Subterfúgio escrita por Lily Potter


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oioi!!! Como vocês estão? Muito estranho estar postando 3 vezes nessa semana, mas se acostumem com isso, porque esse mês eu apareço PELO MENOS mais 5 vezes hehehehe.
Muito obrigada a todes que incentivam o projeto do November Hinny, que é tão querido pra mim e que me deu não só grandes oportunidades de escrever pro meu casal favorito, como me deu amigas INCRÍVEIS!!!!
Finalmente, obrigada Belle por revisar essa fanfic, e por aguentar meus surtos.

Boa leitura!!!!



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— Vamos fugir daqui, só eu e você. — Foi o que Harry sussurrou em seu ouvido durante uma das danças lentas do casamento de Bill. Sua voz era mais que um pedido, ele estava implorando, mesmo que exteriormente, nada parecesse diferente. Por um momento, seu coração parou de bater. 

— Se continuarmos aqui nunca vai dar certo. — Continuou ele como se não tivesse tirado o mundo dela fora de eixo. Como se não fosse tudo o que ela mais queria fazer no mundo, mas não podia, como poderia? 

Eles haviam brigado feio no último final de semana, exatamente por isso. Ele queria fugir, queria sumir da cidade sem deixar rastros, queria ser esquecido por todos para poder se encontrar, era o que dizia. Ginny não achava que isso daria certo, viver fugindo não era viver, ela respondeu em um grito sussurrado tentando ao máximo por espaço entre eles, quando estavam apertados na dispensa, fisicamente próximos, mas tão distantes quanto poderiam em qualquer outro sentido. Talvez naquele momento, ela achasse que por uma distância física, faria com que a distância emocional se encurtasse, como se ao inverter uma coisa, todas as outras fossem voltar para o lugar.  

Foi a mão dele erguendo seu rosto e a beijando suavemente, o que a puxou de volta para a noite do casamento. Se separou bruscamente dele, assustando alguns convidados que estavam relativamente perto. Envergonhada pediu desculpas e o olhou, o olhou de verdade, quase como se sua mente já estivesse se preparando para guardá-lo na memória da melhor forma possível. 

Ele usava um terno verde escuro, que na baixa luz do quintal quase assemelhava-se com o preto de sua gravata, seus sapatos eram novos, os óculos haviam sido trocados e seus cachos estavam domados. Nunca havia o visto assim tão arrumado, e muito menos tão apreensivo e ansioso.   

Harry sempre havia tido uma beleza indomável, ele era lindo e todos conseguiam ver, mas não era a mesma beleza que se via nos filmes, nos cantores ou modelos, era algo diferente, quase como se sua beleza não pudesse se concentrar em uma só palavra, em um só detalhe de seu corpo. Ninguém nunca conseguia ao certo dizer se o que o tornava tão lindo eram seus cachos negros como a noite que emolduravam seu rosto angulado, se eram seus olhos que possuíam um verde tão puro que te remetia aos campos mais brilhantes nos dias mais ensolarados do verão, ou se era seu corpo musculoso apenas na medida certa, nada muito espetacular a ponto de parecer bruto, mas não tão delicado a ponto de não ser perceptível. 

Ginny achava que, na verdade, a beleza dele era uma força que vinha de dentro e iluminava cada pequeno detalhe que o compunha, que o que o fazia ser tão lindo era todo o conjunto de beleza externa e interna.  

De começo achou que o moreno estava brincando, que essa era apenas uma brincadeira de mau gosto para fazê-la rir do motivo da briga e mostrar que havia se arrependido e queria esquecer o que havia acontecido, mas ao olhar nos incríveis olhos verdes do Potter, soube que ele falava sério. Era incomum vê-lo tão sério assim, mesmo que muito tímido e quieto, Harry sempre havia sido a pessoa que mais sorria, que a risada alcançava mais ouvidos, em que a cabeça ia mais para trás. 

Assim que a dança acabou, o moreno se separou dela e saiu por meio dos convidados, logo sumindo de vista, sem pensar duas vezes Ginny foi atrás correndo o mais rápido que podia com os malditos saltos que Fleur a fizera usar e é claro que o longo vestido azul em nada colaborava com seus movimentos bruscos. Mesmo com tudo indo contra ela, conseguiu chegar até Harry no momento em que ele estava entrando no Uber. 

