A fada que o escreva escrita por Creeper


Capítulo 23
O pedido de Dante


Notas iniciais do capítulo

Yo! Não sei a que horas estará saindo esse capítulo, mas vou comentar aqui que 23/04 é meu aniversário, hihihi, quem quiser me dar parabéns XD

Chegamos ao último capítulo de "A fada que o escreva", mas semana que vem teremos o epílogo e vocês já podem conferir a lista de capítulos extras nas notas finais.

Lhes desejo uma boa leitura e espero que gostem ♥



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3 meses depois, Saintenia

"Querido Gaspar,

Eu sei, você deve estar curioso quanto ao desfecho da situação que lhe contei brevemente há dois meses. Acho que agora posso te dar os detalhes.

Você me conhece. Sabe que eu não seria capaz de carregar o fardo de ter decidido o destino de alguém, principalmente quando esse destino é acabar com uma, ou melhor, duas existências.

Então a minha decisão foi deixar Amy e Peach vivas.

Naquele dia, papai tratou os ferimentos graves de Manjiro (ele está bem, se quer saber, ser esmagado por um karma é uma dor que meu irmão não deseja a ninguém) e Amy, além dos cortes superficiais de Dante e Peach.

A passagem do túnel foi fechada permanentemente e esse segredo guardado a sete chaves dos outros empregados que sequer sabiam o porquê haviam desmaiado (a receita especial de Amy, lembra?), de qualquer forma, não queríamos que entrassem em pânico.

Quando as duas ficaram curadas, foram colocadas em um barco especial e de alta segurança enviado pela Guilda de Hibisc e transportadas aqui para Saintenia.

Atualmente, Amy está em prisão perpétua vivendo trancada na escuridão do subsolo e seu único contato é com os guardas que vão lhe entregar comida e recolher amostras de seu sangue para alimentar Peach que está no centro de pesquisas.

Ela é mantida dentro de um círculo de retenção e vigiada 24 horas por dia pelos exorcistas mais experientes. Peach não demonstra comportamentos ruins, na verdade, em todo esse tempo, ainda não vimos sua face demoníaca. 

Os superiores acabaram com os lugares que escondiam o círculo de ressurreição e prenderam os responsáveis como o Dr. Becker e Redrock, apesar de ainda não sabermos se alguém secretamente teve sucesso igual a Amy e agora temos mortos-vivos andando entre nós. 

De todo modo, fico feliz em dizer que em breve voltarei para Hibisc. Parece que nosso trabalho enfim acabou. 

Amo você, estou com saudades.

 

Atenciosamente,

Aquele que está sempre em perigo."

 

— Por que você vem todos os dias?

Minha mão parou de mover-se sobre a folha ao escutar sua voz. Suspirei pesadamente, guardei o papel dentro de um envelope e enfiei-o em meu bolso.

— Para ver como você está. – respondi indiferente e ergui o olhar.

Ajoelhada no centro do círculo de retenção e com uma grossa e prateada corrente envolvendo seu delicado pescoço, Peach encarava-me curiosa. 

— Pode me emprestar papel e lápis? – ela sorriu serena.

Arqueei uma sobrancelha e virei a cabeça a procura do exorcista que a vigiava, o qual concordou de um jeito sério e fez um sinal para que eu fosse rápido.

Deixei minha cadeira, agachei-me e arrastei a folha e o carvão pelo chão, passando-os por cima do desenho do círculo. Alguns pequenos raios brancos estalaram no ar, indicando que algo havia sido colocado na zona de retenção.

Peach pegou os materiais gentilmente, colocou-os sobre o colo e começou a rabiscar o papel. Cruzei os braços e andei de um lado para o outro sentindo uma pontada de nostalgia ao ver a maneira como ela colocava o cabelo para trás da orelha e mantinha um semblante concentrado.

Passaram-se alguns minutos e Peach devolveu-me a folha com um sorriso orgulhoso. Analisei o papel em minhas mãos, surpreendendo-me com os traços suaves que formavam um bebê de cabelos bagunçados e feição curiosa.

— Quem é? – perguntei impressionado.

— Você. – ela riu.

Não consegui desviar os olhos daquele desenho. Já havia o visto uma vez. Há treze anos para ser mais específico, quando pedi a mamãe um retrato meu de quando era bebê.

— Você não me conhece. – neguei com a cabeça. – Pode ter alguns hábitos da minha mãe ou saber a aparência que tive quando criança, mas só sabe dessas coisas porque Amy lhe ensinou.

A risada de Peach abafou-se, seus ombros caíram e ela suspirou decepcionada.

