Unspoken Words escrita por melodrana


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá gente!

Esta one foi escrita com muito carinho, como um presente de aniversário para Val, uma das minhas amigas mais queridas e que sempre me apoiou incondicionalmente na escrita. Val, eu espero muito que essa história seja como o abraço que eu te daria caso morássemos perto! Que essa Bella, esse Edward e a jornada deles seja tão especial para você quanto foi para mim e que eu te emocione um pouco no seu dia. Hahaha Feliz aniversário, amiga!

E um agradecimento especial pra Laurinha, que betou e ouviu meus surtos durante a criação dessa história. ♥

Boa leitura!

*Por fins de entretenimento, essa história se passa em um mundo sem pandemia.*



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Isabella Swan estava com o celular na palma das mãos, encarando a sequência de números que sabia de cor há muitos anos.

Faziam seis meses desde a última vez em que falara com Edward.

Durante esse tempo, Bella se perguntou diversas vezes se ele estava bem. Encarar o contato na tela de seu smartphone era algo que procurava não fazer com tanta frequência, mas em dias em que se sentia incrivelmente sozinha, imaginava os dedos discando o número e a voz rica e carinhosa respondendo-a do outro lado da linha. Em dias em que as emoções pediam para serem expurgadas de seu coração, fitava o contato no celular e lembrava-se da sensação de proferir o nome dele enquanto os braços grandes envolviam seu corpo.

Bella sentiu um aperto no peito, mas fechou os olhos, controlando as emoções que ameaçavam transbordar de seus olhos com uma frequência maior do que estava confortável em sentir. Sabia que deveria fazer aquela ligação, pois existiam coisas mais importantes além da relação entre eles que precisavam ser acertadas.

Assim que tomou coragem de discar o número que deveria ter deletado há meses, Bella sentiu o aparelho vibrando em sua mão.

— Edward — atendeu, a voz sem demonstrar o quanto o coração batia rápido no peito.

— Bella. — O nome dela saiu como uma lufada de ar, seca e rápida. — Eu queria saber por que recebi uma ligação da sua mãe hoje, perguntando se poderia confirmar o horário do nosso voo para Seattle na sexta para que seu pai nos buscasse em Port Angeles na hora certa.

Frustração tingia cada palavra de Edward. Ele sempre foi muito educado e fazia questão de iniciar uma conversa perguntando para a outra pessoa se ela estava bem, antes de começar qualquer outro assunto.

Aparentemente aquela cortesia já não se estendia mais à Bella.

— Vovó Swan está fazendo 80 anos, Edward. Todos falam dessa festa há meses, vai ser especial.

— Eu sei disso, Bella. — Sua voz parecia cansada, quase como se estivesse conversando com uma criança teimosa. — E você sabe porque eu fiz essa pergunta. 

Bella sabia. Porém, ficou calada. O silêncio sempre fora seu refúgio em situações que exigiam demais dela.

— Por que você não contou nada para a sua mãe, Bella? — Irritação pura irradiava através da linha. — Por que não contou que já não estamos mais juntos?

Porque nem mesmo eu me acostumei com essa situação, Edward. Eu ainda durmo com um suéter velho seu, só pra te sentir perto de mim. Como vou explicar para os outros algo que nem eu mesma aceitei?

— Como vamos chegar até a casa da sua mãe e dizer que está tudo bem? — continuou ele.

— Eu te faço a mesma pergunta, Edward. Você contou para a sua mãe?

— Eu...

— Eu recebo ligações dela toda semana. Esme está tão animada em nos ver quanto a minha mãe. E então? Como faremos?

Edward ficou tão silencioso do outro lado da linha que Bella poderia desconfiar que a ligação havia caído, mas ainda conseguia ouvir a respiração entrecortada, visualizando em sua mente a mão de Edward subindo até a ponte do nariz para controlar o temperamento antes de falar algo do qual se arrependeria.

— No que nos enfiamos, Bella?

Edward parecia cansado. Tão cansado quanto ela de toda aquela situação e tão sem rumo quanto ela quanto ao que fazer em seguida. Era difícil para eles, que passaram grande parte de suas vidas juntos, entenderem que já não poderiam mais existir um na vida do outro.

Bella permaneceu em silêncio.

— Nós podemos contar a eles. Esse final de semana.

— Não, eu não quero estragar o clima do aniversário da minha avó.

— O que você quer fazer então, Bella? Fingir que está tudo bem?

Bella queria voltar atrás. Queria que os últimos meses de sua vida, e até mesmo os dois últimos anos, fossem apenas um terrível pesadelo.

— Nós conseguimos conviver um com o outro por um final de semana, Edward. Fizemos isso por anos. 

É tão difícil assim ficar perto de mim? 

— Eles vão desconfiar. 

— Eles sabem pelo que passamos, Edward.

— Não, eles não sabem. 

Bella sempre se espantava com a capacidade de ser atingida fisicamente por palavras.

— Você não pode fazer isso pela minha família? Pela nossa família? Eles não merecem isso, não agora.

Houve uma grande pausa.

Bella sabia que não estava no direito de pedir nada à Edward, não depois do que fizera — ou melhor, não fizera — a ele nos últimos meses antes da separação.

Mas ela precisava daquele tempo. Pela primeira vez, em dois anos, Bella se permitia sentir um pouco de esperança. Esperava que aquela comemoração, planejada com tanto carinho pelas pessoas que mais amava no mundo, ressignificasse os próximos dias, substituindo ao menos uma fração da agonia que preenchia seu peito ao se lembrar da maior perda de sua vida.

— Eu... por favor, Edward?

Sua voz não era mais do que um sussurro rouco, um pedido ligeiramente estrangulado. Bella sabia que aquele era um golpe ainda mais baixo do que envolver sua família, mas não se arrependia.

Colocara naquelas poucas palavras uma gota das emoções que a sufocavam diariamente. Bella tomou coragem, pela primeira vez, para revelar naquele sussurro uma parte do que escondia dele, e de si própria, por tanto tempo.

— Confirme nosso voo com a sua mãe. Eu disse para ela que eu não tinha certeza sobre os seus horários porque eles sempre são loucos.

Bella soltou o ar que nem sabia que segurava.

— Obrigada, Edward.

— Até sexta, Bella.

E desligou.

 

[...]

Os passos de Edward Cullen eram pesados e lentos conforme atravessava o enorme saguão do aeroporto de Boston. Ele sabia que estava apenas adiando o inevitável, mas permitiu a si mesmo alguns minutos a mais para se preparar para o reencontro com sua ex-mulher.

Sabia que deveria ter recusado o pedido de Bella. Aquela farsa era a receita perfeita para um desastre, mas quando ouviu a vulnerabilidade naquela voz — algo tão raro que Edward até mesmo se sobressaltou do outro lado da linha naquela manhã de segunda-feira — não conseguiu dizer não.

Ele raramente conseguia dizer não a Bella.

Foi por isso que a deixou. Estava cansado de dizer sim e acabar se machucando no processo. 

Depois de mais alguns passos, Edward a avistou.

Estava sentada de pernas cruzadas em uma das cadeiras de plástico da área de espera. A mala pequena e prática estava apoiada em seus pés, as mãos pousadas sobre a bolsa em seu colo, o olhar perdido em um ponto fixo a sua frente.

Bella sempre fora uma mulher de aparência impecável; ela gostava de se cuidar, tanto para si mesma, quanto para passar credibilidade em seu trabalho, um lugar majoritariamente regido por homens. Sua mente metódica sempre a ajudou nisso, organizando suas roupas e sapatos por cor e estação, seus produtos de higiene e maquiagem em compartimentos específicos e de fácil acesso. Edward costumava implicar com a necessidade de perfeição, pois nunca conseguira chegar perto daquele tipo de organização.

Então, quando realmente a viu, ficou surpreso.

O cabelo na altura dos ombros estava com alguns fios fora do lugar, como se ela não tivesse tido a paciência para penteá-lo com cuidado para deixar as mechas uniformes; a maquiagem, simples, não escondia as olheiras abaixo dos olhos ou os lábios ligeiramente secos; as roupas, apesar de serem finas, mostravam vincos em lugares muito visíveis, como se ela não tivesse se dado o trabalho de passá-las antes de vesti-las.

Além disso, Bella parecia muito magra. As maçãs do rosto estavam proeminentes, o queixo um pouco mais pontudo. Edward não conseguia ver além do casaco pesado, do vestido preto e da meia-calça escura que ela vestia, mas apostava que os braços estavam mais finos, que as curvas já não preenchiam as roupas como antes.

A aparência dela gritava, quase como se a sua ausência estivesse estampada naquele corpo. Como se, sem Edward naquele apartamento, Bella se esquecesse de coisas básicas, como comer e dormir.

Seu corpo reagiu antes da sua mente. Ele voltou a caminhar, pronto para perguntar a ela se havia tomado o café da manhã naquele dia — e nos anteriores —, ou se descansara o suficiente para a longa viagem que fariam. Em sua cabeça, Edward já calculava o tempo que levaria para ir até uma das lanchonetes do aeroporto e comprar o sanduiche de peito de peru que sabia que Bella adorava, juntamente com um suco natural para repor um pouco da energia que claramente faltava naquele corpo.

Segundos depois, pausou e se limitou a encará-la novamente.

Não estavam mais casados. Cuidar de Bella já não era mais uma obrigação sua.

Aquelas palavras eram tão ácidas que Edward sentiu o gosto horrendo em sua língua somente ao pensar nelas.

Bella escolheu aquele momento para encontrar Edward com o olhar. Os olhos do mais puro castanho, cujo brilho era a fonte de energia que ele buscara diariamente, estavam apáticos. Um sorriso fraco se abriu nos lábios cheios e Edward ficou sem reação, apesar do coração acelerado no peito, enquanto ela pegava a mala e caminhava até ele.

— Bom dia, Edward.

— Bom dia, Bella.

— Podemos ir? Está quase na hora do nosso embarque.

Edward sabia que não deveria se espantar com a formalidade, mas ainda sim sentiu o coração desejando mais. Todos os seus atos nos últimos anos tinham um único objetivo: conseguir alguma reação, qualquer reação, de Bella. Era uma luta constante, que o levou ao extremo de pedir o divórcio.

Aparentemente, até mesmo essa última ação desesperada não tivera efeito.

Então, limitou-se a esconder as emoções que sabia que transbordavam por seus olhos verdes e acenou com a cabeça, indicando para Bella o caminho para o check-in. A mão que não estava ocupada com a própria mala instintivamente se levantou, pronta para pousar na curva acima do quadril de Bella, como fizera durante tantos anos. Em um último momento, no entanto, Edward a recolheu, permanecendo a uma distância respeitável do corpo dela.

Cada gesto era um lembrete doloroso daquilo que já não mais possuíam.

Aquele com certeza seria um longo final de semana.

 

[...]

Retornar a Forks deixava o coração de Bella mais leve.

Não fizera muita questão de procurar uma região próxima para ingressar em uma universidade, e fora até mesmo parar do outro lado do país quando fizera sua escolha. No entanto, sempre que era cercada pelo verde constante e pelo clima úmido, seu corpo automaticamente relaxava, como se aquela cidadezinha no estado de Washington fosse um porto seguro. 