— Espera! — Gritou segurando no antebraço do moreno, fazendo com que ele parasse. — Eu vou com você. 

Harry mal esperou que ela terminasse a frase e já estava a beijando e a rodopiando com um sorriso no rosto, seus olhos brilhavam mais que esmeraldas, e Ginny sentia-se tão feliz que poderia explodir. 

Sequer ligava em que seus pais iriam pensar quando percebessem que não estava mais ali, ou no fato de que estava deixando tudo para trás, e tudo o que tinha consigo era o que estava na pequena bolsa de mão que estava carregando, ou seja, apenas alguns euros, sua identidade, um batom e seu celular. 

Em qualquer outro dia isso pareceria loucura, sair com quase nada, Deus, até mesmo naquele momento parecia uma loucura, mas foi apenas virar-se para o lado e encontrar o grande sorriso de Harry para que percebesse que tinha tudo que precisava. 

— Eu te amo. — O moreno sussurrou em seu ouvido, carinho transbordando por suas palavras.  

— Eu te amo. — Respondeu com um grande sorriso, o beijando delicadamente nos lábios por vários momentos, até que foi necessário que o motorista tossisse para que eles se separassem com os rostos corados e sorrisos bobos no rosto. 

— Como nós vamos? — Perguntou após longos segundos encarando a perfeição que era seu namorado e mergulhando na deliciosa sensação que era estar com ele. Deus, ela teria de ser idiota para não o seguir. Harry era a melhor coisa em sua vida, amá-lo era quase que uma parte essencial de Ginny, sempre havia sido.  

Eles se conheceram no jardim de infância, quando os Potter ainda eram vivos e as coisas eram fáceis. Harry era tímido, inteligente e doce, muito diferente de grande parte dos meninos de três anos que estudavam com eles, dos irmãos dela, de seus vizinhos, Harry era diferente de tudo que ela conhecia. Talvez tenha sido isso que fez com que Ginny se encantasse pelo moreno de cachos, a novidade, a suavidade dele, tudo a impressionava. 

A Weasley apenas sabia que queria estar perto de Harry desde o momento em que ele elogiou sua lancheira, uma velha lancheira do Super Mario que Bill havia lhe dado, no segundo dia de aula e sentou ao lado dela durante todo o intervalo. Parecia bobo, mas todas as outras crianças tiravam sarro dela por causa da lancheira, pelas roupas de segunda mão, por seu cabelo, por suas sardas, por sua existência que parecia quase uma ofensa para a escola chique em que estava.  

Anos depois, Ginny descobriria que ela e seus irmão só conseguiriam vaga naquela escola porque sua mãe lavava os uniformes dos alunos residentes e ajudava nas faxinas pesadas do final de semana, sem isso eles provavelmente não teriam conseguido estudar ali.  

Depois daquele momento, não havia uma memória da ruiva onde o moreno não estava presente. Seu primeiro porre, seu primeiro beijo, sua primeira grande festa, Deus, até mesmo quando ela menstruou pela primeira vez eles estavam juntos.  

Se alguém a perguntasse, não saberia dizer como haviam se transformado em um casal, apenas havia acontecido na opinião dela, tão simples quanto respirar ou piscar, não fora como se lê nos livros. Nada de grandes atos demonstrando o amor pela primeira vez, músicas clichês tocando quando a pessoa passava, uma bebedeira sem sentido que resultasse em confessar seus maiores segredos para pessoa, ou uma grande reviravolta em um triângulo amoroso.  

Um dia, quando eles tinham dezesseis anos, Ginny saiu com Harry para a cafeteria que eles sempre iam para estudar para os exames finais, e após horas estudando e agindo normalmente, o moreno a beijou em forma de despedida na porta de sua casa e a chamou para um encontro. Havia sido ótimo, lindo e tudo o que ela um dia poderia desejar, e o melhor de tudo: era apenas deles. Mas não havia nada de grandioso, por mais especial que a memória fosse, não era digna de um clichê. 

