seus pais se levantaram e Charles imediatamente apontou para a porta do escritório dele, no fim do corredor.

— O garoto fica aqui fora.

James assentiu, apertou as mãos trêmulas de Lily uma última vez e sentou-se em uma das poltronas da sala de estar, enquanto observava os três entrando na sala e trancando as portas atrás deles. 

— Eu não quero ir para Cambridge — Lily falou de uma vez, ao passo que os seus pais ainda entravam na sala e não olhavam em seus olhos. Era o único jeito dela ter a coragem inicial que precisava. — Eu quero ficar aqui, com o James, e ensinar arte e música, porque é o que eu realmente gosto e quero. É o que eu quero.

— Você está maluca? — A sua mãe respondeu imediatamente, virando-se para a filha. — Eu avisei para você, Charles, que passar muito tempo com aquele garoto não faria bem para Lily. Olhe as bobagens que ela está pensando agora!

— Isso não é o que você quer, Lils — O seu pai falou, com a voz calma de sempre, mas tão poderosa quanto a de Dorothy. — Cambridge é o seu sonho, você não quer largar isso por um caso de verão.

— Ele não é só um caso de verão, eu amo ele — Lily exclamou, sentindo os seus olhos marejarem. — Eu quero passar o resto da minha vida com ele! Aqui!

— Não, você não quer — Dorothy virou-se para a menina. — Ele não é para você, Lily. Ele é… lixo, escória, e ele só está com você porque quer nosso dinheiro, eu sempre soube disso, você precisa acordar para a vida real.

— Pare de falar assim sobre o James, eu amo ele! — A garota já chorava a esse ponto, as lágrimas escorrendo quentes e incessantes sobre as suas bochechas coradas.

— Você não o ama, você nem sabe o que é amor! Tem dezessete anos! — Charles exclamou, batendo na mesa.

— Cala a boca — Lily soluçou. — Isso não é verdade, eu amo ele, mesmo, papai… 

— Por mim você nunca mais veria esse garoto na sua vida — Dorothy exclamou, a voz maldosa e amarga. — E, se for preciso, vamos embora amanhã mesmo. Vou mandar Marley arrumar as suas malas.

— O quê?! — Lily gritou, correndo até a sua mãe do outro lado da sala. — Você não pode fazer isso!

— Eu posso e eu vou.

— Eu odeio tanto vocês!

Lily se virou e bateu a porta atrás de si, indo em direção à sala para dar um abraço em James — apenas para achar poltronas vazias e uma lareira que não aquecia ninguém. Talvez ele tivesse escutado tudo e pensado que Lily iria desistir dele, assim decidiu ir embora sem nem mesmo se despedir, mas ela não iria deixar que os seus pais fizessem isso com eles. Ela não iria embora, ela nunca o abandonaria. Então por que ele tinha feito isso? Por que ele tinha ido embora? O que acontecera com todas as vezes que eles tinham sido felizes juntos?

— Nós avisamos. Você não sabe nada aos dezessete anos, muito menos sobre o amor. E ele não te ama — a voz amargurada de sua mãe soou atrás de si, fazendo os pelos de sua nuca se arrepiarem.

Sentindo as lágrimas que enchiam os seus olhos e o grito que ameaçava rasgar a sua garganta, Lily correu escada acima para o seu quarto, onde podia chorar em paz até a próxima manhã, pensando em todos os momentos de felicidade que tivera com James, que agora tinham sido deixados para trás indefinitivamente.

 

AND THAT'S WHEN YOU WERE WAITING AT THE FRONT GATE, WHEN I SAW YOUR FACE, YOU LET ME IN

 

A noite foi uma tortura. Lily não conseguiu dormir, muito menos parar de chorar, e os seus pais não fizeram absolutamente nada além de mandar uma das empregadas da casa arrumar as suas malas em silêncio enquanto a garota soluçava em cima de seus lençóis. Ela tentara ligar para a casa de James várias vezes, contudo, ninguém atendia o telefone. Os seus pais iriam lhe arrastar de volta para Londres em algumas horas e ela não podia fazer nada e, para colaborar, estava chovendo, deixando tudo ainda mais triste e pesado naquele dia horrível.

Nas primeiras horas da manhã, alguém deixara uma bandeja com café da manhã em sua cama, mas Lily não sentia fome ou vontade de comer. Nada mais parecia fazer sentido. Depois de sentir que não tinha mais lágrimas para chorar, levantou-se da cama e olhou pela janela enquanto as malas eram carregadas para os carros de sua família, e sentiu vontade de gritar novamente, até que viu outro carro distante se aproximando na estrada.