Ela sabia que Edward provavelmente não sentia o mesmo, sentado no banco de trás da viatura de Charlie.

As seis horas de voo até Seattle foram especialmente silenciosas. Bella percebeu Edward inquieto, balançando constantemente a perna no assento ao lado do seu, com certeza com vontade de puxar algum assunto, mas orgulhoso demais para ceder e perguntar a ela como foram os meses em que esteve ausente. Ela percebera, também, que ele havia se dado conta de que estava mais magra e que o cansaço estava estampado em seu rosto. Imaginou se, de alguma forma, ele se importava com a mulher que havia se tornado.

Como sempre, Bella permaneceu em silêncio. Era mais fácil, não falar.

Charlie, para seu alívio, preenchera a viagem de Port Angeles até Forks com diversas fofocas sobre os parentes e os amigos que já abarrotavam a casa Swan. O pai era extremamente observador e com certeza percebera um clima estranho entre o casal, mas Bella confiava em Charlie e sabia que ele não levantaria qualquer questionamento constrangedor sobre isso.

— Bella! Que saudade da minha menina!

O abraço de Renée, assim que colocou os pés para fora da viatura, a envolveu em um aperto firme e que cheirava a margaridas. Um sorriso pequeno se abriu nos lábios dela, um dos poucos sorrisos genuínos que dera nos últimos tempos.

— Edward, meu querido, venha aqui! — A mãe anunciou assim que soltou a filha, correndo para o genro que saía da viatura com a mala de Bella nas mãos.

Edward também fora sincero em seu sorriso e abraçou Renée com um carinho tão grande que a felicidade permaneceu estampada no rosto de Bella ainda por um tempo.

De repente, sentiu outro corpo se chocando contra o seu, e imediatamente identificou o perfume de pêssegos do shampoo de Esme, sua sogra.

— Bella, você emagreceu, o que aconteceu? Não está comendo direito por conta daqueles horários? Eu preciso dar uma bronca em Edward para te alimentar direito e...

Os próximos minutos foram preenchidos por cumprimentos, broncas sobre como estava magra demais e perguntas a respeito do clima de Boston. Bella achou que teria que fingir entusiasmo ao encontrar sua família, mas se surpreendeu ao perceber que estava genuinamente feliz em vê-los. Sentia falta de cada um deles imensamente, e talvez a distância que tanto valorizava quando mais nova já não fizesse mais tanto sentido.

Por um momento, enquanto entrava na casa de dois andares na qual viveu sua infância e adolescência, procurou Edward em meio à multidão de senhoras que sempre o cercavam.

Ele também sorria. Parecia à vontade ao responder as inúmeras perguntas e até mesmo flertava com uma das tias-avós de Bella, que adorava tirar uma casquinha de Edward quando achava que a sobrinha-neta não estava olhando. Então, como se o chamasse, a atenção dele foi diretamente até ela e o sorriso perdeu um pouco da espontaneidade anterior, juntamente com a expressão nos olhos verdes, que passou de divertida a dura em um milésimo de segundo.

Bella engoliu em seco.

Queria, de alguma forma, demonstrar a Edward que também sofria. Que aquela situação não era confortável para ela, que as emoções em seu peito a deixavam tão sufocada que trancavam sua garganta, a impedindo de falar aquilo que realmente sentia.

— Querida?

Virou-se para quem a chamava e encontrou os olhos da mãe, tão azuis quanto um céu em um dia ensolarado, avaliando-a com a precisão que somente uma mãe era capaz de executar. Sentiu o coração acelerar e sua mente acompanhar o ritmo frenético, pronta para dar uma desculpa para qualquer pergunta que Renée fizesse a seguir.

Mas a mãe apenas a olhou com carinho, como se entendesse que aquele não era o momento.

— Eu preparei um banho para vocês no quarto da Vovó Marie. Eu sei o quanto você ama aquela banheira, e acho que vocês estão muito cansados depois de tanto tempo de viagem. — Bella assentiu, pois realmente estava cansada da longa e silenciosa viagem. Um banho seria ótimo, mas o “vocês” a deixou alerta. — Por que você não vai na frente? Eu tiro Edward do meio daquelas sem-vergonha. Vá.

Bella agradeceu a mãe e subiu para o quarto da avó. Sabia que de alguma forma Edward daria alguma desculpa para não participar do banho ou se esconderia em algum cômodo da casa, então, aproveitaria aquele momento para colocar as emoções em calmaria, a sós.

Ela deveria saber, no entanto, que aquilo não aconteceria.

 

[...]

Forks era um lugar completamente diferente de Boston.

Forks carregava história.

Ali, naquele lugar verde, úmido e quieto, Edward e Bella se conheceram e construíram uma amizade tão sólida que o desejo de estar próximos um do outro era mais forte do que o que tinham de permanecer próximos de casa. Cada canto daquela cidade, e principalmente daquela casa, trazia a lembrança de algum momento compartilhado entre eles.

A viagem até ali, no entanto, não fora das mais agradáveis.

Edward ficara extremamente enfurecido com as horas de voo que passara em silêncio ao lado de Bella, sabendo que uma pequena parcela daquela situação era sua culpa, já que a iniciativa para o divórcio partira dele. Só que isso não o impediu de sentir a frustração na mandíbula cerrada e nos suspiros dramáticos que soltou ao longo da viagem.

Assim que chegaram na cidade pequena, ele cogitou se esconder no armário de vassouras que ficava embaixo da escada da casa dos Swan, determinado a passar o resto do final de semana despercebido. No entanto, assim que colocou os pés para fora da viatura de Charlie, seu ex-sogro, sentiu o coração se abrindo para as emoções de uma forma que não fazia há meses. Era difícil não se envolver com a empolgação de sua mãe, Esme e de Renée, ou com os flertes descarados da tia-avó Margareth.

Forks sempre fora seu lar.

Mesmo que tivesse se mudado para lá apenas no início de sua adolescência, o lugar havia moldado o homem que ele era hoje. Cada pedaço daquela cidade trazia o conforto que Edward jamais sentira em qualquer outro lugar.

Então, resolveu aceitar todas as lembranças que o açoitavam como velhas amigas.

E assim foi parar no banheiro do quarto da Vovó Swan, a mando de Renée.

— Você se lembra daquela vez em que me pegou aqui, Edward?

Edward achou que estava sendo discreto em sua inspeção ao pé da porta, mas os olhos castanhos de Bella abriram-se de repente e fixaram-se nele, acompanhados de um pequeno sorriso nos lábios pouco hidratados.

— Como eu poderia esquecer da primeira vez que te vi nua, Bella? — Respondeu com um riso.

A lembrança era vívida em sua mente.

Ele era um garoto franzino de dezesseis anos quando colocou os pés pela primeira vez no azulejo azul claro do banheiro amplo. Lembrava-se da sensação de estar invadindo um local que não pertencia a ele, mas o senso de obediência era mais forte, então Edward aceitara levar as toalhas que Vovó Swan pedira para que guardasse no armário do banheiro dela.

O susto que levara ao perceber que o banheiro não estava vazio ainda reverberava em seu peito.

A banheira estava tão cheia que até mesmo alguns pedaços da espuma se desprendiam e caíam no chão. Bella estava com fones de ouvido e os olhos fechados, balançando a cabeça no ritmo de qualquer que fosse a banda indie que era sua preferida no momento.

Edward entrara em pânico e suas mãos ficaram moles, soltando as toalhas que carregava.

O movimento chamou a atenção de Bella de alguma forma e ela abriu os olhos, tão chocada quanto Edward ao encontrar o menino ali, vendo-a nua.

Apesar de a espuma cobrir todas as partes íntimas de Bella, a situação deixara Edward em um estado perfeito de estupor.

E, em poucos segundos, ele saíra correndo, deixando as toalhas espalhadas pelo chão molhado.

Edward se lembrava perfeitamente em sonhar com a visão de Bella naquela banheira por meses.

— Você ficou roxo — Bella riu, um riso baixo, mas que percorreu o corpo de Edward como uma carícia. — Parecia que nunca tinha visto uma mulher nua.

— E eu não tinha. Eu não sei se você lembra, mas eu não fazia a linha popular na escola.

— Ok, talvez não tivesse visto pessoalmente, mas provavelmente já tinha visto de outras formas. — Bella arqueou uma de suas sobrancelhas, provocativa.

— Não vou ser hipócrita e dizer que não.

Bella riu novamente, levando uma das mãos até a boca, como se rir não fosse mais permitido para ela. A mudança movimentou a água e uma parte da espuma que cobria totalmente o corpo de Bella se deslocou, relevando a curva de um de seus seios e a sombra de uma das tatuagens que ela tinha escondida pelo corpo.

Foi impossível para Edward não reparar como os braços dela realmente estavam mais finos, como o rosto estava macilento. Ele engoliu em seco, tanto pela agonia que a visão de uma Bella tão magra trazia ao seu peito, quanto pelo desejo que ainda percorria suas veias ao vê-la despida.

— Como nós nos perdemos, Edward?

Qualquer traço de humor sumiu do rosto de Bella. Ela o fitava, com os olhos ainda apáticos, mas que agora carregavam perguntas que nenhum dos dois sabia a resposta.

E, de repente, a fúria voltou ao peito de Edward e ele se sentiu sufocado. Lembrou-se do silêncio, que não acontecera apenas na viagem daquele dia, mas durante meses, e passou as mãos sobre o cabelo, bagunçando as mechas cor de cobre com um aperto firme.

Quando Bella deliberadamente usou o “nós” em sua pergunta, dividiu igualmente entre eles a culpa daquele divórcio. E Edward se negava a carregar a parcela de responsabilidade sobre o fracasso daquele relacionamento, não quando se esforçou para salvar aquele casamento durante meses, dia a dia tentando quebrar o muro sólido que Bella construíra em torno do próprio coração.

Fechou os olhos, respirando fundo enquanto sufocava a dor que ameaçava preencher cada célula de seu corpo.

Edward sofrera tanto quanto ela naquela perda. Ele entendia a dor dela, mas ele também sofria, ele também sentia a falta daquilo que nem ao menos tiveram a oportunidade de conhecer.

Aquela pergunta não era justa. Aquela pergunta ignorava a grandiosidade da tristeza que assolava Edward.

Bella percebeu em poucos segundos que havia dito a coisa errada.

— Edward, eu...

Ela levantou-se, não se importando com a nudez ou com os meses que já não compartilharam mais a cama. Uma das mãos dela se estendeu até ele, mas Edward deu um passo para trás, permitindo que toda a mágoa que Bella incitara com aquela simples pergunta viesse à tona em seus olhos.

— Bella, não.

Ele fechou novamente os olhos, respirando fundo.

Edward sabia que poderia dizer coisas que magoariam Bella profundamente. Verdades que ele já havia dito, mas que talvez não tivessem sido registradas em meio a gritos.

Mas ele não queria magoá-la. Não mais.

Estava exausto de tudo aquilo.

— Eu acho que você sabe muito bem o que aconteceu, Bella. E não cabe a mim responder o que aconteceu entre nós. Cabe somente a você entender porque eu saí por aquela porta em Boston há seis meses. E eu acho que você sabe muito bem a resposta.

Edward sabia que deveria se importar quando Bella se encolheu, como se tivesse levado um golpe físico.