Poucos meses após isso os Potter morreram em um grande acidente de carro, e o moreno foi morar com Sirius e Remus, seus padrinhos e guardiões legais, até que Dolores Umbridge, a assistente social que estava responsável pelo caso, provou que eles eram incapazes de cuidar de um adolescente, o que não era verdade, ela apenas era uma homofóbica maldita e o mandou para a casa dos, detestáveis, Dursleys.  

— Vamos no meu carro, os Dursleys saíram de férias e eu vou aproveitar pra sair desse lugar de uma vez por todas. — Harry respondeu suavemente, como se falando alto aumentasse as chances de as coisas darem errado. Quando chegaram na casa n°4, o moreno imediatamente fez uma careta desgostosa. 

— Essa é a última vez que pisamos aqui, meu amor. — Prometeu com um sorriso, entrelaçando suas mãos, e entrando na casa com ele.  

Tudo na casa era apático, não tinha as cores vibrantes da casa dos Weasleys, nem os tons claros de azul e verde que a casa dos Potter tinha, era apenas tudo bege e metodicamente limpo, era como estar em hospital. Mais que depressa eles pegaram uma mochila de Harry e encheram com suas melhores roupas. Não se trocaram, já que iriam trocar as roupas em um bazar na saída da cidade, assim eles teriam roupas decentes e talvez um pouco mais de dinheiro, então apenas pegaram todos os documentos do moreno e correram escada abaixo em direção ao carro. 

Ginny nunca havia se sentido tão livre.  

Ao entrarem no carro eles se encararam e começaram a rir, sentia-se como se finalmente fosse dona de seu próprio destino, como se juntos, naquele carro, uma coisinha prata e meio velha que parecia ter saído de um filme do começo dos anos 2000 de qualidade duvidosa, usando as roupas mais caras que um dia iriam possuir fosse o epítome de uma tardia rebeldia adolescente deles.  

Harry dirigia rápido como se sentisse medo de ser pego e impedido, ela não se importava com isso, gostava da forma com que as árvores não passavam de borrões escuros e turvos, em como tudo a sua volta parecia em constante enquanto eles se transformavam, sentia-se como se estivessem movendo-se mais rápido que o próprio tempo. Naquele momento eram incansáveis, brilhantes e livres.  

Eram infinitos

— Eu não achei que você viria. — falou com a voz meio quebrada e os olhos fixos na estrada. — Não achei que me escolheria. 

A surpresa na voz dele trazia uma sensação amarga na boca de seu estômago e Ginny quase pediu para que ele parasse o carro para que ela pudesse vomitar. Queria xingá-lo de todos os nomes sujos que conhecia, queria dar um chilique e fazê-lo levá-la de volta para a Toca, mas como poderia?  

Como poderia fazer isso quando tudo o que menos queria era separar-se dele? Uma vida sem Harry não era uma vida que valeria a pena, em sua opinião. Poderia não depender do amor dele, poderia superar um término, mas viver sem saber se ele ainda estava andando pelo mesmo mundo que ela? Seguir cada dia como se nada houvesse acontecido e ela não o houvesse abandonado no único momento em que ele verdadeiramente pediu sua ajuda? Uma coisa assim a quebraria, ela tinha certeza.  

— Eu sempre vou te escolher, H. — respondeu com a voz suave. Seus olhos se encontraram. Ele sorriu. Seu coração disparou. — Obrigada por me escolher.  

— Você é minha pessoa, não tem mais ninguém que eu poderia escolher, Ginny. — Declarou Harry. 

Falou de forma simples como se aquilo não abalasse todo o mundo dela. Como se não fizesse com que todas as pequenas inseguranças dela se acalmassem temporariamente, e seu ego se inflasse tanto que ficava difícil respirar no pequeno carro.  

— Para onde nós vamos?  

— Eu não sei. — riu com todo o corpo, como a criança travessa que ele nunca havia sido. — Aonde você quer ir? 

— Não me importo com o lugar, só quero estar com você. — Ginny respondeu com um sorriso.  

Em qualquer outra situação seria escrutinada por ter falado algo tão clichê como aquilo, mas ali, naquele momento, era apenas a mais pura verdade. Seu estômago roncou alto. Docinhos chiques de festa nunca alimentariam um estômago Weasley, Harry a olhou e riu. 