— Você é mesmo inteligente. – a malícia em seu tom deixou claro que eu estava falando com o demônio dentro de si e não com sua máscara de boa moça.

— Tive a quem puxar. – guardei o resto do material em minha maleta e ajeitei meu sobretudo.

— Você vem amanhã? – subitamente voltou ao seu fingimento com os olhos brilhando de esperança.

— Não. – dei-lhe as costas e segui até a saída. – Logo vou voltar para Hibisc, então preciso fazer alguns preparativos. – acenei.

Outro exorcista abriu a porta para mim e colocou a mão em meu ombro a fim de guiar-me para fora, entretanto, antes que eu pudesse deixar a sala por completo, escutei a voz doce de Peach sussurrar:

— Vou sentir sua falta, filho. 

Demônios eram mesmo manipuladores.

 

***

 

Deixando o centro de pesquisas, fui direto ao Recanto das Cartas e Corujas para entregar o envelope a uma das aves que saiu voando assim que paguei sua dona. Júpiter foi amável e prestativa como da primeira vez, eu só não podia dizer o mesmo de outra pessoa.

— Uau, enviando cartinhas? – uma voz soou atrás de mim. – Que fofo.

Júpiter balançou a cabeça em sinal de desaprovação, lançou-me um olhar de solidariedade e ocupou-se em atender o restante dos clientes. Cruzei os braços e encarei de cima a baixo o rapaz ruivo que havia ganho uma cicatriz na testa e exibia uma grande e pesada espada de lâmina vermelha.

— Não me enche, Dereck. – franzi as sobrancelhas.

— Para você é Still. – ele sorriu convencido e inclinou seu corpo, ficando cara a cara comigo. – Boneca. – provocou.

— E você pode me chamar de “se afasta ou eu te chuto”. – rangi os dentes.

— Sabe que adoro rapazes estressadinhos? – Dereck segurou meu queixo com descaso. 

— Você é o cafajeste mais imprestável que já conheci. – cuspi as palavras e empurrei sua mão. 

— Mas conheceu. – ele piscou um olho e afastou-se rindo. 

— Vem cá, por que você não vai trabalhar? – arqueei uma sobrancelha.

— Ei, vó, precisa de ajuda por aqui? – Dereck apoiou-se na bancada e buscou por Júpiter.

— Não, é possível que você espante meus clientes. –  a senhora avaliou alguns envelopes. – E por favor, pare de perturbar o jovem Suichiro. – bateu com um deles na cabeça de seu neto.

Dereck revirou os olhos, massageou seus cabelos e esboçou um sorriso presunçoso.

— Parece que eu não tenho trabalho.

— E por que não vai chatear outra pessoa? – bufei impaciente.

— Olha, achei que você fosse mais esperto. – ele cutucou minha testa. – É divertido brincar com você, isso te irrita e de bônus ainda deixa o Vulpecula com... Como chama mesmo? Ciúmes do exploradorzinho dele. – riu com desdém.

Então Dereck saiu assobiando alegremente e esbanjando uma falsa imponência que arrancava caretas de descontentamento de todos pelos quais passava.

— Qual o seu segredo para atrair tantos exorcistas?

Instintivamente procurei pela fonte do som e encontrei Dante com as mãos afundadas nos bolsos e uma expressão de contrariedade. Pisquei os olhos lentamente e balbuciei:

— O que você fez com seu cabelo?

— Cortei. – ele levantou uma sobrancelha.

— E-Eu percebi, mas por quê? – ruborizei.

— Ah... – Dante passou a mão por suas madeixas curtas e arrepiadas. – Achei que estava na hora de uma mudança. Você não gostou?

— É claro que eu gostei! – respondi prontamente.

Meu coração palpitava como se fosse a primeira vez que eu via Dante. Por um momento, me senti naquela plataforma de trem, batendo o rosto em seu peito por não olhar por onde andava e depois derrubando-o para fazer o trato que mudou nossas vidas.

— Já acabou por aqui? – ele coçou sua nuca. – É que eu queria te levar a um lugar. – pigarreou e desviou o olhar.

Raramente Dante ficava daquele jeito: tímido. É claro que eu aproveitaria ao máximo. Sorri travesso, cruzei os braços atrás das costas e rodeei o rapaz com certo entusiasmo.

— Onde, Dan? – inclinei a cabeça inocentemente.

Dante emitiu um muxoxo, virou o rosto e resmungou:

— Apenas me siga.

Enquanto Dante andava a passos rápidos e precisos, eu saltitava atrás dele cantarolando uma melodia qualquer. Os outros exorcistas davam risadinhas e me cumprimentavam, já acostumados com minha presença em Saintenia, afinal, estava vivendo ali por aqueles três meses.