Só que ele não sentiu nada enquanto saía do banheiro de Vovó Swan, deixando-a apenas com o silêncio que ela tanto amava.

Naquela noite, dormiram de costas um para o outro no antigo quarto de Bella.

 

[...]

Edward não conseguiu pregar o olho durante toda a noite.

Era impossível não sentir o calor do corpo de Bella na cama de casal pequena demais. Impossível ignorar os olhos que ardiam, o peito apertado e as mãos que ansiavam por sentir novamente a textura da pele dela.

De alguma forma, a conversa que era para ter sido apenas um momento deliciosamente nostálgico se tornou o estímulo para que as emoções que Edward guardara com tanto cuidado viessem à tona. Não tê-las colocado pra fora anteriormente cobrava seu preço e, por mais que as palavras pedissem passagem, ficou feliz de não ter as despejado aleatoriamente sobre Bella.

Era visível que ela não estava bem.

Ele também não estava.

E nada daquilo era justo.

Às cinco da manhã, Edward decidiu que a cama se tornou pequena demais. Se levantou, procurou um sapato e vestiu seu roupão preferido, que estivera aninhado em uma cadeira ao lado da cama. Desceu as escadas em passadas largas, mas silenciosas, tomando cuidado para não acordar nenhum convidado da casa abarrotada de gente.

Pretendia passar rapidamente pela cozinha e caminhar diretamente para a floresta que ficava aos fundos do enorme quintal dos Swan. Queria que seus pés o tirassem daquele lugar, nem que fosse por apenas alguns minutos. Com certeza nem ao menos perceberiam sua ausência quando voltasse para ajudar nos preparativos da festa logo mais à noite.

Porém, assim que chegou à cozinha, encontrou Vovó Swan ao lado do fogão, velando uma chaleira com água fervente. Assim que ela ouviu o movimento, sorriu.

Marie, no auge de seus oitenta anos, era uma mulher belíssima. Os cabelos já estavam alvos, mas os olhos eram do mesmo castanho rico que as mechas um dia foram, idênticos aos de Bella. Edward sempre se espantou com a semelhança entre elas e imaginava que a visão que tinha naquele momento era o que veria no futuro rosto de sua esposa.

Sempre sonhou que aquele seria o rosto que admiraria até o final de sua vida.

Como estava enganado.

— O que faz em pé tão cedo, menino? — Marie questionou, despejando a água em uma xícara que estava pousada no balcão. Em um movimento tão suave que passaria despercebido por olhos mais desatentos, ela pegou outra xícara no armário acima de sua cabeça, abriu outro pacote de chá e despejou a metade restante da água sobre ele.

— Eu poderia lhe fazer a mesma pergunta, Vovó. — Edward sorriu, feliz por ter a liberdade de provocá-la como se fosse uma velha amiga. — É seu aniversário hoje. Por que está acordada?

— Velhos não sentem sono. — Ela deu de ombros, entregando a segunda xícara a Edward. — E você não respondeu minha pergunta.

— Eu também estava sem sono. Pretendia sair para uma caminhada.

— Tome este chá primeiro. Vem, sente-se aqui, querido.

Edward obedeceu, sentando-se em uma das cadeiras da mesa que ficava em um canto mais afastado da cozinha. Marie o acompanhou, levando consigo um prato cheio de cookies que ele não viu de onde ela tirou.

— O que aconteceu para deixar esses belos olhos verdes tão atormentados?

Ele encarou o líquido escuro que soltava fios de fumaça em sua direção.

Sabia que era inútil mentir para Vovó Swan, mas também não estava disposto a despejar toda amargura que sentia em sua garganta em cima da aniversariante do dia. Então, começou por uma informação que era de conhecimento de todos.

— A senhora sabe que dia é hoje, não sabe?

Marie estendeu uma das mãos, colocando-a sobre a mão de Edward que estava sendo aquecida pelo chá.

— Eu sei, querido.

— Eu só... estou cansado.

— A quanto tempo você e minha neta estão vivendo separados?

A pergunta pegou Edward de surpresa, fazendo-o levantar os olhos do chá que ainda encarava. Foi recebido pelos olhos castanhos idênticos aos da mulher que ainda amava.

— Como... como a senhora sabe?

— Nós não somos idiotas, querido. Sua mãe e Renée perceberam quando algumas coisas na rotina de vocês já não batiam mais. Vocês são péssimos mentirosos.

Edward soltou um riso sem humor.

— Somos, não é mesmo?

O aperto na mão de Edward se fortaleceu e ele observou as rugas das mãos de Vovó Swan com carinho, como se cada uma delas tivesse uma longa história para contar.

— Eu saí do apartamento faz seis meses. Eu estava exausto, Vovó. A cada dia ela falava menos comigo, eu não sabia mais como chegar até ela. Éramos basicamente dois estranhos na mesma casa. Então um dia eu... explodi. Tivemos uma briga intensa. Então eu juntei todas as minhas coisas e fui embora.

— E isso resolveu alguma coisa?

O olhar de Marie era compreensivo, acolhedor. Edward sentiu os olhos marejando, então apenas negou com a cabeça, sorrindo tristemente para a idosa a sua frente, abaixando novamente a cabeça.

— Vocês estão muito machucados. Vocês dois.

— Eu não sei se sua neta sabe dessa informação. — O tom de Edward se tornou um pouco mais duro, realmente cansado. — Aparentemente ela acha que é a única que pode sofrer.

— Oh, mas você está tão enganado, Edward.

A resposta mais ríspida fez com que Edward levantasse o olhar e encarrasse o rosto de Marie. Ele já não fitava mais a avó compreensiva que fizera uma xícara de chá para confortar seu coração, mas sim uma mulher sábia, com anos de experiência, consciente do momento certo de ser firme em uma conversa.

— Bella, desde pequena, foi como eu. Nós costumávamos dizer que ela havia saído de mim e não de Renée. Ela ficava uma fera quando eu dizia isso. — Marie riu e seus olhos perderam o foco por um momento, viajando para qualquer que tenha sido a lembrança doce que veio até sua mente. — Só que ela acabou puxando de mim coisas demais, inclusive a personalidade.

Ela pegou um dos cookies do prato e deu uma mordida generosa, mastigando lentamente, como se o gesto a ajudasse a reunir aos poucos as palavras que deveriam ser ditas.

— Eu sempre fui muito fechada. É difícil, até hoje, demonstrar minhas emoções. E eu perdi muitas coisas, muitas... pessoas, tudo graças a essa característica que carreguei durante toda a vida.

Com um suspiro, ela olhou para fora da casa, através da janela de madeira que ficava ao lado da mesa em que se sentavam. Edward sabia de poucos detalhes da vida de Marie, mas lembrava-se vagamente de uma história que Bella sempre contara, sobre o primeiro grande amor da vida da avó antes de se casar com o Senhor Swan. Seria ele a pessoa que ela perdera? Teriam eles tido um conflito semelhante ao do relacionamento entre ele e Bella?

— Bella é igual. — Sorriu, triste, como se não quisesse aquele destino para a neta. — Ela prende as emoções com tanta força dentro de si que o acúmulo delas impede qualquer coisa de sair.

Enquanto falava, Marie aproximou um dos punhos de seu coração e o fechou com força, como se representasse tudo o que se passava dentro da neta. Ou, como Edward desconfiava, dentro de si mesma.

—  É por isso que ela está sempre em silêncio ultimamente. O silêncio é conforto. Ele não exige nada dela, ele a deixa apenas existir. É mais fácil, mais suportável.

O próprio coração de Edward batia forte no peito, sofrendo por Bella. Ele enxergara aquilo nos primeiros meses, mas depois de um tempo simplesmente cansara de entender os mecanismos de defesa dela. Cansara de estender a mão e ter sua ajuda negada, desprezada.

— A perda que vocês tiveram foi a maior da vida de Bella, Edward. — Marie continuou, voltando a acariciar uma das mãos de Edward sobre a xícara de chá. — Ela jamais enfrentou dor tão forte, pois Bella teve uma infância e uma adolescência repleta de amor e cuidado. Quando ela se deparou com aquela situação, simplesmente não soube como reagir e se fechou.

— Mas... ela nunca esteve sozinha, Vovó. Eu estive do lado dela todo esse tempo, vocês estiveram. E ela sabe disso. Por que se fechar dessa forma? Por que negar ajuda?

Marie sorriu tristemente, fazendo com que as rugas ao redor de seus olhos se acentuassem.

— Culpa, meu querido. Ela faz com que Bella não se sinta digna de ajuda. Principalmente das pessoas que mais ama.

Edward balançou a cabeça, com dificuldade de entender como Bella poderia acreditar naquelas mentiras. Ela não tivera culpa de nada. Ela nunca estivera sozinha. Por que ela não conseguia enxergar aquilo? Por que ela escolheu o caminho mais difícil?

Os dedos enrugados retiraram a mão de Edward da xícara e se enlaçaram aos dele, apertando com mais força, como se Marie quisesse dar ênfase às palavras.

— Não desista dela, Edward.

— Ela desistiu de mim, Vovó.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Edward ao proferir aquelas palavras. Marie levantou a mão livre e limpou o choro com a ponta dos dedos ligeiramente trêmulos.

— Ela não desistiu, querido. Ela só não sabe como falar tudo isso para você. A dor impede que as palavras saiam.

— Eu... — Edward suspirou, controlando o choro que pedia passagem. — Eu queria que ela me deixasse chegar até ela. Eu tentei, Vovó. Tentei por meses.

— Talvez ver a sua dor fizesse com que ela se fechasse ainda mais. Nós odiamos ver quem amamos sofrer, Edward. Foi por isso que você foi embora. Você já não suportava mais ver a dor de Bella, a sua própria dor estampada nos olhos dela.

Mais algumas lágrimas caíram, escorrendo lentamente pelo rosto de Edward.

— O que eu faço então, Vovó? Como eu vou manter um relacionamento sozinho?

— Paciência e tempo.

— Eu já dei tempo a ela! Eu dei espaço a ela por meses!

Edward sentiu a mágoa aflorando, a dor se transformando em ressentimento. Sabia que Marie não merecia aquilo, mas ela havia sido a primeira pessoa disposta a ouvi-lo e as emoções eram tão intensas que não se importavam em quem seriam despejadas.

— O tempo dela, Edward. — Marie recebeu as emoções de Edward com o peito aberto, o rosto rígido. Pretendia lutar por eles, mesmo que ambos já não tivessem mais forças para tal. — Cada ser humano funciona de uma forma, querido. Essa é uma das partes mais difíceis em se relacionar.

Edward suspirou. Estava cansado, cansado de ser aquele a esperar.

— Por que você aceitou vir até aqui com ela, Edward? Você poderia ter recusado.

— Eu não sei.

Pense. O que Bella te disse que fez com que você cedesse depois de seis meses de ausência?

Edward não sabia como Marie sabia daquela pequena súplica pelo telefone, mas ainda conseguia sentir a vulnerabilidade que Bella demonstrou em sua pele. No pequeno pedido, naquele “por favor” sussurrado.

Ele sentira esperança. Esperança naquelas duas palavras, esperança que não sentia vindo dela há anos.