Minutos depois o carro parou em um estacionamento de uma lanchonete de fast-food de nome genérico. O cheiro de comida gordurosa e o barulho de pessoas conversando foi a primeira coisa que chegou aos seus ouvidos quando, de mãos dadas, entraram pela grande porta vermelha.  

O lugar estava apinhado de adolescentes, alguns parecendo meio bêbados, outros parecendo entediados, algumas poucas famílias também faziam parte do público, todos usavam roupas normais, e de imediato isso a fez consciente de seu vestido longo vestido de uma alça, talvez Harry houvesse percebido que Ginny estava desconfortável com os olhares alheios, ou talvez tivesse sido apenas um daqueles momentos em que o ciúme falava mais alto, mas momentos depois o paletó cobria seus ombros e suas mãos permaneciam firmes na cintura dela.  

Eles se sentaram em uma das últimas mesas, escondidos de tudo na cabine pequena, com suas pernas coladas, os dedos grandes e calejados de Harry brincando com a mão dela fazia com que todo o barulho tornasse apenas um barulho de fundo quase inexistente. Quando a garçonete, uma loira bonita e com cara de cansada, veio anotar seus pedidos, os encarou como se eles fossem um grande mistério e ela uma detetive, pronta para desvendá-los. Eles pediram hambúrguer, batata frita e dois milkshakes de chocolate, e ela saiu, mas mesmo quando estava no balcão seu olhar estava fixo neles. 

Deveria ser uma visão e tanto a deles ali, afinal eram um casal jovem em um lugar no meio do nada, usando roupas chiques e com sorrisos maiores que a boca, se Ginny estivesse no lugar da garçonete também ficaria curiosa. Imaginava o que as pessoas pensavam deles, será que achavam que eles eram ricos? Que estavam saindo de uma festa importante e quiseram se divertir entre a classe mais pobre? Ou será que os viam como eles eram? Apenas dois jovens cansados usando roupas que não os agradava, fugindo do único lugar que haviam tido como lar durante todas suas vidas? 

Seja o que for o que pensavam, não conseguia se preocupar com isso. Harry a olhava intensamente como se ela fosse a coisa mais importante que ele um dia pensaria em ter em sua vida, como se ela fosse a própria rainha da Inglaterra. Ginny sorriu e o beijou suavemente nos lábios.  

Sua boca tinha gosto de menta e chocolate, os lábios eram macios e tão familiares a Ginny que era impossível não sorrir em meio ao beijo e passar a mão envolta do pescoço dele. O moreno a apertou contra o seu corpo como se quisesse protegê-la de todo e qualquer mal do mundo, como se quisesse mantê-la perto de seu peito por toda a vida deles e um pouco mais.  

Beija-lo era como uma lareira acesa no meio do frio do inverno, como uma cerveja gelada no calor, como entrar na praia pela primeira vez depois de meses trancado em escritórios abafados, era como uma corrente elétrica passando por seu corpo e te fazendo se sentir vivo pela primeira vez em anos. Beijar Harry era como voltar para casa depois de muito tempo longe. 

— A gente precisa se livrar dessas roupas. — comentou, ainda com o corpo colado ao dele. — Esse vestido está me dando nos nervos.  

— O bazar não fica muito longe daqui, eu acho. — respondeu com um meio sorriso em sua direção. — A merda dessa gravata já está me sufocando.  

— Acho que realmente não fomos feitos para usar esse tipo de coisa, Har. — Brincou levemente e se afastou um pouco, apenas o suficiente para encará-lo, e desfez o nó de sua gravata, sentindo-se ainda mais próxima dele.  

— Obrigado, amor. — Agradeceu, beijando os dedos dela, fazendo-a corar como uma maldita princesa puritana de séculos atrás. Deus, queria poder odiá-lo por transformá-la em um clichê ambulante.  

Estavam tão presos em seu mundinho que não perceberam que a garçonete se aproximava, só notando-a depois de três alto pigarreios. Harry teve a decência de parecer envergonhado quando agradeceu, e por longos minutos ocuparam-se em apenas comer o divino lanche que estava diante deles.  