Pisquei os olhos pausadamente e abri um sorriso de orelha a orelha ao reparar que estávamos entrando exatamente na igreja próxima aos portões prateados onde se iniciava a cidade. Subi os degraus circulares aos pulinhos, eufórico por finalmente conhecer aquele lugar. E não foi por falta de pedir a Dante ou a Aurora, mas nenhum dos dois nunca quis me levar.

Passamos pelas grandiosas portas de madeira maciça bem lustrada e adentramos um salão de piso de mármore e teto de vitrais coloridos que faziam meu pescoço doer de tanto olhar para cima. Soltei um riso de admiração, sequer percebendo que Dante continuava seu percurso.

Havia duas aberturas em formato de arco, uma na parede a nossa frente e outra na do lado, espiei o que existia na primeira, avistando uma fileira de bancos e um altar que expunha uma cruz dourada. Deixei um “uau” escapar e corri atrás de Dante que entrava na segunda abertura.

Nossos passos ecoaram por todo o lugar tendo em vista que estávamos completamente sozinhos, plantando em mim a dúvida do porquê o exorcista queria me mostrar a igreja naquele horário.

Assim que entrei no segundo arco, senti o corpo travar diante do cenário e minha boca tornou-se incapaz de emitir qualquer coisa que não fossem sons de surpresa ou balbucios desconexos.

O teto acima de nossas cabeças era construído puramente de vidro, permitindo que a luz solar o ultrapassasse e iluminasse a sala circular em que estávamos, dando vida aos inúmeros arranjos e vasos de flores de todas as cores e formatos possíveis e a pequena fonte de pedra branca que esguichava uma água cristalina.

Caminhei lentamente até o centro da sala onde Dante me esperava e fui agraciado por diversas borboletas que beijaram meu cabelo e fizeram cócegas em meu nariz. Minhas bochechas doíam de tanto sorrir e meu coração ficou quentinho ao ser preenchido por tanta paz.

— Esse lugar... – coloquei minha maleta no chão e rodopiei. – É incrível! – fitei o exorcista.

Se eu já não estava surpreso o bastante, Dante colocou um dos joelhos no chão, dobrou a outra perna e estendeu a mão, convidando-me a pegá-la. Ao segurá-la, fui envolvido pelo calor de sua pele.

— Sua mão não está gelada hoje. – arregalei os olhos.

— É, eu meio que… Dei um intervalo nas maldições para esse momento.

— Esse momento, Dante? – levantei as sobrancelhas.

Ele respirou fundo e ergueu o rosto, revelando o modo como seus olhos tremeluziam. O rapaz mostrou-me um dos sorrisos mais lindos e sinceros que já vi na vida e exclamou:

— Suichiro Whitlock, quer casar comigo?

Não acreditei no que ouvi. Não podia ser verdade. Era um sonho. Um sonho muito bom. Senti os olhos arderem e meu coração acelerou-se, lembrando-me de que eu estava acordado.

— Sabe que nos conhecemos há quatro meses, não é? – ri sem jeito.

— E quantas vezes já estivemos em perigo? – ele ficou de pé e pegou a minha outra mão. – Se for para morrer, que seja casado com você. – aproximou seu rosto do meu.

— Estando assim tão perto, sabe que não tenho como negar. – falei baixinho sem conseguir desviar meu olhar do seu.

— Então você aceita? – ele sussurrou.

Soltei suas mãos sutilmente e envolvi seu pescoço em meus braços, ficando nas pontas dos pés e deixando nossos lábios entreabertos a centímetros de distância. Dante prosseguiu em silêncio tocando minha cintura e puxando-me ainda mais para si.

Se tínhamos karmas compatíveis? Não.

Se ele era o final do meu fio vermelho? Isso já não me importava.

A única coisa que importava era a maneira como meu coração agitava-se ao pensar nele e como eu sabia que tudo daria certo quando ele sorrisse para mim.

— Sim, eu aceito. – quebrei o espaço entre nós, beijando-o apaixonadamente.

Aquilo só podia dar muito errado.

Ou muito certo.


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Notas finais do capítulo

Quem se lembra dessa frase do primeiro capítulo? Me contem o que acharam e o que esperam desses dois agora!

Lista de capítulos extras:
I. O pedido de Suichiro
II. A reação do inventor
III. Uma família de exorcistas
IV. O aniversário de escorpião
V. A véspera dos noivos
VI. O acidente das maldições

Personagens antigos e novos estão vindo aí, resolvi que serão 6 para que a história possa acabar com 30 capítulos (número par ashuahsua).

Até semana que vem.
Beijos.
—Creeper.



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