— A mulher que você conheceu aqui — Marie apontou com a mão livre para o chão, dando novamente ênfase em suas palavras — ainda está dentro dela, Edward. Só está escondida em um canto que nem mesmo ela consegue alcançar. Ela precisa de seu amor, querido. Ela precisa de você para permanecer viva.

Os olhos de Vovó Swan também estavam marejados graças a força de suas palavras.

Esperança. Edward também via a esperança ali, a esperança de uma avó que sabia que não era ela a responsável por recuperar a neta mergulhada em uma banheira de desespero.

Uma súplica. Assim como a que Bella fizera através daquela ligação.

Edward suspirou e continuou fitando Vovó Swan, encontrando naquele rosto idoso, cheio de rugas e expectativas, a força para tentar novamente.

Mais uma vez. Apenas mais uma vez.

— E quando você precisar de ajuda, querido, lembre-se que estou aqui. Todos nós estamos.

Com um último aperto na mão de Edward, Vovó Swan se levantou lentamente, pousou um beijo leve nas mechas cor de cobre e saiu da cozinha, deixando-o sozinho com seus pensamentos.

O chá em suas mãos já estava gelado quando ele finalmente tomou coragem de se levantar.

 

[...]

Quando Bella acordou na manhã de sábado, percebeu que estava sozinha em sua cama.

Não ficou surpresa com o frio que a recebeu assim que colocou uma das mãos no travesseiro ao lado do seu. Edward ficou inquieto a noite toda, como se o espaço fosse pequeno demais, sufocante, para ele. Bella sentiu o colchão se mexendo, a madrugada ainda intensa do lado de fora das janelas, mas tentou não abrir os olhos, pois não queria incomodá-lo. Assim que sentiu a porta se fechando com um clique silencioso, fitou o teto até que a exaustão finalmente a levasse.

E Edward não voltou ao quarto desde então.

Olhando no relógio de sua cabeceira, Bella percebeu que ainda era cedo, mas a casa Swan já estava viva. Ela conseguia distinguir as risadas das mais velhas da família, provavelmente reunidas na cozinha pequena de sua mãe; conseguia ouvir o ruído de passos pequenos correndo pelos pisos de madeira, subindo e descendo escadas, com gritos animados de diversão; conseguia ouvir, bem lá no fundo, o barulho da televisão ligada em algum jogo de baseball aleatório.

Era um contraste tão grande com o vazio que sentia.

Bella tentou procurar alguma coisa. Uma voz, um sentimento, uma reação. Qualquer parte mínima de si que não estivesse em pleno silêncio.

Porém, não encontrou nada. Não naquele dia.

Então, utilizou todos os barulhos que sua família fazia como combustível para se levantar da cama. Tomou uma ducha rápida e se vestiu casualmente, sabendo que a mãe a arrastaria para milhares de tarefas assim que colocasse os pés para fora do seu antigo quarto.

E seguiu.

— Bom dia, minha querida!

Bella foi diretamente para a cozinha, pois sabia que precisava colocar algo no estômago, do contrário ouviria outra ladainha de broncas sobre a sua alimentação, como no dia anterior. Como previu, a maioria das mulheres da casa estavam ali, algumas preparando algo no fogão, outras arrumando decorações e lembrancinhas para a festa que se iniciaria no final da tarde.

Quem a cumprimentou e acenou para que se aproximasse foi Esme, mãe de Edward. O rosto doce e os cabelos castanhos, com um toque de ruivo que ele herdara, trouxeram um conforto e familiaridade que fizeram Bella sorrir. Sua mãe e sua avó estavam próximas, sentadas ao redor da pequena mesa que tantas vezes ela usou para tomar seu café da manhã antes de ir para a escola. Sobre o local, repousavam dezenas de saquinhos de organza recheados com jujubas coloridas, prontos para serem fechados com fitas de cetim devidamente cortadas.

— Bom dia, Esme. Bom dia, mãe. Bom dia, aniversariante. — Bella aproximou-se da avó e pousou um grande beijo no rosto de Marie, fazendo-a sorrir imensamente para a neta.

— Coma alguma coisa e depois venha nos ajudar. Temos muito saquinhos para fechar. — Ordenou Renée, desviando o olhar de Bella para um ponto atrás dela. — Edward, querido, você já terminou lá fora? Venha aqui, alimente sua mulher e depois vá colocar os arranjos de mesa que a tia Margareth já terminou de ajeitar.

Bella percebeu a presença de Edward ao sentir o calor do corpo grande extremamente próximo ao seu. Sentiu também uma das mãos dele envolvendo sua cintura e um beijo pousado delicadamente em sua cabeça.

— Bom dia — sussurrou próximo ao ouvido dela.

Ela demorou alguns segundos até reconhecer o toque. Virou sua cabeça e fitou os olhos verdes de Edward, procurando ali o motivo do gesto. Foi um movimento espontâneo, como o pousar de mãos sobre a coluna dela que aconteceu no aeroporto no dia anterior? Ou era tudo premeditado, parte da farsa em que atuavam desde que chegaram a Forks?

Não havia falsidade alguma naquele olhar. Nunca houvera, Bella sabia muito bem.

E também não havia falsidade naquele toque.

Uma das características marcantes do relacionamento entre Bella e Edward era o toque. Em qualquer lugar, com a presença ou não de pessoas, Edward fazia questão de manter as peles em contato. Mãos dadas, joelhos encostados, carícias em qualquer espaço que não estivesse coberto com roupa.

Uma vez, Bella perguntara a ele porque sempre fazia questão de estar a tocando, e Edward respondera que aquela era a forma de sempre se certificar de que ela era real e não apenas uma criação de sua mente. Bella lembrava-se de rir da resposta, mas de também buscar o toque dele sempre que possível, sabendo que seus gestos tinham o mesmo objetivo que os dele.

— Bom dia — respondeu com a voz rouca, depois de uma infinidade de tempo o fitando.

Assim que voltou o olhar para as mulheres à mesa, percebeu que elas os fitavam com os olhos repletos de perguntas.

Bella entrou em pânico.

— Bella pode me ajudar lá fora, Renée? Ela é melhor com os arranjos do que eu, e preciso ainda terminar de ajustar algumas das mesas sob a tenda.

Renée ia protestar, mas Vovó Swan a impediu com um olhar.

— Pode sim, querido. Nós damos conta aqui dentro.

Bella sentiu Edward assentindo em agradecimento e, com um aperto na cintura dela, eles começaram a se mover para longe das matriarcas da família. No caminho até o quintal, Edward pegou dois muffins de chocolate que estavam dispostos no balcão, além da caixa cheia de arranjos, que parecia pesar consideravelmente.

Somente quando sentiu a brisa da manhã no rosto que Bella despertou daqueles últimos minutos de interação. Edward, de alguma forma, percebeu que ela seria bombardeada por perguntas que não queria — e até mesmo não sabia — responder, então foi ao seu resgate, mesmo que isso o obrigasse a compartilhar minutos infinitos de silêncio ao lado dela.

Edward, ainda com a caixa equilibrada em um dos braços, ofereceu para Bella os muffins pousados em sua mão livre. Ela os agarrou, segurando os bolinhos com as mãos com firmeza.

— Obrigada — e o agradecimento não era somente pelo café da manhã.

Ele também sabia disso. E apenas acenou.

Trabalharam, em silêncio, mas em conjunto. Em pouco menos de uma hora, o quintal estava todo arrumado com as mesas brancas e as toalhas de cor lavanda suave, adornadas com os arranjos tão carinhosamente feitos pelas mãos das mulheres Swan. Seria uma bela festa, pensou Bella assim que terminaram o trabalho e observavam de longe o que havia sido construído no quintal da casa em que vivera grande parte de sua vida.

— Bella?

Quando voltou sua atenção à Edward, percebeu que o olhar dele já não estava tão hostil como no dia anterior. Os olhos verdes transmitiam mais suavidade, como se soubesse que qualquer peso adicional de amargura fosse ser demais para Bella naquele dia.

— Para você.

Nas mãos de Edward haviam dois saquinhos de organza, cheios até a boca com jujubas.

— Eu achei que sua mãe não iria deixar você roubar algumas, então eu peguei para você enquanto elas não estavam olhando.

Ao estender as mãos até os saquinhos, Bella percebeu que tremia.

O vazio que preenchia seu peito havia sido substituído por uma lembrança.

O período menstrual para Bella sempre foi um inferno. Ela sentia terríveis cólicas e dores nas costas e, dependendo do mês, precisava ficar deitada durante todo o dia para que a dor se tornasse minimamente suportável.

Edward, poucos meses depois da mudança à Forks e do início da amizade com Bella, descobriu que aquele não era um período fácil para ela da pior forma.

Em uma tarde preguiçosa de sábado, entrara no quarto de Bella, já que a porta estava entreaberta. O único objetivo de Edward era convidá-la para um passeio na floresta, mas assim que trouxe a animação típica adolescente para dentro do quarto, fora recebido por gritos e um travesseiro na cabeça. Bella se arrependera imediatamente de ter expulsado o pobre garoto de seu quarto, mas não tivera forças para se levantar e se desculpar.

Meia hora mais tarde, uma batida tímida soara na porta do quarto e Bella conseguira ver por cima das cobertas algumas mechas ruivas escuras despontando pela abertura mínima da porta. Edward pedira licença e, com a voz ligeiramente arrependida e compreensiva, contou que Renée havia explicado a ele sobre as dores que Bella sofria quando estava menstruada. Quando Bella pareceu apenas ouvir e não estar mais inclinada a agredi-lo com outro travesseiro, ele perguntara se poderia ficar e distraí-la.

Nas mãos de Edward havia um pacote gigante de jujubas e alguns dos filmes favoritos de Bella.

Desde então, sempre que Bella estava com dores, ou apenas um pouco triste, Edward aparecia com as mais diversas jujubas para mimá-la. De gomas, com chocolate, coloridas. Quando encontrava uma jujuba nova, ele guardava a novidade para um momento em que Bella não estivesse em um dia bom.

E dois anos antes, Edward dera a Bella o pacote de jujubas mais agridoce de toda sua vida.

— Bella? — Edward a chamou, preocupação tomando todo seu rosto.

Bella sentiu as lágrimas caindo em seu rosto antes de reconhecer qualquer emoção em seu peito. Ela não esperava que a simples visão de um pacote de jujubas oferecido por Edward desencadearia aquele choro, não esperava que o que antes tinha um gosto tão doce em sua língua pudesse trazer em sua garganta o amargo daquela dor.

Em um instante, até mesmo o quintal aberto pareceu pequeno demais para o que irrompia no peito de Bella.

Então, ela correu.

 

[...]

Bella não chorava há anos.

O olhar aterrorizado e as lágrimas que escorriam sem piedade alguma pelo rosto dela mostraram a Edward que algo havia finalmente se rompido.

Ele antecipara aquele momento pelos dois últimos anos.

Sempre alerta, Edward estivera pronto para acolher as emoções trancadas no peito de Bella assim que todas resolvessem sair. Sabia que não seria bonito e que seria atingido, e não se importava. Ele estivera ao seu lado, em silêncio e às vezes não, esperando pelas lágrimas, pelos gritos, pelo desespero, pela dor.

Conforme aquele momento parecia mais e mais improvável, Edward se afastou. Depois, foi embora.