Bem, talvez divino fosse um pouco demais para descrever o que comiam, mas certamente era um ótimo lanche, apesar do gosto forte de fritura, e o fato de que aquilo provavelmente estava tirando uns dez anos de vida deles. Isso não importava no momento, porque o gosto era bom, eles estavam ali juntos, apesar de tudo, e é claro, era comida de verdade, e não aquelas coisas minúsculas servidas na festa. 

— Deus, eu não sabia que precisava tanto de enfiar a cara em gordura até agora. — Ele falou depois de ter comido metade de seu hambúrguer. Nunca havia o visto comer tão avidamente, provavelmente estava tão faminto quanto ela e só havia percebido quando deu a primeira mordida.  

— Falando assim soa tão nojento. — Implicou apontando a batata frita que tinha em mãos no rosto dele como se empunhava um punhal, não que um dia ela tivesse, de fato, empunhado um, mas imaginava que se o fizesse, seria daquela forma. O moreno apenas riu e mordeu a batata da mão dela.  

— Ei! Era minha! 

— Você quem colocou na minha boca. — Ele riu, mas mesmo assim pegou uma de suas batatas e a ofereceu, como um sinal de paz. Ginny a pegou com um sorriso e apenas para irritá-lo molhou a batata no milkshake em sua frente.  

— Você está assassinando a gastronomia. — Gemeu dramaticamente, colocando as mãos sobre os olhos. Tão dramático, pensou divertida, enquanto o olhava ser apenas um cara de dezoito anos normal. 

— E você é um velho reclamão. — A ruiva retrucou com um sorriso de lado. 

— Talvez, — ele concedeu, inclinando a cabeça para o lado. — mas eu sou o seu velho reclamão.  

— Eu sei. — Concordou sorrindo como uma idiota, afinal Harry era dela, e ela, era dele, e isso sempre seria o suficiente. Nada no mundo poderia acabar com a parceria, com o amor dos dois, nada poderia os separar.  

Comeram em silêncio, Ginny gostava de acreditar que ambos estavam pensando sobre o que aconteceria depois daquilo, para onde iriam, como seria a vida deles agora, em como eles lidariam em ficar juntos por dias a fio em um carro, quando nunca haviam passado vinte e quatro horas apenas os dois. Não que isso importasse, porque no final do dia, eles dariam um jeito e teriam conseguido o que sempre queriam. 

Teriam conseguido se achar e achar um lar.  

Estava quase terminando seu milkshake quando a mão do moreno posa sob a sua, fazendo com que ela o olhasse imediatamente, seu toque funcionando quase que como um imã. Ele não falou nada, apenas balançou a cabeça e a encarou, a deixando desconcertada, mas ao mesmo tempo cheia de um sentimento que não sabia pôr o nome. 

— O que foi? 

— Nada. — respondeu com um sussurro, quase como se tivesse medo de quebrar o momento. — Só queria garantir que você é real, que isso é real.  

— Com você falando assim me sinto dentro de um filme de romance triste, H. — Brincou a Weasley o empurrando levemente, no entanto, Harry não riu, apenas a encarou ainda parecendo perdido em tudo.  

Talvez fosse nela, talvez fosse nos planos que fazia, incluíssem eles, a ruiva, ou não, Ginny não saberia dizer, ele nunca comentou o que havia pensado naquele momento, mesmo quando anos depois ela o perguntou, a única coisa de que tinha certeza, é que o corpo dele estava ali, mas sua mente viajava.   

— Você quer comer mais alguma coisa? — Perguntou subitamente, os olhos desviaram-se para a janela, onde a noite pronunciava-se cada vez mais. Ginny suspirou, odiava quando Harry entrava nesse tipo de humor, todo recluso e sério, ela sentia-se impotente e irritada sempre que acontecia.  

— Não, estou cheia, mas talvez fosse uma boa ideia passar em uma loja de conveniência, não acha? — Falou calmamente, tentando não se irritar com o fato de que ele não a olhava. Fez sinal para a garçonete trazer as contas, e enquanto esperava, colocou sua mão sob a dele.  

Harry a olhou novamente, seus olhos estavam marejados e avermelhados.  