Esfregou os olhos, pois talvez não estivesse enxergando direito depois de tanto chorar ou, quem sabe, estivesse alucinando sem comer, dormir ou sentir coisas boas, porém, aquela era definitivamente a caminhonete de James. Ela reconheceria aquele rangido em qualquer lugar. Então Lily correu escada abaixo, passando por empregados que arrumavam a casa, pelos seus pais que gritaram por ela na mesa do café da manhã, e saiu pela porta da frente, parando nos degraus que levavam até o jardim, sem se importar com a chuva que a encharcava.

James saiu do carro, com as mesmas roupas da noite anterior, com um aspecto tão miserável em seu rosto quanto Lily. A garota congelou em seu lugar, sem conseguir andar até ele, e ele também a encarava de longe.

— Você foi embora! — Lily gritou. — Como você pôde fazer? Você simplesmente me deixou sozinha.

— Eu sei. Foi estúpido. Não tenho desculpas. Eu acho que precisava pensar depois das coisas que escutei dos seus pais ontem, mas eu voltei — James gritou de volta, a chuva ao redor deles fazendo com que fosse mais difícil de eles se escutarem.

— Por quê?

— Porque eu preciso falar com os seus pais — James olhou para além de Lily, e então ela percebeu que Charles e Dorothy estavam na porta de casa, observando-os em choque. — Eles precisam escutar o que eu tenho a dizer. Eu sei muito bem que não sou ninguém especial, Sr e Sra Evans, podem acreditar que disso eu tenho certeza. Eu sou só um homem comum com pensamentos comuns e levo uma vida comum. Não haverão monumentos dedicados a mim e meu nome vai ser esquecido, mas eu amo a sua filha com todo o meu coração e alma e, para mim, isso é o suficiente. Pode não ser para vocês, mas, para mim, é. Eu amo muito a filha de vocês e eu quero poder passar o resto da minha vida com ela, e, sem ofensas, eu realmente não me importo com o que vocês pensam de mim. E, Lily — ele olhou para a garota, que voltara a soluçar a esse ponto, e James já não conseguia diferenciar as gotas de chuva das lágrimas nas lentes de seus óculos. — Eu acho que você deveria ficar. Ficar comigo, para nós fazermos isso juntos. Eu sei que não tenho muitas coisas, então, não vai ser fácil. Vai ser muito difícil. Vamos ter que trabalhar muito todos os dias, mas eu quero fazer isso porque eu quero você. Eu quero você por inteira para sempre, todo dia. Você e eu… todos os dias.

Lily não sabia se ele tinha algo a mais para falar, no entanto não importava, pois ela saiu correndo pelo jardim molhado em direção a James, jogando-se nos braços dele no abraço mais apertado que podia, beijando-o desesperadamente logo em seguida, ignorando a chuva incessante ao redor deles e a presença de seus pais ali perto. Ela o beijou sem parar, até perder o fôlego, e o encarou.

— Eu também te amo, seu idiota. E eu não vou para lugar nenhum, mesmo que eu fique sem um tostão.

Os dois se viraram para encarar Charles e Dorothy. A mulher tinha ido embora, mas o pai de Lily os encarava da porta com uma expressão indecifrável.

— Você realmente a ama, não é, garoto? — Ele questionou, empertigado.

— Sim, senhor. Mais que tudo.

Charles assentiu, em silêncio, e olhou para Lily.

— Você pode ficar — disse, virando-se e entrando em casa sem mais nenhuma palavra.

Lily olhou para James e, nos olhos castanhos dele, conseguiu ter um vislumbre da eternidade que os esperava. Ela o beijou novamente, deixando que a chuva levasse embora qualquer sentimento ruim e todas as lágrimas que a atormentaram durante a noite, deixando apenas a felicidade que explodia em seu peito naquele momento.

A história de James e Lily se estendeu por anos e mais anos, com brigas, noites em claro, uma família crescente, dificuldades e muito, muito amor. O que eles começaram a construir em um verão se tornou algo muito maior que isso, e todos que conheciam James e Lily podiam testemunhar que aquele amor era um dos mais puros de todo o mundo. 

Juntos, eles eram felizes, e era isso que importava.


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Notas finais do capítulo

TE AMO CARTER