E agora, no instante em que o luto atingiu o corpo de Bella em sua intensidade máxima, Edward paralisou.

— Edward, o que aconteceu?

A pergunta exasperada de Renée o despertou, tirando sua atenção dos pacotes de jujuba que ainda segurava com força. Sua ex-sogra esperava à soleira da porta da cozinha, impaciente, com sua mãe e Vovó Swan ao encalço.

— A Bella passou correndo pela cozinha, pediu as chaves de Charlie e saiu. — Esme o atualizou, percebendo que o filho estava tão em choque quanto elas. — Vocês... brigaram?

— Não, mas...

— Ela rompeu — Vovó Swan completou, ganhando um aceno positivo de Edward.

— Meu Deus, eu vou atrás dela e...

— Não — ele interrompeu Renée antes que ela pudesse tomar qualquer atitude. — Eu vou. Eu sei onde Bella está.

— Pegue o meu carro, querido.

Ele assentiu, agradecendo a mãe com o olhar.

Enquanto dirigia pelas ruas de Forks, a mente de Edward repetia em looping cada instante da cena que acabara de presenciar. Buscou o motivo pelo qual Bella saíra de seu estupor de anos, e se deu conta, ao colocar-se no lugar dela naquele breve diálogo, que talvez aqueles dois saquinhos de organza lilás tivessem se transformado em um pacote pequeno vindo de uma máquina de guloseimas que ficava em um corredor insípido de hospital.

Por Deus, fora tão idiota. Acusara Bella por tanto tempo de ser fria, de ignorar as dores dele, quando ela apenas não tinha forças para encarar as próprias dores.

O olhar de puro desespero no rosto de Bella ao ver as jujubas perseguiria Edward pelo resto de seus dias.

Poucos minutos depois, Edward encontrou a viatura de Charlie estacionada no trecho de terra designado aos veículos de pais e professores do campo de baseball da cidade. Estacionou o carro da mãe ao lado da viatura e saiu rapidamente, os olhos procurando no ponto exato em que suspeitava onde Bella estaria.

E lá estava ela.

Bella assistia ao jogo que acontecia no campo, o rosto colado na grande que delimitava um dos espaços mais populares de diversão da pequena cidade. Ela poderia ter facilmente entrado e se acomodado em uma das arquibancadas, onde vários pais torciam por seus filhos, mas Edward sabia que aquele ponto em que estava parada proporcionava uma bela visão do campo e também a proteção das árvores, dando a ela privacidade.

Quando eram adolescentes, Edward encontrara Bella diversas vezes naquele mesmo ponto. Muitas vezes ela trazia algum lanche e se sentava no chão de terra batido, assistindo ao jogo apesar de não entender muita coisa de baseball. Em outras, ficava em pé, encarando o movimento das pessoas de forma indiferente, abandonada nos próprios pensamentos.

Naquele dia, Bella fitava o campo com o olhar extremamente distante. Conforme se aproximava, Edward pôde perceber que as lágrimas ainda desciam por seu rosto, manchando a camiseta e jaqueta simples que ela colocara naquela manhã. Uma das mãos estava apoiada ao lado do rosto colado à grade, mostrando as unhas pintadas de vermelho sangue.

Ele se aproximou sem fazer barulho, mas sabia que Bella sentia sua presença.

Ela não se moveu assim que parou ao lado dela, com as mãos nos bolsos, fitando o campo à frente.

Esperando.

— Uma das minhas fantasias mais nítidas do Anthony era neste campo. Eu imaginei ele jogando com os colegas da escola, o cabelo ruivo igual o seu, correndo para fazer um home run. Ele provavelmente ia ser melhor que os amiguinhos porque meu pai ia ensiná-lo desde que tivesse idade suficiente para segurar um taco nas mãos.

Um riso fraco saiu dos lábios de Bella e ela inspirou, desentupindo o nariz para respirar melhor.

Anthony.

Um bebê que nunca vira a luz do dia.

Que nunca viveria a vida que a mãe planejara para ele com tanto amor.

Que o pai planejara para ele com tanto amor.

— Eu ia pedir para você naquela semana para que nos mudássemos de volta à Forks. Eu queria criá-lo aqui, perto das nossas famílias. Queria que ele tivesse uma infância tranquila como a que eu tive, a adolescência divertida que nós tivemos juntos.

Bella passou uma das mãos sobre o rosto, não se importando com todas as secreções ali presentes.

Edward olhava o belo rosto, o rosto que amava tanto, tão cheio de dor.

Ele se perguntou se o seu rosto era um espelho do dela. Uma mistura de dor, pesar e lágrimas.

Um eco do futuro que imaginaram. Uma família que não existiria.

— Eu... foi minha culpa, Edward. Foi tudo minha culpa. — Um soluço irrompeu da garganta de Bella, mas Edward não teve coragem de se aproximar. Ele estava receoso que, caso ela sentisse o toque, se afastaria e se fecharia novamente. — Eu deveria ter feito alguma coisa. Eu fui uma mãe tão ruim e ele nem ao menos tinha saído do meu ventre ainda.

Edward deveria desconfiar que Bella sentiria culpa pela perda de Anthony. Descobriram, logo no início da gravidez, que ela possuía o colo do útero baixo e que a condição era um risco, tanto para o bebê quanto para Bella. A partir daquele instante, seguiram todas as recomendações dos médicos. Edward pedira uma dispensa do trabalho para cuidar de Bella, ela dera uma pausa em seu doutorado para ficar em repouso absoluto. Transformaram a casa deles em um lugar seguro, um lugar em que aquela gravidez seria tratada com maior cuidado e carinho possíveis.

Porém, nenhum dos esforços deles dera resultado.

Um instinto acordara Edward naquela noite, poucos dias após Bella completar o primeiro trimestre da gravidez. Ela estava aninhada em seus braços, dormindo profundamente.

Mas a cama estava banhada em sangue. Sangue de Bella, sangue do bebê.

Quando chegaram ao hospital, já era tarde demais.

— Eu deveria ter sentido, Edward, eu deveria.

Bella o fitava com dor, mas também com raiva. Raiva por si mesma, uma raiva tão intensa que Edward ficou assustado ao vê-la nos olhos castanhos.

Antes que pudesse fazer qualquer gesto para trazê-las mais para perto, Bella se afastou da grade e riu. Uma risada tão sombria que Edward a sentiu nos ossos, como facas afiadas.

— Eu nunca fui boa com emoções, mas com você eu sempre soube o que falar, o que sentir. Você sempre foi a melhor coisa da minha vida, Edward, até eu conhecer Anthony. E quando eu o perdi... eu perdi você também. Eu perdi você também.

A voz e os joelhos de Bella falharam quando ela repetiu a frase e Edward apenas agiu, segurando o corpo que ele conhecia tão bem em seus braços, pousando ambos no chão delicadamente antes da queda brusca.

Ali, no recanto de um campo de baseball de uma cidade pequena, Bella chorou. Um choro tão físico que Edward se perguntara se seria forte o suficiente para recebê-lo.

E ele foi. Edward segurou cada soluço, cada punho carregado de dor batido contra o seu peito.

E a cada som emitido por Bella, ele sentia a própria dor saindo do corpo.

Suas lágrimas eram silenciosas, no entanto. Calmas, aliviadas.

Ele achou por tanto tempo que estava sozinho naquele desespero. Achou que era o único que sentia a falta do filho como uma ferida física. Achou que era o único que sentia falta dela como se fosse uma ferida física.

Edward imaginara que aquele momento, aquele compartilhamento de dores e lágrimas, aconteceria assim que perderam Anthony. Oh, ele acusou Bella dia após dia de não poder ser capaz de compartilhar com a pessoa que mais amava no mundo a dor de perder um filho.

Só que ele conseguia enxergar que aquele era o momento certo.

O momento em que ambos estavam prontos.

O momento em que o grito daquelas crianças no campo representava o grito de seu filho morto.

O momento em que a comemoração daqueles pais representava o orgulho que sairia deles caso Anthony estivesse ali.

O momento em que aquela cidade, aquele verde e aquela umidade, mostraria a eles que o amor que carregavam ainda pulsava forte no peito de ambos.

Conforme os soluços de Bella se acalmaram, o coração de Edward tornou-se mais leve.

Eles conseguiriam. Juntos, eles conseguiriam.

— Eu quero voltar para Forks, Edward.

O sussurro de Bella, ainda em seus braços, era tão baixo que Edward pensou por um momento ter imaginado a declaração.

— Nós podemos? Voltar para Forks?

Edward agradeceu a qualquer ser celestial naquele momento por nunca terem assinado os papeis do divórcio, por nunca terem oficializado aquela separação. Como poderia achar que ficar separado da mulher que amava era a melhor alternativa?

Ele ficara surpreso ao vê-la tão desgrenhada no aeroporto no dia anterior. Edward não percebera, no entanto, que estava da mesma forma, mas internamente. Desarrumado, fraco, cansado.

Pura e simplesmente por estar longe do amor de sua vida.

Edward pegou a mão esquerda de Bella, observou o anel de compromisso que ainda estava em seu dedo anelar, e enlaçou seus próprios dedos com os dela, segurando com força o suficiente para que ela entendesse que aquele aperto significava permanência. Futuro.

— Podemos, Bella. Nós podemos voltar à Forks.

 

[...]

Cada lágrima que descera pelo rosto de Bella naquela manhã de sábado era como o pingar de uma goteira em uma pedra porosa.

Uma repetição do nome de seu filho morto em sua mente.

Constante. Insistente.

Anthony. Anthony. Anthony.

No instante em que o luto quebrou todas as proteções que Bella construíra durante os dois anos que se passaram desde a morte de Anthony, ela entendeu porque lutara com tanta força para mantê-las intactas. A dor da perda era imensurável, o desamparo sentido em seus ossos como uma dor física, uma chama que queimava cada célula indefesa de seu corpo de forma lenta e deliberada.

No entanto, as lágrimas também foram purificadoras. No momento em que permitiu que aquela dor a assolasse, Bella percebeu que o choro fora catártico, uma forma de expurgar o ácido que corroía seu coração dia após dia e a tornava a casca sem vida que se tornara durante aqueles dois anos.

E Bella não estava sozinha.

Os braços de Edward ao seu redor foram como uma âncora para a realidade. Ele aceitou cada lágrima, cada golpe, cada grito sufocado de peito aberto. Ele a segurou quando suas pernas falharam, chorou com ela quando as palavras eram pequenas demais para expressar a dor que sentiam.

Deus, como ela sentira falta dele.

Era impossível não imaginar como as coisas teriam sido diferentes caso não tivesse ficado tão assustada com a intensidade da dor de perder um filho. Impossível não se sentir arrependida por tê-lo afastado por tanto tempo, por ter acreditado na mentira que contou a si mesma de que mantê-lo de fora era a melhor alternativa.

Sentia-se tão pequena, tão tola.

E, ainda sim, ele estava ali.

Bella se perguntou se ainda era muito tarde para eles. Se o coração de Edward, tão machucado por toda o silêncio e indiferença, seria capaz de perdoá-la, de aceitá-la de volta.

Esperava do fundo de sua alma que sim.

— O que aconteceu com todos nessa casa?