Tal imagem remetia-a a quando ele descobriu que seus pais estavam mortos, do desespero e da agonia que sentiram naquele pequeno quarto branco que cheirava excessivamente a produtos de limpeza misturados com vômito e sangue. Naquele hospital pequeno em Gloucestershire o mundo deles havia parado por um breve segundo só para então rodar com toda a velocidade e sair do eixo, os deixando confusos, abalados e irritados.  

— O que foi, amor? — Perguntou suavemente, seu polegar fazendo carinho nas costas da mão dele e seus olhos grudados no moreno. Não iria arriscar sair do estabelecimento quando Harry parecia tão abalado, ela poderia dirigir por algumas horas, mas não sabia o caminho.  

— Não é nada, eu só… — começou ele com a voz embargada, um soluço teimoso escapou de seus lábios, e ele apenas fechou os olhos e respirou profundamente, provavelmente tentando ganhar algum tipo de controle sob seu corpo. — Só sinto que meus pais estariam decepcionados comigo.  

— Oh, Harry. — sussurrou ela, envolvendo-o em um abraço apertado. Nada que falasse o ajudaria, seus pais estavam vivos e bem, seus irmãos também, nunca havia visto a morte de perto como ele, e mesmo que tivesse visto, não seria a mesma coisa.  

Nenhuma experiência é igual para duas pessoas, não importa se é um luto ou uma paixão, cada pessoa vai sentir de forma diferente, reagir de forma diferente, porque o que conta no final dos dias não é a emoção em si, mas a forma como ela foi percebida pela pessoa. Duas pessoas podem passar pela mesma experiência no mesmo instante e ainda assim ver a situação de formas diferentes. 

Tudo o que poderia fazer era abraçá-lo e mostrar que estava ali para ele até que o Potter se acalmasse o suficiente para que Ginny pudesse falar o quão orgulhosos Lily e James estariam do filho caso estivessem vivos, a coragem que ele tivera não é todos que tem, ela mesma não achava que teria coragem de aceitar a proposta.  

Era estranho pensar que horas atrás tinha todo um futuro planejado em sua mente, tudo que lhe aconteceria poderia ser previsto mais rápido do que poderia falar “inovação”, e ainda assim lá estava ela, em uma lanchonete no meio do nada ao lado de seu namorado, o único amor que pretendia ter. 

Sentia-se tão imensamente sortuda por ter o encontrado tão cedo, por poder dizer que conhecia o amor de sua vida e que ele a amava de volta, e que tudo iria sempre acabar bem, porque eles se tinham e ambos sabiam que isso sempre bastaria.  

Pagou a conta com os poucos euros que tinha na bolsa em silêncio e ainda abraçada a Harry que ainda parecia prestes a quebrar e se despedaçar em milhares de milhões de pedaços que seriam impossíveis de colar novamente. Apenas minutos depois foi que ele abriu os olhos e a abraçou de volta, permitindo-a a soltar um suspiro aliviado, e apenas quando já estavam no carro foi que percebeu que durante todo aquele tempo, o qual lhe pareceu ser composto de infinitos e não minutos, que percebeu que havia prendido sua respiração e por isso o ar lhe parecia mais leve lá fora. 

A conversa que tiveram na lanchonete não foi esquecida, fora realista e dolorosa demais para que esquecessem tão rapidamente, e Ginny temia que ao tocar, novamente, no assunto faria mal aos dois, então manteve-se ausente de opiniões e ocupou-se em distraí-lo cantando desafinada cada música que tocava no rádio, fosse ela boa ou ruim, romântica ou triste.  

Eles trocaram as roupas que usavam por dinheiro e outras roupas, apenas o suficiente para emergências, e seguiram estrada afora sem destino. O primeiro grande destino havia sido Londres, claro que até chegarem a cidade passaram por várias pequenas cidades encantadoras que não fizeram questão de lembrar o nome, mas que os marcaram profundamente.  

Não tinham pegado muito dinheiro quando fugiram, então mais que rapidamente perceberam que precisariam de trabalhos temporários para se sustentarem, caso contrário não seriam mochileiros, mas sim moradores de rua. Então eles trabalharam em todo o tipo de trabalho de um dia só que poderia se imaginar foram de tutores à passeadores de cães, de babás à jardineiros, tudo em troca de alguns poucos euros.  