Quando voltaram até a casa Swan — com Edward dirigindo, deixando a viatura de Charlie para que algum parente pudesse buscá-la mais tarde já que Bella não estava em condições de dirigir — foram recebidos por silêncio na sala de estar.

Bella apoiava o corpo inconscientemente em Edward, como se seus membros estivessem mais frágeis e necessitassem do sustento. E assim que a porta se fechou atrás deles, perceberam a presença de sua mãe, Esme e Vovó Swan no final do corredor, esperando. O barulho dos hospedes da casa Swan ainda podia ser ouvido ao longe, então Bella presumiu que as matriarcas haviam de alguma forma afastado todos da entrada para que ela voltasse para casa sem ser incomodada.

Bella não conseguia mensurar o quanto amava aquelas mulheres.

Então, pronta para falar, Renée se adiantou em direção ao casal. No entanto, Vovó Swan segurou o braço dela, impedindo a nora de avançar.

Bella sentiu os dedos de Edward em sua cintura, pressionando-a com delicadeza.

— Quer falar com elas? — ele sussurrou próximo ao ouvido dela, pronto para qualquer decisão que ela tomasse.

— Ainda não — respondeu com a voz rouca do choro.

— Então vem, vamos para cima. Eu vou cuidar de você.

As palavras foram proferidas com tanta gentileza que Bella quase perdeu o aceno que Edward deu às matriarcas da família, como se sinalizasse para elas que tudo ficaria bem e que daria conta do recado por enquanto.

Bella viu a avó sorrir antes de começar a subir a escada com Edward.

Fizeram uma parada rápida em seu antigo quarto, onde Edward pegou algumas mudas de roupa e o shampoo preferido de Bella. Ele a conduziu então para o banheiro da Vovó Swan, sabendo que a senhora estaria ocupada e não se importaria se eles passassem um pouco de tempo no cômodo mais cobiçado da casa.

— Podemos tomar um banho juntos? Eu acho que vai ser bom para nós dois.

Os olhos de Edward estavam preenchidos por um afeto que Bella sabia não merecer.

No entanto, seu corpo reagiu pela simples menção da palavra banho. Conforme as emoções acalmavam-se em suas veias, Bella pôde perceber que a descarga fora forte demais para o corpo que estava realmente mais frágil, e que um banho seria ótimo para aliviar um pouco das tensões e fazê-la descansar.

E este corpo, agora que voltara a entrar em contato com o corpo de Edward, clamava por mais.

Sabia que era egoísta. Sabia que não merecia.

Porém, ainda sim, Bella desejava estar próxima dele pelo máximo de tempo que lhe fosse permitido.

Então, apenas assentiu.

 

[...]

Os dedos de Edward estavam ligeiramente trêmulos quando ele levantou uma das mãos para retirar a jaqueta ainda molhada de lágrimas dos ombros magros de Bella.

— Você não precisa fazer isso, Edward. — A declaração não passou de um sussurro, como se ela tivesse medo de que qualquer palavra proferida pudesse afastá-lo dela novamente. 

— Eu quero.

Os olhos castanhos eram uma vitrine de sentimentos.

E como Edward amava cada um deles.

Por mais que grande parte das emoções vistas ali fossem pesadas — a sombra constante do luto, o arrependimento, o medo —, elas eram alguma coisa. Edward percebera que a apatia que vira no olhar de Bella no dia anterior era mais perturbadora do que os ossos proeminentes. Na realidade, estivera aterrorizado pela possibilidade de nunca mais ver a mulher que amava.

Mas ela estava ali. Machucada, ligeiramente perdida e extremamente arrependida. Mas ali.

Com movimentos eficientes, Edward despiu Bella e a si mesmo, peça a peça. A curva dos seios e dos quadris dela estavam menores, os braços e as pernas mais finos, mas a onda de desejo percorreu as veias dele como se nada daquilo fizesse diferença. Era como se fosse novamente aquele adolescente, eufórico por vê-la nua pela primeira vez.

— Eu sei que estou mais magra e... — Bella colocou os braços ao redor do corpo, interpretando a avaliação de Edward como algo ruim.

— Não.

Edward sorriu, tentando demonstrar a ela o que sentia.

Sempre a amara, cada pedaço dela, independente da forma que seu corpo assumisse.

Com um sorriso tímido nos lábios, ela voltou a abrir os braços e o movimento atraiu a atenção de Edward para uma nova aquisição na pele de Bella.

Ela sempre amara tatuagens e ele sempre amara as ver no corpo dela. Bella tinha diversos desenhos — pequenos, grandes, coloridos, preto e branco — escondidos pelos tecidos de suas roupas, mas Edward sempre soube localizar cada um deles, até mesmo de olhos fechados. 

Menos o nome e a data que agora pousavam acima de um dos seios dela, bem próximo ao coração.

— Eu fiz há algumas semanas. É uma homenagem e um forma de nunca esquecê-lo.

— Ficou linda. — Os olhos de Edward marejaram diante da delicadeza dos traços, as mãos formigando para tocar a tinta.

— Pode ser sua primeira tatuagem.

Edward riu. Sempre amara tatuagens, mas nela. Um medo de agulhas o impedia de seguir os passos de Bella, mas ao ver a forma o nome do filho ali, ponderou se enfrentar aquele temor não valeria a pena.

— Vamos?

Bella assentiu.

Edward caminhou até o box, pois acreditou que ali o banho seria mais efetivo, e ligou o fluxo de água em uma temperatura que julgou ser quente o suficiente para aquecê-los na pele e no coração. Pegou então uma das mãos de Bella e a levou com cuidado para dentro do box.

Não demorou muito tempo para que percebessem que aquele banho era o momento mais íntimo que compartilharam em todo seu relacionamento. Apesar de conseguir ver o desejo estampado nos olhos de Bella, assim como sabia que também havia nos seus, Edward a tocava apenas com cuidado, carinho, conforto. A espuma do sabonete ajudava as mãos a deslizarem com maior liberdade, facilitando o caminho de afeto que ele deixava por cada curva, agora tímida, de Bella.

E ela retribuía. Com os dedos delicados, Bella apreciava cada ponto da pele de Edward, distribuindo alento aos músculos tensos pelas emoções mais cedo e perdão ao coração que ainda estava ligeiramente ferido.

Conversavam através do olhar. Compartilharam mais uma parcela do luto liberado mais cedo, com sombras de pesar atravessando o fundo das írises coloridas. Acolheram o arrependimento, o medo, a incerteza. Demonstraram a saudade, o desejo, a amizade, o amor.

Em certo momento, Bella começou novamente a chorar. Os olhos castanhos pareciam realmente enxergar Edward depois de muito tempo e a intensidade daquela emoção atingiu também a ele, fazendo as lágrimas caírem também de seus olhos.

Eles estavam de volta, marcados pelas cicatrizes que a vida infligira neles.

Mas estavam ali.

Estavam juntos.

E, para Edward, aquilo era mais do que suficiente.

 

[...]

Mais tarde naquele dia, Bella caminhava silenciosamente até o canto mais isolado da casa dos Swan.

A festa atrás dela continuava sem a sua presença. A família e os amigos se reuniam ao redor das mesas delicadamente decoradas, conversando, comendo, rindo. Crianças de seus primos mais distantes corriam pelo gramado, música saía de uma caixa de som alugada pelo seu pai para a ocasião. Bella conseguia sentir no ar a atmosfera de felicidade e dever cumprido, o orgulho de cada membro daquela família ao montar uma festa para celebrar a vida de uma das pessoas mais importantes da vida deles.

Bella respirava fundo e, a cada inspiração, sentia o coração ainda lesionado ser preenchido por esperança.

Seu objetivo era encher-se de tanta alegria que um dia voltaria a rir com completa liberdade.

— Senti falta desse belo sorriso.

— Vó?

Vovó Swan estava sentada no tronco que era o refúgio de Bella em dias que simplesmente não queria encarar sua mãe após a escola. Ela sorria, destacando as rugas ao redor dos olhos que nem menos a maquiagem leve conseguia apagar.

— Está tudo bem? Você está sendo bem cuidada?

— Claro que sim, minha querida. — A avó apontou para um espaço ao lado dela, indicando que a neta também se sentasse. — E você está?

Foi impossível para Bella não se lembrar de Edward.

Depois do banho que compartilharam, ele a vestiu e a levou de volta para o antigo quarto, onde deixou-a tirando um cochilo enquanto ia ajudar com os últimos preparativos para a festa. Quando Bella acordou, uma hora depois, encontrou um sanduíche e um copo de suco esperando ao lado da cama, com um bilhete que basicamente a ordenava a comer, pois havia pulado o almoço com todos os acontecimentos do dia. Na mesa de cabeceira, um copo com água e um analgésico, pois ele sabia que ela teria uma dor de cabeça gigantesca depois da crise de choro que passara. Na poltrona que ficava ao lado da cama estava o vestido que ela pretendia usar naquela noite, juntamente com um enfeite de cabelo que combinava com a decoração da festa, que agora adornava as mechas curtas com delicadeza, deixando seu rosto a mostra.

Havia o toque de carinho de Edward em cada um daqueles objetos.

Bella se esquecera de como seu esposo se mantinha presente. Nos meses em que estiveram separados, a falta que sentia dele era tão palpável que às vezes sentia até mesmo dificuldade de respirar.

Só que Edward se certificara de que isso não mais aconteceria. Com os pequenos gestos daquele dia, Bella percebeu que a presença seria novamente uma constante em sua vida, quase como uma vibração permanente em sua pele.

— Estou, vó. Eu estou sendo muito bem cuidada.

Vovó Swan sorriu, como se soubesse exatamente o lugar para onde os pensamentos da neta haviam ido.

— Mas a senhora ainda não explicou por que está aqui.

O olhar da avó se deslocou para o céu.

— Eu gosto da escuridão... sem ela, nunca veríamos as estrelas.

Bella sentiu uma das mãos da avó pousando sobre uma das suas, com um aperto suave, e soube imediatamente que aquela frase expressava algo muito além do momento que compartilhavam naquele pedaço escuro de quintal. Quando o olhar de Marie Swan, tão idêntico ao seu, voltou para o seu rosto, ela sorriu e assentiu, respondendo a avó que compreendia e agradecia por aquelas simples palavras.

— Eu queria pedir uma coisa para você, minha querida.

— O que quiser, vó.

Marie sorriu travessa, como se soubesse que a neta faria qualquer coisa que pedisse.

— Nunca mais se feche.

Bella estava pronta para rebater, dizendo que aquilo era mais fácil de falar do que fazer, mas a avó prosseguiu.

— Eu entendo que é mais fácil se recolher no silêncio, Bella. Só que isso quase lhe custou tudo.

A mão livre de Vovó Swan subiu até o rosto de Bella, mantendo-o no lugar para que não desviasse o olhar. O dedão dela acariciou a bochecha da neta, com suavidade e carinho, mas os olhos eram como flechas prontas para acertarem o alvo.

— Eu não quero mais ver você e Edward naquele estado deplorável. Vocês dois eram um poço de dor, minha querida, porque um era teimoso demais para ceder às emoções e o outro cansou-se de tentar cedo demais.

Vergonha subiu às bochechas de Bella, manchando-as de vermelho. Ela sabia que não era possível ver a cor no escuro, mas sabia que a avó a sentia nas mãos.

— Vocês são jovens. Conversem, arrumem essa bagunça. Tentem de novo. Foi para isso que você veio e pediu para que ele viesse também, não foi?

Bella assentiu, sem proferir nenhuma palavra. O nó em sua garganta impedia qualquer réplica.

— A dor de perder um filho é imensurável, minha querida. Eu não te julgo por sofrer tão fortemente, Deus sabe que eu já fiz o mesmo e já perdi pessoas na vida por conta disso. Eu só não quero que isso se repita com você.

Ela assentiu novamente. As palavras da avó eram, em conjunto, um chacoalhão e uma carícia.

— Aquele homem é doido por você, Bella, venera o chão onde você pisa desde que era um pirralho. — Bella riu, sabendo que todos os parentes que conviviam diariamente com eles perceberam o amor entre os dois muito antes deles próprios, que só tomaram coragem de se relacionar durante a faculdade. — Receba esse amor de peito aberto, querida. E retribua, retribua com todas as energias que você tiver em seu coração. O amor que existe entre você e Edward é para a vida toda. Não o desperdice.

Bella não havia percebido que algumas lágrimas desciam por seu rosto até que a avó limpou uma delas com os dedos ligeiramente trêmulos.

— Quando você precisar conversar sobre o Anthony, estarei aqui.

— Eu... — Bella engasgou. Ainda era difícil ouvir o nome em voz alta. ­— Hoje não, é um dia de festa. Mas amanhã nós podemos achar um tempo juntas. Nosso voo de volta para Boston é só na segunda de manhã.

— Vocês voltarão para Boston?

Como Vovó Swan sabia que Bella pretendia voltar para Forks era um mistério, mas ela deixara de questionar a sabedoria da avó há muito tempo.

— Nós ainda precisamos conversar sobre tudo, vó. E temos empregos, um apartamento lá... Isso pode demorar uns meses.

Marie retirou a mão do rosto de Bella e deu tapinhas nas mãos pousadas sobre o colo dela, sorrindo.

— Não demore muito. Eu sinto sua falta.

Bella sorriu, um sorriso tão aberto e afetuoso que sentiu mais algumas portas de seu coração se abrindo e, o que antes era preenchido por uma escuridão sufocante, era pouco a pouco iluminado por doses potentes de luz.

— Obrigada, vó.

Elas se abraçaram, sentindo uma na outra a fragilidade dos corpos, um devido a idade e o outro devido o descuido. Bella inspirou fundo, sentindo o cheiro do cabelo alvo da avó, os mesmos morangos que também exalavam das suas próprias mechas.

— Agora vá. Seu marido está te esperando na festa.

— Você vai ficar aqui?

— Só mais alguns minutos. Quero saber quem irá notar a minha falta. Aposto que Esme, sua mãe já deve estar bêbada.

Bella soltou uma gargalhada alta e percebeu no som que o desejo que jogara ao universo minutos antes já estava sendo atendido.

 

[...]

Edward observou Bella saindo do recanto das árvores com um sorriso no rosto e soube imediatamente que aquela era uma imagem que ficaria gravada em sua mente para sempre.

Com o vestido branco como neve e o cabelo enfeitado com o adereço de flores lilases que deixara para ela mais cedo, Bella aprecia uma pequena fada saindo de seu habitat natural. No entanto, o que realmente chamava a atenção não era sua aparência etérea, mas o sorriso que saía de seus lábios cheios e chegava diretamente em seus olhos castanhos.

Edward via ali alegria genuína. Uma alegria que ele sabia que ela não sentia há anos.

E com essa simples visão, seu coração galopou no peito em antecipação.

Estava sendo recompensado pela esperança que sentira preencher o coração na manhã daquele mesmo dia.

Via ali, naquela mulher tão bela e naquele sorriso tão simples, a promessa de reconstrução do relacionamento mais importante de sua vida. Tentariam novamente, agora mais maduros. Cicatrizariam, juntos, todas as feridas que ainda estavam abertas e que precisavam somente de um pouco mais de atenção e carinho.

Bella então virou a cabeça, procurando-o pelo quintal lotado. Assim que o encontrou, Edward sorriu para ela, convidando-a a se aproximar e compartilhar o sentimento bom que fluía ao redor dela como uma aura. Em passos deliberadamente lentos, Bella se deslocou até ele, com o sorriso tornando-se ligeiramente mais tímido a cada passo.

— Olá.

— Olá, estranho.

Bella invadiu o espaço pessoal de Edward sem pedir muita licença e ele a acolheu com os braços abertos, segurando a cintura dela assim que os braços finos pousaram sobre os ombros dele. Os olhos castanhos dançavam a meia luz do quintal, repletos de desejo e carinho.

— Eu sei que nós temos que conversar... — Bella começou e Edward assentiu, o olhar ainda fixo no belo rosto. — Mas eu queria muito beijar você de novo.

Edward não conseguiu segurar a risada.

— Eu acho que podemos adiar a conversa por mais uns minutos... ou horas.

Ele viu brevemente o sorriso dela antes de sentir os lábios cheios encontrando-se com os seus.

A sensação da boca de Bella contra a sua era algo que Edward jamais superaria. Os lábios eram tão macios e moldavam-se perfeitamente aos seus, a língua sempre exigia, mas também apreciava. As mãos de Bella subiram um pouco mais, puxando as mechas próximas ao pescoço de Edward, fazendo-o soltar um gemido baixo contra a boca dela. Ele a segurava com força, como se para marcar a cintura dela como as tatuagens espalhadas por todo o corpo de Bella.

— Eu acho que estamos dando um show — ela sussurrou assim que se afastaram para respirar.

— A tia Margareth deve estar adorando.

Bella riu e o som era tão precioso que os olhos de Edward até mesmo marejaram.

— Vem, vamos sair daqui.

Subiram até o quarto de Bella como dois adolescentes, parando no caminho para se beijarem na porta do armário abaixo da escada, na própria escada, na parede ao lado do quarto de Bella. Ouviram crianças rindo e adultos ralhando com eles pela exposição desnecessária, mas estavam tão absortos um no outro que tudo não passava de um ruído no fundo de suas mentes.

Assim que entraram no antigo quarto de Bella, Edward pressionou o corpo de Bella contra a porta e a beijou livremente agora que não tinham mais plateia. Cada vez mais, os beijos se tornaram frenéticos e necessitados, uma mistura de lábios, línguas e dentes, em que descontavam a ausência meses sem toque, meses sem sentir o cheiro e o sabor um do outro.

Bella parecia disposta a acabar com tudo ali mesmo, contra a porta, mas Edward tinha outros planos. Com facilidade pegou-a no colo, arrancando dela um grito assustado, e caminhou com ela até a cama pequena. Pousou-a sobre o colchão e antes de voltar a beijá-la com tudo o que tinha, retirou o vestido e as roupas de íntimas de Bella, deixando-a completamente nua diante dele.

— Senti tanto a sua falta — declarou enquanto percorria o corpo dela com o olhar.

O peito de Bella subia e descia com a respiração ofegante, trazendo a atenção de Edward para os seios pequenos, que sempre couberam perfeitamente na palma de suas mãos. Sem conseguir se conter, ele avançou, abocanhando um dos mamilos ligeiramente túrgidos com os lábios, provocando-os posteriormente com os dentes e a língua. Os sons que saíam de Bella — contidos, porém intensos — enviavam ondas de prazer a ele, acordando pouco a pouco o desejo que se manteve adormecido por tanto tempo.

As mãos de Bella, desajeitadas, tentavam retirar as roupas de Edward enquanto ele ainda trabalhava sem pressa nos seios dela. Ele afastou-se brevemente da pele dela e a fitou, rindo da impaciência que encontrou ali. Incapaz de deixá-la insatisfeita, Edward retirou em poucos segundos suas roupas, ficando completamente nu como ela.

Bella sentou-se na cama, determinada. Uma das mãos avançou diretamente até a ereção de Edward enquanto a outra segurava-se com força em seus ombros largos, fazendo-o soltar um sibilo por entre os dentes assim que sentiu uma das mãos pequenas o envolvendo com firmeza.

— Bella, se você não desacelerar...

— Eu não quero desacelerar, Edward. Eu quero você dentro de mim.

Um movimento com a pressão perfeita fez com que ele fechasse os olhos.

— Mas...

— Edward.

Com um puxão nos ombros dele, Bella posicionou Edward entre suas pernas, obrigando-o a se equilibrar para seu peso não a esmagasse. Em seguida, ela direcionou a carícia para o rosto dele, suavizando o olhar, quase como se tivesse medo de que Edward fosse desaparecer a qualquer momento.

— Eu passei muito tempo longe de você. Eu só quero te sentir. Por favor.

Oh, Bella ainda sabia muito bem jogar suas cartas. Sempre que ela suplicava daquela forma, com tanta necessidade, desejo e desespero na voz, Edward sentia-se incapaz de negar o que quer que tivesse sendo pedido.

Edward encostou a testa na de Bella e em seguida reivindicou os lábios dela, em um beijo lânguido e lento, enquanto ela ainda o bombeava com movimentos precisos. Com seus lábios ocupados, Edward traçou um caminho de carícias por uma das coxas de Bella, ignorando a impaciência que irradiava do corpo dela. Em um movimento firme, afastou as coxas e encaminhou a mão para o meio de suas pernas, acariciando-a com gestos deliberadamente prolongados, certificando-se de que ela estaria pronta para recebê-lo.

Agora, Edward.

Quando Edward finalmente a penetrou, Bella ficou sem fôlego.

Ele manteve-se ali, dando tempo para que os músculos de Bella se acostumassem com a invasão. Edward segurou o quadril dela com uma das mãos, acariciando-a em círculos lentos, enquanto a outra mão subia, levantando um braço de Bella e posteriormente o outro, unindo os pulsos dela sobre a cabeça, segurando-os contra a cabeceira de ferro da cama.

Bella observava-o com amor puro nos olhos. O desejo ainda tinha a dianteira das emoções dela, mas ele conseguia enxergar o quanto aquele momento era necessário. Aquela pausa, mesmo que fosse por motivos físicos, trouxe a ambos a perspectiva de que estavam, finalmente, unidos novamente.

Fisicamente. Mentalmente. Emocionalmente.

— Eu nunca mais quero ficar longe de você — Edward sussurrou, a voz ligeiramente embargada. — Nunca mais.

— Nunca mais — ecoou Bella, sorrindo, enquanto uma pequena lágrima escorria pelo canto de seus olhos.

Edward começou então a se movimentar, rendendo-se totalmente aos seus instintos e suas emoções. Bella o correspondeu, de corpo e alma, investindo contra ele com a mesma intensidade e entrega.

Quando alcançaram o orgasmo — Bella um pouco antes de Edward, tendo o grito abafado por um beijo caloroso —, Edward sentiu uma parte do universo se alinhando novamente, como se os astros estivessem esperando o reestabelecimento do laço entre o casal.

— Eu te amo — ele sussurrou, ainda dentro dela. — Nunca deixei de te amar.

— Eu te amo — ela declarou.

Edward sabia que não precisava de muitas palavras além disso.

Somente aquele olhar, repleto de confiança, amor e desejo, e a promessa de que ficariam juntos até o último de seus dias.