Quando finalmente chegaram em Londres foram pegos em uma chuva torrencial e tudo que planejaram para fazer teve de ser esquecido imediatamente, mas nada disso os desanimou, sempre que surgia algum tipo de imprevisto, tudo que eles faziam era rir e seguir em frente, sem nunca olhar para trás. Em Londres eles visitaram todos os lugares turísticos, foram ao London Eye, apesar de terem medo de altura, o que foi muito interessante e divertido se tirasse o fato de que todo o almoço dos dois foi parar em uma lixeira perto da atração turística.  

Quando Londres passou a ser previsível e chuvosa demais, eles seguiram em frente, despediram-se dos amigos que tinham feito durante a estadia e foram em direção às terras altas. Não havia sido uma ideia genial viajar para um lugar predominante frio quando não tinham esse tipo de roupa, Ginny admitiu a si mesma, anos depois do ocorrido, mas eles haviam se divertido imensamente, mesmo que tremessem de frio todas as manhãs.  

Foi no País de Gales que ele a pediu em casamento, estavam em uma pequena galeria de arte moderna quando ele se ajoelhou e fez o pedido, não tinha um anel de brilhantes, apenas um de plástico que ele havia comprado por menos de um euro, a emoção crua e eles dois. Houve um imenso round de aplausos e eles não paravam de sorrir como se houvessem ganhado o maior prêmio na loteria, em sua opinião, haviam ganhado.  

Naquela noite eles dançaram até serem expulsos do pub e perambularam pela cidade por horas conversando sobre tudo e nada, o carro estava na pousada então não precisavam se preocupar com isso, nem com a diária da pousada, tinha até o próximo dia para fazerem o check-out. Assistiram o sol nascer em um parque, a cabeça dela no colo dele, as mãos grossas em seus fios ruivos fazendo um delicioso cafuné, Harry falava sobre o nome de seus futuros filhos e nada poderia estar melhor.  

Porém enquanto faziam planos sobre serem pais, Ginny recordou-se que meses antes Harry chorava preocupando-se em não estar orgulhando os pais, e isso a incomodou de uma forma que nunca imaginou ser possível, quase como se uma mão invisível apertasse seu coração e pulmão, deixando-a sem ar.  

— Harry? — Chamou a ruiva o interrompendo abruptamente, fazendo com que ele a olhasse intrigado. O olhar dele a deixava constrangida, mas já havia começado, não poderia desistir agora.  

— Huh? 

— Seus pais estariam orgulhosos de você. 

— Ginny? — Questionou com a testa franzida. — Por que está falando disso agora?  

— Lembra quando fugimos?  

— Não tem como esquecer aquele dia, Ginny, afinal só estamos aqui por isso.  

— Você falou que tinha medo de seus pais não se orgulharem de você. — Ela explicou em um tom sussurrado, o que não era exatamente de seu feitio, mas estava começando a sentir-se cansada e o assunto parecia muito mais assustador e real se falassem em voz alta. — Eu não respondi porque não achei que era o que você precisava no momento, mas eu já tinha certeza de que eles teriam orgulho de você, Harry.  

— Você não precisa falar isso só para acariciar meu ego, amor. — Ele riu, mas seus olhos estavam sérios, e ela sabia que ele acreditava no que dizia. Precisava fazer com que o moreno entendesse que não era o caso.  

— Não estou fazendo isso. — respondeu séria, se levantando do colo dele e o encarando, suas mãos prendendo o rosto do moreno entre elas e o fazendo a encarar. — Lily e James estariam orgulhosos do homem que se tornou, H.  

Ginny o beijou suavemente após falar aquilo, e sentiu como se um peso se aliviasse de seu peito. Fechou os olhos e o beijou com mais força, como se fosse o último beijo que compartilhariam, não que ela realmente achasse isso. Estavam destinados a viver para sempre, a viver juntos para sempre.  

Trocaram infinitos beijos e juras de amor sob a luz fraca do sol de outono e juntos caminharam para a pousada, onde a cabeça dela bateu no travesseiro macio que cheirava a sabão, envolta em lençóis verdes com cheiro de capim limão, e com as mãos segurando as de Harry, ela caiu em um sono profundo.  

   

XXX 

Harry… — a voz rouca de uma menina ruiva e magra gemeu levemente nos lençóis, e em poucos segundos um homem correu para seu lado e segurou sua mão. Os olhos claros observavam o movimento de descer e subir do peito cheio de sardas, a mão pequena firme na sua, ele soltou um suspiro e conteve o choro.  

Ginny era como uma estrela, sempre brilhante, sempre alegre, sempre ali para todos e esse havia sido o maior problema, na opinião dele. Ginny entregava-se demais, amava demais os outros, principalmente Harry, e tal amor, tão grande que não parecia ser capaz de ser contido dentro do peito por mais lindo que fosse, quase sempre acabaria em tragédia.  

Lembrava-se bem de como ela havia ficado quando descobriu que os Potter haviam morrido, em como seus olhos castanhos encheram-se de lágrimas e em como ela chorou sem parar por horas a fio. Acharam que havia passado, que ela havia melhorado, que por mais que doesse o que tinha acontecido, ela havia superado seu amor por ele e agora tudo ficaria bem e ela poderia continuar sendo uma estrela.  

Mas não foi assim que aconteceu.  

Harry não era uma má pessoa, talvez tivesse se tornado uma, caso tivesse sobrevivido ao acidente de carro que matou a família Potter, mas durante toda sua curta vida, ele havia sido uma boa pessoa, então claro que ninguém havia visto nada de errado no relacionamento dos dois, como poderia?  

Se Ginny era brilhante como uma estrela, Harry era a lua, quieto, singelo e cheio de facetas que nem todos conseguem compreender, mas sempre ali, sempre belo e sempre reconfortante, ou ao menos era assim que Ron lembrava-se de seu melhor amigo. Achava que era assim que ele desejaria ser lembrado. 

 Quando Ginny o perdeu, toda a luz se foi de dentro dela e Ron quis odiar Harry, que sequer vivo estava para se defender, mas de que adiantaria culpar um adolescente por ter vivido enquanto estava vivo? Por ter amado sua irmã? Por ter correspondido os sentimentos dela? Como poderia culpá-lo por algo que nunca seria sua culpa? Não podia, e se fosse sincero, também não desejava fazê-lo. 

Sua irmã agora, raramente estava lúcida, quando estava acordada falava sobre coisas que nunca haviam acontecido, e doía vê-la assim, queria dizer que preferia que ela estivesse assim a estar morta, mas não sabia se era verdade.  

Sua mãe dizia que Harry, o Harry da imaginação de Ginny, aquele de quem ela falava, aquele que nunca havia morrido, era o escape de sua irmã, que a fuga sobre qual ela delirava, era a forma do cérebro dela projetar tudo o que a menina mais sentia a respeito do falecido namorado. 

Ron, assim como todos os outros Weasley dariam tudo para trazer Ginny de volta, se fosse possível trariam Harry de volta dos mortos apenas para isso, mas não era possível, e enquanto ouvia sua irmã chamar pelo Potter enquanto chorava baixinho, o Weasley apertou a mão dela e passou a mão sob os longos cabelos ruivos.  

Sabia que a irmã não tinha muito tempo entre eles, e queria poder carregar consigo na memória apenas a lembrança dos dias felizes, para quando ele se casasse e tivesse filhos, pudesse contar a eles e seus sobrinhos o quão corajosa havia sido a tia deles.  

E se anos depois da morte da irmã e do nascimento de sua primeira filha, ele contasse as crianças da família histórias de um casal que havia se amado tanto que foram morar juntos nas estrelas para poderem ser eternos juntos e o casal se parecesse um pouco demais com Harry e Ginny, talvez não fosse coincidência, afinal cada pessoa estava destinada a ter seu subterfúgio. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado dessa minha primeira fanfic, prometo que as outras são beeeeeeem diferentes dessa!!!
Comentem e favoritem pra fazer essa autora feliz, e continue checando o perfil do NH no twitter, porque é o mês todinho de fanfics!!

Beijos e até dia 08 ♥



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