 

[...]

Um único raio de sol atravessava a pequena fenda deixada pela cortina velha do quarto de Bella, atingindo o rosto dela com precisão, fazendo com que as mechas castanhas tomassem um tom ligeiramente mais claro.

Edward a velava, observando o belo rosto com o coração repleto de amor.

Sentiu-se extremamente honrado por ter a oportunidade de desfrutar o corpo dela e compartilhar o seu próprio com ela. Desde a primeira vez em que estiveram juntos, em uma noite de festas depois de uma semana pesada de provas da faculdade, Edward sentia-se como o homem mais sortudo do mundo por ter a chance de estar com Bella.

Aparentemente, algumas coisas mudaram. Outras, nem tanto.

Sabia que, uma hora ou outra, teriam que ter conversas sérias, mas permitiu aqueles minutos de contemplação, de admiração da mulher incrível que deitava ao seu lado.

— Eu babei, não foi? — Bella sussurrou alguns segundos depois, ainda de olhos fechados. — Eu sei que eu babei.

Edward só conseguiu rir e, em seguida, traçou um caminho de beijos no rosto dela, até chegar aos lábios cheios.

— Bom dia — anunciou antes de abocanhar o lábio inferior dela entre os seus.

— Bom dia.

Os olhos castanhos brilhavam com satisfação, mas no fundo deles Edward encontrou cautela espreitando, pedindo insistentemente passagem.

Os eventos do dia anterior foram intensos, recheados com uma dose cavalar de emoções que ele sabia que Bella não estava acostumada a vivenciar. Sabia que, mesmo que estivesse disposta a mudar toda a situação em que se encontravam no início daquele final de semana, seu instinto a guiaria novamente para o caminho mais fácil, para o silêncio confortável e indolor.

Seria uma batalha diária. Para ela, para ele.

— Como você está se sentindo?

Bella sabia que Edward não aceitaria qualquer resposta, então tomou alguns segundo para entender as emoções que ainda a assolavam. Enquanto ele esperava, levou uma das mãos até o quadril dela, delineando carícias com a ponta dos dedos.

— Eu estou... cansada. Mas feliz, esperançosa. Isso faz sentido?

Edward sorriu.

— Faz, porque me sinto da mesma forma.

— Eu não deveria ter guardado aquele luto por tanto tempo. Ele estava me corroendo por dentro. Ele acabou com o nosso casamento.

— Ele não acabou com ele... — Edward buscou uma das mãos de Bella e as uniu, apertando-a para dar ênfase às suas palavras. — Só deu uma pausa. Uma que nós dois precisávamos.

— Precisávamos? Edward, eu passei seis meses sem basicamente comer ou dormir. Era difícil... respirar sem você por perto.

Edward sorriu tristemente, levando uma das mãos até o rosto de Bella. Os olhos dela estavam solenes, mostrando a ele o quanto aquele período realmente fora difícil para ela.

— Talvez você precisasse chegar até o fundo do poço para perceber que estava perdida e tomar coragem para agir. E eu precisava me afastar para entender quem eu era sem você.

— E você entendeu?

A pergunta era baixa, expressando o medo e a curiosidade naquele questionamento.

— Sim.

Bella esperou, o peito nu sob o lençol subindo e descendo em uma velocidade maior do que a de segundos atrás.

— Eu preciso respeitar mais os meus próprios limites, me colocar como prioridade às vezes.

Edward chegara a essa conclusão no momento em que colocou os pés para fora do apartamento que compartilhavam em Boston. A briga que tiveram fora a prova de que estava exausto, de que suas emoções estavam fora de controle, de que estava perdido ao tentar somente viver para ela. Apesar de agoniantes, os meses longe foram necessários.

— Mas... — continuou, agora sorrindo para Bella. — Eu entendi também que não quero viver sem você ao meu lado.

O alívio que Bella demonstrou no próprio corpo trouxe um aperto ao peito de Edward.

Mesmo com tudo o que passaram no dia anterior, Bella ainda tinha medo do destino dos dois. Ela ainda acreditava que ele a abandonaria novamente assim que voltassem para Boston e aquela desconfiança provavelmente permaneceria ali por um tempo.

Aos poucos, Edward conseguia enxergar a extensão dos ferimentos de Bella.

E a cada lapso de dor, queria estar presente para ajudá-la a superá-los.

— Eu... Edward, você me perdoa?

O pedido era sincero, cheio de tanta emoção que um nó se soltou no coração de Edward, aliviando uma pressão que ele nem ao menos percebera que pressionava seu peito.

— Somente se você também me perdoar.

— Você não tem nada que pedir desculpas, quem errou fui eu e...

— Nós dois erramos, Bella. Cada um de sua forma. E eu não vou dizer que ainda sinto um pouco de mágoa por tudo o que aconteceu, porque sinto sim. Mas essas coisas não passam de uma hora para outra, então vamos nos perdoando aos poucos. Dia a dia. Tudo bem?

Edward ainda acariciava o rosto de Bella e ela passou a fazer o mesmo, fixando aquele olhar que ele tanto amava em seu rosto, como se enxergasse dentro de sua alma. Ele se abriu para ela, demonstrando que estava realmente disposto a cumprir as palavras que acabara de proferir, mostrando para ela a força que precisariam para enfrentar aquilo juntos.

— Desde quando você se tornou tão sábio, Edward Cullen? — ela o provocou, com um sorriso nos lábios.

— Infelizmente eu queria te responder que tudo foi culpa da minha mente brilhante, mas eu comecei a fazer terapia um pouco antes de sair de casa.

— Eu... eu nem ao menos sabia disso.

— Não nos falávamos muito naquela época.

A declaração não carregava nenhum julgamento, mas Edward sabia que Bella o sentiu mesmo assim.

— E eu acho que você deveria ir para a terapia também, Bella. Não existe vergonha nenhuma em pedir ajuda. Nós podemos até fazer algumas sessões juntos.

Bella fez uma careta e Edward sabia que aquele seria um passo difícil para ela, mas não estava determinado a ceder. Provavelmente levaria algum tempo, mas a convenceria de que compartilhar os sentimentos que a sufocavam era uma boa forma de cura.

— E eu sinto muito.

— Pelo quê?

— Por termos perdido nosso filho.

A morte de Anthony seria outra constante que teriam que combater dia a dia. Sabia que o luto atingiria com mais força em alguns dias, mas precisava se certificar de que Bella estaria com ele nesses dias, que ela aceitaria a dor e aceitaria que não estava sozinha nela.

— Nós não merecíamos isso, não é?

Edward acariciou o cabelo dela com delicadeza.

— Não, não merecíamos.

— Eu... quero visitar o túmulo dele quando voltarmos para Boston. Juntos.

Ele assentiu, deixando-a elaborar a novidade de externar o luto.

— E eu quero que você me avise quando eu estiver me fechando. Eu sei que não vai ser fácil mudar e eu ainda vou precisar de alguns avisos para não me recolher na minha concha. Você me ajuda?

Edward sorriu.

— Sempre.

Bella levantou a cabeça do travesseiro, aproximando os rostos e pousando na boca de Edward um beijo tão delicado quanto o bater de asas de um beija-flor.

— Posso te fazer uma pergunta?

Ele assentiu.

— Quando você disse ontem que voltaria para Forks... você está sendo sincero?

O sorriso de Edward iluminou-se.

— Sim. Eu adoraria voltar a morar aqui.

— Mas... você tem seu emprego, eu tenho o meu, nós temos o apartamento e...

— Está dando pra trás, Bella?

Foi divertido ver o breve momento de exasperação de Bella.

— Não! É só que...

— Nós podemos fazer mudanças, Bella — ele a interrompeu com um dos dedos sobre os lábios cheios, sorrindo para ela de forma reconfortante. — Podemos vender o apartamento e usar o dinheiro para comprar uma casa aqui. Mas longe dessa vizinhança pra termos um pouco de privacidade, senão a sua mãe e a minha não sairão da nossa casa. Eu amo elas, mas por favor.

Bella riu, limpando uma lágrima pequena que havia escorrido por seu rosto.

— E eu acho que nós não vamos ter dificuldade de encontrar emprego. Posso vender minha parte da sociedade do escritório e montar um próprio aqui, e você pode lecionar aqui em Forks, ou em alguma das universidades da região, até encontrar um novo laboratório, se não te incomodar o fato de não estar em uma grande cidade.

— Não me incomoda nem um pouco — Bella sorriu, os olhos brilhando com alegria.

— Então temos um acordo. Assim que voltarmos pra Boston amanhã, começamos os planos para a mudança. E eu dou fim no processo do divórcio, que não deveria nem ter existido para começo de conversa e...

Bella pegou Edward de surpresa, impulsionando o corpo para frente, deitando-o de costas na cama pequena. Em poucos segundos estava sobre ele, ainda nua da noite anterior, e os lábios atacaram a boca de Edward em um beijo ávido, mas cheio de carinho.

— Não que eu esteja reclamando, mas por que esse ataque? — ele perguntou assim que ela se afastou o suficiente para que se encarassem. 

— Só queria me certificar de que você é real. De que tudo isso não é um sonho.

O olhar de Edward se suavizou.

— É tudo real, Bella. Sou de carne e osso, mente e coração.

— Hm, carne...

As mãos de Bella acariciaram os bíceps de Edward, deixando uma trilha de arrepios no corpo dele diante do toque mais ousado. Ele deslizou as próprias mãos pelo corpo de Bella, traçando um caminho que fora da curva dos seios até o quadril, finalizando o movimento com um grande aperto na bunda de Bella.

— E que carne.

Bella gargalhou e o som era como um poderoso remédio para cada ferida aberta no coração de Edward.

— Esse papo todo está me dando fome. Será que já tem café lá embaixo?

De repente, Bella pausou as carícias que ainda distribuía pelo corpo de Edward, arregalando os olhos.

— Você acha que nos ouviram ontem?

— Se não ouviram, vão ouvir logo.

— Vão, é? — Bella arqueou uma sobrancelha, os dedos descendo diretamente para a ereção de Edward que começava a dar sinal de vida abaixo dela.

— Você me apressou ontem. Eu ainda pretendo saborear cada pedaço de você.

— Guloso.

— E quem disse que eu vou comer tudo de uma vez só?

Bella riu novamente, mas colocou uma das mãos sobre a boca assim que ouviu passos do lado de fora da porta do seu quarto. Edward sentia-se novamente um adolescente, esgueirando carícias e reprimindo sons muito altos, mas o coração nunca esteve tão leve.

— Temos muito tempo para isso, não é?

O olhar de Bella tornara-se mais contemplativo, o sorriso mais suave.

Ele soube ali que ela se sentia da mesma forma.

— Nós temos a vida toda.

O brilho dos olhos dela era radiante, cheio de alegria, esperança, possibilidades.

— Me parece um bom tempo para começar.

E iniciaram ali aquele pequeno pedaço de futuro.

 

FIM


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Notas finais do capítulo

E aí gente, o que acharam da jornada desse casal? Me contem nos comentários!

E quem comentar, deixe o e-mail que em breve mandarei um extra contando um pouco do futuro desses dois, com direito a presença da Vovó Swan e algumas saliências. Haha

Beijos e até a próxima!